Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Disciplina: Corporeidade Autores: M.e. Carla Morales Revisão de Conteúdos: Esp. Orlei Candido Antunes Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Carla Morales Corporeidade 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA MORALES, Carla Corporeidade / Carla Morales. – Curitiba, 2018. 54 p. Revisão de Conteúdos: Orlei Candido Antunes. Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. Material didático da disciplina de corporeidade – Faculdade São Braz (FSB), 2018. ISBN: 978-85-5475-208-8 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina A disciplina de Corporeidade procura expor os aspectos ligados ao corpo, levando em consideração sua relação como produtor de uma linguagem singular, onde as vivências corporais podem produzir conhecimento. Será discutido também como a consciência corporal pode ser trabalhada, utilizando- se do lúdico e do cognitivo para expressar uma fala única e notória. 6 Aula 1 – O conhecimento sobre o corpo Apresentação da aula 1 Você já parou para pensar como, podemos construir nossa imagem por intermédio do corpo? Essa imagem que ao mesmo tempo é projetada para fora pode revelar estruturas internas de funcionamento bem interessantes. A corporeidade e seu conhecimento nos dão a ideia primordial da importância do corpo como produtor de conhecimento e ação. É na construção de sua expressão que o corpo passa a exercer funções que vão muito além do biológico. Ele pode significar a simbologia de uma cultura, de uma linguagem. Daí a importância de conhecê-lo melhor. 1. Relação corpo-mente-cultura Os estudos sobre desenvolvimento humano trouxeram vários olhares sobre a questão do corpo. A tríade corpo-mente-cultura, que hoje é vista em conjunto, teve um olhar mais individualizado. Cada termo recebeu das mais diversas áreas um olhar específico. A cultura, de certa maneira, sempre olhou com atenção o corpo, ora olhando ele com uma cientificidade maior, ora olhando esse corpo como sinônimo de perfeição e beleza ou como instrumento de poder socioeconômico. O mesmo acontece com relação à mente. O cérebro e seu funcionamento sempre foram alvo de curiosidade e estudo, pois ele encerra a nossa capacidade de pensar e de acionar. As habilidades cognitivas, afetivas e motoras fazem parte da mente. Tudo que pensamos e fazemos depende da mente. Hoje não há como dissociar ela do corpo, mas nem sempre foi assim. Os estudos e conceitos relacionados à mente e ao corpo mudaram ao longo da história. Nossa maneira cartesiana de pensamento, separando e estudando a parte cada termo, ainda nos conduz a pensar que o corpo funcione como uma máquina, deixando de lado a possibilidade desse mesmo corpo possuir uma mente e ser permeado por questões culturais. Para Mendes e Nóbrega, (2004) o corpo carrega uma historicidade que lhe é intrínseca, porque é a história própria do corpo, e outra extrínseca que vem 7 com a relação desse corpo com a cultura. Merleau-Ponty (2000) afirma que mesmo para exercer as funções orgânicas o corpo realiza procedimentos. Aqui o comportamento simbólico e os esquemas inatos são inseparáveis. Para Morin (1980) o corpo assume dimensões múltiplas: [...] a afetividade, a inteligência, o espírito humano, provenientes de uma evolução animal e de uma ontogénese biológica, constituem realidades vivas e vitais. A própria cultura é o fruto de uma evolução biológica e, dependente da sociedade humana, depende da auto- (geno-feno-ego)-ecore-organização social. (1980,p. 387). Com relação à mente, a percepção ocupa um lugar de destaque. As habilidades motoras, afetivas e cognitivas apreendidas ao longo do desenvolvimento fazem com que o corpo ocupe um lugar além da sua estrutura, dando a esse uma linguagem própria, carregado de significados e significantes. A mente ajuda o corpo a se expressar, dando todas as ferramentas necessárias para que a interação com outros corpos possa produzir efeitos construtivos do próprio corpo e de outros, fundamentando a relação da mente com ele. Essa possibilidade é totalmente contrária ao pensamento cartesiano, onde o corpo não é dotado de desejos e nem carrega os elementos da subjetividade, tão importantes para o relacionamento. Dessa maneira, a tríade corpo, mente e cultura se forma, rearranjando estruturas e tecendo uma rede complexa de formação e expressão da corporeidade. 1.1 Aspectos históricos da construção do corpo Contemporaneamente falando, o corpo e sua percepção ganham cada vez mais adeptos em entender o que isso significa. Vivemos em um tempo em que corpo, dotado de poder, manifesta-se com soberania, produzindo significados e significantes. A linguagem que o corpo utiliza é talvez uma das mais significativas e antecede a fala de maneira que a entendemos, pois são os gestos corporais originados na infância que ditam as nossas vontades. A fala do corpo antecede, a linguagem por assim dizer. Essa ideia é defendida por Vygotsky que diz que a criança, antes mesmo de falar, já demonstra uma capacidade de comunicação. Um exemplo disso é a utilização do aparato motor para pegar determinado objeto como um brinquedo. Esse corpo diz o que quer, sistematiza as ações mentais, 8 mesmo que ainda rústicas, mas consegue elaborar passos para acionar a sua vontade, o seu desejo. Vocabula rio Contemporaneamente: Que acontece ou tem seu início no presente (tempo atual): literatura contemporânea. Fonte: https://www.dicio.com.br/contemporaneo/ Piaget sinaliza que o período sensóriomotor da criança é realizado por sensações e movimentos. Nessa fase o corpo se manifesta por movimentos que são dependentes do aparato da visão, por exemplo, para perceber o mundo a sua volta. Referente ao tempo, as concepções biológicas imperaram o pensamentoem várias áreas, inclusive em relação à corporeidade. A biologia considerava os fenômenos fisiológicos para explicar o corpo, sendo ele inerente ao ambiente, isto é, o ambiente não tinha influência nesse corpo. Os processos orgânicos na medida em que se desenvolvem, maturam, ou seja, chegam ao ápice do seu desenvolvimento, do qual dali não passarão. O corpo é o que é. A hereditariedade e a genética seriam contributos para explicar aquilo que foge à regra, ou seja, os distúrbios e as doenças, por exemplo. Com o estabelecimento das ideias sobre cultura, a visão de corpo se desloca de campo, permitindo uma aproximação com o meio. O corpo é fruto da interação com o meio e com os seus pares. Para Mendes e Nóbrega (2004): [...] Dando continuidade à historicidade do corpo, vamos construindo outra história mediante nossas experiências de vida, de acordo com a sociedade que vivemos. Nosso corpo humano possui a mesma organização dos seres vivos, porém, com estrutura diferente, vai adquirindo originalidade à medida que vai interagindo com o entorno. [...] (Mendes e Nóbrega, 2004, p. 129) Essa mesma cultura, agora determina os padrões sobre o corpo, criando tendências nas áreas como saúde, alimentação, vestuário, beleza. Todas elas 9 ditando regras sobre o corpo. Não seguir a regra é estar à margem da sociedade. O biopoder se estabelece sobre os corpos. Sobre isso, segundo Foucalt (2007) dois são os caminhos; o primeiro refere-se ao fato de colocar o corpo como força produtiva. Para crescer é preciso produzir e para produzir é preciso disciplinar os corpos, o segundo caminho se refere à biopolítica da população, isto é, regular o corpo, gerando informações que vão fomentar dados sobre natalidade, mortalidade, longevidade, ou seja, tudo aquilo que é necessário para a domesticação desse corpo. A grande mudança, historicamente falando, está na mudança do discurso sobre o corpo. Importante Michel Focault, entre os anos de 1974 e 1979, lançou uma terminologia para indicar a sujeição dos corpos ao poder, funcionando como instrumento e objeto desse campo no que tange a regulação social dos corpos. Trata-se do biopoder ou biopolítica; duas palavras importantes para se entender sobre a sujeição dos corpos. 1.2 A influência das ideias e estudo de Marcel Mauss e Maurice Merleau- Ponty Nas mais diversas áreas de estudo, sempre aparecem estudiosos que se destacam por usar ideias acerca do tema. Um exemplo disso é o de Charles Darwin, se tratando da Evolução. Quando falamos sobre corpo e corporeidade temos dois estudiosos que deixaram grandes contribuições para a área: Marcel Mauss, um antropólogo e Maurice Merleau-Ponty, um estudioso da Fenomenologia. Esses dois autores contribuíram para uma discussão filosófica sobre o corpo e a corporeidade. Tanto Mauss como Mereau-Ponty estudam o homem. Ambos concordam que esse homem portando um corpo que por sua vez interage com outros corpos está inacabado; ele não o fim de sim mesmo. Maurice Mauss vai desenvolver a ideia de que o homem se centra sobre três bases: a social, a base psicológica e a base fisiológica. Ele vai denominar esses três elementos de: Fato Social Total (FST). É o homem sendo visto em sua 10 totalidade. Mauss vai centrar seus estudos no “uso dos corpos” e vai juntar as concepções de “ser” e “ter” um corpo. Seus estudos são bem contemporâneos porque vão discutir justamente como esse corpo é usado e visto. Por exemplo, a pessoas têm seu corpo para serem bonitas e fortes. Para que elas consigam isso, vão ter que se inteirar, em termos societários, que corpo a sociedade enaltece como bonito ou considera como forte. Essa tendência da sociedade vai fazer com que individualmente os corpos sejam construídos com vistas ao atendimento desse corpo e do valor que a sociedade dá a ele. Mauss deixa claro que o corpo é ao mesmo tempo matéria-prima e produtor de cultura. Nesse sentido, abre-se uma brecha para que essa ideia seja comparada ao determinismo biológico do corpo. As duas concepções são rebatidas atualmente nas discussões sobre corporeidade. Portanto, para Mauss os corpos são essencialmente produtos da cultura; o uso desse corpo é permeado pela cultura em que este está inserido. Entretanto para Merleau-Ponty diferem nesse aspecto. Para Ponty o corpo fala e esse corpo é dotado de expressão, gestos, movimentos, palavras, e linguagem. Essa expressividade toda, carregada por uma agressividade ativa, constrói a corporeidade em Merleau Ponty. O corpo pulsa e está vivo; ele é a expressão ativa no mundo. Essa dinâmica corporal é carregada de subjetividades e por isso mesmo capaz de aprender. Com relação a isso a cognição está fortemente atrelada à esta liberdade que o corpo goza pelo prazer de sua realidade que se enlaça com a liberdade de expressão desse corpo ativo, onde o ser e estar se misturam e se entrelaçam, continuadamente, e indefinidamente, se reinventando a todo momento porque esse corpo não passa desapercebido pela história. Esse corpo é a própria história que se constrói no tempo, pelo tempo. Essa união de corpo e mente preconizada por Ponty vem dessa percepção do corpo como entidade plena. Nisso ele difere das ideias de Mauss. Nesse aspecto, a percepção torna-se carro chefe das apreensões da realidade que a toda hora transforma o corpo e por ele também é transformado, para que nas relações sociais estabelecidas, outros corpos sejam contaminados pela vivacidade e assim novas teias de conhecimento são formadas e novas relações vão sendo estabelecidas, recheando a corporeidade com bases sólidas por fora e fluídas por dentro. 11 Dessa maneira é que Merleau Ponty estabelece sua relação com a corporeidade, deixando que o campo do objetivo dê lugar ao campo do subjetivo, pois ao estudar o homem não se pode dizer que um deles é objeto de estudo, mas outro ser humano. O “objeto” observado é o próprio homem. É como se olhar no espelho e ver a sua imagem refletida nele, mas transfigurada em outros corpos. Sendo assim, as contribuições de Maurice Maus e de Merleau Ponty para tentar entender o corpo e sua contemporaneidade são tão importantes e impactantes sobre o pensar sobre esse corpo e sua corporeidade. Saiba Mais Merleau-Ponty escreveu vários livros e entre eles escreveu o livro “Fenomenologia da Percepção”. Sua primeira edição data do ano de 1945, mas é um livro essencial para começar a entender as discussões sobre o corpo e a corporeidade. Vale a pena a leitura! O desenvolvimento das funções motoras e cognitivas afina essa percepção e o feedback dessa existência que acontece na interação com outros corpos. A percepção acontece quando nascemos. Por meio dos sentidos vamos percebendo o mundo, fazendo leituras e gestos que nos garantam uma funcionalidade básica de nossa existência. Com a aquisição do tônus muscular, aperfeiçoamos nosso andar e com ele começamos a descortinar o ambiente. A minha percepção que antes era puramente de sobrevivência, passa a ser exploratória. Eu uso os sentidos e a minha parte motora e, com isso, eu vou percebendo o mundo e me percebendo. Com o passar dos anos, as vivências vão se tornando mais intensas e complexas e o aparato cognitivo ajuda a refina- la, fazendo com que as escolhas passem a fazer parte disso. Eu coloco o meu corpo dou movimento a ele, na percepção de que isso gere resultados favoráveis a mim. Na medida em que eu me relaciono com outros corpos, minha percepção aumenta, tanto a nível individual, porque passo a me enxergar nas situações, como a nível coletivo, porque a ação dos acontecimentos cotidianos e relacionais faz comque o meu corpo tome atitudes coletivas, em prol da sociedade. Dessa 12 maneira, os aparatos motores, afetivos e cognitivos ganham vulto na construção da corporeidade. Vocabula rio Tônus Muscular. Condição de contração que se mantém permanente, pouco intensa, não patológica, ocorrendo nos músculos. Fonte: https://www.dicio.com.br/tonus/ A corporeidade é uma construção social e, portanto, permeada por outro corpo. Na verdade, a existência dos corpos se dá na interação, pois possuem, pois na reciprocidade preceptoria mútua, o corpo pode adquirir outros elementos formadores de sua identidade, reforçando ou até mesmo substituindo velhos padrões para dar lugar a uma linguagem corporal cada vez mais rebuscada e refinada, na medida da sua relação com as experiências vividas. O ato de perceber nos coloca em outro patamar, muda o posicionamento passivo do corpo para um posicionamento ativo, onde esse corpo passa a ter que se ver consigo próprio e também com esse outro corpo que lhe remete significados e calca novas estruturas formativas. Uma das formas de percepção é a identificação. Nasio, (1999) nos chama a atenção para percebermos que a palavra identificar ou identificar-se se disfarça de elementos miméticos. Segundo Nasio (1999): Um sujeito se identifica com alguém ou alguma coisa quando ele se confunde com esse alguém ou essa coisa, quando ele vai até o outro para assimilá-lo e assimilar-se a ele, até tornar-se idêntico. (Nasio, 1999, p. 80). Atualmente, onde a valorização do corpo está em voga, quem tem um corpo cuidado e consequentemente uma saúde preservada torna-se modelo de sucesso e, portanto, de identificação. Essa representação é uma condição social proeminente e que gera corpos sarados em série. Existe o modelo e as milhares de cópias, sendo que o modelo também pode se tronar uma cópia, pois a fluidez 13 representativa dos corpos permite esse estado. Aqui não falamos se isso é bom ou ruim, apenas sinalizamos o quão a questão da percepção do corpo por ir. Quais são os caminhos traçados pela percepção? Até onde conseguimos chegar com essa percepção e quais os efeitos que essa percepção cauda na construção da corporeidade. Vocabula rio Voga: moda; mania passageira; que está em destaque: música em voga Proeminente: que fica mais alto do que os demais; que se destaca Fonte: https://www.dicio.com.br/ Para a psicanálise a identificação é uma ida em direção ao outro e pode ser consciente ou inconsciente. O ato inconsciente é subjetivo. Por exemplo, um homem tímido faz academia para aumentar sua massa magra corporal. Nessa mesma academia existe um homem que malha há anos e que possui um corpo escultural. Esse mesmo homem tem uma sociabilidade dentro da academia muito grande; todos querem falar com ele, pegar dicas ou apenas conversar com ele. O homem tímido pensa: “se eu tiver um corpo como o dele, as pessoas vão vir falar comigo e eu vou deixar de ser tímido”, ou seja, ele coloca no corpo a solução para deixar de ser tímido. Ele percebe que por meio do corpo ele pode deixar de ser tímido. O ato consciente já é mais real. Pessoas que malham muito e que querem ter um corpo bonito sabem que atrairão olhares e esse é o desejo delas. Elas querem ter corpos sarados porque sabem que isso lhes trará sucesso. Ainda em relação à percepção, um outro elemento é a imagem que formamos sobre o corpo. Com relação a isso, possuímos duas possibilidades: o esquema corporal e a imagem corporal. 14 1.3 Esquema corporal Antes de falarmos sobre o esquema corporal, precisamos definir o que é um esquema. Esquema é toda a representação que se faz sobre alguma coisa. É como se nossa mente tivesse uma ideia e essa ideia passa a fazer parte daquilo que sentimos. Por exemplo: o esquema de uma flor para determinada pessoa está relacionado ao conhecimento que essa pessoa possui de flor, ou melhor dizendo, a representação que essa pessoa entende como sendo a de uma flor. O esquema é imaginário, mas está calcado no real, naquilo que um dia lhe foi apresentado e a mente captou. No caso do esquema corporal, pode-se definir que seja a representação que se faz do próprio corpo. Isso é muito importante para a constituição da personalidade. Existem autores que defendem essa ideia, de que o esquema é gerado por meio da imagem, como é o caso de Pick (1973) que considera a visão e a percepção cutânea de elementos de percepção do corpo. Outros autores como Head e Holmes, (1973) afirmam que o esquema corporal está ligado à intuição do corpo, representado pelas situações que esse corpo experimenta. Para cada nova impressão, muda o esquema corporal. Aqui as sensações posturais estão presentes. Esse esquema também está sujeito às interações corporais externas. O ato de relação com outros corpos e outras sensações também ajuda a moldar o esquema corporal. Quando o biológico encontra-se com a cultura, esses esquemas passam a ser dependentes dessa cultura. Uma delas é questão da reciprocidade. Ela altera a percepção do próprio corpo. Portanto, o esquema corporal não é acabado; ele é retroalimentado no decorrer do desenvolvimento e da maturação, principalmente das funções motoras e do grau de reciprocidade do corpo. 1.4 Imagem corporal Por definição a imagem se refere à representação da forma de uma pessoa, ou seja, é como esse corpo é projetado. Nos dias atuais a imagem corporal ganha uma dimensão muito importante, porque prediz e conceitua a 15 pessoa. Um exemplo típico disso é com relação do corpo com o mercado de trabalho. Pessoas que visivelmente cuidam do seu corpo e se vestem bem têm melhores chances de emprego do que aquelas que não cuidam do seu corpo e não se vestem bem; assim convencionou-se em nossa sociedade. Percebe-se que a imagem corporal está atrelada ao pensamento da sociedade sobre o corpo. Outro exemplo que podemos dar é que a sociedade exige um grau de coerência entre a profissão e o corpo; por exemplo, na representação que se faz de um professor de educação física, esse jamais será visto como uma pessoa obesa; é como se a obesidade não combinasse com o corpo que não combina com a profissão. Dessa maneira fica muito claro que a imagem corporal define o sujeito para a sociedade. Essa mesma definição pode gerar equívocos e preconceitos, por exemplo atrelar a condição financeira ao jeito que essa pessoa se veste e se porta. A imagem corporal marca o corpo e lança as tendências corporais dos tempos, fazendo com que o corpo tenha que se adaptar a essas novas leituras. Caso não o faça, esse corpo socialmente será rejeitado e marginalizado. Essa imagem carrega todos os estigmas sociais, podendo se manifestar em somatização não positiva como é o caso desses padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, que muitas vezes acabam custando a vida de jovens que se submetem o corpo à situações extremas para estar dentro daquilo que é considerado belo para a sociedade. A imagem corporal está fortemente atrelada à questão da percepção corporal. Essa percepção, às vezes, está mais voltada para outro do que sobre si. Esse outro atua como um espelho ambulante e a imagem que se vê pode ser a imagem do desejo de possuir aquele tipo de corpo. Muitas pessoas têm problemas com a autoimagem e, por isso, projetam no outro a possibilidade de serem felizes. Uma constatação disso é o aumento expressivo das cirurgias plásticas, que muitas vezes são para retardar a ação do tempo sobre um corpo que naturalmente envelhece, ou mesmo para a reparação de aspectos estéticos que deixama pessoa desconfortável com seu corpo. Outra questão para reflexão sobre a imagem corporal se refere ao quanto as pessoas se tornaram reféns dos padrões corporais que a sociedade impõe e o quanto a questão mental é afetada por essas questões. O número de distúrbios na percepção do corpo tem chamado a atenção das unidades de saúde, 16 principalmente entre a população jovem, cuja imagem vale mais do que a própria existência. https://br.depositphotos.com/search/mulher-anorexica.html https://br.depositphotos_69039051-stock-photo-healthy-woman-drinking-water Resumo da Aula Nessa aula pôde-se compreender o quão importante é o corpo, bem como a importância da construção da corporeidade que depende dos aspectos societários. As representações que a sociedade faz sobre os corpos, muitas vezes, determina o padrão de corpo a ser seguido, e isso tem implicações diversas, tanto individualmente, quanto coletivamente. A imagem corporal muitas vezes vale mais do que a existência do corpo; não raro o aumento dos distúrbios de percepção sobre o corpo estarem crescendo a cada ano que passa. Constatou-se também que as questões sobre a corporeidade são estudadas e dialogadas. Esse diálogo, promovido por vários estudiosos, ajuda a construir as bases teóricas sobre a questão da corporeidade. Vimos também que o corpo tem história e que sua existência está calcada em três pilares: mente-corpo- cultura. Essa tríade forma o corpo. 17 Atividade de Aprendizagem Sabe-se que a imagem corporal, às vezes, vale mais do que a própria existência. Essa visão é muito comum entre os jovens, onde a imagem é tudo. De que forma a sociedade pode fazer com que a imagem corporal assuma padrões mais normais, ajudando a diminuir os distúrbios causados pela percepção do corpo? Aula 2 – Educação e Corporeidade Apresentação da aula 2 Você já parou para pensar como, por meio da educação, podemos otimizar as questões relacionadas à corporeidade? O ato de educar-se expressa a potencialidade de algo, que no caso é a potencialidade da expressão do corpo. Esse corpo que fala, se expressa e clama por direitos, para que sua existência não seja vã, mas dotada de sentidos. Daí a importância de olhar para esse corpo e entender as dimensões educacionais a que esse corpo está mergulhado. A educação pode significar a liberdade do corpo, tornando sua existência real. 2. O olhar da escola sobre o corpo O corpo, tal qual o concebemos está inscrito na sociedade e ao mesmo tempo nos espaços que essa sociedade cria para existir. Um desses espaços é a escola. Esse espaço constitui-se como um lócus de saber. Por ali, o conhecimento circula, constituindo os indivíduos que ocupam esses espaços, dando-lhes voz e ouvido. A educação dos corpos também acontece nesse espaço, pois é ali que as interações acontecem cotidianamente nas fases da vida de construção de uma pessoa. O corpo como sujeito requer uma identidade, que é única, visto que nenhum corpo é igual ao outro. Farah (2010) nos chama a atenção sobre os vários espaços que a escola possui e, portanto, por onde esse corpo circula. Ele traz como um espaço fundamental o currículo da escola e também o projeto político pedagógico; dois documentos que expressam a escola na sua ideologia. Esses documentos norteiam todas as ações da escola 18 e são importantes porque denotam as concepções filosóficas do que é ser homem, ser humano e também expressam uma visão de mundo. Nesse sentido, o corpo torna-se uma estrutura de poder que pode controlar ou ser controlado. Outro espaço a ser sinalizado é o próprio espaço da escola. O movimento é inerente ao ser humano; desde o nascimento a motricidade acompanha a vida das pessoas. O corpo é constituído pelo movimento. Como esse corpo circula pela escola? Nem todos os espaços serão livremente acessados pelos corpos, haverá sempre uma negociação para isso. Outro aspecto é que essa circulação vai dar ao corpo a chance de sua percepção, colocando a imagem corporal em evidência e partir daí construir as relações sociais. Os ambientes da escola como o pátio, a biblioteca, o parquinho, a quadra de esportes ou algum ambiente verde, vão denotar dos corpos um conjunto de ações específicas para cada tipo de ambiente. A sala de aula provavelmente será o espaço onde o estudante passará a maior parte do seu tempo. Nesse espaço as relações que o corpo estabelece são muito intensas e negociadas o tempo todo. Aqui, professores e estudantes praticam as políticas de seus corpos. Ainda falando de sala de aula, as disciplinas como Educação Física, Ciências, Biologia, Artes, Música e Teatro vão revelar os corpos em sua potencialidade. Aqui, a percepção dos corpos estará evidenciada o tempo todo e sua expressão revelará as mais variadas linguagens que esse corpo possui. A escola também vai revelar espaços onde as subjetividades são impressas no corpo. Um exemplo disso é a violência a que esses corpos são submetidos. Vide os casos de bullying na escola. Essa não aceitação das diferenças como a religião, a cor da pele, a massa corporal, gera fortes tensões entre os corpos e cabe a escola ajudar a dirimir, educando para a diversidade. 2.1 Desafios e perspectivas Ao falar sobre a escola, vários são os desafios e as perspectivas que vão ser traçadas e que precisam ser discutidas. Um dos grandes desafios com relação à questão da corporeidade reside no fato de que os corpos, enquanto políticos, vão exercer ação sobre outros corpos. Se a escola não estiver preparada ou não se der conta disso, o que acontecerá é uma repetição ou a 19 produção em série de corpos disciplinados e que falarão a mesma linguagem. Essa massificação dos corpos fará com que as interações empobreçam. A escola, como dito anteriormente, tem que estar preparada para acolher e desenvolver a diversidade. Nessa perspectiva, a construção dos corpos será mais rica e cheia de significantes e nesse caso, trazendo elementos constitutivos diversos e criando bases sólidas para a construção de corpos mais humanizados em suas ações. Dessa maneira, a escola poderá se tonar um espaço efetivo onde o sujeito, dotado do poder de escolha, poderá ter acesso ao conhecimento que melhor lhe couber para a sua construção e sua personalidade. Outro grande desafio que a escola possui com relação ao corpo é se questionar como modelo educacional. Será que a escola, como a concebemos, exerce seu papel? Sabemos que a escola funciona sob a visão da sociedade e por meio do condicionamento, do controle e da higienização dos corpos, ela perpetua ações e saberes que serão repetidos na sociedade. Farah, 2010 propõe o seguinte questionamento: Segundo Farah (2010): Quais seriam as práticas corporais disciplinadoras (fila, controle dos gestos, comportamentos, discursos, técnicas corporais, novas disciplinas) e seus efeitos nos corpos que as instituições escolares realizam no intuito de manter a ordem e simultaneamente formar alunos para servirem a um tipo de sociedade? Estaríamos ainda numa sociedade-escola disciplinar com seus princípios coercitivos ou, numa sociedade-escola de controle na qual o princípio da sedução é o dispositivo que rege os corpos? Ou, ambas, simultaneamente? (Farah, 2010, p. 408). Necessita-se repensar o papel da escola e que legados ela quer deixar para o mundo por meio dos corpos que passarem por ela. Cabe a esse espaço tão importante escolher querer continuar no campo dos desafios ou aventurar- se no campo das perspectivas, onde o novo se descortina. 20 2.2 O corpono processo de ensino e aprendizagem Dentro do processo de educação, o corpo é constantemente requisitado. Nossas habilidades motoras, advindas desde o nascimento, constituem a primeira forma de comunicação com o mundo. Portanto, o processo de ensino aprendizagem de certa forma já está intrínseco a esse corpo que vai à escola para aprender. A motricidade e a aquisição de novas habilidades no espaço escolar vão contribuir muito para a personificação do indivíduo, colocando-o em uma posição ativa perante o mundo. O corpo é múltiplo, se constituindo pelos aspectos biológicos, psicológicos e sociais; cada uma dessas dimensões agindo em conjunto e marcando o corpo, lhe imprimindo características únicas. Isso lhes confere a individualidade que deve ser levada em conta nos processos de ensino-aprendizagem. Embora seja um espaço coletivo, os saberes são aprendidos de maneiras desiguais, por vários motivos, desde aqueles intrínsecos, como a capacidade motora, até os fatores extrínsecos, como um corpo que não recebe uma alimentação adequada. Dessa maneira o processo educacional tem que abranger uma gama de metodologias que abarquem os mais diversos corpos, para que a aprendizagem seja significativa para todos. Dentro dessa lógica, as práticas pedagógicas que levarem em consideração a totalidade de elementos que são da ordem do humano como a afetividade, a motricidade, a emoção e a sociabilidade terão mais chances de sucesso. Para tal, os elementos lúdicos são uma ferramenta essencial nesse processo, priorizando a relação corporal para gerar saberes significativos. 2.3 As disciplinas escolares e seu olhar sobre o corpo Dentro da escola, existem algumas disciplinas que são marcadas para trabalhar o corpo. Já dentro de um processo mais amplo, todas as disciplinas deveriam trabalhar a corporeidade, visto que essa está imbricada nas ações que esses corpos promovem, por exemplo, na disciplina de Geografia, entender o movimento dos corpos pelas cidades. Quais são as necessidades desse corpo estar se movimentando? Quais necessidades não estão sendo supridas em determinado local? 21 Dito isto fica claro que o trabalho do corpo ainda é incipiente nas escolas, sendo trabalhado principalmente pelas disciplinas de Ciências, Biologia, Educação Física e Teatro, quando esse está presente. Merecem atenção as disciplinas de ciências e biologia porque dentro de um contexto histórico, são disciplinas que validaram as ideias sobre os corpos desde os séculos passados. Conhecer para controlar, conhecer para higienizar, conhecer para ter poder sobre os meios de produção. Por muito tempo esses discursos sobre os corpos foram validados pela ciência. Outro aspecto dessas disciplinas é ver o corpo como um ente biológico. Esse estudo tem sua importância de reconhecer esse corpo, dando a ele um espaço e um grau de pertencimento. Já a disciplina de Educação Física enaltece a questão da motricidade desse corpo. Isso é fundamental no processo de formação do indivíduo. Um dos nossos meios constituintes é o movimento. Esse movimento inato, do qual nascemos com ele, vai sendo aprimorado e amadurecido. A aquisição das habilidades cognitivas está relacionada com as habilidades motoras. Esta ajuda a impulsionar a cognição e faz com que o corpo se desenvolva em sua plenitude. Já as disciplinas extracurriculares como a dança, permitem uma educação voltada para a expressão. A expressão corporal forma uma linguagem única e que não necessita de palavras, apenas do corpo para se expressar. Aqui podemos citar também o teatro. Outa disciplina muito importante para a corporeidade é a Arte. As experiências lúdicas marcam a mente e o corpo e são fundamentais para a formação do ser humano. 2.4 A produção de conhecimento através do corpo Pode-se dizer que o corpo possui códigos que podem ser criptografados em mensagens. O corpo possui uma linguagem por meio da sua expressão. Ao expressar algo, o corpo sempre irá querer dizer alguma coisa. Por exemplo: se eu vejo uma pessoa acenando com a mão, eu posso presumir que aquela pessoa está se movimentando para me cumprimentar ou chamar minha atenção. Esses códigos lançados pelo corpo geram subjetividades por intermédio do pensamento e são capazes de gerar conhecimento. 22 Ví deo Para entender um pouco mais sobre a questão do conhecimento e do quanto a influência do saber pode afetar a vida das pessoas, fica a dica do filme A Onda, do diretor Dennis Gansel. Esse filme alemão de 2009 mostra que o campo das ideias pode expressar e se espalhar, formando ideologias que afetam os corpos. https:// https://www.youtube.com/watch?v=zG3TfjAhs30 2.5 Contribuições da Educação Física para o entendimento da corporeidade A Educação Física tem dado às questões da corporeidade uma importante contribuição, pois na sua atuação direta sobre o corpo, pode-se perceber, ao longo dos tempos, as mudanças de leiturização a que esse corpo esteve submetido ao decorrer do tempo e da história. Em contrapartida, essas questões fazem com que o campo da Educação Física repense a sua forma de olhar para o corpo, trazendo novos elementos à disciplina e gerando um campo de saber profícuo que as visões e ações que podem ser realizadas com essa nova visão do corpo. A corporeidade ampliou as bases de estudo da Educação Física. Não se pode esquecer que o espaço que a Educação Física, no âmbito do conhecimento formal, tem para trabalhar, é a escola. Esse espaço múltiplo e diverso ajuda na construção da corporeidade. É importante ressaltar também que a Educação Física contribui para as práticas pedagógicas dentro da escola, não ficando apenas em seu campo, mas influenciando fortemente o caminhar das outras disciplinas. Quando a Educação Física se propõe a trabalhar com o corpo, ela não só está a lidar com aquilo que é da ordem do biológico, mas com as subjetividades que vão aparecendo no meio do caminho. A questão da motricidade e seus elementos estão presentes o tempo todo nessa prática e também em um aprendizado mais intrínseco de zelo pelo seu corpo, pois é por meio e tudo se passa. A vida acontece pelo corpo e essa percepção é importante, inclusive para 23 percebê-lo como uma entidade biopolítica. Com relação a isso é bom salientar que a Educação Física deve ser vista como um campo que produz saberes e esses saberes estão relacionados com a questão da corporeidade; tendo o corpo muito mais que um objeto de estudo. Tratando-se da escola, vamos aqui delinear alguns aspectos com relação a essa corporeidade. Enquanto a disciplina de Educação Física é ofertada desde cedo para as crianças, elas se dão conta do corpo pela ludicidade. O ato de brincar torna-se uma metodologia eficaz que tem como objetivo a percepção do corpo por meio do movimento e a formação de um nível de socialização fora dos muros do lugar onde a criança habita. Com as das brincadeiras, a criança desenvolve o aparato motor, começando a exercer e conhecer os movimentos que ela pode realizar e até onde esses movimentos podem levá-la. Nessa fase, os movimentos são descoordenados e o ato cognitivo de pensar sobre eles não existe; aqui é o movimentar por movimentar. Na medida em que a criança cresce e se desenvolve, a prática vai ganhando elementos mais desafiadores e os movimentos passam a ser praticados com mais perfeição, até porque a imitação e a repetição vão fazer que isso aconteça. Nessa fase, os movimentos são mais coordenados e o elemento cognitivo passa a ser acessado para pensar sobre o movimento a ser executado. Aqui se abre as possibilidades para descobriras habilidades que o corpo tem e também para começar a entender que por outros caminhos, que não a imitação, pode se chegar ao mesmo resultado. É a cognição ajudando no processo de raciocinar sobre a execução do movimento. Em um nível mais elevado, o jovem que já adquiriu as habilidades necessárias à execução dos movimentos básicos dá um novo salto, executando variantes dos movimentos aprendidos e também com mais desenvoltura. Nesse momento o processo cognitivo está atuando o tempo todo na busca pela melhor maneira de executar o movimento, otimizando-o. É nessa fase que a busca por modalidades esportivas se afunila naquela que melhor se encaixa aos desejos. É aí que surgem as grandes personalidades do esporte ou aqueles atletas que se dedicam e se profissionalizam. Só isso já abre uma perspectiva enorme ao corpo porque é o movimento que abre as portas para a construção do sujeito. 24 A Educação Física ajuda na formação da personalidade, na formação de valores e em uma visão mais focada das coisas, também ajuda a melhorar o desempenho cognitivo e, com isso, outras disciplinas, pois o estudante torna-se mais focado e mais interessado. Ela também beneficia no desenvolvimento da coletividade, principalmente se a prática esportiva escolhida for coletiva, como o futebol, onde o sucesso é fruto de um trabalho conjunto de corpos que se unem para atingir um objetivo específico. Como se pode observar, enquanto disciplina, a educação física fornece uma gama de elementos que constituirão o sujeito. Por isso, ela é uma disciplina importante e deve ser valorizada. No nível comunitário, isso também acontece, e é importante que ela entre no rol das discussões sobre políticas públicas de incentivo à melhoria da qualidade de vida das pessoas. Uma comunidade que tem espaços em que o corpo possa se movimentar e se reconhecer, torna-se um espaço mais rico e dinâmico, trazendo benefícios não somente individual, mas coletivo. É o corpo atuado na saúde do corpo. 2.6 A corporeidade e os movimentos educacionais A educação é ampla e existe uma série de proposições para que a escola se transforme em um espaço múltiplo de saberes, além daqueles com os quais ela se compromete. No Brasil existem alguns movimentos que buscam a integralidade da criança na escola. Entende-se que a escola é parte formativa da cidadania e que todas as ações que são veiculadas na e pela a escola, possuem um caráter formativo. O corpo como elemento chave dessa proposição não fica de fora. A corporeidade é construída pelas interações que esse copo possui. Quanto mais interações acontecerem, maiores serão as chances na obtenção de habilidades que darão autonomia ao corpo, na sua busca por ter a liberdade de se expressar. Quando a escola consegue criar condições de não somente sensibilizar os seus alunos, mas também a comunidade em que está inserida, ela dinamiza e fortalece a corporeidade, por uma questão de pertencimento e reconhecimento de um lugar onde esse corpo existe, e pode atuar, mudando a sua realidade e a de quem está a sua volta. Isso é extremamente importante para a construção da corporeidade, porque fortalece 25 as bases e a molda com elementos sólidos e formativos essenciais à vida e à criação de atitudes mais humanas. Esses mesmos movimentos, muitas vezes geram uma readaptação das realidades, fazendo com que o corpo se movimente em direção a elas, no sentido de tentar se adaptar. Atualmente, cercados por toda sorte de tecnologias, o corpo adaptou-se à realização de poucos movimentos ou pela realização de movimentos repetitivos. Cada vez que surge um novo movimento, o corpo reluta em movimentar-se. Essa movimentação é necessária para o corpo é para a consolidação de saberes que poderão ser úteis futuramente. O corpo não está acabado, mas em constante crescimento e aprendizagem. Cada nova tendência os coloca em um outo lugar, cabendo a esses mesmos corpos fazerem escolhas para aperfeiçoar o processo de corporeidade. 2.7 A Teoria da Complexidade e a Corporeidade O termo corporeidade vem sendo utilizado para expressar a complexidade do corpo. Nesse quesito, qualquer tentativa de explicar a dinâmica do corpo apenas se baseando em uma das inúmeras facetas, estará simplificando ou reduzindo a capacidade que o corpo possui para se expressar. Por isso é tão importante relacionar a construção epistemológica sobre a corporeidade com teorias que possam dar conta de explicar a complexidade desse sistema. E nada melhor para explicar essa complexidade do que uma teoria cujo cerne da questão é justamente a complexidade das coisas. Uma dessas teorias é a Teoria da Complexidade, proposta pelo filósofo Edgar Morin, um dos grandes pensadores contemporâneos. O que diz a Teoria da Complexidade e como ela pode se relacionar com a questão da corporeidade? Os seres vivos são inacabados e constroem-se a partir de suas vivências, gerando saberes. Esses saberes, para atingirem o grau máximo de sua ação, devem estar interligados de tal maneira que a complexidade se faça, gerando fluxos de informações necessárias a uma nova construção de pensamento que levará o homem a ser mais humanizado. Segundo Morin (1998): 26 Ora, o problema da complexidade não é o de estar completo, mas sim do incompleto do conhecimento. Num sentido, o pensamento complexo tenta ter em linha de conta aquilo de que se desembaraçam, excluindo, os tipos mutiladores de pensamento a que chamo simplificadores e, portanto, ela luta não contra o incompleto, mas sim contra a mutilação. Assim, por exemplo, se tentarmos pensar o fato de que somos seres simultaneamente físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que a complexidade reside no fato de se tentar conceber a articulação, a identidade e a diferença entre todos estes aspectos, enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentes aspectos ou os unifica através de uma redução mutiladora. (Morin, 1998, p. 138). Talvez o que mais chama a atenção é o respeito dado a todas as dimensões que compõe o corpo. Todas elas são importantes e se tentarmos imputar pesos diferentes, poderemos incorrer no erro de subestimar a questão da corporeidade, como um constructo que vai além de todas as dimensões pautadas. É como se as partes tivessem uma importância tão igual quanto a soma delas. Nesse sentido, o olhar sobre o homem e sobre o corpo advém do olhar sobre seus aspectos únicos, mas também interligados. A complexidade une a unidade e a multiplicidade, portanto corpo e corporeidade. 2.8 Consciência Corporal A consciência corporal promove o empoderamento dos corpos. Esse poder se expressa na possibilidade do corpo ser o que quiser, dando à sua existência significados múltiplos e fazendo com que os corpos criem uma linguagem múltipla de comunicação que vai além do biológico, do psicológico e do social. Na área educativa, a disciplina de Educação Física possui um papel fundamental de reconhecimento desse corpo porque promoverá todas as ações que farão desse corpo um ente vivo e dinâmico. O corpo já não pode mais ser visto como um corpo-objeto, mas como um corpossujeito. Esse novo olhar faz com que o corpo adquira graus independentes de manifestação e que são essenciais na construção social dos corpos. Aqui podemos citar vários exemplos dessa consciência, como a busca pelos direitos. Essa busca está diretamente relacionada com a questão do corpo. O direito de ir e vir, o direito de poder manifestar a sua sexualidade, o direito de poder amamentar bebês nos espaços públicos são formas de empoderamento 27dos corpos que querem ocupar um lugar ao sol e tem direto para o fazerem, porquê possuem um corpo e uma corporeidade que os constituem como cidadãos, como seres humanos. Essa consciência corporal deve ser ensinada diariamente. A família, a escola e a sociedade são partes fundamentais desse aprendizado, porque não “estamos” em um corpo, “somos” um corpo. Essa multidimensionalidade se conecta à complexidade da consciência corporal. O ato da existência requer um corpo e uma corporeidade que seja capaz de dar conta das inúmeras facetas fundantes do corpo. A consciência corporal traz o corpo para a realidade, constituída no imaginário, mas funcionando no real. 2.9 Novos paradigmas sobre o corpo E quais serão então as novas formas de pensar e agir sobre o corpo? Sobre quais paradigmas a corporeidade está pautada? Já foi sinalizado em parágrafos anteriores que o corpo passa por uma supervalorização. Historicamente ele sempre esteve presente no pensar das épocas, agora não é diferente. O que é diferente é que a forma de pensamento sobre o corpo o enxerga com os óculos da sociedade atual. Segundo isso, para a sociedade atual o que é importante em termos de corporeidade? Um dos aspetos citados anteriormente é que a consciência corporal deu empoderamento para esse corpo exercer seus direitos. A corporeidade está sendo construída com bases libertárias, isto é, com a liberdade de expressão dos corpos. Outra forma de pensar está relacionada com o tempo. A expectativa de vida mudou e hoje se vive mais. Esse corpo está gozando de maior longevidade e com isso, muda-se a forma de ver esse corpo. Os idosos hoje compõem a faixa etária de maior volume em muitos países. No Brasil,a pirâmide etária já está se transformando, colocando o país num lugar em que a população de idosos será maior que a população de jovens. Quais ações serão realizadas, visando a qualidade de vida dessas pessoas? Como esses corpos serão tratados? Como a sociedade se prepara para isso? Nichos de mercado estão sendo criados em detrimento dessa possibilidade. 28 Como visto, o corpo está supervalorizado. As indústrias de cosméticos e insumos alimentares para o esporte não param de crescer. Os corpos se encontram mais vaidosos. É preciso ficar atento a isso porque se existe um lado bom também existe um lado que pode indicar sérias disfunções pois, a marginalização do corpo já acontece. Pessoas que fogem do padrão de estética determinados pela sociedade sofrem uma gama muito grande de preconceito. É preciso estar atento a isso, para que o corpo não seja escravizado pelos paradigmas atuais. Como se pode observar, são várias as facetas dentro dos paradigmas atuais sobre os corpos. O importante é que a corporeidade leve a humanização no seu sentido amplo e verdadeiro, na construção de sociedades mais humanas e justas. Resumo da Aula A corporeidade flui em todos os campos. Como campo do saber ela não estaria destituída do espaço chamado escola. É ali que boa parte dos anos se passa, e é ali também que a corporeidade ganha elementos mais sólidos para sua formação. O corpo como campo de conhecimento é amplo e irrestrito; o processo de aprendizagem está ocorrendo o tempo todo, em todas as fases de desenvolvimento da pessoa. Outro aspecto que chama a atenção é a importância que se deve dar à disciplina da Educação Física, pois ajuda na formação da personalidade e contribui nos processos cognitivos em todas as demais áreas. Por tudo isso, não dá para ver o corpo somente em uma dimensão; essa tridimensionalidade mostra o quão complexo é o corpo e o quanto devemos entender ele sob a luz da Teoria da Complexidade. Atividade de Aprendizagem Ao longo dos anos, a disciplina de Educação Física vem ganhando campo, principalmente por tentar entender os meandros da construção da corporeidade. Essa mesma corporeidade oferece um conjunto de saberes que melhoram ou ajudam a ampliar a visão que se tem da disciplina como um campo que gera saberes. Discorra sobre a importância da Educação Física na construção da corporeidade e como ela influencia em novos paradigmas. 29 Aula 3 – Aprendizagem corporal Apresentação da aula 3 Você já parou para pensar como o nosso corpo pode se tornar uma “sala de aula”? Quais são os processos contidos no corpo e que permitem a aprendizagem? O mesmo corpo que ensina é o corpo que aprende na interação com o ambiente e com os outros corpos. A corporeidade é a manifestação desse aprendizado. O caminho para se chegar a esse aprendizado é dotado de multiplicidade porque se utiliza dos elementos culturais para criar sua base metodológica. A aprendizagem deve ser significativa para que o corpo possa ganhar novos elementos em sua formação e assim poder exercer a sua corporeidade de maneira ampla, ocupando os espaços de pertencimento e existência. 3. Corporeidade como viés metodológico O corpo é uma entidade viva e como tal não está acabado. A cada novo dia, a cada nova interação, esse corpo é capaz de absorver sensações e percepções que vão lhe constituir, ora reforçando aquilo que já está estabelecido, ora desconstruindo. De qualquer forma, nenhuma interação é passiva e todas elas são dotadas de significado. O corpo aprende, ensina e ele também se utiliza de formas de organização para que isso seja possível. As nossas ações mentais são organizadas de tal maneira que o corpo consiga produzir algo, seja no movimento coordenado enquanto se nada, seja no movimento coordenado de uma corrida ou até mesmo na atividade mental enquanto se lê ou escreve. É como se esse corpo possuísse um viés metodológico que fosse capaz de fazer com que essa organização se transforme em movimento e pensamento. Esse corpo, que agora funciona como um viés metodológico, esta apto a exercer o seu empoderamento, pois consegue ocupar os espaços, não mais de maneira despercebida, mas de maneira intencional e organizada. Quando isso acontece, a corporeidade ganha força, sendo capaz de emanar novos elementos. 30 Esses elementos servirão de base para a formação de outros corpos e assim por diante. Dessa maneira a corporeidade poderá conseguir mudar a realidade das estruturas vigentes, imputando uma nova forma de pensar e agir sobre o mundo. Essa mesma corporeidade pode mediar processos porque consegue se organizar para tal. Um exemplo disso pode ser visto nos benefícios cognitivos que a prática de exercícios físicos pode proporcionar. A aprendizagem motora vai fazer com que novas habilidades sejam adquiridas, por meio de um viés metodológico que faça com que esse corpo ganhe a capacidade de foco, por exemplo, melhorando todas as atividades que tiverem que ser executadas e que tiverem que ter como mola propulsora para sua execução o foco. Como se pode observar, a corporeidade pode ser utilizada como viés metodológico. 3.1 O corpo que ensina No processo de ensino-aprendizagem o corpo pode ensinar e o corpo é capaz de aprender. No quesito ensinar, a imagem que se faz desse corpo e sua representação tornam-se elementos muito importantes, pois essa percepção aliada à interação faz do corpo um espaço de ensino. Esse ensino possui uma metodologia variada e pode ser intrínseco ou extrínseco. Um ensino intrínseco do corpo se refere à capacidade de movimento e de articulações, por exemplo. A percepção do movimento nos ensina a não ter um corpo parado, e sim ativo e que serve para se movimentar. A aquisição do tônus muscular abre essa porta, para escortinharmos o mundo. Por meio da prática constante do movimento, as habilidades motoras e cognitivas vão se afinandoe ganhando vários elementos essenciais ao raciocínio e à percepção de si mesmo. Quando isso acontece, o corpo se expressa melhor e pessoa que o possui, pode, então, com clareza, expressar seus sentimentos, pensamentos e emoções. O outro corpo ou outros corpos que interagirem com esse corpo que se expressa e sabe porquê se expressa será ensinado, ou melhor dizendo, contagiado e assim passará a exercer com o seu corpo o direito de se expressar também. Essa cadeia de contagio é que faz dá existência coletiva ao corpo e fortalece a corporeidade em todos os seus aspectos. Essa possibilidade de ensino carrega muitos métodos e por isso da sua multiplicidade. 31 3.1.2 O corpo que aprende Na outra ponta encontra-se o ato de aprender. O aprendizado do corpo só pode ser realizado por meio da convivência com outros corpos. Uma maneira de iniciar o aprendizado é usando a imitação, o que permite a execução de movimentos que podem ser repetitivos, até que um novo movimento seja incorporado. Esses movimentos também podem ser variados, fazendo com que a aprendizagem seja sobre a execução múltipla de movimentos. Outro tipo de aprendizagem do corpo é por meio da observação. Com isso, o grau de percepção deve adquirir elementos cada vez mais sagazes para conseguir captar as subjetividades que esse corpo emana, fazendo com o aprendizado seja significativo. Dentro dessas possibilidades de aprendizagem, o corpo será capaz de aprender somente aquilo que lhe fizer significado, para que a corporeidade seja constituída. Compreende-se também a aprendizagem sobre outro prisma. O corpo não é isolado da mente e todos os processos cognitivos, todo processo mental está relacionado a esse corpo. O aumento das interações neurais ajuda no desenvolvimento do corpo. A aprendizagem está atrelada tanto ao corpo como ao meio em que se está inserido. Os aspectos biológicos e socioculturais devem ser levados em consideração para se entender de que maneira a aprendizagem ocorre e de que maneira o sistema nervoso colabora para que isso seja possível. Devemos também entender que a aprendizagem do corpo não se dá de forma isolada e sim é fruto de elementos que se entrelaçam para construção da corporeidade. Sendo assim, vou denominar que a corporeidade é todo o processo de ensino aprendizagem do corpo, para o corpo e pelo corpo. Os três elementos abaixo, sinalizados pelo esquema, mostram que aprendizagem depende da maturação dos neurônios, do próprio crescimento do corpo e das habilidades que serão desenvolvidas. 32 Imagem criada pela autora. Esquema de representação dos elementos constituintes da corporeidade. 3.2 Práticas corporais A definição das práticas corporais como tudo aquilo que precisa do corpo para ser realizada dentro das mais variadas área do conhecimento. Nesse entendimento, a prática corporal está atrelada às práticas culturais que permeiam o entendimento sobre o corpo e sua representação. Por exemplo, para as comunidades indígenas as práticas corporais se relacionam com o cotidiano, como é o caso da pintura do corpo, que possui significados múltiplos e são utilizados conforme os afazeres do dia. Essa relação tão íntima com o corpo revela o modo como essa população enxerga o mundo. Sua leitura de mundo e de ação no mundo pelo corpo. Na nossa sociedade as práticas corporais também acontecem na medida da leitura que a sociedade faz sobre esse corpo. Vamos supor que essa mesma sociedade entenda que o corpo deve ser utilizado para aumento das práticas produtivas. Logo, as práticas corporais que otimizem o corpo para função serão aquelas práticas corporais mais evidenciadas. Para adentrar mais no campo da Educação Física, o entendimento sobre as práticas corporais encontra dois caminhos: um que entende que as práticas corporais estejam atreladas àquelas práticas onde o corpo se expressa pelo movimento, pela prática esportiva; e o outro que amplia esse conceito, trazendo para o campo as vivências que o indivíduo carrega, congregando as práticas culturais. Segundo Falcão e Saraiva (2009), para o primeiro tipo de entendimento como prática corporal, há um empobrecimento de sua concepção. 33 Segundo Falcão e Saraiva (2009): Observa-se que esse processo de empobrecimento parece ser também aquele que a Educação Física vem sofrendo. A intervenção profissional que predomina é aquela que se pauta, especialmente, pelo ensino do esporte convencional ou por práticas corporais que vão se esportivizando ou se conformam à lógica da academia. [...] O reforço a esse tipo de atividade ocorre pela mídia, que incita professores e alunos a restringirem-se ao nível superficial da vivência dessas manifestações, reproduzidas acriticamente e descoladas da experiência pessoal e coletiva. Sem experiência não há a atribuição de sentido ou significado pelos sujeitos envolvidos, apenas repetição e conformação. ” (Falcão e Saraiva, 2009, p. 15 e 16). 3.3 A importância das práticas corporais Quando as práticas corporais estão imbricadas na cultura, podemos dizer que essas práticas ajudam na perpetuação das práticas culturais. A cultura mantém-se pelas práticas corporais; também. Se pensarmos que a automação dessas práticas pode empobrecer a construção da corporeidade, quem dirá o que isso pode causar dentro de uma cultura. Por exemplo, dentro das religiões da cultura africana, como o candomblé, a dança expressa a ligação e a manifestação do Orixá com o seu filho terreno. Essa conotação é fundamental para a perpetuação de uma cultura; a dança é fundamental nesse caso. Outra manifestação é a capoeira, que é realizada sob a égide de movimentos coordenados e que gera uma espécie de luta-dança que encanta a todos. Tire da capoeira o movimento e ela deixa de existir, assim como todo o seu histórico e o que isso representa para a cultura brasileira. Outro aspecto é a própria expressão do corpo. Essas práticas corporais dão existência ao corpo, dando significado e gerando significantes. É com essas práticas que a corporeidade se estabelece, mesmo em situações mais restritas. A prática oferta um conjunto de vivências que só pode acontecer por meio dela e é por ela que a maturação ou a maturidade dos corpos acontece. Para ser uma pessoa plena é preciso saber sobre o seu corpo e que as práticas ofertam um feedback constante, funcionando como uma diretriz que norteia a corporeidade. 34 3.4 Os tipos de práticas corporais Dentro do contexto da prática corporal, vários são os tipos ou modalidades ligadas ao corpo. São elas: ginástica, esporte, dança e lutas. Esses tipos traduzem a corporeidade e são expressos nas mais diversas áreas do conhecimento. Já falamos anteriormente da importância que a área da Educação Física possui para a construção de uma corporeidade socialmente mais conectada aos corpos, não levando somente em consideração os aspectos da motricidade, que são importantes, mas sozinhos não dão conta de responder a complexidade da expressão do corpo e nem conta de expressar em sua totalidade os tipos de práticas corporais. Com relação a um tipo mais específico, dentro da área de Educação Física, podemos citar os esportes e as lutas como expressões da corporeidade que revelam não somente o cuidado do corpo em si, mas da manutenção desse corpo para outras práticas. Esse tipo de prática corporal está fortemente atrelado à noção contemporânea de saúde que, no novo conceito, não se reduz à ausência da doença, mas procura enxergar o ser humano como um ser biopsicossocial. Essa nova dimensão muda também a percepção do corpo e de sua expressão, porquepromove ações em todos esses campos. Por exemplo, a prática de esportes vai além do corpo, sendo um quesito formador da personalidade e da manutenção de uma comunidade, colaborando com a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. Fica claro que a função social da prática de esportes é muito importante par o fortalecimento de uma cidade, de um bairro, ajudando a georeferenciar os espaços. Essas práticas corporais colocam a educação física fora dos muros da escola e fora do entendimento mais estreito que a disciplina sofreu por tantos anos. 3.4.1 Aprendizagens corporais As aprendizagens corporais formam um conjunto de ações que irão proporcionar ao corpo um processo de refinamento da corporeidade, porque irão fortalecer o campo das subjetividades. Segundo Liberman et al (2018): 35 Em diferentes contextos e cenários – estéticos, de formação e de intervenção, buscamos migrar do lugar daqueles que possuem o saber e “tratam as pessoas” prescritivamente, para um outro lugar...um lugar de produção de conversa, escuta e fazer junto que nos ensina sobre os desequilíbrios, os riscos, as incertezas, os desconfortos, como espaços e afetos potentes para ressignificar as relações consigo mesmo e com os outros. (Liberman et al., 2017, p. 118). Essas aquisições modificam o corpo, fazendo delas um ótimo momento em que a catarse pode se fazer presente porque espelha sobre o corpo individual, ou melhor, o corpo sujeito. Esse lugar de sujeição só acontece quando a aprendizagem consegue quebrar as resistências do olhar para fora e não para dentro. Na corporeidade o verdadeiro espelho reflete a imagem real do corpo em suas ações e pelo fato de existir. Para exemplificar melhor o quão profundo é a aprendizagem, vamos imaginar uma pessoa que mora na rua, não se alimenta há muito dias, com roupas sujas e rasgadas. Agora imagine essa mesma pessoa bem alimentada, com o cabelo cortado, de banho tomado e usando roupas novas. O corpo que é habitado é o mesmo, mas a significação do corpo, dependendo da situação, é diferente, porque nos remete às condições de aprendizado múltiplo, que só a corporeidade pode ofertar, como repensar em dignidade, em humanidade e é aí, nesse processo, que ocorre a aprendizagem. Para cada pessoa, essa situação vai operar internamente de maneira diferenciada, mas com o comum de que todos os pensamentos estarão voltados ao corpo, ao ser humano. As aprendizagens corporais servem de instrumentos de percepção e elas se manifestam de maneiras diferenciadas, conforme o aparato metodológico de cada uma delas. A seguir, veremos dois tipos de aprendizagem corporal. 3.5 Aprendizagem inventiva Um dos aspectos da aprendizagem inventiva reside no fato de que esta flui por meios diversos, sendo inteiramente uma ação construída e inventada. Um exemplo disso é ver-se em uma situação ao qual você julga ser familiar, mas que dependerão de outras atitudes para acontecer. Vamos tomar como exemplo uma viajem na qual você tenha que pegar um ônibus. Você está acostumado a pegar o ônibus perto da sua casa para ir para a faculdade. Sabendo qual é linha dele, ao se aproximar você acena e ele para. Então você entra pela porta da 36 frente porque é onde está a catraca que vai receber a sua passagem. Agora imagine que você está em outro país e que para pegar um ônibus é necessário que você estique o braço fazendo um sinal de positivo com o polegar. Caso faça de outra forma, o ônibus não para. Fica claro que você precisa se reinventar para poder pegar um ônibus nesse novo lugar? Percebe que os movimentos corporais que você realiza cotidianamente só servem dentro de uma determinada realidade? E que se houver outra realidade os gestos com o seu corpo serão outros? Essa é a aprendizagem inventiva. Esse reinventar-se é necessário para entender como as práticas corporais são influenciadas pela cultura e pelos modos de vida de uma sociedade. O corpo aprende que o cotidiano pode ser reinventado, dependendo da localização em que esse corpo se encontra. Uma mesma função pode requerer do corpo formas variadas de ação e de expressão. Dessa maneira, os significados e significantes vão sendo imbricados cognitivamente e novas estruturas vão sendo moldadas e guardadas na memória. Na aprendizagem inventiva os hábitos são modificados e aquilo que se conhecia tão bem, agora dá lugar ao estranhamento e desloca o corpo dessa realidade tão certa. Para a corporeidade não há caminhos retos a serem percorridos; toda curva pode significar uma nova chance de reaprender, tonando esse corpo múltiplo em suas ações e reações. 3.6 Aprendizagem significativa Qualquer situação proposta na aprendizagem do individuo será de grande valia para o nosso corpo. Quando estamos passando pelo processo de conhecer algo, nosso cérebro realizará uma série de passos para isso. Mas, nos dias de hoje, como a velocidade das informações é mais rápida do que a captação delas, pode existir um deficit nesse processo, gerando um atraso. Para compensar isso, o nosso cérebro tem a capacidade de reter o essencial, ou seja, aquilo que for interessante absorver, para ser usado na hora ou tempos depois. Pensando nisso, as novas tecnologias tentam trabalhar com o grau de significância das coisas. A aprendizagem significativa é um tipo de aprendizagem em que a informação que chegar será em sua grande maioria aproveitada pelo cérebro e poderá ser expressa pelo corpo. Sob esse aspecto cognitivo, serão levados os 37 melhores resultados na expressão do corpo, porque cada ação e cada movimento será executado no sentido de provocar emoções certeiras e que façam sentido ao outro corpo. Essa forma de otimização mental é transferida ao corpo, que também se manifestará a partir do significativo e isso para a corporeidade traz um elemento novo que é a veracidade das expressões. Essa veracidade só se manifesta por meio do que é realmente significativo, contagiando outros corpos a agirem dessa maneira também. Isso otimiza todos os processos corporais que se traduzem em graus variados de plenitude a que esse corpo está submetido, fazendo da aprendizagem significativa uma importante ferramenta para a aquisição de novos conhecimentos que incrementarão as práticas corporais e darão um novo sentido a esse corpo, aumentando a sua capacidade. Por intermédio da aprendizagem, o corpo estará apto à ocupação de diversos espaços, transitando com agilidade sobre as suas manifestações. 3.7 Metodologias corporais As metodologias servem para orientar as ações em qualquer aspecto. Quando se quer obter resultados precisos dentro da ciência, faz-se o uso da metodologia científica, e quando se quer mensurar ou detectar o desenvolvimento da corporeidade, podem-se utilizar as metodologias corporais. Na disciplina de Educação Física várias são as metodologias empregadas para entender melhor os aspectos ligados à corporeidade. Dependendo do que se quer entender ou que relações estabelecer entre o corpo e a prática, uma determinada metodologia será aplicada. Elas também devem ser utilizadas no desenvolvimento corporal e devem levar em consideração o nível do desenvolvimento e maturação em que se encontra o corpo. Algumas delas podem ser utilizadas em vários níveis, pela sua flexibilidade ao lidar com os assuntos relacionados ao corpo. Uma delas é pela ludicidade, que tanto para as crianças no ato de brincar, como para os adolescentes e jovens, cujo imaginário carrega os resquícios dessa ludicidade que poderão ser evocados nos processos de ensino e aprendizagem. 38 A questão do como aprenderé tão importante quanto o questionamento do porquê aprender. A construção da corporeidade exige métodos que sejam capazes de sensibilizar, provocar e acionar o corpo de tal maneira que esse passe a se expressar com maior altivez e domínio. Para isso, elencamos dois tipos de metodologias que acredito serem aplicáveis para todos os níveis de ensino, porque não reduzem a ideia, e sim a ampliam em perspectivas amplas e sólidas na busca de uma corporeidade que deve se expressar em totalidade. Elas não representam a totalidade metodológica que podem ser utilizadas, mas são significativas dentro do processo de construção da corporeidade. 3.8 A ludicidade O uso da ludicidade como viés metodológico para a construção da corporeidade é um dos aspectos mais relevantes na forma como um corpo pode ser visto. A criança utiliza-se da ludicidade para se reconhecer e conquistar novos espaços. Na escola essa mesma ludicidade vai ser utilizada para a aquisição de competências e habilidades motoras e cognitivas. Quando a criança corre e se movimenta, ela aprimora o aparato motor, mesmo sem saber que o está fazendo. Quando ela se expressa por meio da arte, está fazendo com que o imaginário ajude a construir parte de sua personalidade. É por essa razão que a ludicidade pode agir como um viés metodológico no qual outros quesitos irão ser incorporados porque essa prática assim o permitirá. As vivências corporais nas crianças são regidas pelo imaginário e este só pode ser expresso pela ludicidade. Brincar é coisa séria e se tratando de educação, deve ser levada a sério, com critérios bem definidos para que possa haver um acompanhamento no desenvolvimento da corporeidade. As disciplinas de Artes, Ciências naturais e Educação Física podem se juntar para propor projetos que englobem visões que vão enriquecer esse olhar da criança sobre o próprio corpo e os lugares em que esse corpo ocupa um espaço. A ludicidade vai permitir uma ocupação por direito dessa criança que quer se manifestar e que encontra no ato de brincar a possiblidade de vivência de vários papeis. Considera-se que a ludicidade é extremamente importante no desenvolvimento humano, ajudando na formação de uma personalidade que 39 sempre levará em conta o corpo para se manifestar. Ao mesmo tempo em que podemos considerar que a ludicidade vai além de um processo metodológico, pois ela faz parte da nossa construção mental. No adulto essa ludicidade dará lugar ao imaginário, que irá operar no inconsciente, gerando a subjetividade das coisas e acontecimentos. 3.9 Outras metodologias Dentro da área de educação física, várias são as metodologias que devem ser sistematizadas, para que o processo ganhe significado no aprendizado sobre o corpo. 3.9.1 Metodologia Interacionista simbólica Na metodologia Interacionista simbólica, os significados em relação às pessoas e objetos são levados em consideração. Tudo vai depender da interpretação que o observador dará em detrimento desses significados. Ela vai relacionar movimento e as implicações sociais do movimento. Aqui as problematizações acerca dela, podem ser uma boa maneira de introduzir assuntos como a questão da mobilidade das cidades e a sua relação 3.9.2 Metodologia Construtivista Metodologia Construtivista leva em consideração a construção do conhecimento cientifico a partir das vivencias do indivíduo. Aqui a curiosidade é que impulsiona para respostas das questões pertinentes a partir da sua interação com a realidade e com os saberes adquiridos. Nessa metodologia haverá uma desconstrução, para dar lugar ao conhecimento cientifico. Nesse tipo de metodologia, os projetos são convenientes, pois reúnem elementos necessários de incitação. Com relação ao corpo podem ser trabalhadas as questões ligadas à motricidade. 40 3.9.3 Metodologia Crítico Emancipadora A Critico Emancipadora preconiza que o movimento pode transformar as realidades sociais. Com da prática de esportes, alunos podem mudar a própria realidade, visto que será adquirido um conjunto de saberes e conhecimentos pertinentes à vida, como valores éticos e interação com outras pessoas. Essa metodologia acredita que o movimento liberta, emancipa as expressões e pode mudar a vida das pessoas. A leitura das práticas esportivas é dotada de criticidade. Resumo da Aula Foi observado que o importante é a aplicação de metodologias que otimizam as expressões corporais. Cada uma delas possui propósitos bem distintos, mas levam em consideração o corpo e a visão ampla de mundo que não se encerra no corpo, mas descortina-se para o mundo. Atividade de Aprendizagem As metodologias aplicadas ao corpo podem ampliar a visão meramente biológica deste e passar para uma visão mais social desse corpo. Cada uma das metodologias exerce uma função no processo educacional dos corpos. De que maneira elas podem proporcionar uma leitura mais crítica de mundo, levando em consideração a formação da corporeidade? Aula 4 - Arte e corporeidade Apresentação da aula 4 Qual a importância da arte no contexto social? Pode-se até relutar e dizer que a arte não faz falta, mas pense nos momentos em que você se emocionou com algum filme. Que cena o emocionou e o que o fez chorar? Pois é, a arte é expressada através das emoções e em sua grande maioria quem a produz é o 41 corpo. A corporeidade está ligada à arte e consecutivamente à expressão, a emoção e a afetividade. Sem ela, certamente o campo das emoções e da expressão corporal, seria muito diferente. O corpo empresta a vivacidade dos movimentos e da interpretação, fazendo com que as emoções sejam afloradas. A linguagem corporal, que é movimento, expressa-se de maneira sistematizada em que os movimentos geram uma vivências e expressões diferenciadas. Segundo Almeida e Bello (2015): O corpo é cultural. A construção simbólica do corpo e as suas representações por meio dos papeis sociais, da afetividade, das diferentes expressões e marcas impressas pela linguagem, pela arte, pelos afetos e pela sexualidade encontram-se ancoradas na natureza das ações políticas e das relações de poder que se inscrevem através do corpo e do modo como distintas culturas dele fazem uso. (Almeida e Bello, 2015, p.02). Dito dessa forma, a complexidade do corpo é destrinchada por meio desses papeis e das diferentes expressões, para dar conta da multiplicidade que as relações de poder que os corpos constroem. A arte tem por objetivo encantar outros corpos, na expressão mais refinada; a arte traz ao corpo um grau máximo de refinamento e maturação das habilidades e da linguagem corporal. Ela simboliza o não dito, fala pela ação e se expressa pela afetividade. Essa ação é humana e procura criar horizontes de humanização cada vez que ela tem a chance de colocar um corpo a serviço dessa arte. A arte engrandece o corpo e renova a alma. 4. Orientação da linguagem corporal Falando em linguagem, pressupõe-se um conjunto de símbolos e simbologias que façam sentido e que possam ser, de alguma maneira, decodificadas em saberes e dizeres claros e diretos. A linguagem corporal difere da linguagem verbal, pois ela não emite sons, mas é expressa por meio dos movimentos do corpo e das suas subjetividades. Os dizeres da linguagem corporal estão inscritos nas entrelinhas dessa subjetividade que advém das práticas corporais. Essa linguagem é permeada pelos aspectos da cultura e difere no tempo e na localização. É claro que em linhas gerais a linguagem corporal vai expressar 42 por meio das
Compartilhar