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CONTROLE DAS INFECÇÕES CIRÚRGICAS

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Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS 
Curso de Medicina Veterinária 
Cirurgia Veterinária I 
 
 
 
 
2) CONTROLE DAS INFECÇÕES CIRÚRGICAS 
 
INFORMAÇÕES GERAIS 
 
• Dois fatores inter-relacionados, trauma tecidual e infecção cirúrgica, são de 
extrema importância pelo sucesso ou falha das cirurgias. 
• Tem-se por meta em qualquer procedimento cirúrgico, direta ou indiretamente, a 
limitação do trauma e a diminuição do risco de infecção. 
• Os dois principais aspectos que contribuíram com o aperfeiçoamento da cirurgia 
moderna foram o surgimento e desenvolvimento da anestesia e a aplicação dos 
princípios da assepsia. 
 
CONCEITOS BÁSICOS 
 
a) Esterilização: é a destruição dos microorganismos patogênicos e não patogênicos de um 
determinado local. Ex: instrumentos cirúrgicos, panos de campo e compressas cirúrgicas. 
 
b) Desinfecção: é a destruição dos microorganismos patogênicos ou não, termo mais 
utilizado para ambientes. Ex: salas cirúrgicas e baias. 
 
c) Anti-sepsia: é a manobra que impede a proliferação de bactérias, seja inativando 
(bacteriostáticos) ou destruindo-as (bactericidas). Refere-se aos tecidos vivos. Ex: mãos do 
cirurgião, mucosas e pele do animal. 
 
d) Assepsia: é o conjunto de procedimentos que se empregam para evitar a infecção dos 
tecidos durante as intervenções cirúrgicas. Engloba manobras de esterilização, desinfecção 
e anti-sepsia. 
 
INSTRUMENTAL CIRÚRGICO 
 
# Itens críticos: é todo e qualquer material que entra em contato com o tecido subcutâneo, 
este material deverá ser esterilizado. Ex: instrumental cirúrgico em geral, pano de campo, 
luvas, compressas, etc. 
 
# Itens semicríticos: refere-se ao material que entra em contato com cavidades mucosas que 
possam estar contaminadas e estes deverão estar, pelo menos, desinfetados. Ex: tubo 
endotraqueal, sonda uretral, etc. 
 
# Itens não-críticos: são os objetos que estão relacionados ao ambiente cirúrgico e devem 
estar limpos. Ex: mesas cirúrgicas, calhas, porta soro, etc. 
 
 
 
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MÉTODOS DE ESTERILIZAÇÃO 
 
a) Métodos Físicos: 
 
• Filtração: é a separação dos microorganismos de líquidos ou de gases, através de 
filtros. 
 
• Radiação: usada naqueles materiais que não podem ser esterilizados pelo calor ou 
por meios químicos, geralmente é chamada de esterilização fria. Ex: raio U.V., raio 
gama, etc. 
 
• Energia térmica: calor úmido ou calor seco. 
 
 
calor úmido: - com pressão (autoclave) 
 
- sem pressão (fervura) 
 
 
 
 
calor seco: - flambagem 
 
- estufa (forno de Pasteur) 
 
 
 
 
b) Métodos Químicos: líquidos e gase
 
• Desinfetantes de 1º grau: 
glutaraldeído, óxido de etileno
 
• Desinfetantes de 2º grau: atu
esporos. Ex: compostos fenólic
 
• Desinfetantes de 3º grau: não
bacilo da tuberculose. É mais 
quaternária, etc. 
 
ANTI-SÉPTICOS 
 
São usados para reduzir a flo
equipe cirúrgica, além do campo op
técnica cirúrgica asséptica, pois não se
Além da atividade antimicro
devem ser irritantes quando aplicado
s 
são capazes de esterilização. Ex: formaldeído, 
, etc. 
am pela desnaturação das proteínas e não destroem 
os (creolina), cloro, iodo, álcool, etc. 
 apresentam o poder de destruição de vírus, esporos, 
de ação bacteriostática. Ex: mercúrio cromo, amônia 
ra bacteriana da pele, braços e mãos do cirurgião e 
eratório do paciente. Este é o ponto que contesta a 
 consegue esterilizar a pele sem destruí-la. 
biana, os anti-sépticos não podem ser tóxicos, não 
s na pele e devem reter suas propriedades in vivo. O 
 
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anti-séptico ideal é um agente bactericida de amplo espectro que também seja eficaz contra 
esporos, vírus e fungos. Ex: sabões, álcool, compostos iodopovidona, clorexidina, 
compostos de amônia quaternária. 
 
DEGERMAÇÃO DAS MÃOS DA EQUIPE CIRÚRGICA 
 
 Consiste na remoção de detritos e impurezas depositadas sobre a pele. A 
degermação das mãos e antebraços tem a finalidade de remover a maior quantidade 
possível dos micro-organismos da pele a fim de prevenir infecções da ferida operatória. O 
preparo das mãos é recomendável e justificável, se considerarmos o seguinte: 
• Muitas luvas se apresentam perfuradas ao término da cirurgia; 
• As bactérias tendem a se multiplicar sob as luvas; 
• As luvas sofrem constantes traumas por agulhas, unhas e outros. 
A degermação das mãos pode ser realizada por métodos químicos (com o uso de 
anti-sépticos detergentes) e mecânicos (pela escovação). Atualmente costuma-se associar os 
dois métodos pela sua maior eficiência na anti-sepsia das mãos. 
 
# Como proceder a degermação das mãos: 
 
1. Lavar as mãos, antebraços e cotovelos com degermante e água corrente para 
retirada de algum resíduo aderido. 
2. Pegar a escova esterilizada pela metade inferior com a mão esquerda e embebe-la 
com degermante. 
3. Escovar as unhas da mão direita, contando mentalmente quinze movimentos de 
escovação. Obs.: iniciar o procedimento pela mão direita (em casos de conhotos, pela 
esquerda) pois, inconscientemente a primeira mão a ser submetida ao procedimento fica 
melhor degermada. 
4. Escovar toda a mão direita, iniciando pela parte lateral do dedo mínimo e os demais 
dedos, inclusive a face interdigital. 
5. Escovar a palma da mão desde a ponta dos dedos até o punho, atingindo a parte 
lateral de cada dedo. 
6. Virar a mão e escovar também o dorso da mesma maneira, empregando sempre 
bastante espuma para emulsificar a gordura e evitar desconforto da pele com a 
escovação. 
7. Passar para o antebraço, tendo o cuidado de escová-lo em toda a sua extensão, desde 
o punho até o cotovelo, girando-o e mantendo a mão elevada, com o cuidado de não 
tocar em nada. 
8. Escovar o cotovelo com movimentos circulares. 
9. Enxaguar a escova, conservando-a em posição vertical, não tocada anteriormente, 
ensaboando-a e iniciar a escovação da mão esquerda, com os mesmos 
procedimentos adotados para a mão direita. 
10. Após a escovação, proceder ao enxágüe, no sentido unhas cotovelo, tendo o cuidado 
de não abaixar o braço, evitando o retorno da água para as mãos. 
 
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11. Manter as mãos unidas e elevadas após o enxágüe, deixando escorrer o excesso de 
água na pia. 
12. Não tocar em mais nada que não esteja esterilizado. 
13. Enxugar com pano esterilizado as mãos, antebraços e por último os cotovelos. 
14. Desprezar o pano e manter as mãos sempre acima da cintura. 
 
PREPARAÇÃO DO PACIENTE 
 
1º) Deve iniciar um dia antes, através de escovação, banho, jejum, etc. 
 
2º) No dia da cirurgia: após a tranqüilização, procede-se a preparação do local cirúrgico, 
que envolve a remoção dos pêlos, anti-sepsia da pele e colocação apropriada do campo 
cirúrgico. 
• Remoção dos pêlos (tricotomia) no local da cirurgia é necessária para 
aumentar a remoção dos patógenos, aumentar a visibilidade durante a 
incisão da pele, melhorar a posição dos bordos durante a sutura e diminuir a 
presença de corpos estranhos no interior do ferimento cirúrgico. 
• Momento da remoção: Os pêlos devem ser removidos imediatamente antes 
da cirurgia, porque a incidência de infecção do ferimento cirúrgico aumenta 
com o aumento do intervalo entre a remoção dos pêlos e a cirurgia. 
• Métodos de remoção: Todos os métodos de remoção dos pêlos causam 
pequenos traumatismos e inflamação na pele, que são seguidas de 
colonização bacteriana. Atricotomia por meio da máquina é a técnica mais 
recomendada atualmente, pois minimiza o trauma cutâneo. O barbear não é 
recomendado quando feito com muita antecedência ao ato operatório, pois 
resulta em pequenas e múltiplas lacerações da pele e tem sido associada com 
um aumento das taxas de infecção pós-cirúrgicas dos ferimentos. Os 
depiladores não são usados rotineiramente em medicina veterinária devido 
aos custos e a escassa eficácia na densa cobertura pilosa dos animais. 
• Técnica de remoção: A área cirúrgica deve ser amplamente tricotomizada 
para permitir ampliação da incisão sem a presença de pêlos. Na preparação 
para um procedimento ortopédico, todo o membro deve ser tricotomizado 
até a linha média dorsal. Os pêlos ao redor da área cirúrgica devem ser 
umedecidos com soluções anti-sépticas ou gel hidrossolúvel para minimizar 
a contaminação do campo cirúrgico com pêlos soltos ou restos de tecidos. 
 
3º) O animal é removido para a sala cirúrgica onde a anti-sepsia do campo operatório é 
feita. A aplicação dos anti-sépticos é feita com pinceladas lineares do local da incisão para 
a periferia, ou através de movimentos em espiral a partir do centro do campo operatório. 
 
4º)Colocação dos campos cirúrgicos pelo cirurgião após as luvas já terem sido calçadas. 
 
 
 
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PROCEDIMENTOS DENTRO DA SALA CIRÚRGICA 
 
• Regras gerais: 
 
1º) Todos os utensílios podem estar esterilizados ou não, em caso de dúvida, considere não 
esterilizado. 
 
2º) Somente à parte de fora dos materiais enrolados ou empacotados deve ser tocada por 
mãos sem luvas, e estes pacotes devem ser abertos pelo volante longe do corpo para não 
contaminá-los. 
 
3º) Materiais esterilizados são manuseados somente com luvas esterilizadas ou com 
instrumentos esterilizados. 
 
4º) Uma vez que algum material é removido de um pacote, o mesmo não deve ser retornado 
ao mesmo. 
 
5º) Toda vez que um material esterilizado apresentar-se úmido, este deve ser considerado 
não esterilizado. 
 
EQUIPE CIRÚRGICA 
 
# Cirurgião: é o responsável pela vida do paciente, e tem sob a sua responsabilidade toda a 
equipe cirúrgica. 
 
# Assistente: ajuda o cirurgião e deve conhecer a cirurgia a ser realizada. Ex: controlar 
hemorragia, ajudar na exposição de vísceras, fazer ligadura de vasos, etc. 
 
# Instrumentador: manter o instrumental organizado e limpo do sangue, antecipar os 
movimentos do cirurgião, separar os materiais contaminados, separar os fios e preparar o 
material de sutura, conferir o material no final da cirurgia. 
 
# Anestesista: deve promover a anestesia e manter os parâmetros fisiológicos do paciente, 
como função cardíaca e respiratória, administração de drogas e fluídos intravenosos. 
 
# Volante: preparação do local e do material a ser utilizado (calhas, cordas, peias). Durante 
a cirurgia deve antecipar os acontecimentos e ter o material e instrumental pronto para o 
uso. Ex: Oxigênio, desfibrilador, etc. Não deve afastar-se do local, deve ajudar na remoção 
o animal da mesa, e manter a limpeza e a organização da sala cirúrgica. 
 
 
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PARAMENTAÇÃO DA EQUIPE: 
 
 Para vestir o avental cirúrgico esterilizado: 
 
• Pegar o avental pela parte superior posterior, isto é, próximo às tiras para 
amarrar. 
• Abrir o avental sem encosta-lo em nada, realizando um movimento rápido 
para que as dobras se desfaçam. 
• Introduzir com um movimento rápido e cuidadoso, os dois braços ao mesmo 
tempo, nas mangas do avental, conservando-os elevados. 
• Permitir com que o volante amarre as tiras do avental. 
• Deixar os braços acima da cintura e na frente. Considerar esterilizada apenas 
à parte da frente e acima da cintura. 
 
Para calçar as luvas esterilizadas: 
 
• Abrir o envelope interno das luvas, pegando com as pontas dos dedos. 
• Calçar a mão esquerda, tocando com a mão direita somente na parte interna 
da luva (Fig. 01). 
• Calçar a mão direita, segurando a esquerda por baixo da dobra. Fazer 
contato luva com luva, cuidando para não tocar a parte externa da luva com 
a mão (Fig. 02). 
• Ajeitar as luvas com ambas as mãos e sobrepô-las aos punhos do avental. 
Não deixar qualquer parte do punho do avental para fora, nem a pele exposta 
(Fig. 03). 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 03 
 
 
 
 
Fig. 01 
 
Fig. 02 
 
 
 
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SUGESTÃO DE LEITURA: 
 
GHELLERE, T., ANTÔNIO, M.C., SOUZA, M.L. Centro cirúrgico: aspectos 
fundamentais para enfermagem. Florianópolis: Editora da UFSC, 3. ed., 1993. 182 p. 
 
ROUSH, J. Controle de infecção. In: HARARI, J. Cirurgia de pequenos animais. Porto 
Alegre: Artes Médicas Sul Ltda, cap. 3, p. 43-53, 1999. 
 
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