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CA ínno o Sistema Nervoso dos Mamíferos: Estrutura e Funções Superiores Nossos cérebros podem ficar cheios? Uma famosa tira da série "Far Side" de Gary Larson mostra uma sala de aula em que um estudante de ca- beça evidentemente pequena levanta a mão e diz ao professor: "Sr Anderson, o senhor pode me dar licen- ça? Meu cérebro está cheio". Essa cena despreocupa- da sugere reflexões mais profundas: Ou ai a capacidade do cérebro humano? Essa capacidade é limitada pelo tamanho do cérebro? Pelo número de sinapses ou de neurônios? Cientistas já acreditavam há bastante tempo que nascemos com um número determinado de neurô- nios, perdidos de forma constante ao longo da vida, sem adquirir novos. As evidências pareciam claras: no cérebro adulto não eram encontrados neurônios com estruturas mitóticas que indicassem divisão ce- lular tampouco neurônios em diferentes estágios de maturação. Além disso, é difícil de imaginar como um neurônio, com suas muitas e complexas conexões, poderia ser inserido em um cérebro já adulto. A nossa capacidade vitalícia de aprender era explicada com base exclusivamente na formação e no fortalecimento de sinapses. Contudo, uma das mais excitantes descobertas re- centes da neurobiologia é que novos neurônios são for- mados no cérebro adulto de aves e mamíferos, e que a formação desses novos neurônios parece ser estimula- da pelas experiências e pelo aprendizado. O surgimen- to de novos neurônios foi observado pela primeira vez quando camundongos adultos receberam uma injeção de timidina radioativamente marcada, que se incorpora ao novo ONA quando as células se dividem. Foi uma grande surpresa quando se descobriu neurônios mar- cados com timidina no cérebro desses animais. Postularam-se muitas razões pelas quais essas células marcadas não poderiam ser realmente neuró- nios, e poucos cientistas estavam prontos para aban- donar o velho dogma. A discussão esquentou, entre- tanto, quando Femando Nottebohm e seus colegas da Rockefeller University demonstraram que novos neurônios eram formados no cérebro de aves em re- giões responsáveis pelo canto, na época do ano em que as aves preparam-se para acasalar e os machos começam a cantar. Os pesquisadores mostraram em seguida que hormônios sexuais e a audição dos can- tos estimularam o surgimento dos novos neurônios. A descoberta da geração de neurônios no cérebro de aves deu novo impulso ao estudo em mamíferos, e esses estudos revelaram que duas estruturas no cére- bro de mamíferos adultos incorporam novos neurônios. Uma dessas regiões é o bulbo olfatório (não exata- mente surpreendente, já que neurônios dessa região projetam-se até o epitélio nasal, sempre em constante reposição). A outra estrutura é o hipocampo, região do cérebro envolvida na formação da memória de longa- duração. Assim como em aves, novas experiências e o aprendizado estimulam a neurogênese no hipocampo dos mamíferos. Fred Gage e seus colegas do Salk Ins- titute mediram potenciais de ação nos novos neurônios de camundongos, demonstrando que eles tornam-se Novos neurônios no cérebro de camundongos Um ca- mundongo adulto foi injetado com um vetar que levava o gene para a proteína verde fluorescente (GFP). Este gene foi ab- sorvido e expresso apenas por células em divisão. Neurônios marcados com GFP foram depois encontrados no cérebro do camundongo - e estes neurônios devem ter surgido depois da injeção do gene marcado. o canto dos pássaros requer novos neurônios Um macho da espécie Sturnella neglecta canta para atrair uma parceira. Novos neurônios são formados nas partes do cérebro responsáveis pelo canto, estimulados por hormônios sexuais e pelo canto de outros machos de sua espécie. neurônios funcionais com propriedades idênticas às das células vizinhas mais antigas. Muitas questões foram levantadas depois desses estudos. A neurogênese poderia ser estimulada a fim de reparar tecidos e conter os efeitos do envelhecimen- to? Neurônios são regularmente perdidos e repostos? Os novos neurônios facilitam o aprendizado? Você vai gerar mais neurônios por ler este capítulo? NESTE CAPíTULO exploramos as bases celulares de vários subsistemas do sistema ner- voso de humanos. O cérebro humano tem cerca de 100 bilhões de neurônios e provavelmente mil vezes mais sinapses, responsáveis por sua ca- pacidade de processar uma vasta quantidade de informações. Mas a capacidade do cérebro de desempenhar funções específicas - como avaliar estímulos sensoriais, controlar emoções, gerar respostas mataras, aprender e lembrar - depen- dem da organização do sistema nervoso em sub- sistemas funcionais. 52.1 Como o sistema nervoso dosmamíferos está organizado? Podemos descrever a organização do sistema nervoso de mamíferos sob pontos de vista anatômicos e funcionais. Em termos anatõmicos, todos os sistemas nervosos de vertebra- dos consistem em três partes: encéfalo, medula espinhal e um grupo de nervos periféricos que se distribuem por todas as partes do corpo. Como aprendemos no Capítulo 50, o cére- bro e a medula espinhal são parte do sistema nervoso cen- tral, ou SNC, enquanto os nervos craniais e espinhais que se conectam ao SNC compõem o sistema nervoso periférico (SNP). Uma divisão adicional do sistema nervoso existe no intestino, denominado sistema nervoso entérico, a ser discu- tido no capítulo 56. Lembre-se da seção 50.1 que o neurônio é uma célula ex- citável que se comunica por meio de um axônio, e que um nervo é um feixe de axônios que leva muitas informações si- multaneamente. Alguns axônios no nervo podem estar levan- do informações ao SNC, enquanto outros axônios no mesmo nervo podem levam informações do SNC para órgãos do cor- po. Como veremos neste capítulo, podemos ainda dividir a anatomia do cérebro, medula espinhal e SNP em unidades menores. A organização funcional do sistema nervoso baseia-se no fluxo e no tipo de informação As principais vias de fluxo de informação no sistema nervoso estào úustraõas na figura &~."'.À porçào aiereme UD sls'terna nervoso periférico leva informação sensorial ao sistema ner- voso central. Temos consciência de muitas dessas informações (por exemplo, luz, som, temperatura da pele, dor, posição dos membros). Não temos consciência, contudo, das informações aferentes envolvidas na regulação fisiológica (por exemplo, pressão sanguínea, temperatura corporal profunda, supri- mento de oxigênio no sangue). A porção eferente do SNP leva informações do SNC para músculos e glândulas do corpo.Vias eferentes podem ser divi- didas em voluntárias, que executam nossos movimentos cons- cientes, e involuntárias ou autônomas, que controlam nossos processos fisiológicos. Além das informações provenientes do SNp, o SNC re- cebe informações químicas na forma de hormônios que cir- culam no sangue. Neurormônios liberados por neurônios no fluido extracelular do cérebro podem levar informações a neurônios em outras áreas encefálicas ou deixar o encéfa- 10 através da circulação. No Capítulo 48, o importante papel 1122 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis Aferências Eferências neurais neurais {sensoriais} {mataras}Olhos, orelhas, articulações, pele, músculos esqueléticos Músculos esqueléticos Honnônios ----.:1 ••••••• Neuronnônios INCONSCIENT/ Órgãos do corpo , AUTÔNOMO Glândulas, musculatura lisa e cardíaca Sistema nervoso periférico {SNP} Figura 52.1 Organização do sistema nervoso O sistema nervoso periférico (em rosa e azul) conduz informações tanto para o sistema nervoso central (dourado) quanto a partir dele. O SNC também recebe e emite estímulos hormonais (verde). desempenhado pelos neurormônios (como o hormônio liberador de gonadotrofinas) no controle da hipófise anterior foi discuti- do. Também vimos como dois outros neurormônios, ocitocina e hormônio antidiurético, são liberados na circulação pela hipófise posterior. o SNC dos vertebradosse desenvolve a partir do tubo neural embrionário Nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionário de vertebrados, surge um tubo oco de tecido neural (veja a seção 49.3). Esse tubo neural estende-se ao longo do embrião em sua porção dorsal. Na extremidade anterior do embrião o tubo for- ma três vesículas encefálicas que darão origem ao prosencéfa- 10, mesencéfalo e rombencéfalo, enquanto o restante do tubo forma a medula espinhal (Figura 52.2). Os nervos craniais e es- pinhais brotam do tubo neural. Desde sua formação, percebe-se que a informação flui de forma linear no sistema nervoso. Mes- mo com as alterações estruturais e aumento de complexidade que acompanha o desenvolvimento, o fluxo de informação no sistema nervoso adulto mantém as vias típicas de um tubo neu- rallinear simples. Cada uma das três regiões do encéfalo embrionário origina várias estruturas do encéfalo adulto. A partir do rombo encéfa- 10 surgem o bulbo, a ponte e o cerebelo. O bulbo é contínuo à medula espinhal. A ponte é anterior ao bulbo e o cerebelo é um Figura 52.2 Desenvolvimento do sistema nervoso huma- no Três vesículas na porção anterior do tubo neural oco do em- brião inicial de vertebrados se desenvolvem em regiões do encéfalo adulto. O último desenho mostra um encéfalo humano adulto em corte sagital. brotamento dorsal da ponte. O bulbo e a ponte contêm diferen- tes grupos de neurônios envolvidos no controle de processos fi- siológicos como a respiração, a circulação e os padrões motores simples como engolir e vomitar. Toda a informação que viaja entre a medula espinhal e regiões superiores do encéfalo deve passar através da ponte e do bulbo. O cerebelo funciona como o maestro de urna orquestra: rece- be" cópias" dos comandos enviados aos músculos a partir de re- giões encefálicas superiores e recebe informações dos músculos e articulações provenientes da medula espinhal. Comparando os o tubo neuralestendido, visto de cima, mostra três vesículasque formarão o encéfaloadulto. VISÃO LATERAL VISÃO DORSAL 25 dias Tubo neural ~ ~ ... \\\ Mesencéfalo Rombencéfalo ~ Medula espinhal ----'í 40 dias O prosencéfalooriginaduas divisõesprincipais:o telencéfalo e o diencéfalo. Telencéfalo Prosencéfalo Mesencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo 100 dias Encéfalo adulto Hemisférios cerebrais Hipotálamo Cérebro Hipófise o rombencéfaloorigina três divisõesprincipais:cerebelo, ponte e bulbo. comandos motores com o comportamento real dos músculos, ele refina os comandos motores. A partir do mesencéfalo embrionário surgem estruturas que processam aspectos da informação visual e auditiva. Além disso, toda a informação que viaja entre porções superiores do encéfalo e a medula espinhal devem passar através do mesencéfalo. O mesencé- falo e o rombencéfalo juntos são chamados de tronco encefálico. O prosencéfalo embrionário origina uma região central cha- mada diencéfalo e uma estrutura que se projeta bilateralmente chamada telencéfalo. O diencéfalo, a parte central do prosencé- falo, é constituído por uma porção superior chamada tálamo e uma inferior chamada hipotálamo. O tálamo é a última estação na via percorrida pela informação sensorial antes de chegar ao telencéfalo. O hipotálamo regula muitos processos relacionados a motivações fisiológicas (ver seção 47.2) e biológicas, como fome e sede. O hipotálamo recebe grandes quantidades de informação sobre as quais não temos consciência. O telencéfalo consiste em dois hemisférios cerebrais, o di- reito e o esquerdo, também chamados em conjunto de cérebro. Em humanos, o telencéfalo é significativamente maior do que as demais partes do encéfalo e desempenha funções relacionadas com a percepção sensorial, aprendizado, memória e comporta- mentos conscientes. Ao compararmos as classes dos vertebrados a partir dos peixes até anfíbios, répteis, aves e mamíferos fica evidente o aumento em tamanho, complexidade e importância do telencéfalo, estratégia chamada telencefalização (ver Figura 50.2). O prosencéfalo domina o sistema nervoso de mamíferos, e lesões nessa região resultam em significativo prejuízo sensorial, motor e cognitivo. Em contras- te, um tubarão cujo telencéfalo foi removido consegue nadar de forma praticamente normal. A medula espinhal transmite e processa informações A medula espinhal conduz informações nos dois sentidos entre o cérebro e os órgãos do corpo. Ela também integra muitas das informações vindas do SNF, e responde a estas informações emi- tindo comandos motores. '·0neurônio motor conduz um potencial de ação até o músculo extensor, causando a contração. ~ Em uma via de reflexo monossináptico, o neurônio sensorial faz sinapse com o neurônio motor no corno ventral da medula espinhal. o receptor de estiramento dispara um potencial de ação. ~ ....-:; Uma batidinha com martelo estende o tendão do joelho, estirando um receptor no músculo extensor. Vida _ 1123 Uma secção transversal da medula espinhal revela uma área central acinzentada em forma de borboleta, envolta por uma área de massa branca (Figura 52.3). No sistema nervoso, a substân- cia cinzenta é rica em corpos neuronais, e a substância branca em axônios. A substância cinzenta da medula espinhal contém os corpos dos neurônios espinhais, 'enquanto a substância branca conduz informações aferentes para cima e eferentes para baixo ao longo da medula espinhal. A aparência branca da substância branca se deve ao envoltório de mielina ao redor da maior parte dos axônios. Nervos espinhais projetam-se das duas laterais da medula espinhal em intervalos regulares. Cada nervo espinhal tem duas raízes, uma conectando-o com o corno dorsal da subs- tância cinzenta e outro com o corno ventral. Axônios sensoriais da via aferente de um nervo espinhal penetram na medula espinhal através da raiz dorsal, enquanto axônios da via motora eferente deixam a medula espinhal pela raiz ventral. A conversão de informações aferentes em eferentes na medu- la espinhal sem a participação do encéfalo é denominada reflexo espinhal. O tipo de reflexo espinhal mais simples envolve apenas dois neurônios e uma sinapse e em conseqüência é chamado re- flexo monossináptico. Um exemplo é o reflexo patelar, no qual o seu médico dá uma leve pancada logo abaixo do seu joelho e observa o comportamento da perna. Podemos observar a repre- sentação das conexões do reflexo monossináptico na medula es- pinhal na Figura 52.3. No caso do reflexo patelar, a informação sensorial provém dos receptores de estiramento do músculo da perna subitamente es- tirado quando o golpe do martelo de reflexos atinge o tendão que passa pelo joelho. Cada receptor de estiramento inicia um poten- cial de ação conduzido pelo axônio de um neurônio sensorial até o corno dorsal da medula espinhal e de lá até o corno ventral. No corno ventral, o axônio estabelece sinapses com neurônios moto- Substância Em vias polissinápticas, o potencial de ação viaja do neurônio sensorial até o interneurônio espinhal ... ••... que inibe o neurônio motor do músculo flexor antagonista. Figura 52.3 A medula espinhal coordena o reflexo de patela A informação sensorial (aferente) penetra na medula espinhal através dos cornos dorsais (via em verme- lho), enquanto o comando motor (eferente) sai através dos cornos ventrais (via em azul). A informação viaja em dire- ção ao encéfalo em tratos de substância branca. Interneu- rônios estabelecem conexões dentro da medula espinhal que resultam em padrões de comportamento complexos e coordenados. 1124 • Sadava, Heller, Orians, Purves & HiIIis res: com isso, os neurônios motores disparam potenciais de ação levados novamente até o músculo extensor da perna e causan- do sua contração. A função desse circuito simples é perceber um aumento na carga sobre o membro e aumentar a intensidade da contração muscular para compensar o aumento dacarga e assim manter a constância muscular necessária. A maioria dos circuitos espinhais é mais complexa do que o reflexo monossináptico. O movimento dos membros é controla- do por grupos de músculos com funções antagônicas. Quando um elemento de um grupo antagônico de músculos contrai e flexiona o membro, é chamado flexor. Outro músculo, antago- nista a este primeiro, estende o membro, sendo chamado ex- tensor. Para que um membro seja movimentado, um músculo do par antagônico deve relaxar enquanto outro se contrai. Dessa forma, as informações sensoriais que ativam um dos músculos também inibem seu antagonista. Essa coordenação de estímulos é mediada por um interneurônio, que estabelece uma sinapse inibitória com o neurônio motor do músculo antagonizado (ver Figura 52.3). Dessa forma, a inibição recíproca de músculos an- tagônicos envolve um interneurônio entre a célula sensorial e o neurônio motor do músculo antagonizado e, dessa forma, envol- ve pelo menos duas sinapses. O reflexo de retirada é um exemplo de reflexo espinhal po- lissináptico que envolve muitos interneurônios. Quando pisa em um prego você imediatamente retira o pé machucado: o pre- go estimula os receptores de dor no pé, e o neurônio sensorial transmite potenciais de ação em direção ao corno dorsal da me- dula espinhal do mesmo lado do corpo. No corno dorsal, esses neurônios estabelecem sinapses com interneurônios que enviam a informação através dos axônios até o encéfalo, resultando na sensação consciente de dor. Contudo, mesmo antes do encéfalo perceber a dor, sinapses dos neurônios sensoriais com outros in- terneurônios estimulam e inibem diretamente uma variedade de neurônios motores na medula espinhal. Interneurônios do mes- mo lado da medula espinhal coordenam a atividade dos múscu- los que retiram o pé e a perna. Para a retirada, contudo, a outra perna deve estender e o equilíbrio corporal ser alterado. A coor- denação dessas atividades envolve neurônios que estabelecem conexões ao longo da medula espinhal com neurônios motor do lado oposto. Dessa forma, uma seqüência de movimentos razo- avelmente complexos são mediados pela medula espinhal sem participação do encéfalo. Os circuitos espinhais podem gerar pa- drões de movimentos repetitivos (como os movimentos de nado de um tubarão) mesmo sem a participação do telencéfalo, e sem serem afetados significativamente caso essa região encefálica te- nha sido removida. o sistema reticular alerta o prosencéfalo A informação sensorial que sobe ao longo da medula espinhal em direção aos alvos finais no prosencéfalo passa pelo tronco en- cefálico.Muitos axônios sensoriais originam ramificações colate- rais que formam sinapses com uma rede de neurônios, axônios e dendritos altamente complexa no tronco encefálico chamada de sistema reticular. Dentro do sistema reticular existem muitos grupos distintos de neurônios que compartilham características comuns, como o neurotransmissor que produzem e liberam. Esses grupos distintos de neurônios no SNC são chamados de núcleos (não confundir com os núcleos das células individuais). Os axônios levando a informação sensorial ascendem ao lon- go da formação reticular e estabelecem conexões com os núcleos envolvidos no controle de muitas funções corporais. Informações sobre articulações e músculos, por exemplo, são direcionadas aos núcleos na ponte e no cerebelo envolvidos no equilíbrio e co- ordenação. Informações sensoriais sobre sono e vigília também seguem para núcleos da formação reticular. Altos níveis de ati- vidade neural na formação reticular acordam e mantêm o indi- víduo em vigília, enquanto na ausência de estímulos intensos na região, ocorre o sono. Devido à função de alerta da zona central do sistema reticular, ela é chamada de sistema ativador reticular ascendente. Se o encéfalo é lesionado ao nível do mesencéfalo ou acima, a função de alerta do sistema reticular sobre o prosencéfalo pode ser perdida, e o indivíduoperde a ca- pacidade de manter-se consciente, entrando em coma. Lesões no tronco encefálico ou na medula espinhal abai- xo da região do sistema reticular podem causar parali- sia, mas deixam o indivíduo com padrões normais de sono e vigília. o centro do prosencéfalo controla motivações fisiológicas, instintos e emoções Como mencionado anteriormente, o mesencéfalo se conecta ao prosencéfalo através do díencéfalo, que inclui duas estruturas de grande importância: o tálamo e o hipotálamo. O tálamo comunica informações sensoriais ao córtex cerebral, e o hipotálamo rece- be informação sobre as condições fisiológicas no corpo e regula muitas funções homeostáticas. A seção 46.4 descreve como o hi- potálamo está envolvido na regulação da temperatura corporal e a seção 47.2 discute a íntima associação entre o hipotálamo e a hipófise e seu controle sobre muitas funções homeostáticas. Axô- nios de neurônios no córtex cerebral que descendem através do tronco encefálico em direção a medula espinhal integram vias de substância branca que circundam o diencéfalo. O telencéfalo é maior em grandes aves e mamíferos em com- paração com outros vertebrados, mas as regiões do telencéfalo em contato com o diencéfalo são as mais primitivas e encontradas em todos s vertebrados. As estruturas existentes nessa região antiga em termos filogenéticos são coletivamente chamadas de sistema límbico (Figura 52.4). O sistema límbico é responsável por processos fisiológicos que incluem motivações básicas como fome e sede, instintos, forma- ção da memória de longa duração e emoções como o medo. No sistema límbico estão áreas que, estimuladas por pequenas cor- rentes elétricas, podem desencadear sensações intensas de prazer, dor ou raiva. Se for dada a um camundongo a oportunidade de es- timular o próprio centro de prazer por apertar um interruptor, ele ignorará a comida e água disponíveis, e mesmo o sexo, apertando o interruptor até a exaustão. Atribui-se aos centros de prazer e de dor no sistema límbico a participação no controle de motivações fisiológicas e no aprendizado. Como vimos na introdução da Capítulo 50, um componente do sistema límbico, a amígdala, está relacionada com sensação de medo e memórias aversivas. Se uma parte da amígdala é lesio- nada ou bloqueada quimicamente, o animal deixa de ser capaz de aprender a temer um estímulo ou situação que normalmente de- sencadeariam reações de medo intenso. Além disso, bloqueando a síntese de proteínas nessa parte do sistema límbico, a formação de memórias aversivas é bloqueada. Outra parte do sistema límbico, o hipocampo, é necessária para que humanos transformem a memória de curta duração em memória de longa duração. Se alguém lhe diz um novo número de telefone, você será capaz de reter essa informação na forma Figura 52.4 O sistema límbico As porções evolutivamente primitivas do te- lencéfalo (azul) são chamadas de sistema límbico. O hipocampo é responsável pela formação da memória de longa duração. A amígdala é responsável pelas emoções e memórias de medo. Estruturasprofundasnos hemisférioscerebrais e ao redor do hipotálamocontrolamaspectos de motivação,direção,emoções e memórias. li Hemisférios cerebrais o hipocampo é necessário para a ~ formaçãode memórias. A amígdala controlarespostas de medo. de memória de curta duração por alguns minutos, mas dentro de meia hora terá esquecido, a não ser que faça um esforço real para lembrar. O fenômeno de lembrar-se de algo por mais do que al- guns minutos requer sua transferência para a memória de longa duração. Regiões do telencéfalo interagem para produzir consciência e controle de comportamentos Os hemisférios cerebrais são estruturas dominantes no encéfalo de mamíferos. Em humanos são desenvolvidos a ponto de cobrir todas as outras partes do encéfalo, com exceção do cerebelo (Fi- gura 52.5A). Uma camada de substância cinzenta chamada cór- tex cerebral recobre cada hemisfério.O córtex cerebral tem cerca de 4 mm de espessura e cobre uma área total de cerca um metro (A) 7 Bulbo olfatório o córtexcerebralricoemcircunvoluções, aquiemvistalateralesquerda,cobretodas as outrasestruturasdo prosencéfalo. Vida • 1125 quadrado ao longo dos dois hemisférios. O córtex cerebral é convoluto, ou torcido, em circunvoluções chamadas giros, e fis- suras chamadas sulcos. Essas circunvoluções permitem-no ca- ber no limitado espaço disponível no crânio. Abaixo do córtex cerebral encontra-se substância branca composta de axônios que interconectam corpos celulares entre si e a outras áreas do encéfalo. Uma característica curiosa de nosso sistema nervoso é que o lado esquerdo do corpo é suprido (tanto sob ponto de vista sensorial quanto motor) principalmente pelo lado direito do en- céfalo, enquanto o lado direito do corpo é suprido principalmente pelo lado esquerdo do encéfalo. Dessa forma, o estímulo senso- rial proveniente da mão direita é enviado ao hemisfério cerebral esquerdo e o estímulo sensorial da mão esquerda segue até o hemisfério direito. A exceção é a região da cabeça, onde o lado direito da cabeça é controlado pelo hemisfério cerebral direito e o lado esquerdo pelo hemisfério esquerdo. Os dois hemisférios não são simétricos em relação a todas as funções que desempenham. Habilidades de linguagem, por exemplo, residem predominante- mente no hemisfério esquerdo, como veremos a seguir. Se avaliarmos a proporção entre o tamanho do encéfalo e o do corpo de todos os mamíferos, humanos e golfinhos encabeçam a lista. Humanos, entretanto, possuem a maior proporção de córtex associativo em relação à mas- sa corporal em relação a qualquer outro mamífero (em- bora nenhuma medida de tamanho ou região do córtex humano tenha correlação com inteligência). Figura 52.5 O cérebro humano (A) Cada hemisfério é di- vidido em quatro lobos. (8) Diferentes funções são localizadas em áreas específicas dos lobos cerebrais. (B) Área visual primária 1126 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis Diferentes regiões do córtex cerebral têm funções específicas (Figura 52.5B). Algumas dessas funções são facilmente identi- ficadas, como receber e processar informações sensoriais, mas a maior parte do córtex está envolvida em processar informações mais complexas e mais difíceis de definir. Essas áreas recebem o nome genérico de córtex associativo, assim denominadas por integrarem, ou associarem, informações de diferentes modalidades sensoriais e também aquelas relacionadas a memórias. Para entender o córtex cerebral é útil ter um mapa anatômico. Quando visto do lado esquerdo, o hemisfério cerebral esquerdo se assemelha a uma luva de boxe para a mão direita, com os de- dos voltados para frente e o polegar voltado para fora e o pulso voltado para trás (ver Figura 52.5). A área do polegar equivale ao lobo temporal, os dedos ao lobo frontal, o dorso da mão ao lobo parietal e o pulso ao lobo occipital. Uma imagem refletida desse arranjo corresponde ao hemisfério cerebral direito. Vamos analisar cada lobo do córtex cerebral separadamente. Enquanto exploramos as funções das regiões do córtex cere- bral e outras partes do encéfalo você notará a menção freqüente a pessoas com lesões cerebrais. Até recentemente, o estudo de tais indivíduos era a maior fonte de informações acerca das funções do encéfalo humano. Novos métodos de diagnóstico por imagem do tecido nervoso, como a tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética têm fornecido uma riqueza de novas informações e oportunidades de estudos do cérebro em funciona- mento em tempo real. o LOBO TEMPORAL A região superior do lobo temporal re- cebe e processa a informação auditiva. As áreas associativas do lobo temporal estão envolvidas com o reconhecimento, identifi- cação e nomeação de objetos. Danos ao lobo temporal resultam em desordens chamadas de agnosias nas quais o paciente percebe o estímulo, mas não sabe identificá-lo, Lesões a regiões específicas dentro do lobo temporal resultam na incapacidade de reconhecer faces. Mesmo velhos conhecidos não podem ser identificados por suas feições, embora possam ser reconhecidos por outros atributos, como a voz, características cor- porais e o jeito de caminhar. Usando macacos, foi possível medir a atividade de neurônios dessa região que respondem seletivamen- te a faces (Figura 52.6). Esses neurônios não respondem a outros estímulos no campo visual, e suas respostas diminuem se alguns componentes da face estiverem faltando ou aparecerem dispos- tas de modo inadequado. Lesões em outras áreas associativas do lobo temporal causam déficits na compreensão da língua falada, embora a capacidade de falar, ler e escrever permaneça intacta. O LOBO FRONTAL O lobo frontal e pa- rietal são separados por um sulco profundo chamado sulco central. A faixa de córtex do lobo frontal em frente ao sulco central é cha- mada de córtex motor primário (ver Figura 52.5). Os neurônios dessa região controlam a musculatura de partes específicas do cor- po. As partes do corpo controladas por esses neurônios foram mapeadas principalmente durante neurocirurgias, pois "durante esses procedimentos eletrodos são usados para estimular pequenas áreas do córtex. Na área imediatamente anterior ao sulco, estimulação causa a contração de músculos específicos. Partes do corpo que possuem controle motor Mandíbula Este neurônio tem resposta mais intensa a uma face completa vista de frente. Figura 52.6 Neurônios em uma região do lobo temporal res- pondem a faces Os traçados representam as írequências de disparo de um neurônio no lobo temporal de um macaco em res- posta às imagens mostradas. fino, como a face e as mãos têm representações desproporcionais (Figura 52.7). A estimulação de neurônios no córtex motor primá- rio causa movimentos musculares não-coordenados. As funções associativas do lobo frontal são diversas e mais bem descritas como relacionadas ao planejamento, contribuindo de maneira significativa para a personalidade do indivíduo. Pes- o lado esquerdo do córtex cerebral comunica-se com o lado direito do corpo, e vice-versa. Córtex somatossensorial Figura 52.7 O corpo é representado no córtex motor primário e no córtex so- matossensorial primário Cortes transversais dos córtices motor primário e somatos- sensorial primário podem ser representados como mapas do corpo humanos. Partes do corpo são mostradas conforme a proporção de área encefálica que ocupa. soas que sofrem lesões no lobo frontal vivenciam drásticas mu- danças de personalidade, pois deixam de ser capazes de se ade- quar ao contexto a sua volta e não conseguem planejar eventos futuros. Um caso dramático de dano no lobo frontal é a história de Phineas Gage. Gage era um dedicado, responsável e educado jovem trabalhador na construção de estradas em 1848, até que um acidente com pólvora arremessou contra ele uma barra de ferro de um metro de comprimento e 3 em de largura que atra- vessou seu encéfalo. A barra de ferro penetrou no crânio abaixo do olho esquerdo, atravessou o lobo frontal e saiu no topo da cabeça (Figura 52.8). Admiravelmente, Gage sobreviveu ao terrível acidente, mas tornou-se outra pessoa: brigão, mal-humorado, preguiçoso e ir- responsável. Tornou -se também impaciente e teimoso, coisas que nunca tinha sido antes. Perdeu o emprego na via férrea e passou o resto dos dias como andarilho, ganhando dinheiro ao contar sua história e exibindo suas cicatrizes e a barra de ferro. Morreu doente com convulsões, aos 38 anos, em 1860. Se estiver em Boston você pode visitá-lo - seu crânio e a barra de ferro estão expostos no Museu Anatõmico Warren da Escola de Medicina de Harvard. LOBO PARIETAL A faixa de córtex atrás do sulco central é o córtex somatossensorial primário (ver Figura 52.5B). Esta área recebe informações sobre o toque e pressão que chegam desde a periferiaatravés do tálamo. Toda a superfície do corpo pode ser mapeada no córtex soma- tossensorial primário (ver Figura 52.7). Áreas do corpo que pos- suem altas densidades de mecanorreceptores táteis e são capazes de uma discriminação fina através do tato (como os lábios e os dedos da mão) são representados de forma desproporcionalmen- te maior. Se uma pequena área do córtex somatossensorial pri- mário for estimulada eletricamente em um indivíduo consciente, ele relatará sentir sensações específicas como o toque em partes específicas do corpo. Figura 52.8 Uma experiência de alterar a mente Em um aci- dente de trabalho na construção ferroviária no século XIX,devido a uma explosão, uma barra de ferro atravessou o cérebro de Phineas Gage. De modo inacreditável, Gage sobreviveu, mas sua personali- dade mudou radicalmente. Vida • 1127 Modelo Cópia feita pelo paciente /. ) Figura 52.9 Síndrome da negligência contralateral Um pa- ciente com lesão no córtex associatlvo parietal direito negligencia o lado esquerdo de um desenho quando o copia. Uma função associativa principal do córtex parietal é res- ponder a estímulos complexos. Lesões na região do lobo parie- tal direito causam uma condição chamada síndrome da negligência contralateral, na qual o indivíduo tende a ignorar estímulos prove- nientes do lado esquerdo do corpo ou do campo visual esquerdo. Esses indivíduos têm dificuldades em desempenhar tarefas com- plexas' como vestir o lado esquerdo do corpo ou, no caso de um paciente homem, barbear o lado esquerdo do corpo. Quando se pede que o paciente com a síndrome da negligência contralateral copie um desenho, ele é capaz de desenhar o lado direito, mas não o esquerdo (Figura 52.9). Contudo, o córtex parietal não é simétrico no que tange ao seu papel na atenção, e lesões ao córtex parietal esquerdo não causam o mesmo nível de negligência com o lado direito do corpo. Veremos assimetrias como esta em outras funções corticais quando discutirmos a respeito da linguagem. O LOBO OCCIPITAL O lobo occipital recebe e processa infor- mação visual, e vamos aprender mais sobre isso mais adiante nes- te Capítulo. As áreas associativas do córtex occipital são essenciais para compreender o mundo visual e traduzir em palavras as expe- riências visuais. Alguns déficits resultantes de lesões nestas áreas são específicos. Em certo caso, uma paciente era incapaz de per- ceber movimento, mesmo com a capacidade visual intacta. Ela via uma cachoeira como imagem estática, e um carro se aproximando como uma série de imagens sucessivas com o carro a distâncias diferentes. 52.1 RECAPITUlAÇÃO O sistema nervoso central se comunica com o resto do corpo através do sistema nervoso periférico. Nós temos consciência sobre algumas das informações sensoriais que chegam até o SNC, mas não sobre outras informações aferentes úteis para a regulação de aspectos fisiológicos. Diferentes regiões do cérebro têm funções específicas. • Você consegue relacionar as principais divisões funcionais do sistema nervoso com suas origens embrionárias? Ver p. 1122-1124 e Figura 52.2. • Você consegue traçar o percurso envolvido no fluxo de in- formação de um reflexo espinhal? Ver p. 1123-1124 e Figura 52.3. • Você pode descrever as relações espaciais e funcionais das principais partes do telencéfalo? Ver p. 1125-1127 e Figura 52.5. 1128 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis Agora que temos conhecimento sobre a estrutura e função de diferentes regiões do sistema nervoso podemos explorar alguns exemplos de como a informação é processada na rede neuronal de circuitos em certas regiões específicas. 52.2 Como a informação é processadapor circuitos neuronais? Vimos que funções específicas são localizadas em partes especí- ficas do SNC. Assim, essas funções devem depender de circuitos neuronais, ou redes, nessas estruturas do SNC. Um dos princi- pais focos de pesquisa da neurociência moderna é a elucidação de como várias funções do sistema nervoso, de simples reflexos a complexos aprendizados, são desempenhadas pelas interações de neurônios em circuitos específicos. Vamos considerar dois exem- plos de como circuitos neurais processam informações: o sistema nervoso autônomo, que constitui as vias eferentes do sistema au- tônomo, e o sistema visual que processa informação vinda dos olhos. o sistema nervoso autônomo controla processos fisiológicos involuntários o sistema nervoso autônomo compreende as vias eferentes do sistema nervoso que controlam funções involuntárias e se divide em simpático e parassimpático. Essas duas porções funcionam de forma antagônica no que diz respeito a seus feitos sobre a maior parte dos órgãos: uma divisão causando aumento de atividade e a outra diminuição. Além disso, são facilmente distinguíveis por sua anatomia, neurotransmissores e ações (Figura 52.10). As funções melhor conhecidas do sistema nervoso autôno- mo são aquelas da divisão simpática chamadas de resposta de "luta-ou-fuga": aumento de freqüência, pressão e débito cardía- cos e preparo do corpo para emergências (ver Figura 47.4). Em contraste, a divisão paras simpática desacelera o coração e dimi- nui a pressão sanguínea, e suas ações são resumidas como" des- canse e faça a digestão". É tentador pensar na divisão simpática como aquela que acelera e na parassimpática como aquela que desacelera processos, mas essa é uma visão simplista. Exemplos como o sistema simpático desacelerando o sistema digestivo en- quanto o parassimpático acelera, mostram que o cenário não é tão simples. Tanto as vias eferentes autônomas simpáticas quanto paras- simpáticas iniciam com neurônios colinérgicos (que usam acetilcoli- na como neurotransmissor) cujos corpos celulares são localizados no tronco encefálico ou na medula espinhal. Esses neurônios co- linérgicos são denominados pré-ganglionares, porque o segundo neurônio da via, com o qual estabelecem sinapses, reside em um grupo de neurônios fora do SNC chamado de gânglio. O segun- do neurônio é chamado neurônio pós-ganglionar, pois se projeta a partir do gânglio. O axônio do neurônio pós-ganglionar estabele- ce sinapses com células nos órgãos-alvo. Os neurônios pós-ganglionares da divisão simpática são cha- mados noradrenérgicos por que usam noradrenalina (também chamada de norepinefrina) como neurotransmissor. Em contras- te, os neurônios pós-ganglionares da divisão parassimpática são em sua maioria colinérgicos. Nos órgãos que recebem o estímulo simpático e parassimpático, as células-alvo respondem de manei- ra oposta a noradrenalina e acetilcolina. A região marca-passo do coração, responsável pela geração dos batimentos, é um exemplo. Estimular o nervo simpático que chega ao coração ou gotejar di- retamente noradrenalina sobre a região das células marca-passo causa despolarização, aumenta sua freqüência de disparo e ace- lera os batimentos cardíacos. Ao se estimular o nervo parassim- pático ou gotejar acetilcolina na região, as células marca-passo hiperpolarizam, diminuem a freqüência de disparo e fazem o co- ração bater mais lentamente. Em contraste, no trato digestivo, no- radrenalina hiperpolariza as células musculares, desacelerando a digestão, enquanto acetilcolina despolariza as células, acelerando a digestão. As divisões simpáticas e paras simpáticas do sistema nervoso autônomo podem ser distinguidas anatomicamente (ver Figura 52.10). Os neurônios pré-ganglionares da divisão parassimpática vêm do tronco encefálico e do último segmento da medula espi- nhal (a região sacral). Os neurônios pré-ganglionares da divisão simpática vêm da porção superior da medula espinhal abaixo do pescoço (regiões torácica e lombar). A maior parte dos gânglios do sistema simpático encontra-se alinhada em duas cadeias, uma de cada lado da medula espinhal. Os gânglios parassimpáticos ficam próximos ou mesmo nas paredes dos órgãos-alvo. Uma especialização da divisão simpáticaé a inervação da glândula adrenal, crítica para a resposta de "luta-ou-fuga". Os neurônios pré-ganglionares enviam seus axônios até a glândula adrenal. A medula da glândula é composta de células secretoras de hormôníos, na realidade, neurônios pós-ganglionares modi- ficados que perderam axônios e secretam "neurotransmissores" (adrenalina e noradrenalina) diretamente no fluido extracelular (ver seção 47.1). O sistema nervoso autônomo é uma ligação importante en- tre o SNC e muitos processos fisiológicos, controlando diversos órgãos e tecidos críticos para a homeostase. Apesar de sua com- plexidade, graças ao trabalho de neurobiologistas e fisiologistas, foi possível entender as funções desse sistema em termos de pro- priedades e circuitos neuronais. Por exemplo, a informação pro- veniente dos receptores de estiramento dos vasos sangüíneos é transmitida ao SNC onde desencadeia sinais autônomos a fim de modular a frequencia cardíaca (ver seção 55.5). o isolamento de receptores de acetilcolina pela primeira vez foi possível graças a sua concentração extremamente alta nos órgãos elétricos de alguns peixes, como a arraia torpedo. Esses receptores para acetilcolina são canais iônicos que, ativados em grande número em um peque- no volume de tecido muscular, são capazes de produzir um pulso elétrico tão forte que pode deixar um humano atordoado. Os padrões de luz que incidem na retina são integrados no córtex visual Na seção 51.4 aprendemos como a luz que incide sobre a retina produz sinais transmitidos ao longo de circuitos celulares e resul- tam em potenciais de ação no nervo óptico. Como esses poten- ciais de ação resultam na reconstrução da imagem no encéfalo? Contrai as pupilas Estimula a salivação Contrai as vias aéreas Diminui a freqüência cardíaca Estimula a digestão Causa leve estimulação da captação de glicose e síntese de glicogênio Estimula a atividade dos intestinos Estimula a contração da bexiga urinária Estimula o intumescimento do pênis e do clitóris DIVISÃO PARASSIMPÁTICA DIVISÃO SIMPÁTICA ~~~ ->- - I-H'I Estimula a secreção de adrenalina e noradrenalina ~ Neurônios noradrenérgicos (pós-ganglionares) ~ Neurônios colinérgicos (pré-ganglionares) ~ Neurônios colinérgicos (pós-ganglionares) Cadeia I de gânglios simpáticos ~, ff\ . t,~ Figura 52.10 O sistema nervoso autônomo O sistema ner- voso autônomo é dividido em simpático e parassimpático. As duas porçôes atuam de forma antagônica sobre a maior parte dos 'v~'B'h'V'b,\)Th'Q \"''l'ç,I',,~:r;, 'Q'V 'Q"Th''':;'o\.'V ~"" ""\.""\~""~'" '" """''''''''''''- ~",,,,,,-,,c:l.,,, ~ diminuição. Vida _ 1129 Dilata as pupilas Inibe a salivação Relaxa as vias aéreas Acelera a freqüência de batimentos cardíacos Inibe a digestão Estimula a degradação de glicogênio e a liberação de glicose Inibição da atividade dos intestinos Relaxa a bexiga urinária Estimula o orgasmo e a contração vaginal 1130 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis EXPERIMENTO HIPÓTESE: As células ganglionares da retina são excitadas ou inibidas por estímulos luminosos de distintas intensidades que incidem em diferentes partes da retina. MÉTODO Colocar eletrodos no nervo óptico para medir potenciais de ação nos axõnios das células ganglionares. Ao mesmo tempo, estimular a retina com diferentes combinações de estímulos claros e escuros. Os estímulos "...------------------ são movidos ao longo da retina para encontrar a área de sensibilidade d uma determinada célula ganglionar. RESULTADOS Axõnios das células ganglionares Algumas células ganglionares são estimuladas ao máximo quando a luz incide sobre o centro de seus campos receptivos. Outras são estimuladas ao máximo quando a luz incide sobre a periferia do campo receptivo. CONCLUSÃO: As células ganglionares usam a dicotomia centro-periferia para codificar o contraste entre luz e escuridão. Padrões de estímulo na retina Escuridão absoluta 11 Pequeno ponto no centro do campo receptivo Grande ponto no centro do campo receptivo ooAnel de luzexcluindo o centrodo campo receptivo Potenciais de ação em células ganglionares do centro Células bipolares Registro dos potenciais de ação no axõnio da célula ganglionar Fotorreceptores Potenciais de ação em células ganglionares fora do centro Uma célula ganglionar "off-center" é estimulada pela luz que incide sobre a periferia de seu campo receptivo e inibida pela luz que incide em seu centro. Figura 52.11 O que o olho diz ao encéfalo? Quando a retina é estimulada com pon- tos e anéis de luz, cada célula ganglionar demonstra respostas diferentes. Uma célula ganglionar "on-center" é inibida pelo anel de luz que incide sobre a periferia de seu campo receptivo. CAMPOS RECEPTIVOS NA RETINA Um aspecto do processa- mento de informação visual na retina é a convergência de informa- ção. Cada retina humana contém mais de 100 milhões de fotorre- ceptores, mas apenas cerca de 1 milhão de células ganglionares. É o axônio da célula ganglionar que envia a informação detectada nos olhos até o encéfalo. Como a informação detectada por tan- tos fotorreceptores é integrada por tantas células ganglionares a menos? Essa questão foi respondida por experimentos clássicos de Stephen Kuffler no John Hopkins Hospital em 1953, usando ele- trodos para medir a atividade nos axônios de células ganglionares individuais enquanto a retina era estimulada por pontos de luz (Figura 52.11). Esses experimentos foram ponto de partida para o nosso atual entendimento de como o cérebro reúne a informação de células individuais para criar imagens, ou em outras palavras, como o cérebro vê. Os estudos de Kuffler relevaram que cada célula ganglionar possui campos receptivos bem definidos, compostos por gru- pos de fotorreceptores que percebem a luz incidente sobre uma pequena área de todo o campo visual. A estimulação desses fotor- receptores com luz ativa a célula ganglionar, que envia potenciais de ação ao tálamo e no córtex visual (área do córtex occipital onde a informação visual é processada; ver Figura 52.5). Dessa forma, a informação proveniente de vários fotorreceptores é enviada ao encéfalo como urna mensagem única. Entretanto, fotorreceptores individuais podem contribuir para os campos receptivos de múlti- plas células ganglionares. Os campos receptivos da maior parte das células ganglionares são circulares; contudo, ao incidir um feixe de luz no campo recep- tivo, a célula ganglionar será excitada ou inibida, o que dependerá da natureza do campo receptivo e de onde, dentro do campo, o fei- xe de luz incidir. Os campos receptivos possuem duas regiões con- cêntricas, o centro e a periferia, e o campo pode ser tanto do tipo "on -center" quanto "off-center". Campos receptivos" on -center" excitam a célula ganglionar quando a luz incide no centro, e a ini- bem quando a luz incide na periferia. Campos"off-center"fazem o oposto, inibindo a célula ganglionar quando a luz incide no centro e excitando-a quando a luz incide sobre os fotorreceptores da peri- feria. Dessa forma, a atividade da célula ganglionar reflete quanto do estímulo luminoso incide sobre o centro do campo concêntrico e quanto incide sobre sua periferia (ver Figura 52.11). Efeitos mediados pelo centro do campo receptivo são sempre mais intensos do que aqueles mediados pela periferia. Assim, um pequeno ponto de luz incidindo diretamente sobre o centro do campo tem um efeito máximo, enquanto um ponto maior, ilumi- nando tanto o centro quanto a periferia do campo receptivo tem efeito menos significativo. Um feixe de luz uniforme incidindo igualmente sobre o centro e a periferia de um campo receptivo tem pouco efeito sobre a freqüência de disparo da célula gan- glionar. Como as células da retina se interconectam para criar os cam- pos receptivos? Os fotorreceptoresem um campo receptivo se conectam às células ganglionares através de células bipolares. Os fotorreceptores na periferia modificam a comunicação entre os fotorreceptores do centro e as células bipolares graças a conexões laterais com as células horizontais (ver Figura 51.21). Dessa forma, o campo receptivo de uma célula ganglionar resulta de um pa- drão de sinapses entre fotorreceptores, células horizontais, células amácrinas e células bipolares. Agora as coisas podem ficar um pouco confusas. Lembre-se que os fotorreceptores de vertebrados despolarizam no escuro e hiperpolarizam quando estimulados por luz. Então estas células estão constantemente liberando neurotransmissores no escuro, enquanto que no claro reduzem sua freqüência de liberação de Vida • 1131 neurotransmissores (ver a seção 51.4). O neurotransmissor dos fotorreceptores é o glutamato, normalmente um neurotransmis- sor excitatório (ver a seção 50.3). Contudo, para células bípolares, o glutamato pode ser excitatório ou inibitório de acordo com o receptor ao qual se liga. Nesse contexto, para células bipolares de campos receptivos" on-center" o glutamato é inibitório. No escuro, quando os fotorreceptores estão liberando o máximo de glutamato, as células bipolares do campo "on-center" estão hi- perpolarizadas. Quando a luz incide nesses fotorreceptores, eles diminuem a liberação de glutamato, levando as células bipolares à despolarização. Como resultado, as células bipolares liberam mais neurotransmissor sobre as células ganglionares estimulando a fre- qüência de disparos destas últimas. O oposto ocorre com células bipolares de campos"off-center", pois os receptores de glutamato dessas éélulas são excitatórios. A lição geral a ser aprendida dessa cadeia de eventos um tanto confusa é que a inibição pode servir para excitar circuitos, e que algumas vezes a excitação resulta da inibição de uma sinapse inibitória. Em resumo, a rede de circuitos neuronais da retina resulta na geração de sinais nos axônios do nervo óptico que levam infor- mações simples sobre luz e escuridão sobre as diferentes partes da retina. CAMPOS RECEPTIVOS DAS CÉLULAS DO CÓRTEX VISUAL Nós aprendemos como fotorreceptores da retina rea- lizão a transdução da luz em sinais neurais, e como os circuitos neurais da retina organizam esses sinais em informações sobre padrões de luz e escuro então transmitidas ao encéfalo. Mas, uma vez que os potenciais de ação vindos pelo nervo óptico chegam ao destino, como o encéfalo integra-os para construir uma imagem do mundo externo? Os axônios dos nervos ópticos terminam em uma região do tálamo que integra a informação oriunda dos dois olhos. Do tála- mo, a informação codificada na atividade de axônios do nervo óp- tico é transmitida ao córtex visual no lobo occipital na parte pos- terior do encéfalo. Nos anos 1960, David Hubel e Tosrsten Wiesel da Harvard University estudaram a atividade de neurônios no córtex visual ao estimularem a retina com pontos e barras de luz enquanto mediam a atividade de neurônios individuais no córtex. Eles descobriram que neurôníos no córtex visual, como as células ganglionares da retina, possuem campos receptivos. Hubel e Wie- sei receberam o prêmio Nobel em 1981 por seu trabalho pioneiro sobre a neurofisiologia do sistema visual. Campos receptivos de neurônios do córtex visual, entretanto, diferem daqueles circulares das células ganglionares. Neurônios corticais chamados de células simples têm sua estimulação máxi- ma com barras de luz com orientação específica incidem sobre a retina. Essas células simples provavelmente recebem estímulos de várias células ganglionares cujos campos receptivos na retina estão alinhados em faixas. Outra classe de células corticais são as células complexas. Essas células também respondem ao máximo quando estimuladas por feixes lineares de luz com orientações específicas, mas a estimu- lação pode ocorrer em qualquer porção da retina. Dessa forma, o campo receptivo de células complexas parece ser resultado da es- timulação de várias células simples que compartilham uma deter- minada orientação de estímulo, mas cujos campos receptivos da retina estão em locais diferentes (Figura 52.12). Algumas células complexas respondem mais intensamente quando a barra de luz se move em uma direção específica. O conceito que emerge desses experimentos é que o cérebro constrói uma imagem mental do mundo visual por analisar o con- torno dos padrões de luz que incidem sobre a retina. Essa análise é realizada em paralelo por um grande número de células. Cada 1132 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis EXPERIMENTO HIPÓTESE: Células no córtex visual respondem a padrões de luz que incidem na retina. I MÉTODO À medida que o gato olha para a tela, eletrodos medem a atividade de células individuais no córtex occipital ... A barra em movimento estimula campos receptivos na retina. RESULTADOS Campo receptivo tipo~O "on-center" da retina Células simples no córtex visual respondem a uma barra de luz estática com ângulo e em local específico. Resposta das células ganglionares "on-center"Células ganglionares da retina enviam a informação às células talâmicas que a repassa para o córtex visual. Células corticais complexas respondem a uma barra de luz em movimento. Este modelo explicaria os resultados em termos de conexões sinápticas entre células. Células ganglionares na retina Células complexas notálamo CONCLUSÃO: As células da retina, tálamo e córtex são interconectadas de maneira a serem capazes de responder a estímulos de luz com padrões específicos. A barra de luz cobre uma área da retina onde estão presentes campos receptivos de várias células ganglionares. Figura 52.12 Campos receptivos de células no córtex vi- sual As células no córtex visual respondem a padrões específicos de luz incidindo na retina. As células ganglionares que transmitem informações sobre campos receptivos circulares convergem nas células simples do córtex, que têm campos receptivos lineares. Células simples transmitem as informações para as células comple- xas, que respondem aos estímulos lineares incidentes em diferentes áreas da retina. retina envia um milhão de axônios ao encéfalo, mas existem cen- tenas de milhões de neurônios no córtex visual. O potencial de ação de uma célula ganglionar da retina é recebido por centenas de neurônios corticais, cada um sensível a uma combinação de orientação, posição, cor e movimento resultantes de padrões de luz que incidem na retina. Células corticais recebem estímulos dos dois olhos Como vemos objetos em três dimensões? Uma resposta rápida é que temos dois olhos, localizados na parte frontal da cabeça, que enxergam campos visuais ligeiramente diferentes que se sobre- põem em grande parte, ou seja, que humanos tem visão binocu- lar. Uma pessoa cega de um olho tem grande dificuldade de jul- gar distâncias. Animais cujos olhos são nas laterais da cabeça têm sobreposição mínima dos campos visuais e, como conseqüência, pouca noção de profundidade, apesar de poderem perce- ber predadores se aproximando dos dois lados. A descrição de como o encéfalo integra informações dos dois olhos começa com as vias percorridas pelos nervos ópticos. Na parte inferior do encéfalo os dois nervos ópti- cos parecem se unir logo abaixo do hipotálamo, e depois se separar novamente (Figura 52.13). O local em que os ner- vos se unem é chamado quiasma óptico. Os axônios da metade mais próxima do nariz de cada retina se cruzam no quiasma e seguem para lados opostos do encéfalo. Os axô- nios da outra metade de cada retina seguem para o mesmo lado do encéfalo. Isso significaque a informação do campo de visão esquerdo (tudo que fica à esquerda quando se olha em frente) segue para o lado direito do encéfalo, como mostrado em vermelho na Figura 52.13, enquanto a informação do campo de vi- são direitosegue para o lado esquerdo do encéfalo (mostrado em verde). Os dois olhos transmitem informações sobre pontos especí- ficos do seu campo visual direito, por exemplo, para o mesmo local do córtex visual esquerdo. As células do córtex visual são organizadas em listas e colunas. Listas se referem à organização ao longo da superfície do córtex, enquanto colunas se referem à organização ao longo da profundi- dade. Tanto listas quanto colunas alternam em relação à fonte de seus estímulos: olho esquerdo, olho direito, olho esquerdo, olho direito, e assim em diante. As células mais próximas ao limite entre duas listas ou colunas recebem informações dos dois olhos e são por isso chamadas células binoculares. Células binoculares interpre- tam distâncias por medirem o grau de disparidade entre os pontos sobre os quais um mesmo estímulo incide nas duas retinas. O que é disparidade? Levante o dedo na frente dos olhos e olhe para ele, fechando um olho e depois o outro. O dedo parece saltar para frente e para trás por que sua imagem incide em posi- ções diferentes em cada retina. Repita o exercício com um objeto à distância. Ele não parece se mover tanto, pois existe menos dispa- Cérebro humano (vistode baixo) C~povis ai es uerdo k:: ... Campo visual direito Os nervosópticos se cruzamno quiasma óptico. Figura 52.13 A anatomia da visão binocular Cada olho trans- mite informação para os dois lados do encéfalo; entretanto, o lado direito do encéfalo processa toda a informação do campo visual es- querdo e o lado esquerdo do encéfalo processa toda a informação do campo visual direito. O córtex visual classifica as informações do campo visual de acordo com sua procedência direita ou esquerda. ridade entre os locais sobre os quais o objeto à distância incide em cada retina. Certas células binoculares respondem otimamente a um estímulo que incide sobre as duas retinas com determinado grau de disparidade. Qual grupo de células binoculares é estimu- lado depende da distância do estímulo. Quando olhamos para algo, podemos detectar sua forma, cor, profundidade e movimento. Onde essa informação converge? Existe uma única célula que dispara apenas quando um carro es- porte vermelho passa? A resposta é não. Experiências visuais es- pecíficas dependem da atividade simultânea de um grande núme- ro de células. Além disso, a maior parte das experiências visuais é aprimorada pela informação de outros sentidos e da memória, o que explica por que 75% do córtex são associativos. 52.2 RECAPITULAÇÃO A informação no sistema nervoso é processada por inte- rações celulares em circuitos neuronais. As ações opos- tas das divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso autõnomo podem ser entendidas em vias neurais compostas por apenas dois neurônios. A visão envolve in- terações mais complexas entre neurônios para o proces- samento de informações sensoriais importantes. • Você consegue descrever as diferenças anatômicas e fun- cionais entre as divisões simpática e parassimpática? Ver p. 1128 e Figura 52.10. • Você entende a base celular dos campos receptivos das celu- Ias ganglionares da retina? Ver p. 1131 e Figura 52.11. • Como as células do córtex visual obtêm informações sobre a distância de objetos? Ver p. 1132 e Figura 52.13. Vida • 1133 O córtex visual é organizadoem colunasque recebem estímulosdo olho direito(amarelo)e do olhoesquerdo (azul). Olho direito~ Olho esquerdo ---cBI._ "\ Olho esquerdo ~ Córtex visual ~ Células binocularesnas margens das colunas recebem estímulosdos dois olhos. Ao estudar a rede neural do sistema visual e autônomo você en- tendeu como informações chegam ao sistema nervoso e como o SNC controla várias funções corporais. Mas e as ditas funções su- periores do sistema nervoso, funções complexas como linguagem, aprendizado e memória e sonhos? 52.3 As funções superiores podem serentendidas em termos celulares? As funções superiores do encéfalo discutidas nas páginas que seguem deste capítulo são inegavelmente complexas. Contudo, neurocientistas usando uma vasta gama de técnicas têm feito avanços consideráveis no entendimento dos mecanismos ce- lulares e moleculares envolvidos nestes processos. A discussão que segue apresenta vários aspectos complexos do encéfalo e do comportamento e que constituem desafios aos cientistas: sono e sonho, aprendizado e memória, uso da linguagem e consciência. o sono e o sonho se refletem em padrões elétricos no córtex cerebral Uma característica dominante do comportamento é o ciclo circa- diano de sono e vigília. Todas as aves e mamíferos, e provavelmen- te todos os demais vertebrados, dormem. Nós humanos passamos um terço de nossas vidas dormindo, e ainda assim não sabemos como ou por quê. Sabemos, contudo, que precisamos dormir. A perda de sono prejudica a performance a capacidade de manter-se alerta. Muitas pessoas, especialmente estudantes, sofrem de falta crônica de sono. Diariamente, acidentes e erros graves que colo- cam em risco a vida de pessoas são atribuídos à falta de atenção devido à falta de sono. A insônia, dificuldade em adormecer ou manter-se dormindo, é uma das reclamações mais comuns em consultórios médicos. o ELETROENCEFALOGRAMA Uma ferramenta comum no es- tudo do sono é o eletroencefalograma, ou EEG (Figura 52.14A). 1134 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis Figura 52.14 Padrões de atividade elétrica no córtex cerebral caracterizam os estágios do sono (A) A atividade elétrica no córtex cerebral é detectada por eletrodos colocados no couro cabeludo, que registram alterações na voltagem entre os eletrodos ao longo do tempo. (8) O registro resultante é o eletroencefalograma (EEG). (C) Ao longo da noite altemamos diferentes estágios (A) (8) Estágio 3 (C) Acordado r-r- r- r- ~ II ~ L li lli Acordado~ Sono não-REM Estágio 1 REM Estágio 1 Estágio 2Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 4 o 234 567 Tempo (horas) o 20 Ao invés de registrar a atividade de neurônios isolados, o EEG caracteriza a atividade de um grande número de neurônios por usar eletrodos de registro muito maiores do que aqueles usados para estudar células individuais. Eletrodos do EEG são colocados sobre diferentes regiões do couro cabeludo, e as alterações nas diferenças de potencial elétrico entre eles são medidas ao longo do tempo. Essas mudanças de potencial elétrico refletem a ativi- dade elétrica dos neurônios nas regiões encefálicas sobre as quais estão os eletrodos. Normalmente a atividade elétrica de um ou mais músculos esqueléticos também é registrada, e esse registro é chamado e/etromiograma (EMG). Movimentos dos olhos são regis- trados na forma de e/etrooculograma (EOG). Os padrões de EEG, EMG e EOG revelam padrões de tran- sição entre sono e vigília, Também revelam que existem diferen- tes estados de sono. Em mamíferos não-humanos, dois esta- dos principais de sono são facilmente identificados: o sono de ondas. lentas e o sono de movimento ocular rápido (REM). Em humanos os estágios do sono são caracterizados como REM ou não-REM. Dos quatro estados não-REM de sono humanos, apenas os dois mais profundos são considerados sono de on- das-lentas. Quando adormecemos, o primeiro estado de sono atingido é não- REM, que progride do estágio 1 ao 4. Os estágios 3 e 4 são mais profundos, restaurativos, e verdadeiramente estados de on- das-lentas. Esse primeiro ciclo de sono não-REM é seguido por um episódio de sono REM. Ao longo da noite vivenciamos 4 ou 5 ciclos de sono não-REM seguidos de REM, e cerca de 80% do sono é não- REM. Sonhos e pesadelos ocorrem durante os 20% de sono despen- didos em estado REM, que tem este nome devido ao típico mo- vimento dos globos oculares deste período. A característica mais extraordinária do sono REM é que comandos inibitórios do en- céfalo paralisam quase completamente os músculosesqueléticos. Ocasionais contrações musculares podem ser facilmente observa- das em um cão adormecido que parece correr. A provável função 10 Tempo (segundos) desta paralisia muscular temporária durante o sono REM é evitar o movimento real durante o sonho. O sonambulismo ocorre du- rante o sono não-REM. MODIFICAÇÕES CELULARES DURANTE O SONO Os sonos REM e não-REM apresentam algumas diferenças neurofisioló- gicas marcantes. O sono não-REM é caracterizado por diminui- ção na responsividade dos neurônios do tálamo e córtex cerebral. Lembre-se que neurônios têm potencial de membrana de repou- so negativo e um limiar para disparo de potenciais de ação (ver seção 50.2). Normalmente o potencial de repouso é próximo ou ligeiramente abaixo do limiar de disparo, de maneira que o neurô- nio dispara esporadicamente. Quando um estímulo sináptico faz o potencial de membrana ficar menos negativo (despolarização), a célula pode alcançar o limiar e disparar potenciais de ação com maior freqüência. Durante o despertar, vários núcleos do tronco encefálico são ativados de forma contínua. Axônios de neurônios desses núcleos se projetam ao tálamo e ao longo do córtex cerebral onde liberam neurotransmissores (acetílcolina, noradrenalina e serotonina). A ampla distribuição desses neurotransmissores mantém o poten- cial de repouso dos neurônios-alvo no tálamo e córtex cerebral próximo ao limiar e sensíveis aos estímulos sinápticos, e conse- qüentemente mantém a vigília. Como mencionado anteriormen- te, lesões que eliminem a influência destes núcleos do tronco en- cefálico sobre o prosencéfalo levam ao coma. Com a chegada do sono, a atividade nesses núcleos do tronco encefálico diminui, e seus axônios liberam menos neurotransmis- sor. Com a diminuição do estímulo pelos neurotransmissores o potencial de repouso das células do tálamo e do córtex se torna mais negativas (hiperpolarizadas) e as células menos sensíveis ao estimula excitatório. O processamento de informação é inibido e a consciência é perdida. Uma conseqüência interessante da hiperpolarização tálamo- cortical é o desencadeamento de disparos em pulso. A sincronia desses pulsos em amplas áreas do córtex cerebral resulta nos pa- drões de ondas lentas típico de sono não-REM registrados no EEG. Estudos desse evento em neurônios do tálamo e do córtex cerebral demonstraram que sua despolarização durante o sono não-REM deve-se ao aumento na abertura de canais de K+, e que os pulsos devem-se à rápida inativação dos canais de Ca++ que dependem da hiperpolarização para serem reativados. Dessa for- ma, podemos explicar o padrão de EEG do sono não-REM em termos das propriedades dos neurônios e canais iônicos. Na transição de sono não-REM para REMmudanças dramá- ticas acontecem. Alguns dos núcleos do tronco encefálico que se mantinham inativos são reativados, causando despolarização generalizada nos neurônios corticais. Dessa forma, os pulsos de disparo sincronizados acabam, e o registro do EEG assemelha-se ao do despertar. Como os potenciais de repouso dos neurônios aproximam-se novamente do limiar de disparo, o córtex volta a ser capaz de processar informações, e sonhos vívidos ocorrem. Contudo, durante o sono não-REM o encéfalo inibe tanto vias aferentes (sensoriais) quanto eferentes (motoras), e assim deixa de estar restrita sob suas fontes e padrões de estímulos, o que ex- plica por que os sonhos muitas vezes são bizarros. A compreensão dos mecanismos celulares do sono não permi- tiu o entendimento de sua função, e muitas questões permanecem em aberto. Por que temos dois estados de sono com característi- cas neurofisiológicas distintas? Por que o sono não-REM sempre começa primeiro? Porque os dois estados se alternam de maneira regular ao longo do período de descanso? Sabemos que o sono é essencial a vida, mas não sabemos por quê. Uma hipótese proe- minente é que o sono seja necessário para manutenção e reparo de conexões neuronais, e que as alterações neuronais envolvam o aprendizado e a memória- e possivelmente o esquecimento. As evidências para isso ainda são esparsas. Parte dos processos de aprendizado e de memória pode estar localizada em áreas encefálicas específicas o aprendizado é a modificação do comportamento pela expe- riência. Memória é a habilidade do sistema nervoso de reter o que é aprendido e vivido. Mesmo um animal muito simples pode aprender e lembrar, mas essas habilidades são mais desenvolvidas em humanos. Considere a quantidade de informação associada com aprendizado e linguagem. A capacidade de memorização e a velocidade com a qual memórias podem ser evocadas é uma capacidade surpreendente do sistema nervoso humano. APRENDIZADO O aprendizado que leva à formação da memória de longa duração e a modificações no comportamento deve envol- ver modificações sinápticas duradouras. Um modelo experimental de como surgem essas modificações sinápticas é proporcionado pela potenciação de longa duração, ou LTp,do inglês long-term potentiation (verFigura 50.18).A LTPenvolve a estimulação em alta freqüência de neurônios de determinados circuitos tornando-os mais sensíveis a estimulação subseqüente. Em contraste, estimu- lações de baixa intensidade repetidas e contínuas desses circuitos hipocampais reduzem sua capacidade de resposta e são chamadas de depressão de longa duração (LTD,do inglês long-term depres- sion). LTPe LTDpodem funcionar como mecanismos celulares e moleculares envolvidos no aprenclizado e memória. Existem vários tipos de aprendizado, e uma forma extrema- mente importante é o aprendizado associativo, no qual dois Vida • 1135 estímulos independentes tornam-se associados a uma mesma resposta. O exemplo mais simples de memória associativa é o reflexo condicionado, descoberto pelo fisiologista russo Ivan Pavlov.Pavlov estudava as funções que controlam a digestão em cães e observou que os animais salivavam em resposta à visão e ao odor da comida, um reflexo autônomo simples. Ele descobriu que se tocasse um sino antes de dar comida aos animais, depois de algumas poucas repetições os animais passavam a salivar ao ouvir o sino, mesmo sem receber comida. O reflexo de salivação foi conclicionado a estar associado ao som do sino, estímulo nor- malmente não relacionado à alimentação ou digestão. Essa simples forma de aprendizado tem sido intensamen- te estudada com o objetivo de se compreender os mecanismos neuronais subjacentes. Em uma série de estudos conduzidos por Richard Thompson.o reflexo de piscar o olho em resposta a um sopro de ar direcionado aos olhos foi condicionado a uma asso- ciação com um estímulo sonoro. Depois do condicionamento, os coelhos passaram a piscar o olho ao ouvir o som. Descobriu-se que uma pequena e específica área do cerebelo é necessária para esse condicionamento, demonstrando que é possível relacionar uma forma de aprendizado a um grupo específico de sinapses do encéfalo de mamíferos. MEMÓRIA Estratégias de tratamento de doenças neurológicas permitiram a identificação de áreas do encéfalo envolvidas com a formação e evocação de memórias. A epilepsia é um distúrbio caracterizado por aumentos descontrolados de atividade neuronal em áreas encefálicas específicas. A convulsão resultante, ou"ata- que epilético" pode colocar em risco a vida do inclivíduo afetado. No passado, casos sérios de epilepsia eram algumas vezes trata- dos destruindo a parte do cérebro de onde o surto de atividade se originava. Para determinar a área exata, a cirurgia era feita com anestesia local, e diferentes regiões cerebrais eram eletricamente estimula- das com eletrodos enquanto o paciente descrevia as sensações re- sultantes. A estimulação de algumas regiões do córtex associativo evocava lembranças vívidas. Essas observações foram as primeiras evidências de que áreas cerebrais específicas são responsáveis por memórias específicas, e que memórias dependem das proprieda- des de neurôniose circuitos neurais. Contudo, a ablação de uma pequena área do encéfalo não destrói completamente uma me- mória, por isso postula-se que a memória é uma função distribu- ída ao longo de muitas regiões e pode ser estimulada por muitas rotas. Vocêpode identificar vários tipos de memória através de suas próprias experiências. A memória imediata é aquela sobre even- tos que estão acontecendo no momento; é quase fotográfica e dura apenas alguns segundos. A memória de curta duração contém um número reduzido de informações e pode durar mais tempo, na ordem de 10 a 15 minutos. Quando você é apresentado a um grupo de pessoas provavelmente lembrará seus nomes por cerca de 5 ou 10minutos, mas se não repetir, anotar ou usar o nome du- rante a conversa, provavelmente em uma hora terá esquecido. A repetição, uso ou reforço por algo que chame sua atenção (como, por exemplo o título de Presidente) facilita a transferência da me- mória de curta para a memória de longa duração, que pode du- rar dias, meses, anos ou a vida inteira. O conhecimento sobre o mecanismo neuronal que medeia a transferência para a memória de longa duração vem de observa- ções de indivíduos que perderam parte do sistema límbico, es- pecialmente o hipocampo. Um caso famoso é o de um paciente 1136 • Sadava, Heller, Orians, Purves & Hillis identificado como Henry M., cujos hipocampos bilaterais foram removidos na tentativa de controlar a epilepsia severa da qual so- fria.Depois da cirurgia, H.M. não foimais capaz de formar memó- rias de longa duração. Se alguém fosse apresentado a ele, conver- sasse e depois deixasse o ambiente por vários minutos, quando voltasse não seria reconhecido por H.M. - era como se a conversa jamais tivesse existido. H.M. mantinha as memórias de eventos que ocorreram antes da cirurgia, mas após esta, não conseguia lembrar eventos por mais de 10 ou 15 minutos. A memória de pessoas, lugares, eventos e coisas é chamada memória declarativa, pois conseguimos descrevê-Ia consciente- mente. Outro tipo de memória, chamada memória procedural, não pode ser conscientemente evocada ou descrita: é a memó- ria sobre como desempenhar uma tarefa motora. Quando você aprende a andar de bicicleta, esquiar ou usar o teclado de um computador, você armazena memórias procedurais. Embora H.M. fosse incapaz de formar novas memórias declarativas, podia arma- zenar novas memórias procedurais. Quando ensinado novas ha- bilidades motoras ao longo de dias consecutivos ele não era capaz de recordar as aulas, embora seu desempenho motor melhorasse. Assim, o aprendizado procedural deve envolver mecanismos dis- tintos daqueles usados no aprendizado declarativo. Memórias podem ter considerável teor emocional. Como mencionado anteriormente, o sistema límbico desempenha papel crucial no controle das emoções. A amígdala é necessária para a sensação de medo e para a formação de memórias de medo. Pa- cientes com lesões na amígdala podem formar memórias decla- rativas, mas são incapazes de associar respostas de medo a essas memórias. Indivíduos sadios podem ser facilmente condicionados a demonstrar medo antecipatório. Podemos, por exemplo, mos- trar cartas de diferentes cores a indivíduos, e associarmos uma das cores ao recebimento de um choque elétrico desagradável, o que leva ao aumento da freqüência cardíaca através de uma resposta simpática. Depois de treinados, a freqüência cardíaca dos indiví- duos aumentará ao verem a carta, mesmo sem recebimento de choque. Pacientes com lesões na amígdala, entretanto, apresen- tam a resposta simpática ao choque, mas não em resposta à visão da carta apropriada. Eles inclusive dirão que esperam receber o choque, mas não exibira nenhuma resposta de medo. Figura 52.15 Áreas de linguagem no córtex Distintas regiões do córtex cerebral esquerdo participam nos proces- sos de (A) repetir uma palavra ouvida e (8) falar uma palavra escrita. (A) Repetiçãode umapalavraouvida Matara Habilidades lingüísticas são localizadas no hemisfério cerebral esquerdo Nenhuma das funções encefálicas está tão integralmente relacio- nada com consciência e intelecto quanto à linguagem. Por esse motivo, estudos dos mecanismos encefálicos que medeiam a aquisição e o uso da linguagem interessam muito neurocientistas. Uma observação curiosa sobre a linguagem é que essa habilida- de se localiza em um hemisfério apenas - em 97% das pessoas o hemisfério esquerdo. Esse fenômeno é chamado lateralização das funções lingüísticas. Alguns dos mais fascinantes estudos neste assunto foram de- senvolvidos por Roger Sperry e seus colaboradores no California Institute ofTechnology, e deram a Perry o prêmio Nobel em 1981. Os dois hemisférios cerebrais são conectados por um trato de substância branca chamado corpo caloso. Em uma forma severa de epilepsia, rajadas de potenciais de ação viajam de um hemisfério para outro através do corpo caloso. Uma incisão no corpo caloso elimina o problema, e os pacientes funcionam quase que normal- mente após a cirurgia. Contudo, pacientes com o cérebro dividido pelo corte do corpo caloso apresentavam déficits de linguagem interessantes: sem a conexão entre os dois hemisférios, conhe- cimento ou experiências processadas no hemisfério direito não podiam mais ser expressos com linguagem, uma função do he- misfério esquerdo. Tampouco a linguagem verbal podia ser usada para comunicação com o hemisfério direito. Um paciente poderia obedecer a instruções verbais e usar mão direita (controlada pelo hemisfério esquerdo), mas não mão esquerda (controlada pelo hemisfério direito). Os mecanismos de linguagem no hemisfério esquerdo têm sido o objeto de muitos estudos. Os sujeitos destes estudos são indivíduos que sofreram lesões no hemisfério esquerdo e foram deixados com um dos vários tipos de afasia - déficit na capaci- dade de usar ou compreender palavras. Esses estudos têm iden- tificado várias áreas envolvidas com a linguagem no hemisfério esquerdo. A área de Broca, localizada no lobo frontal logo próxima ao córtex primário motor, é essencial para a fala. Danos à área de Broca resultam em fala hesitante, lenta e pouco articulada ou até mesmo na perda completa da fala, embora o paciente ainda possa ler e compreender a linguagem. No lobo temporal, próxima ao lobo occipital, está a área de Wernicke, mais envolvida com aspec- tos sensoriais do que motores da linguagem. Lesões na área de Wernicke podem acarretar a perda da habilidade de falar de forma compreensível, apesar de não comprometerem a habilidade de produzir sons normais ou de imitar a cadência normal. Além disso, pa- cientes com tal lesão são incapazes de compreender ou escrever. Próxi- mo à área de Wernicke fica o giro an- gular, apontado como essencial para a integração da linguagem falada e escrita. Habilidades lingüísticas normais dependem do fluxo de informação entre várias áreas do córtex cerebral esquerdo. O estímulo produzido pela linguagem falada viaja do cór- tex auditivo até a área de Wernicke (Figura 52.15A). O estímulo resul- tante da leitura da linguagem viaja do córtex visual para o giro angular e de lá para a área de Wernicke (Fi- gura 52.15B), assim como acontece (8) Falade umapalavraescrita Áreade Wernicke com você ao ler esta frase. Comandos para falar são formulados na área de Wernicke e viajam para a área de Broca e de lá para o córtex motor primário. Lesões em qualquer uma dessas áreas ou vias podem resultar em afasia. Usando modernos métodos de imagem funcional é possível acompanhar modificações metabólicas em diferentes áreas do en- céfalo quando este processa aspectos de linguagem (Figura 52.16). Como inclicadoanteriormente, a maior parte do conhecimento so- bre as funções regionais do encéfalo humano provêm de estudos com pacientes com lesões crônicas, usualmente decorrentes de in- jurias decorrentes da guerra ou de acidentes. Modernos métodos de imagem podem ser usados
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