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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR MEDIANTE AS POLÍTICAS 1. Escopo geral. Estudos revelam haver uma estreita relação entre a formação de professores e as políticas econômicas. Isso porque a primeira depende de uma política educacional, a qual é considerada “uma manifestação da política social” (VIEIRA, 1998, 29) e que guarda dependência, por sua vez, com as diretrizes de políticas sociais emanadas pelo sistema econômico do país. Para considerar essa assertiva, pressupõe-se ter de aceitar que por trás dessas políticas há uma força motriz bem maior quanto às suas influências, poder que se poderia imaginar, e que agora, por certo, tem-se como verdadeiramente já incrustada e até mesmo reconhecida como fazendo parte da realidade mundial – a globalização. Deste modo, talvez seja possível compreender porque, em nível de Brasil, tem- se percebido uma mudança, apesar de dizerem tímida, no campo da formação de professores, conforme salienta Vieira (1998, 30): Por tempo considerável, a formação de professores configurou-se como assunto de interesse restrito, afeto aos especialistas da área. Os desafios gerados pelas mudanças atravessadas pelo mundo na última década e a existência de um quadro propício a uma agenda de reformas nos diferentes contextos internacionais e nacionais trouxeram uma nova visão a esse respeito. Em tais circunstâncias, o tema passa a constituir alvo do debate em educação – seja a partir do reconhecimento de sua importância por parte do Estado, seja pelo interesse despertado entre educadores e suas organizações no âmbito da sociedade civil organizada. A especulação que poderia ser feita sobre essa abrupta motivação frente às discussões a despeito da formação de professores, a partir do viés da globalização, diz- se ter a ver com as exigências das agências financiadoras, como o BID e o BIRD, dentre outros órgãos voltados para esse fim. O que não é uma ação vã ou despretensiosa. Quando da criação da ONU, estipulou-se a destinação de verbas com fins à aplicação de meios para proporcionar o desenvolvimento de países subdesenvolvidos, a partir da educação. Daí porque, desde 1960 até a presente data, muitos feitos foram propostos e instituídos no Brasil, visando à formação de professores, por ser esse o principal agente de aplicabilidade das políticas efetivadas no ambiente das discussões políticas na capital federal. Para delimitarmos os acontecimentos que proporcionaram as transformações nas políticas de formação de professores no Brasil, perfaz a necessidade de trabalharmos as diferentes épocas, dando-se ênfase àquelas consideradas de maior relevância nesse contexto. Seguindo a sugestão de KULLOCK (2000), utilizaremos, também, a denominação de cenários, para a demarcação dos acontecimentos tidos de maior importância quanto à formação de professores, para das décadas aqui estudadas, da seguinte forma: cenário das décadas de 60-70 e cenário das décadas de 80-90. 2. A Formação de Professores no cenário das Décadas de 60-70. Não obstante se considerar que o foco das mudanças no âmbito das políticas de modernização das universidades teria seu início a partir do final da década de 1950, também se considera que desde 1808, havia uma pretensa formação de profissionais, sobretudo quando da inserção das chamadas instituições isoladas de ensino. Neste ponto, somos compelidos a crer que o tema aqui em análise se desprende de uma ocorrência somente hodiernamente constituída, como, aliás, são em geral os temas de interesse público, isto porque as instituições isoladas de ensino, se sofreram críticas quanto ao seu aspecto de formação, devido à sua fragmentação, também é lícito dizer que cumpriu o papel crucial de fomentar discussões a despeito de políticas educacionais, e por extensão, a formação de professores. Somado a esse aspecto, vê-se que teve papel preponderante na criação de universidades, quando nessas foram transformadas. O marco principal das décadas de 60-70, no que diz respeito à educação no Brasil, pode ser resumido pelos constantes e “acirrados debates sobre o papel da universidade” (VIEIRA, 1998, 48), em termos ao que ficou conhecido por reforma universitária. 3. A Formação de Professores no cenário das Décadas de 80-90. Neste período, tem-se consolidado o nível de discussão sobre as questões da educação no País, sobretudo as práticas docentes: Nas últimas duas décadas, a questão educacional, em todos os seus aspectos, foi objeto de amplo e profundo tratamento no Brasil, devido tanto à situação política que se instala no final da década de 70 e que vai permitir um novo olhar sobre a educação e suas práticas (KULLOCK, 2000, 57). O número de trabalhos acadêmicos e pesquisas aumentou consideravelmente, inclusive com publicação de grande parte do material disponível. Como visto, o cenário era propício às grandes discussões a respeito das questões inerentes à educação. Há como os principais acontecimentos para essa época a criação do Comitê Pró- Formação do Educador; a fundação de associações e entidades de educadores, como Anpel, Ande, Cedes, as quais tinha por objetivo principal levar o professor até as discussões de cunho teórico e político; realização de cinco conferências brasileira de educação, acrescentado-se os eventos localizados nas diferentes regiões do Brasil; a participação de políticos anistiados à discussão da educação brasileira. Apesar dessa vasta incursão de temas sob o condão das discussões, o período 80- 90 é tido como improducente sob o ponto de vista das deliberações, ou seja, muito foi discutido, mas pouco se fez: Notamos que a década de 80 chega ao final sem nenhuma proposta concreta sobre o fazer pedagógico. Muitas discussões aconteceram, muitos encontros e congressos se realizaram, mas tudo ainda permanece no discurso, apesar de muitas pesquisas e publicações terem acontecido (KULLOCK, 2000, 58). Um dos motivos que poderíamos especular para que esse diagnóstico tenha se configurado pode ser porque, como é sabido, as decisões sobre educação são centralizadas em mãos de muitos políticos e poucos técnicos, senão somente daqueles mesmos. 4. Quadro Atual das Políticas de Formação de Professores. Pelo visto, quando se tratam de políticas de educação voltadas para a formação de professores, temos hoje os mesmos anseios do que tínhamos em um passado recente: Atualmente é preciso destacar que o que se vê é uma formação inadequada, de qualidade inferior e sem condições de trabalho. Sabemos que, sem uma formação sólida e um esquema de formação continuada, é impossível esperar qualquer sucesso e que os esforços de uma formação continuada sem uma boa formação inicial têm dado pouquíssimos resultados (KULLOCK, 2000, 57). No quadro das discussões atuais a respeito da problemática educacional, tem relevância, conforme salienta Kullock (2000, 57), “o papel das faculdades de educação, principalmente, e a natureza da licenciatura”. Nesse âmbito, é necessário inserir a importância da universidade para chamar o feito para si, já que é agente principal formador de propostas sobre questões de interesse da sociedade. 5. Locus da Formação do Professor. Com efeito, é salutar, como de extrema importância a discussão sobre o local da formação de professores, tanto assim que hoje há dois posicionamentos a despeito. De um lado, há os que apóiam, como Balzan, Arroyo e Mafra, a criação de uma unidade de formação de professor dentro da universidade. Para esses teóricos, os problemas percebidos no âmbito das universidades a respeito da formação de professores tem relação com o fato de não existir um local próprio e definido para a aplicabilidade das discussões e decisões sobre o assunto. Em contra partida, outro grupo alega que vê de forma negativaa existência de uma unidade específica de formação de professores. Conforme aponta Kullock (2000, 60), o grupo assegura suas razões quando diz [a] existência de uma unidade específica de educação resultou negativa, tendo em vista a segregação que sofreu a educação em relação às demais disciplinas das áreas de ciências sociais e humanas. Em face das razões apontadas, poder-se-ia pensar que a grande preocupação do momento seria para a escolha de um dos posicionamentos para cada grupo. No entanto, Kullock (2000) nos leva a crer que em verdade, ambas discussões são importantes, pois, não obstante suas assertivas, cada grupo leva a um pensamento único: o reconhecimento da importância da formação do professor. 6. Faculdades ou Centros de Formação x Licenciatura. Há uma distinção quanto ao local de formação de professores, de um lado, e as licenciaturas, por outro, elaborada por Kullock (2000, 61). Sobre a primeira, diz que: As faculdades ou centros de educação têm função primordial a desempenhar no processo de formação de professores, mas é preciso ampliar a idéia de que sua responsabilidade é diretamente com o curso de pedagogia. Sobre a segunda, a licenciatura, assenta que somente lhe “compete cumprir a parte pedagógica” (KULLOCK, 2000, 61). A crítica que se faz é a de que as faculdades, centros ou departamentos de educação funcionam de forma subsidiária, chegando mesmo a incomodar os institutos ou departamentos. No bojo da discussão, cabe trazer os seguintes questionamentos da autora: . não seria o caso de começar a pensar a formação do professor em outras bases institucionais de natureza realmente interdisciplinar? · de propor outras estruturas no lugar das inoperantes licenciaturas? · e de propor esquemas de ação para a educação continuada dos professores como função integrante da vida da universidade? · parar de lamentar o que não foi feito e de fazer alguma coisa, agindo com um olhar e metas prospectivas? . dizer não aos remendos e sim a inovações mais ousadas? Pelo visto, ainda se pode ver as velhas discussões adentram no quadro geral da problemática educacional, hodiernamente, mas que por certo, por todas as crises já deflagradas e que por certo ultrapassadas, a tendência é encontrar um elo de relevância para que se promova desde a solução dos problemas até então percebidos, ao levantamento de novas discussões a serem levantadas, tendo em vista o movimento por certo vivenciado no âmbito da sociedade. Para os fins de fomentar respostas para as diversas questões referentes à formação de professores no âmbito da universidade, faz-se necessário que esta tenha em seu acervo propostas que sejam verdadeiramente eficazes, pensando de modo pragmático, pois é hora de trazer soluções para questões que perpassam ao longo de décadas. E deixar que outras novas surjam naturalmente. 7 – AS TESES DA ANFOPE PARA A FORMAÇÃO E A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO. Seguindo a diretriz de abordagem das políticas voltadas para a formação de educação, a Associação Nacional Pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE, tem elaborado propostas que visam ao incremento de ações que tenham por objetivo a valorização dos professores em todas as redes de ensino. Atualmente, há a preocupação com o nível de atuação dos centros de formação de professores que, segundo a entidade, Em várias universidades, os centros de educação e, portanto, o campo da educação, vem sendo alijado da responsabilidade pela formação dos professores, rebaixando inclusive as exigências do campo da teoria pedagógica (ANFOPE, 2004, 11). Deste modo, a Associação entende ser necessária viabilizar políticas de formação de profissionais da educação que lhe dêem a condição vital para o pleno exercício de sua atividade na percepção do que anseia a sociedade: professores preparados, qualificados e conscientemente inseridos no processo político, econômico e social. Reconhecer a importância da formação do professor está para aceitar a importância da própria educação, e por extensão, da sociedade em si. Para tanto, requer-se, sendo imperioso dizer, até, que o próprio profissional da educação, a bem dizer, o professor, também tome consciência de seus espaços nas questões educacionais. Para esse fim, deverá tomar para si a noção que terá ora modificar posturas, ora acirrar as que já conscientemente está em seu padrão de desenvolvimento do labor para o qual se preparou, cabe dizer, a atividade da docência em seu mais relevante desempenho, na afirmação de sua gerência tanto discursiva quanto prática. Assim, espera-se que esse professor, em sua atuação em sala de aula, sobretudo no que se tem por educação de base, seja um profissional que: Domina o conhecimento específico de sua área, articulado ao conhecimento pedagógico, em uma perspectiva de totalidade do conhecimento socialmente produzido que lhe permita perceber as relações existentes entre as atividades educacionais e a totalidade das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que o processo educacional ocorre, sendo capaz de atuar como agente de transformação da realidade em que se insere (ANFOPE, 2004, 12). Para que se tenha como devidamente constituída uma política de educação bem sucedida, é imprescindível a inserção de seus agentes no ambiente tanto de discussão, quanto de elaboração das diretrizes a serem tomadas. Cremos que por mais que se teorizem, por mais que se discutam, se deixarem os professores de fora, o que virá são constatações de que ainda não se chegou ao modus operandi pretendido. Por outro lado, ao professor espera-se que esteja verdadeiramente engajado com as transformações inseridas no âmbito das políticas educacionais, tendo em vista que essas são diretamente dependentes de seu engajamento, quando também se sabe que atinge, também de forma direta, o seu trabalho em sala de aula. Daí dizer que o profissional da educação, para que assim venha a ter o sucesso almejado em sua atividade de ensinar, terá que estar inserido no conceito de profissional do futuro: aquele que domina tecnologias, que sabe se comportar dignamente diante das adversidades da vida social, que consegue se relacionar desde com seus pares a seus alunos. Para Macedo (2002,14), tendo em vista as grandes transformações ocorridas no mundo globalizado, em que as informações estão a um passo do click do dedo diante do teclado do computador, o que se espera do novo perfil do professor para o milênio já em seguimento se baseia na interpretação dos sete saberes de Edgar Morin. Desta forma, espera-se que o professor, seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista de ser humano participante de um grupo social, seja: 1. pessoa confiável; 2. mediador intercultural; 3. mediador de uma comunidade educativa; 4. garantia da Lei; 5. organizador de uma vida democrática; 6. transmissor cultural; 7. intelectual. Consoante se depreende, missão ímpar cabe ao professor tanto ao que se refere ao seu labor quanto ao que se tem de si enquanto cidadão. Esperamos que as contribuições subseqüentes a despeito das políticas de formação de professor venham a dar crédito à que os próprios profissionais se vejam imbuídos do espírito de engajamento nessa luta diária de ensinar, e ensinar bem. 8 - Conclusão As discussões a respeito de políticas voltadas para a formação de profissionais da educação não estão distantes das já fomentadas a partir das décadas de 60. É possível até dizer que os problemas, se não são os mesmos, pois já há novos e os velhos se agravaram, o discurso assim se faz perene. O contra-senso dessa constatação está nos estudos isolados do modelo padrão instituído pelos órgãos governamentais, pois enquanto os primeiros conclamama importância de se inserir os professores nas discussões e deliberações a cerca dos problemas percebidos no âmbito da educação brasileira, os segundos tomam para si o poder estatal e impõe modelos tirados de outros países, e que, por terem natureza e aplicabilidades diferentes para o nosso, são vistos como fracassados. A bem da discussão, o que se vê é a importância de as universidades chamarem para si a responsabilidade de efetivarem discussões a respeito das questões educacionais, aqui se incluindo a formação do s profissionais da educação. Por outro lado, não é possível ver o professor como um profissional passivo frente às discussões que se depreendem no âmbito das universidades. Requer a imperiosa participação e a conscientização de que é figura precípua nesse contexto.
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