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RESUMO GERAL DE DIREITO CIVIL MARIO GODOY

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CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 1 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Personalidade e capacidade civil 
 
 
1. Conceito de personalidade. 
 
É a aptidão de ser titular de direitos e deveres. Todo homem a possui. 
 
2. Início e fim da personalidade. 
 
O início da personalidade se dá com o nascimento com vida (teoria natalista). E 
seu fim, com a morte. 
 
Entretanto, nos termos do art. 2º do CC, a lei põe a salvo, desde a concepção, os 
direitos do nascituro. Trata-se, na verdade, de direitos expectativos, que têm seu 
aperfeiçoamento condicionado ao nascimento com vida. 
 
3. Ausência. 
 
Ausente é a pessoa que desaparece do seu domicílio sem dela haver notícia, e sem 
que haja deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens. 
 
O processo de sucessão por ausência desdobra-se em três etapas. 
 
1) Curadoria provisória. Visa declarar o estado de ausência, ordenar a 
arrecadação dos bens do ausente e nomear um curador para administrá-los; 
 
2) Sucessão provisória. O prazo para sua abertura é de pelo menos 1 ano a contar 
da arrecadação, e tem por objetivo declarar o estado de ausência, autorizar o inventário 
e partilha dos bens e transferi-los à posse dos herdeiros; 
 
3) Sucessão definitiva. A ser aberta no prazo de 10 anos após o trânsito em julgado 
da sentença de sucessão provisória. Gera o reconhecimento judicial da morte presumida 
e a transferência da propriedade dos bens aos herdeiros. 
 
Casos de declaração de morte presumida que dispensam a prévia decretação de 
ausência (CC, art. 7º): 
 
a) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; ou 
 
b) se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado 
até dois anos após o término da guerra. 
 
 
 
 
 
4. Comoriêcia. 
 
Têm-se por comorientes as pessoas que falecem na mesma ocasião, sem que se 
possa averiguar qual delas precedeu às demais. Consoante o art. 8º do CC, os 
comorientes presumem-se simultaneamente mortos. 
 
5. Capacidade civil. 
 
A capacidade pode ser de direito, representando a aptidão de ser titular de direitos 
e deveres, e de fato, que se relaciona à aptidão de exercer pessoalmente os direitos e 
deveres na ordem civil. 
 
Todas as pessoas possuem capacidade de direito, mas nem todas possuem 
capacidade de fato. 
 
6. Incapacidade absoluta e relativa. 
 
A incapacidade significa uma restrição legal à capacidade de fato. Enquanto os 
absolutamente incapazes agem representados, por não poderem exprimir sua vontade, os 
relativamente incapazes agem assistidos, ou seja, acompanhados da pessoa do 
assistente. 
 
Consideram-se representantes e assistentes dos incapazes os seus pais, tutores e 
curadores. 
 
São portadores de incapacidade absoluta os menores de 16 anos (CC, art. 3º): 
 
São portadores de incapacidade relativa (CC, art. 4º): 
 
a) Os maiores de 16 e menores de 18 anos; 
 
b) Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; 
 
c) Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua 
vontade; 
 
d) Os pródigos. 
 
Cabe, afinal, destacar, que, nos termos do art. 84 do Estatuto da Pessoa com 
Deficiência (Lei 13.146/15), aqueles que sofrem de deficiência mental têm assegurado o 
direito ao pleno exercício de sua capacidade civil em igualdade de condições com os 
demais. 
 
7. Emancipação. 
 
Consiste na antecipação da capacidade civil plena. Verifica-se nas hipóteses 
previstas no art. 5º, parágrafo único, do CC: 
 
a) Pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento 
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o 
tutor, se o menor tiver 16 anos completos; 
 
b) Pelo casamento; 
 
c) Pelo exercício de emprego público efetivo; 
 
d) Pela colação de grau em curso de ensino superior; 
 
e) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia 
própria. 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 2 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Direitos da personalidade 
 
 
1. Conceito e características. 
 
Direitos da personalidade são direitos que integram a condição essencial da 
pessoa. Apresentam as seguintes características: 
 
a) Irrenunciabilidade; 
 
b) Intransmissibilidade; 
 
c) Extrapatrimonialidade; 
 
d) Imprescritibilidade; 
 
e) Impenhorabilidade. 
 
2. Tutela. 
 
Nos termos do art. 12 do CC, a tutela dos direitos da personalidade pode ser 
repressiva quando já houve o dano, ou preventiva, pressupondo a iminência de lesão a 
um bem juridicamente protegido. 
 
3. Atos de disposição do próprio corpo. 
 
Consoante o art. 13 do CC, os atos de disposição corpórea são defesos em dois 
casos: 
 
a) Quando implicarem diminuição permanente da integridade física; ou 
 
b) Quando contrariarem os bons costumes. 
 
Exceção: quando se fizer presente exigência de ordem médica. 
 
3. Tratamento médico. 
 
Art. 15 do CC. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, 
a tratamento médico ou intervenção cirúrgica. 
 
4. Nome. 
 
Todas as pessoas são identificadas por um nome, sendo este composto pelo 
prenome, que pode ser qualquer um desde que não exponha o portador ao ridículo, e 
pelo patronímico, sendo este o sinal identificador da pessoa, indicando sua progênie. 
 
E nos termos do art. 19 do CC, o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza 
da proteção que se dá ao nome. 
 
5. Palavra e imagem. 
 
Consoante o art. 20 do CC, a utilização ou a exposição da imagem ou palavra de 
uma pessoa pode ser proibida em dois casos: 
 
a) Quando implicar ofensa à reputação; ou 
 
b) Quando se destinar a fins comerciais. 
 
Exceções que tornam justificável o uso da palavra e imagem: 
 
a) Autorização do titular; 
 
b) Interesse da administração da justiça; ou 
 
c) Manutenção da ordem pública. 
 
6. Privacidade 
 
Art. 21 do CC. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a 
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer 
cessar ato contrário a essa norma. 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 3 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Pessoas jurídicas 
 
 
1. Conceito. 
 
Pessoas jurídicas são entidades para as quais a lei reconhece personalidade civil. 
Gozam de autonomia em face de seus instituidores. 
 
2. Classificação. 
 
Quanto à estrutura, podem ser: 
 
a) Universitas personarum. Formadas a partir da reunião de duas ou mais pessoas. 
Exemplos: sociedades e associações; 
 
b) Universitas bonorum. Constituídas em torno de um patrimônio destinado a um 
fim. Exemplo: fundações. 
 
Quanto à atuação, classificam-se em: 
 
a) Pessoas jurídicas de direito público externo. Correspondem a entidades 
públicas reconhecidas internacionalmente. Exemplos: ONU, OIT, República Federativa 
do Brasil, etc.; 
 
b) Pessoas jurídicas de direito público interno. Traduzem entes públicos 
reconhecidos no plano interno do País. Exemplos: União, Estados, Municípios, 
autarquias, fundações públicas, agências reguladoras etc.; 
 
c) Pessoas jurídicas de direito privado. Não integram a esfera pública. Exemplos: 
sociedades, associações, fundações, partidos políticos, organizações religiosas, 
empresas individuais de responsabilidade limitada, etc. 
 
 3. Constituição. 
 
Constituem-se as pessoas jurídicas a partirda inscrição do seu ato constitutivo no 
respectivo registro. 
 
Nos termos do art. 45, parágrafo único, do CC, a inobservância das formalidades 
registrais acarreta a anulabilidade de sua constituição, sujeita ao prazo decadencial de 3 
anos, contados da publicação de sua inscrição no registro. 
 
 
 
 
 
 
4. Administração. 
 
Obrigam as pessoas jurídicas os atos dos administradores, exercidos nos limites de 
seus poderes definidos no ato constitutivo 
 
Tendo a pessoa jurídica administração coletiva, as decisões serão tomadas pela 
maioria dos votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso 
(CC, art. 48, caput). 
 
E em consonância com o art. 48, parágrafo único, do CC, decai em 3 anos o 
direito de anular as decisões tomadas pela administração, quando violarem a lei ou o 
estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude. 
 
5. Desconsideração. 
 
Consiste na suspensão temporária da autonomia da pessoa jurídica, de modo a 
estender a execução aos bens particulares dos sócios e administradores. 
 
Fundamenta-se na idéia de abuso de personalidade, que pode se verificar em duas 
situações distintas: 
 
a) Desvio de finalidade; ou 
 
b) Confusão patrimonial. 
 
Observe-se que a desconsideração da personalidade jurídica deve ser decretada 
pelo juiz, o qual não pode, contudo, agir de ofício, e sim mediante provocação de 
qualquer interessado ou do Ministério Publico. 
 
6. Extinção. 
 
A extinção da pessoa jurídica pode ser: 
 
a) Convencional. Quando promovida por seus próprios integrantes; 
 
b) Legal. Decretada nos casos previstos em lei; 
 
c) Administrativa. Pautada em decisão do poder público que cassa a autorização 
para seu funcionamento. 
 
Seja qual for o caso que implique sua extinção, a pessoa jurídica subsistirá para 
fins de liquidação, até que esta se conclua. Somente após o encerramento da liquidação 
é que se poderá promover o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
7. Associações 
 
São pessoas jurídicas constituídas pela união de pessoas que se organizam para 
fins não econômicos. 
 
Os requisitos para a elaboração do seu estatuto encontram-se listados no art. 54 do 
CC, com a ressalva de que omissão de qualquer um deles enseja nulidade. 
 
Nos termos do art. 56 do CC, a qualidade de associado é intransmissível, se o 
estatuto não dispuser o contrário. Porém, se o associado for titular de quota ou fração 
ideal do patrimônio da associação, admite a lei que esta possa ser transferida a terceiro, 
mas sem importar, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou 
herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto. 
 
As funções da assembléia geral da associação encontram-se previstas no art. 59 do 
CC, sendo elas: 
 
a) Destituir os administradores; 
 
b) Alterar o estatuto. 
 
No caso de ser dissolvida a associação, o seu remanescente patrimonial líquido, 
após deduzidas as quotas ou frações ideais dos associados, será destinado a uma 
entidade de fins não econômicos designada no estatuto. Sendo este omisso, passará, por 
deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual, federal ou do Distrito 
Federal de fins idênticos ou semelhantes, onde a associação tiver sede. Inexistindo 
instituição nessas condições, o patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do 
Distrito Federal ou da União, onde a associação for sediada (art. 61 do CC). 
 
8. Fundações. 
 
São pessoas jurídicas constituídas em torno de um patrimônio destinado a um fim. 
Elas poderão ser criadas para as seguintes finalidades: assistência social; cultura, defesa 
e conservação do patrimônio histórico e artístico; educação; saúde; segurança alimentar 
e nutricional; defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do 
desenvolvimento sustentável; pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias 
alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de 
informações e conhecimentos técnicos e científicos; promoção da ética, da cidadania, da 
democracia e dos direitos humanos; atividades religiosas (CC, art. 62, p. único). 
 
Sua constituição passa por quatro etapas fundamentais: 
 
a) Dotação. É o ato unilateral por cujo intermédio o fundador separa uma parcela 
de seu patrimônio e a destina à criação do ente fundacional. Pode ser promovida inter 
vivos, por escritura pública, ou causa mortis, através de testamento. 
 
b) Estatuto. Pode ser elaborado pelo próprio fundador ou pela pessoa que ele vier 
a credenciar. 
 
c) Aprovação do Ministério Público. Com a ressalva de haver possibilidade de 
suprimento judicial, caso o órgão do MP a denegue. 
 
d) Registro. A ser implementado no Registro de Pessoas Jurídicas. 
 
Cumpre observar que as fundações serão fiscalizadas pelo Ministério Público do 
Estado onde se situarem. Caso estendam suas atividades por mais de um Estado, caberá 
a veladura, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público. E se funcionarem no 
Distrito Federal ou em Território, a fiscalização competirá ao Ministério Público do 
Distrito Federal e Territórios (art. 66 do CC). 
 
Com relação ao estatuto das fundações, para que se possa alterá-lo, faz-se mister 
que se observem os seguintes requisitos (art. 67): 
 
a) deliberação de 2/3 dos competentes para gerir e representar a fundação; 
 
b) que não contrarie ou desvirtue o fim desta; 
 
c) aprovação do órgão do Ministério Público, no prazo máximo de 45 dias. Caso 
este a denegue, ou uma vez transcorrido o prazo, admite-se a possibilidade de 
suprimento judicial, a requerimento do interessado. 
 
Salienta, afinal, o art. 69 do CC, que a fundação será extinta quando se tornar 
ilícita, impossível ou inútil a finalidade por ela visada, ou quando vencer o prazo de sua 
existência, hipóteses em que o seu patrimônio, salvo disposição contrária no ato 
constitutivo, deverá ser incorporado ao de outra fundação de fim igual ou semelhante. 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 4 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Bens 
 
 
1. Bens imóveis e móveis. 
 
Os bens imóveis se subdividem em três categorias: 
 
a) Imóveis por natureza. Correspondem ao solo e tudo que se incorporar 
naturalmente a ele (p. ex., árvores e frutos pendentes); 
 
b) Imóveis por acessão artificial. Traduzem-se nas construções e edificações que o 
homem incorpora ao solo, sendo de observar que os materiais provisoriamente 
separados de um prédio, para nele mesmo se reempregarem, não perdem o caráter de 
imóveis (CC, art. 81, II); 
 
c) Imóveis por definição legal. Aqui se compreendem os direitos reais sobre 
imóveis e as ações que os asseguram, bem como o direito à sucessão aberta (CC, art. 
80) 
 
Já os bens móveis são aqueles suscetíveis de movimento próprio (= semoventes), 
ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação 
econômico-social (CC, art. 82). Outrossim, consideram-se móveis para os efeitos legais 
os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes, os direitos 
patrimoniais de caráter patrimonial e respectivas ações, e as energias que tenham valor 
econômico (CC, art. 83). 
 
2. Bens fungíveis e infungíveis. 
 
Têm-se por fungíveis os bens móveis que podem substituir-se por outros da 
mesma espécie, qualidade e quantidade (p. ex., duas dúzias de laranjas), ao passo que 
infungíveis são os bens que não comportam substituição (p. ex., uma obra de arte). 
 
3. Bens consumíveis e inconsumíveis. 
 
Art. 86 do CC. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruiçãoimediata da própria substância (p. ex., gêneros alimentícios), sendo também 
considerados tais os destinados à alienação (p. ex., um relógio na vitrine de uma loja). 
 
4. Bens divisíveis e indivisíveis. 
 
Bens divisíveis são os que se podem partir em porções, desde que: 
 
a) não altere a substância; 
 
b) não prejudique a utilização; ou 
 
c) não acarrete diminuição considerável do valor. 
 
Saliente-se que nos termos do art. 88 do CC, os bens naturalmente divisíveis (p. 
ex., um terreno) podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei (p. ex., o módulo 
rural, que nos termos do art. 65 do Estatuto da Terra, não comporta a possibilidade de 
divisão) ou por vontade das partes (p. ex., o condomínio sobre uma área de terra, com 
cláusula de indivisão temporária). 
 
5. Bens singulares e coletivos. 
 
São singulares os bens que, embora reunidos, consideram-se de per si, 
independentemente dos demais (p. ex., o fascículo de uma coleção). Por sua vez, os 
bens coletivos são aqueles que se consideram integrados ao agrupamento do qual fazem 
parte (p. ex., o chocolate de uma caixa sortida, que não pode ser vendido de forma 
avulsa). 
 
Cabe destacar que os agrupamentos, em Direito Civil, traduzem universalidades, 
que podem ser: 
a) De fato (art. 90 do CC). Correspondem à pluralidade de bens singulares que, 
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (p. ex., um rebanho); 
b) De direito (art. 91 do CC). Apresentam-se como o complexo de relações 
jurídicas de uma pessoa, dotadas de valor econômico (p. ex., o patrimônio, a massa 
falida). 
 
6. Principais e acessórios. 
 
O bem se diz principal quando enfocado em sua totalidade, existindo sobre si 
mesmo, enquanto acessório é o bem que existe em função do principal (p. ex., as rodas 
em relação ao carro). Trata-se, pois, de uma classificação que leva em conta os bens 
reciprocamente considerados. 
 
Os acessórios se subdividem em: 
 
a) Partes integrantes. Compõem a estrutura e a própria essência da coisa principal 
(p. ex., a bateria de um carro). Por essa razão, entende-se que os acessórios constituídos 
em partes integrantes acompanham, em regra, o principal; 
 
b) Pertenças. São acessórios que, não constituindo partes integrantes, se destinam, 
de modo duradouro, ao uso, ao serviço, ou ao aformoseamento do principal (p. ex., o 
aparelho de som de um carro). Observe-se que, em consonância com o art. 94 do CC, as 
pertenças não acompanham, em regra, o principal, salvo se o contrário resultar da lei, da 
manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. 
 
Ainda no campo dos acessórios, incluem-se as benfeitorias, que traduzem obras e 
acréscimos introduzidos ao bem mediante a intervenção do proprietário, possuidor ou 
detentor. As benfeitorias se classificam em: 
 
a) Necessárias. Destinam-se a conservar o bem (p. ex., o conserto de um 
vazamento); 
 
b) Úteis. São as que aumentam ou facilitam o uso do bem (p. ex., uma garagem); 
 
c) Voluptuárias. Quando propiciam lazer ou embelezamento (p. ex., um 
playground, um jardim). 
 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 5 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Atos jurídicos 
 
 
1. Conceito e classificação do ato jurídico. 
 
Ato jurídico é o ato de vontade capaz de criar, modificar, resguardar, transferir ou 
extinguir direitos e deveres. 
 
Os atos jurídicos lícitos subdividem-se em: 
 
a) Atos jurídicos stricto sensu. Consideram-se tais os atos de vontade cujos efeitos 
encontram-se predeterminados em lei (p. ex., o casamento); 
 
b) Negócios jurídicos. Correspondem a atos de vontade cujos efeitos decorrem do 
livre consentimento das partes (p. ex., o contrato). 
 
Observe-se que as normas referentes aos negócios jurídicos aplicam-se, no que 
couber, aos atos jurídicos stricto sensu (CC, art. 185). 
 
2. Pressupostos de validade do ato jurídico. 
 
São pressupostos de validade do ato jurídico: 
 
a) Agente capaz; 
 
b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável. 
 
c) Forma prescrita ou não defesa em lei. 
 
Art. 107 do CC. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma 
especial, senão quando a lei expressamente a exigir. 
 
3. Interpretação do ato jurídico. 
 
Nas declarações de vontade, deve-se ater mais à intenção nelas consubstanciada 
do que ao sentido literal da linguagem (CC, art. 112). Porém, em se tratando de negócio 
jurídico benéfico ou de renúncia, ordena a lei que se recorra ao critério da interpretação 
estrita (CC, art. 114). 
 
No que pertine ao silêncio, deve-se entender que ele só induzirá anuência quando 
as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade 
expressa (CC, art. 111). Tal se verifica, por exemplo, no contrato de doação, em que o 
doador pode fixar prazo ao donatário para declarar se aceita, ou não a liberalidade; 
desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, o seu 
silêncio faz presumir que aceitou, em atenção ao que dispõe o art. 539 do CC. 
 
Por outro lado, se a declaração de vontade tiver sido externada no contexto de uma 
reserva mental, deve prevalecer, em princípio, aquilo que o agente declarou, salvo o 
destinatário tinha conhecimento prévio da vontade real concebida pelo declarante, 
hipótese em que a declaração não mais subsistirá. Por reserva mental, entenda-se “a 
declaração intencionalmente feita em sentido contrário à vontade real do declarante, 
com o propósito de enganar terceiros” (Mario Godoy, Direito civil, questões 
comentadas – CESPE, 2ª ed., São Paulo, Método, 2010, p. 67). 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 6 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Defeitos do negócio jurídico 
 
 
1. Conceito e classificação. 
 
Os defeitos do negócio jurídico correspondem a vícios capazes de provocar sua 
anulabilidade, sendo de 4 anos o prazo decadencial para a propositura da competente 
ação anulatória (CC, art. 178, incs. I e II). 
 
Classificam-se em: 
 
a) Vícios do consentimento. São aqueles que embaraçam a livre manifestação da 
vontade. Exemplos: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. 
 
b) Vícios sociais. Que são aptos a provocar lesão a interesse de terceiros. 
Exemplos: fraude contra credores e simulação. Observação importante: o vício de 
simulação, atualmente, enseja a nulidade absoluta do negócio. 
 
2. Erro. 
 
O erro se revela na falsa percepção da realidade. Para que se justifique a anulação 
do negócio pelo vício do erro, deve ele conter três características essenciais: 
substancialidade (CC, art. 139), escusabilidade (na visão da doutrina) e 
cognoscibilidade (CC, art. 138). 
 
O erro de direito só induz anulabilidade quando não implicar recusa à aplicação da 
lei, e desde que tenha sido ele o motivo único ou principal do negócio jurídico (CC, art. 
139, inc. III). Vale dizer: para que o erro de direito legitime o pedido de anulação, é 
necessário que recaia sobre norma dispositiva. 
 
CC, art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso 
como razão determinante. 
 
CC, art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável 
nos mesmos casos em que o é a declaração direta. 
 
CC, art. 142. O erro na indicação de pessoa ou da coisa, a que se referir a 
declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas 
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. 
 
CC, art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de 
vontade. 
 
CC, art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quandoa pessoa, 
a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na 
conformidade da vontade real do manifestante – hipótese em que se terá o 
convalescimento da relação. 
 
2. Dolo. 
 
O dolo é o artifício utilizado para induzir a parte ao engano, levando-a a concluir o 
negócio jurídico. 
 
Classifica-se em: 
 
a) Principal. Apresenta-se como a razão determinante da celebração do ajuste. 
Tem como consequência a anulabilidade negocial. 
 
b) Acidental. Quando, a seu despeito, o negócio ainda teria sido realizado, embora 
por outro modo, servindo o dolo apenas para provocar maior onerosidade. Enseja como 
consequência a indenização das perdas e danos. 
 
O dolo ainda pode ser: 
 
a) Recíproco. Se ambas as partes tiverem agido com dolo, hipótese em que 
nenhuma delas poderá alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização (art. 
150). 
 
b) De terceiro. Nessa hipótese, caso a parte beneficiada tenha ou deva ter 
conhecimento do dolo de terceiro, o negócio será anulável; se, ao contrário, ela estiver 
de boa-fé, o negócio subsistirá, respondendo o terceiro por perdas e danos (CC, art. 
148). 
 
3. Coação. 
 
Traduz-se a coação na grave ameaça, apta a provocar na vítima um fundado receio 
de dano iminente à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. 
 
Para que apure a gravidade, devem-se levar em conta o sexo, a idade, a condição, 
a saúde, o temperamento e todas as demais circunstâncias pessoais da vítima, que 
possam influir na gravidade (CC, art. 152). 
 
A coação também poderá ser exercida por terceiro, hipótese em que, caso a parte 
beneficiada dela tenha ou deva ter conhecimento, o negócio será anulável, e ambos 
responderão solidariamente por perdas e danos; por outro lado, estando a parte 
beneficiada de boa-fé, o negócio subsistirá, respondendo apenas o terceiro pelas perdas 
e danos (arts. 154 e 155). 
 
Art. 153. Não se consideram coação a ameaça do exercício normal de um direito, 
nem o simples temor reverencial. 
 
 
 
 
 
4. Estado de perigo. 
 
Configura-se o estado de perigo quando alguém, sob premente necessidade de 
salvar a si ou a pessoa de sua família, de grave dano, conhecido pela outra parte, assume 
obrigação excessivamente onerosa (CC, art. 156). 
 
5. Lesão. 
 
Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, 
se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (CC, 
art. 157). 
 
Nos termos do § 2º do art. 157, não se decretará a anulação do negócio, se for 
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do 
proveito – ocorrendo, nesse caso, o convalescimento do ajuste. 
 
6. Fraude contra credores. 
 
A fraude contra credores acontece quando o devedor insolvente, ou na iminência 
de se tornar insolvente, pratica negócios capazes de reduzir o seu patrimônio, em 
prejuízo dos seus credores. 
 
A princípio, somente os credores quirografários, porquanto desprovidos do 
direito de preferência, poderão sofrer a fraude contra credores. Excepcionalmente, 
porém, os credores com garantia real também poderão ser por ela prejudicados, toda 
vez que o valor do bem dado em garantia não for suficiente para assegurar o pagamento 
dos seus créditos. 
 
Ressalte-se que a fraude contra credores pode se revelar através de duas formas 
principais: 
 
a) Negócios de transmissão gratuita ou remissão de dívida. Dispensam a prova do 
consilium fraudis (= conluio fraudulento entre o devedor insolvente e o adquirente dos 
seus bens); 
 
b) Negócios de transmissão onerosa. Exigem a prova do consilium fraudis, o qual, 
porém, presumir-se-á quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser 
conhecida do outro contratante (CC, art. 159). 
 
Saliente-se que ação destinada a anular a fraude contra credores recebe o nome de 
ação pauliana, devendo ser proposta, em tese, pelos credores quirografários que já o 
eram ao tempo dos atos fraudulentos, bem como pelos credores preferenciais cuja 
garantia se tornar insuficiente, observada a mesma condição. Devem ser chamados a 
compor o polo passivo o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a 
estipulação fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé. E uma 
vez anulada a fraude, a vantagem dela resultante deverá ser revertida em proveito do 
acervo sobre o qual se efetuará o concurso de credores. 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 7 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Nulidades 
 
1. Conceito. 
 
As nulidades correspondem a vícios que impedem a passagem do negócio jurídico 
pelo plano da validade. Subdividem-se em duas espécies: a nulidade absoluta (ou, 
simplesmente, nulidade), que incide quando o vício se contrapõe à ordem pública, e a 
nulidade relativa (ou anulabilidade), quando atinge interesses apenas particulares. 
 
2. Diferenças entre nulidade absoluta e relativa. 
 
As hipóteses de nulidade absoluta encontram-se elencadas exemplificativamente 
no art. 166 do CC. São elas: 
 
a) agente absolutamente incapaz; 
 
b) objeto ilícito, impossível ou indeterminável; 
 
c) quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 
 
d) inobservância da forma prescrita em lei; 
 
e) preterição de solenidade que a lei considere essencial; 
 
f) fraude à lei (imperativa); 
 
g) quando a lei taxativamente declarar o ato nulo, ou proibir-lhe a prática, sem 
cominar sanção. 
 
Outrossim, a teor do art. 167 do CC, “É nulo o negócio jurídico simulado, mas 
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. Há de se 
entender, destarte, que a simulação opera nulidade absoluta, devendo no entanto 
subsistir o negócio dissimulado, sempre que este preencher os pressupostos substanciais 
e formais para a sua validade; caso ele não venha a atender tais pressupostos, restará 
incurso em nulidade absoluta ou relativa, a depender da natureza do vício. 
 
Já os casos legais de nulidade relativa estão listados, de forma exemplificativa, no 
art. 171 do CC. São eles: 
 
a) agente relativamente incapaz; 
 
b) defeitos do negócio jurídico (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude 
contra credores). 
 
Observe-se que a nulidade absoluta, em tese, não acarreta a produção de efeitos, 
ao passo que a nulidade relativa é capaz de gerá-los até a sentença anulatória; a nulidade 
absoluta não é suscetível de confirmação, enquanto a nulidade relativa pode ser 
ratificada; a nulidade absoluta deve ser pronunciada de ofício pelo juiz, já a nulidade 
relativa depende de alegação da parte interessada; a nulidade absoluta considera-se 
imprescritível, ao contrário da nulidade relativa, que se sujeita a prazos decadenciais 
(vide CC, arts. 178 e 179) 
 
Afinal, cumpre atentar para a possibilidade de conversão aplicada ao campo da 
nulidade absoluta. Por conversão entenda-se a transformação de um negócio nulo em 
um outro negócio de natureza diversa, válido, mediante o aproveitamento de um dos 
seus requisitos, de modo a atender ao interesse presumível das partes. Referida 
possibilidade encontra-se ventilada no art. 170 do CC: “Se, porém, o negócio jurídico 
nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as 
partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”. 
 
3. Invalidade parcial. 
 
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio 
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da 
obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induza da 
obrigação principal. 
 
4. Efeitos da sentença que reconhece a nulidade absoluta ou que desconstitui a 
nulidade relativa. 
 
A sentença que reconhece a nulidade absoluta opera ex tunc, pois se limita a 
declarar que as partes se situam no mesmo status quo ante que precedia a celebração 
negocial. 
 
No tocante à sentença que desconstitui a nulidade relativa, a doutrina se divide em 
duas correntes: 
 
a) a primeira, defendendo o seu caráter ex nunc, a admitir como válidos os efeitos 
produzidos até a sentença (é a posição da ESAF); 
 
b) a segunda, sustentando o seu caráter ex tunc, por entender que as partes devem 
ser reconduzidas ao estado em que se achavam antes da formação do negócio. Com 
efeito, reza o art. 182, 1ª parte, do CC: “Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as 
partes ao estado em que antes dele se achavam” (é a posição mais recente do CESPE e 
da FCC). 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 8 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Prescrição e decadência 
 
1. Conceito de prescrição. 
 
Entende-se por prescrição a perda de uma pretensão diante da não propositura da 
ação judicial no prazo legalmente fixado. Observe-se que a prescrição não chega a 
extinguir o direito subjetivo da parte, mas apenas retira a sua pretensão, fazendo com 
que o direito se torne, assim, inexigível. 
 
2. Fundamento da prescrição. 
 
A prescrição se pauta na necessidade de segurança jurídica, motivo pelo qual os 
prazos prescricionais não podem ser alterados por acordo das partes (CC, art. 192). 
 
3. Prescrição de exceção. 
 
Art. 190 do CC. A exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão. Logo, o 
direito cuja pretensão acaso prescrever não poderá ser mais argüido nem em sede de 
ação, nem em sede de defesa. 
 
4. Renúncia à prescrição. 
 
A renúncia à prescrição corresponde ao ato de vontade, expresso ou tácito, do 
devedor, no sentido de pagar a dívida prescrita. Requer dois pressupostos: 
 
a) Que a prescrição já se tenha consumado; 
 
b) Que do ato renunciativo não decorra prejuízo a terceiro. 
 
5. Necessidade e momento de se alegar a prescrição. 
 
Por se tratar de matéria de ordem pública, a prescrição pode ser alegada em 
qualquer tempo e grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (CC, art. 193). E nos 
termos do art. 487, II, do CPC, “Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...) decidir, 
de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição”. 
 
6. Proteção aos relativamente incapazes e pessoas jurídicas. 
 
Tanto a prescrição como a decadência correm normalmente contra os 
relativamente incapazes e as pessoas jurídicas, embora a consumação do prazo se deva 
na verdade à inércia daqueles que deveriam velar por seus interesses. Por esse motivo, 
os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou 
representantes legais, que derem causa à prescrição ou à decadência, ou não a alegarem 
oportunamente (CC, art. 195 c/c art. 208). 
 
7. Sucessão na prescrição. 
 
Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu 
sucessor. 
 
8. Causas impeditivas e suspensivas da prescrição. 
 
Tanto as causas impeditivas como as suspensivas obstam a fluência normal dos 
prazos de prescrição. A diferença é que a causa impeditiva preexiste à contagem do 
prazo, impedindo o início de seu curso, ao passo que a causa suspensiva se revela 
durante a contagem, paralisando sua fluência, e uma vez cessada, faz com que o prazo 
volta a correr pelo remanescente. 
 
As causas que impedem ou suspendem a prescrição encontram-se previstas nos 
arts. 197, 198 e 199 do CC. 
 
Art. 197. Não corre a prescrição: 
 
I – entre cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
 
II – entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
 
III – entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou 
curatela. 
 
Art. 198. Também não corre a prescrição: 
 
I – contra os incapazes de que trata o art. 3º (= absolutamente incapazes); 
 
II – contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos 
Municípios; 
 
III – contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. 
 
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição: 
 
I – pendendo condição suspensiva; 
 
II – não estando vencido o prazo; 
 
III – pendendo ação de evicção. 
 
Outrossim, dispõe o art. 200 do CC: “Quando a ação se originar de fato que deva 
ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença 
definitiva”. 
 
9. Causas interruptivas da prescrição. 
 
As causas interruptivas são aquelas que provocam o reinício da contagem do prazo 
prescricional. Nos termos do art. 202, parágrafo único, do CC, a prescrição interrompida 
recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a 
interromper. 
O elenco legal das causas que interrompem a prescrição encontra-se previsto no 
art. 202 do CC, que estabelece: “A interrupção da prescrição, que somente poderá 
ocorrer uma vez, dar-se-á: 
 
I – por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o 
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
 
II – por protesto, nas condições do inciso antecedente; 
 
III – por protesto cambial; 
 
IV – pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso 
de credores; 
 
V – por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
 
VI – por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe 
reconhecimento do direito pelo devedor”. 
 
10. Prazos de prescrição. 
 
Não dispondo a lei de prazo menor, a prescrição se consuma em dez anos (CC, art. 
205). 
 
Já os prazos prescricionais específicos constam do art. 206 do CC, verbis: 
“Prescreve: 
 
§ 1º. Em 1 ano: 
 
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo 
no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos; 
 
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado 
o prazo: 
 
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é 
citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da 
data que a este indeniza, com a anuência do segurador; 
 
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; 
 
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, 
árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; 
 
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a 
formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia 
que aprovar o laudo; 
 
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os 
liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da 
sociedade. 
 
§ 2º. Em 2 anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em 
que se vencerem. 
 
§ 3º. Em 3 anos: 
 
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; 
 
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou 
vitalícias; 
 
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, 
pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; 
 
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; 
 
V - a pretensão de reparação civil; 
 
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; 
 
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do 
estatuto, contado o prazo: 
 
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; 
 
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço 
referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou 
assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; 
 
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação; 
 
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do 
vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; 
 
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no 
caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. 
 
§ 4º. Em 4 anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das 
contas. 
 
§ 5º. Em 5 anos: 
 
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público 
ou particular; 
 
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, 
curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos 
serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; 
 
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo”. 
 
11. Conceito de decadência. 
 
Tem-se por decadência a perda do direito potestativo diante da inércia do seu 
titular em exercê-lo dentro do prazo que a lei ou a convenção estabelecer. 
 
Cumpre salientar que os prazos decadenciais têm natureza fatal e peremptória, por 
não sofrerem a influência das causas que impedem, suspendem ou interrompem a 
prescrição (CC, art. 207). Admite-se, porém, uma exceção: não corre decadência contra 
os absolutamente incapazes (CC, art. 208 c/c art. 198, inc. I). 
 
12. Decadência legal e convencional. 
 
Subdivide-se a decadência em legal e convencional. Enquanto a decadência legal 
é criada diretamente por lei, a convencional decorre da vontade das partes, observado o 
limite legalmente estipulado para sua fixação. 
 
Acerca da decadência legal, reza o art. 209 do CC: “É nula a renúncia à 
decadência fixada em lei”. Outrossim, dispõe o CC, em seu art. 210: “Deve o juiz, de 
ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei”. 
 
Quanto à decadência convencional, cumpre transcrever o art. 211 do CC: “Se a 
decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau 
de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação”. 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 9 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Obrigações de dar, fazer e não fazer 
 
1. Obrigação de dar. 
 
A obrigação de dar é aquela cujo objeto consiste na entrega de uma coisa. 
Subdivide-se em: 
 
a) Obrigação de dar coisa certa. Diz respeito a uma coisa certa e determinada, 
sendo conveniente ressaltar que o credor de coisa certa não é obrigado a receber coisa 
diversa, mesmo que mais valiosa; 
 
b) Obrigação de restituir. Corresponde ao dever de efetuar a devolução de uma 
coisa; 
 
c) Obrigação de dar coisa incerta. Envolve coisas indicadas pelo gênero e 
quantidade, as quais somente poderão se individualizar após a efetivação da escolha. 
 
A obrigação de dar coisa certa vem pautada pelas seguintes regras: 
 
a) Se a perda da coisa resultar da culpa do devedor, responderá este pelo 
equivalente mais perdas e danos; não havendo culpa, ficará resolvida a obrigação para 
ambas as partes (art. 234 do CC); 
 
b) Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a 
obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art. 235 do CC); 
sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no 
estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização 
das perdas e danos (art. 236 do CC). 
 
Por sua vez, aplicam-se à obrigação de restituir as seguintes disposições: 
 
a) Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se 
perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, 
ressalvados os seus direitos até o dia da perda (art. 238 do CC); se a coisa se perder por 
culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos (art. 239 do 
CC); 
 
b) Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, 
tal qual se ache, sem direito a indenização; se tiver havido culpa do devedor, responderá 
este pelo equivalente, mais perdas e danos (art. 240 do CC). 
 
Finalmente, regem a obrigação de dar coisa incerta os seguintes dispositivos: 
 
a) Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, 
ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246 do CC); 
 
b) a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da 
obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor (art. 
244 do CC). 
 
2. Obrigação de fazer. 
 
A obrigação de fazer tem por objeto a prestação de um fato. Classifica-se em: 
 
a) Infungível. Reclama o cumprimento pessoal por parte do devedor. Nos termos 
do art. 247 do CC, incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que 
recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível. 
 
b) Fungível. Quando o devedor puder cumpri-la pessoalmente ou através de um 
terceiro. Reza, a propósito, o art. 249 do CC: “Se o fato puder ser executado por 
terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou 
mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”. Parágrafo único. “Em caso de 
urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar 
executar o fato, sendo depois ressarcido”. 
 
Seja fungível ou infungível a obrigação de fazer, se a prestação do fato tornar-se 
impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, 
responderá por perdas e danos (CC, art. 248). 
 
3. Obrigação de não fazer. 
 
A obrigação de não fazer é aquela pela qual a parte assume um dever de 
abstenção. 
 
Principais regras: 
 
a) Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe 
torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar (CC, art. 250). 
 
b) Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir 
dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e 
danos. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, 
independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido (CC, 
art. 251). 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 10 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Obrigações divisíveis, indivisíveis e solidárias 
 
1. Obrigação divisível. 
 
A obrigação considera-se divisível quando seu objeto comporta a possibilidade de 
divisão (p. ex., uma soma em dinheiro, uma safra). 
 
CC, art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação 
divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os 
credores ou devedores. 
 
CC, art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode 
o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se 
ajustou. 
 
2. Obrigação indivisível. 
 
A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato 
não suscetíveis de divisão, por sua natureza (p. ex., um cavalo), por motivo de ordem 
econômica (p. ex., umajóia rara), ou dada a razão determinante do negócio jurídico (p. 
ex., um contrato que não permite que o pagamento se faça em parcelas) (CC, art. 258). 
 
Observe-se que havendo mais de um devedor em obrigação indivisível, cada um 
será obrigado pela totalidade da dívida. E o devedor, que adimplir o débito, sub-roga-se 
nos direitos do credor em relação aos outros co-obrigados (CC, art. 259). 
 
Ainda com relação à pluralidade de devedores, salienta o art. 262 do CC que perde 
a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. Nesse caso, se 
houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais; se de só um 
for a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos. 
 
Por outro lado, se a pluralidade for de credores, poderá cada um destes exigir a 
dívida inteira; mas o devedor somente se desobrigará, pagando a todos conjuntamente, 
ou a um deles, com caução de ratificação dos demais (CC, art. 260). Com efeito, se o 
devedor assim não o fizer, correrá o risco de, pagando mal, ser obrigado a pagar 
novamente. 
 
E finalmente, se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos 
outros assistirá o direito de exigir dele, em dinheiro, a parte que lhe caiba no total (art. 
261 do CC). 
 
3. Obrigação solidária. 
 
A obrigação solidária é aquela na qual concorre mais de um credor, ou mais de um 
devedor, cada um deles com direito, ou obrigado, à dívida toda. 
 
Nesse contexto, é importante ressaltar que solidariedade não se presume; resulta 
da lei ou da vontade das partes (CC, art. 265). 
 
Nos termos preconizados pela lei civil, a solidariedade pode ser ativa (quando 
concorrem vários credores, podendo qualquer um deles exigir a integralidade do débito) 
ou passiva (quando vários são os devedores, qualquer um deles podendo ser compelido 
a tudo pagar). 
 
Principais regras referentes à solidariedade ativa: 
 
a) CC, art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o 
cumprimento da prestação por inteiro. 
 
b) CC, art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento 
responderá aos outros pela parte que lhes caiba. 
 
c) CC, art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o 
devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. 
 
d) CC, art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um 
destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu 
quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível (logo, o vínculo solidário não se 
transmite aos herdeiros, a menos que se trate de obrigação cujo objeto seja indivisível). 
 
e) CC, art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para 
todos os efeitos, a solidariedade. 
 
f) CC, art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções 
pessoais oponíveis aos outro (portanto, ao devedor somente será facultado opor exceção 
pessoal, de que disponha contra um dos credores, ou exceção comum, oponível a todos). 
 
g) CC, art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os 
demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o 
devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. 
 
Principais regras referentes à solidariedade passiva: 
 
a) CC, art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos 
devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, 
todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. 
 
b) CC, art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe 
forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro 
co-devedor. 
 
c) CC, art. 283, 1ª parte. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a 
exigir de cada um dos co-devedores a sua quota (hipótese em que o devedor em questão 
ficará sub-rogado nos direitos do credor em relação aos demais). 
 
d) CC, art. 283, 2ª parte. A quota do insolvente será rateada entre os demais. 
 
e) CC, art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de 
alguns ou de todos os devedores. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais 
devedores, subsistirá a dos demais (quanto a estes, porém, deverá ser abatida, do 
montante integral do débito, a quota objeto de renúncia). 
 
f) CC, art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os 
exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao 
insolvente (assim sendo, se o credor renunciar à solidariedade em favor de um dos co-
devedores, este permanecerá obrigado a responder pela parte que lhe couber na quota do 
devedor insolvente). 
 
g) CC, art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por 
ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia 
paga ou relevada. 
 
h) CC, art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores 
solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e 
danos só responde o culpado. 
 
i) CC, art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a 
ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela 
obrigação acrescida. 
 
j) CC, art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, 
nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão 
hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados 
como um devedor solidário em relação aos demais devedores (donde se conclui que o 
característico da solidariedade não se transmite aos herdeiros, salvo quando se tratar de 
obrigação indivisível, ou quando houver o congraçamento de todos os herdeiros no pólo 
passivo da relação processual). 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 11 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Pagamento 
 
1. Conceito. 
 
Pagamento é o ato jurídico pelo qual o devedor ou um terceiro extingue a 
obrigação, através do cumprimento da prestação devida. 
 
2. Solvens. 
 
É aquele que realiza o pagamento. Pode ser o próprio devedor ou um terceiro. 
 
No caso de o pagamento ser efetuado por terceiro, cumpre diferenciar entre o 
terceiro interessado e o terceiro não interessado. 
 
Nesses termos, o terceiro interessado que paga a dívida alheia sub-roga-se de 
pleno direito na posição do credor (CC, art. 346, inc. III). 
 
De modo diverso, se o pagamento foi feito por terceiro não interessado, duas 
situações podem acontecer: a) se o terceiro não interessado pagou a dívida em nome do 
devedor, entende-se que houve mera liberalidade; b) se em nome próprio, o terceiro terá 
direito a reembolsar-se do que pagou, mas não se sub-rogará nos direitos da parte 
credora. 
 
3. Accipiens. 
 
É a pessoa que recebe o pagamento. Via de regra, o pagamento deve ser feito ao 
credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele 
ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito (CC, art. 308). 
 
Consoante o art. 310 do CC, não vale o pagamento cientemente feito ao credor 
incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. 
 
Por outro lado, aduz o CC, em seu art. 309, que o pagamento feito de boa-fé ao 
credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Tem-se por credor 
putativo aquele que aparentemente ostenta essa qualidade, embora de fato não detenha 
condições para receber (p. ex., o herdeiro aparente, que depois vem a ser excluído do 
inventáriopor motivo de indignidade). 
 
4. Objeto. 
 
Tratando-se de débito pecuniário, prevalece a regra de que o pagamento deve ser 
feito em moeda corrente e pelo valor nominal (CC, art. 315). 
 
Por essa razão, são nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda 
estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda 
nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial (CC, art. 318). 
 
5. Teoria da imprevisão. 
 
De acordo com a teoria da imprevisão, é de se presumir que todos os contratos a 
prazo trazem implícita uma cláusula – conhecida como “cláusula rebus sic stantibus” –, 
por força da qual a parte prejudicada poderá pleitear o reajuste ou mesmo a resolução do 
vínculo contratual, caso o equilíbrio da relação venha a se romper em virtude da 
superveniência de um evento extraordinário e imprevisível, capaz de trazer excessiva 
onerosidade à obrigação. 
 
Com efeito, nos termos do art. 317 do CC, quando, por motivos imprevisíveis, 
sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de 
sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto 
possível, o valor real da prestação. 
 
Na sequência, prescreve o art. 478 do CC: Nos contratos de execução continuada 
ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com 
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e 
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença 
que a decretar retroagirão à data da citação. 
 
Tenha-se presente, enfim, que a resolução contratual poderá ser evitada, 
oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato (CC, art. 
479). 
 
6. Quitação. 
 
A quitação corresponde à prova documental do pagamento. A respeito, dispõe o 
art. 320 do CC que a quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, 
designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este 
pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu 
representante. 
 
Esclarece o art. 319 do CC que o devedor que paga tem direito a quitação regular, 
e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. 
 
A quitação poderá também ser presumida, o que se verifica notadamente em três 
situações: 
 
a) Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, 
até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores (CC, art. 322); 
 
b) Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos 
(CC, art. 323); 
 
c) A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Nesse caso, 
ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em 60 dias, a falta do 
pagamento (CC, art. 324). 
 
7. Lugar. 
 
De ordinário, o pagamento deve ser feito no domicílio do devedor (o que traduz a 
dívida quérable, ou quesível), salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o 
contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias (art. 327 do 
CC). 
 
Por outro lado, se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em 
prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde estiver situado o bem (CC, art. 
328). 
 
Ainda nesse contexto, caso ocorra motivo grave para que se não efetue o 
pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para 
o credor (CC, art. 329). 
 
Afinal, reza o CC, em seu art. 330, que o pagamento reiteradamente feito em outro 
local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. 
 
8. Tempo. 
 
Tratando-se de obrigação não sujeita a prazo, entende-se que o credor poderá 
exigir que o pagamento se perfaça de imediato, ressalvadas as exceções legais (CC, art. 
331). 
 
De modo diverso, caso tenha sido estipulado prazo para o cumprimento da 
obrigação, somente após vencida a dívida é que o credor poderá efetuar a cobrança. 
 
Em três hipóteses, porém, o CC, em seu art. 333, confere ao credor o direito de 
cobrar a dívida antes do vencimento. São elas: 
 
a) no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; 
 
b) se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por 
outro credor; 
 
c) se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, 
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las. 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 12 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Inadimplemento das obrigações 
 
1. Responsabilidade contratual. 
 
A responsabilidade contratual consiste no dever de reparar os prejuízos 
decorrentes do inadimplemento de uma obrigação. Seu fundamento encontra-se previsto 
no art. 389 do CC: Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, 
mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, 
e honorários de advogado. 
 
Para que se configure a responsabilidade contratual, necessário se faz que o 
inadimplemento seja provocado pela culpa do devedor. Assim sendo, se o devedor 
comprovar ausência de culpa, deixará de incorrer no dever de indenizar. 
 
Dispõe, a propósito, o art. 393 do CC: O devedor não responde pelos prejuízos 
resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles 
responsabilizado. 
 
2. Mora. 
 
Para melhor compreensão da matéria, cumpre primeiramente diferenciar entre 
inadimplemento absoluto e mora. Enquanto o inadimplemento absoluto reflete a 
conduta do devedor que, ao deixar de cumprir a prestação, faz com que esta perca toda e 
qualquer serventia, a mora, por sua vez, mantém viável o cumprimento futuro da 
obrigação, a qual ainda pode ser satisfeita com proveito para o credor. 
 
Sob esse aspecto, considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e 
o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção 
estabelecer (CC, art. 394). 
 
Como se observa, a mora tanto pode ser do devedor como do credor. No primeiro 
caso, fala-se em mora solvendi; no segundo, em mora accipiendi. 
 
A mora solvendi desencadeia na prática as seguintes conseqüências: 
 
a) CC, art. 395, caput. O devedor responde pelos prejuízos a que sua mora der 
causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais 
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado; 
 
b) CC, art. 395, parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao 
credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos (hipótese em que 
restará configurado o inadimplemento absoluto); 
 
c) CC, art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, 
embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes 
ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria 
ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada (a regra consagra a 
chamada perpetuatio obligationis, por força da qual a lei impõe ao devedor moroso a 
responsabilidade caso o objeto do negócio venha a se impossibilitar, ainda que a 
impossibilidade decorra de caso fortuito ou força maior). 
 
Por outro lado, são consequências da mora accipiendi: 
 
a) CC, art. 400, 1ª parte. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à 
responsabilidade pela conservação da coisa (logo, a configuração da mora accipiendi 
faz com que o devedor não tenha qualquer responsabilidade caso o objeto do negócio 
venha a perecer, a menos que tenha agido com dolo); 
 
b) CC, art. 400, 2ª parte. A mora do credor obriga-oa ressarcir as despesas 
empregadas em conservar a coisa; 
 
c) CC, art. 400, 3ª parte. A mora do credor sujeita-o a receber a coisa pela 
estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para 
o pagamento e o da sua efetivação. 
Saliente-se, afinal, que seja qual for a espécie de mora, a lei contempla a 
possibilidade de que o devedor ou o credor faltoso possam promover sua purgação, 
remediando, assim, os efeitos nocivos dela decorrentes. Nesse sentido, estabelece o CC, 
em seu art. 401, que purga-se a mora: 
I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos 
prejuízos decorrentes do dia da oferta; 
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se 
aos efeitos da mora até a mesma data. 
3. Cláusula penal. 
 
A cláusula penal consiste na penalidade inserida no negócio jurídico para o caso 
de inadimplemento. Sua grande finalidade é servir de substitutivo às perdas e danos, já 
que para exigir sua incidência não é necessário ao credor alegar prejuízo (CC, art. 416, 
caput). 
 
Subdivide-se a cláusula penal em duas espécies: 
 
a) Cláusula penal compensatória. Pressupõe o inadimplemento absoluto. Sua 
natureza é alternativa, podendo o credor optar entre o cumprimento da obrigação ou o 
pagamento da pena convencionada (CC, art. 410); 
 
b) Cláusula penal moratória. Prevista em atenção à mora. Possui caráter 
cumulativo, tendo o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, 
juntamente com o desempenho da obrigação principal (CC, art. 411). 
 
Via de regra, a previsão da cláusula penal retira do credor a possibilidade de pedir 
indenização suplementar a título de perdas e danos. Entretanto, se do negócio constar 
cláusula expressa admitindo tal prerrogativa, a pena valerá como mínimo da 
indenização, cabendo ao credor provar o prejuízo excedente (CC, art. 416, parágrafo 
único). 
 
No que pertine ao limite da cláusula penal, o art. 412 do CC entende que o valor 
da cominação imposta não pode exceder o da obrigação principal; caso haja excesso, o 
juiz decretará sua redução. 
 
Outrossim, deve a penalidade ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a 
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se seu montante for 
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio (art. 
413 do CC). 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 13 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Responsabilidade civil (1ª parte) 
 
1. Conceito de responsabilidade aquiliana. 
 
Entende-se por responsabilidade aquiliana a obrigação de indenizar os prejuízos 
decorrentes de um ilícito extracontratual. Logo, para que o agente se invista na 
responsabilidade, é necessária sua incursão na prática de um ato ilícito. 
 
2. Pressupostos da ilicitude. 
 
CC, art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito. 
 
A configuração do ato ilícito requer, portanto, a demonstração de quatro 
elementos: 
 
a) Ação ou omissão. Reflete o comportamento voluntário do agente; 
 
b) Resultado. Corresponde à ocorrência efetiva de um dano, que pode ser material, 
moral e/ou estético; 
 
c) Nexo causal. Traduz a relação de causa e efeito entre o comportamento do 
ofensor e o resultado danoso. A propósito, entende a doutrina que o nexo causal poderá 
ser afastado em razão da culpa exclusiva da vítima, do motivo de caso fortuito ou força 
maior, ou do fato de terceiro. Configurada uma dessas situações, o agente ficará isento 
de responsabilidade; 
 
d) Culpa. Que engloba tanto a culpa em sentido estrito (negligência, imperícia e 
imprudência), como o dolo. 
 
Observe-se que a presença do fator culpa na caracterização da ilicitude decorre da 
opção do legislador pelo sistema da responsabilidade subjetiva. Entretanto, cumpre 
ressaltar que, em caráter excepcional, a lei também contempla hipóteses de 
responsabilidade objetiva, cuja apuração independe do elemento culpa. 
 
Principais casos de responsabilidade objetiva: 
 
a) CC, art. 927, parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem. 
 
b) CC, art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários 
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos causados 
pelos produtos postos em circulação. 
 
c) CC, arts. 932 c/c 933. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, 
pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor 
e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o 
empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do 
trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, 
casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, 
pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem 
participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. 
As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja 
culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. 
d) CC, art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, 
se não provar culpa da vítima ou força maior. 
e) CC, art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano 
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 14 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Responsabilidade civil (2ª parte) 
 
3. Excludentes da ilicitude. 
 
Nos termos do art. 188 do CC, três são as excludentes que eliminam o caráter 
ilícito do ato: 
 
a) Legítima defesa. Ocorre quando a vítima faz uso da força a fim de reagir contra 
uma ameaça ou agressão injusta, que seja também atual ou iminente; 
 
b) Exercício regular de direito. Tem lugar quando o agente norteia seu 
comportamento dentro de um padrão legalmente acatado; 
 
c) Estado de necessidade. Revela-se quando o sujeito provoca deterioração ou 
destruição de coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. É 
preciso destacar que se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, não forem culpados do 
perigo, poderão pleitear, do agente que atuou em estado de necessidade, a indenização 
do prejuízo que sofreram (CC, art. 929). De se concluir, portanto, que o estado de 
necessidade, embora funcione como uma causa excludente da ilicitude, não afasta o 
dever de indenizar. 
 
4. Abuso de direito. 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes. 
 
Observe-se que, para todos os fins, o abuso de direito se encontra equiparado ao 
ato ilícito. 
 
5. Responsabilidade do incapaz. 
 
Via de regra, compete aos pais, tutores e curadores indenizar os prejuízos 
causados pela pessoa incapaz (CC, art. 932, incs. I e II). 
 
Em duas situações, porém, a lei contempla a possibilidade de se responsabilizar 
subsidiariamente o próprio incapaz (CC, art. 928): 
 
a) Se as pessoas por ele responsáveis não tiverem a obrigação de indenizar. É o 
que sucede, por exemplo, com o dano cometido pelo aluno dentro do estabelecimento 
escolar, hipótese em que oeducandário, ao assumir responsabilidade pelo prejuízo (CC, 
art. 932, inc. IV), poderá propor ação regressiva contra o educando, ainda que este seja 
menor de idade; 
 
b) Se as pessoas por ele responsáveis não dispuserem de meios suficientes. Assim, 
se o autor do dano for um menor abastado, que atua, por exemplo, em programas 
televisivos, porém cuja família vive em situação de pobreza, também aqui será possível 
que a ação seja proposta pessoalmente contra o incapaz. 
 
Não se perca de vista, afinal, que de conformidade com o parágrafo único do art. 
928, a indenização prevista no dispositivo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se 
privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem. 
 
6. Desproporção entre a gravidade da culpa e o dano. 
 
Art. 944, parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da 
culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 
 
O enunciado abre importante exceção ao princípio da máxima reparação do dano, 
ao permitir que o magistrado reduza a verba indenizatória quando configurada excessiva 
desproporcionalidade entre o grau de culpa do autor e o prejuízo que a vítima veio a 
sofrer. 
 
7. Culpa concorrente. 
 
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua 
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a 
do autor do dano. 
 
Logo, uma vez apurada a culpa concorrente, o juiz deverá calcular o montante 
indenizatório com base na gradação da culpa de cada um dos envolvidos. 
 
 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 15 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Contratos: conceito, princípios e classificação 
 
1. Conceito de contrato. 
 
Contrato é o acordo de vontades destinado a criar, modificar, resguardar, transferir 
ou extinguir direitos e obrigações. 
 
Por esse raciocínio, os contratos não podem ser confundidos com os atos jurídicos 
unilaterais, que são aqueles que se aperfeiçoam com uma única declaração de vontade 
(p. ex., o testamento). 
 
2. Princípios contratuais. 
 
Orientam-se os contratos pela observância dos seguintes princípios: 
 
a) Obrigatoriedade. De acordo com esse princípio, o contrato, uma vez firmado, 
adquire força de lei, vinculando os pactuantes aos termos da obrigação assumida; 
 
b) Autonomia da vontade. É o princípio que apregoa a liberdade das partes no 
sentido de contrair ou não o vínculo contratual, bem como de aquiescer ou não nas 
disposições constantes de um contrato. 
 
c) Função social. Nos termos do art. 421 do CC, a liberdade de contratar será 
exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 
 
d) Boa-fé objetiva. Reza o CC, em seu art. 422, que os contratantes são obrigados 
a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de 
probidade e boa-fé. 
 
3. Classificação dos contratos. 
 
Os contratos classificam-se em: 
 
a) Consensuais e reais. Contratos consensuais são aqueles que se consideram 
formados a partir do acordo de vontades (p. ex., a compra e venda); contratos reais são 
os que se aperfeiçoam no momento da tradição (p. ex., o comodato, o mútuo e o 
depósito). Saliente-se que, de acordo com a concepção manifestada pela lei civil, os 
contratos, de modo geral, tendem a ser consensuais, somente se admitindo a existência 
de contratos reais em casos específicos. 
 
b) Unilaterais e bilaterais. Contratos unilaterais são aqueles que, uma vez 
formados, implicam deveres para apenas uma das partes (p. ex., a doação pura); 
contratos bilaterais, ou sinalagmáticos, são os que estabelecem deveres recíprocos para 
ambas as partes após sua formação (p. ex., a compra e venda, a doação com encargo). 
 
c) Gratuitos e onerosos. Contratos gratuitos são aqueles que implicam sacrifício 
patrimonial para apenas uma das partes (p. ex., a doação pura); contratos onerosos são 
os que acarretam sacrifício patrimonial recíproco (p. ex., a compra e venda, o mútuo 
feneratício). 
 
d) Comutativos e aleatórios. Contratos comutativos são aqueles em que as partes, 
de antemão, contam com a previsão subjetiva de equivalência entre as prestações (p. 
ex., a compra de um automóvel); contratos aleatórios são os que induzem assunção de 
risco pelo contratante (p. ex., o seguro, o jogo e a aposta). 
 
e) Típicos e atípicos. Contratos típicos são aqueles que se encontram regulados em 
lei (p. ex., a locação); contratos atípicos são os que não possuem disciplina legal (p. ex., 
o time sharing). De acordo com o art. 425 do CC, os contratos atípicos deverão observar 
as normas gerais fixadas pela codificação civil 
 
f) Preliminares e definitivos. Contratos preliminares são aqueles cujo objeto 
consiste na futura celebração de um contrato definitivo (p. ex., a promessa de compra e 
venda); contratos definitivos são os que correspondem ao objeto visado pelo preliminar 
(p. ex., o contrato definitivo de compra e venda). Dispõe, a propósito, o art. 462 do CC, 
que o contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos 
essenciais ao contrato a ser celebrado. 
 
g) De execução imediata, continuada e diferida. Contratos de execução imediata, 
ou instantânea, são aqueles cujo cumprimento ocorre logo após a formação (p. ex., a 
compra e venda à vista); contratos de execução continuada, ou de trato sucessivo, são os 
que fragmentam o cumprimento obrigacional ao longo do tempo (p. ex., a compra e 
venda parcelada); afinal, contratos de execução diferida são os que adiam o 
cumprimento da obrigação para momento futuro (p. ex., a compra e venda a prazo). 
 
h) Paritários e de adesão. Contratos paritários são aqueles cujas cláusulas são 
livremente discutidas pelos pactuantes; contratos de adesão são os que têm suas 
cláusulas predispostas pela vontade única de uma das partes, sem que ao outro partícipe 
(no caso, o aderente) seja dado o poder de rejeitá-las. Conforme estatui o art. 423 do 
CC, quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-
se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. E o art. 424 complementa: Nos 
contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do 
aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
 
CURSO ISOLADO DE DIREITO CIVIL – AULA 16 
 
Professor: Mario Godoy 
 
Tema: Formação dos contratos 
 
1. Proposta. 
 
A proposta é o ato pelo qual o proponente (ou policitante) convida o destinatário 
(também chamado oblato) para com ele proceder à celebração contratual. Note-se que o 
contrato pode ser celebrado entre presentes, quando a comunicação entre os envolvidos 
se desenvolve em tempo real (p. ex., por meio de telefone), ou entre ausentes, quando 
houver intervalo de tempo entre as declarações dos partícipes (p. ex., através de 
correspondência epistolar). 
 
Isto posto, importa registrar que, nos termos do art. 427 do CC, a proposta de 
contrato vincula o proponente, a não ser que o contrário resulte dos termos dela 
(quando, p. ex., o proponente se reserva o direito de retratação), da natureza do negócio, 
ou das circunstâncias do caso. 
 
E o art. 428 do CC enumera as seguintes circunstâncias que podem retirar o efeito 
obrigatório da proposta: 
 
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita; 
 
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para 
chegar a resposta ao conhecimento do proponente; 
 
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo 
dado; 
 
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra

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