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Supremo Tribunal Federal UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL II MONITOR: MARWIL PRACIANO NOTA DE AULA – 08 PODER JUDICIÁRIO Depois de termos estudado o Poder Legislativo, abordaremos, pois, na presente nota de aula, o estudo do Poder Judiciário. É o que passaremos a fazer, nesta Nota de Aula 08. FUNÇÕES DO JUDICIÁRIO Conforme já abordado em aulas anteriores, o Poder Judiciário também possui as chamadas funções típicas e atípicas. A principal função típica, própria da natureza deste poder, é a chamada FUNÇÃO JURISDICIONAL, ou simplesmente JURISDIÇÃO, a qual nos referiremos a seguir. Mas, além dela, existem as correspondentes atípicas no campo Executivo (por exemplo, organizar suas próprias secretarias – art. 96, I, “b”) ou mesmo no campo Legislativo (como a elaboração do regimento interno – art. 96, I, “a”). JURISDIÇÃO Um conceito bem simplificado traz a ideia de que Jurisdição (etimologicamente “dizer o Direito” – “juris” “dicere”) seria uma função/poder do Estado por meio da qual este busca dirimir conflitos de interesses no caso concreto (chamado sistema de composição de conflitos de interesses ou de lides), substituindo os titulares dos interesses em conflito (já que se proíbe a autotutela) agindo para, imparcialmente, buscar tal pacificação do conflito que envolve tais partes. O Estado pacifica por meio do direito, como posto de forma objetiva e por meio do processo, o qual deve ser devido e seguir os 2 ditames legais (“due process of law” - art. 5º, LIV), além de possibilitar o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), na dialética própria da Jurisdição e, lato sensu, do próprio Direito. Surgem, como principais características da Jurisdição, a lide (aqui entendidas como os conflitos de interesses em processo), a inércia (o Judiciário, em regra (há flexibilização desta regra nos dias de hoje), não pode agir de ofício – ex officio; precisa ser demandado/provocado pelas partes litigantes – art. 2º do CPC e 24 do CPP) e a definitividade (quando as decisões transitam em julgado, contra elas não cabe a interposição de recursos (meios de impugnação à decisão judicial), pois se gera coisa julgada material e formal após o prazo de proposição de ação rescisória). Deve-se entender que a Jurisdição é exercida de forma una e indivisível, ocorrendo, no entanto, em vários entes, nacionalmente (materializada na justiça Federal e Estadual por meio de seus vastos órgãos). Recomenda-se o estudo das importantes alterações advindas com a Emenda Constitucional N. 45, de 2004, famosa por ter promovido a Reforma do Poder Judiciário. GARANTIAS DO JUDICIÁRIO Por meio delas, assegura-se o inafastável princípio da separação de poderes, os quais devem funcionar harmonicamente, mas sem perder de vista que, a cada função de Estado, deve ser assegurada certa independência, para que possa agir mais livremente, sem que para isso sempre tenha que depender da aquiescência dos demais poderes. Desta forma, estabelecem-se certas garantias à função judiciária do Estado, quais sejam: I. Institucionais, as quais protegem a instituição judiciária, assim divididas: I.I. Autonomia orgânico-administrativa: Art. 96. Compete privativamente: I - aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correicional respectiva; c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; d) propor a criação de novas varas judiciárias; e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei; f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados; II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169: a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; b) a criação e a extinção de cargos e a fixação de vencimentos 3 I.II. Autonomia financeira: a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver; c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; d) a alteração da organização e da divisão judiciárias; III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. § 1º - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. § 2º - O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I - no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II - no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. § 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º deste artigo. § 4º Se as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais. 4 II. Funcionais / de órgãos, as quais podem ser: II.I. Independência dos órgãos judiciários, subdivididas em (art. 95, I-III): II.I.I. Vitaliciedade: II.I.II. Inamovibilidade: II.I.III. Irredutibilidade de subsídios: II.II. Imparcialidade dos órgãos judiciários (art. 95, p. único, I-V): II.II.I. Vedações:Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III - dedicar-se à atividade político-partidária. IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. 5 ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO Basicamente, deve-se observar o seguinte organograma, que simplifica o entendimento da estrutura do Poder Judiciário: Enquanto órgãos que exercem a função jurisdicional, a doutrina aduz aos chamados órgãos de convergência, quais sejam o STF e os tribunais superiores (STJ, TSE, TST, STM), nos seguintes termos: JUSTIÇA COMUM E JUSTIÇA ESPECIAL As demais justiças estão divididas em Justiça Comum e Justiça Especial (Especializada). A Justiça Comum se subdivide em: I. Justiça Federal (considerada por alguma doutrina e até mesmo no organograma apresentado acima como não fazendo parte da Justiça Comum): disciplinada dos arts. 106 a 110 da CF/88, compondo-a também os juizados especiais, nos termos da Lei Federal n. 10.259/2001 – art. 98, § 1º, CF/88; Art. 92. (...) § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. 6 II. Justiça do DF e Territórios: disciplinada nos arts. 21, XIII e 22, XVII, a qual também criará os Juizados Especiais e a Justiça de Paz; III. Justiça Estadual Comum (ordinária): disciplinada nos arts. 125 (juízos de 1º grau de jurisdição, incluídos os juizados especiais – art. 98, I), 98, II – Justiça de Paz, além do 2º grau de jurisdição (TJs). Já a Justiça Especial está assim distribuída: I. Justiça do Trabalho: disciplinada nos arts. 111 a 116 da CF/88; II. Justiça Eleitoral: disciplinada nos arts. 118 a 121 da CF/88; III. Justiça Militar da União: disciplinada nos arts. 122 a 124 da CF/88; IV. Justiça Militar dos Estados, DF e Territórios: disciplinada no art. 125, §§ 3º-5º. REGRA DO “QUINTO CONSTITUCIONAL” É o que estabelece o art. 94 da CF/88, ao aduzir: ÓRGÃOS DE FUNÇÃO JURISDICIONAL Está expressa a composição do Judiciário brasileiro nos incisos do art. 92 da CF/88: STF O Supremo Tribunal Federal exerce jurisdição constitucional, tendo o papel de guarda e de defesa da CF/88, no que tange também à proteção política, social da mesma. Sua composição está disposta no art. 101 da CF/88, bem como as matérias de sua competência (além da própria guarda da Constituição), estão previstas no art. 102 da mesma CF/88, subdivindo-se em três grandes grupos: (a) as que lhe cabe processar e julgar originariamente; (b) as que lhe incumbe julgar em recurso ordinário; (c) as que lhe toca julgar em recurso extraordinário. Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando--a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação. Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: (redação dada pela EC nº 45/2004) I – o Supremo Tribunal Federal; I-A – o Conselho Nacional de Justiça; II – o Superior Tribunal de Justiça; III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV– os Tribunais e Juízes do Trabalho; V– os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI – os Tribunais e Juízes militares; VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. 7 Cabe ao STF, ainda, o julgamento das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPFs - nos termos do art. 102, § 1º da CF. reproduzido infra, c/c Lei n. 9882/99: Outra inovação importante pós EC n. 45/2004 foi a adoção das Súmulas Vinculantes, disciplinadas no art. 103-A da CF/88: CNJ A doutrina se refere a este órgão como “polícia judiciária”, como o responsável pelo controle externo do Judiciário (sua atuação administrativa, o cumprimento de deveres funcionais dos juízes, além de atribuições estabelecidas pelo Estatuto da Magistratura). Desta forma, colabora com a verdadeira política judiciária, eficaciando-a e tornando-a condizente com a realidade. Sua composição está estabelecida no art. 103-B da CF/88. A mesma CF, em seu art. 103-B, § 4º, traz as competências deste importante órgão. STJ O Superior Tribunal de Justiça tem precípua função de “unificação” da justiça comum estadual, ou seja, de buscar “harmonizar” as decisões. A doutrina ainda se refere a essa função como a de “controle da inteireza positiva”, da “uniformidade de interpretação da lei federal”. Com isto, busca-se assegurar o princípio da incolumidade do Direito objetivo, segundo o qual busca-se assegurar o valor jurídico por meio do qual um “tribunal de cume”, superior, que efetiva institutos no plano processual. Sua composição está prevista no art. 104 da CF/88, enquanto suas competências, no art. 105 da mesma Carta Magna, subdivididas em (a) competência para processar e julgar § 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. § 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2 º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação diretade inconstitucionalidade. § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. 8 originariamente; (b) para julgar em recurso ordinário e (c) para julgar em recurso especial. JUSTIÇA FEDERAL A Justiça Federal, já aduzida anteriormente, é composta por juízes federais e pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs), nos termos da composição prevista no art. 107 da CF/88. As competências dos TRFs estão definidas no art. 108, enquanto as dos juízes federais constam no art. 109, todos da CF/88. JUSTIÇA DO TRABALHO A primeira das justiças especiais volta-se à solução de conflitos de interesse decorrentes das relações entre empregadores e empregados. Seus órgãos estão previstos no art. 111; sua composição é disciplinada no art. 111-A e suas competências no art. 114, todos da CF/88. JUSTIÇA ELEITORAL Outra justiça especial, foi criada visando substituir o antigo sistema político de aferição de poderes, o qual era feita pelo Legislativo, pelo sistema jurisdicional, com atribuições próprias do direito político-eleitoral, efetivando-se por meio do contencioso jurisdicional eleitoral. Sua organização e competências, nos termos do art. 121 da CF/88, serão disciplinadas por meio de Lei Complementar. Já sua composição e a escolha de seus membros estão dispostas no art. 119 do CF/88. JUSTIÇA MILITAR Por fim, outra justiça especial é a Militar, cujos órgãos estão dispostos no art. 122, a composição no art. 123 e as competências no art. 124, todos da CF/88. A lei n. 8.457/92 define mais pormenorizadamente a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. BONS ESTUDOS! COMO O ASSUNTO CAIU EM AP’s PASSADAS? 1) O Juiz da 2ª Vara Cível da Comarca de Juazeiro do Norte deseja candidatar-se a vereador no próximo pleito. Seria essa candidatura constitucional ? 2) Com o advento da EC 45, a competência para homologar sentenças provenientes de jurisdições estrangeiras passou a pertencer a qual órgão do Poder Judiciário? 3) Determinado réu foi acusado de cometer homicídio a bordo de uma embarcação brasileira ancorada no porto do Pecém, no Ceará. A quem compete o processamento e o julgamento de referido réu? E em caso de recurso, após a decisão da instância originária, a quem compete o julgamento? 4) “A garantia de vitaliciedade é inerente à carreira da magistratura, e só será adquirida uma vez que tenha havido a aprovação do indivíduo em prévio concurso público de provas e títulos”. Comente essa afirmação, explicando as 9 garantias da magistratura e a sua importância para a autonomia e funcionamento do Poder Judiciário. Obs.: Serão consideradas válidas as respostas fundamentadas na Constituição Federal. Seja sintético, claro, lógico e preciso. Leia com atenção e responda sem pressa. _____________________________________________________________________________ ESTE MATERIAL ESTÁ DISPONÍVEL NA XEROX DA FACULDADE DE DIREITO - UFC, MAS NÃO SUBSTITUI A LEITURA BIBLIOGRÁFICA (BÁSICA E COMPLEMENTAR) DA DISCIPLINA “DIREITO CONSTITUCIONAL II”.
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