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Cartas Filosoficas e Outros Escritos - Marx e Engels

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Cartas Filosóficas 
e
Outros Escritos
Karl Marx 
Friedrich Engels
EDITORIAL GRIJALBO
■ 1977
Copyright by EDITORIAL GRIJALBO LTDA. 
São Paulo — SP.
Indice
Nota dos Editores ................. ................................. ..................... 7
1. CARTAS FILOSÓFICAS
I. Marx a Paul Annenkov (Bruxelas, 28 de dezembro
de 1846)...................................................................... 13
n . Marx a J. Weydemeyer (Londres, 5 de março de 
1852)........................................................................... 25
III. Marx a Engels (Londres, 25 de setembro de 1857).. 27
IV. Marx a Engels (Londres, 7 de julho de 1866).......... 29
V. Engels a C. Schmidt (Londres, 5 de agosto de 1890) 31
VI. Engels a J. Bloch (Londres, 21 de setembro de 1890). 34
VQ. Engels a C. Schmidt (Londres, 27 de outubro de
1890)___ : ................................................................. 37
VIII. Engels a F. Mehring (Londres, 14 de julho de 1893). . 42
IX. Engels a H. Starkenburg (Londres, 25 de janeiro de 
1894)................................................ .......................... 45
2. MANIFESTO DE 1848
I. Introdução.................................................................... 51
II. Prefácio à edição alemã de 1872 ................................ 63
5
gigantesca: Dante, que foi, ao mesmo tempo, o último poeta da Idade 
Média e o primeiro poeta dos tempos modernos. Hoje, como em 1300, 
ergue-se no horizonte uma nova época. Dará a Itália ao mundo um 
outro Dante, capaz de cantar o nascimento desta nova era, a era prole­
tária?
Londres, 19 de fevereiro de 1893.
Friedrich Engels.
82
\
Manifesto do partido comunista
/ ■ "
Um espectro ronda a Europa — o espectro do comunismo. Todas 
as {totêndas da velha.iiuropa unem-se numa Santa AliãnçiTpira exor- 
cizá-lo: o Papa e o Czar, Mettemich e Guizot, os radicais da França 
e os policiais da Alemanha.
Qual o partido de oposiç£o que nSo foi acusado de comunista por 
seus adversários no podèr? Qual o partido de oposição que também nSo 
lançou contra seus adversários progressistas ou reacionários a infâmia 
estigmatizante do comunismo?
Duas conclusOes decorrem desse fato:
1 . O comunismo já é reconhecido como força .por todas as 
potências da Europa;
2. Já é tempo de os comunistas, exporem abertamente, diante 
de todo o müridS^ s^uas-idéias, seus fins e suas tendêndas, ppondq à 
tenda do espectro do. comunismo um manifesto do próprio^partido.
este fim, comunistas de várias nacionalidades reunixam-se 
em Londres e redigiram o manifesto seguinte, a ser publicado em 
inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.
83
I. BURGUESES .EJEKOLEIÁRJ0S1
A história de todas as sociedades existentes até hoje2 é a história 
das lutas de classes. _
Homèm livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de 
corporação3 e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, 
têm permanecido em constante oposição uns aos outros, envolvidos 
numa guerra ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou 
jempre, ou por uma transformação revolucionária detoda a sociedade, 
ou pêiá~de~struiçgò das duas classes em luta.
Nas épocas históricas mais remotas, encontramos, em quase toda 
parte, uma complexa divisão da sociedade em classes diferentes, uma 
múítipla gradarão de, posiçOes sociais. Na Roma Antiga, temos patrf- 
cios, guerreiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, 
mestres, cõmpãnffSrõsraprendizes, servos; e,~em cada ama destas 
classes, gradações particulares.’ "
A' sociedade burguesa moderna, surgida das ruínas da sociedade 
feudal, não . aboliu os antagonismos de classe. Apenas estabeleceu
1 Por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos 
meios de produçío social, que empregam o trabalho assalariado. Por prole­
tariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, não tendo meios 
de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para 
sobreviver. (Jiota de F. Engels à edição inglesa de 1888) .
2 Isto é, toda a história escrita. A pré-história, a organização social anterior à 
história escrita, era quase desconhecida em 1847. Mais tarde, Haxthausen 
descobriu a propriedade çomum da terra na Rússia; Maurer mostrou ter sido 
essa a base social da qual as tribos teutônicas derivaram historicamente e, 
pouco a pouco, verificou-se quê a comunidade rural era a forma primitiva da 
sociedade, desde a índia até a Irlanda. A organização interna dessasociedade 
comunista primitiva foi desvendada, em sua forma típica, pela descoberta 
decisiva de Morgan, que revelou á verdadeira natureza da gent e a sua. íeiaçáo 
com a tribo. Com a dissolução destas comunidades primitivas, a sociedade 
começou a dividir-se em classes diferentes e finalmente antagônicas. Procurei 
retratar esse processo de dissolução na obra Der Ursprung der Famüie, des 
Privatergenthums urtd des Staats (4 Origem da Família, da Propriedade 
Privada e do Estado), 2a. ed., Stuttgart, 18.66. (JWota de F. Engels à edição 
inglesa de 1888).
3 O mestre de corporaçío é um membro da guilda, o patrão interno, e não um 
chefe da guilda. de F. Engels à edição inglesa de 1888).
84
novas-classes, novas condlcOes-.de opressão. noyas. ,fonnas..de luta ,em 
lugar das velhas.
' W entanto, a nossa época, a época da burguesia, posgui uma 
característic^-distintiva: sim^Mcou~os;.4uitagoni^os classed\
sociedade globaí divide-ie cada vez mais em dois campos, hostis, em 
duas grandes classes diretamente opostas entre si: a burguesia e o 
proletariado. ” * ' ~
Dos servos da Idade Média originaram-se os moradores dos 
burgos, das primeiras cidades. Desta população surgiram os primeiros 
elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circuriavegação da África, abriram 
um novo cãmpõ- de: ãção para a burguesia nascente. Os mercados da 
índia Òrientai e dã China, a colonização da America, o comérao 
coioriM, o aumento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias, 
deram ao comércio, à navegação, à indústria','um impálMlfemãfei$s>nhe- 
ado antes^e. em conseqüência, desenvolveram rapidamente o elemento 
revolucionário da sociedade feudal em decomposição.
A antiga organização feudal da. indústria, na qual a produção 
industrial era monopolizada pelas guildas fechadas, agora não mais 
atendia às crescentes necessidades dos novos mercados. A manufatura 
tomou o seu lugarTOs mestres das guildas foram postos de lado pela 
classe média industrial; a divisãp do trabalhó entre as diferentes guildas 
corporativas desapareceu'eiri face dà divisão do .trabalho dentro, de 
cada oficinál
Enquanto isso, os mercados continuavam sempre a ampliar-se; a 
procura sempre a aumentar. A própria manufatüra tomou-se insufici­
ente. Em conseqüência, o vapor e a maquinaria revolucionaram a 
produção industrial. Qjugar da^ manufatura foj.jacupado. pela._grande 
indústria moderna: a classe média industrial cedeu lugar aos milionários 
indüsíriãis,. aosjtíderes de verdadeiros exércitos industriais, aos bur- 
guesesmodçrn^s.
.........À grande indústria estabeleceu o mercado mundial, para o_quaLa.
descoberta da América, prpparou tejrreno. Este mercado deu um imenso 
desenvolvimento ao comércio, à navegação e à comunicação por terra. 
Este desenvolvimento, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria; 
e, na proporção em que a indústria, ò comércio, a navegação e as 
.estradas de ferro se estendiam, na niesma proporção a burguesia se 
desenvolvia, aumentava seu^capital e punha em plano secundário as 
classes legadas pela Idade Média.
85
Vemos, portanto, como a própria burguesiá modema é o produto 
de um longo processo de deseqvnlvimanto ^ de uma série de revoluções 
jio modo de produção e de troca.
. Cada etapa do desenvolvimento da burguesia foi acompanhada 
de um progresso políticocorrespondente. Classe oprimida pelo despo­
tismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comu­
na4 ; .aqui, república urbana independente (como na Itália e na Ale-
■ i. manha'). ali, terceiro estado, tributário da monarquia (como na França); 
depois, no período manufatureirò, servindo à monarquia semi-feudal 
ou^ absoluta como contrapeso da nobrezaíTtlêlato, como pedralánguíàr 
das grandes~ monarquias em geral, a burguesia, desde o estabelecimento 
da grande indústria e do mercado mundial, conquistou finalmente a 
p soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O 
governo do Estado.piQdgtpp_é_gpenas um comitê para gerir os negócios 
. comuns.de to.da=aabiign»esíãr~
A burguesia representou na História um papel extremamente
.revolucionário.^ . ; : T ~ :: ------------------------ -
Onde quer que tenha assumido o poder, a burguesia pôs fim a 
todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Destruiu impiedosa­
mente os vários laços feudais que ligavam o homem a seus “superiores, 
naturais”, deixando subsistir como única forma de vínculo de homem a 
homem o laço do frio interesse, as duras exigências do “pagamento à 
vista”. Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do. entusiasmo 
cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas 
do cálculo egoísta. Fez da .dignidade pessoal um simples valor de troca 
e, no lugar das numerosas e indestrutíveis liberdades conquistadas, 
estabeleceu uma única e implacável liberdade: a liberdade de comércio.
4 “Comuna” era o nome. que se dava, na França, às cidades nascentes, mesmo 
antes de terem conquistado a autonomia local e os direitos políticos como 
“Terceiro Estado”. De modo geral, considerou-se aqui a Inglaterra como o 
país típ/co do desenvolvimento econômico' da burguesia, e a França como o 
país típico do desenvolvimento político desta classe, (ffota de F. Engeís à 
edição inglesa de 1888).
Este era o nome dado pelos habitantes das cidades da Itália e da França às 
<■ suas comunidades urbanas, após terem comprado ou arrancado dos senhores 
feudais os seus primeiros direitos a uma administração autônoma, (ffota de 
F. Engelsà edição alemã de 1890).
86
Em uma-palavra, substituiu a exploração encoberta pelas ilusões reli- 
giosas e políticas pela exploração aberta, cínica; direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as ocupações até 
então consideradas honradas e encaradas com reverencioso respeito. 
Converteu o médiccu-Q, jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência 
ttn RP.iK trahfllhadnres a<ggTarjados.
A burguesia rasgou o véu sentimental que envolvia a família, 
reduzindo as relações familiares a metas relações monetárias.
A burguesia revelou como a brutal mamfestaçãTde força na 
! Idade Média; tão admirada pela reação, encontra seu complemento 
natural na indolência mais completa. Foi a primeira a mostrar o que 
pode realizar a atividade humana: criou maravilha* maiores do que as 
pirâmides do Egito, os aquedutos romanos e as catedrais góticas; 
conduziu expedições que empanaram todas as precedentes migrações e 
ascruzadas.
A burguesia só pode existir com a condido de revolucionar 
incessantemente os instrumentos de produção e. por conseguinte, as 
relações de produção, quer dizer, o conjunto das relações-socigis. A 
conservação inalterada do antigo mõ3õ de produção constituía, pelo 
contrário, a primeira condição de existência de todas as classes indus­
triais anteriores. A revolução contínua da produção, o abalo constante 
de todas as condições sociais, a eterna agitação e incerteza distinguem 
a época burguesa de todas as precedentes. Suprimem-se todas as 
relações fixas, cristalizadas, com seu cortejo de tradicionais e vene­
radas concepções e idéias: todas as novas relações tomam-se antiquadas, 
antes mesmo de se^ onsolidarem. tudo o que era sólido e estável evapo- 
ra-sejno ar* tudo o que . era sagrado^pjpfaoadq, e por .fim. os. homens 
são obrigados a encarar com serenidade suas verdadeiras condições 
de vida e suas relações com os demais homens. <
A necessidade de um mercado çons^nteniente^em--expaQS2P 
impele a burguesia a: invadir todo o globo. Necessita estabelecer-se em 
toda parte, explorar em_tQdaZ^ part.e,..criar vincíilps e'm toda parte.
Por meio da exploração do mercado .mundial, a burguesia deu 
um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos ospãísâs. 
Para desespero dos reacionários, retirou da indústria sua base nacional. 
As velhas indústrias nacionais foram destruídas e estão sendo destruídas 
diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se
87
toma uma questão de vida ou morte para todas as nações civilizadas, 
por indústrias que não mais empregam matérjas-primas autóctones, 
mas matérias-primas vindas das zonas mais remotas; indústrias cujos 
produtos são consumidos não- somente no próprio país, mas em todas as 
partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pela 
produção nacional, encontramos novas necessidades, que requerem para 
sua satisfação ps produtos das regiões mais longínquas e dos climas 
müs diyery s^. Em lugar do antigo isolamento local e da auto:suficiência 
‘das nações, desenvolvem-se, era todas as direções, um. intercâmbio e 
uma interdependência universais. E isso tanto na produção material 
quanto na produção intelectual. As criações intelectuais de nãçoes 
' mdi\tiduaisfòrriam”se "prõpneSacie comum de todas. A estreiteza e o 
exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; e das 
numerosas literaturas nacionais e locais surge uma literatura uni-
■ versai.
Com o rápido aperfeiçoamento de todos os instrumentos de • 
produção, com as imensas facilidades dos meios de comunicação, a 
burguesia arrasta-todas ás nações. _mesmo as mais bárbaras, para a dvili- 
_zação. Os baixos preços de suas mercadorias formam a artilharia pesada 
com què destrói todas as muralHSllãTCliiHãT-íonTqüêlorça. à capitu- 
Gçãõ'orbâfb"áiórmairòb'5tin^mênte hostis aos estrangeiros. Obriga 
todas as nações, sob pena de extinção, a adotarem o modo burguês 
de produção: força-as a ingressarem-aa-que-ela- charca de riviliTay.Sn 
isto é. a se tomarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua 
imagem e semelhança.
A burguesia submeteu-o.campo à cidade. Criou cidades enormes; 
aumentou tremendamente a população urbana em relação à rural, 
arrancando assim contingentes consideráveis da população do embrute- 
' cimento da vida rural. Assim como subordinou o campo à cidade, 
subordinou os países bárbaros e semi-bárbaros aos civilizados, as nações 
de camponeses às nações dè burgueses, o Oriente ao. Ocidente.
A burguesia suprime cada vez mai7a dispersão”da população, dos 
meios de produção e da propriedade. Aglomerou a população,^entja- 
Uzoilos^meios de.
mãos. A conseqüência necessária disso foi a__çentialização política ^
Províncms“inaipêridentes, ligadas apenas por débêfslaços federativos, 
com interesses, leis, governòs e tarifas diferentes, foram reunidas em 
uma só nação, com um só governo, um só código de leis, um só inte­
resse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
88
A burguesia, durante seu domínio de classe, de apenas cem anos, 
criou forças produtivas mais poderosas e colossais do que todas as 
gerações passadas em conjunto. A subjugação das forcas da natureza 
'pelo homem; a maquinaria, a aplicação da química na indústria e na 
agricultura, a navegação a vapor, as vias férreas, o telégrafo elétrico, a 
expiõrãçàõ^dê^ntiiientes inteiros para fins de cultivo, a canalização de 
rios, populações inteiras brotadais da terra como que,por encanto — que 
século anterior poderia prever que semelhantes forças, produtivas esti­
vessem adormecidas no seio do trabalho social? ^j/ í
Vemos então: os meios de produção e de troca sobre cuja base ser,».« 
-ergue a hurgaesiaJ&ram gerados na sociedadeJeudal. Num certoestágio 
do desenvolvimento desses meios de produção e de troca, as condicões - , . 
sob as quais a sociedade feudal produzia e trocava, a organização social 
da agricultura e da indústria manufatureira, em suma, as relações V sí 
feudais de propriedade, deixaram de corresponder às forças produtivas*" ^
em pleno desenvolvimento; Entravavam a produção, em vez’de impul- v i­
sioná-la. Transformaram-se em outros tantos entraves que precisavam 
ser despedaçados; foram despedaçados.
Em seu lugar implantou-se a livre concorrência, com uma consti- 
tuição~sbcial e ^jíggQaópria70C^á^fIpreu»cia^conõmiçâ3rp«elâi©a' 
da classe burguesa. '
Assistimos hoje a um movimento semelhante. As relações bur- 
guesas de produção..e .de troca, o regime burguês de propriedade, a 
sociedade burguesa moderna, surgir possantes, meios de
>pr^ução°e^íe^^JT^ rQeJha^ ao feitièeiro^quç. já não pode con- ( 
trolar os poderesJnfejniais que pos em mavimenta jaan..suas palavras 
mágicas. Há mais de uma década a história da indústria e do comércio 
não é senão, a história 'da revolta dasjorças produtivas modernas contia 
as modernas relações de produção, contra aTreEções de propriedade 
qüe^cõndicionam a exisfenciá da burguesia é de seu domínio. Basta 
mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, 
ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Essas crises 
destroem regularmente uma grande parte não só dos produtos fabri­
cados, como também das forças produtivas anteriormente criadas. 
Nessas crises, irrompe uma epidemia que, em épocas precedentes, teria 
parecido um absurdo — a epidemia da superprodução. Repentinamente, 
a sociedade vê-se de volta a um estado momentâneo de barbarismo; é 
como se a fome ou .uma guerra universal de devastação houvessem supri­
mido todos os meios de subsistência; o comércio e a indústria parecem
89
aniquilados. E por que? Porque a sociedade possui, demasiada civili­
zação, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, dema­
siado comércio. As forças produtivas disponíveis já não mais favorecem 
o desenvolvimento das relações burguesas de propriedade; ao contrário,
tomaram-se poderosas demais para essas relações, que passam á entravá-
V. ;*• V/las; e quando superam esses entraves, trazem a desordem para toda a f' / ' sociedade, ameaçando a existência da propriedade burguesa. A socie- 
, ^ dade burguesa toma-se muito estreita para conter, as riquezas criaHir 
por ela mesma. E cómo a burguesia vence essas crises? Djsumjado, 
pskJçstruiçSo viplenta^de..grandejquantidade de íorças produtivas;_do 
putro, gela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa 
dos_ antigos. Portanto, em conseqüência, pela preparação de cnses 
Sr jniais extensas ê mais destrutivas, e pela diminuição dos meiõs de evitá- 
las..
As armas com que a burguesia abateu o feudalismo voltam-se 
agora contra ela mesma. .
A burguesia, porém, não foijou apenas as armas que lhe trarão a :
, morte; produziu também os homens que manejarão essas armas — os j 
vf ' operários modernos, os proletários.
. Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital, se 
$ / desenvolveT desenvolve-se também o proletariado, a classe dos modernos 
/' / o perários, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encon- 
4 ? tram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operá- 
•f ' iios, que são obrigados a vender-se diariamente, são uma mercadoria, 
p v u m artigo de comércio como qualquer outro, e estão, portanto, sujeitos 
pfF a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do 
mercado.
.Devido ao crescente emprego da máquina e à divisão do trabalho, 
ò trabalho dos proletápos .peideu. seu caráter, individual e, por conse­
guinte, todo o seu atrativo. Ò trabalhador tomou-se um simples apén- 
dice da~màquina, e so"sê requer dele a operação mais simples, mais 
monótona e mais fácil de aprender Desse modo, o custo de produção ^
de um operário se reduz, quase completamente, aos meios de sujbsis»-^ 
tência de que ele necessita pára viver e para perpetuar a espécie. Ora, 
o preyo de umà mercadoria, e, portando do trabalho5, equivale-ao
' W !,
5 Mais tarde, Marx demonstrou que o operário nío vendé seu trabalho, poréin 
sua força de trabalho. Ver, a respeito, a introdução de F. Engels à obra de
90
seu custo de produção. Logo, à medida que aumenta o caráter enfa­
donho do trabalho, o salário diminui. Mais ainda, à medida que se jç 
desenvolve o maquinismo e a divisão do trabalho, cresce a quanti-r' !.. * 
dade de trabalho, seja pelo prolongamento das horas de. trabalho,/-- 
seja pelo incremento do trabalho exigido em um certo.tempo, seja pela' ’> ; 
aceleração da velocidade das máquinas, etc.
A indústria moderna transformou a pequena oficina do patriarcal 
mestre de corporação na grande fábrica do capitalista industrial. Massas 
de operários, aglomeradas nas fábricas, são organizadas'como soldados.
Como simples soldados da indústria, os operários estão subordinados a 
uma perfeita hierarquia de oficiais e sub-ofidais. Não-são..somente 
escravos da classe burguesa e do Estado burguês- mas, também, dianã- 
mente c a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e. sSbre-’ 
ïudo, do próprio burguês individual dono dafábrica. E esse despo­
tismo é tanto mais mesquinho, mais odioso e mais exasperador'quanto 
maior é a franqueza com que proclame ter no lucro seu objetivo exclu­
sivo. .
Quanto menos. habilidade e forca exige .o trabalho manual,.quer 
dizer, ^quanto'mais a indústria moderna .desenvolve-se, tanto .mais o 
trãKalho dos homens .é . suplantado,, .pejo d^sjulhefes-, As diferenças 
de idade e de sexo não têm mais valor social para a classe operária.
Todos são instrumentos de trabalho, cujq'preço varia -segundo a idade 
e o sexo.
Depois de sofrer a exploração do fabricante.e de receber o seu 
salário em dinheiro, o trabalhador é atacado pelos outros membros da 
burguesia, o proprietário, o varqistá, o usurário, etc.
As camadas inferiores da classe média — psjpeqúenqs mdustriais, 
pequenos ISmerdantes e pessoas que possuem renias, artesãos e cam- 
p^nê^ ^^^^em^oúco^oilc^no próíetariadp7 uns porque Viram seu 
diinínuto capital, qïï^l^'S^Tfmïté^êmprego dos processos da grande 
indústria, sucumbir na concorrência com os grandes capitalistas; outros 
porque sua habilidade profissional é desvalorizada pelos novos métodos 
de produção. ^ ^ ^ r o l e teri^ 4 j ^ t o d o j ^ ^ |^ d ^ § e § ;ja 
população.
Marx, Trabalho Assalariado e Capital. (Nota do Instituto de Marxlsmo-Leni- 
.nismç). Ver, também, entre outras coisas, o texto que Marx escreveu em 
1865, Salário, preço e lucro. (Nota do Tradutor)
91
0 proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimentg. 
Logo que nasce, começa.sua.Áut». GOiüxa^aJmrguesia^No princípio a 
luta é assumida por trabalhadores isolados, depois pelôs~õpêíãnõs~de 
uma mesnía rabrica, a seguir pelos opèránõs~3é um mesmõ ramo dal^f 
íhdüstria; Tiüiiflá^cSaa localidade, contra o burguês qúe os explora j 
pessoalmente. Atacam não as condições burguesas de produção, mas 
_ os próprios insfruméritós de produção; destròein as. mercadoras estran- 
geiras que lhes fazem concorrência, quebram às máquinas, queimam as 
fábricas e procuram reconquistar pela fórçà a'dèsaparedda posiçãõjió 
ârtesSoda IdadeMédiar
Nessa fase, os operários constituem ainda uma massa incoerente 
disseminada por todo o país e dispersa pela concorrência mútua. Sê,
• por vezes, unem-se em massas compactas, isso não é ainda a conse­
qüência de sua própria união ativa, mas dTumgcTcIa'burguesia, classe 
esta que, para alranftir sem próprios objetivos políticos, é obrigada s 
por em movimento todo o proletariado, o que ainda pode fazer proviso­
riamente. Nessa fase, portanto, os proletários não combatem os seus 
inimigos, mas os inimigos de seus inimigos, isto é, os restos da monar­
quiaabsoluta, òs~proprietários territoriais, os burgueses não-industriais, 
a pequena-burguesia. Assim, todo o movimento histórico está concen­
trado nas mãos da burguesia; toda vitória obtida néssas condiçOes é 
uma vitória da burguesia.
J Mas, com o desenvolvimento da indústria, o proletariado não
apenas cresce em número: coricentra-se em massas cada vez maiores. 
súa força^aumenta e ele toma consciência disso. Os vários interesses e 
condiçOes de existência dos proletários se igualam cada vez mais, à 
medida que a máquina aniquila todas as distinçOes de trabalho e reduz, 
quase por toda parte, os salários a um mesmo nível baixo. A crescente 
concorrência entre os burgueses, e as crises comerciais que disso re­
sultant tomam os salários ainda mais instáveis; o aperfeiçoamento . 
constante e cada vez mais rápido das máquinas toma a condição de 
vida do operário cada véz mais precária; os choques individuais entre o 
operário e o burguês assumem cada vez mais o caráter de choques entre ■ 
duas classes.' A partir daíT_os-trabalhadQres comecam ^formar-uniOesc~' _ 
(Trade Unions) .contra os burgueses; atuam em conjunto na flefesa-dos . 
sajáriP&fitMdaa associações permanentes parji se pispjM ySm ^ãn i^ès.’...- 
ctoque^ventuais. Aqui e ali a íuta se transforma em motim.
Õs trabalhadores triunfam ocasionalmente; é um triunfo efêmero.
O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas. a
O ' .
92
p\
união cada vez mais ámpla dos trabalhadores. Essa união é facilitada 
pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indús­
tria, que permitem o_c'ontatQ. entre operários de localidades diferentes.
Ora, basta esse contato para centralizar as numerosas lutas locais, todas 
do mesmo caráter, <91 uma luta nacional, em umajuta-ée-classes. Mas 
toda luta de classes é uma luiajtfllíiiça. E a umão que os habitantes das 
cidades da Idade Média levavam séculos para alcançar, com seus ca­
minhos vicinais, os modernos proletários realizam em poucos anos, 
graças às vias férreas.
EstTorganização dos proletários em classe e; portanto, em partido 
político, é incessantemente abalada pekconcorréncia que fazem entre 
si os próprios trabalhadores. Más renasce sempre, e cada vez mais forte, 
mais firme, mais poderosa. Aproveita-se das divisões internas da 
burguesia para forçá-la ao reconhecimento legal de certos interesses 
particulares da classe operária. Assim foi obtida, por exemplo, á lei da 
jornada de dez horas de trabalho, na Inglaterra.
Em geral, os choques entre as classes da velha sociedade favo- 
> recem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A bur­
guesia vive em guerra perpétua: primeiro, gontra ^ aristocracia; depois, 
contra asjraçõè^ da~pr6pria.. burguesia rajõsJnleresses,. entraram em 
conflito com os progressos da fodústiia;~e sempre contra a burguesia dos \ r 
f ' ■ países.estrangeiros. Em todas essas íutas.ye-se obrigatlà'aàpelãr paraõ 
proletariado, para reclamar seu auxílio e aurasÜ-ío assim para a arena 
jsòlítfca. A própria burguesia, portanto, fornece ao proletariado os 
eièíheíitbs de sua educação política, isto é, fornece as armas para o 
i1' proletaHadõ lütaí"wntra"ã burguesia mesma.
Ademais, como já vimos, frações inteiras dá classe dominante, em 
conseqüência do avanço da indústria, são lançadas no proletariado, 
ou pelo menos ameaçadas em suas condições de existência. Também 
elas fomecèm ao proletariado numerosos elementos de educação.
;> Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da 
•)"hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante e. de fato. 
de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo que 
uma pequena parte da classe dominante se desliga destaTluntando-se à. '^ ; 
classe revolucionária, à classe que tem o futuro_em.syas.mfos. Portanto,' 
assim como outrora uma parte da nobreza juntou-se à burguesia, hoie
• uma~parte~da burguesia passa-se para o proletariado, principalmente o 
v setor dos ideólogos burgueses .que. chegaram.a. compreender teorica- 
mente o movimento histórico em seu conjunto.
93
De todas as classes que hoje se defrontam com a burguesia, 
apenas o proletariado é umá classe verdadeiramente revolucionária. As. 
outras classes decaem por fim desapatecem-com. o desenvolvimento 
da grande indústria; .0.. prolgtaria.jp., .pelo contrário, é seu produto 
mais autêntico.
As classes médias — os pequenos industriais, os pequenos comer­
ciantes, os artesãos, os camponeses — lutam contra a burguesia para 
garantir sua existência como classes médias. jNãq sãci, portanto, revolu-
i cionárias, .inas conMrvadoras; riiais ainda, sSo reacionárias, pois,pro-, 
curam fazer .girar para trás a roda da História. Se por acaso tomam-se 
revolucionárias é em çoi^qüênciçi.de sua iminente_ti^ferência pai ^o 
proletariado; não defendem, pois, seus interesses atuais, mas seus 
interesses fiitiiros, abandonando seu próprio ponto de vista, pelo i do 
proletariado.
Ò iumpen-proletaríodó* y esse produto passivo e putrefato das 
camadas mais baixas da velha sociedadeTpode, às vezes, se7ãriãstãdo ácT" 
movimento por uma revolução proletária; no entanto, suas condições dé 
vida o predispõe mais a vender-se como instrumento dç tramasjreacjo-. 
nárias.
Nas condições de existência do proletariado já estão destruídas as 
condições de existência da velha sociedade. O., proletário nãojemjjro- 
priedade; suas rekç5.çs_com a-mulher e os filhos nada têm de comum 
com as relações familiares burguesas; 0 trabalho industrial moderno, a 
moderna sujeição ao capital, tanto na Inglaterra como na França, 
tanto na América como na Alemanha, despojaram-no de todos os traços 
de caráter nacional. As leis, a moral, a religião são para._ele meros 
preconceitos burgueses, atrás dos quais se ocultam outros tantos inte­
resses burgueses.
6 Na edição inglesa de 1888, ao invés de lumpen-proletariado aparecem os 
termos “classe perigosa” (“dangerous class”) e “escória social” (“social 
scum”): Seja qual for o termo empregâdo, Marx e Engels referem-se. aqui à 
camada social composta de trabalhadores' ocasionais, desempregados e indi­
víduos. incapacitados de trabalhar, além dos vagabundos, criminosos, pros­
titutas, etc. Mais tarde, em 0 Capital. Crítica da Economia Política (RJ, 
Civilização Brasileira, 1971, Livro I, volume II, capítulo XXIII), Marx, ao es­
tudar a produção progressiva de um exército industrial de reserva pela acumu­
lação capitalista, iria referir-se a esta camada como sendo “ 0 mais profundo 
sedimento da superpopulação relativa (que) vegeta nó inferno da indigência, 
do pauperismo”. (JVota do Tradutor)
Todas as classes que no passado conquistaram o poder procu- aQ' 
raram consolidar sua posição já adquirida subordinando toda a socie-'\r 
dade às suas condições de apropriação. Os proletários nãò podem apo- 
derar-se das forças produtivas da sociedade sem abolir o modo de ápro- ç 
priação que era próprio a estas e, com isso, todos os modos de apro- ç ) J 
priaçãò existentes até hoje. Os proletários nada têm de seu a.salya- 
guardar; sua missão é destruirío3ãsjs garantias e segmançaFda~prÓprie- 
dãde privada até aquiexistentes.
Todos os movimentos históricos precedentes foram movimentos 
minoritários, ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o 
movimento conscient? e independente da imensajjiaioria em proveito \j~c' 
da imensa maioria. O proletariado, a camada inferior danossa atual" 
sociedade, não pode 'erguéFse, pòr-se de pé,'sem fazer saltar todos os 
estratos superpostos que constituem a sociedade oficial. __
A luta do proletariado contra a burguesia, embora não seja na 
essência uma luta nacional, reveste-se cnntnrio -dessa-jbima-nn.fjiri- 
. gsims-íempns^Evidentemente, o proletariado de cada país deve, antes • ). 
de tudo, ajustar as contas com sua própria buigaem ^rp , 'f\A-&JKr
Esboçando em linhas gerais as fasesdo- t^esenvolvimento prole­
tário,Rescrevemos a história dTgueria'dvil^ma^ ou menos oculta, que 
fermenta na sociedade, atual, até a hora^em.que-essa guerra exolode 
numa revoluçãç» aberta e. CLprQktariada^sfabelece-suaRomiiiação pela 
derrubada violenta da hmyuesía.
Àté agora, todas as sociedades anteriores se basearam, como 
vimos, no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas Mas, 
paira oprimir uma classe é preciso que'lhe Sejam asseguradas condicões 
tais que lhe permitam, pelo menos, viver na sêrviBão. O servo, durante a 
servidão, conseguia tomar-se "membro da comuna, assim como ò 
pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal, conseguia elevar*se 
à categoria de burguês. O operário moderno, ao Contrário, longe de se 
elevar com o progresso Id^indiistida, desce cada vez mais;ãbdxó~das 
condições de existência de sua própria classe. Ele cai no pauperismo. 
que cresce áinda mais rapidamente do que à população e a riqueza. 
Toma-se, então, evidente que a Burguesia é incapaz de continuar por 
muito tempo sendo a classe dominante e de impor à sociedade, como lei 
suprema, as condições de existência de sua classe. É incapaz de exercer 
seu domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo 
em sua escravidão, porqueé obrigada a deixá-ló cair num estado tal que 
deve nutri-lo em lugar de se fazer nutrir por ele. A sociedade não pode
95
mais existir sob o domínio da burguesia, o que quer dizer que a exis­
tência da burguesia é, doravante, incompatível com a da sociedade. 
A_condiç3o essencial da existência e do domínio da classebur- 
é a concentração da Tiqüéza nãi mãõTdê particuErés, a formação
1 e o crescimento do capital; a condição de existência d6~cãjp'itál"é o 
"IgbalK^aSalgriado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência 
dos trabãffiaSores- entre si. O progresso da indústria, cujo agente invo­
luntário e sem resistência é a própria burguesia, provoca a substituição 
do isolamento dos operários, resultante de sua competição, por sua 
união revolucionária mediante a associação. Assim, o desenvolvimento 
da grande indústria abala a própria base sobre a qual a burguesia 
assentou o seu regime de produção e de apropriação. A burguesia 
produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória_do 
proletariado são igualmente inevitáveis.
H. PROLETÁRIOS E COMUNISTAS '
Qual é a posição dos comunistas diante dos proletários em geral?
Os comunistas não formam, um partido à parte, oposto aos outros 
partidos operários.
NSo têm interesses que os separem do proletariado em geral.
Não formulam quaisquer princípios particulares a fim de modelar
o movimento proletário.
Os únicos pontos que distinguem os comunistas dos outros 
partidos operários são os seguintes:!) NãTfòtãs" nacionais ~Üós prõl<£ 
tários dos diversos países, destacam e fazem.prevalecermos interesses 
comuns de todo o proletariado. jndependentemente~~da nacionalidade:
2) Nas diferentes fases de desenvolvimento por que passa a luta entre 
proletariado e burguesia, representam ^. sempre e em toda parte,_os 
inleresses-do movimênB:^ :séuxÕSunto.
~'PrãtiC2meflte7 ' os comunistas constituem, pois, a fração mais , 
resoluta dos partidos operários de cada: país, a fração que impulsiona . 
as demais; teoricamente, têm sobre à grande massa do proletariado a 
vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos 
fins gerais do movimento proletário. . "5
O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os-J 
demais partidos proletários: constituição do proletariado em classç^ 
derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político ^elo 
proletariado. ' . ........
As proposições teóricas dos comunistas nSo se baseiam, de forma 
alguma, em idéias ou princípios inventados ou descobertos por este 
ou aquele pretenso reformador do mundo.
São apenas a expressão gerai das condições reais de uma luta de 
classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve diante 
de nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que têm 
existido até hoje não constitui a característica distintiva do comunismo.
Todas as relações de propriedade têm passado por modificações 
constantes, devido às contínuas transformações das condições históricas.
A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal 
,(. em benefício da propriedade burguesa.
A característica particular do comunismo não é a abolição da 
: ' propriedade em geral, mas a abolição daLpjapjriedade burguesa. Ora, a 
propriedade privada moderna, a propriedade burguesa, é a última e 
mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriaição de 
produtos baseado nos antagonismos de classes, na exploração da 
maioria pela minoria.
Nesse sentido, a teoria dos comunistas pode ser resumida nesta
l única frase: abolição da propriedade privada.
Censuram-nos, a nós comunistas, por desejarmos abolir o direito à 
propriedade pessoalmente adquirida, fruto,do trabalho do indivíduo, 
propriedade que é considerada a base de toda liberdade, de toda ativi­
dade e de toda independência pessoais.
A propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Pretende- 
se falar da propriedade- "^ pequeno burguês, do pequeno camponês, 
forma de propriedade que antecedeu a propriedade burguesa? Não 
precisamos abolí-la, porque o desenvolvimento da indústria já a aboliu 
e continua a abolí-la diariamente.
. Ou pretende-se falar da moderna propriedade privada, da proprie­
dade burguesa?
Mas o trabalho do proletário, o trabalho assalariado, cria proprie- 
dade para o trabalhador? De modo algum. Cria capital, ou seja, aquele
1 Jipo de propriedade que explora ò trabalho assalariado e que só pode 
aumentar sob a condição de jnoduzir novo trabalho assalariado, a fim 
de explorá-lo novamente. A propriedade, em sua forma atual, baseia-se 
no antagonismo entre o capital e ó trabalho assalariado. Examinemos os 
ddíTfêrmõTdésse antagonismo.
Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição-pessoal, 
mas também uma posição sócial na produção. O capital é um produto
97
coletivo; só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados 
; de muitos membros da sociedade,' e mesmo, em ultima instántia,~pilõs 
: esforços combinadcTs~dé~fõgõs os membros da sociedade.
 ^ ' CTcãpital, portanto, não é uma forca pessoal; é uma força social.
Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum,
pertencente a todos os membros da sociedade, não é a propriedade 
pessoal que se transforma em propriedade social. Muda-se apenas o 
caráter social da propriedade. Esta perde o seu caráter de classe.
• < Passemos ao trabalho assalariado.
[D | ' 0 preço médio do trabalho assalariado é o salárió mínimo, ou
seja» a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário 
vjva_como operário. Portanto" o que o operário obtém com o seu 
trabalho é apenas suficiente para conservar e reproduzir sua vida. De 
modo algum pretendemos abolir essa apropriação pessoal dos produtos 
do trabalho, indispensável à manutenção e à reprodução da vida 
humana, pois essa apropriação não deixa nenhum lucro líquido que 
confira poder sobre o trabalho alheio. O que queremos suprimir é o 
caráter miserável desta apropriação que faz com que o operário viva 
unicamente para aumentar o capital e só viva na medida em que o 
. exiiam os interesses^^áasse dominante.
Na sociedade" burguesa* o trabalho vivo é sempre um meio de 
aumentar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho 
acumulado é sempre um meio de ampliar, de enriquecer, de promover 
a existência do trabalhador.
Por conseguinte, na sociedade burguesa o passado domina.õ 
presente; na sociedade comunista, o presente domina o passado; Na 
sociedade bmffuesa, n.cflpit»l~<Hndependente-.e peRsnal. anqiiantn qiie 
o indivíduo que trabalha é dependente e não t em personalidade. 
r E o burguês equipara a Volição de‘semelhante estado de coisas 
à abolição da individualidade e da liberdade! E com razão. Porque 
se trata efetivamente da abolição da individualidade. burguesa, da 
independência burguesa e da liberdade burguesa.
Pór liberdade, nas atuais condições burguesas de. produção, 
compreende-se a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e de 
vender.
Mas, se o tráfico desaparece, a liberdade dei comprar e de vender 
desaparece também. Essa fraseologia a respeito da liberdade .de co­
mércio, assim como todo o palavreado de nossa burguesia sobre a 
liberdade em geral, só têm sentido quando contrastados com o
' y
98
comércio tolhido e com os oprimidos comerciantes burgueses da 
Idade Média; não têm sentido algum quando opostos à abolição cómu- . 
nista do tráfico, das . relações burguesas de produção e da própria 
burguesia. ' . . .
Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. 
Mas, em vossa sociedade, a propriedade privada já está abolida para^ —
nove décimos da população; se ela existe para alguns poucos é precisa­
mente porqüe nffo existe para esses nóve décimos. Acusai-nos, portanto. 
de’ querer destruir uma forma de propriedade cuja condição necessária 
de existência é a privação de toda e qualquer propriedade para a imensa 
'maioria da sociedadéT • " . . ~
Em suma, acusai-nos de pretender abolir vossa propriedade. De 
fato, é exatamente isso o: que pretendemos.
Desde o momento em que o trabalho não pode mais ser conver­
tido em capital, em dinheiro, em renda da terra, numa palavra, num 
poder social capaz de ser monopolizado, isto é, desde o momento em 
que a propriedade individual não pode mais ser transformada em 
propriedade burguesa, em capital, dizeis que a individualidade está 
suprimida.
Deveis, pois, confessar que por indivíduo entendeis unicamente 
o burguês -^o-proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve 
ser suprimido. .
/?• O comunismo não priva ninguém do poder de apropriar-se dos 
Á produtos da sociedádè; o que faz é suprimir o poder de subjugar o 
/• trabalho alheio por meio dessa, apropriação.
Alega-se ainda que; com a abolição da propriedade privada, toda 
a atividade cessaria e uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo.
Se isso fosse verdade, a sociedade burguesa teria, há muito, su­
cumbido à ociosidade, pois nesta sociedade aqueles que trabalham nada 
lucram e os que lucram não trabalham. Toda esta objeção se reduz a 
essa tautologia: nSo poderá haver mais trabalho assalariado quando não 
mais houver capital..
As acusações feitas contra o modo comunista de produção e de 
apropriação dos produtos materiais têm sido feitas igualmente, contra
o modo comunista de produção e apropriação dos produtos intelec­
tuais. Assim como, para o burguês, o desapàrecimento’ da propriedade 
de classe equivale ao desaparecimento de toda a pròdução, o desapareci­
mento da cultura de classe é, para ele, idêntica ao desaparecimento de 
toda a cultura.
99
A cultora, cuja perda o burguês tanto lamenta, é, para a imensa 
maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em 
máquinas.
Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da 
9 propriedade burguesa o padrão de vossas noções burguesas de liber- 
. /^dade, cultura, direito, etc. Vossas próprias idéias são apenas uma 
decorrência das relações burguesas de produção e de propriedade^” 
assim como vosso direito é apenas a vontade de vossa_dasse erigida 
n em lei, vontade cuio conteúdo é determinado pelas condições mate­
riais de existência de vossa classe.
A falsa concepção interesseira que vos leva a transformar em 
Jeis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso 
atual modo de produção e de propriedade — relações históricas que 
surgem e desaparecem no cursodo desenvolvimento da produção - a 
cõmpáítilhi5''com todas as classes dominantes que vos precederam. O 
que adinitis claramente no caso da propriedade antiga, o que admitis 
claramente no caso da propriedade feudal, não podeis, é claro, admitir 
no caso de vossa forma burguesa de propriedade.
Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados .diante 
dessa proposta infame dos comunistas.
Sobre que fundamento repousa a família atual, a família bur­
guesa? Sobre o capital, sobre o ganho individual. Èm sua plenitude, a 
família só. existe para a burguesia. Mas este estado de coisas encontra 
seu complemento na supressão forçada da família entre os proletários 
e na prostituição pública. •'
A família burguesa desvanecer-se-á naturalmente com o desvanecer 
de seu complemento, e tanto este como aquela desaparecerão com o 
desaparecimento do capital.
Acusai-nos de querer acabar com a exploração das crianças por 
seus próprios pais? Confessamos este crime.
Mas, dizeis, destruímos a mais sublime das relações ao substituir 
a educação doméstica pela educação social.
( t. E vossa educação? Não é ela também social e determinada pelas 
condições sociais sob as quais educais vossos filhos, pela intervenção 
direta ou indireta da sociedade, por meio de escolas, etc.? Os comu­
nistas não inventaram a intervenção da sociedade na educação; pro­
curam apenas transformar o caráter dessa intervenção, arrancando-a da 
influência da classe dominante. .
As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os 
vínculos sublimes entre a criança e os pais, tornam-se cada vez mais 
repugnantes à medida em que a ação da grande indústria destrói todos 
os laços familiares dos proletários e transforma suas crianças em meros 
artigos de comércio, em meros instrumentos de trabalho.
“Mas vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mu- 
. ,jlheres’\ grita toda a burguesia em coro.
T 0 burguês encara sua mulher como um simples instrumento de 
produção. Ouve dizer que os instrumentos de produção devem ser
_^explorados em comum e, naturalmente, chega à conclusão de que o
regime coletivo será também extensivo às mulheres.
Não suspeita que o verdadeiro obietivo é arrancar a mulher de 
sua posiçãQ-dfi mero instrumento (fc produção.
De resto, nada mais ridículo do que a virtuosa indignação de 
nossos burgueses a respeito da comunidade de mulheres que, julgam, 
seria fundada oficialmente pelos comunistas. Os comunistas não preci­
sam introduzir a comunidade de mulheres; ela existe praticamente 
desde tempos imemoriais.
Nossos burgueses, não contentes em ter à sua disposição as 
mulheres e as filhas dos proletários, sem falar das prostitutas, têm o 
maior prazer em seduzir as esposas uns dos outros.
0, casamentoLburguês é, na realidade, uma comunidade de mu- 
^jj.lherés casadas. Portanto, o máximo que se poderia criticar nos comu­
nistas é o fato de pretenderem substituir uma comunidade de mulheres 
hipócrita e disfarçada por outro que seria franca e oficial. De resto, 
é evidente que a abolição das atuais relações de produção causará o 
desaparecimento da comunidade de mulheres inerente a essas relações, 
ou seja, o desaparecimento dajprostituição oficial e não-oficial.
Além disso, os comunistas são acusados de. querer abolir a pátria 
e a nacionalidade. • .
Os operários não têm pátria. Não se pode tomar deles aquilo que 
" não possuem. Como, porém, o proletariado tem por objetivo, antes 
i ' ' de tudo, adquirir a supremacia política, tornar-se a classe dirigente da 
nação, tomar-se ele mesmo a própria nação, ele é, nessa medida, na­
cional, embora não no sentido burguês da palavra.
As diferenças nacionais e os antagonismos entre os povos desapa­
recem dH a dia, devido ao desenvolvimento daburguesia, ãUberdadede 
comércio, ao mercã5(TmumfiãI, à umíomudidê da produção industrial 
e às condições de existência que correspondem a esta produçaoT*
101
A supremacia do proletariado fará com que tais diferenças e anta­
gonismos desapareçam ainda mais depressa. A ação comum do proleta­
riado, pelo menos nos paísescivilizados, é uma das primeiras condições
5e sua emancipação. ' ----------------------—
em que se suprime-a.. exp.lpraçfp__dci_ homemjjêlo 
homgnx,. suprime-se- ^ !?^^ a exploração de uma nacáo por outra.
À proporção em que desaparecer!) antagonismo entre as classes 
.no interior das nações, desaparecerá também a hostilidade entre as 
próprias nações.
As acusações feitas ao comunismo de um ponto de vista religioso, 
filosófico e ideológico em geral, não merecem um exame aprofundado.
Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias 
/ / dos homens, suas noções e concepções, numa palavra, que a consciência
i do homem se modifica com cada mudança em suas condições de
; existência, em suas relações sociais, em sua vida social?
O que demonstra a história das idéias senão que a produção inte­
lectual se modifica à proporçSo que se modifica a produção material? 
As idéias dominantes dé uma época sãa_semnre_as idéias da classe domi- 
jnante.
Quando se fala de idéias que revolucionam a sociedade, isso quer 
dizer que no seio da velha sociedade surgiram elementos de uma nova 
sociedade e que a dissolução dás antigas idéias acompanha a dissolução 
das antigas condições de vida. '
Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram subs­
tituídas pelo cristianismo; quando, no século XVin, as idéias cristãs . 
cederam diante das idéias racionalistas, a sociedade feudal travava 
sua batalha fatal com a burguesia então revolucionária. As idéias 
de liberdade religiosa e de liberdade de consciência foram apenas 
a expressão do império da livre concorrência no domínio do-conheci­
mento. .
“Sem dúvida” — dir-se-á - “as idéias religiosas, morais, filosóficas 
. e jurídicas modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas 
a religião, a moral, a, filosofia, a ciência política e o direito sempre 
sobreviveram a essas mudanças. \ -
“Além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça, etc., 
que são comuns a todos os regimes sociais. O comunismo, porém, abole 
as verdades, eternas,-abole, a rehjjãQ.e. a moral, ao invès clexSíntitui?las- 
sobre uma nova base, e isso contradiz toda a experiência histórica 
anterior.” ■ .- .
102
A que se reduz essa acusação?- A história de toda sociedade 
até nossos dias consistiu no desenvolvimento dos antagonismos de 
. classe, antagonismos qué assumiram formas diferentes nas diferentes 
épocas.
Mas, qualquer que tenha sido a forma que esses antagonismos 
tomaram, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato 
comum a todas as épocas anteriores. Portanto, não é espantoso que a 
consciência social de todos os séculos, a despeito de sua multiplicidade 
e variedade, se tenha movido sempre dentro de certas formas drçnuns, 
de certas formas de consciência que só poderão desaparecer com o total 
desaparecimento dos antagonismos de classe.
''~~~rÃ~revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações 
de propriedade tradicionais; não é de se estranhar, portanto, que o 
curso dê'séíTdésenvõlvimento rompa, do modo mãjTTadiçal, comias 
idéias tradicionais.
Mas deixemos de lado as objeções burguesas ao comunismo.
Vimos acima que a primeira etapa da revolução operária é o 
advento do proletariado como classe dominante, a conquista da demo-
«sacia.'
O proletariado, utilizará sua supremacia política para arrancar. 
f ^ apouco a pouco, todo o capital à burguesia, para centralizar tedos os . >■ 
^-^fristrumentos ;de produção nas mãos do Estàdo, ou seja, do proletariado" 
organizado em classe dominante, e para aumentar o mais rapidamente... 
í~ possível o conjunto das forças produtivas.
Naturalmente, isso só poderá realizar-se, no princípio, por uma 
violação despótica dos direitos de propriedade e das relações burguesas 
de produção, isto é, por medidas que, do ponto de vista econô­
mico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do
• movimento ultrapassarão a si mesmas, acarretarão novas modificações 
na antiga ordem social e serão indispensáveis para transformar radical­
mente todo o modo de produção.
Essas medidas, é claro, serão,-diferentes nos diversos nafsesgS^:
Nos países mais adiantados, no entanto, as seguintes meSTdas 
poderão geralmente ser postas em prática:
1. Expropriação da propriedade territorial e emprego da renda da 
terra em proveito do Estado. ~
2. Imposto fortemente progressivo. —r
3.' XSolíçào dõlfireito de herança.
4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e sediciosos.
r 5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de üm 
li banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo. 
jl 6. Centralização de todos os meios de transporte nas mãos do 
/■ Estado.
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção 
pertencentes ao Estado; cultivo das terras improdutivas e melhoramento 
das terras cultivadas, segundo um plano geral.
8. Trabalho obrigatório para todos; estabelecimento de exércitos 
industriais, especialmente para a agricultura.
9. Combinação dos trabalhos agrícola e industrial; medidas ten- 
[ dentes a fazçr desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o 
j campo.7
;j 10. Educação pública gratuita para todas as crianças; abolição 
j do trabalho infantil nas fábricas, tal como é feito atualmente; combi- 
(_nação da educação com a produção material, etc.
Quando, no curso do desenvolvimento, desaparecerem as distin­
ções de classe e toda a produção concentrar-se nas mãos dos indivíduos 
associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder 
político propriamente dito é o poder organizado de uma classe para.a 
'oprelsfõlirõutrã. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, é 
forçado pelas circunstancias a organizar-se . comò classe; sé se toma, 
lnidIã5^tBngT5Võllí^õ7^rc1^g~dOMflànte e, como talTflestròi violeri- 
tamente. as antigas relações de produção, então destrói também, junta­
mente- com essas relaçõeyas.condições jle existência dos antagonismos 
~dé~clãssesJj£str6i-as. classes em geral, e, com i^ 1&jm~gue_a}g^ stfp.ria 
dominação de classe.
Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e seus 
antagonismos de classe, surge uma associação onde, o livre desenvol­
vimento de cadajum-éw-a x^aidicãQ_dCLlivre_desenvolviiae^to.^tQdos.
' Na traduçáò inglesa, editada por F. Engels em 1888, esse trecho está assim 
redigido: “9. CombinaçSo da agricultura com as indústrias manufatureiras e 
abolição gradual da distinção entre a cidade e ò campo, por méio de uma 
distribuição mais igualitária da populaçáo pelo país.” (Nota do Instituto de 
Marxlsmo-Lentnismo)
104
Iri. LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA
1. O socialismo reacionário
a) O socialismo feudal
Devido à sua posiçSo histórica, as aristocracias da França e da 
Inglaterra tenderam a escrever panfletos contra a moderna sociedade 
burguesa. Na revolução francesa de julho de 1830 e no movimento 
reformador inglês,8 essas aristocracias sucumbiram mais uma vez 
diante dessa arrivista' odiosa A partir dai, uma luta política séria era 
inconcebível. Somente uma contenda literária era possível. Mas, mesmo 
no domínio da literatura, tornara-se impossível a yelha fraseologia , da 
RestauraçSo.9 . "
Para criar simpatias, a aristocracia viu-se obrigada a deixar de 
lado, aparentemente, seus próprios interesses e a formular uma acusaçSo 
contra a burguesia, aparentando defender unicamente os interesses da 
classe trabalhadora explorada. Assim, a aristocracia vingou-se cantando 
sátiras sobre os novos senhores, murmurando-lhes aos ouvidos profecias 
sinistras sobre a catástrofe inevitável. /
Dessa maneira, surgiu o-süflalismaLfisudak-metade4amentações, 
metade libelos: _metade~ecos- do passado, jnetade ameaças sobre o 
futuro.; às vezes ferindo a burguesia no. coraçgo com sua crítica amarga, 
mordaz e espirituosa, porém obtendo sempre um efeito cômico,. devidoà .sua-impotência-absoluta-para-compreencler a marcha da História 
jmodema-
Paria atrair o povo, a aristocracia arvorou, à guisa de bandeira, 
*a sacola do mendigo, Mas, assim que o povõ acorreu, percebeu que 
as costas da bandeira estavam ornadas com os velhos brasões feudais e 
dispersou-se com grandes.e irreverentes gargalhadas.
8 Movimento democrático que, a partir de 1832, combateu por profundas 
reformas políticas e que se prolongou no cartismo. O cartismo atuou 
ativamente, de 1838 a 1848, no seio da classe operária inglesa. Seu objetivo 
imediato era o estabelecimento do sufrágio universal. (Nota do Tradutor).
9 Não se trata da Restauração inglesa de 1660-1689, mas da Restauração fran­
cesa de 1814-1830. (ffota de. F. Engels à edição inglesa de 1888).
105
Uma fração dos legitimistas franceses e a “Jovem Ingiaterra” ofe­
receram ao mundo um espetáculo desse tipo.10
Ao afirmaremque seu modo de exploração diferia .dos da bur- 
guesia, os campeões do feudalismo esquecem-se de uma çoisa^que ç> 
feüdálisTTKT-ixplorava em condições e circunstâncias bem diferentes ,e 
fioje em dia antiquidas. Ao ressaltarem que sob o seu domínio não. 
existia õ proletariado moderno, esquecem-se que ãlnrHefna huTgnesîiTé 
. ùm friifônëcëlssârioarsua'o^anizaçâo social.
~~XTém dSsõ^ísfargarn-tãcrTnal 0 caráter reacionário de sua’crítica 
que a principal acusação que fazem contra a burguesia consistem em 
dizêr que sób 0 regime burguês se desenvolve uma classe que fará Tr 
pelos ares' toda a antiea õjdèmsci<aaf.' *
O que mais reprovarrTà burguesia não é o fato de ela ter criado 
0 proletariado, mas de ter criado um proletariado revolucionário.
; Por isso, na prática política colaboram com todas as medidas 
repressivas contra a classe operária; e na vida cotidiana, a despeito de 
sua pomposa fraseologia, conformam-se em colher os frutos de ouro 
caídos da árvore da indústria e em trocar a verdade, 0 amor e a honra 
pelo comércio de lã, de açúcar de beterraba e de aguardente.11
Assim como o pároco sempre caminhou de mãos dadas.com. o 
senhor, feudal, o socialismo.clericaí./caminhaJado a )ado çom „cuso.çia^
o feü<T
^ 7 ‘ Não~há nada mais fácü do que dar um verniz socialista ao asce- 
:A^èsmo cristão. 0 'Cristianismo também não se manifestou contra a
10 Legitimistas-. Partido da nobreza latifundiária da França, favorável à restau­
ração do ramo legítimo' da dinastia dos Bourbons que reinou de Henrique IV 
a Carlos X. “Jovem Ingiaterra": círculo fundado aproximadamente em 1842 
e integrado por aristocratas, políticos e literatos do Partido Conservador 
britânico. Seus mais destacados representantes eram Disraeü, Thomas Caxlyle 
e outros. (Notas do Instituto de Marxismo-Leninismo).
Isto se refere sobretudo à Alemanha, onde os latifundiários aristocratas e os 
funkers (pequena nobreza rural - Nota do Instituto de Marxismo-Leninismo) 
cultivam por conta própria grande parte de suas terras, com aajuda de admi­
nistradores, e são, além disso, grandes produtores de açúcar de. beterraba e 
destiladores de aguardente de batata. Os aristocratas britânicos mais próperos, 
encontram-se, por enquanto, acima disso, mas também sabem como. compen­
sar a diminuição de suas rendas emprestando seus nomes aos fundadores de 
sociedades anônimàs de reputação mais ou menos duvidosa. (Nota de F. 
Engels à edição inglesa de 1888). -
106
propriedade privada, contra o matrimônio e o Estado? Em lugar deles 
não pregou a caridade e a pobreza, o celibato e a mortificação da carne, 
a vida monástica e a Igreja? O socialismo cristão é apenas a água benta 
com auejo padre r.nnsaprao despeito da aristocracia
b) O socialismo pequeno-burguês
A aristocracia feudal não foi a única classe que a.burguesia 
arruinou, a única cujas condições de existência se enfraquecem e 
perecem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os 
pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da bur­
guesia modema. Nos países de baixo nível de desenvolvimento indus­
trial e comercial, essas classes ainda vegetam ao lado da burguesia em 
ascensão.
Nos países onde a civilização modema se desenvolveu, comple­
tamente, formou-se uma nova.-classe-de-peauenos Jburgueses^queuBcila 
entre o proletariado e a burguesia, e que reconstituiu-se sempre como 
. ^ ^oIcjmplemieDitãr^ sodedada burguesãTõrmembrós desta classe, 
nõ'^?n£mto, se veêm constantemente predpitados no proletariado, 
devido à concorrênda; e, à medida que a indústria modema se desen­
volve, vêem aproximar-se o momento, em que desaparecerão comple­
tamente como fração independente da soâedade modema, para serem 
substituídos na manufatura, na agricultura, no comércio, por super-. 
visores, capatazes e empregados..
Nos países como a França, onde os camponeses constituem bem 
mais da metade da população, era natural que os escritores que 
apoiavam o proletariado contra a burguesia usassem, em sua critica ao 
regime burguês, critérios camponeses e pequenos burgueses, e defen-.
, dessem a causa operária segundo o ponto de vista destas classgsjnter- 
mediárias. Assim, surgiu o socialismo pequeno-burguês. /Sismondj? é 
chèfe dessa escola, não somente na França, mas também na Inglaterra.
Esse socialismo analisou com muita penetração, as contradições 
inerentes âs relações modernas de produção. Pôs a nú as apologias 
hipócritas dos economistas. Mostrou, de modo irrefutável, os efeitos 
desastrosos da maquinaria e da divisão do trabalho; a concentração do 
capital e da terra nasTnãos de alguns poucos; a superprodução e as 
crises; ressaltou a ruína inevitável do pequeno-burguês e do camponês, 
a miséria do proletariado, a anarquia na produção, a acintosa despro­
porção na distribuição das riquezas, a guerra industrial de extermínio
107
entre as nações, a dissolução dos antigos costumes, das antigas relações 
familiares, das antigas nacionalidades.
Entretanto, a finalidade real dessa forma de socialismo é. ou 
restabelecer os antigos meios de produção c de troca,_e, com eles, as 
antigas relações de~propriedade e a antiga sociedade,.Qu.entãQjtenIkx 
fázec. entrar i . força os meios modernos de produção e de troca no 
quadro estreito das antigas relações de propriedade que fotam,jiecessa= 
riamente. destruídas por eles. Em qualquer dos dois casos, esse 
socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico.
Suas últimas palavras são: regime corporativo para a manufatura: 
economia patriarcal na agrinnltiira.
Por fim, quando os inflexíveis fatos históricos fizeram passar 
completamente os efeito intoxicantes da auto-ilusão, essa forma de 
socialismo descambou numa miserável choradeira.12
c) O socialismo alemão ou o “verdadeiro ” socialismo
A literatura socialista e comunista da França, nascida sob a 
pressão de uma burguesia dominante, expressão literária da luta contra 
éssè domínio, foi introduzida na Alemanha nimaépoca-enuque-a-buí- 
guesia-apenas_começaja sua luta contra o absolutismo feudal. 
y'* Os filósofos, semi-filôsofos e homens de letras alemães lança- 
f S-ram-se avidamente sobre essa literatura, esquecendo-se apenas do fato 
. .v ;dç que as condições sociais da França não emigraram para a Alemanha
■>' com a importação da literatura francesa. Nas condições sociais alemãs.
essa literatura francesa perdeu toda sua significação prática imediata e 
assumiu úm^caráter puramente literário. Aparecia apenaTcomõ^éspe- 
culação ociosa sohre a realigaçffo da essência humana. Portanto, para 
os filósofos alemães-do século XVHI, as reivindicações da primeria 
Revolução Francesa não eram mais do que as reivindicações da “razão 
prátri” em geral, e a manifestação da*yontade da burguesia revolucio­
nária francesa expressava a seus olhos, apenas as leis da vontade pura, 
da vontade tal como deve ser, da*verdadeira vontade humana em geral.
n A tradução desse parágrafo acompanha a edição inglesa de 1888, feita por 
‘ EngeLs.Em outras ediçfles (1872, 1883, 1890), a frase está assim redigida: 
“No curso de sua evolução ulterior, essa escola caiu no desprezível marasmo 
dos diás de ressaca”. Qfota do Tradutor)
108
0 trabalho dos literatos alemães consistiu unicamente em harmo­
nizar as novas idéias francesas com sua velha consciência filosófica, ou 
melhor, em' incorporar as idéias francesas sem abandonar seu próprio 
ponto de vista filosófico. . •
Incorporaram-nas da mesma maneira como se assimila uma língua 
estrangeira, isto é, pela tradução.
Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras 
clássicas da antiguidade pagã com lendas absurdas sobre a vida dos 
santos católicos. Os literatos alemães agiram em sentido inverso com 
respeito à literatura francesa profana Escreveram suas insanidades filo­
sóficas sob o original fiancês. Por exemplo, sob a crítica francesa das 
funções econômicas do dinheiro escreveram “alienação humana”; sob a 
crítica francesa do Estado burguês escreveram“eliminação do poder do 
universal abstrato”, e assim por diante.
A esta introdução da fraseologia filosófica nas críticas, históricas 
francesas deram o nome de “filosofia da ação”, “verdadeiro socia­
lismo”, “ciência alemã do socialismo”, “fundamentos filosóficos do 
socialismo”, etc.
Assim, emascularam. claramente a literatura socialista e comu-1 
nista francesa. E como nas mãos dos alemães ela deixou de ser a expres-1 
são da luta. de uma classe contra outra, eles se felicitaram por terem 
rf* superado a “estreiteza francesa” e por representarem, não verdadeiras 
necessidades, mas a necessidade da verdade; não os interesses do prole­
tariado, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do 
homem que não pertence á nenhuma classe, nada tem "de real e existe _ 
apenas no céu brumoso da fantasia filosófica.
Esse socialismo alemão que tão solenemente levava a sério as 
suas desajeitadas tarefas escolares e qué as apregoava tão charlatanesca- 
mente, começou pouco a pouco a perder sua inocência pedantesca.
A luta da burguesia alemã, e principalmente da burguesia prus­
siana, contra a aristocracia feudal e a monarquia absoluta, ou, em 
outras palavras, o movimento liberal, tomou-se mais sério.
Desse modo, apresentou-se ao “verdadeiro” socialismo a tão 
esperada oportunidade de opor ao movimento político as reivindi-, 
cações socialistas; ele pôde lançar os anátemas tradicionais contra o libe­
ralismo, contra o Estado representativo, contra a concorrência bur­
guesa, a liberdade burguesa de imprensa, o direito burguês, a igualdade 
e a liberdade burguesas; pôde pregar ás massas que elas nada tinham a 
ganhar, mas, pelo contrário, tudo a perder, com esse movimento
109
burguês. -Q-SQcialismo alemão esqueceu, muito a propósito, que a critica 
francesa, da qual era um eco simplório, pressupunha a existência da 
moderna sociedade burguesa, com suas correspondentes condições 
materiais de existência e a sua constituição política própria — preci­
samente as coisas que, na Alemanhá, tratava-se exatamente ainda ..de 
conquistar.
Para os governos absolutos da Alemanha, com seu séquito de 
padres, professores, fidalgos rurais e burocratas, esse socialismo con- 
. verteu-se em espantalho para amedrontar a burguesia ameaçadora.
Serviu de complemento açucarado para o amargor dos tiros e dás 
chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos 
operários alemães. .
Acunesmo tçmpoem que o “verdadeiro” socialismo’foi.- para os 
governos, uma armacõntra a burguesia alèm^ le presênTou tamBém um 
interesse. reacionario. o.jnteresre^da^T^queria-burguesia aiaroãTNa. 
Alemanha, a classe pequeno-burguesaTIegãHa pêlo secuio XVI e desde 
então renascendo sem cessar sob formas diversas, é a verdadeira base 
social do estado de coisas vigente; _ V**
' Preservar essa-class£3lpreseryar o estado de coisas existeate^na-" 
AlemSnKã. A supremacia industrial e política da burguesia améaca a 
pèquena-Mrguêaa de destruição certa — de um "lado7 pela concen- 
"TraçFo de capital; de dutrofpèlo crescimento de um proletariado revo­
lucionário. O “verdadeiro” socialismo apareceu como uma arma capaz 
de liquidar estes dois peiigos,dfi.jjma^íOèz!rÊLOpagou-se como uma 
épuiêmia. . - . \ ; . -
A roupagem tecida com os fios da especulação, bordada com as 
flores da retórica e banhada de orvalho sentimental, essa roupagem 
transcendental na qual os socialistas alemães envolveram o miserável 
esqueleto de suas lamentáveis -Verdades_atémas”, serviu para aumentar 
maravilhosamente a venda dé sua mercadoria entre tal público.
. Po* outro lado, o socialismo alemão aceitou cada vez mais a sua 
vocação de representante grandiloqüente dessa pequena-burguesia.
„ Proclamou que a nação alemã era a nação modelo, e que o pequeno 
filisteu alemão era o homem típico. A todas as mesquinharias desse 
homem modelo atribuiu um sentido oculto, eleva$Lo s^õciã3ista,-exãta- 
mente 5 cònMriò do seu caráter real. Chegou ao extremo de opor-se 
à tendência “brutâlmente destruidora” do comunismo, proclamando o . 
seu. siipremo e imparcial desprezo pelas lutas de classes. Com muito - 
poucas exceções, todas as publicações pretensamente socialistas e comu-
110
nistas que ciiculam agora (1847) na Alemanha pertencem ao domínio
dessa literatura imunda e enervante.13 .• . , 'l
,..gtr t r - f l T ' - ■
• r \ P'-J2. O socialismo conservador ou b u r g u ê s ■'
Uma parte da burguesia deseja remediar os .males sociais pafá. 
ggpntir a nnruinnidarie da sociedade burguesa.
A esse setor pertencem os economistas, os filantropos, os humani­
tários, os que procuram melhorar a situação da classe operária, os orga­
nizadores de beneficências, os membros de sociedades protetoras de 
animais, os fanáticos das sociedades de temperança, enfim, os refor­
madores de gabinete de toda categoria. Essa escola socialista, além 
disso, organizou-se em sistemas completos.
Como exemplo, podemos ciUi Philosophie de la Misère ( A Filo• 
sofia da Miséria.), de Proudhon.
Os socialistas burgüeses querem todas as vantagens das condições 
sociais modernas sem as lutas e os perigos que delas necessariamente 
decorrem. Querem o estado atual da sociedade sem os elementos quê a 
revolucionam e a desintegram. Desejam á burguesia sem o proletãnãcfo; 
Naturalmente, a burguesia concebe o mundo «m que domina como o 
melhor dos mundos possíveis; o socialismo burguês desenvolve essa 
concepção consoladora em sistemas maisóu menos completos. Quando 
c^onvida o proletariado a realizar esses sistemas para dirigir-se a uma 
nova JerusalémPde fato o convida a peimanecer na sociedade atual. 
eliminando, porém, seu ódio contr» » ---- r T
Uma segunda forma, mais práticá porém menos sistemática, dèsse 
tipo de socialismo procurou depreciar perante a classe trabalhadora 
todo o movünento revolucionário, demonstrando que nffo será uma 
simples reforma polffifta, mas uma miiriança.pas r.nndicões materiais de 
existência, nas relações econômicas-que.Jhe _.será_ proveitosa. Por 
mudanças nas condições materiais de existência, no entanto, essa escola 
socialista não tem em mente a abolição das relações burguesas dé pro­
dução — abolição esta que só pode ser realizada por uma revolução —, 
mas apenas a realização de reformas administrativas, fundamentadas na 
existéndà dessas~rélacões: reformas, portanto, oúe não aletarfàs '
13 X tormenta revolucionária de 1848 vaireu toda essa lastimável escola e tirou 
de seus partidários o desejo de continuar chapinhando no Socialismo. O 
representante principal e o tipo clássico dessa escola é o sr.'Kari_Grün) (/Vota de 
F. Engelsà edição alemãde'1890). • -
111
relações entre, o capital e o trabalho, mas, na melhor das hipóteses, 
diminuem os gastos e simplificam o trabalho administrativo do Estado 
burguês.
0 socialismo burguês só atinge sua expressão adequada quando 
se toma uma simples figura deretórica.
Livre câmbio: no interesse da classe operária. Tarifas protetoras: 
no interesse da classe operária. Reforma penitenciária: no interesse da 
classe operária. Esta é a última palavra, a única pronunciada seriamente 
pelo socialismo burguês. ■ ‘
Esse socialismo resume-se nesta frase: os bureueses^Io-bmyueses
- no interesse da classe operária.
3 .0 socialismo e o comunismo critico-utópicos.
Não se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revo­
luções modernas, foi . o porta-voz das reivindicações do proletariado, 
como os escritos de/Bafeéufle outros.
As primeiras tentativas diretas do proletariado fazer prevalecer 
seus próprios interesses de classe, realizadas em épocas de efervescência 
geral, no período de destruição da sociedade feudal, falharam necessa- 
riáméflte. devido ao estado embrionário do proletariado e à ausência 
jÇrjr^ e, condições materiais para sua emancipação, condições que só pode: 
.^V-jnam ser produzidas pela época burguesa. A~Iiterâüira revolucionária que 
acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado tinha, neces­
sariamente, um caráter reacionário. Preconizava um ascetismo universal 
e uiri grosseiro igualitarismo. ^
Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de 
'ga5rt-Simon> Fouriêr\(Owéni e outros, surgem no primeiro período, 
acunã^Scrito, da luta entré o proletariado e a burguesia (ver o capí­
tulo I. Burgueses é Proletários).
Os fundadores desses sistemas reconhecem sem dúvida os antago­
nismos de classe, assim çomo a ação dos elementos dissolventes na 
própria sociedade dominante. Mas o proletariado ainda em fonnação 
lhes parece uma,çlassp- sem quãTauer atividade histórica autonoma, sem • 
qualquer movimento político indeoencleníe.
^ t Como o desenvolvimento dos antagonismos de classe acompanha 
-o desenvolvimento da indústria, a situação económica, rio seu entender, 
não oferece as condições materiais necessárias à emancipação do prole-
112
tariado. Pòr isso, procuram uma nova ciência social, novas leis sociais 
que criem tais condições.
Substituem a ação histórica por sua própria ação pessoal especu­
lativa; as condiçõesJiistóricas da. .emancipação <por oondições fantás­
ticas; e a organização gradual e espontânea do proletariado em classe 
por uma organização da sociedade pré-fabricada por eles. Em sua 
opinião, a história do futuro resume-se na propaganda e na realização 
prática de seus planos de organização social’ •
Na confecção de seus planos, têm a. convicção de que estão cui­
dando sobretudo dos interesses da classe óperária, por ser esta a classe 
mais sofredora. Para' elés, o proletariado só existe sob esse prisma de
rlassp. maiç sofredora
O estado rudimentar da luta de classes e sua própria posição social 
levam os socialistas dessa categoria a considerar-se superiores a todos os 
antagonismos de classe. Querem melhorar, a situação de todos os mem­
bros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Portanto, em geral, 
apelam indistintamente para todas as cTasses aa socîëïïade e, preferente­
mente, para a classe dominante. Como poderiam as pessoas deixar de 
reconhecer, em seu sistema, o melhor plano possível para a melhor 
das sociedades possíveis? -r
Por conseguinte, rejeitam toda ação política e, principalmente,
fir.fis p. pmrairam_ahrir naminhn an -nom-feyángelhq social por experi­
ências em pequena nar-ftssariamente destinadas ao fracasso,
e pela força dn pvftr^ p]ni
A descrição fantástica da sociedade futura, feita numa época em 
que o proletariado ainda se encontra num estado rudimentar e tem 
apenas uma concepção fantasista de sua própria posição, corresponde 
às primeiras aspirações intuitivas dessa classe a uma completa trans­
formação da sociedade.
Mas, essas obras socialistas e comunistas também contêm ele­
mentos críticos. Atacam todas as bases da sociedade vigente. Portanto, 
fornecem valioso materialj^ra..a.esclar£QÍm.entcuÍajcdasse-operária. As 
medidas práticas que propõem com relação à sociedade futura — tais 
como a supressão da distinção entre a cidade e o campo, a abolição da 
família, do lucro privado e do trabalho assalariado, a proclamação da 
harmonia social, a transformação do Estado em mero administrador de 
produção — todas essas propostas anunciam apenas o desaparecimento 
dos antagonismos de classè, antagonismos que mal começam e que são
113
reconhecidos pòr tais obras somente sob suas formas mais primitivas, 
indistintas e indefinidas. Essas propostas, por conseguinte, têm um 
caráter puramente utópico.
A importância do socialismo e do comunismo crítico-utópicos 
está na razío inversa do desenvolvimento histórico. À medida que a 
modema luta de classes se desenvolve e toma formas mais definidas,. 
o fantástico afa de abstrair-se dela, os fantásticos ataques que lhe são 
feitos, perdem todo o valor prático e toda a justificação teórica. Por 
isso, embora os fundadores desses sistemas fossem revolucionários em 
muitos aspectos, seus discípulos formam meras seitas reacionárias, pois 
prendem-se às velhas concepções originais de seus mestres, apesar do 
progressivo desenvolvimento histórico do proletariado. Procuram, 
portanto, e nisto são conseqüentes, atenuar a luta de classes e conciliar 
os antagonismos. Continuam a sonhar com a realização experimental 
dé suas utopias sociais, com falanstérios isolados, com a criação de 
colónias no interior, ou com o estabelecimento da Pequena Icária14-.— 
edições in 12 da Nova Jerusalém — e, para realizar todos esses castelos 
no ar, vêem-se obrigados a apelar para os sentimentos e os cofres dos 
~burgueses'.~~Pouco, a pouco, caem na categoria dos socialistas çonser-
vadoresou reacionários, acima descrita, deles diferindo apenas por 
um . pedantismo mais sistemático e por uma fé fanática e supersticiosa 
nos efeitos miraculosos de sua ciência social.
7r- Portanto, opõem-se violentamente a qualquer ação política dos 
^operários; tal ação, segundo eles, só poderia provir de uma cega falta 
'4e fé no novo evangelho.
Os owenistas, na Inglaterra, e os fourieristas, na França, 
opõem-se, respectivamente, aos cartistas e aos “refonnistes”.ls
Falanstérios eram colônias socialistas projetadas por/Q ^le0553® ; Icária 
era o nome dado pòr Cabet^ ü seu país utópico e, mais tarde, à sua colônia 
comunista na América, (jfôtà de F. Engels à edição inglesa de 1888).
Owen chamou suas sociedades comunistas'modelares de homc-colonies (co­
lônias no interior). Falanstirio era o nome dos palácios sociais imaginados 
por Fourier. Châma-se Icária o país fantástico cujas instituições comunistas 
. Cabet descreveu. (Nota de F. Engels à edição alemã de 1890).
15 Refere-se aos partidários do jomal La Riforme, que se editava em Paris entre 
os anos 1843-1850. (Nota do Instituto de Marxismo-Leninlsmo).
114
IV. POSIÇÃO DOS COMUNISTAS DIANTE DE VÁRIOS PARTIDOS 
DE OPOSIÇÃO
O capítulo H tomou claras as relações dos comunistas com ps 
partidos operários existentes, como os cartistas, na Inglaterra, e os 
reformadores agrários, na América do Norte.
~Os r-nmnnistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos 
da.classè onerária; flias, no movimento atual, também representam e se 
encarregam do futuro movimento. Na Frarjça. os comunistas aliám-se ao 
partido democrata-soçialista16 contra a burguesia conservadora e 
radical,- reservando-se, entretanto, o direito dé assumir uma posição 
crítica em relação às frases e às ilusões legadas pela tradiçío revolucio­
nária.
Na Suíça, apóiam os radicais, sem perder de vista o fato de 
que esse partido é formado pòr elementos antagônicos, metade de- 
mocratas-socialistas, nó sentido francês da palavra; metade burgueses 
radicais. ' *•
Na Polfiniar os comunistas apóiam o partido que defende umi 
revolução agrária como primeira condição para a emancipação nacional, 
o partido que fomentou a insurreição de Cracóvia, em 1846.17

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