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Embriaguez ao Volante

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1. Embriaguez ao volante (art. 306, Lei 9503/97) e sua prova: comparação entre o regime da Lei 11.705/08 e o regime atual.
A intensidade da repressão estatal em relação a punição de dirigir veículo automotor sob efeito de álcool tem gerado já há muito tempo debates tanto no meio jurídico quanto na sociedade em geral. Desde o advento do CTB (Lei 9.503/97) a conduta de veículo automotor por motorista embriagado tornou-se conduta típica criminosa tipificada no artigo 306 da citada lei derrogando nesse ponto o artigo 34 da Lei de Contravenções Penais e vinha com a seguinte redação:
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: 
 O crime foi inicialmente alterada pela Lei 11.708/08 que ficou conhecida como Lei Seca pois visava aumentar o rigor penal, deixando de exigir perigo concreto para a caracterização da prática delitiva (dano potencial a incolumidade de outrem), passando assim a ser crime de perigo abstrato dando a seguinte redação ao artigo 306:
Art. 306.  Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de  álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência
No entanto, a Lei Seca sofreu inúmeras críticas pela questão da sua especificação quanto a quantidade de álcool no sangue para caracterizar a conduta típica (elemento objetivo do tipo), já que tal prova só poderia ser feita através de exame de sangue ou exame do bafômetro e ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo (Art. 5, LXIII da CF/88 e Art. 8, 2, g do Pacto de San José da Costa Rica), o que dificultava imensamente a produção de prova do crime em comento comprometendo a efetividade real da Lei nesse ponto, além disso havia críticas a respeito desse critério visto que discutia-se o fato de um bombom de licor poder dar ao sujeito tal concentração de álcool no sangue mesmo que ele não estivesse alterado e incapaz de dirigir. Visando corrigir tais problemas, alterou-se novamente a redação ao Art. 306 que ganhou a seguinte redação:
 “Art. 306.  Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
  Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1o  As condutas previstas no caput serão constatadas por: 
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou 
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. (Resolução 432/13 Cotran)
§ 2o  A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. 
§ 3o  O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.”(NR) 
Assim passou-se a ser condição para o enquadramento no delito a capacidade psicomotora alterada, o que pode ser entendido pela capacidade mental e de movimentos anormais, além disso houve uma ampliação dos meios de prova do crime em comento admitindo-se por exemplo a constatação pelos sinais estabelecidos na Resolução 432/13 do Cotran que traz em seu anexo II sinais quanto a aparência do condutor (sonolência, olhos vermelhos, odor etílico no hálito, vômito, soluço e desordem nas vestes) , quanto a atitude (agressividade, arrogância, exaltação, ironia ou dispersão) , quanto a orientação e memória (ciência de onde está, da data e horário, de seu endereço e lembrança dos atos cometidos) e quanto a capacidade motora e verbal (dificuldade de equilíbrio e fala alterada) e também a constatação por exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, além dos já anteriores bafômetro e exame de sangue.
Deste modo a intenção do legislador com a chamada Nova Lei Seca foi de propiciar real efetividade a lei, fazendo com que a reprimenda a aquele que não estava com as capacidades psicomotora alteradas se tornasse adequada (exemplo de quem comeu um bombom de licor ou ingeriu remédio que da alteração no bafômetro por exemplo) e possibilitando a punição daquele que embriagado na condução de automóvel se negava a ser submetido aos restritos meios probatórios então admitidos anteriormente pela lei. Assim, a Nova Lei Seca objetiva tornar o transito brasileiro mais seguro e seus motoristas mais responsáveis e conscientes da atitude de cada um para o bem comum da coletividade.

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