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TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 1 Apresentação ................................................................................................................................ 8 Aula 1: Bases da Teoria do Negócio Jurídico ............................................................................... 10 ........................................................................................................................... 10 Introdução .............................................................................................................................. 10 Conteúdo Constituições .................................................................................................................... 10 Constituições .................................................................................................................... 11 Código Civil de 1916 ........................................................................................................ 12 Justiça Social .................................................................................................................... 13 Princípio da isonomia ..................................................................................................... 14 Constituição Federal de 1988 ........................................................................................ 15 Apelação Cível .................................................................................................................. 16 Relação do consumo ...................................................................................................... 17 Recurso Especial nº 1.194.627-RS ................................................................................. 17 Qualidade intrínseca ....................................................................................................... 18 Declaração ........................................................................................................................ 20 Papel da Jurisprudência ................................................................................................. 20 Ordenamento jurídico .................................................................................................... 20 Princípio da autonomia .................................................................................................. 21 Autonomia privada .......................................................................................................... 21 Teoria da imprevisão ...................................................................................................... 22 Princípio da conservação ............................................................................................... 23 Contratos ........................................................................................................................... 23 Direito privado .................................................................................................................. 24 Informativo nº 492 do STJ ............................................................................................. 24 Recurso Especial nº 1.321.655-MG ............................................................................... 25 STJ – Superior Tribunal de Justiça............................................................................... 25 Recurso Especial nº 1.132.943-PE ................................................................................. 26 Cláusulas ........................................................................................................................... 26 Distrato .............................................................................................................................. 26 Modelo individualista-liberal ......................................................................................... 27 Conclusão ......................................................................................................................... 27 Atividade proposta .......................................................................................................... 27 ........................................................................................................................... 28 Referências TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 2 ......................................................................................................... 29 Exercícios de fixação Notas ........................................................................................................................................... 33 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 33 ..................................................................................................................................... 33 Aula 1 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 33 Aula 2: Boa-Fé Objetiva ............................................................................................................... 36 ........................................................................................................................... 36 Introdução .............................................................................................................................. 36 Conteúdo Lealdade contratual ......................................................................................................... 36 Boa-fé subjetiva ............................................................................................................... 37 Ordenamento jurídico .................................................................................................... 37 Intérprete jurídico ............................................................................................................ 38 Contratos de adesão ....................................................................................................... 38 Renúncia antecipada ....................................................................................................... 39 Direito de sequela ............................................................................................................ 39 Súmula ............................................................................................................................... 39 Função social do contrato ............................................................................................. 40 Conduta leal ...................................................................................................................... 40 Intenção ............................................................................................................................. 41 Violação positiva do contrato ....................................................................................... 41 Aplicação da violação positiva ...................................................................................... 42 Deveres anexos ................................................................................................................ 43 Contorno jurídico ............................................................................................................ 43 Funções da boa-fé objetiva ........................................................................................... 44 Boa-fé objetiva x boa-fé subjetiva ................................................................................ 45 Jurisprudencialização do direito .................................................................................. 46 Jurisprudência ..................................................................................................................46 Transmissão das obrigações ......................................................................................... 47 Tribunais estaduais .......................................................................................................... 48 Dever de lealdade ............................................................................................................ 49 Segunda seção do STJ .................................................................................................... 49 Informativos do STJ ........................................................................................................ 50 Conduta de lealdade ....................................................................................................... 50 Contratos ........................................................................................................................... 52 Ordenamento jurídico nacional ................................................................................... 52 Desfazimento da pactuação .......................................................................................... 53 TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 3 Vício redibitório ................................................................................................................ 53 Diploma civil ..................................................................................................................... 54 Informativo 506 do STJ .................................................................................................. 54 Garantia contratual .......................................................................................................... 54 Dever anexo de lealdade ................................................................................................ 55 Ascendente e descendente ........................................................................................... 55 Conclusão ......................................................................................................................... 56 Atividade proposta .......................................................................................................... 57 ........................................................................................................................... 57 Referências ......................................................................................................... 57 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 62 ..................................................................................................................................... 62 Aula 2 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 62 Aula 3: Função Social do Contrato .............................................................................................. 65 ........................................................................................................................... 65 Introdução .............................................................................................................................. 66 Conteúdo Função social do contrato ............................................................................................. 66 Direito civil-constitucional ............................................................................................. 66 Eficácia interna e externa ............................................................................................... 66 Função socioambiental do contrato ............................................................................ 70 Institutos jurídicos ........................................................................................................... 71 Código Civil brasileiro ..................................................................................................... 71 Cláusula solve et repete ................................................................................................. 72 Sistema jurídico ................................................................................................................ 73 Enriquecimento sem causa ........................................................................................... 73 Contrato de comodato ................................................................................................... 74 Obrigações indivisíveis ................................................................................................... 75 Cessão de crédito ............................................................................................................ 76 Pagamento indevido ....................................................................................................... 76 Tribunais brasileiros ........................................................................................................ 78 Tipos de contratos ........................................................................................................... 78 Denunciação da lide ....................................................................................................... 79 Dação em pagamento .................................................................................................... 80 Teoria do adimplemento substancial .......................................................................... 80 Conclusão ......................................................................................................................... 81 Atividade proposta .......................................................................................................... 81 TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 4 ........................................................................................................................... 82 Referências ......................................................................................................... 82 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 87 ..................................................................................................................................... 87 Aula 3 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 87 Aula 4: Institutos da boa-fé objetiva ........................................................................................... 89 ........................................................................................................................... 89 Introdução .............................................................................................................................. 90 Conteúdo Contextualização ............................................................................................................. 90 Abuso de direito – Conceito ......................................................................................... 90 Abuso de direito – Controle preventivo e repressivo............................................... 91 Venire contra factum proprium – Conceito .............................................................. 92 Venire contra factum proprium – Jurisprudência .................................................... 92 Obrigação de dar coisa incerta ..................................................................................... 93 Não declaração de nulidade de contrato de compra e venda ............................... 94 Promessa de doação .......................................................................................................96 Duty to mitigate the loss ................................................................................................ 97 A função de integração da boa-fé objetiva ................................................................ 98 Supressio e surrectio ..................................................................................................... 100 Supressio e surrectio – Código civil ........................................................................... 101 Tu quoque ....................................................................................................................... 102 Atividade proposta ........................................................................................................ 103 ......................................................................................................................... 104 Referências ....................................................................................................... 104 Exercícios de fixação Notas ......................................................................................................................................... 108 Chaves de resposta ................................................................................................................... 108 ................................................................................................................................... 108 Aula 4 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 108 Aula 5: Formação dos contratos eletrônicos ............................................................................ 111 ......................................................................................................................... 111 Introdução ............................................................................................................................ 111 Conteúdo Conceito de contrato .................................................................................................... 111 Características do contrato .......................................................................................... 112 Fases da formação contratual ..................................................................................... 112 Fase de negociações preliminares ou de puntuação ............................................. 113 Fase de proposta, policitação ou oblação ................................................................ 114 TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 5 Proposta entre ausentes e presentes ......................................................................... 115 Fase de contrato preliminar ......................................................................................... 115 Fase de contrato definitivo .......................................................................................... 117 Contextualização sobre a formação do contrato pela via eletrônica ................. 118 Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos eletrônicos ..... 118 Formação do contrato pela via eletrônica ................................................................ 120 A visão jurisprudencial acerca dos contratos eletrônicos ..................................... 120 Atividade proposta ........................................................................................................ 123 ......................................................................................................................... 124 Referências ....................................................................................................... 124 Exercícios de fixação Notas ......................................................................................................................................... 129 Chaves de resposta ................................................................................................................... 129 ................................................................................................................................... 129 Aula 5 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 129 Aula 6: Revisão judicial dos contratos ....................................................................................... 131 ......................................................................................................................... 131 Introdução ............................................................................................................................ 132 Conteúdo Revisão judicial dos contratos ..................................................................................... 132 Quando há um conflito de interpretação de cláusulas .......................................... 133 Diante da abusividade de cláusulas contratuais ...................................................... 134 O que o juiz pode fazer diante da abusividade de cláusulas contratuais considerando a função social do contrato? ................................................................. 134 Quando ocorre fato imprevisível ................................................................................ 135 Fato imprevisível – aplicação pelo judiciário ........................................................... 136 Onerosidade excessiva ................................................................................................. 137 Necessidade de o fato ser imprevisível ..................................................................... 137 Análise jurisprudencial .................................................................................................. 138 Inadimplemento obrigacional e inexecução voluntária do negócio jurídico ... 139 Execução forçada nas obrigações de dar coisa certa ............................................. 139 Pagamento de astreintes .............................................................................................. 141 Pagamento das perdas e danos .................................................................................. 143 Cláusula penal ................................................................................................................ 144 Cláusula penal – Comodato ........................................................................................ 146 Contrato de doação ...................................................................................................... 147 Atividade proposta ........................................................................................................ 150 ......................................................................................................................... 150 Referências TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 6 ....................................................................................................... 150 Exercícios de fixação Notas ......................................................................................................................................... 155 Chaves de resposta ................................................................................................................... 155 ................................................................................................................................... 155 Aula 6 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 155 Aula 7: Direito contratual e Direito obrigacional ...................................................................... 159 .........................................................................................................................159 Introdução ............................................................................................................................ 160 Conteúdo Conceito de contrato .................................................................................................... 160 Direito à moradia ........................................................................................................... 160 Direito à saúde ............................................................................................................... 164 Direito fundamental - entrega de diploma ............................................................... 165 Tutela jurisdicional ........................................................................................................ 165 Abandono afetivo .......................................................................................................... 166 Abandono afetivo - STJ ................................................................................................ 168 Atividade proposta ........................................................................................................ 169 ......................................................................................................................... 170 Referências ....................................................................................................... 170 Exercícios de fixação Chaves de resposta ................................................................................................................... 175 ................................................................................................................................... 175 Aula 7 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 175 Aula 8: Relações de consumo .................................................................................................... 178 ......................................................................................................................... 178 Introdução ............................................................................................................................ 179 Conteúdo Conceito e classificação do contrato ........................................................................ 179 Contrato de adesão ....................................................................................................... 180 Artigo 54 do CDC – parágrafo 2º ............................................................................... 181 Artigo 54 do CDC – parágrafo 3º ............................................................................... 182 Artigo 54 do CDC – parágrafo 4º ............................................................................... 184 Artigo 51 do CDC ........................................................................................................... 186 Onerosidade excessiva ................................................................................................. 189 Descumprimento de cláusula contratual – plano de saúde ................................. 190 Abuso do direito – renovação de contrato .............................................................. 190 Atividade proposta ........................................................................................................ 192 ......................................................................................................................... 192 Referências ....................................................................................................... 193 Exercícios de fixação TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 7 Chaves de resposta ................................................................................................................... 198 ................................................................................................................................... 198 Aula 8 Exercícios de fixação ..................................................................................................... 198 Conteudista ............................................................................................................................... 200 TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 8 É possivel afirmar que, na sociedade atual, o contrato se corporifica como o maior negócio jurídico. Dessa maneira, a apreensão, tanto de sua base principiológica, quanto de sua formação, torna-se um verdadeiro diferencial aos operadores do direito. O atual Direito Civil vem incorporando o fenômeno de constitucionalização aos seus institutos, modificando os critérios de interpretação e aplicação do negócio jurídico. Nesse sentido, o Código Civil de 2002 já não é mais concebido como um diploma patrimonialista e individualista, mas sim social. O direito civil-constitucional é materializado, por meio do exercício jurisprudencial, a partir da aplicação dos princípios da boa-fé objetiva e da função social do contrato aos casos concretos. Esses princípios, atualmente, devem ser levados em consideração, diante da revisão judicial dos contratos, da formação dos contratos pela via eletrônica e pela via consumerista, além de determinarem a preservação do patrimônio mínimo dos contratantes. Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 9 1. Compreender o negócio jurídico à luz do direito civil-constitucional, por meio da aplicação dos princípios constitucionais às relações contratuais; 2. Analisar a formação dos contratos, sua revisão judicial e a preservação do patrimônio mínimo dos contratantes; 3. Observar a relação existente entre os contratos civis e os contratos consumeristas; 4. Definir a aplicação jurisprudencial nas obrigações e nos contratos em geral. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 10 Introdução É possível afirmar que, na sociedade atual, o contrato se corporifica como o maior negócio jurídico, e, desta forma, a apreensão de sua base principio lógica se torna um verdadeiro diferencial aos operadores do direito. O atual Direito Civil vem incorporando o fenômeno de constitucionalização aos seus institutos, modificando os critérios de interpretação e aplicação do negócio jurídico. Assim, o Código Civil de 2002 já não é mais concebido como um diploma patrimonialista e individualista, mas, sim, social. Para tanto, a materialização dos princípios constitucionais às relações privadas, antes submissas ao império da autonomia privada sem limites e do seu correlato pacta sunt servanda, tornou-se uma realidade a partir do respeito aos valores da isonomia, da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre outros. Objetivo: 1. Analisar o negócio jurídico à luz do direito civil-constitucional por meio da aplicação da isonomia e da dignidade humana às relações contratuais; 2. Analisar os novos contornos jurídicos do princípio da autonomia privada e do pacta sunt servanda nas relações contratuais. Conteúdo Constituições Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se influenciado pela Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação paradigmática em sua interpretação. Como resultado, a doutrina e a jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e premissas metodológicas do direito civil-constitucional, entendido, pois, TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 11 como uma nova técnica hermenêutica, que busca aplicar os princípios e direitos fundamentais às relações privadas. É possível constatar, como seu objetivoprecípuo, a unificação do direito a partir do desiderato constitucional, consubstanciado nos valores da isonomia, da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre outros. Sob a égide do direito civil-constitucional, a doutrina vem transformando as bases conceituais dos institutos que compõem a teoria do negócio jurídico, sendo a interpretação e aplicação contratuais aquelas que mais sofreram modificações. Assim, a imutabilidade contratual vem comportando verdadeira intromissão estatal, que tende a evitar o enriquecimento sem causa e a desproporção negocial, acarretando a nulidade das cláusulas consideradas abusivas. Constituições Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se influenciado pela Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação paradigmática em sua interpretação. Como resultado, a doutrina e a jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e premissas metodológicas do direito civil-constitucional, entendido, pois, como uma nova técnica hermenêutica, que busca aplicar os princípios e direitos fundamentais às relações privadas. É possível constatar, como seu objetivo precípuo, a unificação do direito a partir do desiderato constitucional, consubstanciado nos valores da isonomia, da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, dentre outros. Sob a égide do direito civil-constitucional, a doutrina vem transformando as bases conceituais dos institutos que compõem a teoria do negócio jurídico, TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 12 sendo a interpretação e aplicação contratuais aquelas que mais sofreram modificações. Assim, a imutabilidade contratual vem comportando verdadeira intromissão estatal, que tende a evitar o enriquecimento sem causa e a desproporção negocial, acarretando a nulidade das cláusulas consideradas abusivas. Código Civil de 1916 É importante destacar que o Código Civil de 1916 era considerado um sistema jurídico individualista e patrimonialista, não se preocupando com direitos sociais, nem, tampouco, com os direitos de personalidade. A própria origem do direito civil perpassa pelos direitos de propriedade, consagrados pela ideologia burguesa de acumulação de riquezas e disciplinamento detalhado do dever-ser. Dessa maneira, o direito civil moderno, inaugurado com o Código Napoleônico de 1804, retoma a noção romana ao fenômeno jurídico, atribuindo força plena à vontade e à impessoalidade do vínculo. Na presente perspectiva, o indivíduo é concebido como sujeito de direito e detentor de liberdade volitiva para poder gozar dos institutos da propriedade e do contrato. O autor italiano De Cupis criticou tal concepção, observando a configuração de interesses relacionados ao indivíduo, que são suscetíveis de proteção jurídica, e, de fato, são mais merecedores de tutela que os bens econômicos. Ao inverter a visão clássica da sociedade civil, o autor desloca a pessoa humana para o centro do universo jurídico. Com isso, foi constituída a unidade conceitual de situações jurídicas subjetivas acerca dos direitos de personalidade, em um momento de total ausência do TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 13 direito privado em matéria de proteção dos direitos relacionados ao indivíduo, ainda como consequência do caráter patrimonial do ordenamento jurídico. Justiça Social O Código Civil de 2002, a partir de uma leitura constitucionalizada do ordenamento jurídico, apresenta mecanismos que visam atenuar o princípio da autonomia privada por meio da incorporação da justiça social distributiva aos negócios jurídicos. Dessa forma, o presente diploma foi alçado a uma posição de norma regulatória geral das relações privadas, não excluindo a legislação específica (microssistemas que visam a proteção da parte hipossuficiente, como o Código de Defesa do Consumidor), nem a aplicabilidade da interpretação constitucional às situações que disciplina. Assim, por meio da técnica hermenêutica denominada diálogo das fontes, busca-se a harmonização entre as diversas normas do sistema jurídico nacional. Dentro da presente concepção social da obrigação, esta passa a ser entendida como um processo de cooperação contínuo e efetivo entre credor e devedor, segundo a doutrina alemã, na tentativa de mitigar a subordinação do devedor ao credor ao redirecionar-se o olhar para o adimplemento mais satisfatório ao credor e menos oneroso ao devedor. Importante destacar que a responsabilidade do devedor restringe-se ao seu patrimônio, nos moldes do Artigo 391 do CC. A fim de ilustrar o fato de que a responsabilidade do devedor restringe-se ao seu próprio patrimônio, cabível citar decisão prolatada no Recurso Especial nº 1.130.742-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2013. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 14 Para a Quarta Turma do STJ, não cabe prisão civil do inventariante em razão do descumprimento do dever do espólio de prestar alimentos, uma vez que a restrição da liberdade constitui sanção de natureza personalíssima, não podendo recair sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar. Como é sabido, a prisão civil somente pode ser imposta ao devedor de alimentos, nos moldes do Artigo 733, §1°, do CPC. Ainda consta da decisão a possibilidade que tem o próprio herdeiro em requerer ao juízo, durante o processamento do inventário, a antecipação de recursos para a sua subsistência, podendo o magistrado conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua mantença, dando, assim, efetividade ao direito material da parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda, para tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano: a liberdade. O inventariante é considerado um terceiro estranho na relação entre exequente e executado, configurando constrangimento ilegal à possibilidade de prisão. O referido é apenas um auxiliar do juízo, nos moldes do Artigo 139 do CC, não podendo ser civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas, sim, destituído por um dos motivos do Artigo 995 do CC. Princípio da isonomia Dentre os princípios constitucionais aplicáveis ao direito civil, destaca-se o princípio da isonomia. Por isonomia, entende-se que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, conforme Artigo 5º da Constituição Federal. Na tentativa de apreender seus parâmetros, que, uma vez violados, geram ofensa à igualdade, Bandeira de Melo enumera: primeiro, o elemento tomado como fator de desigualação; segundo, a correlação lógica abstrata existente entre o fator erigido em critério de discrímen e a disparidade estabelecida no tratamento jurídico diversificado; e, por último, a consonância desta correlação TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 15 lógica com os interesses absorvidos no sistema constitucional e destarte juridicizados. Interessante discussão acerca da aplicação do princípio da isonomia às relações privadas envolve a taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras, pois existe verdadeira disparidade estabelecida no tratamento jurídico concebido aos bancos em relação aos particulares. No atual cenário jurídico, vem prevalecendo o entendimento trazido pela Súmula nº 596, de 15/12/1976, do STF: “As disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional”. Constituição Federal de 1988 É de se perceber que a referida súmula foi concebida antesda Constituição Federal de 1988, o que corrobora o entendimento por sua não incidência às relações contratuais. A Constituição da República é clara ao elencar, dentre os seus valores fundamentais, a isonomia, sendo oportuno questionar a razão que exclui das limitações da Lei de Usura as instituições bancárias. Assim, se um particular quiser emprestar um determinado valor a outro sujeito por meio de contrato de mútuo feneratício, nos moldes do Artigo 591 do CC, deverá respeitar a limitação imposta pelo Artigo 1º da Lei de Usura (Decreto nº 22.626/33), mas o mesmo não se aplica aos bancos, que, desta maneira, podem fixar a taxa de juros compensatórios que bem lhes aprouverem. Importante esclarecer a existência de divergência jurisprudencial a esse respeito, e a tendência majoritária pela continuidade de aplicação da Súmula nº 596 do STF. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 16 Apelação Cível Segundo a Apelação Cível nº 195.023.114, Rel. Darci Waccholz, 1º Grupo Cível do TARGS, a Súmula nº 596 não pode ser aplicada segundo seus fundamentos, pois feriu o princípio da isonomia ao reconhecer privilégio desproporcional em favor das instituições financeiras ao estabelecer, sem uma relevante razão, diferenças entre as pessoas, além de a referida súmula encontrar-se desatualizada. Porém, a aplicabilidade da Súmula nº 596 constitui entendimento majoritário na jurisprudência brasileira, como consta do seguinte julgado do STJ: Outra discussão que envolve a mesma matéria se relaciona ao fato de que fere a isonomia o comportamento dos bancos, ao remunerarem, de forma desproporcional, as atividades que realiza. Porque, ao depositar em poupança, o sujeito é remunerado com uma taxa baixa e, ao contratar um financiamento com o mesmo banco, o sujeito é obrigado a desembolsar uma taxa exorbitante? A Súmula nº 297 do STJ determina: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Assim, no mesmo tribunal, apresentam-se decisões antagônicas, já que não se estabelece um limite às atividades realizadas pelas instituições financeiras, mas seus clientes gozam, em tese, do conjunto protetivo disciplinado pelo CDC. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO BANCÁRIO. AFASTAMENTO DA LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS EM 12% AO ANO. INAPLICABILIDADE, NO CASO, DA LEI DE USURA. INCIDÊNCIA DA LEI Nº 4.595 /64 E DA SÚMULA 596/STF. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Nos termos da pacífica jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, os juros remuneratórios cobrados pelas instituições financeiras não sofrem a limitação imposta pelo TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 17 Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF, de forma que a abusividade da pactuação dos juros remuneratórios deve ser cabalmente demonstrada em cada caso, com a comprovação do desequilíbrio contratual ou de lucros excessivos, sendo insuficiente o só fato de a estipulação ultrapassar 12% ao ano ou de haver estabilidade inflacionária no período. 2. Agravo regimental improvido. (grifos nossos). Relação do consumo Segundo o STJ No que diz respeito à relação de consumo, segundo o próprio STJ, configura hipótese de violação do Artigo 51, II e IV, do CDC, as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. Artigo 51 Nesse contexto, cabe ressaltar o disposto no Artigo 51, §1º, III, do CDC, que presume ser exagerada a vantagem que “se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares do caso”. Como resultado, devem ser tais cláusulas declaradas nulas de pleno direito, uma vez que violam o ordenamento jurídico civil-constitucional. Recurso Especial nº 1.194.627-RS Já no Recurso Especial nº 1.194.627-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 1º/12/2011, a turma julgadora entendeu pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor à relação contratual de mútuo estabelecida pelas partes com a instituição financeira para compra de ações da Copesul. Nesse contexto, o que se ventilava na ação não era a redução da taxa de juros compensatórios, mas, sim, a declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro contratualmente pactuada. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 18 Para o Min. Relator, o simples fato de os recorrentes, pessoas físicas, terem utilizado o financiamento obtido junto à instituição financeira para investimento em ações não desnatura a relação de consumo estabelecida entre as partes. Somente se afastaria a figura do destinatário final daquele que contrai mútuo com instituição financeira caso ele se dedicasse à atividade financeira, valendo- se da quantia obtida para reemprestá-la, cobrando juros de terceiros. Portanto, deve-se afastar a validade da cláusula de eleição, prevalecendo o foro do domicílio do consumidor para processamento e julgamento da demanda em que se discute a validade do contrato de financiamento. Qualidade intrínseca Dentre os princípios constitucionais aplicáveis ao direito civil, destaca-se o Princípio da Dignidade Humana. Segundo Sarlet, dignidade da pessoa humana pode ser entendida como: Qualidade A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano, que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. Relações privadas TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 19 Aplicar a dignidade da pessoa humana às relações privadas é tarefa recorrente no atual ordenamento jurídico por meio da jurisprudência. No Recurso Especial nº 1.324.712-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/9/2013, o STJ decidiu ser incabível a exigência de caução para atendimento médico-hospitalar emergencial. Dessa forma, o Tribunal Superior vem materializando o valor jurídico-constitucional da dignidade aos contratos de prestação de serviços médicos, afastando a constituição de garantia para tratamento emergencial, mesmo que a mencionada caução tenha sido pactuada entre as partes ou seus familiares. Atenção O Superior Tribunal de Justiça, antes da vigência da Lei nº 12.653/2012, já havia se manifestado no sentido de que é dever do estabelecimento hospitalar, sob pena de responsabilização cível e criminal, da sociedade empresária e prepostos, prestar o pronto atendimento. Com a superveniente vigência da Lei nº 12.653/2012, que veda a exigência de caução e de prévio preenchimento de formulário administrativo para a prestação de atendimento médico-hospitalar premente, a solução para o caso é expressamente conferida por norma de caráter cogente. Negócios jurídicos Também constitui aplicação da dignidade humana aos negócios jurídicos, a determinação de que o Estado, em todas as suas esferas de poder, deve assegurar às crianças e aos adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida e à saúde, fornecendo gratuitamente o tratamento médico cuja família não tem condições de custear. Assim, há responsabilidadesolidária, estabelecida nos Artigos 196 e 227 da Constituição Federal e Artigo 11, §2º, do ECA, podendo o autor da ação exigir, em conjunto ou separadamente, o cumprimento da obrigação por qualquer dos entes públicos, TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 20 independentemente da regionalização e hierarquização do serviço público de saúde. Declaração De outra sorte, nos Embargos de Declaração no Agravo nº 1.023.858-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2008, o STJ afastou a interpretação civil-constitucional ao possibilitar a penhora do único bem de família do fiador, nos moldes do Artigo 3º, VII, da Lei nº 8.009/1990. O Min. Relator destacou que a orientação divergente de Tribunal estadual não tem o condão de afastar o entendimento predominante nos Tribunais Superiores no sentido de ser penhorável o imóvel familiar do fiador em contrato de locação. Papel da Jurisprudência Em conclusão, foi possível perceber o papel da jurisprudência diante da interpretação e aplicação dos princípios constitucionais às relações contratuais, com destaque para a isonomia e a dignidade da pessoa humana. Assim, por meio da análise de casos concretos, foi constatada a tendência ao dirigismo contratual por parte do Estado, mas sem esvaziar por completo a autonomia privada, inerente aos negócios jurídicos modernos. Ordenamento jurídico Como analisado anteriormente, o ordenamento jurídico civilista estrutura-se no Estado Democrático de Direito, inaugurado com a Constituição Federal de 1988, a partir de uma nova leitura acerca dos negócios jurídicos que disciplina. A visão tradicional de que o contrato fazia lei entre as partes (pacta sunt servanda) resta superada, permitindo-se, desta forma, uma maior intromissão estatal na autonomia das vontades, o chamado dirigismo contratual. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 21 Tal dirigismo é a faculdade outorgada por lei ao magistrado para que este reveja o contrato e estabeleça condições para sua execução, fazendo com que cláusulas sejam impostas em substituição da declaração volitiva do contratante. Porém, isso não deve levar ao esvaziamento total do princípio da autonomia privada, mas, sim, à sua mitigação diante da aplicação da boa-fé objetiva e da função social aos negócios jurídicos, princípios corolários de uma leitura constitucionalizada do fenômeno privado. Dessa maneira, a função social do contrato não tem a aptidão de afastar a autonomia privada, tal como determinado no Enunciado 23 da I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “a função social do contrato, prevista no Artigo 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance deste princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana”. Princípio da autonomia Conceitua-se o princípio da autonomia privada como sendo um regramento básico, de ordem particular – mas influenciado por normas de ordem pública –, pelo qual, na formação do contrato, além da vontade das partes, entram em cena outros fatores: psicológicos, políticos, econômicos e sociais. Trata-se do direito indeclinável de a parte autorregulamentar os seus interesses, decorrente da dignidade humana, mas que encontra limitações em normas de ordem pública, particularmente nos princípios sociais contratuais. Autonomia privada Contratos de adesão Com a redução da autonomia privada, o negócio jurídico paritário perdeu espaço social em detrimento dos contratos de adesão, que passam a constituir a regra geral. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 22 Extinção dos contratos Apesar de tal mudança ocorrer, isto não acarreta a extinção dos contratos, mas, sim, a mudança de sua estrutura e conceituação. O contrato muda a sua disciplina, as suas funções e a sua própria estrutura segundo o contexto econômico-social em que está inserido. Padronização das transações Assim, para uma parte da doutrina, a liberdade de contratar não mais existe, uma vez que o contrato foi transformado em norma unilateral imposta pela empresa que está em situação dominante, a partir de um fenômeno conhecido como padronização das transações, decorrente de uma economia de massa. Teoria da imprevisão Dirigismo contratual É possível afirmar que, no campo intervencionista consubstanciado no dirigismo contratual, situa-se a teoria da imprevisão, nos moldes do Artigo 478 do CC. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 23 Desequilíbrio contratual Dessa forma, atingindo o plano de desequilíbrio contratual pela ocorrência de fato imprevisível e/ou extraordinário, o direito deverá ser acionado e a obrigatoriedade contratual deixada de lado. Ordenamento jurídico O relatado desequilíbrio possibilita a revisão ou extinção do contrato em respeito ao ordenamento jurídico, que não mais tolera a desproporção negocial, em que um se enriquece de forma desarrazoada em detrimento do empobrecimento de outrem. Princípio da conservação Como decorrência do princípio da conservação do negócio jurídico diante da necessidade de aplicação da teoria da imprevisão, estabelece o Enunciado 176 da III Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o Artigo 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual”. Contratos No Recurso Especial nº 936741/GO, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, é possível estabelecer uma digressão entre as várias espécies de contratos existentes no ordenamento jurídico pátrio. Anteriormente, foi afirmado que a autonomia privada vem sofrendo atenuações como decorrência do exercício jurisprudencial, a fim de adequar a estrutura do contrato às exigências constitucionais. Porém, diante de contrato de compra e venda de safra futura, não há que se aplicar a teoria da imprevisão em decorrência da onerosidade excessiva. Dessa maneira, contratos empresariais não devem ser tratados da mesma forma que contratos cíveis em geral ou contratos de consumo, pois, nestes, TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 24 admite-se o dirigismo contratual; naqueles, devem prevalecer os princípios da autonomia da vontade e da força obrigatória dos negócios jurídicos. Direito privado Ainda é possível extrair do julgado que Direito Civil e Direito Empresarial, ainda que ramos do Direito Privado, submetem-se a regras e princípios próprios. Logo, o fato de o Código Civil ter submetido os contratos cíveis e empresariais às mesmas regras gerais não significa que estes contratos sejam essencialmente iguais. A não incidência da teoria da imprevisão, nos moldes do Artigo 478 do CC, decorre dos seguintes argumentos: Os contratos em discussão não são de execução continuada ou diferida, mas contratos de compra e venda de coisa futura, a preço fixo. Alta do preço da soja não tornou a prestação de uma das partes excessivamente onerosa, mas apenas reduziu o lucro esperado pelo produtor rural. A variação cambial que alterou a cotação da soja não configurou um acontecimento extraordinário e imprevisível, porque ambas as partes contratantes conhecem o mercado em que atuam, pois são profissionais do ramo e sabem que tais flutuações são possíveis. Informativo nº 492 do STJ Assim, de acordo com o Informativo nº 492 do STJ, nos contratos aleatórios de compra e venda de safra futura, as variações de preço, por si só, não motivam a resoluçãocontratual com base na teoria da imprevisão. Ocorre que, para a aplicação dessa teoria, é imprescindível que as circunstâncias que envolveram a formação do contrato de execução diferida não sejam as mesmas no momento da execução da obrigação, tornando o contrato extremamente oneroso para uma parte em benefício da outra. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 25 E ainda que as alterações que ensejaram o referido prejuízo resultem de um fato extraordinário e impossível de ser previsto pelas partes. Recurso Especial nº 1.321.655-MG De outra sorte, no Recurso Especial 1.321.655-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 22/10/2013, o STJ mitigou a força obrigatória do contrato ao estabelecer como abusiva a cláusula penal de contrato de pacote turístico que estabeleça, para a hipótese de desistência do consumidor, a perda integral dos valores pagos antecipadamente. Dessa maneira, não é possível falar em perda total dos valores pagos antecipadamente por pacote turístico, sob pena de se criar uma situação que, além de vantajosa para a empresa de turismo (fornecedora de serviços), mostra-se excessivamente desvantajosa para o consumidor, o que implica incidência do Artigo 413 do CC, segundo o qual a penalidade deve obrigatoriamente (e não facultativamente) ser reduzida equitativamente pelo juiz se o seu montante for manifestamente excessivo. STJ – Superior Tribunal de Justiça O STJ tem o entendimento de que, em situação semelhante (nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel), é cabível ao magistrado reduzir o percentual da cláusula penal com o objetivo de evitar o enriquecimento sem causa por qualquer uma das partes. Além disso, no que diz respeito à relação de consumo, evidencia-se, na hipótese, violação do Artigo 51, II e IV, do CDC, de acordo com o qual são nulas de pleno direito as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 26 Recurso Especial nº 1.132.943-PE No mesmo sentido do Recurso Especial nº 1.132.943-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2013, que decidiu ser abusiva a cláusula de distrato (fixada no contexto de compra e venda imobiliária mediante pagamento em prestações) que estabeleça a possibilidade de a construtora vendedora promover a retenção integral ou a devolução ínfima do valor das parcelas adimplidas pelo consumidor distratante. Cláusulas Os Artigos 53 e 51, IV, do CDC coíbem cláusula de decaimento que determine a retenção de valor integral ou substancial das prestações pagas, por consubstanciar vantagem exagerada do incorporador. Nesse contexto, o Artigo 53 dispõe que, nos “contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado”. Distrato Além disso, o fato de o distrato pressupor um contrato anterior não implica desfiguração da sua natureza contratual. Isso porque, nos moldes do Artigo 472 do CC, "o distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato", o que implica afirmar que o distrato nada mais é que um novo contrato, distinto ao contrato primitivo. Dessa forma, como em qualquer outro contrato, um instrumento de distrato poderá, eventualmente, ser eivado de vícios, os quais, por sua vez, serão passíveis de revisão em juízo, sobretudo no campo das relações de consumo. Em outras palavras, as disposições estabelecidas em um instrumento de TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 27 distrato são, como quaisquer outras disposições contratuais, passíveis de anulação por abusividade. Modelo individualista-liberal Em síntese, o princípio da autonomia privada pode ser apreendido como a possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas relações mútuas dentro de determinados limites, por meio de negócios jurídicos, enquanto o pacta sunt servanda é concebido como o princípio que determina a força obrigatória dos contratos. Importante relembrar que, no modelo individualista-liberal, típico dos códigos oitocentistas, tais princípios eram tomados como absolutos. No entanto, na concepção atual do direito civil-constitucional, ocorreu sua relativização com vistas à melhor proteção da dignidade humana. Conclusão Conclui-se, portanto, que, ao surgirem questões práticas acerca da aplicação do princípio da autonomia privada, da liberdade e da dignidade da pessoa humana, deve-se privilegiar a liberdade do sujeito em detrimento dos interesses patrimoniais inerentes ao negócio jurídico, já que prevalece o direito existencial no sistema jurídico pátrio. Atividade proposta Leia sobre um case que aborda o conteúdo discutido nesta aula. Em seguida, diante do exposto, faça a analise do acórdão e identifique se há ou não desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, diante da possibilidade de penhorar o único bem de família do fiador. “TJRJ - DES. MARIO ASSIS GONCALVES - Julgamento: 09/05/2012 - TERCEIRA CAMARA CIVEL. Embargos à execução. Fiador. Bem de família. Penhorabilidade. Constitucionalidade reconhecida pelo STF. O inciso VII do artigo 3º, da Lei 8.009/90 afasta a impenhorabilidade do bem de família na hipótese de TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 28 execução de obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. Assim, o imóvel apontado pelo exequente, ainda que seja o único, pode ser objeto da execução. A constitucionalidade do referido dispositivo legal foi declarada pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento de Recurso Extraordinário no qual se reconheceu a existência de repercussão geral. A matéria é, inclusive, objeto do verbete sumular nº 63 deste Tribunal. Desta forma, legítima a penhora realizada sobre o bem de propriedade da fiadora. Por fim cumpre destacar que a fiança é uma obrigação de garantia. Nesse tipo de obrigação, aquilo a que se obriga o fiador é pagar a obrigação se o devedor não o fizer. A fiança é outra relação jurídica da qual o devedor não faz parte e que se estabelece entre o credor e o fiador, são duas relações jurídicas distintas. Há uma relação jurídica principal que se estabelece entre credor e o devedor e há outra relação jurídica acessória que se estabelece entre o credor e o fiador. Da principal o fiador não é parte, assim como da acessória é o devedor que não é parte. Desta forma, quitado o débito pelo fiador este se sub-roga nos direitos do locador, podendo executar a dívida em virtude do direito de regresso. Recurso ao qual se dá provimento”. Chave de resposta: À luz do direito civil-constitucional, é cabível o questionamento acerca da constitucionalidade do Artigo 3º, VII, da Lei nº 8.009/90, que possibilita a penhora do único bem de família do fiador. Importante lembrar que a referida lei encontra fundamento na doutrina do patrimônio mínimo do devedor, materializando a dignidade da pessoa humana nas relações contratuais. É de se concluir que tal precedente acaba criando um ambiente inseguro ao fiador e, por conseguinte, inviabiliza a assunção desta responsabilidade. Referências DE CUPIS, Adriano. Os direitos da personalidade. Campinas: Romana Jurídica, 2004. p. 121. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS29 MELLO, Celso Antonio Bandeira. Conteúdo jurídico do princípio da igualdade. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 21. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 3. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 539. Exercícios de fixação Questão 1 (Magistratura do Trabalho) A liberdade de contratar, segundo preceito expresso na Lei Civil, será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, porque o Código Civil vigente traz uma maior preocupação com a dignidade da pessoa humana, quando visualiza o contrato como instrumento de integração do homem na sociedade: a) As duas expressões são falsas b) A primeira é verdadeira, e a segunda é falsa c) A primeira é falsa, e a segunda é verdadeira d) As duas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira e) As duas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira Questão 2 De acordo com os princípios que regem a relação contratual, identifique aquele que não se aplica a presente relação. a) Princípio da dignidade da pessoa humana b) Princípio da função social dos contratos c) Princípio da responsabilidade pessoal do devedor d) Princípio da boa-fé objetiva Questão 3 O processo de mitigação dos tradicionais critérios para solucionar o conflito entre regras, em que se busca a harmonização entre as diversas normas do ordenamento jurídico ao invés do afastamento de uma delas, é denominado de: a) Crise dos contratos TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 30 b) Pacta sunt servanda c) Dirigismo contratual d) Diálogo das fontes Questão 4 É possível afirmar que o direito civil-constitucional pode ser considerado como: a) Uma nova técnica de hermenêutica, em que os princípios constitucionais deverão ser aplicados às relações privadas. b) Uma nova técnica de hermenêutica, em que o credor deverá se submeter ao inadimplemento voluntário do devedor. c) Uma nova técnica de hermenêutica, em que se reafirma o Código Civil como diploma patrimonialista e individualista. d) Uma nova técnica de hermenêutica, em que o devedor deverá se submeter às cláusulas determinadas pelo credor. Questão 5 (OAB) Semprônio realiza contrato de locação com Terêncio, de imóvel residencial urbano. Para garantir a avença, intercede Esculápio na condição de fiador pelo período do contrato, renunciando ao benefício de ordem. No curso da avença, o devedor, por motivos de doença da família, deixa de quitar algumas prestações. Após o período de dificuldades, credor e devedor ajustam a prorrogação do contrato, não informando tal situação ao fiador. Diante do exposto, marque a alternativa correta: a) O fiador não será responsável, diante da prorrogação do contrato. b) A fiança não constitui uma das espécies de garantia locatícia. c) Qualquer modificação no contrato não precisa ser comunicada ao fiador. d) O único bem de família do fiador poderá ser penhorado, por expressa força de lei. Questão 6 TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 31 A possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas relações mútuas, dentro de determinados limites, por meio de negócios jurídicos, constitui um dos princípios fundamentais da relação contratual. Aponte, dentre as alternativas abaixo, o presente princípio: a) Princípio da função social dos contratos b) Princípio da autonomia da vontade c) Princípio do pacta sunt servanda d) Princípio da conservação do negócio jurídico Questão 7 Quanto aos princípios que regem a relação contratual, assinale a resposta incorreta. a) Autonomia da vontade é a possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas relações mútuas, dentro de determinados limites, por meio de negócios jurídicos. b) Função social do contrato é um princípio contratual, de ordem pública, pelo qual o contrato deve ser necessariamente visualizado, interpretado e estruturado de acordo com o contexto da sociedade. c) Pelo princípio da boa-fé objetiva, os contratantes estão obrigados a cumprir suas prestações de forma leal e proba, sob pena de cometerem abuso de direito, o que acarreta responsabilidade civil. d) A liberdade de contratar não será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Questão 8 (OAB) Silvana, promitente compradora, celebrou instrumento de promessa de compra e venda de imóvel no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) com Ivana, promitente vendedora, através de instrumento público. Durante a vigência do pacto, Silvana e Ivana decidiram desfazer o negócio e celebraram novo acordo por meio de instrumento particular, extinguindo o contrato inicial. Qual é o instituto jurídico pertinente? TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 32 a) Trata-se de distrato, que deverá seguir a mesma forma exigida por lei para a realização do contrato. b) Trata-se de distrato, que não precisará seguir a mesma forma exigida por lei para a realização do contrato. c) Trata-se de resilição unilateral do contrato. d) Trata-se de resolução contratual. Questão 9 José celebrou contrato de compra e venda de safra futura de soja com Antônio, em que ficou determinado o pagamento por toda a safra de soja do segundo, mesmo que esta não venha a existir. Quanto à classificação, é possível afirmar que: a) O contrato é comutativo, cabendo aplicar a teoria da imprevisão. b) O contrato é aleatório, cabendo aplicar a teoria da imprevisão. c) O contrato é comutativo, não cabendo aplicar a teoria da imprevisão. d) O contrato é aleatório, não cabendo aplicar a teoria da imprevisão. Questão 10 (Exame da OAB – 2012) Embora sujeito às constantes mutações e às diferenças de contexto em que é aplicado, o conceito tradicional de contrato sugere que ele represente o acordo de vontades estabelecido com a finalidade de produzir efeitos jurídicos. Tomando por base a teoria geral dos contratos, assinale a afirmativa correta: a) A celebração de contrato atípico, fora do rol contido na legislação, não é lícita, pois as partes não dispõem da liberdade de celebrar negócios não expressamente regulamentados por lei. b) A atipicidade contratual é possível, mas, de outro lado, há regra específica prevendo não ser lícita a contratação que tenha por objeto a herança de pessoa viva, seja por meio de contrato típico ou não. c) A liberdade de contratar é limitada pela função social do contrato, e os contratantes deverão guardar, assim na conclusão, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa‐fé subjetiva, princípios TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 33 estes ligados ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil. d) Será obrigatoriamente declarado nulo o contrato de adesão que contiver cláusulas ambíguas ou contraditórias. Contrato de mútuo feneratício: No presente empréstimo de bens fungíveis, permite-se a previsão de juros compensatórios entre os contratantes. Segundo o Artigo 591 do CC: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o Artigo 406, permitida a capitalização anual”. Juros compensatórios: Tal espécie de taxa de juros tem a finalidade de capitalizar o valor nominal que foi emprestado. Para os contratos pactuados entre pessoas físicas ou jurídicas que não exerçam atividade financeira, sua base normativa será a Lei de Usura. Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - D Justificativa: O Código Civil de 2002, a partir de uma leitura constitucionalizada do ordenamento jurídico, apresenta mecanismosque visam atenuar o princípio da autonomia privada por meio da incorporação da justiça social distributiva aos negócios jurídicos, bem como da dignidade da pessoa humana. Questão 2 - C Justificativa: Conforme Artigo 391 do CC: “Pelo inadimplemento das obrigações, respondem todos os bens do devedor”. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 34 Questão 3 - D Justificativa: Cláudia Lima Marques denomina como diálogo das fontes o processo de mitigação dos tradicionais critérios hermenêuticos, utilizados para se determinar qual norma deverá ser aplicada em dado caso concreto. Questão 4 - A Justificativa: Atualmente, o ordenamento jurídico civilista encontra-se influenciado pela Constituição Federal, acarretando verdadeira transformação paradigmática em sua interpretação. Como resultado, a doutrina e a jurisprudência pátrias desenvolveram as bases e premissas metodológicas do direito civil-constitucional, entendido, pois, como uma nova técnica hermenêutica, que busca aplicar os princípios e direitos fundamentais às relações privadas. Questão 5 - D Justificativa: Conforme Artigo 3º, VII, da Lei nº 8.009/1990. Questão 6 - B Justificativa: Em síntese, o princípio da autonomia privada pode ser apreendido como a possibilidade, oferecida e assegurada aos particulares, de regularem suas relações mútuas, dentro de determinados limites, por meio de negócios jurídicos. Questão 7 - D Justificativa: Conforme Artigo 421 do CC: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Questão 8 - A Justificativa: Conforme Artigo 472 do CC: “O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato”. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 35 Questão 9 - D Justificativa: Informativo nº 492 do STJ: “Nos contratos aleatórios de compra e venda de safra futura, as variações de preço, por si só, não motivam a resolução contratual com base na teoria da imprevisão”. Questão 10 - B Justificativa: Conforme Artigo 425 do CC: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”; e Artigo 426 do CC: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 36 Introdução É possível afirmar que na sociedade atual o contrato se corporifica como o maior negócio jurídico. E, dessa forma, a apreensão de sua base principiológica torna-se um verdadeiro diferencial aos operadores do direito. Nesse contexto, insere-se o princípio da boa-fé objetiva, a partir da personificação dos anseios constitucionais às relações privadas. Com isso, a exigência de conduta pautada na lealdade dos contratantes torna-se imprescindível e sua violação passa a constituir abuso de direito. Diante da jurisprudencialização do ordenamento jurídico, as decisões judiciais ganham importância fundamental para apreensão dos institutos de direito. Diante dessa premissa, convém analisar a ocorrência ou inocorrência da boa-fé objetiva nos casos concretos submetidos à apreciação judicial, cabendo a seguinte pergunta: qual é o contorno jurídico que o Poder Judiciário tem agregado ao referido princípio civil-constitucional? Objetivo: 1. Analisar os elementos constitutivos do princípio da boa-fé objetiva: conceito, regulamentação, requisitos para aplicação, funções, deveres anexos, abuso de direito e violação positiva do contrato; 2. Analisar a aplicação jurisprudencial do princípio da boa-fé objetiva e perceber sua ocorrência nas obrigações e nos contratos em geral. Conteúdo Lealdade contratual A boa-fé objetiva determina que os contratantes estão obrigados a cumprir suas prestações de forma leal e proba, sob pena de cometerem abuso de direito (Artigo 187, CC), o que acarreta responsabilidade civil, constituindo uma verdadeira cláusula geral, já que materializa um preceito de ordem pública. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 37 Boa-fé subjetiva Com o intuito de diferenciar a boa-fé subjetiva da boa-fé objetiva, leciona Gonçalves, citando Martins-Costa: “Num primeiro plano, a boa-fé subjetiva implica a noção de entendimento equivocado, em erro que enreda o contratante (...), sendo que a situação é regular e essa sua ignorância escusável reside no próprio estado (subjetivo) da ignorância (as hipóteses de casamento putativo, da aquisição da propriedade alheia mediante usucapião), seja numa errônea aparência de certo ato (mandato aparente, herdeiro aparente, etc).” Ordenamento jurídico Para doutrina italiana, a boa-fé é elemento constitutivo da fattispecie liberatória e a sua prova cabe ao devedor. De acordo com o Enunciado nº 548 da VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, “caracterizada a violação de dever contratual, incumbe ao devedor o ônus de demonstrar que o fato causador do dano não lhe pode ser imputado, conforme Artigos 389 e 475, CC”. Tal enunciado justifica-se no fato do ordenamento jurídico ser composto por regras, princípios e valores coerentes entre si, o que acarreta a imposição do ônus de provar ao devedor, que não foi ele quem descumpriu a obrigação, tanto nas hipóteses de mora e de inadimplemento, quanto nos casos de cumprimento imperfeito. Eventualmente, a boa-fé pode ser presumida, bastando a prova da aparência (Teoria da Aparência) da legitimação para receber, em relação ao credor putativo, nos moldes do Artigo 309 do CC. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 38 Intérprete jurídico Importante destacar que se presume a boa-fé, tanto objetiva quanto subjetiva, nos contratos consumeristas (Artigo 47 do CDC) e nos contratos de adesão (Artigo 423 do CC). A complementaridade entre as duas normas deve ser materializada pelo intérprete jurídico, em respeito à técnica denominada diálogo das fontes, em que se busca a harmonização entre as diversas fontes normativas que compõem o ordenamento jurídico nacional. De acordo com o Enunciado nº 27 da I Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: “na interpretação da cláusula geral da boa-fé objetiva, deve-se levar em conta o sistema do CC e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos”. Contratos de adesão A conduta de lealdade deverá ser observada, principalmente, nos contratos de adesão. Em breve conceituação, contrato de adesão é aquele em que uma parte, o estipulante, impõe o conteúdo negocial, restando à outra parte, o aderente, duas opções: aceitar ou não o conteúdo desse negócio (Artigos 423 e 424, CC e 54, CDC). A consequência jurídica imposta pelo desrespeito à boa-fé objetiva em tais contratos é a nulidade das cláusulas abusivas; dentre elas encontra-se o pacto comissório real. Pelo Artigo 1.428, CC: “É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento”. TÓPICOS ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E CONTRATOS 39 Renúncia antecipada Não é possível a renúncia antecipada de direitos em contratos de adesão, nos moldes do art. 424 do Código Civil. Atualmente, grande parte dos contratos de financiamento é de adesão, contratos nos quais há, normalmente, constituição de direito real de garantia, como é o caso da hipoteca. Porém, a lei civil estabelece uma limitação ao credor, que não pode pactuar a tomada da coisa, diante do inadimplemento obrigacional no vencimento. Para tanto, à luz da boa-fé objetiva, necessitará de ação judicial, ou para cobrar a dívida, ou
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