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FISIOTERAPIA NO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR – ESTUDO DE CASO Marcelo Vitor Gomes* Carla Regina Moreira Camargo** * Acadêmico do 9º período de Fisioterapia ** Docente Supervisora de Estágio em Fisioterapia na área de Neurologia Faculdade União das Américas - Uniamérica, Foz do Iguaçu, Paraná RESUMO Introdução: lesão por arma de fogo é comum em traumatismo raquiomedular. O tratamento em solo combinado com hidroterapia é um bom recurso que pode ser utilizado pelos fisioterapeutas. Apresentação do caso: trata-se do estudo de um paciente que sofreu um TRM (traumatismo raquimedular), através de um ferimento por arma de fogo, o qual atingiu L4, onde houve lesão de algumas fibras, desenvolvendo uma radiculopatia que altera algumas estruturas sensitivas e motoras.Resultado: os resultados de ganho de mobilidade de tronco com o tratamento na hidroterapia e a melhora da força muscularcom o tratamento em solo foi os resutados mais expressivo que foi visto com a utilização da técnica. Considerações finais: o paciente obteve ganhos através do tratamento no solo e ganhos diferentes através do tratamento com a hidroterapia, onde, os dois tratamentos em conjunto foram de grande valia para a melhora do quadro do paciente. Palavras-chave: fisioterapia, traumatismo raquimedular, tratamento, hidroterapia. INTRODUÇÃO Segundo Umphred (2004), o traumatismo raquimedular (TRM) é uma condição catastrófica que dependendo da sua gravidade pode causar alterações dramáticas na vida da vítima. O TRM geralmente ocorre em pessoas ativas independentes, que em um determinado momento tem controle sobre suas vidas e no momento seguinte estão paralisadas, com perda de sensibilidade e funções corporais. Os pacientes precisam de um programa de reabilitação especializado, bem coordenado, com uma equipe de profissionais de saúde que forneça as ferramentas necessárias para o desenvolvimento de um estilo de vida satisfatório e produtivo. Segundo Umphred (2004), o TRM ocorre quando a medula espinhal é danificada como resultado de um trauma, processo de doença ou defeitos congênitos. As manifestações clínicas da lesão variam dependendo da extensão e localização do dano da medula espinhal. A paraplegia refere-se à deficiência ou a perda da função motora e/ou sensorial devido ao dano da coluna torácica, lombar ou de segmentos sacrais da medula espinhal. Dependendo do nível do dano, a função pode ser deficiente no tronco e/ou nas extremidades inferiores. Segundo Fritz, Paholsky, Grosenbach (2002), o sistema nervoso periférico abrange os nervos motores, sensoriais e os gânglios que ficam fora da medula espinhal. O sistema contém 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos espinhais. Os nervos sensoriais levam o impulso para o sistema nervoso central e os nervos periféricos motores levam o impulso nervoso do cérebro para o corpo (músculo). Na medula espinhal, as fibras se separam em corno anterior e posterior. No corno posterior encontra-se as fibras sensoriais e no corno anterior as fibras motoras. Uma lesão na porção sensorial de qualquer nervo espinhal provoca a perda de sensações na área inervada, e uma lesão na porção motora resulta em uma paralisia flácida daquela área. Fraturas provocadas por projétil de arma de fogo são freqüentes nos traumatismos raquimedulares lombares. É de se supor que possa ocorrer instabilidade devido aos tipos de lesões desenvolvidas, pois há o envolvimento de muitas estruturas. Como há esse envolvimento de várias estruturas a conduta é de difícil decisão. O tratamento conservador é indicado quando a fratura for uma lesão estável. Então os tratamento de solo e hidroterapia podem ser bem aceitos pelo paciente. Com o tratamento de solo, visa-se um maior ganho de força muscular, onde este será realizado sem impacto no caso de fraturas não consolidadas. Como um dos benefícios da hidroterapia é a diminuição da força da gravidade e, com isso, a diminuição de impacto, essa técnica pode ser trabalhada de forma mais dinâmica para o tratamento TRM. E também pode ser bem utilizada o efeito do relaxamento muscular que a hidroterapia proporciona, tendo em vista as grande contraturas desenvolvidas na musculatura do paciente, em especial a musculatura paravertebral. APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO A avaliação foi realizada na clinica escola da UNIAMÉRICA, com duração de 50 minutos. Este estudo de caso diz respeito ao paciente J.F.R., 27 anos, do sexo masculino, solteiro. Sua profissão é de policial militar. Reside em Foz do Iguaçu, no bairro vila “A” de Itaipu. Seu diagnóstico clínico é traumatismo raquimedular (TRM) e o diagnóstico fisioterapêutico é fraqueza muscular em membro inferior direito com maior acometimento em musculatura inervada pelo seguimento S1. Sua queixa principal é diminuição da força dos movimentos em membro inferior direito, principalmente glúteo médio, panturilha e ponta do pé. A expectativa do paciente é fortalecer o membro afetado. Na HMA, o paciente relata que no dia 28/12/2006 foi surpreendido por um assaltante que o ameaçou com uma arma, o colocou dentro do seu próprio carro. Apreensivo do que poderia acontecer, ele pulou do carro em movimento. Quando ele estava pulando do carro o assaltante disparou um tiro na suas costas em região lombar. S.I.C., ele foi atendido rapidamente pelo socorro médico. O paciente relata que perdeu a sensibilidade em membro inferior direito.e também relatou quadro algico em membro inferior direito. S.I.C. a lesão do seguimento entre as vértebras de L5 e S1 foi ocasionada pelo calor da bala na medula. O paciente ficou uma semana hospitalizado e após sair do hospital não deambulou durante uma semana. Só parou de sentir dores no local da lesão após 30 dias do ocorrido Com relação a HMP, o paciente não tem nada a relatar. Com relação a HF, o paciente não tem nada a relatar. Com relação a HS, o paciente não tem nada a relatar. Com relação às suas AVD’s, o paciente as realiza com independência total. E com relação às AVD´p, o paciente realiza tudo normalmente, não podendo realizar atividades que levem o seguimento lombar a um stress (carga). O paciente não faz uso de medicamentos controlados. Exames complementares: - tomografia computadorizada: não tinha laudo; mas observou-se que sofreu uma lesão explosiva em L4, onde a bala encontra-se alojada em coluna média. - eletroneuromiografia: segundo o laudo: eletroneuromiografia de membros inferiores sugestiva de radiculopatia lombar – L5 – a direita em fase aguda, com axoniotmesis moderada e boa perspectiva de recuperação. Há também leves sinais de comprometimento da raiz S1 a direita. Reabilitações anteriores: faz fisioterapia há dois meses e meio. Com relação aos padrões eliminatórios, o paciente relata ter atividades vesicais e intestinais normais. No exame dos sinais vitais, o paciente se apresenta com temperatura normal, P.A. de 140/80mmHg, FC de 78bpm, FR 18cpm. O paciente apresenta-se colaborativo, deambulando com marcha de trendelenburg, utilizando colete de putt. Sua pele apresenta-se com cicatriz em região lombar, com edema. Seu tipo respiratório é predominantemente apical, com expansibilidade diminuída em base bilateral. Nos padrões posturais ele apresenta, na vista anterior, cabeça rodada a esquerda, ombro, mamilo e pelve esquerda mais elevada, MMSS apresentam-se com ângulo de Tales diminuído a esquerda e MMII com patela medializada a direita e arco plantar desabado bilateralmente. Na vista posterior, confirmam-se os itens achados na vista anterior. Na vista lateral, a cabeça encontra-se anteriorizada e o tronco anteriorizado e retificação lombar. O paciente não apresenta problemas associados. Na palpação, o paciente apresenta hipotrofia de gastrocnêmio e tibial anterior adireita. Seu tônus apresenta-se normal. Sua sensibilidade superficial tátil encontra-se normal, a térmica e dolorosa têm diminuição em membro inferior direito em dermátomo de S1. A sensibilidade profunda, barognesia, topognesia, cinestesia e estereognesia encontram-se normais. Com relação aos reflexos osteotendinosos: - bicipital direito e esquerdo: normal; - triciptal direito e esquerdo: hiporreflexia; - patelar direito: hiporreflexia; esquerdo: normal; - aquileu direito e esquerdo: hiporreflexia; - adutor direito e esquerdo: hiporreflexia. Com relação aos reflexos cutâneos plantares, Hoffman e reflexo cutâneo abdominal: normais bilateralmente. O paciente não apresenta movimentos involuntários e nem automatismos medulares. D E D E D E D E OMBRO Flex. N N Ext N N Abd . N N Add. N N COTOVEL O Flex. N N Ext N N PUNHO Flex. N N Ext N N D.R N N D.Ul N N Nas transferências de peso, ele realiza todas as transferências, descarregando mais peso na perna esquerda. Com relação à ADM: Tronco:_ ADM diminuída na flexão, extensão, lateroflexão direita e esquerda e rotação. O tronco do paciente encontra-se fixado em região lombar. Com relação à força muscular: D E D E D E D E OMBRO Flex. 5 5 Ext. 5 5 Abd. 5 5 Add. 5 5 COTOVELO Flex. 5 5 Ext. 5 5 PUNHO Flex. 5 5 Ext. 5 5 D.Rad 5 5 D.Uln 5 5 QUADRIL Flex. 4 4 Ext. 4 4 Abd. 3 5 Add. 3 5 JOELHO Flex. 4 5 Ext. 4 5 TORNOZELO Planti 5 5 Dorsi 4 5 Evers 4 5 Inver 4 5 1 = sem contração; 2 = sensação da contração, sem movimento; 3 = contração que vence a força da gravidade; 4 = Contração que vence pouca resistência; 5 = Contração que vence uma boa resistência; Segundo Kendall, 1995; Tronco: tronco: os movimentos de flexão e extensão de tronco, paciente não consegue realizar devido a dor. Alterações músculo-esqueléticas: contratura de quadrado lombar. Não apresenta deformidades. Seu nível motor L5, S1. Seu nível sensitivo L5. Seu nível neurológico L5. Sua reação de proteção encontra-se normal. Sua reação de endireitamento encontra-se alterada devido a fixação de coluna lombar. O equilíbrio estático e dinâmico encontra-se normal. As manobras deficitárias barre, rechaço, ramiste, mingazinne e prova de queda dos membros inferiores não apresentam alterações. A coordenação motora grossa e fina apresenta-se normal. Paciente apresenta-se com marcha de trendelenburg, com base alargada e com apoio chapado do pé direito. Apresenta pouco déficit de equilíbrio. ad n QUADRIL Flex. N N Ext N N Abd . N N Add. N N JOELHO Flex. N N Ext N N TORNOZE LO Plant i N N Dors i N N Ever s N N Inve r N N RESULTADOS Foram realizadas 11 sessões de fisioterapia, sendo 8 em solo e 3 na hidroterapia. Foi observado subjetivamente uma melhora na ADM em flexão, extensão, lateroflexão e rotação de tronco, e uma melhora do condicionamento aeróbica, isso devido a hidroterapia. O trabalho de hidroterapia forneceu ao paciente uma maior confiança para realização de movimentos cujo os quais o paciente achava que não conseguia realizar. Obteve uma maior resistência a exercícios resistidos, uma melhora do equilíbrio, um ganho de flexibilidade muscular, principalmente em isquiotibiais, ganho de força muscular em todo o membro inferior bilateral em principal glúteo médio direito e esquerdo e em tronco, melhora na descarga de peso em MI direito e consequentemente um melhor alinhamento biomecânico, devido ao treinamento no solo. Verificou-se também que o tratamento no solo garante ao paciente maior trabalho muscular, onde esse visa força. Então, o tratamento combinado de hidroterapia e solo geram grandes benefícios ao pacientre. DISCUSSÃO Segundo Hoppenfeld (2003), os acometimentos motores do nível neurológico de L5 atingem a musculatura: - extensor longo do hálux (nervo tibial profundo); - glúteo médio (nervo glúteo superior); - extensor longo e curto dos dedos (nervo tibial profundo). Segundo hoppenfeld (2003), os acometimentos sensitivos do seguimento S1 atingem a região de maléolo lateral e a face lateral da superfície plantar do pé. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), os objetivos do tratamento podem ser classificados em:- objetivos ortopédicos;- objetivos da reabilitação;- objetivos funcionais. Os objetivos ortopédicos visam:- obter e manter alinhamento da coluna vertebral e alinhamento;- proporcionar estabilidade espinhal;- evitar e melhorar deficiências neurológicas;- evitar novas fraturas e deformidades da coluna vertebral. Os objetivos da reabilitação visam: - restaurar a amplitude de movimento em todos os planos;- restaurar a força muscular. Os objetivos funcionais visam:- desenvolver a flexibilidade da coluna vertebral, fazendo com que o paciente se torne o mais independente possível;- permitir que o paciente se sente, caminhe, sem sentir dor;- fortalecer musculatura paraespinhal, grande dorsal, trapézio e quadrado lombar, no caso de consolidação total;- a musculatura dos membros inferiores podem atrofiar com repouso na cama ou decorrentes de lesão neurológica portanto devem ser fortalecidos. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), o tempo esperado para consolidação óssea é de 8 a 16 semanas. Então, a recuperação total do paciente varia entre 3 à 6 meses. Segundo a literatura o paciente JFR já tem a sua fratura consolidada. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), freqüentemente as fraturas explosivas cominutivas, levam a uma lesão da medula espinhal. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), o seguimento da coluna lombar é dividido em três partes: - anterior: parte anterior da vértebra e ligamento amarelo.- média: parte posterior do corpo da vértebra e ligamento longitudinal posterior.- posterior: estão compostas por processos espinhosos, facetas articulares e processos transversos. As lesões da coluna lombar são divididas em maiores e menores. As menores são causadas por fratura da coluna posterior e as fraturas maiores são caracterizadas pela lesão por compressão, fraturas explosivas, lesão por flexão/distração e fraturas/luxações da coluna média e anterior. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), o mecanismo de lesão das fraturas lombares maiores são decorrentes de traumatismo de alta energia, como acidentes automobilísticos, quedas de grandes alturas e lesão por armas de fogo. Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), as lesões podem ser:- estáveis;- explosivas; - flexão/distração. No caso do paciente JFR, o mesmo sofreu uma lesão maior e explosiva, provocado por uma lesão através de arma de fogo, considerada trauma de alta energia, onde a bala encontra-se localizada no corpo vertebral, na coluna média. As lesões explosivas podem ser tratadas através de processo cirúrgico ou conservador, onde o conservador é preferido quando à perda de menos de 50% da altura da vértebra, menos de 20º de angulação e menos de 50% de acometimento de raízes nervosas. Quando o tratamento é conservador utiliza-se de órteses. (HOPPENFEL E MURTHY, 2001). Segundo Hoppenfeld e Murthy (2001), o paciente com lesões explosivas estáveis pode ficar em pé, onde nessa posição ele se sente mais confortável que na posição sentada, pois sentado gera mais estress. Deve-se verificar o quadro neurológico do paciente em manobras de valsalva. Se ele sentir dores ou irradiação de dor para membros inferiores pode ser indicação de problemas neurológicos devido a compressão nervosa, fragmento ósseo ou disco que está sendo projetado para dentro do canal medular.Onde a sustentação de peso varia conforme a tolerância do paciente. Segundo Hall (2000), estima-se que 50Nm de torque em extensão gera 800N de compressão na articulação L4 L5 e 50Nm no movimento de torção e flexão lateral gera 1400N á 2500N de compressãosobre a articulação. Temos então que ter murito cuidado com o paciente JFR, quanto a mobilização a sua culuna lombar para não gerar sobrecarga. O osso responde dinamicamente à presença de ou ausência de determinadas forças com mudança no tamanho, no formato e na densidade. Com a forma de um osso já determinado, os elementos do osso se colocam ou se deslocam em direção das forças funcionais que aumentam, e diminuem sua massa de forma á refletir a quantidade de forças funcionais. A magnitude e o stress mecânico sofrido pelo osso indica a sua densidade e a sua direção das linhas de forças e o tipo (esponjoso ou cortical) que é constituído (HALL 2000). Acredita-se que, o quanto antes, os pacientes com lesão explosiva de vértebras lombares precisam ser colocados na posição ortostática para que promova esse direcionamento das forças do tecido ósseo que vai ser depositado no local da fratura. Esse novo tecido vai ser depositado pela ativação dos osteoblastos. A imobilização prolongada desse paciente pode levar a uma diminuição da densidade óssea. Segundo Umphred (2004), em uma lesão medular completa, há ausência total de função sensorial e/ou motora no segmento sacral mais baixo – S4/S5. A lesão completa frequentemente danifica a raiz nervosa no forame. Na lesão incompleta há uma preservação parcial da função sensorial/motora abaixo do nível neurológico no segmento sacral mais baixo. Segundo Stokes (2000), a reabilitação incompleta, enfatiza o tratamento do equilíbrio muscular, da espasticidade, do tônus, da propriocepção e da perda sensorial. Como as lesões incompletas têm ampla extensão de incapacidade o tratamento depende do nível dessa incapacidade, e dos problemas físicos específicos. Segundo Stokes (2000), o tratamento pode incluir:- facilitação do movimento normal;- fortalecimento muscular;- reeducação do desequilíbrio muscular;- inibição da espasticidade. Segundo Umphred (2004), algumas lesões incompletas têm um quadro clinico distinto, com sinais e sintomas específicos. O conhecimento de diversas síndromes pode ser útil à equipe do paciente para elaborar um programa de reabilitação, como por exemplo:- síndrome centromedular;- síndrome da artéria espinal anterior;- síndrome de Brown-Séqüard;- síndrome cordonal posterior;- síndrome da cauda eqüina;- síndrome do cone medular. O desempenho muscular permite o diagnóstico específico do nível e da extensão da lesão. Teste e medidas podem voltar-se à força, poder muscular e resistência da cabeça, do tronco e dos membros. Avalia-se o tônus muscular e a eletromiografia indica a velocidade de condução do nervo. O exame do desempenho muscular inclui cada músculo específico e identifica a substituição de outro músculo. Uma escala de 6 pontos é utilizada para descrever o procedimento para o teste manual do músculo, que seria o teste de força muscular e seus graus. Segundo Umphred (2004), a amplitude de movimento (ADM) adequada é excelente para o ótimo desempenho das habilidades funcionais assim como para prevenção de lesão. Os pacientes com TRM correm o risco de ter contraturas da articulação. Isso acontece devido a uma hipotonicidade, assimetria nos grupos musculares, espasticidade e diminuição da ADM passiva ou ativa. Recomenda-se a atenção em todas as mobilidades da extremidade superior. É importante examinar as extremidades inferiores, levantar as pernas sem dobrá-las, realizar a dorsiflexão do tornozelo e flexão e extensão do quadril. Segundo Umphred (2004), os testes de reflexos profundos do tendão indicam se a lesão é do neurônio motor superior ou uma lesão do neurônio motor inferior. O terapeuta utiliza de teste de integridade sensorial para determinar a extensão e gravidade da lesão medular. A sensibilidade do paciente é descrita pelos dermátomos. Segundo Stokes (2000), é preciso avaliar se o paciente tem capacidade para andar e quais as órteses necessária para que isso aconteça. As técnicas utilizadas para o treinamento da marcha foram analisadas pormenores por Bromley e apresentam uma progressão do treinamento a seguir. O treinamento da marcha é desgastante e exige perseverança. Os critérios são: - força suficiente de membros superiores para sustentar o peso corporal; - ADM total em quadril e joelho, e ausência de contratura em flexão de quadril; - boa forma cardiovascular para suportar a posição ortostática e marcha; - avaliação de deformidades da coluna vertebral, como por exemplo, a escoliose, que podem dificultar o equilíbrio na posição ortostática; - motivação do paciente para terminar o treinamento; - avaliação da espasticidade que pode tornar a marcha insegura. Hidroterapia Segundo Koury (2000), os pacientes com lesão aguda lombar, são aqueles que as respostas fisiológicas da lesão são diretamente proporcional ao trauma físico da lesão. Segundo Koury (2000), durante a imersão há uma redução das forças gravitacionais que aumentam a mobilidade para muitos pacientes com lesão. Esse aumento de mobilidade é devido à diminuição dos espasmos de proteção da musculatura. Segundo Koury (2000), alongamentos, tração e movimentos em amplitude máxima ajudam a diminuir a dor e manter a ADM. Segundo Koury (2000), o tratamento hidroterápico para a lombar se divide em 6 fases: - fase I: quando a dor é limitante da ADM, deve-se realizar tração, corrigir a postura. No teste de tolerância ao movimento de flexão e extensão, observar se há um deslocamento lateral da coluna, observar se há discrepância de tamanho de membros. Se houver, promover tração e alongamentos. - fase II: aquecimento com marcha, testar movimentos básicos de movimentos de membros superiores e inferiores para promover rotação de tronco e dissociação de cinturas. - fase III: promover exercício de estabilização pélvica como watsu e iniciar atividades com exercício de resistência progressiva. - fase IV: trabalhar dissociação de cinturas. - fase V: aumentar a resistência dos exercícios. - fase VI: quando os movimentos e exercícios são indolores, alta. Com o paciente JFR, segundo Bates, Hanson (1998), encontro na fase II, onde tenho como objetivo:- fase de aquecimento;- fase de alongamento;- fase fortalecimento;- fase de relaxamento; Fase de aquecimento visa também o condicionamento cardio-pulmonar do paciente. Ela tem por objetivo: - trabalhar respiração e acomodação, onde o paciente inspira e expira com a boca dentro d´água, 20 vezes. - caminhada para frente, onde o paciente caminha realizando todas as fases da marcha. Com o passar do tempo, através de comando verbal o terapeuta vai implementando ritmo ao exercício. - passada lateral, onde o paciente se desloca lateralmente. - bicicleta, onde o paciente é sustentado pelo flutuador (macarrão), onde o mesmo fica dorsalmente, passando inferiormente a sua região axilar. O paciente realiza movimento como se estivesse andando de bicicleta, o mais horizontalmente possível, pois assim trabalha-se musculatura abdominal. Fase de alongamento: a manobra é de 10 segundos por seguimento e tem por objetivo: - alongamento de quadríceps: paciente em pé, em sustentação unipodal, o membro inferior contralateral é colocado em flexão de joelho e dorsiflexão do pé. No pé é colocado um macarrão que irá tracionar o membro para cima e para trás. - alongamento de iquiostibiais e tríceps sural: o paciente com apoio unipodal, membro contralateral realiza uma flexão de quadril e extensão de joelho. Sem flexionar o membro de apoio, o terapeuta coloca um flutuador na região distal do membro inferior que está em flexão de quadril, onde o mesmo será tracionado para cima e irá alongar isquiostibiais, promovendo uma dorsiflexão que irá alongar o tríceps sural. - alongamento de tibial anterior: na posição para alongar quadríceps, o terapeuta leva o pédo paciente a uma plantiflexão e inversão. - alongamento de iliopsoas: na posição de alongamento de quadríceps, o paciente com as mãos apoiadas na borda da piscina, o terapeuta traciona o membro inferior flexionado mais pra cima e com a outra mão ele impõe uma força no sentido póstero-anterior na crista ilíaca póstero-inferior. - alongamento de paravertebrais: o paciente posicionado posteriormente a borda da piscina, realiza apoio, onde são colocados flutuadores em região posterior e distal de membros inferiores, o qual será tracionado para cima. Pede-se ao paciente para tentar afundar o quadril. - alongamento de abdutores do quadril: paciente posicionado posteriormente a borda da piscina, com apoio de membros superiores, pede-se para o paciente realizar flexão e abdução de quadril. O terapeuta impõe uma força no sentido da abdução. - alongamentos de adutores do quadril: paciente encostado posteriormente a borda da piscina, com sustentação unipodal, no membro contralateral é realizado uma flexão e rotação interna de quadril, flexão de joelho e inversão e plantiflexão do pé. O terapeuta tenta levar o joelho do paciente em direção a sua região abdominal. Na fase de fortalecimento, o objetivo é mobilidade de tronco e dissociação de cinturas, com séries de 12 a 15 repetições. - joelho no peito, paciente com flutuador cervical, tenta levar o joelho contra o peito. - marcha soldado, marcha com grande flexão de quadril e movimentos de MMSS. - marcha com rotação externa de quadril, a marcha é realizada partindo de uma posição neutra, realizando a rotação externa de quadril. - marcha com rotação interna de quadril, a marcha parte de uma rotação externa e trás para uma rotação interna. - marcha com rotação, marcha realizando rotação de quadril para o lado em que o membro inferior está realizando a passada. - abdominal, o paciente com flutuador em região cervical e região podálica, o terapeuta pede ao paciente para ele tentar afundar o quadril. - step, alternar subir e descer degraus com a mão apoiada no corrimão. Fase de relaxamento, onde procura-se relaxar e tentar ganhar mobilidade pélvica. Utiliza-se de técnicas de Watsu. Mobilização de cintura pélvica, onde o terapeuta está na região cefálica do paciente e o sustenta com a mão em suas escápulas. O paciente utiliza de flutuadores em região podálica. O terapeuta movimenta o paciente de um lado para o outro, trabalhando a flexão lateral do tronco. Mobilização de cintura escapular, onde o paciente usa colete cervical e o terapeuta o sustenta pelos MMII. O terapeuta realiza movimentos rítmicos de um lado para o outro. O paciente ganha mobilidade escapular e lateroflexão de tronco. Em duas sessões notou-se um aumento da condição cardiopulmonar, aumentando a condição aeróbica do paciente, diminuindo assim a fadiga. Também notou-se um ganho considerável na mobilidade pélvica em flexão, extensão e rotação de tronco. Na primeira sessão o paciente relatou fadiga ao realizar exercícios de step, realizando somente 5 repetições nesse exercício. Na segunda sessão o paciente conseguiu realizar 10 repetições. Na terceira sessão espero realizar 15 repetições. Nos exercícios de fortalecimento de marcha com rotação o paciente conseguiu realizar sem esforços. Na terceira sessão espero realizar esse exercício com uma prancha posicionada perpendicularmente ao corpo do paciente em região de tórax, aumentando assim a resistência. Com isso procuro aumentar o fortalecimento dos rotadores de tronco. Na realização do trabalho de fortalecimento abdominal, o paciente conseguiu realizar sem esforços. Para aumentar a carga desse exercício colocarei, na terceira sessão, o paciente encostado posteriormente na borda da piscina com apoio em membros superiores na borda, pedir pra ele flexionar o quadril, mantendo os joelhos em extensão, sem desencostar a região lombar da parede da piscina. Segundo Campion (2000), fisioterapeutas com interesse em treinamentos e técnicas manipulativas que também têm consciência das propriedades, das características e das vantagens da água, estão avançando rapidamente no desenvolvimento de novas técnicas. O programa de reabilitação abrange exercícios específicos na reeducação dos movimentos. A flutuabilidade e a resistência ou impedância promovida pela água permite a tentativa de habilidades impossíveis em solo. A habilidade nos padrões aprendidos durante o programa hidroterápico ajuda a aumentar a confiança e a segurança do paciente, além de tornar possível a participação em vários esportes aquáticos adaptados para deficientes. Segundo Campion (2000), os efeitos terapêuticos do exercício na água são: - alivio da dor e espasmo muscular; - manutenção ou aumento da amplitude de movimento das articulações; - fortalecimento dos músculos enfraquecidos e aumento na sua tolerância ao exercício; - reeducação dos músculos paralisados; - encorajamento das atividades funcionais; - manutenção e melhora do equilíbrio, coordenação e postura; - diminuição do efeito da gravidade sobre o movimento. Os músculos que são alongados durante as manobras de alongamento no paciente J.F.R. são: - isquiotibiais; - tríceps sural;- tibial anterior;- quadríceps;- glúteo médio e tensor da fáscia lata;- adutor magno, grácil, adutor longo e adutor curto;- iliopsoas. Segundo Achour Jr (2006), para realizar o alongamento de isquiotibiais, o paciente encontra-se em decúbito dorsal. Realiza-se flexão do quadril, com o joelho estendido. O paciente apresenta um encurtamento dessa musculatura. Para isso, o terapeuta realiza técnicas de FNP (Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva) para ganho de ADM. No fortalecimento de membros inferiores, o terapeuta realiza trabalho de força de resistência, onde essa tem baixa carga e alta repetição, com três series de quinze repetições, introduzindo um plano de exercícios ativos e isométricos. Nos exercícios de fortalecimento do paciente J.F.R. são enfocados os músculos:- quadríceps;- tibial anterior;- gastrocnêmio;- isquiotibiais;- iliopsoas;- glúteo médio;- glúteo máximo. Segundo Andrews, Harrelson, Wilk, (2000), a propriocepção descreve a consciência da postura, do movimento e das mudanças no equilíbrio, assim como conhecimento da posição, do peso e da resistência dos objetos em relação ao corpo. Para o trabalho de propriocepção no paciente J.F.R., utilizo de balancinho proprioceptivo e realizo trabalho de bola em cima da cama elástica. Com essa técnica, realizo também trabalho de descarga de peso em membros inferiores. Nesse trabalho, para sua evolução, realizo exercícios rítmicos com diferentes direções, com olhos abertos ou olhos fechados, para aumento da dificuldade do exercício. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou com esse estudo que há bastante literatura com relação a treinamento em solo de força muscular, propriocepção, descarga de peso, equilíbrio, mobilidade de tronco e alongamento. E também foi observado que há bastante literatura para tratamento de ganho de ADM, mobililização e condicionamento aeróbico em hidroterapia. Mais pouco foi observado em artigos e estudos já realizados a utilização das duas técnicas conjuntas aplicada ao paciente TRM, haja visto, o grande beneficio que as duas tecnicas juntas podem proporcionar ao paciente. Então cabe a nós, futuros proficionais da saúde, realizar mais estudos que aprimorem a utilização dessas técnicas em conjunto, para garantir a nossos pacientes uma menor morbidade, uma maior funcionalidade e gerar uma melhor qualidade de vida a eles. REFERÊNCIAS ANDREWS, James R.; HARRELSON, Gary L; WILK, Kevin E. Reabilitação física das reabilitações desportivas. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. ACHOUR JR, Abdallah. Exercícios de alongamento, Anatomiae Fisiologia. 2.ed. Barueri, SP: Manole, 2006. BATES, Andréa; HANSON, Norm. Exercícios aquáticos terapêuticos. São Paulo: Manole, 1998. p. 251-282. CAMPION, Margaret Reid. Hidroterapia, Princípios e Práticas. Barueri, SP: Manole, 2000. p. 3-4, 223. FRITZ,Sandy; PAHOLSKY, Kathleen; GROSENBACH, James; Terapia pelo Movimento. Barueri, SP: Manole, 2002. HALL, Susan J.; Biomecânica Básica. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 202, 71-77. HOPPENFELD, Stanley; Propedêutica Ortopédica, Coluna e Extremidades. São Paulo: Atheneu, 2003. HOPPENFELD, Stanley; MURTHY, Vasantha L.; Tratamento e Reabilitação de Fraturas. Baueri: Manole, 2001. pág 562 574. KOURY, Joannem; Programa de Fisioterapia aquática. Um Guia Para Reabilitação Ortopédica. Barueri: Manole, 2000. pág 201 211. STOKES, Maria; Neurologia para Fisioterapeutas. São Paulo: Premier, 2000. pág 117 132. UMPHRED, Darcy A.; Reabilitação Neurológica. 4.ed. Barueri: Manole, 2004. pág 507 558.
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