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NOTA DE AULA VII CURSO DE EXTENSÃO EM DIREITO AMBIENTAL PROFA. SARAH CARNEIRO DIREITO AMBIENTAL: CONCEITO CONJUNTO DE NORMAS PRINCIPIOLÓGICAS E COERCITIVAS QUE REGULAM A RELAÇÃO DO HOMEM COM O MEIO AMBIENTE, NA BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO, ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA, PARA AS PRESENTES E FUTURAS GERAÇÕES, SUJEITANDO O POLUIDOR, PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, DE DIREITO PÚBLICO OU PRIVADO, ÀS SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS PELOS DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, INDEPEDENTEMENTE DA OBRIGAÇÃO OBJETIVA DE REPARÁ-LOS E INDENIZÁ-LOS PATRIMONIAL E EXTRAPATRIMONIALMENTE À COLETIVIDADE. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL "O Direito, como ciência humana e social, pauta-se também pelos postulados da Filosofia as Ciências, entre os quais está a necessidade de princípios constitutivos para que a ciência possa ser considerada autônoma, ou seja, suficientemente desenvolvida e adulta para existir por si e situando-se num contexto científico dado. (...) Por isso, no natural empenho de legitimar o Direito do Ambiente como ramo autônomo da árvore da ciência jurídica, têm os estudiosos se debruçado na identificação dos princípios ou mandamentos básicos que fundamentem o desenvolvimento da doutrina e dêem consistência às suas concepções. A palavra princípio, em sua raiz latina última, significa “aquilo que se toma primeiro” (primum capere), designando início, começo, ponto-de-partida. Princípios de uma ciência, segundo José Cretella Júnior, “são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas subseqüentes”." Édis Milaré (vide artigo em anexo) 1) PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO A busca pelas medidas preventivas da ocorrência do dano ambiental devem ser prioritárias na gestão do meio ambiente equilibrado, haja vista que a recuperação do ambiente degradado muitas vezes se torna impossível ou difícil. Evitar o dano é muito mais interessante do que riprimí-lo na esfera da responsabilidade ambiental, tanto para a coletividade, que terá garantido seu direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, inclusive para as futuras gerações, como também para os potenciais poluidores, que terão um custo bem maior ao tentarem recuperar o status quo do ambiente lesado, ademais da possibilidade de ser condenado a indenizar patrimonial e extrapatrimonialmente pelo dano causado, independentemente das sanções administrativas e penais cabíveis ao caso. São ações preventivas a definição, pelo Poder Público, em todas as unidades da Federação, de espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, e a promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente, os estudos ambientais e as audiências públicas, o procedimento de licenciamento ambiental, eis que prévio, firmando medidas mitigadoras e de controle ambiental, as liminares e tutelas antecipadas pelo Poder Judiciário, as certificações ambientais, os benefícios fiscais (princípio da defesa do meio ambiente, que rege nossa ordem econômica - art. 170, VI, CF/88 -, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação), dentre outras. Na jurisprudência: CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MEDIDAS PREVENTIVAS DEFERIDAS PELO JUÍZO A QUO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO. I - Na ótica vigilante da Suprema Corte, "a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a"defesa do meio ambiente"(CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral (...) O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações" (ADI-MC nº 3540/DF - Rel. Min. Celso de Mello - DJU de 03/02/2006). II - Nessa perspectiva, a tutela constitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividade o dever de defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo (CF, art. 225, caput), já instrumentaliza, em seus comandos normativos, o princípio da precaução (quando houver dúvida sobre o potencial deletério de uma determinada ação sobre o ambiente, toma-se a decisão mais conservadora, evitando-se a ação) e a conseqüente prevenção (pois uma vez que se possa prever que uma certa atividade possa ser danosa, ela deve ser evitada), exigindo-se, na espécie, a manutenção das medidas de preventivas determinadas pela decisão monocrática, a fim de evitar danos maiores e irrecuperáveis à área de preservação permanente objeto desta ação civil pública. V - Nesta linha de entendimento deve ser confirmada a decisão recorrida, que concedeu antecipação de tutela precautiva, determinando à empresa promovida que se abstenha de lançar no Rio Grande/MG o lixo, os entulhos de construção e o esgoto provenientes da ocupação do terreno, de edificar no local ou ampliar o que já foi edificado, de derrubar, cortar ou suprimir qualquer tipo de vegetação nativa, sendo-lhes vedada a adoção de qualquer conduta ou atividade danosa ao meio ambiente, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (hum mil reais) em caso de descumprimento desta decisão. VI - Agravo de Instrumento desprovido. decisão confirmada. (TRF-1 - AG: 422373520104010000 MG 0042237- 35.2010.4.01.0000, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, Data de Julgamento: 26/08/2013, QUINTA TURMA, Data de Publicação: e- DJF1 p.168 de 02/09/2013) AGRAVO DE INSTRUMENTO. LIMINAR QUE DETERMINOU A SUSPENSÃO DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL. VÍCIOS NO PROCEDIMENTO. PROTEÇÃO AMBIENTAL. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Vislumbro a ocorrência de diversas falhas nos estudos de impacto ambiental que fundamentam a concessão de licenciamento ambiental. 2. Os objetivos do Direito Ambiental são fundamentalmente preventivos. Sua atenção está voltada para o momento anterior à consumação do dano. 3. Ante as falhas do EIA/RIMA, reputo correto o posicionamento da Juízo agravado quanto à defesa do meio ambiente em atenção do princípio da prevenção. 4. Agravo de instrumento desprovido. (TRF-3 - AI: 44650 MS 2006.03.00.044650-6,Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NERY JUNIOR, Data de Julgamento: 28/10/2010, TERCEIRA TURMA) 2) PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E A TEORIA DO IN DUBIO PRO-AMBIENTE Princípio 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: “Com o fim de proteger o meio ambiente, O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Em 1998 a Declaração de Wingspread, define com clareza o Princípio da Precaução, como sendo: “Portanto, faz-se necessário implantar o PRINCÍPIO DE PRECAUÇÃO quando uma atividade representa ameaças de danos à saúde humana ou ao meio- ambiente, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se as relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente”. “Neste contexto, ao proponente de uma atividade, e não ao público, deve caber o ônus da prova”. “O processo de aplicação do PRINCÍPIO DE PRECAUÇÃO deve ser aberto, informado e democrático, com a participação das partes potencialmente afetadas. Deve também promover um exame de todo o espectro de alternativas, inclusive a da não-ação". Na jurisprudência: AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL -PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE COMPLEXO HOTELEIRO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE IMPLANTAÇÃO DA OBRA NA PENÍNSULA TUCURUÇUTUBA, NO MORRO SOROCOTUBA, MUNICÍPIO DE GUARUJÁ -NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO E APROVAÇÃO DE ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA) -CABIMENTO DIANTE DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO EM ATENDIMENTO DA MÁXIMA "IN DÚBIO PRO AMBIENTE" -SEMPRE QUE HOUVER UMA PROBABILIDADE MÍNIMA DE QUE OCORRA DANO COMO CONSEQÜÊNCIA DA ATIVIDADE POTENCIALMENTE LESIVA, NECESSÁRIA SE FAZ PROVIDÊNCIA DE ORDEM CAUTELAR -TAL PRINCÍPIO É COROLÁRIO DA DIRETIVA CONSTITUCIONAL QUE ASSEGURA O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E À SADIA QUALIDADE DE VIDA - NA ESPÉCIE, É NECESSÁRIA A ELABORAÇÃO DE EIA/RIMA DIANTE DA POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE SIGNIFATIVO IMPACTO AMBIENTAL -APELOS DOS RÉUS DESPROVIDOS Ao adotar o modelo de Constituição Dirigente e Principiológica, o constituinte de 1988 revolucionou a ordem fundante brasileira. Os princípios não se submetem à estratégia da antinomia, mas obedecem às diretivas da otimização e da ponderação. Por isso é que existe verdadeira hierarquia principiológica na Carta de 1988. A primazia é conferida ao único direito intergeracional nela explicitado: o direito ao meio ambiente. O direito ao meio ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, é assegurado não apenas aos viventes, mas também aos herdeiros do porvir, ou seja, às futuras gerações. Por isso mesmo é que não se pode cotejá-los para prestigiar outros direitos, igualmente legítimos, mas que não tenham essa dimensão intergeracional. (TJ-SP - Apel. Civ. 71109520028260223 SP , Relator: Renato Nalini, Data de Julgamento: 16/12/2010, Câmara Reservada ao Meio Ambiente, Data de Publicação: 29/12/2010) ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. OMISSÃO INEXISTENTE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. CONDENAÇÃO A DANO EXTRAPATRIMONIAL OU DANO MORAL COLETIVO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO NATURA. 1. Não há violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso. 2. A Segunda Turma recentemente pronunciou-se no sentido de que, ainda que de forma reflexa, a degradação ao meio ambiente dá ensejo ao dano moral coletivo. 3. Haveria contra sensu jurídico na admissão de ressarcimento por lesão a dano moral individual sem que se pudesse dar à coletividade o mesmo tratamento, afinal, se a honra de cada um dos indivíduos deste mesmo grupo é afetada, os danos são passíveis de indenização. 4. As normas ambientais devem atender aos fins sociais a que se destinam, ou seja, necessária a interpretação e a integração de acordo com o princípio hermenêutico in dubio pro natura, como bem delimitado pelo Ministro Herman Benjamin"(...) toda a legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos há sempre de ser compreendida da maneira que lhes seja mais proveitosa e melhor possa viabilizar, na perspectiva dos resultados práticos, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma de fundo e processual"(REsp 1.145.083⁄MG, julgado em 27.9.2011, DJe de 4.9.2012.) Recurso especial improvido. (STJ - REsp: 1367923 RJ 2011/0086453-6, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 27/08/2013, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/09/2013) 3) PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR A Lei 6.938/81, prevê em seu art. 4º, VII, que a Política Nacional do Meio Ambiente, entre outros objetivos, visará "à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos". E o art. 14, § 1º, da mesma lei firmou a responsabilidade civil objetiva pelos danos causados ao meio ambiente, observe-se: "Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Dispõe o art. 225, § 2.°, da Constituição Federal que "Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei". Mais adiante, o § 3.°, do mesmo artigo, estabelece que "As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados." Decorre, pois, da própria Constituição Federal o dever a cargo do poluidor de reparar o dano ambiental causado. O princípio poluidor-pagador é aquele que impõe ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição. Note-se que não se cuida apenas de "reparação" de danos causados, mas igualmente de cobrir despesas com prevenção e, em certa medida, com a repressão também (sanções administrativas e penais). Ou seja, estabelece que o causador da poluição e da degradação dos recursos naturais deve ser o responsável principal pelas conseqüências de sua ação (ou omissão). Em síntese, numa acepção larga, é o princípio que visa imputar ao poluidor os custos sociais da poluição por ele causada, prevenindo, ressarcindo e reprimindo os danos ocorridos, não apenas a bens e pessoas, mas também à própria natureza. O princípio poluidor-pagador não se resume na fórmula "poluiu, pagou". O princípio poluidor-pagador não é um princípio de compensação dos danos causados pela poluição. Seu alcance é mais amplo, incluídos todos os custos da proteção ambiental, quaisquer que eles sejam. Numa sociedade como a nossa, em que, por um lado, o descaso com o meio- ambiente ainda é a regra, e, por outro, a Constituição Federal prevê o meio ambiente como "bem de uso comum do povo", só podemos entender o princípio poluidor-pagadorcomo significando internalização total dos custos da poluição. Na jurisprudência: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VAZAMENTO DE OLEODUTO. INDENIZAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. ELEMENTOS DOCUMENTAIS SUFICIENTES. LEGITIMIDADE ATIVA DO PESCADOR ARTESANAL. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR. MATÉRIAS DECIDIDAS PELA SEGUNDA SEÇÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. REVISÃO. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. "Não configura cerceamento de defesa o julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330, I e II) de processo de ação de indenização por danos materiais e morais, movida por pescador profissional artesanal contra a Petrobrás, decorrente de impossibilidade de exercício da profissão, em virtude de poluição ambiental causada por derramamento de nafta devido a avaria do Navio 'N-T Norma', a 18.10.2001, no Porto de Paranaguá, pelo período em que suspensa a pesca pelo IBAMA" (REsp 1.114.398/PR, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Segunda Seção, julgado em 8/2/2012, DJe 16/2/2012). 2. Extrai-se, ainda, do mesmo voto que "O dano ambiental, cujas consequências se propagam ao lesado, é, por expressa previsão legal, de responsabilidade objetiva, impondo-se ao poluidor o dever de indenizar". 3. Inviável, em sede especial, a revisão dos critérios adotados na origem para a distribuição dos ônus sucumbenciais, dadas as peculiaridades de cada caso concreto, nos termos da Súmula nº 7/STJ. 4. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg no AREsp: 238427 PR 2012/0207927-2, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 06/08/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/08/2013) PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL INOBSERVÂNCIA DAS EXIGÊNCIAS LEGAIS E REGIMENTAIS APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 2. A ausência de cotejo analítico, bem como de similitude das circunstâncias fáticas e do direito aplicado nos acórdãos recorrido e paradigmas, impede o conhecimento do recurso especial pela hipótese da alínea c do permissivo constitucional. 3. O STJ alberga o entendimento de que o pedido não deve ser extraído apenas do capítulo da petição especificamente reservado aos requerimentos, mas da interpretação lógico-sistemática das questões apresentadas pela parte ao longo da petição. 4. De acordo com o princípio do poluidor pagador, fazendo-se necessária determinada medida à recuperação do meio ambiente, é lícito ao julgador determiná-la mesmo sem que tenha sido instado a tanto. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (STJ - REsp: 967375 RJ 2007/0155607-3, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento: 02/09/2010, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/09/2010) 4) PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A Politica Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938) tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, e rege-se pelo princípio da educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente (art. 2, X) Segundo a CF/88, em seu art. 225, §1º, VI, incumbe ao Poder Publico promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. A Lei n. 9.795, de 1999, dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e define Educação Ambiental no Ensino Formal e Educação Ambiental Não-Formal. Educação Ambiental no Ensino Formal entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I - educação básica (educação infantil; ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior; III - educação especial; IV - educação profissional; V - educação de jovens e adultos. Deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (obs: não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino - exceto nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, posto que, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica). Educação Ambiental Não-Formal entende-se por ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Ao Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incumbe incentivar: I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não- governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não- governamentais; IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - a sensibilização ambiental dos agricultores; VII - o ecoturismo. 5) PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA O caput do art. 225, CF/88 estabelece que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações" Isto é, devem o Poder Público e a sociedade buscar efetivar de forma direta a garantia deste direito fundamental constitucional, defendendo e preservando o equilíbrio ambiental, essencial à sadia qualidade de vida das presentes e das futuras gerações, atuando em cooperação mútua e contínua. Para possibilitar o cumprimento deste poder-dever imposto pela Carta Magna de 1988, o constituinte preocupou-se em criar instrumentos de tutela ambiental, a fim de propiciar a defesa e preservação do meio ambiente sadio. No que concerne aos deveres o Poder Público, listou-os expressamente no art. 225, parágrafo primeiro da CF/88, dentre eles a necessidade de definição de espaços territoriais a ser especialmente protegidos, o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, dentre outros que compõem uma gestão pública voltada à preservação do equilíbrio ambiental, por meio de políticas sustentáveis. Ressalte-se, ainda, que a Lei Maior impôs ao Poder Público a necessidade de exigir o EstudoPrévio de Impacto ao Meio Ambiente para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental, o que deverá ocorrer no primeiro momento do processo de licenciamento ambiental. Para possibilitar a efetividade da participação da sociedade na defesa e proteção da qualidade ambiental, a Constituição Federal vigente estabelece, no mesmo parágrafo primeiro do art. 225, a incumbência ao Poder Público de promover a expansão da educação e da consciência ambiental, o que levou, posteriormente, à criação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999), a qual define educação ambiental como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade, e firmando esta como um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal, propiciando os princípios da Participação Popular, da Educação Ambiental, da Informação Ambiental, todos constitucionalmente previstos. Portanto, somente através da ação integrada entre o Poder Público e a coletividade é possível alcançar uma efetiva proteção e defesa ao meio ambiente, haja vista que nem sempre as normas ou a atuação estatal são suficientes para garantir os direitos fundamentais, principalmente quando falamos de tutela ambiental, campo onde é impende que haja uma mudança no modo de agir, consumir, produzir e pensar da sociedade. 6) PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Os arts. 77 e 78 da Lei 9.605/98, prevê expressamente A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. Diz que, resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para: I - produção de prova; II - exame de objetos e lugares; III - informações sobre pessoas e coisas; IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa; V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte. A solicitação deverá conter: I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante; II - o objeto e o motivo de sua formulação; III - a descrição sumária do procedimento em curso no país solicitante; IV - a especificação da assistência solicitada; V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando for o caso. Deve esta ser dirigida ao Ministério da Justiça, que a remeterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente para decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la. Para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. 7) PRINCÍPIO DA FUNÇÃO AMBIENTAL DA PROPRIEDADE Em virtude da preocupação com o meio ambiente ser uma questão presente em todo o sistema jurídico pátrio, a doutrina vem elaborando uma concepção de “função ambiental da propriedade”, que versa sobre o meio ambiente na sua acepção de bem difuso que depende, para efetivação de seu equilíbrio, de atitudes positivas do Estado e da sociedade a fim de promover a prevenção, reparação e repressão do dano causado a este bem de uso comum do povo. Antônio Herman Benjamin conceitua a função ambiental da propriedade como “atividade finalisticamente dirigida à tutela do meio ambiente, caracterizando-se pela relevância global, homogeneidade de regime e manifestação através de um dever-poder”, destacando, ainda, que o interesse ambiental, objeto da função ambiental, consiste “na expectativa do cidadão e da sociedade na manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado através da prevenção, reparação e repressão do dano ecológico”. (Apud STEIGLEDER, Annelise Monteiro. A Função Sócio-Ambiental da Propriedade Privada. Doutrina do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Consulta em http://www.mp.rs.gov.br/ambiente/doutrina/id20.htm) Já o Código Civil de 2002 estabelece o atendimento à função ambiental como elemento essencial ao exercício do direito de propriedade, ao prescrever que tal direito deve ser exercido de modo a preservar a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. Apesar da Função Ambiental distinguir-se da Função Social da propriedade, a doutrina ainda faz confusão entre seus conceitos. Muitos autores discorrem apenas sobre a função social, sem sequer suscitar e existência da função ambiental. Outros tratam de função social englobando o conceito de função ambiental, como se ambas fossem partes intrínsecas, denominado-as como função socioambiental ou função social ambiental. No entanto, é necessário fazer a distinção de tais conceitos. É que o constituinte, a fim de promover um desenvolvimento sustentável harmônico com os valores e objetivos fundamentais estabelecidos na Carta Magna, ademais de mencionar por diversas vezes a expressão “função social”, limita a propriedade também aos valores ambientais, que garantem a continuidade da própria espécie humana e de sua dignidade. Roxana Cardoso destaca a constitucionalização do regime da propriedade através do art. 5º, XXXIII, art. 170, incisos II, III e IV, art. 182, § 2º, art. 186, incisos I e II e art, 225, § 1º, III e § 4º. A função social, conforme define a autora “consiste numa atividade exercida no interesse não apenas do sujeito que a executa, mas principalmente no interesse da sociedade”. Para ela, a distinção entre função social da propriedade e sua dimensão ambiental é de que esta função “volta-se para a manutenção do equilíbrio ecológico enquanto interesse de todos, beneficiando a sociedade e aquele que a exerce”. (BORGES, Roxana Cardoso. Função Ambiental da Propriedade. Revista de Direito Ambiental, São Paulo: RT, n. 9, p. 67-85, 1998.) Édis Milaré também utiliza a terminologia função social ambiental, ao afirmar que “com a Constituição de 1988, só fica reconhecido o direito de propriedade quando cumprida a função social ambiental, como seu pressuposto e elemento integrante, pena de impedimento ao livre exercício ou até perda desse direito.” (MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: Doutrina, Jurisprudência e glossário. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 832-833.) Neste momento, o autor engloba os dois conceitos em um só, não fazendo diferenciação entre ambos. No entanto, em outro momento destaca a existência de um conceito específico para função ambiental da propriedade, assim como elucida existir a possibilidade de imposição ao proprietário rural do dever de recomposição da vegetação em áreas de preservação permanente e reserva legal, mesmo que não tenha sido ele responsável pelo desmatamento”, sendo esta uma limitação advinda do cumprimento da função ambiental da propriedade rural, que se prende ao titular do direito real, seja ele quem for, bastando para tanto sua condição de proprietário. Destarte, somente o fator de limitação ao direito de propriedade não é suficiente para distinguir função social de função ambiental da propriedade, pois ambas limitam o exercício desse direito, a fim de garantir outros direitos fundamentais, para atender ao interessecoletivo. O que as diferenciam é tipo de limitação. O limite imposto ao direito de propriedade pela função social no âmbito urbano é o atendimento às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (art. 182,§ 2º, CF/88). Já, a propriedade rural atende à função social quando cumpre, simultaneamente, aos seguintes requisitos estabelecidos no art. 186 da Constituição Federal. Dentre estes requisitos, foi determinada a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, sendo esta limitação concernente ao cumprimento da função ambiental, pois tutela o direito fundamental, essencial à sadia qualidade de vida, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Portanto, para que seja efetivada a proteção do meio ambiente, nos moldes constitucionais, é necessário cumprimento não somente da Função Social da propriedade, mas prioritariamente de sua Função Ambiental, dentro da perspectiva da terceira dimensão dos direitos fundamentais, conforme ditam os seguintes artigos da Carta Republicana, todos em consonância com o art. 225: o art. 170, VI, que contempla a defesa do meio ambiente como princípio geral da atividade econômica, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; o art. 186, II, que vincula a função social da propriedade rural à utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e à preservação do meio ambiente; e, dentre outros, o art. 176 que reza que as jazidas, minas e demais recursos minerais e potenciais de energia hidráulica pertencem à União, constituindo propriedade distinta da do solo. Por ser o meio ambiente um bem difuso, essencial à sadia qualidade de vida de todos, é que deve garantir-se o uso adequado e racional da propriedade, com o intuito de que o exercício do direito à propriedade esteja vinculado à tutela do meio ambiente, não podendo o proprietário por em risco o equilíbrio ecológico, cuja titularidade é difusa (transindividual, indivisível e de titularidade indeterminada), tendo que, ademais, levar-se em conta a fragilidade do meio ambiente, pois os danos a ele causados são por diversas vezes irreversíveis, diante da dificuldade de se restabelecer o status quo ante. Nesta linha de raciocínio, afere-se que a função ambiental da propriedade e as limitações que daquela decorrem, são garantidoras da efetivação dos princípios da sustentabilidade, da prevenção, da precaução e do poluidor-pagador. OBS: PARA OS DEMAIS PRINCÍPIOS VIDE O ARTIGO DO ÉDIS MILARÉ, DISPONIBILIZADO EM ANEXO)
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