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DISCIPLINA DE CIRURGIA AMBULATORIAL FIOS E SUTURAS Prof. MSc Hélio Alves, � Médico (UERJ) Pediatra (PUC-RJ) Cirurgião Pediátrico (PUC-RJ) Mestre em Morfologia (UERJ) Responsável pelo Serviço de Cirurgia Pediátrica do Hospital-Escola Professor de Cirurgia Ambularorial (3° Ano) Professor de Cirurgia Pediátrica (6° Ano)� INTRODUÇÃO Introdução Os fios de sutura cirúrgica foram conceituados por Goffi; como materiais utilizados para selar vasos sangüíneos e aproximar tecidos, em ações de ligar e suturar. Surgiram e foram desenvolvidos ao longo dos séculos em função da necessidade de controlar hemorragias e também de favorecer a cicatrização de ferimentos ou incisões por primeira intenção. Desde a antiguidade, um grande número de materiais de sutura foi testado e utilizado, tais como fibras vegetais, tendões, intestinos de vários animais, crina de cavalo, filamentos de ouro, dentre outros. Uma das menções mais antigas ao ato de suturar está registrada no papiro egípcio de Edwin Smith, que data de 3.500 a.C. O conceito de ligadura e sutura está também registrado nos escritos de Hipócrates e Galeno. Atribui-se ao médico árabe Rhazes a introdução da palavra kitgut, em 900 d.C., para designar fios confeccionados com tiras do intestino de animais herbívoros, utilizados como cordas de instrumentos musicais (kit) e largamente aplicados como sutura. Acredita-se que essa seja a origem da palavra Catgut, que denomina o fio de sutura cirúrgica mais conhecido em todos os tempos. Joseph J. Lister introduziu métodos para redução da infecção cirúrgica, inclusive a desinfecção dos fios em solução de ácido carbólico ou fenol. Ele foi também pioneiro na utilização de Ácido Crômico para aumentar a resistência do Catgut à absorção. Com o advento da industrialização, materiais como a Seda e o Algodão tiveram seu uso difundido e passaram a ser anexados em agulha. A partir da Primeira Guerra Mundial foram sendo desenvolvidos métodos de esterilização mais seguros, como o Cobalto 60, além de materiais sintéticos para a confecção dos fios de sutura cirúrgica. Por volta de 1940 começou a utilização da Poliamida e Poliéster, em 1962 do Polipropileno Os fios utilizados para sutura e ligadura cirúrgica estão divididos em 2 grandes grupos: absorvíveis e inabsorvíveis. Os fios absorvíveis perdem gradualmente sua resistência à tração até serem fagocitados ou hidrolisados. Eles podem ser de origem animal (Catgut Simples e Cromado) ou sintéticos multi ou monofilamentares (Poliglactina, Poliglecaprone e Polidioxanona). Os fios inabsorvíveis se mantém no tecido onde foram implantados e podem ser de origem animal (Seda), mineral (Aço), vegetal (Algodão ou Linho) ou sintéticos (Poliamida, Poliéster, Polipropileno). Em cada sutura realizada, de acordo com o tipo de tecido ou a estrutura onde o material está sendo implantado e as particularidades do paciente, o cirurgião busca encontrar o Fio Ideal que possui características, tais como: alta resistência a ruptura permitindo o uso de diâmetros menores; boa segurança do no; adequada resistência tensil; baixa reação tecidual; não favorecimento da instalação ou continuidade de um processo infeccioso; não possuir carcinogenia; manutenção das bordas da incisão aproximadas ate a fase proliferativa da cicatrização; boa visualização no campo operatório; desaparecer do tecido onde foi implantado, quando não for mais necessário; baixo custo Dentro da variedade de fios cirúrgicos para ligadura e para sutura, não há como determinar um único fio, como fio ideal, uma vez que os tecidos a serem suturados possuem características morfológicas e funcionais distintas. O cirurgião escolhe o fio de sutura influenciado por vários fatores, dentre eles: seu treinamento ou preferência individual, a característica biológica do material, se absorvível ou inabsorvível; a resistência à tensão de uma sutura, que influencia no tipo e diâmetro do fio a ser escolhido; a localização e o tamanho da incisão ou do campo operatório e as condições particulares do paciente, tais como: idade, peso corporal, outras doenças ou condições clínicas desfavoráveis. Discussão ELEMENTOS UTILIZADOS NA SUTURA Agulhas Quando usadas corretamente minimizam a reação inflamatória traumática e evitam lacerações teciduais. As agulhas de sutura têm o seu comprimento representado em milímetros e o seu tamanho exato expressado na face externa do envelope estéril em que estão acondicionadas. No caso da atraumática o diâmetro é igual ao do fio de sutura. Quanto à sua forma dividem-se em: ponta, corpo e fundo. Ponta, parte ativa de penetração dos tecidos. Apresenta formas variadas: triangular, triangular de corte reverso, cilíndrica, cilíndrica de ponta romba e com pontas especiais. a) Agulha triangular ou de corte convencional, indicada nas cavidades oral e nasal, faringe, pele, ligamento e tendão b) Agulha triangular de corte reverso, para mucosas oral e nasal, pele, ligamento, fascia (aponeurose) c) Agulha cilíndrica, indicada para músculos, gordura subcutânea, nervos, vasos, aponeuroses, peritônio e miocárdio. Pode ter ponta romba para tecidos frágeis ou fragíveis como rim, fígado, pâncreas e colo uterino. Além disso existem as pontas especiais. Corpo, apresentam-se em várias formas: triangulares, cilíndricas, ovaladas, quadradas. As pontas podem ser iguais ou diferentes. Fundo, através dele o fio de sutura é preso à agulha. Pode ser: fixo ou verdadeiro, falso e atraumático. - Fundo fixo ou verdadeiro - agulha do tipo comum de costura. - Fundo falso - o fio de sutura é fixado sob pressão. - Atraumático - o fio vem encastoado no fundo da agulha. As Agulhas de Sutura são classificadas em traumáticas e atraumáticas. Agulhas traumáticas - provoca trauma tecidual maior devido à diferença de diâmetro entre a agulha e o fio. São utilizadas em tecidos mais resistentes como pele e aponeurose. Agulhas atraumáticas - o fio é pré-montado (encostoado) de mesma dimensão da agulha e por essa razão, causam menor trauma, tendo indicação para tecidos delicados. Quanto à curvatura as agulhas podem ser retas, semi-retas e curvas. Agulhas retas, não necessitam de porta agulhas. Ex: anastomatoses enterográstricas. Agulhas semi-retas, usadas mais em estruturas superficiais como pele e em curvas sem profundidade. São: 1/4 de círculo: indicadas para olho e microcirurgia 3/8 de círculo: indicadas para aponeuroses, duramáter, olho, músculos, miocárdio, nervos e vasos. Agulhas curvas, usadas em profundidades. 1/2 círculo: cavidades oral e nasal, faringe, gordura subcutânea, pele e músculo. 5/8 de círculo: cavidades oral e nasal, sistema cardiovascular, pélvis, trato genitário. Pincas As pinças são importantes, pois uma boa sutura depende do cuidado com as bordas. As pinças de dissecção anatômica são menos traumatizantes ao apreenderem as bordas para uma sutura. Pinças de dissecção com dentes são úteis na aproximação das bordas da pele e de aponeuroses, favorecendo a boa coaptação. Porta-agulha O porta-agulha é necessário para a reconstrução, oferecendo conforto ao cirurgião e melhor condução da agulha curva. O importante, é que a agulha seja mantida firme, realizando uma passagem única pelos tecidos. São de uso corrente os porta-agulhas de cabo tipo pinça (“Mayo” e “Hegar”), sendo que os que se fixam em cremalheiras colocadas no extremo dos ramos longos. A técnica de sutura com o uso de porta-agulha consiste em pinçar primeiramente a borda distante tracionando-a, passando-se, então, a agulha. O mesmo feito com a borda próxima, sendo que neste momento o antebraço direito do cirurgião (destro) evolui de pronação à supinação; por fim a agulha é retirada no sentido de sua curvatura. agulha atraumática FIOS DE SUTURA Desempenham um papel fundamental nas feridas como elementos de auxilio à reparação tecidual e devemser escolhidos conforme as características da área operada e da própria conveniência do operador. Podem ser classificados em absorvíveis e inabsorvíveis, de acordo com o material com que são fabricados. Suturas absorvíveis sintéticas perdem sua força tênsil a partir de 60 dias, enquanto as suturas inabsorvíveis devem manter-se inalteradas. São chamadas de mistos os fios produzidos com ambos os materiais tais como o poliéster com polipropileno e o algodão encapado com poliéster. Entre as propriedades dos fios de sutura temos: Configuração Física de um fio é dada pelo número de filamentos que o compõem, podendo ser Monofilamentados ou .Multifilamentado. Neste caso são compostos por vários filamentos trançados ou torcidos entre si. Multifilamentado Monofilamentado Algodão Poliglactina 910 Seda Polidioxanone Linho Poliamida Categute Simples Polipropileno Categute Cromado Polibutester Ác. Poliglicólico (PGA) Aço Inoxidável Polidioxasnone Poliamida Poliéster Aço Inoxidável Relação dos fios multifilamentados e monofilamentados 2- Absorção de Fluidos, determinada pela capacidade que o fio tem de absorver fluidos ao ser totalmente imerso.Os multifilamentados como a seda e o algodão têm maior capilaridade e absorção de fluídos. 3- Diâmetro do fio, determinado em milímetros e expressado em zeros. Quanto menor o diâmetro, maior o número de zeros. Os números encontrados podem ser expressados desta maneira. Dessa forma os fios de sutura de maior calibre são o de n° 3, cujo diâmetro oscila entre 0.60 e 0.80 mm e os de menor calibre são os de n° 12.0, cuja medida vai de 0.001 a 0.01 mm. Os mais finos são usados em cirurgia oftálmica e microcirurgia. (-mm ou finos) 12.0 - 6.0 - 5.0 - 4.0 - 000 - 00 - 0 - 1 - 2 - 3 (+ mm ou grossos) ou 12.0 - 6.0 - 5.0 - 4.0 - 3.0 - 2.0 - 1.0 - 1 - 2 - 3 4- Força tensil. O diâmetro do fio varia de acordo com o material que o forma, isto é, nem todos os fios com o mesmo número tem o mesmo diâmetro, pois a determinação desse número é dada pela resistência tênsil do fio. Esta é a somatória das forças necessárias para quebrar o fio dividida pelo seu respectivo diâmetro ( força tênsil ). Para escolha de um fio de sutura quanto a sua resistência tênsil em ordem decrescente: Inabsorvíveis (+) Absorvíveis Aço Poliglactina 910 Poliéster Ácido Poliglicólico Poliamida Polidioxanone Polipropileno Poligliconato Seda Categute Cromado Algodão (-) Categute Simples Variação dos fios de sutura quanto à resistência tênsil. Os que estão na parte superior (+) são mais resistentes que os inferiores (-) 5 - Elasticidade é a capacidade que o fio tem de retornar à sua forma e tamanho originais após tracionamento. 6 - Plasticidade é a capacidade de manter-se sob a nova forma após tracionado. 7 - Coeficiente de atrito. Fio com alto coeficiente de atrito tendem a não deslizar nos tecidos mas é mais difícil de desatar o nó cirúrgico espontaneamente. 8 - Reação tecidual depende do fio de sutura como mostra o quadro , por ordem decrescente: Absorvíveis Orgânicos (Multifilamentado) (+) Absorvíveis Sintéticos (Multifilamentado) (+) Categute Simples Ácido Poliglicólico (PGA) Categute Cromado Poliglactina 910 (-) Algodão (Monofilamentado) (+) Seda Polidioxanone Linho (+) Poliglactina 910 (-) Inabsorvíveis Sintéticos Multifilamentado (+) Monofilamentado Poliamida Poliamida Poliéster Polipropileno Aço Inoxidável Polibutester (-) Aço Inoxidável - Reação tecidual aos diferentes fios existentes no mercado. O sinal (+) mostra os que dão maiores reações, enquanto o sinal (-) apresenta os menos irritantes. Classificação dos Fios Nome Comercial A B S O R V I V Animal Categute simples Categute cromado Multifilamentar Multifilamentar Categute Categute Cromado Cirumédica Ethicon Sintético Monofilamentar Poligliconato Maxon - Davis-Greck Polodioxanone PDS – Ethicon Multifilamentar Poliglactina 910 Sem revestimento Dexon "S" Vicryl Davis-Greck Ethicon Com revestimento de Poliglactina 370 Poly Ethicon Ác.Poliglicólico Multifilamentar PGA I N A B S O R V I V E I S Animal Seda Multifilaimentar (trançada siliconada) Seda cirúrgica Seda insecap Seda inacap Cirumédica Ethicon Davis-Greck Vegetal Linho (torcido) Multifilamentar Linho cirúrgico Linho cirúrgico Cirumédica Ethicon Algodão (torcido) Multifilamentar Algodão Agrofil Ethicon Cirumédica Sintético Poliamida Monofilamentar Superlon Mononylon Dermalon Cirumédica Ethicon Davis-Greck Multifilamentar (trançado) Nurolon Ethicon Polipropileno Monofilamentar Supralele Prolene Proxolene Cirumédica Ethicon Davis-Greck Poliester (trançado) Multifilamentar Mersilene Dacron Ethicon Davis-Grec Poliéster (traçado impregnado) Multifilamentar Teflon Ethilex-Ethicon Polibutilato Ethibond-Ethicon Silicone Ti-cron Davis-Greck Surgilene-Cirumédica Perlon (revestido com perlon) Multifilamentar Supramid – Cirumédica Mineral Aço Monofilamentar Aciflex - Ethicon Monicrom - Cirumédica Surgaloy - Davis-Greck Multifilamentar (com teflon) Flexon - Davis-Greck Mistos Poliéster polipropileno Algodão encapado com poliéster Conclusão Os três tempos do ato cirúrgico são a base da cirurgia, sendo o conhecimento deles e a aplicação de técnicas corretas assim como a escolha do fio mais adequado a ocasião, são essenciais para um bom desenvolvimento da intervenção e evolução do paciente, prevenindo as possíveis complicações que possam vir a ocorrer. Referências Bibliográficas GOFFI, F.S. Técnica Cirúrgica – Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4ª Edição. Atheneu. São Paulo. 1996. PEREIRA, J.L. in FONSECA, F. P.; ROCHA, P. R. S. Cirurgia Ambulatorial. 2ª Edição. Guanabara Koogan. São Paulo. 1987. SABISTON JR., D. C. Tratado de Cirurgia – As Bases Biológicas da Prática Cirúrgica Moderna. 15ª Edição. Guanabara Koogan. São Paulo. 1999.
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