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1 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes “Eu nunca pensei que veria sarampo de novo. Contudo, estamos vendo muitos casos de sarampo recentemente. Uma das principais causas é a questão socioeconômica, e outra é um grupo ideológico antivacinas que acredita que vacinas causem autismo. Esse grupo antivacinação é a coisa mais absurda que já ouvi falar, não tem nada a ver! Voltamos a falar de Sarampo porque já tivemos dois casos no RJ, casos em SP, e em Roraima, e isso pode se alastrar. Então, é muito grave!” Epidemiologia O sarampo é uma doença endêmica entre diversos continentes. Principalmente em países desenvolvidos como EUA, Alemanha, e outros seguimentos da Europa, estão surgindo casos de sarampo. Contudo, na Europa esses casos não estão relacionados com a questão social, mas com uma questão intelectual de grupos antivacina. “Essa geração antivacina provavelmente tem esse pensamento porque não viu a geração que morreu de sarampo. Esses grupos antivacinas não entendem que se eles não viram mortes por doenças que hoje são prevenidas é justamente porque existem as vacinas!” Primeiros 5 meses de 2018 no mundo: - 128 mil casos suspeitos; - 81 mil casos confirmados na Europa- Principalmente em adolescentes e adultos jovens. - A queda da taxa de cobertura vacinação é o principal fator disso. Na Europa e EUA, a questão dos grupos antivacinas é o que tem causado essa queda na taxa de cobertura vacinal, enquanto na Venezuela é uma questão muito mais social. Venezuela - surto de sarampo desde julho de 2017: - Atual situação sociopolítica e econômica do país; - O intenso movimento migratório contribuiu para a propagação do vírus para outras áreas geográficas. A Venezuela está em surto de Sarampo desde 2017 porque não tem dinheiro o suficiente para vacinar os indivíduos. Esse surto na Venezuela é uma das coisas que contribuiu para as taxas de infecção no Brasil. Então, uma questão socioeconômica na Venezuela cria propagação para outras áreas geográficas, principalmente países vizinhos (como o Brasil). Região das Américas - Declarada livre de Sarampo em 2016. A região das Américas estava declarada livre de sarampo até a ocorrência desse surto na Venezuela. O sarampo tinha sido considerado erradicado pela vacina desde 2016. Então, é um retrocesso absurdo! Nos primeiros meses de 2018 houveram 1.864 casos de sarampo em 11 países. Dentre esses 1.864 casos, 1.427 deles foram na Venezuela. Brasil O Brasil enfrenta um surto de sarampo desde fevereiro de 2018. Antigamente, o Brasil tinha casos isolados de sarampo. Os poucos casos que aconteciam estavam relacionados com crianças sem cobertura vacinal (seja pela faixa etária, ou não). Essas crianças viajavam para áreas endêmicas, e alguns dias depois da volta ao país começavam a apresentar os sintomas. Devido ao período de incubação da doença a criança só desenvolvia os sintomas depois que já tinha voltado de viagem. Isso dava a impressão de que a doença tinha sido contraída aqui; contudo, ela tinha sido contraída em outro lugar e só se manifestava aqui. Hoje, por outro lado, com esse surto de sarampo as crianças estão realmente sendo infectadas no Brasil. Genótipo D8- Circulante na Venezuela desde 2017. (É o mesmo circulante no Amazonas e Roraima). “É importante saber disso para não dizer que é um complô contra a Venezuela!” Esse genótipo que estava na Venezuela é o mesmo que está agora no Amazonas, em Roraima. Isso não é uma coincidência, isso esclarece que é o genótipo que estava na Venezuela que está causando as infecções em Roraima. “É o mesmo genótipo! É só fazer o rastreamento do RNA que você vai ver que o Sarampo de lá é o mesmo que está aqui!” 2 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Até julho de 2018 foram detectados 3.000 casos suspeitos, e dentre esses 526 foram confirmados. Atenção! Não é porque temos apenas 526 casos confirmados que os outros 2.474 sejam negativos. Esses 2.474 casos podem não ser positivos porque não houve acesso ao exame, não teve a janela de tempo adequada, ou porquê não foi feita a sorologia. Então o caso pode ter ficado apenas como suspeito porque não houve confirmação através de sorologia. Ou seja, os casos confirmados provavelmente estão subnotificados; provavelmente os casos positivos são muito maiores. Dentre casos confirmados, 317 estão no Amazonas (bem próximos à Venezuela, o que não é uma coincidência). No Rio de Janeiro houveram 2 casos. Houveram 3 mortes por sarampo. (Onde?) Faixa etária Faixa etária mais acometida: Dos 6 meses aos 4 anos. O acometimento de crianças com 6 meses provavelmente ocorre porque pela faixa etária ela ainda não foi vacinada com a tríplice viral. A primeira dose da vacina tríplice viral (SCR- Sarampo, Caxumba e Rubéola) só é feita aos 12 meses de vida. Observação: A vacina tríplice viral pode ser representada por MMR ou SCR. Etiologia Agente etiológico: Paramyxovirus (Família paramyxoviridae, gênero Morbillivirus). O sarampo é uma doença viral aguda de ALTA TRANSMISSIBILIDADE. Só para vocês terem uma ideia: De cada 10 contactantes com 1 pessoa infectada, 9 vão ter sarampo. A transmissão é altíssima. “Se eu tiver com sarampo e tiverem 10 pessoas aqui, 9 delas vão desenvolver a doença se não estiverem com a cobertura vacinal adequada!”. Dúvida de aluno: Professor, a infecção por sarampo também pode ser assintomática? R: Não. Sarampo não pode ser assintomático. Os sintomas vão variar conforme os graus de gravidade, mas assintomático no sarampo não. Em outras doenças exantemáticas você pode ter a infecção e não desenvolver a doença (não desenvolver sinais e sintomas clínicos), mas sarampo não. Aliás, na medicina nunca é 100% de certeza, mas em 99,9% dos casos não vai haver sarampo assintomático. Dúvida de aluno: Professor, na vacina para sarampo a cobertura é específica para um tipo de vírus só? Se eu estou vacinado estou vacinado para esse vírus, e não existe outros tipos de vírus que possam me infectar com sarampo? R: A vacina diminui a probabilidade da população se infectar, mas não impede que a infecção aconteça. Então, algumas das pessoas vacinadas vão se infectar. Contudo, nessas pessoas vacinadas que se infectaram a vacina tem a função de diminuir o grau de gravidade da doença. “A vacina não vai te imunizar 100%. A vacina tem duas funções: evitar e atenuar. Se ela não evitar, e você tiver sarampo mesmo assim, ela vai atenuar; ou seja, vai reduzir a gravidade da doença.” Relato de caso por uma aluna: “Professor, eu sou vacinada (tenho duas doses de SCR) e mesmo assim tive sarampo”. - Você foi comprovada com sorologia?- Sim! - Quantos anos você tinha?- 11 anos. - E você foi para onde?- Fui para Mato Grosso. “Quando eu tive sarampo, eu fiz a sorologia na Bahia (onde moro). Contudo, na minha cidade e nem na região, não tinha relato algum de caso. Eu tive os sintomas já tinha cerca de 20 dias que eu tinha chegado do Mato Grosso, acharam até que meus sintomas eram de alergia, começou a empolar meu corpo. Quando fiz a sorologia eu já tinha até sarado, não tinha mais nada. Ninguém tinha na região, ninguém teve. Ai todo mundo imaginou que eu tinha pego quando viajei para o Norte do Mato Grosso”. - E por que ninguém tinha sarampo na região? Por causa da cobertura vacinal. Se ninguém tivesse cobertura vacinal você teria infectado todo mundo. Você seria o caso índice. Dúvida de aluno: Professor, nesse caso o que aconteceu para ela ter a doença foi que não teve soroconversão da vacina? R: Teve sim! “Na vacina nós colocamos vírus vivos atenuados, capsulas, ou fragmentos de vírus para que seu 3 Doenças Exantematosas – Pediatria 2Nicolle Moraes Nunes sistema imunológico tenha contato com esse material e produza anticorpos. Você produz anticorpos, e esses anticorpos vão tentar evitar que você desenvolva essa doença quando tiver contato com ela. Algumas pessoas vão ter contato com sarampo, e não vão desenvolver, enquanto outras vão ter contato e vão desenvolver a doença. Contudo, as pessoas que tiverem essa doença vão ter de forma mais branda (mais leve). A função da vacina, além de tentar evitar a doença, é atenuar a gravidade naqueles que vão ter. Veremos muito isso em varicela. “-Ah, tomei a vacina da varicela, e tive catapora!” Mas não teve a forma grave! Com certeza não teve a forma grave da varicela.” A vacina não te dá 100% de proteção. “Precisamos lembrar que quando falamos que você desenvolveu a doença isso depende muito do seu estado imunológico. Tem vários fatores. Se o seu sistema imunológico está comprometido (mesmo que por alguma causa aguda) você não produz anticorpos. Se você naquele momento que pegou a infecção está debilitado, e essa debilitação física interfere no seu sistema imune por algum comprometimento, ao seu contato com o vírus você não vai produzir anticorpos. Se você tiver uma desnutrição grave, uma doença crônica, isso vai comprometer seu sistema imune mesmo que você já tenha cobertura (vacinação) isso vai comprometer. Então, existem vários fatores que explicam como você vai tomar a vacina e mesmo assim pode ter a doença.” A vacina tem como principal função evitar a doença; se ela não consegue evitar a doença, ela pelo menos evita que a doença se manifeste de forma grave. A forma grave está muito associada ao genótipo, a virulência do tipo que está infectando, e também à carga viral. Se você tem zero cobertura você vai ter grande proliferação de carga viral. Logo, um quadro mais grave. Observação: O sarampo hoje é uma doença de notificação compulsória. Tem que ser notificado porque a Vigilância epidemiológica tem que correr para verificar se realmente é sarampo, e tomar as devidas providências para não se espalhar. Por isso, é importantíssimo notificar à secretaria municipal de saúde, e à secretaria estadual de saúde da sua região. Independentemente de ser consultório, hospital público, ou ambulatório, tem que ser notificado! Transmissão “Como é que ocorre a transmissão do sarampo? Através de gotículas. Veremos muito isso na aula de doenças exantemáticas; que a transmissão se dá através de secreções, gotículas. As pessoas falam muito em não encostar na pele do doente porque se não vai infectar, isso é besteira! A infecção se dá pelo ar, por gotículas, por perdigotas. Por isso, nós precisamos isolar essa criança do contato de outas crianças; porque ela vai tossir, tossir, tossir e vai transmitir para todos que estejam próximos a ela.” A transmissão ocorre por meio de gotículas de secreção respiratória Aerossóis ficam suspensos e viáveis no ambiente por até 1hora A forma mais comum é por transmissão direta de pessoa para pessoa Porta de entrada é a mucosa do trato respiratório e conjuntiva. Porta de entrada: Principalmente mucosa do trato respiratório, tanto na nasofaringe oral (que vai dar comunicação), ou até mesmo através da conjuntiva. Então, não é uma lesão na pele que vai transmitir, é uma infecção de transmissão respiratória. Período de infectividade - 5 dias antes do exantema até 4-6 dias após seu inicio Período de contágio: “Todo mundo só sabe que vai ter sarampo quando aparecem as lesões de pele características do sarampo. O problema é que quem está na fase dos pródromos (quem ainda não tem essa lesão na pele) começa a transmitir 5 dias antes de aparecer as manchas na pele. Depois do aparecimento das lesões da pele ainda continua-se transmitindo a doença. Então, 5 dias antes da lesão da pele já se começa a transmitir a doença, e 5 dias após o início da lesão da pele ainda continua-se transmitindo a infecção. É altamente transmissível!” Orientação: Paciente com sarampo deve permanecer em casa. Deve ser afastado do trabalho, ou de atividades escolares, por 7 dias após o exantema. “Por que 7 dias? É uma faixa de segurança! Se é possível transmitir até 5 dias depois do surgimento da lesão da pele, então depois do aparecimento do exantema você deve ficar 7 dias em isolamento para prevenir que você transmita para outras pessoas!” Mães que foram vacinadas, ou que apresentaram a doença na infância, passam proteção para seus filhos através da passagem de anticorpos maternos até os 9 meses de vida. 4 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes A proteção se dá pela passagem de anticorpos via transplacentária da mãe para o bebê. Contudo, essa proteção é limitada porque esses anticorpos no bebê só vão durar até cerca dos 9 meses. Se a mãe não é vacinada, o filho dela não vai ter a cobertura até os 9 meses, então essa criança desde que nasce já está exposta a ter sarampo. Sarampo normalmente não vemos antes de 1 ano de idade, e por isso é que tem um estudo que determina que não tem necessidade de dar vacina antes de 1 ano. Dúvida de aluno: Professor, se a mãe não for vacinada ela pode fazer a vacina durante o pré-natal? R: Não pode! A vacina contra sarampo é feita com vírus vivo atenuado. Se a grávida tiver contato com alguém que tenha sarampo, eu tenho outras medidas para evitar que ela tenha sarampo que não são vacina. Se não for uma paciente grávida e nem imunocomprometida nós conseguimos fazer o bloqueio com a vacina sim, mas em imunocomprometidos e grávidas nós não podemos fazer a vacina para tentar bloquear, nós devemos fazer a imunoglobulina. “ - O Estado banca essa imunoglobulina porque pra ele é muito mais vantajoso pagar essa imunoglobulina no público do que sair espalhando sarampo numa maternidade. Seria muito mais caro não fazer a imunoglobulina. “ Dúvida de aluno: Professor, uma máscara cirúrgica seria o suficiente para conter essa transmissão pelas vias aéreas superiores? R: “Então, as máscaras tem gramaturas- algumas são melhores e outras são piores. A máscara que faz o bloqueio é a N-95 (bico de pato), só que ela é indicada apenas para tuberculose e varicela. Para esses casos de sarampo só é usada a máscara cirúrgica. Essa máscara deve ser usada pelo doente quando internado, e pelo profissional de saúde em contato com ele. Dúvida de aluno: Professor, então se a paciente dita antes não estivesse grávida, ela poderia tomar a vacina mesmo sendo adulta? R: Sim. Adultos que tiveram contato com alguém infectado também podem tomar a vacina. Manifestações Clínicas do sarampo “Vocês se enrolam muito nisso aqui na prova! Como é que eu vou saber que um paciente tem sarampo? Como é que eu vou diagnosticar sarampo? Simplesmente porque a doença segue uma sequência”. 80% do diagnóstico é clínico (feito pela anamnese, e exame físico). O exame complementar te confirma, sacramenta o diagnóstico, mas grande parte das vezes (principalmente no sarampo) não precisamos de sorologia para dar o diagnóstico. A sorologia serve para confirmar o caso, gerar o dado epidemiológico, e pra você poder fazer o bloqueio de forma planejada. Antigamente, quando ainda não tinha erradicação, ninguém ficava fazendo sorologia. Na década de 80 não tínhamos sorologia, o diagnóstico era clínico e tratávamos todo mundo. Hoje, a gente pede a sorologia para identificar, e os casos confirmados nós solicitamos o genótipo para saber que medidas de segurança tomar. Mas o diagnóstico é fundamentalmente baseado na evolução clínica do doente. Período de incubação: de 10 à 14 dias. Por isso, quando você viaja para alguma região endêmica, você só desenvolve os sintomas cerca de 2 semanas depois. Por isso é que as pessoas viajavam, iam para EUA, e quando voltavamachavam que estavam sendo infectadas aqui, mas na realidade não. Essa demora para o início da sintomatologia se deve apenas ao período de incubação. O sarampo tem três fases: Fase Prodrômica, Fase Exantemática (que é a fase em que aparecem as lesões características da pele), e Fase de Convalescença (a fase da regressão da doença- a fase da diminuição dos sinais e sintomas clínicos, inclusive das lesões de pele). Ou seja, temos os pródromos, as lesões, e a recuperação dessas lesões. Fase Prodrômica : É completamente inespecífica. Não é patognomônica. Na fase prodrômica é muito característico a febre alta, sinais de coriza, conjuntivite, fotofobia e tosse bem intensos. É uma fase antes de aparecer a lesão da pele. Esses sinais vão aumentando de intensidade até que ocorra o rash cutâneo (que vai ser a fase exantemática). Ao decorrer dos dias esses sintomas vão diminuindo. 5 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Febre alta que aumenta progressivamente e avança na fase exantemática Conjuntivite Tosse persistente (um dos sintomas que desaparece por último) Fotofobia Coriza Esses sintomas aumentam de intensidade ao longo dos dias até ocorrer Rash Cutâneo Sinais catarreais (Muito inespecíficos, parecidos com uma gripe) Manchas de Koplick Febre Um milhão de doenças podem causar febre. Então, precisamos nos atentar aos detalhes. No caso do sarampo, a febre vai aumentando progressivamente (vai subindo até aparecerem as lesões na pele). Essa febre é ALTA! A febre é normalmente de 39ºC, 40ºC. “Isso é fundamental para não errar na prova! A temperatura é alta! Acima de 38,5ºC com certeza!” ATENÇÃO! Mesmo após o aparecimento das lesões da pele a febre continua. Essa é uma característica do sarampo: Você tem a lesão da pele, e a febre ainda continua. A febre vai diminuindo progressivamente após aparecer a lesão da pele pelos próximos 3 a 4 dias. Então, depois que aparece a lesão a criança continua com febre ao longo dos próximos 3 ou 4 dias. Nesses 3 ou 4 dias essa febre continua, mas ela vai diminuindo (40- 39-38). A febre vai diminuindo ao longo dos dias após o exantema. Por que isso é importante? Porque em algumas das doenças exantemáticas a febre desaparece no momento em que surge o Rash cutâneo. É pela evolução clínica que nós sabemos qual é a doença. Sarampo é uma das pouquíssimas doenças onde você tem um rash cutâneo e que a febre continua (Dentre as doenças exantemáticas)- ESSE É UM DADO IMPORTANTÍSSIMO! SARAMPO TEM FEBRE NA FASE EXANTEMÁTICA! A febre continua alta quando o exantema aparece. Ao longo dos dias do exantema a febre vai diminuindo. Observação: Essa febre normalmente não melhora com uso de antitérmicos. Tosse A tosse no sarampo é um dos sintomas que é mais persistente. A tosse é um dos últimos sintomas a desaparecer. Atenção! Devemos sempre ficar atentos quanto ao padrão da tosse da criança! Devemos SEMPRE perguntar à mãe se a tosse mudou. Criança com tosse e febre, que aparece cansada (e não estava) pode estar evoluindo para uma complicação de pneumonia. Então, precisamos acompanhar essa tosse e febre atentamente porque uma das complicações do sarampo é a Pneumonia. Pneumonia viral por sarampo mata! A evolução é gravíssima! Então, preciso ficar monitorando essa criança desde o início, desde quando ela não tem nem lesão de pele. Conjuntivite Em alguns casos é fortíssima. A criança fica num estado bem prostrado. ENANTEMA- MANCHAS DE KOPLICK: Manchas de Koplick são patognomônicas de sarampo. Ou seja, são sinais específicos para sarampo. Manchas de Koplick são enantemas (manchas na parte interna da mucosa oral) que aparecem de 1 a 2 dias antes de aparecer o Rash cutâneo. São pequenas manchas branco-azuladas com um halo eritematoso (halo avermelhado). Normalmente são bem visualizadas na face interna das bochechas, na altura dos pré-molares. Essas manchas somem rápido. Quando o paciente chega na fase exantemática você não consegue mais ver. Outra versão das manchas de Koplick que podem aparecer são essas manchas em palato. O local mais comum é na região pré-molar, mas também pode aparecer no palato, e na mucosa interna da vagina (mas ninguém abre vagina de criança para ficar olhando, então se olha mais na boca mesmo). As manchas de Koplick também podem aparecer nas conjuntivas (difícil de ver, embora possa aparecer) Atenção! Nem todos os pacientes com sarampo vão apresentar manchas de Koplick, e isso não exclui o diagnóstico de sarampo. Contudo, quando o paciente tiver manchas de Koplick você já sabe que é sarampo. Nem todo paciente com sarampo tem manchas de Koplick, mas todo paciente com mancha de Koplick tem sarampo. 6 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes “Vemos essa mancha na boca da criança e avisamos à mãe que a criança vai ter rash de sarampo dentro de 48 horas depois que vimos essa mancha. É um sinal muito especifico!.” Depois desse quadro de pródromos nós vamos direto para a fase de rash cutâneo, a fase de exantema do sarampo. Essa fase vai aparecer de 3 há 5 dias após o pródromo. Fase Exantemática : O exantema é bem característico: ele é maculo-papular. Máculas são manchas, e pápulas são lesões sólidas elevadas com menos de 1 cm de diâmetro (Como se fosse uma picada de mosquito). Então, tem mancha e tem essa partezinha que se sobressai. O exantema maculo-papular é bem intenso, bem avermelhado. Além dessa característica de ser maculo-papular existe outra característica muito importante que é: ela começa CRANIO-CAUDAL. Então, ela começa na cabeça (normalmente o primeiro aparece atrás das orelhas), distribui-se para dorso, extremidades, e vai descendo até o pé. Exantema Morbiliforme: Tem a ver com a característica de difusão, com a característica de como ela se difunde. Essas máculo-papulas começam a se unir. Distribuição centrípeta GUARDEM ISSO: O EXANTEMA DO SARAMPO NÃO POUPA REGIÃO PALMO-PLANTAR. Algumas doenças exantemáticas não comprometem região palmo nem região plantar, então isso eh fundamental para podermos diferenciar quem tem sarampo ou não. A erupção desaparece de 5 a 6 dias (até 7 dias) após o seu surgimento; então essas lesões duram 1 semana. “Então, voltando, temos as questões da febre alta que não cede no exantema, as características catarrais intensas (tosse, coriza, febre, conjuntivite, fotofobia), característica maculo-papular intensa que não poupa regiões palmares nem plantares. Além disso, 2 dias antes do exantema temos as manchas de koplick (então não tem como errar isso nem na vida e nem na prova).” Fase de Convalescença “E como é que eu sei que o paciente está melhorando? Quando essa mancha bem avermelhada e intensa vai ficando mais clara, vai diminuindo de intensidade, e depois vai descamando. Ela vai diminuindo essa vermelhidão e depois vai descamando. Com o tempo, se não tiver nenhuma forma grave, nem nenhuma complicação, isso aqui vai clareando até chegar o sétimo dia, e vai descamando, e a febre vai diminuindo. Esses são sinais de que a pessoa está se recuperando do sarampo.” Dúvida de aluno: Professor, essa mácula surge por conta de lesão no vaso? R: A mácula surge por lesão cutânea. Cuidado! Não confundam fragilidade vascular de algumas doenças que fazem vasculite e geram púrpura. Essa aqui é uma resposta imune cutânea que não tem nada a ver com questão vascular. Cuidado com isso! Diagnóstico: O diagnóstico de sarampo é CLÍNICO. Mas, na situação atual do país é fundamental a confirmação laboratorial para todos os casos, até mesmo para rastreio epidemiológico. Antigamente a sorologia não era recomendada. Contudo,7 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes hoje devido a não vacinação, e todo esse aumento no mundo inteiro, precisamos do rastreio para tomar medidas de saúde pública; então é fundamental colher, notificar e colher as sorologias. Teste sorológico- Sorologia IgM para sarampo. Quem aparece apenas com IgG para sarampo é quem ou teve contato com o vírus, ou foi vacinado. Quem foi vacinado produziu anticorpos IgG, e quem já teve contato também vai produzir anticorpos se estiver com a imunidade boa. IgM é o melhor para fazer o diagnóstico porque o IgM significa doença aguda. A presença de IgM significa doença aguda. São detectáveis até 1 mês após o aparecimento do exantema. “Existe uma probabilidade do resultado falso negativo nos primeiros dias. Então, se apareceu hoje o exantema e mãe leva hoje mesmo no posto não adianta você colher no mesmo dia. Se você colher, você tem que esperar pelo menos 5-7 dias e colher de novo. Isso porque no primeiro dia ainda não deu tempo o suficiente para sua imunidade produzir IgM em quantidades suficientes para aparecer no exame sorológico. Então, tomem cuidado! Se vocês colherem muito rápido, logo que aparece o exantema, pode aparecer falso negativo- ainda não deu tempo de produzir uma quantidade que seja detectável no exame de sangue. Tem que ficar atento! Tem que ter cuidado!Se o primeiro foi feito muito rápido e deu negativo, esse exame tem que ser repetido para confimar ou não a doença.” “Ah, mas eu posso usar os anticorpos IgG também? Posso! Mas para isso eu preciso ter um aumento significativo. Ou seja, eu vou ter que fazer amostra pareada, é mais difícil e complicado por IgG. O melhor é IgM mesmo”. Isolamento Viral: “Na sorologia nós só vemos anticorpos contra os vírus, mas nós também podemos identificar esses vírus através de análise do sangue, urina e secreções respiratórias. Não é comum fazer no cotidiano, isso é mais para dados epidemiológicos, e estudos para descobrir o genótipo dos vírus”. Reação de cadeia da polimerase de resposta rápida ou transcrição reversa: Fazemos pouco hoje devido ao alto custo, mas é um método excelente. Com esse método nós detectamos o RNA viral. É um método bem mais específico, e é muito rápido (sai em menos de 24 horas). O grande problema desse método é realmente o alto custo; é muito caro! No mundo prático, no cotidiano, o que nós fazemos é a sorologia. Se estivermos num local de alto padrão vamos fazer o PCR, e se tiver notificação para a vigilância sanitária, eles fazem o isolamento viral para ter a confirmação exata de qual é o genótipo do vírus. Dúvida de aluno: Professor, o senhor falou que o IgM pode dar falso negativo se for feito nos primeiros dias da doença. Então vamos refazer o exame depois? R: Sim. Isso acontece porque se fizermos a sorologia muito cedo o corpo não teve tempo de produzir IgM suficiente para ser detectável na amostra de sangue que você vai colher. Se o paciente teve um exantema agora ainda estão sendo produzidos anticorpos no corpo dele. Então, se deu negativo você precisa colher dias depois ou na semana depois para avaliar se é falso negativo ou não. Se der negativo de novo, realmente não é sarampo. Contudo, se na segunda amostra for positivo é sinal de que é sarampo. Observação: Na hora de pedir a sorologia vamos escrever apenas “ Solicito IgM e IgG para Sarampo”. Lembrando que IgM positivo indica infecção recente. IgG positivo indica que você teve contato com a doença, ou imunidade adquirida pela vacina. Dúvida de aluno: Professor, uma criança vacinada que apresentou alguns sintomas. Como ficaria o exame dela? R: O IgG vai ser positivo pela vacina, mas a vacina não da IgM positivo. IgM é sinal de doença aguda. A vacina produz IgG +. O IgM positivo indica doença aguda, indica que está tendo doença naquele momento. “Normalmente eu colho IgM e IgG. Se eu tiver um aumento de 4x de IgG eu também posso usar isso como base. Mas, guardem no coração de vocês apenas o IgM porque se não eu vou ter que explicar imunologia para vocês”. Complicações do sarampo : Podem ocorrer manifestações clínicas intensas mesmo em crianças previamente saudáveis. Crianças saudáveis podem evoluir com manifestações intensas e morrer. Nessas horas entra a questão da vacina para tentar atenuar quem tiver o contato com o vírus do sarampo. Taxa de morbimortalidade: menores de 5 anos, e adultos jovens (maiores de 20 anos). “Óbviamente eu tenho que me preocupar com todas as faixas etárias, mas quem tem maior risco de gravidade são os menores de 5 anos e maiores de 20 anos.” 8 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Fatores que predizem pior evolução (importante): Paciente desnutrido grave. Se ele é desnutrido grave ele já tem imunidade comprometida. Se ele não tem proteína nem pra produzir albumina, ele não vai ter proteínas para produzir anticorpos. O desnutrido crônico não tem condições imunológicas. Então, esses pacientes tendem a ficar muito graves. Hipovitaminose A Baixo nível sérico de vitamina A é associado à pior prognóstico. Mais à frente vamos ver que ao falar em tratamento uma das coisas mais eficazes e dar Vitamina A para quem tem sarampo. Imunocomprometidos Se o paciente é imunocomprometido é claro que ele não vai produzir anticorpos. Gestantes Esses pacientes são os de maior risco para evoluções muito graves. SINAL DE GRAVIDADE DO SARAMPO: “ Vai indicar que o sarampo está evoluindo com gravidade. A medicina é fantástica por isso- porque eu tenho marcos históricos de doenças que me indicam se o paciente vai piorar ou não a partir da clínica. Quando vocês forem estudar suas respectivas especialidades vocês vão ver que existem escores (pontuação) para gravidade, mas ainda assim existem sinais que vão apontar diretamente que o paciente está grave. Por exemplo, manutenção ou retorno da febre após o período exantemático. Se a criança tem febre depois de 4-5 dias de exantema isso é um sinal de gravidade!!!! Se a febre sumiu, e de repente no 7º, 8º dia ela volta isso é um sinal de gravidade! No final do período do exantema não é para ter febre! Se tem, precisamos monitorar o paciente da cabeça aos pes, e deixarmos ele bem avaliado, bem monitorado, porque ele está apresentando alguma gravidade que ainda não sabemos, e um dos sinais precoces dessa gravidade é febre no período final do exantema”. Complicações A complicação mais comum do sarampo é a otite média aguda. (Não errem isso na prova, pelo amor de Deus!) Embora a otite média aguda seja a complicação mais comum, a pneumonia é a principal causa de morte por sarampo. “É justamente por isso que precisamos ficar avaliando essa tosse e essa febre. Se ela começa a ficar cansada, precisamos ficar de olho!! A pneumonia pode acontecer na fase dos prodromos, no exantema, e na convalescência, mas a fase mais comum de pneumonia secundaria no sarampo é na fase exantemática, então eu preciso monitorar essa criança o tempo todo.” Dúvida de aluno: Professor, por que a otite média aguda é a complicação mais comum? Por que a doença vai para a orelha se ela está na pele? R: Porque estamos falando de uma infecção sistêmica. A lesão clínica é cutânea, mas o paciente tem vários sinais sistêmicos (febre, prostração). E com relação à ser a complicação mais comum isso é dado através de estudos epidemiológicos. Dúvida de aluno: Professor, a pneumonia seria causada pelo próprio vírus ou seria uma infecção secundária? E a otite? R: As duas coisas são possíveis. Contudo, é a infecção pelo próprio vírus que me preocupa. A pneumonite viral por sarampo. A otite média aguda como complicação também pode ser causada tanto pelo Paramyxovírus quanto por alguma infecção secundária.A grande questão é a forma como essas complicações vão se apresentar. Por exemplo, se a otite é supurativa, tem pus, vou pensar em bactéria. Se eu ver o tímpano apenas hiperemiado e edemaciado isso pode ser só pelo vírus. O diagnóstico é feito pelo discernimento e bom senso clinico. Nesses casos, vai o bom senso clínico para avaliarmos se vamos ou não usar antibiótico. É claro que não fazemos antibiótico para sarampo, pelo amor de deus! Só vamos fazer se suspeitarmos de infecção bacteriana secundária. Tanto a pneumonia quanto a otite média aguda são mais comumente causadas pelo próprio vírus do sarampo. Reforçando... Se a membrana timpânica tem produção de pus e é supurativa eu me preocupo com infecção bacteriana. Na pratica, o professor trata sempre pelo receio de ser bactéria. Mas por exemplo, se o tímpano está integro, eu vou segurar o antibiótico. Se o sarampo está diminuindo (convalescendo) e a otite está piorando há uma situação de convalescência e piora da otite. Há uma dissociação, e por isso eu vou pensar em bactérias secundárias. 9 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Contudo, isso não tem protocolo. Isso é conforme seu bom senso. Otite viral não trata com nada, só da suporte para dor. Dúvida de aluno: Essa pneumonia causada pelo vírus seria uma pneumonia atípica? R: Não. É uma pneumonia franca, que cursa com febre alta, cansaço, disfunção pulmonar (insuficiencia pulmonar), imagem radiológica. Cursa com tudo! “A pneumonia como complicação pode ser causada tanto pelo próprio vírus do sarampo quanto por infecções bacterianas. Mas quando eu coloco aqui como causa de morte eu me refiro a pneumonia causada pelo próprio vírus.” Dúvida de aluno: Eu consigo fechar diagnóstico na fase prodrômica? R: Só se você ver manchas de Koplick. Pelos outros sintomas não porque eles são muito inespecíficos. Atenção! A mancha de Koplick pode não estar presente em todos os pacientes. Se ela estiver presente ela indica que o paciente tem sarampo, mas se ele não tiver a mancha isso não exclui a possibilidade que ele tenha sarampo. Outras complicações que podem acontecer no sarampo: Laringotraqueobronquite, laringite estridulosa, diarreia, e encefalite aguda (que é o que dá mais temor). A meningoencefalite aguda é horrível, gera sequelas graves e definitivas no cérebro. É catastrófico. Observação: Existe uma complicação chamada de “ Panencefalite esclerosante aguda”. Acontece em pacientes que tiveram sarampo e se recuperaram bem sem nenhuma complicação. 10, 15, 20 anos depois de terem tido o sarampo esses pacientes começam a ter perda de memória, ficar cansados, cair. Começa a fazer um quadro degenerativo décadas depois de ter sarampo. É raríssimo, mas é altamente letal. Praticamente todos os pacientes morrem. É um quadro degenerativo do SNC com perda de marcos cognitivos, motor. Critérios de hospitalização Crianças menores de 6 meses Gestantes Desnutrido grave Imunodeficientes Se tivermos algum desses pacientes com suspeita de sarampo, ou confirmação, vamos internar esses pacientes independente da gravidade do caso. Se meu paciente não for menor de 6 meses, não for gestante, não for desnutrido, e não for imunodeficiente, eu vou internar quem apresentar UM OU MAIS SINAIS DE GRAVIDADE. SINAIS DE GRAVIDADE: Desidratação- A criança fica desidratada porque ela não tem condições de ingerir líquido. Vou precisar dar aporte hídrico para ela, e controlar para ela não desidratar. Ou corrigir a desidratação se já estiver imposta para evitar que essa criança entre em choque. Vômitos persistentes- Podem levar à desnutrição e desidratação. Precisamos controlar esses quadros, então se não conseguimos controlar nós vamos internar o paciente para dar à essa criança o aporte hídrico e dietético. Diarreia significativa- Precisa dar aporte hídrico porque tem o risco de desidratar e levar a choque. É praticamente a mesma coisa. Incapacidade de ingerir líquidos. “ Isso aqui é tudo a mesma coisa, é tudo sinonímia. É a preocupação com taxa hídrica e calórica da criança, o aporte nutricional e o aporte hídrico do paciente. Os itens acima estão relacionados com o aporte hídrico do paciente, e os itens abaixo tem a ver com o aporte respiratório”. Desconforto respiratório – Tiragem intercostal, subcostal. NÃO É PRA VOCÊ VER DESCONFORTO RESPIRATÓRIO NO SARAMPO! SE VOCÊ VER ISSO INDICA QUE HÁ ALGUM COMPROMETIMENTO VIRAL NO SISTEMA RESPIRATÓRIO QUE PODE SER POR ESTRIDOR (Via aérea alta) OU PNEUMONIA VIRAL (Via aérea inferior. 10 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Além dos sinais sobre hidratação, e os sinais respiratórios também devemos nos preocupar com os sinais neurológicos. São eles: Convulsão- NÃO É NORMAL VER CONVULSÃO EM SARAMPO, SE TIVER CONVULSÃO PRECISAMOS FAZER A PUNÇÃO LOMBAR (sorologia e PCR de punção lombar) PARA VER SE TEM ENCEFALITE OU NÃO. Alteração motora ou sensorial- Pode indicar que o paciente evoluiu para uma encefalite. Então, eu preciso me preocupar com os critérios hídricos, respiratórios, e neurológicos. Qualquer uma dessas alterações, independente da faixa etária, tem que internar o paciente! Medidas de prevenção e controle frente a casos suspeitos: - Notificação imediata à Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde até 24 horas; - Conduta diagnóstica e laboratorial: Se houver suspeita de sarampo nós vamos fazer colheita de sangue, urina, ou secreção nasofaríngea. 1. Confirmação diagnóstica por sorologia ou isolamento viral. 2. Sorologia: IgG e IgM para sarampo. Colhe-se de 5 a 10 ml de sangue num tubo seco sem anticoagulante (é o tubo “tijolinho” que não tem EBPA, não tem nada. 3. Se tiver recursos, fazemos o PCR ou isolamento viral. – Fazemos com um Swab de nasofaringe/orofaringe ou urina. Em menos de 24h temos o resultado. -Isolamento social para os casos suspeitos de sarampo ou rubéola- permanecer em casa até 7 dias depois do aparecimento do exantema. Se já chegar com indicação de internação (menor de 6 meses, gravida, imunodeprimido, desnutrido) devemos internar esse paciente e isolar ele no hospital. “Nas condições atuais do Brasil nós isolamos o paciente em um quarto dentro de uma enfermaria, ou as vezes colocamos ele afastado na enfermaria e fazemos um bloqueio (o que não é o ideal, mas muitas vezes é o que se pode fazer devido às condições financeiras). Em países como Londres, e Portugal, se isola todo o andar e nesse andar fica apenas uma equipe apropriada para aquele andar. A preocupação nesses países com infecção hospitalar é tão grande que muitas vezes se isola todo um andar por infecção por MRSA.” - Em São Paulo, existe um protocolo para que o paciente com sarampo seja isolado com máscara N95. Para profissionais de saúde que convivam com criança em casa, seria ideal ter sempre uma máscara dessas na bolsa para se proteger. Medidas de controle- Bloqueio vacinal seletivo frente aos casos suspeitos. Os pacientes que não tem contraindicação para a vacina SCR devem toma-la como medida de bloqueio, mesmo que tenham tomado as 2 doses da infância. Tratamento Não temos um tratamento específico para sarampo, apenas suporte. Além do suporte, temos a Vitamina A. Todos os pacientes com suspeita ou caso confirmado de sarampo devem tomar vitamina A via oral. Isso porque alguns estudos demonstraram que a vitamina A tem efeito de reduzir a morbidade e mortalidade por sarampo. Então, se tivermos um caso suspeito vamos fazer medidas de suporte + vitamina A = para todos! Essa vitamina A deve ser dada independentemente do nível sérico de vitamina A do paciente.Devem ser feitas duas doses: uma no diagnóstico, e outra no dia seguinte ao diagnóstico. São apenas duas doses de vitamina A. 11 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes Outras medidas: hidratar bastante (lembrar que esse paciente tem febre, pode ter diarreia, pode desidratar e entrar em choque). Devemos usar antitérmicos para combater a febre (principalmente se for em crianças pequenas que tem um limiar baixo para convulsões). Limpeza ocular com soro fisiológico para conjuntivite. Antibiótico deve ser feito somente nos casos de infecção bacteriana secundária (otite média aguda bacteriana ou pneumonia bacteriana secundária). Observação: Ribavirina é um antiviral não recomendado. Profilaxia A OMS recomenda para a prevenção do sarampo a vacina tríplice viral (MMR) aos 12 meses, e a vacina tetraviral (SCRV) aos 15 meses. - Para crianças entre 6 e 12 meses que vão viajar para áreas endêmicas de Sarampo nós podemos dar uma dose precoce da vacina SCR. A dose administrada conta como uma dose a mais, não excluindo a necessidade da criança tomar SCR aos 12 meses, nem SCRV aos 15 meses. Essa dose é apenas um extra caso você vá levar a criança para viajar. A vacina deve ser feita pelo menos 2 semanas antes de viajar (para que a criança faça a viragem e adquira os anticorpos) Observação: Segundo a OMS, adolescentes e adultos até os 29 anos que são vacinados devem receber 1 dose da vacina, e adultos dos 30 aos 49 anos quem nunca tomaram a vacina devem tomar 1 dose da vacina, e os indivíduos que já receberam as duas doses da vacina não precisam mais receber dose nenhuma. Contudo, segundo a SBP, todos os indivíduos devem tomas duas doses da vacina, independentemente da idade. Profissionais da área da saúde que ainda não são vacinados devem tomar 2 doses da vacina. Contraindicações da vacina contra o sarampo : - Casos suspeitos de sarampo: A sorologia para sarampo fica pronta em 48 horas. Só devemos fazer a vacina depois que confirmarmos o caso. Ou seja, a contraindicação é apenas para esperar o resultado da sorologia e só fazer quando ele for confirmado. - Gestantes - Lactentes < 6 meses de idade - Pacientes imunocomprometidos - Pacientes em uso de corticoesteroides: dose >2 mg ou = 2 mg/kg por pelo menos 14 dias. Após a interrupção do uso aguardar 4 semanas p realizar a vacinação. “ Isso é um grande problema na pediatria. Muitas mães automedicam seus filhos com Xaropes de corticoide. Algumas mães dão 21, 30 dias de corticoide para os filhos sem indicação médica e ai a imunidade da criança cai transitoriamente. Preciso interromper o uso desse xarope e aguardar 4 semanas para poder vacinar essa criança”. - História de reações anafiláticas em dose anterior de vacina não devem ser revacinadas. Então, se eu fiz a primeira dose na criança aos 12 meses e ela teve reação anafilática, ela não deve tomar a segunda dose. - Vacinas de sarampo em uso no Brasil são produzidas em cultura de células de embrião de galinha e não contém quantidades significativas de ovoalbumina. É importante saber disso porque pacientes que têm alergia a ovo podem tomar essa vacina haja vista que a quantidade de ovoalbumina é mínima. Atenção! Existem vacinas produzidas por um laboratório na Índia que tem quantidades altíssimas de lactoalbumina 12 Doenças Exantematosas – Pediatria 2 Nicolle Moraes Nunes hidrolisada, sendo as vacinas desse laboratório especificamente contraindicadas para pacientes alérgicos à leite de vaca e ovo. Sarampo – Profilaxia pós-exposição - Quem já teve história prévia de sarampo não precisa tomar a vacina se tiver contato com alguém infectado. - Quem nunca teve história de sarampo, MESMO QUE SEJA VACINADO, se tiver contato com indivíduo infectado deve tomar a vacina como forma de bloqueio em até 72 horas após a exposição. - Quem tem contraindicação de fazer a vacina para bloqueio (gestantes, <6meses, desnutridos graves, imunodeficientes) tem até 5 dias para fazer a imunoglobulina. - A imunoglobulina é usada em contactantes íntimos de susceptíveis com contraindicação da vacina.
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