que ja´ apareceram no texto. Voceˆ deve escre- ver a recı´proca, a negac¸a˜o, a contrapositiva e a negac¸a˜o da contrapositiva de cada sentenc¸a, bem como reescreveˆ-la de uma outra maneira. (a) “Todo nu´mero par e´ a soma de dois nu´meros primos” (b) “Se n ≥ 3, enta˜o a equac¸a˜o xn + yn = zn na˜o tem soluc¸o˜es inteiras x, y e z na˜o-nulas” 6. Como ja´ dissemos, o me´todo de demonstrac¸a˜o que algue´m pode escolher para provar algum re- sultado, depende de uma possı´vel e permissı´vel escolha. Apo´s ter falado sobre os me´todos de demonstrac¸a˜o direta e indireta, quais seriam as maneiras possı´veis que pode-se empregar para demonstrar uma proposic¸a˜o da forma “P ⇔ Q”? 7. Usando o Me´todo de Reduc¸a˜o a um absurdo, justifique o Princı´pio da Contrapositividade. 12.2 Curiosidade: Algumas coˆmicas “demonstrac¸o˜es” Como uma rec¸a˜o coˆmica a` falta de demonstrac¸o˜es em alguns livros, ha´ uma lista de certas “te´cnicas de demonstrac¸a˜o” engrac¸as que exibiremos a seguir. Uma pausa para relaxar que tem seu lado dida´tico, mas na˜o permita que ningue´m as utilize!! 1)Demonstrac¸a˜o por definic¸a˜o: “Definimos que existe uma demonstrac¸a˜o para o resultado !” 2)Demonstrac¸a˜o do indeciso: “Portanto, chegamos, assim, ao final da demonstrac¸a˜o. Sera´? Ou na˜o? E agora? O que fac¸o?” 3)Demonstac¸a˜o do briga˜o intimidador mal-educado: 159 Capı´tulo 12. Mais te´cnicas de demonstrac¸a˜o “Qualquer idiota pode ver que isso e´ verdadeiro! Como e´ que voceˆ na˜o esta´ vendo?!” 4)Demonstac¸a˜o do briga˜o intimidador mal-educado e, ainda por cima, arrogante: “O resultado vale pois assim o desejo! E pronto!!” 5)Demonstrac¸a˜o do democrata: “Quem acha que encerramos a demonstrac¸a˜o, por favor, levante a ma˜o para votar!” 6)Demonstrac¸a˜o por falta de tempo: “Ja´ que na˜o temos mais tempo, segue que a demonstrac¸a˜o e´ va´lida, e cabe a voceˆs fazeˆ-la!” 7)Demonstrac¸a˜o por obviedade: “Como e´ o´bvio que o resultado e´ verdadeiro, ele esta´ demonstrado!” 8)Demonstrac¸a˜o por convenieˆncia: “Como seria muito bom e conveninente que isso fosse verdade, enta˜o e´ verdade!” 9)Demonstrac¸a˜o por escolha do exemplo: “Consideremos o nu´mero x = 4 para o qual a demonstrac¸a˜o a seguir vale ...” 10)Demonstrac¸a˜o do suplicante: “Por favor, pec¸o-lhes, acreditem que o teorema vale!!! Por favor! Por favor! Por favor!” (Nos inspiramos no sı´tio eletroˆnico http://www.themathlab.com/geometry/funnyproofs.htm, acessado em Marc¸o de 2006) 160 CAPI´TULO 13 Sofismas, o cuidado com os auto-enganos e com os enganadores! 13.1 Sofismas Se voceˆ usar argumentos na˜o va´lidos em uma demonstrac¸a˜o, tais como aqueles que ferem axiomas, argumentac¸o˜es lo´gicas ou definic¸o˜es, e´ possı´vel deduzir contradic¸o˜es ou resultados “assustadores”, que podem trazer inesperadas surpresas. Va´rias vezes, esses argumentos sa˜o propositadamente elaborados de modo que a partir de premissas verdadeiras, algue´m seja levado a deduzir concluso˜es falsas. Quando isso ocorre, esse tipo de raciocı´nio e´ chamado sofisma ou fala´cia. O sofisma1 ou fala´cia e´ uma sequ¨eˆncia de argumentos, aparentemente va´lidos, que podem ser usados para deduzir resultados falsos. O termo sofisma decorre do nome de um grupo de filo´sofos da Antiga Gre´cia chamados Sofistas (± Se´culo IV a.C.) e contra os quais se opunha o famoso filo´sofo So´crates (470-399 a.C.). Como no caso dos silogismos, ha´ tambe´m uma classificac¸a˜o de tipos diferentes de sofismas. Diferentemente do que alguns apontam, um sofisma na˜o e´ um paradoxo! Um paradoxo e´ uma sentenc¸a autocontradito´ria que se chega por argumentac¸o˜es va´lidas. Nos exercı´cios a seguir, apresentaremos alguns sofismas matema´ticos. Exercitando seu espı´rito crı´tico, encontre os erros nas “demonstrac¸o˜es” apresentadas a partir do Exercı´cio 2. Voceˆ vai perce- ber o quanto se deve ser cuidadoso com argumentos que, quando mal usados, propositadamente ou na˜o, podem resultar em contradic¸o˜es e trazer muitas surpresas, mesmo quando se parte de premissas verdadeiras. EXERCI´CIOS: 1. Qual a diferenc¸a entre sofisma e paradoxo? Comente sua resposta. SOFISMAS NUME´RICOS 2. “Seja i a unidade imagina´ria, isto e´, i2 = −1. Enta˜o 1Apesar da palavra terminar em ‘a’, ela e´ masculina: o sofisma. 161 Capı´tulo 13. Sofismas, o cuidado com os auto-enganos e com os enganadores! 1 = √ 1 = √−1.− 1 = √−1.√−1 = i.i = i2 = −1 e portanto, 1 = −1”. 3. Usando a propriedade do logaritmo de uma poteˆncia: log(ab) = b log(a), temos 1 4 > 1 8 ⇒ ( 1 2 )2 > ( 1 2 )3 ⇒ log ( 1 2 )2 > log ( 1 2 )3 ⇒⇒ 2 log ( 1 2 ) > 3 log ( 1 2 ) ⇒ 2 > 3. 4. −6 = −6⇒ 4− 10 = 9− 15⇒ 4− 10 + 25 4 = 9− 15 + 25 4 ⇒ ⇒ 22 − 2.2. ( 5 2 ) + ( 5 2 )2 = 32 − 2.3. ( 5 2 ) + ( 5 2 )2 ⇒ ⇒ ( 2− 5 2 )2 = ( 3− 5 2 )2 ⇒ ⇒ 2− 5 2 = 3− 5 2 ⇒ 2 = 3. Conclusa˜o: −6 = −6⇒ 2 = 3. 5. x = y ⇒ x2 = xy ⇒ x2 − xy = 0⇒ x(x− y) = 0⇒ x = 0. COROLA´RIO: 13 = 0. SOFISMAS NA GEOMETRIA: 6. Encontre o erro na “demonstrac¸a˜o” do seguinte “teorema”: “Teorema”: “Todos os triaˆngulos semelhantes sa˜o congruentes” “Demonstrac¸a˜o”: Considere os triaˆngulos semelhantes 4ABC e 4A′B′C ′ na figura 13.1. A B C C' A' B' Figura 13.1: Dois triaˆngulos semelhantes Pelas relac¸o˜es de semelhanc¸a de triaˆngulos da Geometria ([Barbosa, 2004]), temos 162 13.1. Sofismas B′C ′ BC = A′B′ AB , onde estamos representando por AB o comprimento do lado do triaˆngulo de aresta A e B, e da mesma maneira o comprimento dos outros lados. Da igualdade anterior decorre que B′C ′.AB = BC.A′B′ ⇒ (B′C ′ −BC)(B′C ′.AB) = (B′C ′ −BC)(BC.A′B′)⇒ (B′C ′)2.AB −B′C ′.AB.BC = B′C ′.BC.A′B′ − (BC)2A′B′ ⇒ (B′C ′)2.AB −B′C ′.BC.A′B′ = B′C ′.AB.BC − (BC)2A′B′ ⇒ B′C ′.(B′C ′.AB −BC.A′B′) = BC.(B′C ′.AB −BC.A′B′)⇒ B′C ′ = BC. De maneira ana´logo, tambe´m prova-se que A′B′ = AB e C ′A′ = CA. Portanto, concluı´mos destas igualdades, que quaisquer dois triaˆngulos semelhantes sa˜o congruentes. C.Q.D. 7. Complementando os exercı´cios desta sec¸a˜o, vamos agora apresentar algumas “demonstrac¸o˜es” usando figuras propositadamente desenhadas de maneira errada para induzir concluso˜es falsas. Nosso objetivo e´ alertar para o cuidado com o uso de figuras numa demonstrac¸a˜o, e com a mı´nima qualidade que os desenhos devem ter. Na sec¸a˜o a seguir usaremos figuras para auxiliar a fazermos demonstrac¸o˜es, so´ que naquele caso, sera˜o demonstrac¸o˜es verdadeiras! O “Teorema” e a “demonstrac¸a˜o” a seguir sa˜o muito interessantes: “TEOREMA”: “Qualquer triaˆngulo e´ iso´sceles”. “Demonstrac¸a˜o”: Considere um triaˆngulo qualquer 4ABC como esta´ no desenho (Fig. 13.2) b B D A P E C m Figura 13.2: Triaˆngulo mal desenhado para induzir um sofisma (Nesta demonstrac¸a˜o, vamos representar respectivos segmentos congruentes e triaˆngulos congru- entes pelo sı´mbolo ≡) No desenho acima (Fig. 13.2): i) Trace a mediatriz m em relac¸a˜o ao lado BC; ii) Trace a bissetriz b do aˆngulo Aˆ; iii) Seja P o ponto de intersecc¸a˜o das retas m e b; 163 Capı´tulo 13. Sofismas, o cuidado com os auto-enganos e com os enganadores! iv) Pelo ponto P trace os segmentos PD e PE perpendiculares aos lados AB e AC, respectiva- mente. Desses elementos do triaˆngulo, resulta que: i) PD = PE, pois a distaˆncia de qualquer ponto da bissetriz equ¨idista dos lados do aˆngulo; ii) 4APD ≡ 4APE, ja´ que possuem um aˆngulo medindo Aˆ/2, o lado AP em comum e PD ≡ PE. Logo, AD ≡ AE. iii) PB ≡ PC, pois P ∈ m, e todo ponto da mediatriz equ¨idista dos extremos. Daı´, temos 4PDB ≡ 4PEC, donde DB ≡ EC. Ora, como AD ≡ AE e DB ≡ EC, segue que AB ≡ AC, ou seja, o triaˆngulo e´ iso´sceles. C.Q.D. SOFISMAS GEOME´TRICOS