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capitulo 1 Oratoria e retorica

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CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da 
Retórica e Oratória
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Compreender a concepção da retórica e sua finalidade, identificando suas 
funções e características.
� Identificar as fontes da retórica grega e a discussão com perspectiva platônica.
� Analisar as relações interpessoais e reconhecer as diferentes definições de 
retórica e oratória.
10
 Oratória e Retórica
11
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Contextualização
O contexto do estudo da oratória e da retórica no mundo contemporâneo é 
bastante amplo. Nesta disciplina queremos enfatizar a construção e exposição 
dos argumentos para que possamos transmitir uma mensagem de qualidade. 
Vejamos como se considerava a arte retórica na antiguidade. 
Havia-se deixado de lado, até aqui, um ponto importante sobre 
o escopo da arte retórica. Por vezes, a retórica foi e ainda é 
apresentada como a arte de proferir discursos eloquentes. De 
fato, muitos são os que associam uma boa retórica a um discurso 
bem elaborado, destacado por diversos recursos de linguagem, 
enfim, ornamentado. Essa definição guarda correspondência 
com os primeiros discursos dos sofistas – portanto, anteriores ao 
aparecimento do tratado de Aristóteles sobre a retórica – mas que 
atingiu destaque e refinamento com a obra de Isócrates (436-338 
a.C.), hábil e longevo retor, que se destacou pelo seu programa 
de ensino baseado nas artes humanas, predominantemente 
literárias (o Paideia). Isócrates se destacou por atacar tanto os 
que praticavam e ensinavam a dialética erística (aqueles que 
se propunham às disputas, a partir de posições antagônicas de 
mundo, objetivando chegar a uma pretensão de descoberta, 
a qual refletiria as formas particulares da leitura da natureza e/
ou que fossem capazes de chegar a uma verdade) quanto os 
sofistas, que ensinavam a arte dos discursos políticos aos nobres. 
Isócrates não acreditava que, da dialética erística, pudesse 
emergir um conhecimento diferente dos demais, ou que o simples 
fato de se arrebatar o maior número possível de seguidores fosse 
um medidor da correção de um dado conhecimento. Tampouco, 
poder-se-ia fazer qualquer juízo positivo da arte dos sofistas de 
ensinar discursos políticos mecanicamente, já que as condições 
para a descoberta da Verdade jamais teriam ali algum papel a 
desempenhar (GILL, 1994 apud VIEIRA, 2012, p. 8).
Estudar oratória e retórica pode parecer um tanto distante da realidade em 
que estamos inseridos, mas se observarmos o cotidiano, perceberemos que 
estamos permeados de argumentos retóricos, apresentando cada qual um tipo 
de oratória. A você, estudante desta disciplina, convidamos para seguir conosco 
neste caminho de descobertas. 
Conceito de Retórica e Oratória
A retórica no conhecimento humano, especificamente na 
filosofia, é uma forma de expressão de exposição de ideias utilizada 
pelos sofistas. Segundo este grupo de pensadores gregos da 
antiguidade, não existe uma verdade, o que há é apenas uma boa 
forma de argumentar ou uma forma ruim de argumentar.
12
 Oratória e Retórica
Ao iniciarmos a discussão sobre a retórica, queremos expor quais são suas 
características fundamentais e como estas características se relacionam com o 
modo com o qual nos expressamos. 
A vitalidade dos estudos retóricos até os nossos dias foi o que 
levou à organização de um curso que levantasse os principais 
problemas com que a Retórica se tem havido ao longo de 
sua história, cheia de pontos altos, mas também de crises e 
questionamentos. A bem dizer, é esta mesma dialética que está 
no bojo de sua própria natureza, que implica em controvérsia, 
discussão e, consequentemente, em influência e formação de 
opinião. De fato, a Retórica tem sido colocada à prova pelos 
mesmos princípios que a norteiam internamente e que fazem 
com que ela refloresça sempre: aceitação da mudança, o 
respeito à alteridade, a consideração da língua como lugar de 
confronto das subjetividades. Partindo-se do princípio de que a 
argumentatividade está presente em toda e qualquer atividade 
discursiva, tem-se também como básico o fato de que argumentar 
significa considerar o outro como capaz de reagir e de interagir 
diante das propostas e teses que lhe são apresentadas. Equivale, 
portanto, a conferir-lhe status e a qualificá-lo para o exercício da 
discussão e do entendimento, através do diálogo. Na verdade, 
o envolvimento não é unilateral, tendo-se uma verdadeira arena 
em que os interesses se entrechocam, quando o clima é de 
negociação, e em que prevalece o anseio de influência e de 
poder (MOSCA, 2001, p. 16).
Quando falamos do movimento sofista da filosofia grega antiga, apontamos 
para alguns autores deste período que representam muito bem a figura de um 
retórico. Nesse sentido, merece destaque o filósofo Górgias, que muito bem 
definiu o não ser. Podemos citar ainda o filósofo Protágoras de Abdera, que com 
seu pensamento defendeu o relativismo na Antiguidade.
A nossa discussão sobre a retórica e o papel da oratória na 
formulação e na exposição de argumentos passará necessariamente 
por Platão e Aristóteles. Estes dois filósofos da Antiguidade 
escreveram textos que detalham muito bem a arte retórica ou do bem 
dizer, se assim quisermos. De acordo com estes dois filósofos e com 
os sofistas, devemos estar atentos para a boa formulação retórica de 
um argumento e a boa oratória de exposição do mesmo. Na disciplina 
de Oratória e Retórica queremos lembrar a você, estudante, que a 
forma de bem dizer as palavras ou a boa formulação de um discurso 
é fundamental para que possamos entender, expor e transmitir uma 
mensagem.
Podemos observar isso na discussão da Antiguidade desenvolvida por 
Sócrates. Platão, ao expor e escrever as ideias socráticas, nos passa a mensagem 
de que Sócrates foi um homem comprometido com a moral e com a verdade. Já 
alguns sofistas, como Sófocles, apresentam Sócrates como amigo dos sofistas e 
Na disciplina de 
Oratória e Retórica 
queremos lembrar 
a você, estudante, 
que a forma de bem 
dizer as palavras ou 
a boa formulação 
de um discurso é 
fundamental para 
que possamos 
entender, expor 
e transmitir uma 
mensagem.
13
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
um retórico. Isso significa que o modo como apresentamos uma ideia ou expomos 
um pensamento produz um determinado efeito naquele que ouve. 
O surgimento da Retórica na Grécia antiga prende-se à luta 
reivindicatória de defesa de terras na Sicília, que haviam 
caído em poder de usurpadores. Esse caráter prático, aliado 
à eficácia, esteve sempre presente nas finalidades da Retórica 
e é o que modernamente a situa junto à Pragmática. De fato, 
para se decidir em que medida um discurso visa persuadir 
e como o faz, há que levar em conta as características 
fundamentais da situação em que ele se dá e as relações de 
intersubjetividade dos interlocutores. Os efeitos perseguidos 
pelos discursos persuasivos são produtos não de um simples 
ato ilocutório, como também de elementos extraídos da 
força ilocucionária da situação. Cabe ainda lembrar que o 
ato de informar não existe em estado puro e serve antes a 
convencer e persuadir do que por si próprio. Assim é que 
discursos que se têm como informativos, tais como o científico 
e o jornalístico, são o exemplo disso, uma vez que existem 
em função de determinada finalidade prática a ser atingida. 
Por esse motivo, coloca-se em questão a tradicional divisão 
das modalidades dos gêneros jornalísticos em informativos, 
interpretativos e opinativos, que, na realidade, serve apenas 
para balizar a práxis jornalística, quando não mesmo para 
despistar um leitor desavisado (MOSCA, 2001, p. 26).Segundo Platão, a retórica é uma técnica indispensável para quem quisesse 
governar a cidade, porque quem rege deve saber falar e dominar a exposição 
de um argumento. Essa capacidade do governante impediria a manipulação e 
o controle por outros membros do governo. Contudo, Platão coloca a retórica 
abaixo da filosofia, e no diálogo Górgias expõe que o bem falar é uma arte de 
convencimento independentemente do conteúdo, e por isso está abaixo do 
conhecimento verdadeiro e rigoroso que é o filosófico.
Podemos entender que esta discussão é muito importante para as pessoas 
que desejam lidar com o público em geral, pois há sempre uma escolha a ser 
feita quando falamos aos outros: devemos falar bem e transmitir aquilo que os 
interlocutores querem, sem se preocupar com a verdade, ou falamos bem e 
transmitimos a verdade quer agrade ou não aos interlocutores. Este dilema 
aparece toda vez que precisamos estabelecer um diálogo ou expressar uma ideia 
em público. Neste sentido, o estudante de Oratória e Retórica precisa conhecer os 
tipos, formas e métodos empregados pela retórica para formular um argumento, e 
da oratória para expor o mesmo.
Outro filósofo já citado, Aristóteles, desenvolveu uma teoria acerca do que 
seria a retórica. De acordo com ele, a retórica é uma arte empírica e cotidiana. 
Neste sentido, precisamos almejar a verdade quando nos dedicamos a um 
discurso. Neste aspecto a retórica não é pura transmissão da verdade através da 
oratória, ela envolve diferentes aspectos do ser humano, de sua personalidade e 
14
 Oratória e Retórica
ambiente. Para Aristóteles, devemos considerar a personalidade do ouvinte para 
expor um pensamento, pois se tivermos uma boa técnica, poderemos transmitir a 
mensagem que queremos com mais facilidade. 
Além disso, Aristóteles desenvolveu profundamente as características e 
a forma de refutação e confirmação de um argumento. Seguindo essa linha de 
raciocínio, podemos concluir que Aristóteles quis estabelecer uma clara finalidade 
ao empregarmos a retórica. Ela serve tanto ao indivíduo que quer discutir assuntos 
morais, quanto ao orador que quer falar de seus pensamentos na cidade. Em 
outras palavras, a retórica deve ser útil ao cidadão.
Segundo Aristóteles, devemos organizar nosso modo de pensar e se 
expressar de maneira a permitir que sejamos claros em nossas ideias. Neste 
sentido, a retórica contribui para aperfeiçoar a qualidade, e a oratória é a 
exposição de um argumento.
Aristóteles foi o primeiro a desenvolver uma organização 
detalhada desta ferramenta do saber humano. Inicialmente 
precisamos entender que todos nós fazemos uso da retórica e da 
oratória, pois são formas de nos expressarmos. Para Aristóteles, 
convencer o outro é a essência de toda discussão sobre retórica. Ao 
estabelecer formas de comportamento para o orador, modelos de 
raciocínio, tipos de premissas e a divisão desta ferramenta, o filósofo 
classifica e padroniza a retórica. A divisão apresentada por Aristóteles 
é exórdio, construção, refutação e epílogo. Em alguns momentos o 
filósofo coloca a narração após o exórdio.
Ao contrapor a dialética com a retórica, Aristóteles configurou a ela elementos 
e características que estavam dispersos.
Após a elaboração aristotélica, a retórica e a oratória foram 
desenvolvidas por diferentes grupos de pensadores. Mencionamos 
aqui os estoicos, os empíricos e a tradição romana de filósofo. 
Diógenes, filósofo estoico grego, entendia que a retórica dialética 
é parte da lógica, neste sentido, retórica significa bem falar e dialética é a arte 
de bem raciocinar. Isso significa que a retórica é a invenção de argumentos e 
desdobra-se em oratória quando expressamos esses em palavras ou discursos 
organizados a um grupo de ouvintes. Para este grupo de filósofos, a retórica 
se ocupa da forma de um argumento, enquanto que a dialética deve se ater à 
veracidade ou à falsidade de um argumento.
Retórica significa 
bem falar e dialética 
é a arte de bem 
raciocinar.
15
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
O grupo de pensadores empíricos pode ser representado pelo epicurismo, 
que entende a retórica como argumentos possíveis derivados de signos. Segundo 
este, o método utilizado é a conjetura. Dito de outro modo, a retórica é uma ciência 
que se opõe às ciências exatas, isto é, para bem falarmos e bem construirmos um 
argumento, devemos seguir regras que provêm da experiência, como o objetivo 
de considerar vários graus de probabilidade. De acordo com esses filósofos, 
devemos considerar que para bem expressarmos nossas ideias devemos tomar 
cuidado nos argumentos emotivos e, ao mesmo tempo, não cairmos no simplismo 
do cotidiano. Por exemplo, em debates com amigos geralmente usamos lágrimas 
e dramas para convencer o outro.
Entre os romanos destacamos Cícero, que entendia a retórica 
e a oratória como algo fruto de muito conhecimento filosófico, 
artístico e da ciência. Para ele, sem o saber aprofundado, a retórica 
se transforma em pura e simples maneira de verbalismo (Verborum 
volubilidas Inanes at que inridenda est (Cicero, de oratóre, I, 17).
Para ser um bom orador, devemos conhecer todos os grandes problemas 
filosóficos, científicos e artísticos. Devemos pensar com sabedoria e é nisto que a 
retórica consiste para Cícero. O sábio consegue desenvolver bem a arte retórica 
se ater-se aos grandes problemas sem negligenciar as grandes questões. Cícero 
entende que a técnica da retórica deve produzir não só belos textos e belas 
oratórias, mas também sábios justos.
Depois de apresentarmos alguns aspectos de pensadores da retórica antiga, 
passamos agora a expor algumas características do desenvolvimento da retórica 
no período chamado de Idade Média. Neste período o Trivium, a partir do século 
IX, constituiu a fonte para estruturar as chamadas artes liberais, nesta época a 
retórica era entendida como arte do discurso. Destacamos que a constituição dos 
argumentos não era puramente literária, havia uma preocupação com todas as 
áreas de conhecimento para expor e defender os argumentos.
O desenvolvimento da retórica medieval encontrou amparo em grandes 
teólogos e filósofos. Destacamos Santo Agostinho ao recuperar a tradição 
platônica articulando as suas ideias com a de Cícero e outros retóricos romanos. 
Retomou também a tradição aristotélica da lógica para discutir os grandes 
problemas nesta área de conhecimento. 
16
 Oratória e Retórica
No movimento renascentista percebemos uma reelaboração dos problemas 
retóricos baseados na eloquência ou no bem falar, remetendo à iluminação do 
intelecto, satisfação da imaginação, desencadear as paixões e, por último, evocar 
a vontade. Este processo culminou na completa distinção entre filosofia e retórica. 
Se em Platão e Aristóteles, filosofia, oratória e retórica caminham juntas no início 
da modernidade, elas se separaram, constituindo campos de saber distintos 
dentro de um espaço geral de conhecimento.
Para explicarmos de maneira detalhada o que é retórica 
evocamos o pensador Reboul, que define o termo: retórica é “a 
arte de persuadir pelo discurso. Por discurso entendemos toda a 
produção verbal, escrita ou oral constituída por uma frase ou uma 
sequência de frases, que tenha começo e fim e apresente certa 
ordem de sentido. De fato, um discurso incoerente, feito por um 
bêbado ou por um louco, são vários discursos tomados por um só” 
(REBOUL, 2004, p. 14).
Para este autor, só podemos chamar de retóricos aqueles 
discursos que querem persuadir os ouvintes. Citamos alguns 
exemplos: “pleito advocatício, alocução, política, sermão, folheto, 
cartaz de publicidade, panfleto, fábula, petição, ensaio, tratado de 
filosofia, de teologia ou de ciências humanas. Acrescenta-se a isso 
o trama e o romance deste de que de tese e o poema satírico ou 
laudatório“(REBOUL, 2004, p. 14).
De acordo com Reboul (2004), a retórica sempre procura persuadir 
seus interlocutores pela oratória de algo. Neste sentido, queremos 
fazer uma distinção entre convencer alguém a crer em nós e convencer 
alguém a fazer algo. Do ponto de vista estritamente retórico, queremos 
deixar claro que convencer o outro a acreditar em nós é o núcleo da 
retórica enquanto arte de persuasão. Neste aspecto, levar alguém a 
fazer algo já é um passo além. Pascal (apud Reboul, 2004) destaca que podemos 
usar elementos, como o dinheiro, para persuadir os outros de que nossa causa é 
justa, mas isso não é um convencimento retórico, pois os argumentos não foram 
contrapostos e não houve sequer uma argumentação. 
Lembremos que a técnica retórica é ambígua, pois pode representar uma 
habilidade espontânea ou uma capacidade adquirida. Se considerarmos a retórica 
espontânea como forma de convencimento dos outros, precisamos entender que 
De acordo com 
Reboul (2004), a 
retórica sempre 
procura persuadir 
seus interlocutores 
pela oratória de algo.
17
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
sem a técnica adquirida, com o tempo não conseguiremos ter êxito em nossa 
tarefa. Segundo Reboul, “o verdadeiro orador é um artista no sentido de descobrir 
argumentos mais eficazes do que se esperava, figuras de que ninguém teria ideia 
e que se mostram ajudadas; artistas cujos desempenhos não são programáveis e 
que só se fazem sentir posteriormente” (REBOUL, 2004, p. 16).
Neste sentido, a constituição de um argumento retórico e a expressão 
deste por um orador dependem da escolha que este fizer. Tudo isso implica em 
considerar a finalidade da retórica. Queremos convencer ou enganar?
Como vimos, a persuasão é a forma de convencer a todo custo 
um interlocutor utilizando os modelos de argumentos disponíveis. 
Persuadir não é a mesma coisa que enganar. Existe uma sutil 
diferença, mas que é substancial, enganar implica em usar argumentos 
falsos e persuadir é convencer utilizando os argumentos disponíveis. 
Para começarmos a responder a este questionamento, explicaremos o que 
significa a arte da persuasão. Eis, pois, a mais antiga definição de retórica que 
conhecemos, ou seja, a arte de persuadir. Neste sentido, vale lembrar que é 
importante distinguir o que é argumentação e oratória.
A competência racional dos argumentos pode ser dividida 
em duas partes: os que são componentes silogísticos e os que 
se apoiam em exemplos. Neste sentido vale lembrar que, para 
Aristóteles, a competência afetiva de um argumento é mais eficiente 
que o silogismo. Isso significa que um silogismo, encadeamento 
lógico de raciocínios, é destinado a um grupo técnico de ouvintes, 
por exemplo, um júri, enquanto que um exemplo argumentativo se 
destina ao grande público. 
Segundo Reboul (2004), no que tange à afetividade, podemos distinguir o 
caráter do ethos, em português caráter ético do orador, que procura convencer 
os interlocutores, e o pathos, em português a paixão ou compaixão gerada pelo 
discurso, cujo orador pode tirar proveito caso perceba como reage seu público. 
18
 Oratória e Retórica
Podemos entender que o modo persuasivo de um discurso se compõe de duas 
partes: o argumentativo e o oratório. Assim, quando um orador se expressa, ele 
está no modo oratório, neste sentido, metáforas e hipérboles constituem artifícios 
retóricos, e são argumentativas quando condensam um argumento. 
Hermenêutica 
Passaremos agora ao modelo hermenêutico. Quando expressamos um 
discurso, ele nunca está só, sempre está em diálogo com outros oradores, se 
antepõe a este e dialoga com os mesmos.
Para convencer um interlocutor é preciso entender o argumento do outro 
antepondo-o e persuadindo-o de modo a atingir o objetivo. Este processo só é 
possível por causa da possibilidade de interpretação que possuímos. Neste 
sentido, a arte de interpretar textos, chamada de hermenêutica, é fundamental ao 
orador que quer ser compreendido. 
Heurística
Outra característica é a heurística, que significa encontrar algo remetendo ao 
grego euro, ou eureka, ambas indicando a capacidade de descoberta do ser humano. 
Não nos referimos diretamente à ciência, falamos do ponto de vista da pergunta sobre 
qualquer assunto. Neste aspecto a heurística contribui para o confronto de ideias, na 
demonstração delas e na descoberta de coisas que não sabemos. 
Ainda merece menção a função pedagógica da retórica, que constitui um 
caminho que engloba várias áreas de saber. De acordo com Reboul (2004, p. 22):
[...] no fim do século XIX a retórica foi abolida do ensino francês 
e o próprio termo foi riscado dos programas. Todavia, como em 
geral acontece no ensino, em se apagando a palavra não se 
suprimiu a coisa. A retórica permaneceu, só que desarticulada, 
privada de sua unidade interna e de sua coerência; em todo 
caso, os professores, quase sempre sem saber, fazem retórica.
 
Assim, a função pedagógica da retórica e o estilo das construções verbais 
permaneceram, mesmo que com dificuldades. Neste sentido, entendemos 
que para bem dizer precisamos também aprender a ser, visto que aqueles que 
formulam frases equivocadas e sem sentido falam de si e de seu próprio estado 
confuso da existência.
19
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Para Que Serve a Retórica?
Você, aluno de Oratória e Retórica, pode se aprofundar no significado e na 
serventia da retórica se observar o seu cotidiano. A retórica e a oratória podem 
servir a diferentes fins. Destacamos alguns: servem para persuadir interlocutores 
em debates filosóficos, religiosos, acadêmicos ou em outros ambientes sociais. 
Na filosofia costumamos entender a retórica como o modo de formular bons 
argumentos, para posteriormente, pela oratória, expô-los de modo a convencer 
a maior parte dos sujeitos que quisermos. Na religião costuma-se usar a oratória 
para desenvolver argumentos e convencer os fiéis daquelas verdades eternas 
reveladas nas escrituras.
 Assim, os religiosos utilizam a retórica com a finalidade de explicar as 
questões controversas e, consequentemente, elucidar as dificuldades dos fiéis. Já 
os acadêmicos utilizam métodos de retórica para convencer seus pares de suas 
habilidades e qualidades para conseguirem títulos, promoções e debater ideias no 
âmbito da conjetura intelectual. Destacamos ainda o uso da retórica e oratória no 
meio social, no cotidiano das nossas existências, falamos da família, do círculo de 
amigos e da convivência em nossos locais de trabalho.
Algumas pessoas pensam que argumentar é apenas expor os 
seus preconceitos de uma forma nova. É por isso que muita gente 
considera que argumentar é desagradável e inútil, confundindo 
argumentar com discutir. Dizemos por vezes que discutir é 
uma espécie de luta verbal. Contudo, argumentar não é nada 
disso. [...] «argumentar» quer dizer oferecer um conjunto de 
razões a favor de uma conclusão ou oferecer dados favoráveis 
a uma conclusão. [...] argumentar não é apenas a afirmação de 
determinado ponto de vista, nem uma discussão. Os argumentos 
são tentativas de sustentar certos pontos de vista com razões. 
Neste sentido, os argumentos não são inúteis; na verdade, são 
essenciais. Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, 
porque constituem uma forma de tentarmos descobrir quais 
os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista 
são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com 
boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, 
não sabemos, na maioria das vezes, quais são as melhores 
conclusões. Precisamos, por isso, apresentar argumentos 
para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais 
argumentos para ver se são realmente bons. Neste sentido, 
um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofose ativistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só 
para produzir carne causa um sofrimento imenso aos animais 
e que, portanto, é injustificado e imoral. Será que têm razão? 
Não podemos decidir consultando os nossos preconceitos. 
Estão envolvidas muitas questões. Por exemplo; temos 
obrigações morais para com outras espécies ou o sofrimento 
humano é o único realmente mau? Podem os seres humanos 
viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos vivem 
até idades muito avançadas. Será que este fato mostra que as 
dietas vegetarianas são mais saudáveis? Ou será irrelevante, 
20
 Oratória e Retórica
tendo em conta que alguns não vegetarianos também vivem 
até idades muito avançadas? (É melhor perguntarmos se há 
uma percentagem mais elevada de vegetarianos que vivem até 
idades avançadas). Terão as pessoas mais saudáveis tendência 
para se tornarem vegetarianas, ao contrário das outras? Todas 
estas questões têm de ser apreciadas cuidadosamente, e as 
respostas não são a partida óbvia (WESTON, 1996, p. 5). 
A arte retórica e a oratória são elementos do ser humano que 
bem utilizados podem produzir resultados plausíveis no que se refere 
à arguição e exposição de ideias. A finalidade da retórica e da oratória 
consiste, justamente, na tentativa do convencimento alheio para 
podermos transmitir um pensamento, uma convicção ou um projeto. Este 
método de persuasão pode ser usado com a finalidade de promover 
o desenvolvimento do ser humano em suas várias especificidades ou 
pode servir para enganar, ludibriar e prejudicar outras pessoas.
Na tentativa de suprimir os perigos do mau uso da retórica e da oratória, 
Platão e Aristóteles, cada qual ao seu modo, procuraram estabelecer critérios ou 
maneiras para evitarmos destruir a existência alheia. Platão, no diálogo Górgias, 
inquiriu o mesmo sobre a implicação moral de determinadas posturas retóricas. 
Assim, a arte da persuasão não é um vale-tudo, mas um conjunto organizado 
de regras para bem expormos as questões que queremos discutir. Aristóteles 
defendeu uma separação entre retórica e oratória para que ficasse claro qual 
estilo de argumentação o indivíduo estava praticando. Deste modo, a retórica 
serviria para desenvolvermos raciocínios claros e silogísticos sobre um assunto 
específico, enquanto que a oratória serviria para expormos poesias e formas 
literárias de estilo próprio. 
Assim, conforme aponta Platão no diálogo Górgias, devemos considerar em 
que consiste e para que serve a arte retórica. 
A finalidade da 
retórica e da oratória 
consiste, justamente, 
na tentativa do 
convencimento 
alheio para 
podermos transmitir 
um pensamento, 
uma convicção ou 
um projeto.
A QUE SE REFERE UM DISCURSO – TRECHO DE PLATÃO
Sócrates — Então, diz a respeito de quê. A que classe de coisas 
se referem os discursos de que se vale a retórica? 
Górgias — Aos negócios humanos, Sócrates, e os mais 
importantes. 
Sócrates — Mas isso, Górgias, também é ambíguo e nada 
preciso. Creio que já ouviste os comensais entoar nos banquetes 
aquela cantilena em que fazem a enumeração dos bens e dizer que 
21
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
o melhor bem é a saúde; o segundo, ser belo; e o terceiro, conforme 
se exprime o poeta da cantilena, enriquecer sem fraude. 
Górgias — Já ouvi; mas, a que vem isso? 
Sócrates — É que poderias ser assaltado agora mesmo pelos 
profissionais dessas coisas elogiadas pelo autor da cantilena, a 
saber, o médico, o pedótriba e o economista, e falasse em primeiro 
lugar o médico: Sócrates, Górgias te engana; não é sua arte que se 
ocupa com o melhor bem para os homens, porém a minha. E se eu 
lhe perguntasse: Quem és, para falares dessa maneira? Sem dúvida 
responderia que era médico. Queres dizer com isso que o produto 
de tua arte é o melhor dos bens? Como poderia, Sócrates, deixar 
de sê-lo, se se trata da saúde? Haverá maior bem para os homens 
do que a saúde? E se, depois dele, por sua vez, falasse o pedótriba: 
Muito me admiraria, também, Sócrates, se Górgias pudesse mostrar 
algum bem da sua arte maior do que eu da minha. A esse, do meu 
lado, eu perguntara: Quem és, homem, e com que te ocupas? Sou 
professor de ginástica, me diria, e minha atividade consiste em deixar 
os homens com o corpo belo e robusto. Depois do pedótriba, falaria o 
economista, quero crer, num tom depreciativo para os dois primeiros: 
Considera bem, Sócrates, se podes encontrar algum bem maior 
do que a riqueza, tanto na atividade de Górgias como na de quem 
quer que seja. Como! Decerto lhe perguntáramos: és fabricante de 
riqueza? Responderia que sim. Quem és, então? Sou economista. E 
achas que para os homens o maior bem seja a riqueza? Voltaríamos 
a falar-lhe. Como não! me responderia. No entanto, lhe diríamos, o 
nosso Górgias sustenta que a arte dele produz um bem muito mais 
importante do que a tua. É fora de dúvida que, a seguir, ele me 
perguntaria: Que espécie de bem é esse? Górgias que o diga. Ora 
bem, Górgias; imagina que tanto ele como eu te formulamos essa 
pergunta, e responde-nos em que consiste o que dizes ser para os 
homens o maior bem de que sejas o autor. 
Górgias — Que é, de fato, o maior bem, Sócrates, e a causa 
não apenas de deixar livres os homens em suas próprias pessoas, 
como também de torná-los aptos para dominar os outros em suas 
respectivas cidades. 
Sócrates — Que queres dizer com isso? 
Górgias — O fato de, por meio da palavra, poder convencer 
os juízes no tribunal, os senadores no conselho e os cidadãos nas 
22
 Oratória e Retórica
assembleias ou em toda e qualquer reunião política. Com semelhante 
poder, farás do médico teu escravo, e do pedótriba teu escravo, 
tornando-se manifesto que o tal economista não acumula riqueza 
para si próprio, mas para ti, que sabes.
Fonte: Platão (2005, p. 6-7).
A serventia do pensamento retórico e da oratória também varia conforme o 
repertório do sujeito que se dispõe a praticar tal arte. Se considerarmos um sujeito 
de aptidões variadas e qualidades profissionais e acadêmicas bem desenvolvidas, 
a arte de argumentar bem pode servir para diversos momentos da sua existência. 
Por outro lado, se considerarmos um sujeito que possui restrições intelectuais 
e profissionais, não poderemos concluir a mesma coisa. Lembremos que não 
estamos falando de condições sociais, nos referimos ao interesse profissional e 
acadêmico de cada indivíduo. 
Por isso a retórica serve a diversos fins, dependendo, como já disseram os 
filósofos relativistas gregos, do contexto em que está inserida. Conforme aponta 
Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas”, a retórica e a oratória 
são artes distintas que servem conforme a conveniência humana. Este modo de 
pensar é atual e está presente em nosso cotidiano porque queremos desenvolver 
nossas habilidades e não nos preocupamos com os problemas alheios. 
Não é de hoje a presença da retórica entre nós no cotidiano. 
Na Antiguidade observamos argumentações públicas, debates e 
relações costumeiras do dia a dia que envolviam argumentos ou 
explicitações.
No período chamado de Idade Média a retórica foi usada como método de 
interpretação dos textos sagrados, seguindo a tradição platônica em Agostinho, 
e aristotélica em Tomás de Aquino. A apropriação desta arte no pensamento 
medieval cedeu devido à necessidade de impor e apresentar o meio de 
interpretação dos textos sagrados, visto que a comunidade estava imersa na 
visão de mundo do catolicismo. 
23
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Ao retomarem as ideias platônicas, os exegetas do período chamado 
primeira Idade Média, até o século IX, desenvolveram métodos e sugestões de 
interpretação fundados na ideia de convencimento alheio. Configura-se neste 
período uma grande ênfasena retórica argumentativa, que quer persuadir o outro 
sobre uma verdade que está sendo transmitida. 
Já os seguidores da tradição aristotélica desenvolveram uma retórica e uma 
oratória mais sofisticadas, com diferentes gêneros e estruturas formais. Tomás 
de Aquino desenvolveu todo o seu pensamento teológico utilizando o princípio da 
refutação de provas fundado por Aristóteles, bem como seguiu a divisão proposta 
por Aristóteles. 
Percebemos neste período que a retórica e a oratória encontram-se 
submersas em meio a toda a discussão teológica e o seu desenvolvimento 
ocorreu nos debates e pregações dentro das igrejas. 
Este processo, comumente chamado de adoção da retórica pela cristandade, 
remonta ao livro da criação, pois é no livro dos Gêneses, 2,17 que Deus faz uma 
pregação: “porque no dia em que comeres do fruto proibido certamente morrerás”, 
isso significa que também o Criador utilizou de argumentos retóricos para explicar 
a sua criação para suas criaturas. Assim, a retórica e a oratória, no período 
chamado de medieval, estão embebidas por conteúdos religiosos.
Verificamos pregações por todo esse período, desde Agostinho (354-430 
d.C.) até o século XV. Esse período é claramente marcado pela eloquência, fervor 
e tentativa de persuasão que resultou na expansão do modelo de religião por 
grande parte do mundo conhecido. Podemos atribuir a retórica da predicação 
a Agostinho e organização do Trivium, grupo de textos que deve ser lido para 
entender e discutir um assunto com propriedade, como constituintes da estrutura 
da retórica. Também os seguidores de Aristóteles desencadearam classificações 
e tipificações para os estudos bíblicos. A principal mudança que esses fizeram 
foi adaptar o princípio do verossímil transformando de uma possibilidade para 
uma verdade última e dogmas. Merece destaque o teólogo Isidoro (560-636), que 
dividiu a retórica em: exórdio, narração, argumentação e, por último, conclusão. 
Esta divisão didática da retórica serve para fins de entendimento da interpretação 
dos diferentes pensadores sobre o problema da separação das partes da retórica. 
Muitos são os autores que nesta época configuraram uma retórica cristã. 
O que podemos entender é que há uma imensa variedade de soluções para 
problemas teológicos apresentados durante a chamada Idade Média. Assim, 
percebemos que a adoção de princípios platônico-aristotélicos configurou por 
volta do século XIII a retórica comumente usada nos sermões. Essa nova oratória 
servia muito bem para convencer os corações dos fiéis e lhes trazer o conforto 
24
 Oratória e Retórica
religioso. Neste período se incluíram fábulas ou pequenas histórias durante o 
sermão para que os fiéis, geralmente leigos, pudessem compreender as escrituras 
de maneira mais viva e objetiva. 
A função desta formulação retórica pode ser resumida em três partes: 1) 
ler o texto; 2) discutir o texto; e 3) fazer uma pregação. Esta divisão serve até 
nossos dias para todos aqueles que frequentarem a disciplina de Oratória e 
Retórica em uma faculdade de Teologia. Os sermões mais elaborados ocorriam 
nas universidades medievais, mas nas igrejas, especialmente nos finais de 
semana, podíamos observar pregações com organização e estrutura retórica. Um 
exemplo é o estudo bíblico, em que se pode utilizar deste método retórico para se 
aprofundar no entendimento das camadas do texto. 
Neste sentido, a retórica clássica se expandiu na chamada Idade Média e 
configurou um imenso campo de discussão que outrora estava restrito à Grécia 
ou a Roma.
A serventia da retórica se justifica por três aspectos. Veja a seguir: 
1. Transmitir uma mensagem: nesta perspectiva a retórica serve aos 
indivíduos para podermos formular argumentos que expressam nossas 
ideias de modo que os demais consigam entendê-las.
2. Persuadir os interlocutores: neste quesito a retórica praticamente 
não se modificou desde Platão, em seu diálogo Górgias é que se 
encontra esta definição.
3. Finalidade: este aspecto pode ser encontrado em Aristóteles, que com 
sua classificação entendia que um discurso deve ter um propósito, um fim, 
portanto ela serve àquilo que tivermos como fim.
A retórica em nosso meio serve a diversas finalidades, mas nem sempre 
percebemos. Quando temos uma enfermidade e consultamos um médico, temos 
que convencê-lo, através de palavras e explicações, de que sofremos de uma 
moléstia. Caso nossa moléstia não seja aparente, então fica ainda mais difícil, 
pois ele precisa acreditar nos argumentos retóricos que nós propusemos para que 
continue a consulta e nos traga uma solução para a moléstia. 
Este exemplo deixa claro como a retórica e a oratória estão presentes em 
nosso meio sem ao menos percebermos, por isso sua finalidade vai além da 
produção e configuração de discursos, argumentos e debates. 
Se considerarmos a retórica como parte do nosso meio, perceberemos a 
importância do estudo e da dedicação a tal arte do bem falar, proporcionando aos 
interlocutores, e a nós, maior qualidade e eficácia na transmissão de ideias.
A serventia da 
retórica se justifica 
por três aspectos:
1. Transmitir uma 
mensagem.
2. Persuadir os 
interlocutores.
3. Finalidade.
25
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Se retomarmos o pensamento da retórica clássica, isto é, da Antiguidade, 
notaremos que quando organizamos um raciocínio, conforme aponta Aristóteles, 
estamos organizando também nossas próprias ideias, visto que, em geral, nós 
temos ideias desarticuladas, e é pelo exercício da retórica que conseguimos 
contrapor ideias e contribuímos para o método dialético que opõe verdades. Deste 
modo, retirarmos algo provisório para montarmos nosso raciocínio. 
Sob esta ótica, precisamos entender o que são silogismos. Aristóteles 
explica que silogismos retóricos e dialéticos são os que existem em nossa 
mente sob diferentes assuntos, contudo um silogismo organizado deve passar 
pelo crivo específico da razão, do contrário serão somente ideias desconexas. 
Os raciocínios silogísticos, antes de qualquer coisa, devem versar sobre algum 
assunto particular, distinguindo-se lugares, espécies, gêneros e formas. Para 
entendermos isto, precisamos saber quais são os gêneros da retórica, segundo 
Aristóteles. Este assunto é um dos constituintes mais importantes da arte retórica, 
de modo que os elementos que compõem o gênero retórico são: 1) O orador; 2) 
o assunto; 3) o ouvinte. Sem estes elementos não se faz a arte retórica, portanto 
o orador deve expor o seu discurso, precisa estar atento ao seu assunto, e os 
interlocutores precisam ouvir e, por conseguinte, saber distinguir as diversas 
finalidades de um discurso.
Características da Arte de Falar Bem
 
As características para desenvolvermos uma boa retórica e uma boa oratória 
podem ser resumidas em três aspectos fundamentais: 1) conteúdo do discurso; 2) 
forma do discurso; 3) objetivo do discurso.
 
• No primeiro elemento, denominado conteúdo do discurso, o orador 
deve estar atento à formulação retórica dos argumentos. Neste sentido, o 
conteúdo deve abranger aquilo a que ele se propõe e expor sem dificuldades 
e correções ou ambiguidades.
• A segunda característica é a forma do discurso, que deve deixar claro se 
os argumentos retóricos elencados pelo orador são narrativos, metafóricos, 
parábolas ou explicações científicas, como silogismos lógicos. Isto significa 
que antes de começarmos um discurso e expor a forma que iremos usar, 
pode ser falada qual é a forma ou durante a apresentação expor esta forma.
• A terceira característica de uma boa formulação retórica é o objetivo de um 
discurso. Devemos considerar para quem falamos e o que queremos falar 
sobre um determinado assunto para conseguirmos transmitir a mensagem a 
qual nos propomos.
26
 Oratória e Retórica
Dito isso,seguimos a esteira dos passos iniciais da retórica inaugurada pelos 
sofistas na Grécia antiga para entendermos como esse discurso persuasivo pode 
nos ajudar no cotidiano. É no pensamento sofístico que encontramos esboço 
de gramática, formas de prosa, tanto ornada como erudita. Segundo esses 
filósofos, não há transmissão da possibilidade da verdade em um debate, isto é, 
completamente contrário ao ideal socrático, que sempre está em busca de uma 
verdade. 
Esses pensadores desenvolveram características que a partir do Kairós, 
tempo oportuno, possibilitaram entender que uma discussão sempre está tentando 
evitar a fuga das coisas, ela se agarra à oportunidade de uma réplica, eis que há 
elementos substanciais para formulação posterior da retórica aristotélica. 
Os sofistas constituíram o fundamento da retórica ocidental, sob a ideia da 
controvérsia entre as diferentes verdades contrapostas nas discussões. O mundo 
desses filósofos sofistas não tem realidade objetiva, muito menos verdade, para 
eles a única coisa viável é o discurso, ou seja, a retórica. Neste sentido, dizer que 
um discurso é verdadeiro ou verossímil é só um artifício retórico para calar a boca 
de alguém.
 A retórica inaugurada pelos sofistas não está abaixo do saber, seu objetivo é 
o poder; em outras palavras, os sofistas como pedagogos podem ser entendidos 
como aqueles que ensinam “a governar bem suas casas e suas cidades” 
(REBOUL, 2004, p. 10). Isso significa que o que importa é servir o poder.
Sob esta perspectiva, podemos entender que a retórica satisfez à 
necessidade técnica jurídica, bem como a prova literária à filosofia e ao ensino na 
Grécia antiga. Isócrates, pensador grego, desenvolveu uma retórica que abrange 
esses aspectos mencionados. Em sua longa vida de 99 anos, Isócrates (436-
338 a.C.) libertou a retórica da sofística grega, ele contribuiu para desenvolver 
e ampliar as características da arte retórica. Após sofrer um processo fiscal que 
lhe custou a casa, tendo ele escrito sua própria defesa, resolveu publicar o texto 
intitulado “A troca”, foi assim que aos 80 anos de idade tornou-se um grande 
professor de retórica. 
Seu método de ensino partia da reflexão dos alunos, com os quais ele 
sentava e discutia as questões, corrigindo em conjunto os problemas de seus 
discursos e argumentos. Segundo ele, não são todas as pessoas que podem 
praticar a boa oratória, deve haver algumas condições para que o sujeito possa 
desenvolver esta arte. 
Para ele, é necessário aptidão natural, prática constante e ensino sistemático 
para que se configure um bom orador. Há uma clara discordância entre ele e os 
27
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
sofistas, pois para Isócrates não se pode criar um bom orador, apenas se pode 
aperfeiçoar alguém com aptidão para tal arte. De acordo com Reboul, Isócrates 
queria um modelo de retórica “sóbria, clara, precisa, isenta de termos raros, de 
neologismos, de metáforas brilhantes, de ritmos marcados, mas sutilmente bela e 
profundamente harmoniosa” (REBOUL, 2004, p. 11). 
Isso implica em diferenciar-se da postura sofista que era submissa ao poder 
e ignorava o saber. Isócrates afirma que a retórica deve seguir uma causa honesta 
e nobre. Para ele, as pessoas são livres para bem usar os artifícios retóricos, mas 
devemos estar preocupados com a formação moral e literária dos oradores para 
que estes não caiam no acaso, logo estaremos ensinando um estilo de vida e 
um modo de governar os excessos de nossa existência. Segundo ele, o que nos 
distingue dos animais é a palavra, e essa característica deve ser usada para o 
bom desenvolvimento entre os humanos. Neste sentido, é a língua e a cultura 
humana que podem nos fazer renunciar às guerras.
A retórica é um instrumento que se bem usado propicia ao orador uma 
condição de linguagem e arguição persuasiva frente aos seus interlocutores. 
O orador pode falar de virtudes, paixões e outros assuntos com qualidade e 
precisão, caso saiba estruturar o seu discurso. 
A razão de ser da retórica, que constitui uma das suas principais características, 
é justamente o fato de ela querer convencer alguém, logo, ela aborda elementos 
que são comuns e sobre os quais pesa mais de uma possibilidade. O orador deve 
saber formular silogismos, que são raciocínios lógicos, sobre as provas empíricas 
que ele escolher. Um bom silogismo deve conter premissas plausíveis, sendo que 
não pode haver confusão entre as partes descritas.
Um bom orador estabelece as características mais prováveis para um 
acontecimento, seu raciocínio sempre considera probabilidades e não descarta 
sob nenhum aspecto as possibilidades que existem. Ele deve considerar todas as 
situações viáveis, e por eliminação e contradição, sustentar aquela que melhor se 
constituir como elemento fundamental e demonstrável.
Para entendermos como se configurou a retórica moderna, devemos 
entender como se deu o processo de assimilação durante o período medieval, 
pois este período herdou todo o modo de argumentar da Antiguidade Clássica. De 
acordo com Costa (2008):
Diretamente herdeira da Retórica clássica, a Retórica medieval 
desenvolveu seu manancial a partir basicamente de três fontes: 
a Retórica a Herênio, a Doutrina oratória (Institutio oratória, de 
Quintiliano [35-95]) e a tradição cristã (desde São Jerônimo 
[340-420] até Santo Agostinho [354-430]). 
28
 Oratória e Retórica
Um dos manuais de Retórica mais estimados na Idade Média 
foi a Retórica a Herênio (Rethorica ad Herennium), texto então 
atribuído a Cícero (106-43 a.C.), mas, na verdade, de autor 
desconhecido. Escrito no século I antes de Cristo, em meio à 
crise da República romana, o tratado não deixava de destacar as 
técnicas para se obter a docilidade e a benevolência dos ouvintes 
– como é típico dos tópicos da Retórica –, mas as fundamentava 
no conceito de justiça e, especialmente, na diferença entre o 
bem e o mal, como se depreende nessa passagem:
Convém que todo o discurso daqueles que sustentam um 
parecer tenha a utilidade como meta, de modo que o plano 
inteiro de seu discurso venha a contemplá-la. No debate político 
a utilidade divide-se em duas partes: a segura e a honesta [...] 
A matéria honesta divide-se em reto e louvável. Reto é o que 
se faz com virtude e dever. Subdivide-se em prudência, justiça, 
coragem e modéstia. Prudência é a destreza que pode, com 
certo método, discernir o bem e o mal [...].
Esse sólido alicerce ético exposto na Retórica a Herênio tem, 
por sua vez, raiz em Aristóteles (384-322 a.C.). Em sua Retórica, 
o Estagirita sustentou as bases filosóficas da virtude, da justiça, 
do bem e da verdade como alicerces da verdadeira Retórica: 
[...] os homens têm uma inclinação natural para a verdade e a 
maior parte das vezes alcançam-na. E, por isso, ser capaz de 
discernir sobre o plausível é ser igualmente capaz de discernir 
sobre a verdade. [...] Mas a retórica é útil porque a verdade e a 
justiça são por natureza mais fortes que os seus contrários. De 
sorte que se os juízos se não fizerem como convém, a verdade e 
a justiça serão necessariamente vencidas pelos seus contrários, 
e isso é digno de censura (COSTA, 2008, p. 31).
 
Essa assimilação da retórica no período medieval permitiu que ela fosse 
adotada para o âmbito religioso. As exegeses e sermões começaram a conter 
elementos da forma grega de argumentar. Depois de algum tempo já havia 
sistemas estruturados de interpretação dos textos que permitiam análises e 
explicações detalhadas das escrituras sagradas. 
Um bom argumento deve conter raciocínios irrefutáveis, pois, do contrário, 
não chegaremos a uma conclusão viável. 
Entre as características da retórica, gostaríamos de fazer uma pequena 
distinção entre a função teológica e a função filosófica da retórica. Para a filosofia, 
a retórica deve elucidar argumentosfilosóficos e o conteúdo de seus conceitos, 
permitindo ao público e ao estudante desta arte uma compreensão clara e distinta 
acerca dos problemas da filosofia. 
Na filosofia, a arte da persuasão deve servir à elucidação dos grandes 
problemas teóricos e para exposição de argumentos para formular um debate 
entre diferentes ideais. Os primeiros manuais de retórica publicados por Córax e 
Tísias, por volta do século V a.C., formularam os elementos para tais exposições. 
Já Górgias (483-380 a.C.) valorizou o significado da palavra como fundadora, 
pois para este é a palavra que comanda um exército, faz um porto ou determina 
29
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
a natureza de um Estado. Durante este período, inúmeras caracterizações 
diferenciaram a retórica, mas em geral todas concordam que uma boa retórica 
proporcionará uma possibilidade de se formar um orador. Neste sentido, 
distinguimos a característica da retórica de formular discursos da oratória que 
definimos pela arte de se expressar em público. 
Na teologia a retórica e a oratória assumiram características de eloquência 
nos sermões e nos debates teológicos. Destacamos que os principais motivos 
desta formulação remetem à tentativa de converter os infiéis e produzir uma 
interpretação bíblica.
De modo resumido, podemos dizer que os modos de persuasão ajudam os 
indivíduos em um debate para que estes possam formular pela retórica e expor 
pela oratória as suas verdades. Se na Idade Média o Trivium e o Quadrivium 
eram as constituintes da formação humana, na Modernidade percebemos uma 
pulverização destas artes e uma constante divisão que gerou uma técnica distinta 
do conteúdo da retórica. 
Os significados de Trivium e Quadrivium são, respectivamente: 
Os três caminhos que levam ao homem a eloquência: 1) gramática; 
2) retórica; 3) lógica; Quadrivium: Os quatro caminhos para a 
sabedoria do homem, que são: 1) aritmética; 2) música; 3) geometria; 
4) astronomia.
Neste sentido, se na Antiguidade e na Idade Média, retórica e oratória se 
articulavam e completavam-se formando uma área de saber, na Idade Moderna 
ocorreu o processo de tecnificação, que resultou em uma retórica específica para 
profissão. 
Embora a Retórica de Aristóteles tenha sido pouco lida, o fato é 
que a tradição grega contrária aos sofistas elevou a Retórica à 
categoria de valor. Mesmo Platão (c. 429-347 a.C.), tão avesso 
à Retórica em sua República ideal, fez Sócrates afirmar que ela, 
para deixar de ser uma adulação, deveria estar a serviço da 
filosofia da educação, como “arte de guiar a alma por meio de 
raciocínios (Fedro, 261a) para se chegar à verdade, à justiça e ao 
bem”. Assim, desde a filosofia de Platão, a verdadeira finalidade 
da Retórica não deveria ser o ato de agradar aos homens, como 
defendiam os sofistas, mas agradar a Deus (Fedro, 273e). 
30
 Oratória e Retórica
Em outras palavras, a tradição clássica grega legou aos 
romanos a noção de que a verdadeira Retórica deveria estar 
a serviço da ética, e que o verdadeiro estadista e o verdadeiro 
retórico deveriam escolher bem suas palavras e praticar suas 
ações com o intuito de infundir a justiça nas almas dos cidadãos, 
fazendo com que neles reinassem a prudência, a moderação, e, 
sobretudo, desaparecesse o destempero: todas as energias do 
Estado e do indivíduo deveriam, portanto, dedicar-se à busca 
do bem, não à satisfação dos desejos. Esses pressupostos 
estão muito presentes em Quintiliano, afamadíssimo professor 
de Retórica do primeiro século de nossa era. Ao escrever 
sua obra-prima em 95 d.C., a Doutrina oratória, este romano-
espanhol de Calahorra não teve qualquer receio em seguir a 
tradição de Catão (234-149 a.C.) e definir, em seu Livro XII, 
o orador ideal como um homem perito na arte do bem dizer, 
mas, sobretudo, um homem bom (“vir bonus, dicendi peritus”), 
particularmente por seus costumes. Todo esse manancial ético 
clássico que norteou a Retórica foi generosamente sorvido 
pela tradição cristã, especialmente através de São Jerônimo 
(c. 340-420) e Santo Agostinho (354-430), que a retransmitiram 
aos medievais (Jerônimo através de suas cartas e Agostinho 
em suas Confissões). Isidoro de Sevilha (560-636), por fim, 
fortaleceu a ponte entre os dois mundos, e dedicou um livro de 
suas Etimologias (Livro II) à Retórica e à Dialética. Nele, o bispo 
realizou uma importante compilação de excertos e circunscreveu 
a Retórica ao discurso forense, sem, contudo, abandonar seu 
cariz ético: “Retórica é a ciência do bem dizer nos assuntos 
civis, com a eloquência própria para persuadir o justo e o bom”. 
Sua obra foi muito difundida e consultada ao longo de toda a 
Idade Média. A partir de então, o estudo da Retórica ficou 
restrito ao universo monástico, ou seja, tanto educandos quanto 
educadores, salvo raríssimas exceções, não a colocavam em 
prática. Isso só ocorreria a partir do século XI, quando a Retórica 
passou a ser utilizada na composição de cartas e documentos, e 
tornou-se uma epistolografia: era o nascimento da ars dictaminis 
(ou dictandi). E foi dessa época a defesa acadêmica da Retórica 
feita por Gilberto de la Porrée e João de Salisbury contra os 
cornificianos (COSTA, 2008, p. 32).
Essa fragmentação da retórica após o século XVII (Idade Moderna), 
conforme aponta Reboul (2004), Introdução à Retórica, praticamente fez 
desaparecer do meio acadêmico a disciplina de Retórica. Depois da metade do 
século XX a retórica se recuperou gradativamente, mas o processo começou pelo 
âmbito do marketing. Aos poucos, e de fora para dentro, o debate sobre a retórica 
recomeçou, e em nossos dias já temos algumas instituições de Ensino Superior 
que retomaram essa disciplina, contudo no ensino básico simplesmente se ignora 
o papel da retórica e da oratória.
Retórica e Oratória em Nosso Meio
Passamos agora a discutir um pouco o problema da retórica em nosso 
meio para entendermos que ela não é uma coisa distante e sem sentido, que foi 
esquecida por ser sem utilidade. Para Duran (2009, p. 9):
31
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Três autores estiveram diretamente empenhados no estudo 
da retórica e da eloquência no Brasil do século XIX: Roberto 
de Oliveira Brandão, com seus estudos sobre os manuais de 
retórica e poética brasileiros do século XIX (1972), Roberto 
Acízelo de Souza, com o livro O Império da Eloquência: Retórica 
e Poética no Brasil Oitocentista (1999), e Eduardo Vieira 
Martins, com a Fonte subterrânea (2005). Roberto de Oliveira 
Brandão selecionou os manuais e compêndios de retórica e 
poética, publicados ao longo do século XIX, como seus objetos 
de estudo. Sua preocupação foi definir qual estrutura textual se 
oferecia nesses livros para a literatura nacional. Em trabalhos 
posteriores, como no texto Os manuais de retórica brasileiros 
do século XIX (1988), o autor apresentou avanços acerca dessa 
temática, abordando a função e a permanência da retórica e da 
eloquência na educação nacional. Roberto Acízelo de Souza, 
por sua vez, estudou a retórica e a poética por meio dos planos 
de ensino da segunda metade do século XIX no Colégio Pedro 
II. Souza esforçou-se ainda por comprovar a continuidade do 
uso da disciplina no cotidiano do carioca letrado, tendo em vista 
algumas orações da época e as práticas educativas de então. 
Eduardo Vieira Martins delimitou seus estudos à mudança 
estrutural da disciplina que, em meados de 1830, deixou de ter 
as obras de Quintiliano ou Cicero como referência e passou a 
ser balizada pelas regras forjadas por Hugh Blair. A permanência 
da retórica e da eloquência na cultura brasileira também foi 
abordada nesta pesquisa, a partir das obras de Francisco Freire 
de Carvalho e José de Alencar. Em seus trabalhos, esses três 
autores referiram-se à segunda metade do séculoXIX, quando 
a disciplina já possuía certa uniformidade. Entre suas fontes 
se pode encontrar manuais, compêndios, planos de ensino, 
registros de aulas, decisões e ordens do Estado brasileiro, fontes 
que lhes serviram como referência para localizar a contribuição 
que a retórica e a eloquência forneceram à educação. Quanto 
à formação de um discurso brasileiro, senão de uma literatura 
nacional, um deles recorreu a um literato da época, José de 
Alencar, enquanto os demais mantiveram-se atentos à produção 
de uma literatura didática ou pedagógica. Excetuando a distinção 
de gênero, pode-se afirmar que ambas possuíam uma unidade 
prescritiva de caráter edificante.
 
Neste aspecto, pensar a retórica em nossas terras é importante para 
sabermos como o processo de esquecimento da disciplina no meio acadêmico 
se manifestou, ficando à literatura o papel de preservar sua existência de modo 
a garantir uma continuidade da arte de falar em nosso meio. Em alguns lugares 
do país foram os jornais e os folhetos que preservaram esta arte de construir e 
defender argumentos. 
A longevidade da retórica e da eloquência na cultura local foi 
garantida por meio dos periódicos cariocas que, a partir de 
1822, tornaram-se cada vez mais numerosos e empenhados em 
“arrogar no coração do povo aquele bem entendido e luminoso 
entusiasmo, aquela zelosa energia, que constituem verdadeiro 
mérito moral e político e acrisola decidido patriotismo” (JORNAL 
SCIENTÍFICO, ECONOMICO E LITERÁRIO, 1826, NÚMERO 
1: MAIO, p. 81). Regrada pela retórica, a comunicação dos 
cariocas do primeiro quartel do século XIX modelou uma 
32
 Oratória e Retórica
eloquência que gradativamente ganhou ares de naturalidade e 
forneceu todo um universo vocabular, formal e temático para a 
invenção de uma literatura nacional e, paralelamente, de uma 
identidade brasileira (DURAN, 2009, p. 9).
Os jesuítas contribuíram de modo muito importante sobre a preservação 
e difusão da arte retórica, sobretudo no meio religioso. Seus textos exegéticos 
foram fundamentais para que as vertentes de retórica e oratória se espalhassem 
no meio literário brasileiro.
Foi publicado, em 23 de dezembro de 1770, o Compêndio 
histórico do Estado da Universidade de Coimbra no tempo da 
Invasão dos denominados jesuítas, no Palácio Nossa Senhora 
da Ajuda, em Lisboa. O opúsculo dava notícia de aspectos do 
método de ensino dos jesuítas durante o século XVIII nos cursos 
de Teologia, Cânones, Leis e Medicina da Universidade de 
Coimbra, apresentando as matérias conforme a sucessão das 
aulas durante a semana. Prima, Terça e Véspera eram aulas 
permanentes que aconteciam, respectivamente, às segundas, 
terças e quartas-feiras, certamente muito importantes, a julgar 
pelo maior honorário pago aos mestres. As quintas-feiras 
eram livres, como na França, e os domingos, reservados para 
o descanso e a missa. Um dia por semana servia para que o 
aluno estudasse por si mesmo os temas nos quais encontrasse 
dificuldades, geralmente as sextas-feiras, quando se realizava 
a Noa. Nas Catedrilhas, Institutas ou Avicena, que se seguiam 
irregularmente durante a semana, realizava-se a revisão dos 
temas já estudados ou a leitura dos textos das próximas aulas 
de Prima, Terça ou Véspera. Dedicadas a rememorar os temas 
já discutidos, tanto a Noa quanto as Catedrilhas eram aulas de 
passar a matéria, e o mestre dessas disciplinas ficou conhecido 
como passante. O passante era, na maioria dos casos, um aluno 
que se destacava dos demais por seu brilhantismo e eficiência, 
ou, ainda, um jovem recém-formado com as mesmas qualidades. 
Além do passante, havia o lente, um tipo de mestre responsável 
pela leitura dos livros do curso realizada nas aulas de Véspera, 
antecedendo a explicação do mestre titular da cadeira nas aulas 
de Prima e Terça. A relevância dos lentes e passantes estava 
no estabelecimento de um exercício contínuo de memorização 
da matéria, pois a intenção era que os estudantes chegassem 
a decorar os textos de maior importância, fato que, num mundo 
de poucos impressos, era um traço distintivo de inteligência. 
Em todas as matérias o estudo era guiado por uma obra de 
referência, impreterivelmente em latim. A predominância do 
latim justificava-se porque os textos escritos ou traduzidos nessa 
língua eram considerados os mais importantes e aprofundados. 
Soma-se a isso a crença de que o estudo da obra original, das 
ideias tais como foram escritas pelo seu primeiro autor, tinha 
maior mérito, por constituírem um conhecimento puro, capaz de 
sustentar um saber genuíno (DURAN, 2009, p. 15).
 
Além desse caráter de decorar um assunto, o ensinamento de um argumento 
possibilita aos indivíduos uma capacidade de memorização que os distingue dos 
demais, visto que há poucos textos escritos nessa época e a eloquência com que se 
elencava um argumento fazia toda a diferença quando se queria convencer alguém. 
33
Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Segundo Duran (2009), para alguns pensadores do final do século XVIII não 
era mais possível seguir sem a disciplina de retórica em nossos bancos escolares, 
e propuseram uma reforma no sistema de ensino para permitir aos estudantes 
uma maior polidez e qualidade em suas ideias.
No sistema criado por Verney, as matérias História, Geografia 
e Gramática deveriam ser acompanhadas da Retórica, depois 
disso, Grego e mais História deveriam ser as matérias dos 
anos subsequentes. A Retórica alinhavava esses saberes, 
disponibilizando diversos tipos de discurso com os quais 
poder-se-iam expressar opiniões acerca das matérias 
estudadas. [O mestre de Retórica] Logo mandará compor 
alguma coisa em Português, começando por assuntos breves 
nos três gêneros de Eloquência. Começará, primeiro, pelas 
cartas portuguesas, dando somente aos rapazes o argumento 
delas, e emendando-lhe ao depois os defeitos que pode fazer 
contra a sua própria língua e contra a Gramática. E por esta 
razão é supérfluo neste ano ler mais autores portugueses, 
porque esta composição é o melhor estudo que se pode fazer 
da língua portuguesa. Depois, passará ao estilo histórico, e 
tirará algum argumento da mesma História que se explica pela 
manhã, para que os estudantes a dilatem, escrevendo o dito 
caso mui circunstanciado, e variando isto segundo o arbítrio 
do Mestre, ou também a descrição de um lugar e de uma 
pessoa, ou coisa semelhante. Em terceiro, lugar, segue-se dar-
lhe algum argumento declamatório, mas breve. Para facilitar 
isto, o melhor meio é este: Quando o mestre propõe algum 
argumento que se deve provar, perguntará ao rapaz que razões 
ele dá sobre aquele ponto. Ouça as que ele dá, e ajude-o a 
produzi-las, pois desta sorte acostuma-se a responder de 
repente e escrever com facilidade (VERNEY, 1952, p. 63). 
Para Verney, o exercício repetido da comunicação era propício 
para incrementar a agilidade e autonomia do pensamento do 
discípulo. Esse, agora, não era mais um escolhido entre os 
iniciados e sua fala não se destinava somente aos grandes, 
nem deveria seguir os padrões de apenas um único modelo; 
por isso, estudariam os discursos deliberativo, demonstrativo 
e judicial, e [...] quando o estudante tiver bastante notícia dos 
três gêneros de Eloquência, em tal caso pode empregar-se em 
compor Latim, e isto pelo mesmo método que o fez em Vulgar. 
Nesta composição latina, não terá dificuldade alguma, visto ter 
vencido todas na composição portuguesa; somente lhe faltarão 
as palavras latinas e frases particulares da língua, ao que deve 
acudir e suprir o Mestre, emendando-as ou sugerindo-as. 
Encomende também aos rapazes que leiam muito as orações 
de Cícero; não digo as Verrinas, que são enfadonhas e só se 
podem ler salteadas, mas as outras mais fáceis e breves, das 
quais com facilidade se passa para as outras. E esta classe é 
necessárioque frequentem todos os que estudam Latinidade; 
porque, sem ela, nenhum pode entender e escrever bem 
Latim; e com ela pode saber muita coisa útil para todos os 
exercícios da vida, e, principalmente, para toda a sorte de 
estudos (VERNEY, 1952 apud DURAN, 2009, p. 15). 
O retorno da retórica aos âmbitos escolares como disciplina parece 
fundamental para que os indivíduos pudessem se expressar sem as amarras 
da linguagem embotada em elementos físicos e materiais. Com a retomada 
34
 Oratória e Retórica
da retórica temos também o retorno de figuras de linguagem, comparações e 
estruturas mais rebuscadas. 
Platão e Aristóteles
Segundo Platão, a retórica se caracteriza pela capacidade de persuasão dos 
interlocutores, essa capacidade nos traz a atualidade do diálogo em Górgias de 
Platão acerca de uma educação retórica. Embora estejamos enfeitiçados pela 
tecnologia, quando encontramos alguém que sabe se expressar muito bem, 
percebemos quão importante é saber falar e organizar as ideias. 
No diálogo Górgias, Calicles e Sócrates iniciam a discussão 
sobre alguns conceitos antigos sobre a guerra, e ao incorporarem 
Querefonte na discussão, Calicles propõe ouvirmos o que Górgias 
pensa sobre o ato de dialogar. Neste sentido, Sócrates apresenta o 
problema do que seria esta arte de argumentar, convidando todos ali 
presentes a perguntar algo e a se manifestar. Górgias se dispõe a 
responder todas as perguntas, gabando-se de que ninguém havia o 
pego desprevenido.
Em determinado momento do diálogo, Sócrates inquire Górgias para que 
este explique de que se trata sua arte e quais as consequências desta, pois 
para Sócrates existe uma diferença entre oratória e diálogo, sendo a oratória 
instrumento dos falaciosos. Segundo Górgias, “me prezo de ser” um bom orador 
(PLATÃO, 1970, p. 52). Ao se considerar como tal, Górgias assume que é 
capaz de formar bons oradores em qualquer parte do mundo. Na sequência do 
diálogo, Sócrates pede para que Górgias exponha sua arte de maneira clara e 
concisa. Górgias concorda em expor esta oratória de que tanto se fala e compara 
concordando com Sócrates, com a tecelagem e a música.
 Ao responder a Sócrates, Górgias afirma que sua arte consiste em organizar e 
dispor palavras de modo a formular belos discursos e a distingue das demais artes, 
por exemplo, a medicina, pois a oratória não trata de todas as palavras. Segundo 
Górgias, seguindo Sócrates a oratória capacita as pessoas e as torna capaz de falar 
bem. E aparece assim a primeira contradição de Górgias, que dissera há pouco, no 
diálogo com Sócrates, que a oratória não tem nada a ver com a medicina, mas agora, 
quando Sócrates reformula a questão, Górgias concorda que a medicina reflete sobre 
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Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
as doenças e, por conseguinte, usa a palavra. Ao falarmos de moléstias, segundo 
Sócrates, utilizamos palavras, também faz uso de palavras a ginástica que se refere 
ao corpo, logo concluímos que, seguindo o raciocínio socrático, todas as demais artes 
utilizam palavras para se expressar, e surge a principal questão até o momento: “por 
que não dar o nome de oratória às demais artes?” (PLATÃO, 1970, p. 54). A resposta 
de Górgias é que as demais artes trabalham com as mãos, enquanto a oratória é 
a arte da palavra, isto é, “sua atividade e operação se realizam todas por meio de 
palavras” (PLATÃO, 1970, p. 54).
Na sequência do diálogo a discussão se encaminha para artes que usam 
as palavras, sendo que a oratória não abarca estas atividades. Neste sentido 
podemos ainda falar da geometria e da aritmética, que usam termos, palavras 
e sinais na escrita, mas em nenhum momento se expressam, sendo que a estas 
também não chamamos de oratória, logo, a oratória é a mais importante das 
atividades e que opera por meio de palavras.
Devemos questionar agora se a oratória possui realmente este poder de 
persuasão defendido por Platão na obra que estamos utilizando para aplicar o 
debate. Para Górgias, a palavra é uma das formas que pode congregar cidadãos 
e colocar todos os demais que não dominam esta arte sob seus pés. É a arte 
retórica, do uso das palavras, que pode convencer as massas. “Com ênfase 
exalta Górgias a sua arte! Na apologia, Sócrates conta como saíra a interrogar 
os homens que passavam por sábios: políticos, poetas, artífices; cada qual por 
entender bem de sua especialidade se imaginava sapientíssimo nos demais 
domínios” (PLATÃO, 1970, p. 59). Aqui a palavra massa não tem nenhuma 
referência moderna. É uma referência à assembleia grega. 
Neste sentido, a retórica é um modo de persuasão que cria convicções nos 
interlocutores. Queremos saber agora em que consiste esta arte da persuasão. 
A persuasão, que é uma consequência da oratória, é o convencimento por meio 
de bons argumentos retóricos e o bom uso da oratória. No diálogo, Sócrates quer 
saber como distinguir um bom pintor de um pintor ruim, e mais, se a arte pode 
produzir uma persuasão parecida ou igual à da retórica. Antes de continuar esta 
reflexão sobre a persuasão, precisamos explicar que existe uma diferença entre 
persuasão didática e persuasão patética. A didática se refere ao convencimento 
do intelecto, enquanto a patética indica um convencimento mediante as emoções. 
Seguindo a linha de raciocínio de Sócrates no diálogo com Górgias, 
entendemos que outras artes também produzem o convencimento, cabe agora 
sabermos que tipo de convencimento a retórica produz. Para responder a isso, 
Górgias diz que a persuasão produzida pela oratória é aquela que se refere ao 
justo e ao injusto.
Percebemos que a oratória referida por Górgias é aquela jurídica e que está 
restrita aos tribunais. Sócrates distingue dois tipos de persuasão: 1) a crença sem 
36
 Oratória e Retórica
o saber; e 2) a ciência, logo conclui-se que o orador fala da crença e não da 
ciência, visto que no tribunal ele não expõe o que é justo e injusto, simplesmente 
quer convencer os interlocutores. 
Neste sentido devemos indagar, assim como Sócrates indagou Górgias: 
que proveito há em estudar esta arte retórica? A resposta a esta pergunta é a 
seguinte: quando queremos uma resposta e desejamos a cura de um paciente, 
procuramos um profissional médico, quando queremos falar bem, procuramos 
um especialista em oratória. Assim, quem aprende uma habilidade como esta, ou 
seja, a arte retórica, está habilitado a discutir com qualquer pessoa, pois domina 
os conceitos. Deste modo, cabe ao sujeito que aprendeu esta arte fazer uso dela 
para o bem da polis. 
Até agora a exposição da arte retórica e o modelo de oratória em Platão 
situaram o problema da qualidade e da objetividade de um discurso, de modo 
a permitir que o estudante entenda a retórica como uma forma de construção 
de argumentos e a retórica como um modo de persuasão dos interlocutores. O 
diálogo platônico Górgias trouxe a discussão para o patamar da escolha individual 
de cada indivíduo, assim, é o sujeito quem escolhe entre falar a verdade ou 
convencer a todo custo.
Seguindo o diálogo platônico, Sócrates retoma a questão que propusera 
acerca da capacidade de se fazer um orador. Nesta perspectiva, Górgias 
concorda em retomar o problema e reconsiderar sua posição. O diálogo se inclina 
agora para a discussão da capacidade das demais artes de debater um tema 
com a mesma eloquência de um orador. Neste aspecto, Sócrates pede a Górgias 
que exponha mais detalhadamente o que vem a ser a oratória. Górgias concorda 
seguindo em tudo o que Sócrates diz a respeito do conhecimento de um orador. 
Concluindo este raciocínio, Sócrates e Górgias concordam que a oratória é um 
tipo de arte injusta.
No pensamento platônico, o debate acerca da retórica e da 
oratória remete ao diálogo Górgias apontando na direção estética 
e literária. “Nascido por volta do ano 485 a.C.,Górgias viveu 109 
anos, sobrevivendo, pois, a Sócrates. Também siciliano e discípulo 
de Empédocles, em 427 a.C. foi para Atenas numa embaixada, 
diz-se que ali sua eloquência encantou os atenienses a tal ponto 
que ele teve de prometer-lhes que voltaria” (REBOUL, 2004, p. 4). 
Percebemos aqui como a arte retórica ganhou força a partir dos 
textos e argumentações neste período citado. Até então, na Grécia, 
literatura e poesia eram consideradas idênticas. Por sua vez, a prosa 
procurava organizar e transcrever a linguagem oral.
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Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
Górgias criou o discurso epidictieo, que significa um elogio público, também 
desenvolveu uma prosa eloquente que, com suas rimas, metáforas e perífrases, 
formula um modelo que captura os espectadores. Citamos um exemplo de tamanha 
eloquência: o Elogio de Helena, que era uma mulher perfeita, bela, esposa de 
Menelau, que permitiu ser capturada por Páris, lançando os gregos em uma guerra 
de uma década. Górgias expõe a beleza de Helena em um discurso proferido ao 
público na época da guerra, no texto Górgias dá as justificativas pelas quais Helena 
permitiu ser raptada. Dentre elas, destacamos algumas: foi um decreto dos deuses, 
ou foi o destino; teria ela sido levada à força? Ou convencida por belas palavras? E, 
ainda, o desejo a teria dominado a ponto de se juntar aos troianos?
Para Górgias, Helena foi convencida pela arguição de um belo discurso, e 
como tal não é culpada. Górgias defende Helena como pretexto para defender 
a retórica. “O discurso é um tirano poderosíssimo; esse elemento de pequenez 
extrema e totalmente invisível alça à plenitude as obras divinas: porque a palavra 
pode pôr fim ao medo, disse para a tristeza estimular a alegria, aumentar a 
piedade (GÓRGIAS apud REBOUL, 2004, p. 5). 
Para Górgias, Helena é inocente, pois ela não pode ter decidido livremente 
juntar-se aos troianos, logo, para Górgias, a argumentação sofística de que um 
ato involuntário não implica em culpa. Assim, a arte retórica expressa na oratória 
de Górgias passou a ser chamada de sofista. 
Eis aí um dos momentos marcantes da retórica antiga, pois surge a figura 
do professor que viaja de cidade em cidade vendendo sua eloquência e sua 
arte de convencimento. Inaugura-se neste período um modo de educação 
intelectual profundo que não tem a ver com uma profissão ou religião, pois era o 
conhecimento pelo conhecimento; em outras palavras, Górgias deu à retórica a 
capacidade de falar do belo. 
Além do debate entre Platão e Górgias protagonizado por Sócrates e seus 
interlocutores, temos outros pré-socráticos que desenvolveram a retórica como a 
arte de argumentar. Destacamos a figura de Protágoras de Abdera (486-410 a.C.) 
como um destes representantes, que, além de defender o agnosticismo, formulou 
a famosa máxima retórica em relação à moral: “o homem é a medida de todas 
as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são”. No 
que se refere aos seres sagrados ou deuses, Protágoras formulou: “quanto aos 
deuses, não estou em condição de saber se existem ou não existem, nem mesmo 
o que são” (REBOUL, 2004, p. 7). Este pensamento retórico lhe custou a pena de 
morte, mas como tinha medo da morte, fugiu. 
Quanto à oratória e à retórica, a principal preocupação de Protágoras era 
com os substantivos, suas formas e variações. Também desenvolveu uma nova 
gramática e fundou a erística, que significa a contraposição de ideias, resultando, 
tempos depois, na dialética. Por éris Protágoras entendeu que uma boa discussão 
38
 Oratória e Retórica
deve conter ideias contraditórias, visto que em grego a palavra erística vem de 
éris, que significa controversa. Desta maneira, segundo Protágoras, qualquer 
argumento pode ser refutado ou sustentando, eis que esta é a condição da técnica 
erística, ou seja, os modos e formas para vencer um debate. A discussão e a 
controvérsia, mediante o uso da retórica e da oratória, é que conferem a condição 
de um debate. 
Estas características que elencamos até agora representam a propedêutica 
ou preparação para iniciar a discussão acerca do fundamento da retórica e da 
oratória. Em Aristóteles, a retórica se configura em diálogo com a dialética. Neste 
sentido, ela aparece com diferentes aspectos de estrutura e significado. 
No pensamento retórico aristotélico há uma distinção entre saber como arte 
e conhecimento como ciência. No desenvolvimento da retórica, desde Aristóteles 
até nossos dias, ocorreu uma transformação desta que passou da arte persuasiva 
para uma hermenêutica interpretativa.
Retomamos o cuidado com o significado da retórica e da oratória em nossos 
tempos. Em Aristóteles, a retórica não é simplesmente persuadir ou convencer os 
outros, ela é também fruto da experiência de vários oradores que desenvolvem 
técnicas para melhorar e exercitar esta arte. A tradição grega, desde Homero, sempre 
se preocupou em formular bons argumentos retóricos e excelentes oradores, assim, 
além de agir heroicamente, as personagens gregas deviam falar bem.
Inúmeros são os exemplos na história grega que relatam estes 
acontecimentos. Todo o processo de transformação da oratória grega passa 
basicamente por Platão, Isócrates e Aristóteles, chegando às legiões romanas 
através de Cícero, que, com seus discursos e pronunciamentos no Senado 
Romano, imortalizou a retórica no meio latino. De acordo com Lausberg (1960), 
nunca houve um sistema retórico clássico, isso implica na necessidade de 
estarmos atentos ao modo como cada um dos indivíduos e pensadores organizou 
as ideias acerca da arte retórica e da oratória.
Para explicarmos de maneira resumida as definições de retórica, elencaremos 
algumas que facilitam o nosso entendimento, mas todas essas definições 
concordam em um ponto: a retórica possui fins persuasivos.
a) A definição de Córax, Tisias, Górgias, Platão: segundo estes, a 
retórica é geradora de persuasão. 
b) Aristóteles: é capaz de descobrir as formas de persuasão sobre um 
assunto.
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Introdução ao Estudo da Retórica e Oratória Capítulo 1 
c) Hermágoras: é a forma de bem falar no que tange aos assuntos 
públicos.
d) Quintiliano, retóricos estoicos, que significa a ciência de falar bem.
Essas definições partem do princípio de que retórica é um corpo 
de conhecimento ou método para se expressar bem; assim como 
pensamos a retórica, devemos levar em conta os seus usos. No que 
tange à finalidade de um discurso, não há muita diferença entre o 
âmbito teórico e prático da eloquência.
Queremos deixar claro que retórica e oratória são formas de 
comunicação que compartilham técnicas, mas se distinguem enquanto 
execução. À retórica cabe a elaboração e à oratória a apresentação de 
um argumento. Desta maneira, a formulação e a exposição caminham 
juntas.
Passamos agora ao entendimento de retórica segundo Aristóteles, que 
escreveu em seu livro Retórica sobre os fins persuasivos desta arte, e no livro 
Poética defende a evocação imaginária para discursos poéticos e literários. Faz, 
assim, uma distinção fundamental entre o caráter retórico e o poético. 
Percebemos aqui uma severa crítica de Aristóteles para os seus antecessores, 
que mantinham unidas dimensões tão distintas. A novidade apresentada por 
Aristóteles é a presença do argumento lógico, logo, há uma relação entre prova, 
raciocínio, silogismo e argumentação persuasiva. Este método serve tanto às 
ciências empíricas quanto à filosofia, e, além disso, pode ser usado também para 
interpretar textos.
Aristóteles dividiu a retórica em sete partes: 1) A distinção de 
duas categorias formais de persuasão: provas técnicas e não 
técnicas; 2) Identificação de três meios de prova [...]: a lógica 
do assunto, o caráter do orador e a emoção dos ouvintes; 3) 
A distinção de três espécies de retórica:

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