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Resumo Direito Penal - 1AP

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Resumo Direito Penal I – 1ª AP
Conceito de Direito Penal
Conjunto de normas que dispõem sobre crimes, contravenções, sanções penais e aplicação da lei penal, também chamado de “Ciência do Direito Penal” ou “Dogmática Penal”.
Fontes do Direito Penal
Fontes materiais ou de produção
União (CF, art. 22, I): Congresso Nacional.
Estados, mediante autorização da União (CF, art, 22, Parágrafo Único). Ex.: Direito Ambiental
Fontes Formais ou de conhecimento
Imediatas: Constituição, Lei, Tratados Internacionais de Direitos Humanos.
Mediatas (ou indiretas): atos administrativos, jurisprudência, doutrina, costumes.
Funções do Direito Penal
Proteção dos bens jurídicos: vida, liberdade, propriedade, honra.
Controle das condutas dos que vivem em sociedade.
Garantia contra os abusos do Estado: limita poder de punir do Estado.
Função simbólica e ético-social: orientação ética da sociedade.
Reprimir condutas nocivas.
Evolução Histórica do Direito Penal
Fase primitiva: punição, defesa e não-institucionalizada.
Vingança privada, pública e divina.
Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Proporcionalidade sem isonomia
Código de Hamurabi (babilônios);
Lei das XII Tábuas (romanos, período arcaico);
Torá – Lei de Moisés (hebreus).
Direito Romano (período clássico): divisão entre delito privado e delito público, surgimento da composição (espécie de acordo).
Direito germânico: ordálias.
Direito canônico e medieval: início pena de prisão.
Direito humanístico: época da Revolução Francesa, obra de Cesare Beccaria (Dos delitos e das Penas).
O Direito Penal foi se institucionalizando no decorrer do tempo. Foram desenvolvidos limites (sistema de freios) ao poder de punir do Estado, visando a prevenir excessos.
Princípios Orientadores do Direito Penal
Princípio da intervenção mínima
Direito Penal deve se ocupar somente com a preservação dos bens jurídicos socialmente mais relevantes;
“Ultima ratio”: usado somente em último caso;
Atua em duas vertentes
Direciona atuação do corpo legislativo (não banalizando a criminalização de condutas e abolindo crimes cuja ofensa já não tem mais tanta relevância social)
Direciona a atuação do aplicador da lei penal 
Princípio da lesividade (ou ofensividade): necessidade de efetivo dano ou risco de dano;
Apenas se devem reprimir condutas que tenham potencial lesivo (potencial para atingir bens jurídicos alheios).
Proíbe a incriminação de:
Atitudes internas (mera cogitação, planejamento);
Condições existenciais (não deve punir pelo que as pessoas são, mas pelo que fizeram);
Condutas cuja ofensividade não ultrapasse o próprio agente (alteridade ou transcendentalidade);
Condutas que não afetam (nem coloquem em risco) qualquer bem jurídico relevante.
Princípio da adequação social
A definição legal do crime é um modelo de conduta proibida, logo, não deve ser interpretado de modo a alcançar condutas socialmente aceitas e adequadas.
Não se trata de revogação da lei penal pelos costumes, mas apenas de reduzir a abrangência de uma norma penal incriminadora. 
Exemplos: jogo de bicho e violação de direitos autorais (pirataria).
Princípio da insignificância (ou da bagatela)
Direito penal não se ocupa de bagatelas .
Requisitos
Mínima ofensividade da conduta do agente;
Nenhuma periculosidade social da ação;
Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Diferença entre valor insignificante e pequeno valor
Não apenas em crimes patrimoniais
Princípios Constitucionais do Direito Penal
Princípio da individualização da pena (CF, art. 5º, XLVI)
Tipos de pena: privativa de liberdade, perda de bens, multa, prestação de serviços, suspensão ou interdição de direitos.
Fases da pena
1ª Fase – Cominação (corpo legislativo): previsão abstrata;
2ª Fase – Aplicação (juiz): concreta
3ª Fase – Execução (vara de execução penal): concreta
Princípio da humanidade das penas (CF, art. 5º, XLVII)
Não haverá pena de morte, perpétua, trabalhos forçados, banimento (expulsão de brasileiro nato), penas cruéis.
Princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII)
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Princípio da personalidade ou intranscendência da pena (CF, art. 5º, XLV)
Nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Indenizações podem passar para os sucessores (reparar o dano).
Princípio da Legalidade (CF, art. 5º, XXXIX e CP, art. 1º)
Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. “Nullum crimen nulla poena sine lege”
Visa garantir a segurança jurídica perante o Estado. Surgiu no final do século XVIII com as revoluções burguesas.
Dimensões
Reserva legal (somente lei em sentido estrito);
Anterioridade da lei penal (não pode retroagir para prejudicar);
Taxatividade (clara, precisa, taxativa em relação ao crime). Necessidade de interpretação literal.
Estrutura, espécies e peculiaridades das normas penais
Normas incriminadoras: possuem preceito primário e secundário. Descrevem crimes e cominam penas (CP a partir do art. 121).
Normas permissivas: autorizam fazer algo que em geral é crime.
Normas explicativas: trazem conceitos, definições.
Crime remetido: referência a outro artigo penal
Norma penal em branco: norma penal incriminadora incompleta, explicada por outra lei (homogênea) ou decreto/portaria (heterogênea)
Interpretação da norma penal
Interpretação Extensiva: norma diz menos do que deveria dizer. Intérprete “estica” o sentido da norma. Somente utilizada em casos em que beneficia o réu.
Interpretação Restritiva: norma diz mais do que deveria dizer. Necessário diminuir, restringir o alcance da lei.
Interpretação analógica (possível quando houve autorização expressa) e analogia (pressupõe lacuna, pode ser usada apenas em normas permissivas).
Aplicação da Lei Penal no Tempo
Princípio da irretroatividade da lei penal.
Princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica.
“Abolitio criminis”: Em havendo revogação do crime, extingue-se a punição (Art. 2, CP)
“Novatio legis in mellius”: Lei nova mais benéfica favorece o réu (Art. 2º, Parágrafo Único, CP).
“Novatio legis” incriminadora: não retroage.
“Novatio legis in pejus”: não prejudica o réu.
No Brasil, aplica-se a lei vigente na data do crime (Art. 4, CP) – teoria da atividade ou ação.
Classificação doutrinária dos crimes
Crimes instantâneos (Ex.: Homicídio).
Crimes permanentes. Consumação prolongada (Ex.: Sequestro).
Crimes continuados: vários crimes iguais cometidos em série.
Leis temporárias: fim da vigência especificado no próprio texto da lei.
Leis excepcionais: dura enquanto a situação excepcional se configurar.
Leis temporárias e excepcionais possuem ultraatividade em relação aos fatos praticados durante a vigência. (Art. 3, CP)
Aplicação da Lei Penal no Espaço
Princípio básico: territorialidade (local onde o crime ocorre). Art. 5, CP
Brasil utiliza princípio da territorialidade temperada (mitigada).
Teorias sobre lugar do crime (Art. 6, CP)
Atividade 
Resultado
Ubiquidade (utilizada no Brasil)
Exceções princípio da territorialidade
Observação de tratados internacionais (Ex.: imunidade diplomática)
Territorialidade por ficção (extensão) – Art. 5, § 1º e 2º, CP: embarcações e aeronoves públicas (em qualquer lugar) ou privadas (territórios neutros)
Extraterritorialidade: crimes ocorridos fora do Brasil (incondicionado ou condicionado). Art. 7, CP
Princípios doutrinários autorizadores
Princípio da defesa: interesse público relevante atingido
Princípio da justiça penal universal (cosmopolita)
Princípio da nacionalidade ou personalidade
Ativa: autor do crime
Passiva: vítima do crime
Princípio da bandeira ou pavilhão
Extraterritorialidade incondicionada. Art. 7, I, CP
Crimes contra a vida ou liberdadedo Presidente da República.
Contra o patrimônio ou fé pública.
Contra a administração pública, por quem está a seu serviço.
Genocídio, quando agente brasileiro ou domiciliado no Brasil.
Extraterritorialidade condicionada. Art. 7, II, CP
Crimes, que por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir.
Crimes praticados por brasileiro no estrangeiro.
Crimes praticados em embarcações ou aeronaves brasileiras no estrangeiro, que não foram julgados.
Crimes praticados fora do Brasil por estrangeiro contra brasileiro.
Condições da extraterritorialidade condicionada. Art. 7, II, §2º,CP
Entrar o agente no território nacional
Punível também no local em que foi praticado
Lei brasileira autoriza extradição
Não ter sido absolvido ou cumprido pena no estrangeiro
Não ter sido perdoado ou processo extinto
Teoria do Crime
Tipos de Ilícito
Civil (não pagamento de aluguel, colisão entre veículos).
Administrativo (infrações de trânsito).
Penal (podem também ocasionar sanções cíveis e administrativas).
Infração Penal
Contravenções penais (menor relevância)
Crimes (delitos)
Crimes de menor potencial ofensivo Lei nº 9.099/95 (pena máxima até 2 anos)
Crimes de médio potencial ofensivo (mínima até 1 ano, máxima acima de 2 anos)
Crimes de alto potencial ofensivo (mínima maior que 1 ano e máxima maior que 2 anos)
Crimes hediondos e equiparados a hediondos
Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto Lei nº 3.914/41 – art 1º)
Crime: pena de reclusão ou detenção (cumulativo ou não com multa)
Contravenção penal: prisão simples e/ou multa 
Conceito de crime
Formal: conduta que pode ser punida com reclusão ou detenção.
Material: conduta socialmente relevante que ofende ou coloca em risco bens jurídicos tidos como importantes.
Analítico (doutrinário): conduta típica, ilícita (antijurídica) e culpável.
Tipicidade Penal
Elementos: conduta humana + elemento subjetivo + tipicidade formal + tipicidade material + resultado + nexo causal.
Conduta humana
Teoria causalista: movimento corporal que provoca resultado.
Teoria finalista: ação ou omissão que tende a um fim. Ênfase no objetivo (finalidade).
Ação: crimes comissivos
Omissão: crimes omissivos
Próprios (puros): Ex.: omissão de socorro.
Impróprios (comissivo por omissão): Ex.: policial presenciando estupro. Quem se omite responde pelo resultado.
A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado (art. 13, §2º, CP). 
Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 
Elemento subjetivo (dolo)
Teoria da vontade: sujeito quer o resultado.
Teoria da representação: possibilidade de prever (representar mentalmente) um resultado como consequência de uma conduta.
Teoria do assentimento: sujeito prevê o resultado e assumir o risco (dolo eventual).
Código penal brasileiro aceita a teoria da vontade e do assentimento.
Crime doloso (Art. 18, I, CP)
Agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
Crime culposo (Art. 18, II, CP)
Previsão expressão da forma culposa
Conduta voluntária
Resultado involuntário
Inobservância do dever objetivo de cuidado. Formas de desrespeito:
Imprudência: fazer algo sem o devido cuidado.
Imperícia: desrespeito à regra técnica de profissão, arte ou ofício.
Negligência: deixar de fazer, descuido, violação de regra por omissão.
Previsibilidade do resultado
Modalidades de culpa: inconsciente e consciente (aplicação da teoria da representação).
Culpa imprópria: Ação dolosa, decorrente de descriminante putativo, que em função do erro, é considerada culposa.
Tipicidade (formal e material)
Tipo é a hipótese de incidência de uma norma, dispositivo legal.
Formal: enquadramento da conduta ao tipo, subsunção.
Material: relevância social, substância da conduta. Relacionado ao princípio da intervenção mínima.
Resultado
Ofensa ou risco de ofensa a bem jurídico penalmente tutelado.
Nexo de Causalidade (Art. 13, CP)
Relação de causa e efeito entre conduta e resultado.
A causalidade da omissão não é mecânica (física), mas normativa.
Teoria da equivalência dos antecedentes: considera causa toda a ação ou omissão sem a qual o resultado não se teria produzido.
Causa superveniente (Art. 13, § 1º, CP)
Relativamente independente
Segunda causa “por si só” produziria o resultado
Antijuridicidade ou Ilicitude
Contrariedade de uma conduta em relação ao ordenamento jurídico.
Fato penalmente típico normalmente é antijurídico, mas há exceções.
Excludentes de antijuridicidade (causas de justificação ou descriminantes)
Legítima defesa
Estado de necessidade
Estrito cumprimento do dever legal
Exercício regular do Direito
Consentimento do ofendido (doutrina/jurisprudência)
Estado de necessidade (Art. 24, CP)
Situação de perigo em relação a bem jurídico próprio ou de terceiro.
Atualidade do perigo
Maioria da doutrina admite interpretação extensiva para incluir perigo iminente.
Perigo não provocado voluntariamente (dolosamente).
Sacrifício de bem jurídico alheio de igual ou inferior relevância (risco inevitável de outro modo).
Impossibilidade de proteção por outro meio.
Elemento subjetivo (consciência da situação de risco e finalidade de agir).
Não ter o dever legal de enfrentar o perigo.
Teorias:
Unificadora (adotada no Brasil): toda e qualquer situação de estado de necessidade é cláusula excludente de antijuridicidade.
Diferenciadora: considera a relevância do bem jurídico sacrificado. Bem protegido teria que ser de maior relevância.
Legítima defesa (Art. 25, CP)
Agressão injusta (ilícita) própria ou a terceiro. 
Agressão atual ou iminente
Moderação dos meios (não pode haver excesso)
Elemento subjetivo (consciência do perigo)
Obs1: Não há legítima defesa contra estado de necessidade
Obs2: Não há legítima defesa contra agressão cessada
Obs3: Não pode haver legítima defesa recíproca
Consentimento do ofendido
Bem jurídico disponível
Antes e durante a ação
Capacidade civil plena da vítima
Teoria da tipicidade conglobante
Tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade conglobante (material e antinormatividade).
Antinormatividade: violação de proibição implícita em uma norma penal incriminadora.
Teoria dos elementos negativos do tipo
Norma penal incriminadora tem proibição implícita, considerando as excludentes.
Culpabilidade
Juízo de reprovação do fato
Requisitos
Imputabilidade do agente
Potencial conhecimento da ilicitude da conduta
Exigibilidade de conduta diversa
Não excluem a culpabilidade a emoção paixão e embriaguez voluntária (Art. 28 CP)
Imputabilidade
Possibilidade de responsabilizar alguém por um resultado,a partir da capacidade de entendimento e de se comportar de acordo com seu entendimento.
Critérios
Biológico: se forma com a maturidade fisiológica da pessoa. Idade.
Psicológico: se importa com cada pessoa diante de cada ato criminoso.
Biopsicológico: análise conjunta dos aspectos biológico e psicológico.
Menores de 18 anos são inimputáveis, aplicando-se a eles legislação específica (Art. 27 CP). Critério biológico. Conduta ilícita do menor é denominada ato infracional e punida com medida sócio-educativa.
Doente mental incapaz de entender ilicitude do fato ou capaz de se comportar de acordo com seu entendimento é inimputável (Art. 26 CP), estando sujeito a medida de segurança. Critério biopsicológico.
Semiimputabilidade (Art. 26, Parágrafo único, CP): capacidade parcial de compreensão. Redução de pena de 1/3 a 2/3.
Exigibilidade de conduta diversa (Art. 22, CP)
Coação irresistível (moral)
Cumprimento de ordem não manifestamente ilegal de natureza pública (obediência hierárquica)
Erro
Prática de conduta descrita na lei penal como crime, mas causada por equívoco. 
Erro de tipo(art. 20 CP): sujeito pratica conduta descrita como crime, mas desconhece um dos seus elementos. Ex: caçador, estupro de vulnerável.
Evitável (inescusável): afasta o dolo.
Inevitável (escusável): além do dolo, exclui a culpa também.
Erro de tipo secundário ou acidental
Erro quanto à pessoa (“error in persona”): confundir A e B. Responde como se tivesse atingido a vítima pretendida.
Erro na execução: (“aberratio ictus”): erro de pontaria
Com unidade simples;
 Com unidade complexa.
Erro sobre a ilicitude do fato (ou erro de proibição). Art. 21 CP
Pessoa sabe o que está fazendo, mas não tem consciência da ilicitude da conduta.
Evitável: redução de 1/6 a 1/3 da pena
Inevitável: isenta de pena
Descriminantes putativos 
Pessoa pensa que está em umas situações excludentes de antijuridicidade, mas na realidade não está. 
Erro recai sobre fato (erro de tipo permissivo): mesmos efeitos do erro de tipo. Afasta a tipicidade.
Erro recai sobre os limites da causa de justificação (excessos): erro de proibição indireto. Afasta a culpabilidade.

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