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ARTIGO INICIACAO CIENTIFICA

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Uso e reuso da água no processamento mineral: uma revisão do cenário 
mundial. 
 
Bruna Ketlyn Silva Cota 
Emily Mayer Andrade Becheleni 
 
1. RESUMO 
 
O uso da água na mineração tem o potencial de afetar a qualidade das águas 
superficiais e subterrâneas. As operações de mineração usam água para o 
processamento mineral e recuperação do metal, controle de poeira e satisfazer as 
necessidades dos trabalhadores no local. A demanda de água de uma mina pode 
variar em função do seu tamanho, do mineral a ser extraído e do processo de extração 
a ser utilizado. Com a atual crise hídrica, a taxa de reutilização e reciclagem de água 
no processamento mineral tem aumentado com a ajuda de práticas de conservação 
de águas inovadoras, por exemplo: equipamentos que aumentam a velocidade de 
sedimentação das partículas contidas no efluente, aproveitamento das águas de 
chuvas, aplicação de tecnologia que removem a salinidade da água de processo e 
viabilizam o reuso industrial da água, osmose reversa, eletrodiálise reversa, 
cristalização. 
 
2. ABSTRACT 
 
The usage of water on mining has the potential to affect the quality of this 
resource on superficial and underground levels. The mining operations use the water 
in many ways, as in mineral processing, in metal recovery, in dust controlling and in 
human consumption. This resource demand on mining can variate due to its size, the 
mineral extraction and the extracting process to be used. With the ongoing water 
crises, the recycling and reutilization percentage has been raised, thanks to the 
utilization of new water conservation methods, for example: equipment that raise the 
velocity of particles sedimentation contained on effluent, pluvial water utilization, 
usage of technology that can remove the water salinity from the processing, enabling 
his industrial usage, reverse osmosis, reverse electrodialysis, and crystallization. 
 
3. INTRODUÇÃO 
 
O Brasil é um país que possui um volume de recursos hídricos abundante, 
cerca de 13,7% da água mundial. Porém, a sua má distribuição (quase 70% da reserva 
do Brasil está localizada na região Norte, onde vivem menos de 10% da população) 
faz com que regiões como o Nordeste que abriga cerca de 53.081.950 habitantes 
sofra durante os longos períodos de estiagem (FRANCISO, 2015; MMA, 2014). 
Cerca de 21% dessa água é destinada ao setor industrial em que a mineração 
está incorporada (IBRAM, 2015). Segundo estimativa elaborada pelo IGAM (Instituto 
Brasileiro das Águas), a vazão total de água captada para mineração é de 29.170 
litros/segundo, o equivalente a 2.520.288.000 litros/dia (O Tempo, 2015). 
Considerando o consumo de água utilizada pela mineração por dia, esta mesma 
quantidade abastece mais de 13 milhões de brasileiros. 
Porém, os bens minerais são de extrema importância para a sociedade, estão 
presentes em diversas formas, como nas construções civis, nos fertilizantes, na 
estrutura e nas cores de todos os utensílios e equipamentos do dia-a-dia. O hábito de 
valorizar os bens finais que proporciona conforto e atende as necessidades, faz com 
que não se note a importância destes. Até mesmo o registro da história do homem se 
baseia nos recursos minerais, como a Idade da Pedra, do Bronze, do Ferro, da Prata, 
do Aço, dos Minerais Energéticos (carvão, petróleo e minerais radioativos) e o mais 
recente, dos Minerais do Futuro (superligas, polímeros, cerâmicas, entre outros) 
(Dumar, 2013). 
Portanto, quanto maior o crescimento econômico e populacional, maior o 
consumo de bens minerais, o que implica diretamente no aumento do consumo de 
recursos hídricos pela mineração. A mineração é conhecida internacionalmente como 
a atividade que mais contribui para o desenvolvimento econômico, nos últimos anos, 
o setor de mineração, tem influenciado positivamente o saldo da balança comercial 
brasileira, elevando-a, devido aos altos valores obtidos com a exportação de 
commodities minerais (Figura 1) (Dumar, 2013). 
 
 
Figura 1. Comparativo de saldos do Setor Mineral X Saldo Brasil, valores em milhões de dólares US$ 
FOB (Fonte: Ibram, 2015). 
 
4. CRISE HÍDRICA 
 
O Brasil possui grande disponibilidade de recursos hídricos com 53% do 
manancial de água doce disponível na América do Sul e possui o maior rio do mundo 
(rio Amazonas). Porém, o país sofre com a escassez de água potável em alguns 
locais. A má distribuição da água faz com que 72% desta esteja presente na região 
amazônica, restando 27% para a região Centro-Sul e 1% apenas para a região 
Nordeste. A maior parte da população, não reside nos locais onde a água se encontra 
em maior disponibilidade. A ausência de saneamento básico e água potável em 55% 
das residências da população brasileira é outro fator agravante (Francisco, 2015). 
Desde 2014 o Brasil passou a viver a maior crise hídrica de sua história. A 
cidade de São Paulo, área mais povoada do país, é também a mais atingida pela crise 
hídrica. O principal reservatório da cidade (Sistema Cantareira), vem apresentando 
sucessivos recordes de baixas em seu volume em épocas do ano que costumava 
estar cheio (Pena, 2015). 
De acordo com Wstane & Lemos (2015), o contexto atual não se trata somente 
de um contexto de crise pela escassez hídrica, mas principalmente de uma crise de 
disputa e conflito por gestão territorial e de recursos hídricos. 
O desperdício de água é um problema socioambiental que, é geralmente 
associado principalmente pela imprensa por hábitos domésticos como torneira mal 
fechada, demora no chuveiro, entre outros. Mas há o desperdício durante o 
abastecimento de água, causado por falhas técnicas nas tubulações e sistemas 
públicos de distribuição. Segundo um relatório do Ministério das Cidades, no Brasil, 
cerca de 41% de toda a água tratada no país é desperdiçada, sendo impossível 
contabilizar exatamente o número de litros e cerca de R$ 4 bilhões de prejuízo (Pena, 
2015). 
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura 
(FAO) a atividade socioeconômica que mais consome água é a agropecuária, 70% de 
toda a água consumida no mundo é utilizada para a irrigação de lavouras e no Brasil 
esse número cresce para 72% devido ao país ter expressiva produção nesse setor da 
economia. A atividade industrial é responsável por 22% do consumo de água no 
mundo, e o uso doméstico cerca de 8% (Pena, 2015). 
Na agricultura acontece outro tipo de desperdício, sistemas inadequados de 
irrigação ou aproveitamento fazem com que grande parte da água seja desperdiçada, 
tanto pelo uso incorreto quanto pelas altas taxas de evaporação. A contaminação dos 
solos, do lençol freático e de alguns rios devido ao uso de agrotóxicos também agrava 
a situação. Sendo assim, é preciso adotar medidas alternativas, por exemplo, o 
gotejamento, nesse processo é utilizado um sistema em que apenas algumas gotas 
são usadas para umedecer os solos e garantir ao vegetal cultivado o suficiente para 
sua sustentação ou microaspersão onde é concentrado o intervalo de irrigação 
apenas onde se deseja que o cultivo se desenvolva, não desperdiçando água em 
corredores e zonas não produtivas (Pena, 2015). 
A agricultura é o setor da economia que mais necessita de medidas de redução 
e reciclagem de água, pois cerca de 60% de toda a água utilizada na irrigação é 
perdida por desperdício. Em termos de média estatística, uma redução de 10% dessa 
perda é suficiente para abastecer o dobro da população mundial atual (Pena, 2014). 
Em alguns tipos de produção na indústria, a água é empregada no resfriamento 
dos equipamentos, no qual a água de reuso (água residuária que está dentro dos 
padrões estabelecidos para sua reutilização) poderia serbem empregada (Santos, 
2015). Processos como osmose reversa, eletrodiálise e cristalização os quais são 
empregados em efluentes salobres, são utilizados para tornar a água adequada para 
o reuso na indústria (Sampaio et al., 2010; Randaw et al., 2011). 
 
5. ÁGUA NA MINERAÇÃO 
 
Segundo Pinto (2011), a água está presente na maioria das etapas da 
engenharia mineral, desde a lavra, diversas operações no tratamento de minérios, 
utilizações fundamentais na metalurgia extrativa, transporte do produto final, 
terminando após seu reuso do efluente final. Portanto, para a mineração, a água é um 
recurso natural estratégico, escasso e dotado de valor econômico. 
A Tabela 1 apresenta valores obtidos para a definição de coeficientes técnicos 
para o uso da água na indústria mineral brasileira (IBRAM & CNI, 2012). 
 
Tabela 1. Consumo de água (m³) em algumas tipologias minerais (2010) 
Tipologia Mineral Vazão Consumida/Unidade Produzida (m³/ton) 
Cobre 2,03 
Ferro 0,18 a 1,0 
Fosfato 6,6 a 13,8 
Potássio 0,11 
Manganês 0,03 a 0,17 
Ouro 0,14 a 2,28 
Titânio 1,58 
Fonte: Ibram & CNI, 2012. 
 
 A água está presente no processo de moagem, onde é utilizada para cominuir 
o minério, sendo contaminada por minerais e/ou metais dissolvidos. Para extração 
química dos metais, processos que geralmente envolvem adição de compostos 
químicos, por exemplo a lixiviação, a qual produz uma solução residual lixiviada 
contendo minerais dissolvidos (Mining Facts, 2015). 
 Os processos de desmonte das rochas por explosivos, óleos e graxas de 
equipamentos e maquinários diversos ou até mesmo partículas finas a ultrafinas 
provenientes do manuseio do minério desmontado podem contaminar a água 
subterrânea. A contaminação da água natural durante os processos de tratamento de 
minérios faz com que seu uso se torne ineficiente, tendo então, a necessidade de um 
tratamento da água para viabilizar a recuperação das suas propriedades, objetivando 
readequá-la ao uso, diminuindo ou eliminando a necessidade de captação de água 
nova (Pinto, 2011). 
 Nas unidades de beneficiamento de minérios, pode-se reutilizar água de 
processo, (água utilizada em operações tais como espessamento, filtragem, 
centrifugação, peneiramento a úmido, flotação, bacias de rejeito), nas usinas de 
concentração, o que contribui para diminuir o consumo de água nova no processo. A 
Figura 2 apresenta o fluxograma descritivo do sistema de recirculação da água na 
mineração do ferro com o aproveitamento de 80% da água coletada do reservatório 
(Pinto, 2011). 
 
 
Figura 2. Desenho esquemático do sistema de recirculação de água na mineração do ferro (Fonte: ANA & IBRAM, 
2006). 
 
 A Figura 3 mostra a utilização de água na aspersão de pistas e praças para 
controle de emissão de poeira, transporte de materiais e lavagem de equipamentos. 
 
 
Figura 3. Uso da água para controle de emissão de poeira (Fonte: ANA & IBRAM, 2006). 
6. EFEITOS DO MAU-USO DA ÁGUA 
 
Nas serras, as minerações diminuem à vazão das nascentes e desmatam 
extensas áreas de cobertura natural em áreas de recarga hídrica, além disso, para o 
escoamento do minério de ferro por meio de minerodutos, utiliza-se bilhões de litros 
de água (Wstane & Lemos, 2015). Segundo o Senador João Capiberibe (2014) em 
uma hora de funcionamento, minerodutos utilizam a quantidade suficiente para 
abastecer uma cidade com 500 mil habitantes durante o mesmo período de tempo. 
Áreas de mananciais importantes que abastecem a Região Metropolitana de 
Belo Horizonte estão ameaçadas devido a forma como algumas atividades 
econômicas estão sendo desempenhadas. O setor de mineração é muito forte, e, se 
articula com instâncias políticas além de negar sua relação conflituosa existente na 
gestão das águas dessa região (Wstane & Lemos, 2015). 
Segundo Barreda (2012), os rejeitos de flotação desde os anos 60 no Brasil, 
têm sido colocados em barragens de rejeito, gerando expressivo risco a ocasionar 
impactos ambientais graves. A possibilidade do rompimento destas barragens é 
preocupante, pois pode gerar a contaminação de centenas de metros cúbicos de 
rejeito contendo metais pesados (como por exemplo, minérios carbonatados, os 
fosfatados, os sulfetados e os cloretos, entre outros, que favorecem alterações 
significativas na concentração iônica da água devido às suas dissoluções), causando 
problemas ambientais e à saúde da população, perda de vidas humanas, 
contaminação no solo e cursos d’água (ANA & IBRAM, 2006). 
 A Figura 4 apresenta um decréscimo na ocorrência de incidentes em barragens 
de rejeitos no mundo desde 1988. Porém no Brasil a situação foi inversa, a partir de 
1988 houve um aumento considerável no número de incidentes. O caso mais recente 
foi o da Samarco Mineração, cujo rompimento de duas barragens levou a 
contaminação de vários rios, destruição de municípios e foram registradas mortes e 
pessoas desaparecidas. Com a queda das barragens, mais de 62.000.000 m³ de 
rejeitos e água foram despejados sobre os distritos de Mariana (G1, 2015). 
 
 
Figura 
Figura 4. Incidentes com barragens de rejeitos no Brasil e no Mundo (Fonte: Alves, 2009). 
 
7. REUSO DE ÁGUA NA MINERAÇÃO 
 
Um dos objetivos atuais mais importantes na mineração é o investimento na 
pesquisa de técnicas de tratamento de efluentes para a redução do volume de 
disposição de rejeito líquido, reutilização da água de processo e redução do consumo 
de água nova visando a preservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Sem 
o devido tratamento, o lançamento destes efluentes ao corpo receptor, pode causar 
danos expressivos, podendo também, dependendo de suas características, causar 
danos à saúde humana (Delta, 2013). 
A Resolução CONAMA nº 430/2011 trata sobre as condições, diretrizes, 
parâmetros e padrões para a gestão do lançamento de efluentes em corpos d’água 
receptores, determinando que, efluentes de qualquer fonte poluidora poderão ser 
lançados diretamente nos corpos receptores somente após o devido tratamento e 
seguindo as orientações legais. 
Na mineração, entende-se como água de reciclagem aquela retornada ao 
processo após tratamento ou não e, cujas características físicas e químicas são 
adequadas ao processo. Parâmetros físico-químicos como pH, potencial de oxidação 
(Eh), dureza da água, são parâmetros de controle mais simples e primários, porém, 
não se trata de um controle único. Alguns fatores são considerados para a reciclagem 
de água como: disponibilidade de água nova limitada devido à localização da usina 
ou por restrições ambientas, elevado custo do tratamento da água para devolvê-la ao 
meio ambiente, custos operacionais reduzidos com a recuperação de reagentes 
residuais, provável redução de custo no bombeamento da água nova de distâncias 
longas, processo mais utilizado na mineração brasileira (sólidos residuais da água 
removidos), cumprimento das exigências legais do meio ambiente (ANA & IBRAM, 
2006). 
A água de reciclagem na unidade industrial geralmente provém da barragem 
de rejeitos, cujas condições ambientais e químicas não foram estudadas em escala 
piloto. Essas circunstâncias causam imprevistos nas operações industriais, que 
exigem conhecimentos apropriados sobre os constituintes mineralógicos dissolvidos 
na água e a forma como eles interferem no processo. Por isso, é recomendável a 
utilização de métodos de monitoramento da água de reciclagem e também da água 
nova. A situação ideal entre a quantidade de água nova no processo e a reciclagem 
é aquela em que ocorre o descarte zero, ou seja, a otimização do processo de 
reciclagem permite a reutilização de toda a água já usada (IBRAM, 2012). 
 A Empresa PirâmideExtração e Comércio de Areia, localizada na região do 
Ribeira, implantou um projeto na unidade “Porto Seguro”, em Arapongal, município de 
Restrito, no estado de São Paulo. O objetivo foi reutilizar a água do beneficiamento, 
em condições apropriadas para retornar ao circuito, livre de materiais orgânicos, 
argilas particulares entre outros contaminantes que alteram a qualidade da areia 
produzida. Para a viabilização do projeto foram implantadas antes do decantador 
final, valas de decantação de 300m. Após este percurso, 100% dos contaminantes já 
sedimentaram e a água já está em condições de retornar ao beneficiamento. Instalou-
se um conjunto de bombas anexado à estrutura de alvenaria do decantador que 
possibilita o bombeamento de aproximadamente 320 m³/h de água, 40% da 
quantidade utilizada no beneficiamento (SANTOS, 2013). 
 Antes das melhorias, a captação de água do rio era de 557 m³/h, eram utilizadas 
5 bombas, após a implementação do projeto, a da captação de água foi de 297,35 
m³/h, em 2 bombas, ou seja, 55% do volume anteriormente utilizado. Com a 
implantação deste programa, a empresa recebeu o prêmio Fiesp/Ciesp de 
Conservação e Reuso de Água (SANTOS, 2013). 
Uma das maiores mineradoras de ouro do mundo, a Newmont Mining 
Corporation, em Nevada, Estados Unidos da América, enfrenta um desafio referente 
ao excesso de poeira. Problemas respiratórios, de visibilidade reduzida e 
preocupações ambientais de escoamento são gerados devido aos graves níveis de 
poeiras nas estradas da mina que são altamente trafegadas. A poeira estava sendo 
controlada por uma solução de cloreto de magnésio, e eram gastos 100 milhões de 
galões, ou seja, 380.000m³ de água em caminhões-pipa para o processo (GE Water, 
2010). 
A GE em parceira com a Newmont, desenvolveu uma estratégia a longo prazo 
de suspensão de pó centralizado por agente químico orgânico (DC 9112). A utilização 
desse agente promoveu o endurecimento da superfície das estradas, deixando-a sem 
poeira durante longo período. Assim, foi possível, reduzir a frequência das ações de 
redução de poeira das estradas e, consequentemente, reduzir o consumo de água 
(90% de redução), o volume de combustível utilizado, em 48.000 galões (182.000 L) 
e o custo operacional anual (economia de U$ 378.000) (GE Water, 2010). 
Uma mina de carvão em Tutuka, África do Sul, instalou uma unidade industrial 
em que se utiliza o processo de osmose reversa para o reuso total, não havendo 
descarte da mina e da torre de resfriamento. Antes da instalação do processo, a mina 
continha uma etapa de pré-tratamento que utiliza areia para diminuir os contaminantes 
orgânicos (Sampaio et al., 2010). 
 Para a extração de areia e cascalho geralmente é necessário lavar o material. 
Nesse processo é gerado uma grande quantidade de água poluída, o valor exato irá 
depender do tamanho da mina e de sua produção, a empresa Luciano Carraro 
Tavares, localizada no município de Esmeraldas, possui a concessão de outorga de 
105,0 m³/h e a produz anualmente 35.000 m³ de areia e argila (GOVERNO DO 
ESTADO DE MINAS GERAIS, 2012). 
 Os efluentes gerados são lançados em tanques onde partículas finas são 
depositadas, o que exige uma grande área, variados efluentes e longo tempo. Uma 
tecnologia chamada decanter, que otimiza o tratamento dessa água de lavagem, de 
cascalho e areia, dispensando o uso de tanques de deposição e processando 
diariamente 2.200 toneladas de Iodo por ano, garantindo redução no consumo de 
água, nos custos operacionais anuais e em espaço (Flottweg, 2015). 
 A água consumida em 17 unidades operacionais da Vale para transporte de 
minério e lavagem de peças e equipamentos corresponde a um total de 137 milhões 
de m³/ano, equivalente ao consumo médio anual de uma cidade de 1.500.000 
habitantes (Cordeiro, 2006). Desde a implantação da Política Nacional de Recursos 
Hídricos (2002) da Vale verifica-se que suas unidades operacionais recirculam 80% 
de toda a água consumida (Figura 5). 
 
 
Gráfico 3. Diagnóstico da utilização de água em cada uma das unidades operacionais da CVRD (Fonte: 
Cordeiro, 2006). 
 
 A Samarco Mineração é uma empresa de lavra, beneficiamento, transporte e 
pelotização de minério de ferro. Através de um mineroduto de 396 km de extensão, a 
produção da unidade de Germano é transportada à unidade de Ubu, em que estão 
localizadas as plantas de pelotização e o porto. A água utilizada no processo produtivo 
da Samarco, na unidade de Germano, é captada em duas fontes: o rio Piracicaba 
(água nova), afluente do rio Doce, e a barragem de Santarém, localizada a 11km da 
planta de beneficiamento (Reis et al, 2006). 
O sistema de recirculação de água nesses processos recebeu investimentos 
como uma terceira tubulação no sistema (investimento de US$ 350.000) e mais duas 
bombas para recirculação (investimento de US$ 60.000). A Figura 6 ilustra o aumento 
da quantidade de água recirculada em 11,8% de 1999 a 2004 (Figura 6) (Reis et al., 
2006). 
 
Figura 6. Evolução do percentual de recirculação de água no processo. (Fonte: Reis et al., 2006). 
 
A diminuição do consumo específico de água captada do Rio Piracicaba e da 
barragem de Santarém, atinge 31,4% do total de água consumida em 1999, quando 
foi implementada a meta de redução de recursos hídricos. Em 2004, a empresa 
eliminou aproximadamente 12.000.000 m³ de captação de água. Aumentando a 
densidade da polpa bombeada pelo mineroduto, em 2,36%, em 2004, houve uma 
diminuição de bombeamento anual de água para Ponta Ubu de aproximadamente 
320.000 m³, em relação a 1999 (Reis et al., 2006). 
A empresa Anglo Gold Ashanti produtora de ouro de mina subterrânea, 
preocupada com a crise hídrica e os elevados custos de energia elétrica e água, a 
partir de 2014 começou a pensar em soluções para o reuso da água utilizada nas 
minas. Os desafios operacionais foram os investimentos crescentes relacionados à 
implementação de estações de bombeamento, custos associados ao manejo de lama 
(captação, transporte e descarte), aumento da complexidade no sistema de 
abastecimento de água e de desaguamento, bombeamento de água turva em cascata. 
A solução foi a instalação de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) em 
Subsolo. Entre os principais desafios do projeto estão as dificuldades de construção 
da ETE à 800 metros de profundidade, o espaço físico requerido, a variação do pH e 
presença de hidrocarbonetos no efluente. 
No início de 2015, a Vallourec Mineração iniciou um projeto que reduz o volume 
de rejeitos lançados na barragem de rejeitos. Na primeira etapa foram instaladas seis 
peneiras desaguadoras próximas à barragem, para receber, recuperar e empilhar 60% 
dos rejeitos grossos gerados no beneficiamento. Na segunda etapa, a parte mais fina 
é recuperada em dois filtros prensas e, em seguida, também é empilhada. Após os 
processos de desaguamento e filtragem, os rejeitos são conduzidos para a barragem, 
onde passam pela etapa de clarificação (remoção dos sólidos da água). Foi possível 
recuperar um volume considerável de água para reutilização nos processos 
produtivos, reduzindo a necessidade de consumo de água novo e o restante é 
devolvido à natureza seguindo os parâmetros legais de lançamento de efluentes 
(Brandão, 2015). 
Uma empresa da África do Sul recupera água através da tecnologia de Osmose 
Reversa que tem como objetivo alcançar o sistema de Drenagem Ácida da Mina. Os 
resíduos sólidos produzidos de gipsita e um líquido são eliminados em lagoas de 
evaporação. Na eliminação do gesso na gipsita e um líquido são eliminados em lagoas 
de evaporação. Na eliminação do gesso são gerados altos custos, para compensá-
los, os resíduos são tratados em dois processos:GypSLiM (Gipsita em enxofre, 
calcário e Magnesita) e GypBump (Gipsita convertida em produto para construção e 
mineração, incluindo o carbonato de cálcio, de magnésio e enxofre). Ao utilizar o 
método CEF (Eutectic Freeza Crystallization) de tratamento de soluções aquosas, 
como salmouras mostrou que o resíduo líquido obtido a partir da água recuperada da 
empresa, pôde ser reduzido em 97%, recuperando 9,9% da água global e produção 
de 25.000 m³/d (Randall et al., 2011). 
 
8. CONCLUSÃO 
 
O alto consumo de água que o setor minerador apresenta, é apontado como 
um dos maiores causadores da crise hídrica, porém a mineração está diretamente 
relacionada com o bem-estar na sociedade, afinal, sem acesso a água em volumes 
proporcionais a produção, é impossível haver mineração em escala industrial. 
 Cada vez mais as empresas usam técnicas que viabilizam a otimização do 
processo e métodos de tratamento, tais como, a instalação em circuitos fechados, em 
que o desperdício é mínimo, fontes de água para captação de chuva, disposição de 
rejeitos na forma de sólidos utilizando espessadores, beneficiamento à seco, onde há 
o aproveitamento da umidade natural do ambiente. 
 
 
 
 
9. AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço ao suporte financeiro oferecido pelo CNPQ, SOEBRAS e pela Escola 
de Engenharia da Faculdade Kennedy. 
 
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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