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1 SARA ESPELHO STORCH LEISHMANIOSE É uma doença de notificação compulsória; tem 2 formas principais: Leishmaniose Tegumentar: lesões de pele e algumas mucosas; distribuída por todo país; várias formas clínicas, 3 principais, o que determina essas formas além do agente etiológico é a resposta imune do hospedeiro. Leishmaniose Visceral: lesões viscerais; forma mais grave, podendo levar à morte; acomete mais crianças; bem distribuída em nossa região (área endêmica). Etiologia: protozoários flagelados do gênero Leishmania. Transmissão: flebotomíneos (mosquito palha). MORFOLOGIA o FORMA AMASTIGOTA: não apresenta flagelo. Estrutura arredondada; pequena (2 a 4 µm de diâmetro); unicelular; apresenta citoplasma, núcleo e um grânulo, que é o cinetoplasto, formado por moléculas circulares de DNA (DNA extranuclear). O cinetoplasto é a estrutura que diferencia uma forma morfológica de outra. Assume a forma amastigota toda vez que está dentro do organismo do hospedeiro vertebrado OBS.: esse protozoário se multiplica dentro dos macrófagos; o FORMA PROMASTIGOTA: estrutura alongada com flagelo livre; apresenta núcleo central, cinetoplasto localizado anterior ao núcleo. Assumirá a forma promastigota toda vez que estiver no hospedeiro invertebrado e em meio de cultura. OBS.: a extremidade de onde emerge o flagelo é a região anterior. CICLO EVOLUTIVO o Hospedeiro parasitado possui na pele macrófagos com a forma amastigota em seu interior. Quando mosquito vai fazer o repasto sanguíneo sua probócita (aparelho picador) faz corte na pele, promove um afluxo sanguíneo (rompe vasos) e mistura o sangue com o líquido tissular (entre as células) que possui macrófagos, passa para o tubo digestivo do inseto. o No tubo digestivo do inseto os macrófagos são rompidos e libera-se a forma amastigota no intestino do inseto. Os protozoários se transformam em promastigotas, se multiplicam por divisão binária e vão amadurecendo, modifica moléculas de superfície. Quando maduros, se desprendem do epitélio e se transformam em promastigotas metacíclicos (não se multiplicam mais), migram para a faringe do inseto obstruindo-a. o Durante um novo repasto sanguíneo regurgita os protozoários da sua faringe na pele do hospedeiro vertebrado. Macrófagos fagocitam os protozoários, e assumirão a forma amastigota, que resiste à destruição dos macrófagos e se multiplica por divisão binária. Enchem os macrófagos até rompê-los e liberar os amastigotas, penetram em outros macrófagos, repetem o processo, causam destruição tecidual, e levam à lesão característica da leishmaniose. OBS.: A forma infectante para o hospedeiro invertebrado é AMASTIGOTA e a forma presente em seu organismo é PROMASTIGOTA. No hospedeiro vertebrado é o contrário. LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA É a forma presente no Brasil; popularmente é conhecida como Úlcera de Bauru; possui número constante de casos; presente em todos estados do Brasil. Associada com áreas florestais ou próximas de grandes bosques – porque os vetores que transmitem essa forma ainda não se domiciliaram (casas, quintais); caracterizada por lesões da pele e algumas mucosas (nariz, boca e faringe); ETIOLOGIA: Esses agentes causam a forma tegumentar pois não se adapta bem a 37ºC. A temperatura ótima delas é temperatura ambiente e nossa temperatura da pele e algumas mucosas é ideal (menor que 37ºC). - Leishmania (Viannia) braziliensis: principal, maior número de casos; -L. (V.) guyanensis: menor número; - L. (V.) lainsoni -L. (V.) shawi - L. (V.) naiffi - L. (Leishmania) amazonenses: restrita à região amazônica; difícil tratamento; 2 SARA ESPELHO STORCH **L. (V.) guyanensis; L. (V.) lainsoni; L. (V.) shawi são restritos ao Pará e Amazonas HABITAT: Células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) cutâneo – principalmente macrófagos; TRANSMISSÃO: é unicamente vetorial; Ex: birigui, mosquito palha, tatuquira. VETORES: Somente a fêmea transmite a infecção (precisa de sangue para maturação dos ovos); antigamente, eram classificados em gênero Phlebotomus. Não são domiciliados, fazem o criadouro deles em ambiente úmido, rico em matéria orgânica em decomposição. -Lutzomyia whitmani; -L. wellcomei; -L. pessoai; -L. intermedia; - L. umbratilis; -L. flaviscutellata RESERVATÓRIOS: são os animais que disponibilizam o protozoário para o vetor. Geralmente os animais domésticos são sintomáticos e os silvestres são assintomáticos (estão em contato a muito tempo), há equilíbrio entre hospedeiro e parasita. -Roedores; -Edentados (tatu, tamanduá, preguiça); -Marsupiais (gambá); -Cães; -Gatos; -Cavalos; -Macacos; -Homem; FORMAS CLÍNICAS (3 principais): 1- Forma Cutânea: Lesões restritas à pele, geralmente é indolor; causada por todas as espécies de Leishmania. O mosquito inocula, começa guerra entre protozoários e SI do hospedeiro, ocorre lesão tecidual. Após a formação de uma crosta de lesão assume úlcera leishmaniotica típica (típica da L. braziliensis) grande, coloração avermelhada, bordo em moldura ao redor da úlcera (tecido vivo). O tecido central fica necrosado. Inicialmente, a leishmania consegue se multiplicar dentro de macrófagos até o momento que ativa SI. Os macrófagos são ativados e ocorre destruição das leishmanias, lesão estaciona e a tendência é ter regressão da lesão. Isso pode não ocorrer, evoluindo para uma forma mais grave (forma cutaneomucosa). 2- Forma cutaneomucosa: causada principalmente pela L. braziliensis; forma cutânea não tratada ou maltratada. Inicialmente há lesão cutânea, passando para lesão na mucosa do septo nasal (1º local onde aparece lesão), evolui e destrói o septo nasal e parte cartilaginosa e posteriormente destruição das partes moles do nariz. Pode chegar à faringe causando uma destruição grave. São lesões dolorosas, com líquido de odor fétido, com inflamação e comprometimento de deglutição. 3- Forma cutâneo difusa: no Brasil é causada pelo L. amazonensis; lesão de difícil tratamento. Lesão na pele que regride e posteriormente há o aparecimento de vários nódulos pelo corpo que não vão ulcerar. Na punção estão cheios de macrófagos com a forma amastigota. Há um desvio da resposta imune, não evolui para cura. Essa forma não é muito espalhada, pois o principal vetor é o L. flaviscutellata, que não gosta de se alimentar de sangue humano. PATOGENIA: Mecanismos de escape do parasito o Evasão da lise mediada por complemento: leishmania ativa o complemento, mas sua molécula de superfície LPG (lipopoliglicano – presente na forma promastigota metacíclicas) a protege da lise. o Penetração no macrófago via receptor de superfície: inibição e/ou retardo na ativação dos mecanismos microbicidas dos macrófagos. o Amastigotas: resistentes ao ambiente ácido e hidrolítico do vacúolo parasitóforo. RESPOSTA IMUNE: APC (cel. Apresentadora de antígeno) apresenta antígeno para LTCD4+ → pode diferenciar em LTh1 e LTh2. o LTh1: produz citocinas pró-inflamatórias resposta celular; ativa células para destruírem microrganismos intracelulares. Melhor resposta para leishmaniose – resposta curativa. 3 SARA ESPELHO STORCH o LTh2: produz citocinas que ativam Linfócito B (produz anticorpos) resposta humoral. Resposta boa para microrganismos extracelulares. O controle dessas respostas é feito por citocinas contrárias. EX.: se o padrão de resposta é Th1 citocinas Th2 regulam essa resposta e vice-versa. Se essa resposta não for regulada destrói tecidos do hospedeiro. MECANISMOS IMUNOPATOGÊNICOS – *PROVA* 1- Forma Cutânea: APC apresenta Ag para LTCD4+ → diferencia em LTh1 (principalmente), produz citocinas, entre elas, o INF-γ, que ativa todos os outros macrófagos,irão produzir TNF-α para destruir as leishmanias. A lesão estaciona e a tendência é à regressão, é RESPOSTA CURATIVA. Essa resposta Th1 é controlada (regulada) pela IL-10 para que tudo seja ativado na quantidade ideal. 2- Forma Cutaneomucosa: Mesmo padrão de RI – Th1 que produz de INF-γ, que ativa macrófagos e os induz a produzir TNF-α. Há baixos níveis de IL-10 gera falha na regulação da RI, leva a altos níveis de INF-γ e faz com que os macrófagos produzam altos níveis de TNF-α que destrói microrganismos e, também, as células do hospedeiro, ocorrendo a lesão de mucosas. 3- Forma cutâneo difusa: Há um desvio de padrão de resposta imune – padrão predominante Th2, não ocorre ativação dos macrófagos, não há morte das leishmanias. Isso ocorre porque há altos níveis de IL- 10, que bloqueia o padrão Th1. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Característica da lesão; Anamnese e dados epidemiológicos; Diagnóstico diferencial: dermatoses granulomatosa (tuberculose cutânea, hanseníase, blastomicose, esporotricose, úlcera tropical, neoplasias). DIAGNÓSTICO LABORATORIAL o Pesquisa de parasita: biopsia do bordo da lesão cutânea. o Avaliação da resposta celular: teste intradérmico de Montenegro → inocular Ag do parasita e introduzir na pele do indivíduo em lesão antiga. Se houver reação significa que há macrófagos ativados para leishmania (+ para leishmania). Avalia resposta celular. Na forma cutânea o teste dará (+), na forma cutaneomucosa o teste dará muito (+) e na forma cutâneo difusa o teste dará (-). o Avaliação da resposta humoral: teste de imunofluorescência indireta e ELISA. EPIDEMIOLOGIA: Ocorre no Brasil todo, infecção prevalente. Ocorre em toda região sudeste, centro oeste, nordeste e norte. Ocorre menos casos no sul. PROFILAXIA -Tratamento dos doentes; -Combate ao vetor (difícil controle, já que vivem em matas); -Utilização de repelentes; -Telar as janelas; -Construção de casas a uma distância mínima de 500m da mata (o vetor não possui uma autonomia de voo muito grande); -Educação sanitária. LEISHMANIOSE VISCERAL OU CALAZAR Forma grave de leishmaniose; mais prevalente em crianças; Calazar = doença mortífera ou febre negra; 95% dos casos que não forem tratados vão a óbito. ETIOLOGIA: Leishmania (Leishmania) infantum chagasi HABITAT: Essa leishmania visceraliza porque se adapta bem a 37ºC; Células do SMF (sistema mononuclear fagocitário) visceral; Fígado, baço, medula óssea apresentam maior concentração; Sangue periférico (raro, quando ocorre ficam nos monócitos); Pele do paciente imunocompetente (pouco frequente). RESERVATÓRIOS -Cão: é o principal reservatório; fica nas vísceras e em grande quantidade na pele e circulação periférica; frequentemente adoece. -Raposa: raramente adoece. -Marsupiais. 4 SARA ESPELHO STORCH OBS.: o homem não é um bom reservatório para esse protozoário (fica nas vísceras), não disponibiliza o protozoário para o vetor. VETOR Lutzomyia longipalpis: domiciliado, faz criadouros nos quintais (ambientes úmidos ricos em matéria orgânica). L. cruzi. MECANISMOS DE TRANSMISSÃO: Vetorial (principal e único com importância epidemiológica); Acidentes de laboratório, transfusão sanguínea, transmissão congênita (raros). IMUNIDADE: Padrão de resposta imune – desvio da RI para Th2 durante o curso da infecção (apresenta os sintomas da doença) → produção de altos níveis de Ac que não são curativos, altos níveis da IL-10, bloqueiam Th1 (resposta curativa). Cura: se houver restituição do padrão Th1. PATOGENIA: o Período de incubação até o aparecimento de sintomas (2 a 7 meses); o 1º sinal de visceralização é febre baixa (continua durante todo o curso da infecção) o Alterações esplênicas: hiperplasia e hipertrofia das células do SMF levando à esplenomegalia. o Alterações hepáticas: hiperplasia e hipertrofia das células do SMF e consequentemente hepatomegalia. Há comprometimento da função hepática, um bem aparente é a diminuição na produção de albumina. o Alterações no tecido hemocitopoético (tecido formador das células sanguíneas): pancitopenia (diminuição de todas células sanguíneas: hemácias, leucócitos e plaquetas) devido ao aumento das células do SMF. o Alterações renais: deposição de imunocomplexos formados durante a infecção → inflamação dos glomérulos renais – glomerulonefrite. o Alterações pulmonares. o Alterações intestinais. *SMF:sistema mononuclear fagocitário COMPLICAÇÕES o Pneumonia e broncopneumonia: células do SMF estão cheias de leishmania, deixando o pulmão livre para infecções devido o bloqueio dessas células de defesa. o Reativação de tuberculose: a resposta imune celular mantém os bacilos da tuberculose restritos (granulomas), com a leishmaniose visceral há bloqueio da resposta imune celular, pode ser reativada a tuberculose. o Diarreia e disenteria: placas de peyer (células de defesa) bloqueadas, deixam a mucosa intestinal livre para entrada de microrganismos. o Otite média, gengivite, estomatite. FORMAS CLÍNICAS o Forma assintomática: resposta imune celular é rapidamente ativada. o Forma oligossintomática ou subclínica: febre baixa recorrente, tosse seca, diarreia, sudorese, prostração. Não apresenta a doença posteriormente, pois o quadro foi revertido, passando rapidamente para resposta imune celular. o Fase aguda: diarreia acentuada, febre alta, tosse, discreta hepatoesplenomegalia, alterações hematológicas discretas. São raras, mas são graves. o Forma sintomática crônica ou calazar clássico. FORMA SINTOMÁTICA CRÔNICA OU CALAZAR CLÁSSICO Febre acompanha todo curso da infecção. Emagrecimento progressivo/caquexia “pele e osso” (envolvimento de várias citocinas – TNF-α). Edemas de pés e mãos (comprometimento hepático, diminuindo produção de 5 SARA ESPELHO STORCH albumina). Abdome volumoso (hepatoesplenomegalia). Tosse, diarreia, náuseas, vômitos, dispneia de esforço, cefaleia, dores musculares, artralgia, sangramento nasal e gengival. CAUSAS DE ÓBITO o Broncopneumonia. o Septicemias (devido ao bloqueio da resposta imune celular). o Hemorragias agudas: devido a diminuição da produção de plaquetas e comprometimento hepático (alteração da produção de fatores de coagulação). o Gastrenterites pela passagem de microorganismos o Insuficiência cardíaca: devido anemia grave (comprometimento do tecido formador de sangue). o Caquexia. DIAGNÓSTICO o Critérios epidemiológicos: procedência do paciente, histórico de viagens, ocorrência de casos caninos, presença do vetor. o Critérios clínicos: febre irregular, hepatoesplenomegalia, anemia, manifestações hemorrágicas. LABORATORIAL o Pesquisa do parasita: aspirado de medula; o Métodos imunológicos: imunofluorescência indireta, ELISA. o Teste rápido: imunocromatografia. o Hemograma: Anemia, leucopenia, plaquetopenia, enzimas hepáticas alteradas, albumina diminuída e globulinas aumentadas (devido ao aumento das gama globulinas para produção de anticorpos). EPIDEMIOLOGIA Grande incidencia de casos na região nordeste.Mas de forma geral,há no pais todo. Na regiao sul não é área de transmissão. PROFILAXIA o Tratamento de todos os casos humanos; o Controle dos reservatórios; o Combate ao vetor OBS.: o cachorro não responde bem ao tratamento da droga utilizada em humanos. Ele fica curado da doença, mas mantém o protozoário na pele, continua transmitindo para o humano. TRATAMENTO o Antimoniato de N-metil glucamina (Glucantime): droga de 1ª escolha para o tratamento; muito tóxica. o Anfotericina B lipossomal: é muito boa para o tratamento e é pouco tóxica; muito cara. Disponibilizada pelo SUS para crianças, idosos, imunodeprimidos.
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