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Um dos prazeres de ler J.K. Rowling é descobrir as divertidas referências à história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus livros. O Mundo Mágico de Harry Potter desvenda as pistas deixadas por Rowling e revela significados habilmente escondidos nas aventuras de Harry Potter. Os leitores irão encontrar neste livro as fascinantes origens das criaturas mágicas citadas nos livros e histórias de alquimistas e feiticeiros, reais e imaginárias, através da contribuição de escritores tão variados como Shakespeare, Flaubert, Dickens, Ovídio e Tolkien. Não se preocupe se jamais tiver percebido nenhuma dessas pistas. Um dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade de lançá-las sem quebrar o ritmo da narrativa. No entanto, quando você descobre que muitas de suas referências fazem parte de lendas de milhares de anos, as histórias ficam ainda mais saborosas. Antes de tudo, um escritor é um leitor. Depois de devorar suas histórias, podemos notar que J. K. Rowling foi uma grande leitora, antes de se tornar uma grande escritora. Tão impressionante quanto o seu conhecimento sobre mitos e lendas é sua habilidade de aproveitá-los de modo tão original e de atualizá-los. J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela, cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece material para os escritores e é continuamente alimentada por eles. Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja único, ele é construído sobre uma sólida base de mitos e folclore preservada através do tempo e da distância. A popularidade de seus livros atesta a riqueza da cultura de onde ela extrai muitos de seus personagens, imagens e temas. O Mundo Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs que tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você verá, ela utiliza pequenos detalhes de lendas e histórias já existentes para criar uma coisa totalmente nova. E, ainda assim, permanece totalmente fiel à essência de suas fontes. Em um chat online com fãs, ela encorajou um leitor, que perguntava a origem de uma frase, a “ir em frente e pesquisar. Um pouco de investigação faz bem a qualquer um”. É isso o que O Mundo Mágico de Harry Potter faz: uma pequena e descompromissada investigação com o propósito de divertir e fascinar. Sobre o autor: Formado pela Brown University, David Colbert estudou antropologia e mitologia, embora tenha passado a maior parte de seu tempo na biblioteca da universidade lendo o que encontrava - o que, de certa forma, ele continua fazendo até hoje. Além de escrever e editar vários livros sobre história, como World War II: A Tribute in Art and Literature e a coleção Eyewitness, Colbert trabalhou como redator-chefe do programa de televisão Who Wants To Be a Millionaire, similar ao popular Show do Milhão. Ele mora na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e seu e-mail para contato é djcolbert@aol.com 2001 por David Colbert Título da edição original em inglês: The magical worlds of Harry Potter: A treasury of myths, legends and fascinating facts Publicado originalmente por Lumina Press LLC tradução Rosa Amanda Strausz preparo de originais Carlos Irineu da Costa revisão José Tedin Pinto Sérgio Bellinello Soares capa Raul Fernandes projeto gráfico e diagramaçâo Valéria Teixeira Para minhas sobrinhas Emma, Lillian e Molly, e meu sobrinho Sam LEIA OS MITOS COM OLHOS MÁGICOS: deixe os mitos ficarem transparentes a seu significado universal, e os significados dos mitos ficarem transparentes às suas origens misteriosas. O primeiro dos “Dez Mandamentos de Joseph Campbell para se Ler Mitologia” SUMÁRIO Introdução O Que faz de Harry Potter um herói universal? Adivinhação Sibila Trelawney já acertou alguma coisa? Alquimia Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica? Animagos Quais são os mais impressionantes animagos? Animais fantásticos Quais animais fantásticos saíram das lendas? Aranhas Como espantar uma aranha Avada Kedavra O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade? Basiliscos Basiliscos eram apenas serpentes grandes? Bichos-papões Criaturas que não sabem a hora de ir embora Bruxos Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade? Cálice de Fogo, O Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda? Centauros Por que centauros evitam os humanos? Corujas Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja? Dementadores Chocolate, um santo remédio contra dementadores Demônios da Cornualha Qual é o truque preferido dos duendes? Dragões Qual é a criatura digna de um rei? Druidas Quem foram os primeiros magos ingleses? Duendes Por que os duendes são bons banqueiros? Dumbledore Se Dumbledore é tão poderoso, por que não luta com Voldemort? Durmstrang Por que os alunos de Durmstrang viajam de navio? Egito De onde vem a magia Esfinge Por que a Esfinge faz uma pergunta a Harry? Espelhos Por que os espelhos são mágicos? Fawkes Qual dos personagens é imortal? Flamel O verdadeiro Flamel foi um alquimista bem-sucedido? Floresta Por que a floresta próxima a Hogwarts é proibida? Fofo Por que Fofo pertencia a um “sujeito grego”? Gárgula Que outro membro da turma de Draco tem nome de dragão? Gigantes Todos os gigantes são cruéis? Grifos Qual a criatura que domina tanto os céus quanto a terra? Grindylows Por que os pais se preocupam com os grindylows? Hipogrifos Qual é a criatura mágica menos verossímil? Hogwarts Por que alguém iria para uma escola onde tem uma Sonserina? Kappas Qual a criatura que não pode inclinar a cabeça? Labirintos Por que a terceira tarefa se passa em um labirinto? Latim Qual é o idioma mais importante para os bruxos? Lulas gigantes Quais criaturas da vida real ainda intrigam os cientistas? Malfoy Por que os nomes dos Malfoy combinam tanto com eles? Manticores Por que os bruxos não se aproximam dos manticores? Marca Negra Por que Voldemort grava a Marca Negra nos Comensais da Morte? McGonagall Por que a professora McGonagall aparece como uma gata? Nagini Qual dos aliados de Voldemort é originário da índia? Nomes De onde vêm esses nomes? Runas O que são as runas da penseira? Sereianos Por que teríamos medo de uma criatura do mar? Sirius Black Por que Sirius Black vira um cachorro negro? Trasgos Por que os trasgos cheiram mal? Unicórnios Como pegar um unicórnio? Vablatsky Quem realmente escreveu o livro de adivinhações? Varinhas mágicas Por que os bruxos usam varinhas mágicas? Vassouras voadoras Será que as bruxas sempre usaram vassouras voadoras? Veelas O que deixa as veelas zangadas? Voldemort Que pesadelos terão gerado Voldemort? Posfácio Agradecimentos Bibliografia GUIA DAS ABREVIAÇÕES DOS TÍTULOS DOS LIVROS Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Pedra Harry Potter e a Câmara Secreta: A Câmara Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: Azkaban Harry Potter e o Cálice de Fogo: O Cálice Animais Fantásticos e Onde Habitam: Animais Fantásticos Quadribol Através dos Séculos: Quadribol INTRODUÇÃO Um dos prazeres de ler J. K. Rowling é descobrir as divertidas referências à história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus livros. Por exemplo, a esfinge que surge no labirinto durante o Torneio Tribruxo pede a solução de um enigma, exatamente como a esfinge da mitologia grega. Fofo, o cachorro de estimaçãode Hagrid, é, na verdade, outro famoso ser da mitologia grega, Cérbero. “Durmstrang”, nome da escola de magia que só admite bruxos de sangue puro e tem uma ligação questionável com Lord Voldemort, vem de um estilo germânico chamado Sturm und Drang, que era o favorito do nazismo alemão. Da mesma maneira, os estudantes de Durmstrang chegaram a Hogwarts a bordo de um navio semelhante ao existente em uma famosa ópera do estilo Sturm und Drang. Leitores mais atentos já perceberam que Rowling também esconde pistas divertidas nos nomes que escolhe para seus personagens. Draco, o vingativo colega de Harry, tem seu nome inspirado na palavra latina para “dragão” ou “serpente”. A fênix de estimação de Dumbledore, Fawkes, tem seu nome tirado de uma figura histórica ligada a fogueiras - e acredita-se que as fênix sejam capazes de renascer do fogo. Este livro desvenda as pistas deixadas por Rowling e revela seus significados habilmente escondidos. Em um chat online com fãs, ela encorajou um leitor, que perguntava a origem de uma frase, a “ir em frente e pesquisar. Um pouco de investigação faz bem a qualquer um”. E isso o que O Mundo Mágico de Harry Potter faz: uma pequena e descompromissada investigação com o propósito de divertir e fascinar. Você pode até mesmo compartilhar um sorriso com a própria Rowling. Como disse a revista Time ao observar que o zelador de Hogwart, Argus Filch, teve seu nome inspirado no Argus da mitologia grega - um vigia com mil olhos espalhados pelo corpo -, “é o tipo de detalhe capaz de provocar um sorriso dentro da cabeça do autor”. Não se preocupe se você nunca tiver percebido essas pistas. Um dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade de colocá-las no texto sem quebrar o ritmo da narrativa. Por exemplo, em Azkaban, ela ficou satisfeita em fazer apenas uma rápida referência ao manticora - um horrível monstro devorador de gente. Deixar passar a oportunidade de descrever detalhadamente uma criatura dessas exige disciplina. Para Rowling, bastou fazer uma referência casual. No entanto, quando você sabe o que é um manticora e que ele fez parte de muitas lendas por milhares de anos, a história fica ainda mais saborosa. J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece material para os escritores e é continuamente alimentada por eles. Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja único, ele é construído sobre uma sólida base de mitos e folclore preservada através do tempo e da distância. A popularidade de seus livros comprova a riqueza da cultura de onde ela extrai muitos de seus personagens, imagens e temas. O Mundo Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs que tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você verá, ela cria algo totalmente novo usando pequenos detalhes de lendas e histórias já existentes. Ainda assim, permanece totalmente fiel à essência de suas fontes. O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI UNIVERSAL? Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K.. Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry (veja a legenda abaixo). Harry, o herói Mas, se conseguimos entender profundamente o personagem de Harry Potter, isso não se deve somente aos fatos. Harry, apesar de suas qualidade únicas, é um herói que nos parece bastante familiar. Desde o comecinho de A Pedra ele já aparece como um príncipe perdido ou um rei oculto - assim como Édipo, Moisés, o rei Artur e inúmeros outros de todas as culturas. Ele nunca soube que era um bruxo - nem mesmo sabia que existia o mundo mágico - antes de receber a carta chamando-o para Hogwarts. Quando nasceu Harry Potter? Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do 500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Pedra. Nick morreu em 1492. Dessa forma, A Pedra se passaria em 1992. Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite. Para torná-lo ainda mais familiar a todos nós, ele é, pelo menos de acordo com os estranhos padrões dos Dursley, um patinho feio. Assim, eles o maltratam, como Cinderela foi maltratada, aprisionando-o num mundo totalmente alheio ao seu, forçando-o a dormir debaixo das escadas quando uma cama com dossel está à sua espera em Hogwarts, e alimentando-o de restos, o que o faz ficar espantado com a abundância dos banquetes de Hogwarts. Como Harry vê a si mesmo Apesar de a entrada para o mundo dos bruxos oferecer a Harry, de imediato, o reconhecimento que ele tão desesperadamente deseja - todo mundo que ele encontra já ouviu falar no grande Harry Potter -, ele ainda sente dúvidas, e muitas. A cicatriz brilhante não foi a única marca deixada por Voldemort. No fundo de sua consciência, ele guarda recordações daquela luta. Alguma coisa da psique de Voldemort conseguiu penetrar em Harry. E ele se preocupa com a dúvida em que ficou o Chapéu Seletor em A Pedra: ele pertence à casa Grifinória, com as virtudes que isso implica, ou será de Sonserina, suscetível ao Mal? Em A Câmara, Dumbledore explica-lhe que entre o Bem e o Mal existem sombras, áreas cinzentas, e não apenas escuridão e luz. A porção de Voldemort que há em Harry, segundo Dumbledore, simplesmente o torna mais incomum, ou dotado de mais habilidades do que a média dos alunos da Grifinória. E também o ajuda a entender Voldemort, o que é sempre uma vantagem. Nas futuras batalhas, essa força extra e esse conhecimento sem dúvida vão ajudar Harry. Linhagem A mãe de Harry, apesar de ser uma bruxa poderosa, nasceu trouxa. Para aqueles que dão importância à linhagem, como Draco Malfoy, Harry é um bruxo inferior. Mas, de alguma maneira, parece justamente que Harry é ainda mais forte justamente por também ter sangue de trouxa. De fato, suas conversas com Draco fazem eco a um incidente na infância de um outro grande mago britânico, Merlim, contado pelo antigo historiador Geoffrey of Monmouth: “Uma súbita discussão irrompeu entre os dois colegas, cujos nomes eram Merlim e Dinabutius. Em meio à troca de palavras, Dinabutius disse a Merlim: 'Por que você tenta competir comigo, seu idiota? Como pode pretender que suas habilidades estejam à altura das minhas? Tenho sangue nobre em ambos os lados da minha ascendência. Já você, ninguém sabe quem é, já que nunca teve um pai!'“ Mas o adversário de Merlim, assim como Draco Malfoy, estava predisposto a equívocos causados pelo próprio orgulho. Seu rompante atraiu a atenção dos mensageiros do rei Vortigern, que haviam justamente sido instruídos a encontrar um garoto sem pai. Foi assim que o jovem Merlim foi levado à presença do rei, e então iniciou sua carreira. Harry com mil caras As aventuras de Harry também seguem um padrão que nos parece sempre familiar. O estudioso Joseph Campbell escreveu um longo trabalho sobre o herói das mil caras, um personagem comum e central em diversas culturas por todo o mundo. De Ulisses, na Grécia Antiga, a Luke Skywalker, de Guerra nas Estrelas, esses heróis e suas lendas guardam uma intrigante similaridade. Contando com Harry, são mil e uma caras. Campbell resume tais histórias da seguinte maneira: “Um herói se arrisca a deixar o mundo cotidiano e penetra numa região do sobrenatural e do fantasioso.Forças miraculosas estão à sua espera, e ele alcança um triunfo decisivo. O herói retorna de sua misteriosa aventura dotado agora do poder de auxiliar seus semelhantes humanos.” A jornada do herói segue três etapas, que Campbell nomeia de Partida, Iniciação e Retorno. Entre essas etapas há pontos em comum com as aventuras de Harry. Uma olhada rápida nos livros revela a constância desse padrão: I. Partida O herói é chamado a aventura. De acordo com Campbell, o herói é primeiramente visto no mundo cotidiano. Ele está iniciando uma nova etapa em sua vida. Um mensageiro pode ser enviado para anunciar o destino que chama pelo herói. O início de A Pedra se encaixa bem nesta descrição. Harry está sofrendo horrores em sua convivência com os Dursley quando descobre que há um lugar à sua espera em Hogwarts. Como os Dursley interceptam as primeiras cartas, Hagrid vem pegá-lo. Harry continua a passar as férias com os Dursley e, portanto, os livros seguintes começam novamente com Harry no mundo cotidiano. O herói pode rejeitar o chamado da aventura. Ele pode ter inúmeras razões para tanto, desde as suas responsabilidades diárias até o egoísmo — ele não quer se dedicar a ajudar os outros. No entanto, por mais que resista, vai acabar descobrindo que não tem escolha a não ser seguir em frente. Embora Harry não percorra essa etapa em A Pedra, vai fazer isso nos livros seguintes. Em A Câmara, ele fica perturbado com a atenção dos outros, provocada por sua aventura anterior, e busca o anonimato. Mas seu caráter corajoso torna impossível para ele ignorar as misteriosas ocorrências - que, como manda o destino, têm Harry como alvo. Em O Cálice, mesmo tendo decidido não enganar o Cálice de Fogo para participar do Torneio Tribruxo, ele o escolhe da mesma forma. O herói encontra um protetor, um guia, que lhe oferece uma ajuda através de poderes sobrenaturais, freqüentemente sob a forma de amuletos. Aí está algo que vive acontecendo. Em A Pedra, Hagrid é mostrado como um dos protetores de Harry desde o nascimento do garoto. Ele foi o bruxo que levou Harry aos Dursley ainda bebê. Posteriormente, eles se reencontram, quando Harry está indo para Hogwarts. Eles visitam o Beco Diagonal, onde Hagrid cuida que Harry compre uma varinha mágica e outros acessórios de bruxos. Como presente de aniversário, Hagrid lhe dá uma coruja, Edwiges. Do mesmo modo, Dumbledore tem sido um protetor e um guia de Harry. Em A Pedra, ele dá a Harry a capa da invisibilidade. Em Azkaban, Harry descobre que Sirius vinha protegendo-o. O herói encontra a primeira entrada para o novo mundo. O protetor pode apenas levar o herói até a entrada, ele deve atravessá-la sozinho. O herói pode ter de lutar, inicialmente, com um guardião da entrada que está ali para impedi-lo de atravessá-la, ou superá-lo pela astúcia. O clímax de cada uma das aventuras de Harry começa com a travessia solitária de uma entrada. Em A Pedra, Rony pode ajudá-lo a definir quais são os movimentos a serem dados no xadrez e Hermione auxilia-o a descobrir as poções que o ajudarão a atravessar as chamas negras. Mas somente Harry pode entrar na “última câmara”, onde enfrenta Quirrell. Em A Câmara, apesar de ele, Rony e Lockhart percorrerem o escoadouro para encontrar o basilisco e salvar Gina Weasley, Harry precisa vencer sozinho o último e mais perigoso trecho da jornada. O herói penetra na “barriga da baleia”, uma expressão tirada das lendas, como a história de Jonas, que representa “ser tragado pelo desconhecido”. Seja quando entra na Câmara Secreta ou quando penetra no esconderijo de Lupin, debaixo do Salgueiro Lutador, Harry está na barriga da baleia. II. Iniciação O herói segue um caminho no qual é continuamente posto à prova. O ambiente é desconhecido. O herói pode encontrar companheiros que o ajudem a passar pelas provas. Forças invisíveis podem também vir em seu auxílio. Esses elementos se repetem em todos os livros. Harry sempre recebe novos amuletos, tal como a Capa da Invisibilidade, em A Pedra, e o Mapa do Maroto, em Azkaban. Ele aprende a invocar forças, como o Patrono. O herói é raptado, ou precisa empreender uma jornada à noite ou pelo mar. Harry é literalmente raptado quando toca a Taça Tribruxo, que havia sido transformada em portal. O herói enfrenta um dragão simbólico. Ele pode sofrer uma morte ritual, talvez mesmo desmembramento. Harry luta contra o basilisco, os dementadores e, é claro, com o maior de todos os dragões simbólicos - Voldemort. E parece que em cada aventura Harry sofre novos tipos de ferimentos - por exemplo, ele é literalmente desmembrado em A Câmara, quando quebra o braço durante uma partida de quadribol e seus ossos são acidentalmente removidos por um feitiço malfeito. O herói é reconhecido por seu pai ou se reúne a ele. Ele começa a entender essa força que comanda a sua vida. Em todas as aventuras, Harry vivência um profundo momento de contato com seus pais, como quando eles aparecem no Espelho de Ojesed, em A Pedra, e como imagens fantasmas emitidas pela varinha mágica de Voldemort, em O Cálice. O herói torna-se quase divino. Ele ultrapassou a ignorância e o medo. Harry conquista uma vitória contra o medo em cada aventura. Embora pareça surpreso por conseguir isso, ele se convence, progressivamente, a cada embate com Voldemort, que o Lorde das Trevas não o derrotará. Como diz Dumbledore, ao final de O Cálice, “Você mediu forças com o poder de um bruxo adulto e enfrentou-o de igual para igual”. O herói recebe a última dádiva, o objetivo de sua busca. Pode ser um elixir da vida. E pode ser diferente do objetivo original do herói, pois ele se tornou mais sábio durante seu percurso. Em A Pedra, o Espelho de Osejed coloca a última dádiva -algo que de fato produz um elixir da vida - bem em seu bolso. Em A Câmara, ele derrota o monstro que vive nos subterrâneos de Hogwarts há décadas, salvando Gina Weasley (e inúmeros outros estudantes que poderiam ter se tornado vítimas do basilisco). Em Azkaban, ele encontra o prêmio que todos os bruxos vêm procurando: Sirius Black. Mas, depois de descobrir a verdade sobre Black, ele arruma um jeito para salvá-lo da inevitável sentença de morte - o que é a mesma coisa que ter lhe dado um elixir da vida. Em O Cálice, o objetivo é óbvio: a vitória no Torneio Tribruxo. Mas o que Harry descobre é mais profundo. Ele luta contra Voldemort, varinha mágica contra varinha mágica, e novamente escapa da morte - dessa vez, em virtude de suas próprias habilidades. Então, começa a se dar conta do quanto é grande o seu poder de bruxo. III. Retorno O herói empreende um vôo mágico de volta ao seu lugar de origem. Ele pode ser salvo por forças mágicas. Um de seus protetores iniciais pode ajudá-lo. Uma pessoa, ou alguma coisa de seu mundo de origem, pode aparecer para trazê-lo de volta. Em A Pedra, Harry é miraculosamente salvo, e viaja de volta enquanto ainda está inconsciente. Em A Câmara, ele é salvo por Fawkes. A fênix lhe traz o Chapéu Seletor, que lhe entrega a Espada de Griffindor, com a qual ataca o basilisco. Em O Cálice, falando com a imagem de Cedrico Diggory, emitida pela varinha de Voldemort, Harry jura solenemente levar de volta o corpo de Diggory para Hogwarts. O herói volta ao mundo cotidiano, atravessando de novo a passagem. Ele pode ter alguma dificuldade para se readaptar à sua vida original onde as pessoas não conseguem compreendero que vivenciou. Depois de cada período escolar, ele tem de voltar para a residência dos Dursley, na Rua dos Alfeneiros, onde definitivamente ninguém o compreende. Mesmo outros bruxos têm dificuldade de compreendê-lo, como lemos no final de Azkaban. “Ninguém em Hogwarts sabia a verdade do que acontecera... A medida que o trimestre foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da verdadeira.” O herói se torna senhor de ambos os mundos: o do cotidiano, que representa a sua existência material, e o mundo mágico, que significa seu íntimo. Encontrar Voldemort é o pior pesadelo da maioria dos bruxos. Mas Harry encontrou-o muitas vezes e viu coisas que nenhum outro bruxo jamais viu. Esses encontros o fizeram conhecer uma parte de si mesmo na qual os demais bruxos jamais pensaram. Todos podem estar certos de que, eventualmente - mesmo que ele próprio duvide -, essas experiências vão fazer dele um bruxo até mesmo mais poderoso do que Dumbledore. (Não há dúvida de que Dumbledore sabe disso, e de que a perspectiva lhe agrada.) O herói conquistou sua liberdade para viver como desejar. Superou os medos que o impediam de viver plenamente. O medo, assim nos é dito, é o maior inimigo de Harry - maior até do que Voldemort. Em Azkaban, o professor Lupin não deixa Harry enfrentar o bicho-papão porque não queria uma imagem de Voldemort revoando por Hogwarts. Mas Harry lhe diz: “Eu não estava pensando em Voldemort... Eu lembrei foi dos dementadores.” Lupin fica impressionado com a percepção de Harry. “Isso sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sábio, Harry.” Claro que Rowling não segue uma espécie de mapa passo a passo. Esses padrões e modelos aparecem em seus livros assim como têm estado presentes na mitologia e no folclore há séculos, já que a jornada do herói permanece a mesma. Lutar contra as forças das trevas que existem no mundo exige que o herói enfrente as trevas que existem dentro de si mesmo e redescubra, a cada aventura, que é merecedor da vitória. Nós entendemos Harry porque, como Campbell diz, “todos temos de enfrentar nosso grande desafio”. ADIVINHAÇÃO Sibila Trelawney já acertou alguma coisa? A matéria dada pela professora Trelawney, Adivinhação, consiste em interpretar sinais e ações com o objetivo de predizer o futuro, ver o passado ou, às vezes, simplesmente encontrar objetos perdidos. São usados muitos métodos para a adivinhação. Os romanos preferiam os augúrios e interpretavam o vôo das aves. Outras culturas usam a hepatoscopia, que é o exame das entranhas de animais sacrificados. Não é por coincidência que o primeiro nome da professora Trelawney vem das famosas profetisas da mitologia, as Sibilas, que muitas vezes apresentavam suas premonições sem nem mesmo terem sido consultadas. Sibila Trelawney também é chegada a fazer predições - muitas vezes aterrorizantes - sem que ninguém tenha lhe pedido nada. Mal acabou de conhecer Harry e já previu a sua morte. Mas, como bem lembra a professora McGonagall, “Sibila Trelawney tem predito a morte de um aluno por ano desde que chegou a esta escola. Nenhum deles morreu ainda”. J. K. Rowling parece não acreditar muito em adivinhação, ou pelo menos mostra uma atitude ambivalente. Hermione acha o assunto “meio confuso”, mas estuda Aritmancia, que é a adivinhação por meios dos números. Apesar de completamente obcecados pela leitura do destino nas estrelas, os centauros da Floresta Proibida são criaturas bastante inteligentes. Talvez Rowling se sinta como Dumbledore, que explica a Harry em Azkaban: “As conseqüências dos nossos atos são sempre tão complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil.” AO LADO, MAPA DO SIGNIFICADO DAS UNHAS DA MÃO. Outros tipos de adivinhação e os meios que utilizam para prever o destino: Belomancia: o vôo das flechas. Quiromancia: as linhas da mão. Datilomancia: a oscilação de um anel suspenso. Dafnomancia: o estalar de folhas de louro incendiadas. Geloscopia: risadas. Lampadomancia: o brilho das lamparinas. Libanomancia: a fumaça do incenso. Litomancia: pedras preciosas. Margaritomancia: pérolas. Metoposcopia: manchas na testa. Frenologia: formato do crânio. ALQUIMIA Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica? Exatamente o que os alquimistas tentavam fazer? Será que eles chegaram a concluir alguma coisa ou todo o seu trabalho desapareceu numa nuvem de fumaça? Qualquer um que tenha lido A Pedra sabe que a alquimia é uma antiga mistura de química com magia. Os alquimistas tentavam criar ouro a partir de metais menos nobres, assim como inventar uma poção capaz de curar todas as doenças e tornar seu usuário imortal. Acredita-se que a origem da alquimia esteja no mundo árabe. O nome vem do termo árabe al-kimia, que também gerou a palavra “química”. No entanto, alguns historiadores dizem que a raiz dessa palavra árabe vem do grego antigo Khmia, que significa “Egito”. Eles acreditam que os alquimistas egípcios possam ter existido muito antes de o mundo árabe iniciar essa prática. De qualquer maneira, a alquimia de fato se desenvolveu em todo o mundo, inclusive na China e na Índia. Costumamos imaginar alquimistas como pessoas gananciosas e ambiciosas, obcecadas por dinheiro e pela imortalidade. Mas algumas pessoas pensam que o trabalho deles lançou as bases da química moderna. Vários cientistas sérios estudaram alquimia. O físico e matemático Isaac Newton foi um deles, e escreveu inúmeros tratados sobre o assunto. No entanto, Newton respeitou a tradição de manter suas experiências com a alquimia em segredo, chegando ao ponto de insistir para que outro alquimista guardasse “segredo total” sobre seu trabalho. A capital da alquimia Nos últimos anos do século XVI, dois imperadores começaram a recrutar alquimistas para trabalhar na cidade de Praga, localizada na atual República Tcheca. A concentração de alquimistas no local deu à cidade o apelido de “capital da alquimia”. Imperadores, no entanto, podem ser muito temperamentais. Quando o alquimista inglês Edward Kelley tentou produzir ouro, mas falhou, foi jogado numa masmorra. Nem mesmo os esforços da rainha Elizabeth I foram suficientes para livrá-lo da prisão. Kelley morreu numa tentativa de fuga. Evidentemente, havia muitas fraudes. Conta-se que, mais ou menos nessa época, chegou a Praga um árabe, que convidou os homens mais ricos da cidade para um banquete, prometendo multiplicar todo o ouro que eles levassem. Depois de juntar todos os objetos de valor levados ao banquete, o falso alquimista preparou uma mistura estranha que levava substâncias químicas e diversas esquisitices, como cascas de ovo e estrume de cavalo. Não tardaram a perceber para que servia a tal mistura. Uma violenta explosão espalhou pela casa um fedor tão terrível que atordoou os convidados e permitiu que o charlatão fugisse com todo o ouro. Assim como a palavra árabeal-kimia deu origem aos termos “alquimia” e “química”, a matemática árabe, uma das mais avançadas do mundo, nos deu outra expressão muito utilizada nas salas de aula: al-gebr. Ela quer dizer “igualar”, e é isso que os alunos fazem com os dois lados de uma equação algébrica. A pedra filosofal Embora alguns estudiosos digam que o verdadeiro processo seguido pelosalquimistas era “absurdamente complicado”, suas bases eram bastante simples. De acordo com a teoria básica seguida pelos alquimistas, todos os metais não passavam de combinações de enxofre e mercúrio. Quanto mais amarelo o metal, mais enxofre havia na mistura. Para criar ouro, então, bastaria combinar enxofre e mercúrio na proporção adequada e seguindo uma seqüência correta. Após algum tempo, os alquimistas começaram a ficar frustrados, pois seu método simples não funcionava. Então, iniciaram a procura de um ingrediente mágico, que chamaram de pedra filosofal. Alguns alquimistas continuaram a acreditar que o tal ingrediente mágico era apenas enxofre. No entanto, em A Pedra, ele é descrito como um objeto vermelho-sangue. É provável que Rowling tenha pensado em alguma coisa mais interessante... Veja também: Fofo Espelhos Flamel ANIMAGOS Quais são os mais impressionantes animagos? J.K. Rowling criou o termo “animago” misturando o latim magus (bruxo) a animal. Um animago é um bruxo que pode virar bicho sem perder seus poderes mágicos. A habilidade de transformar-se em animal é tão antiga quanto as lendas. Na mitologia celta, volta e meia alguém se transforma em cervo, javali, cisne, águia ou corvo. Os xamãs das antigas tribos indígenas norte-americanas também costumam assumir formas de animais, principalmente pássaros. Um dos primeiros seres a demonstrar essa habilidade foi Proteu, da mitologia grega. Ele era criado de Posseidon, deus dos oceanos, e uma de suas habilidades especiais era conhecer o passado, o presente e o futuro. Por conta disso havia muita gente que o procurava para perguntar coisas. Proteu então se transformava em diversos animais e monstros horrorosos para poder ficar em paz. Ainda hoje dizemos que uma coisa capaz de mudar de forma é “proteiforme” ou “protéico”. HOMEM-ÁGUIA. TOTEM DOS HAIDA, DO NOROESTE DO PACÍFICO. Duelos de animagos Este tipo de fogo cerrado entre lutadores que mudam constante- mente de forma foi lembrado pelo autor T. H. White, cuja história A Espada Era a Lei conta de outra forma a lenda do jovem rei Artur e seu tutor, o mago Merlim. Neste livro, Merlim combate outra bruxa, Madame Mim, em um dos mais criativos duelos da literatura: O objetivo do feiticeiro no duelo era transformar-se em um tipo de animal, vegetal ou mineral capaz de destruir o animal, vegetal ou mineral escolhido por seu oponente. Algumas vezes, o duelo levava horas... Ao primeiro soar do gongo, Madame Mim imediatamente transformou-se em um dragão. Era um bom lance de abertura e esperava-se que Merlim respondesse assumindo a forma de uma tempestade de trovões ou coisa parecida. Em vez disso, ele surpreendeu sua oponente virando um ratinho, quase invisível no gramado, dando uma boa mordida em sua cauda. Madame Mim arregalou os olhos, procurou por toda a parte durante uns bons cinco minutos até se dar conta do ratinho com dentes cravados em seu rabo. Quando finalmente reparou, num piscar de olhos tornou-se um furioso gato listrado. Artur prendeu a respiração para ver no que o ratinho iria se transformar - pensou logo em um tigre capaz de matar o gato —, mas Merlim simplesmente virou outro gato. Ele se plantou diante de Madame Mim e começou a fazer caretas. Esse procedimento, muitíssimo irregular, deixou a bruxa espantada, e ela levou mais de um minuto para voltar a si e virar um cachorro. Quase no mesmo instante, Merlim já era outro cachorro, sentado diante dela como tinha feito pouco antes. “Oh! Bem pensado, Merlim!”, gritou Artur, começando a perceber o plano. Madame Mim estava furiosa... Era melhor ela começar logo a alterar suas táticas e surpreender Merlim. Decidiu tentar uma nova jogada, deixando a ofensiva a cargo de Merlim e assumindo uma posição defensiva. Transformou-se em um imenso carvalho. Merlim parou, desconcertado, e ficou sob a árvore por alguns segundos. Então, ousadamente, transformou-se em um minúsculo passarinho azul, que voou e pousou muito empertigado nos galhos de Madame Mim. O carvalho ferveu de indignação por um instante. Mas logo sua raiva ficou bem fria e o pobre passarinho percebeu que estava sentado não sobre um galho, mas sobre uma imensa serpente. A boca da serpente estava escancarada e, na verdade, o pássaro estava pousado sobre seus dentes. Quando a boca se fechou num estalo, o passarinho já havia escapulido, em forma de mosquito. Madame Mim seguiu-o e a velocidade da disputa começou a ficar alucinante. Quanto mais rápido o atacante assumia uma nova forma, menos tempo o fugitivo tinha para imaginar uma boa saída. As mudanças agora estavam tão rápidas quanto o pensamento. A batalha termina quando Madame Mim vira um aullay, animal semelhante a um imenso cavalo com tromba de elefante. Ela arremete contra Merlim, mas ele simplesmente desaparece. De repente... ...coisas muito esquisitas começaram a acontecer. O aullay teve um ataque de soluços, foi ficando vermelho, inchado, com uma tosse terrível, todo sarapintado, cambaleou três vezes, revirou os olhos e desabou pesadamente no chão. Suspirou, esperneou e disse adeus... O esperto feiticeiro tinha se transformado sucessivamente em diversos micróbios, ainda desconhecidos naquele tempo. Assim, fez sua oponente pegar soluços, escarlatina, caxumba, coqueluche, sarampo e varíola. Tudo ao mesmo tempo. Com uma combinação dessas, a infame Madame Mim rapidamente bateu as botas. Alguns animagos de J. K. Rowling: Minerva McGonagall pode virar um gato. Tiago Potter transformava-se em cervo, de onde seu apelido: Pontas. Sirius Black significa “cachorro preto”, sendo essa a forma que ele assume. Rita Skeeter vira um besouro. Pedro Pettigrew, o Rabicho, disfarçava-se como o rato de estimação de Rony, Perebas. As regras de Rowling Uma grande diferença entre o mundo de Rowling e os mundos criados por outros autores é que ela criou diversas restrições para os animagos. De acordo com ela, virar bicho é uma habilidade relativamente rara, e tão regulamentada que os animagos devem ser registrados no Ministério da Magia. No entanto, em praticamente todos os outros mundos imaginários, os bruxos podem se transformar livremente no bicho que bem entenderem. Talvez Rowling se preocupe com os riscos desse tipo de atividade. Em Quadribol, ela adverte: “O bruxo ou bruxa que se transfigura em morcego pode voar sem problemas. No entanto, como também tem um cérebro de morcego, ele esquece para onde vai assim que levanta vôo.” Outra escritora famosa, Ursula K. Le Guin, conta na história A Wizard of Earthsea (O Mago de Mareterra), o que pode acontecer aos bruxos descuidados: Como qualquer menino, Ogion achava que seria uma delícia usar magia para assumir qualquer forma que desejasse, homem ou bicho, árvore ou nuvem, e então brincar de ser milhares de seres. No entanto, como bruxo, ele havia aprendido que essa brincadeira tem um preço, que é o risco de perder a própria identidade ao mudar sua realidade. Quanto mais distante uma pessoa fica de sua própria forma, maior é o perigo. Todo aprendiz de feiticeiro estuda a história do mago Beira do Caminho, que adorava se transfigurar em urso. Ele fez isso tanto, e tantas vezes seguidas, que o urso cresceu dentro dele. O homem se esvaneceu a tal ponto, que virou mesmo um urso e acabou matando o próprio filho na floresta. Teve um fim trágico: foi caçado e morto. J. K. Rowling costuma dizer que a personalidade de cada um é determinante na escolha do animal no qual pode setransformar. E acrescenta: “Pessoalmente, gostaria de virar uma lontra, que é meu bicho favorito.” Ninguém sabe, na verdade, quantos dos golfinhos que saltam nas águas do Mar Secreto já foram homens, sábios homens, que perderam sua sabedoria e seu nome nos encantos do mar sem fim. Sem dúvida, Harry, que muitas vezes ultrapassa os limites normais, vai correr esse risco. Vamos ver em que tipo de animago ele irá se transformar. Veja também: Sirius Black McGonagall ANIMAIS FANTÁSTICOS Quais animais fantásticos saíram das lendas? Mesmo sendo imaginárias, muitas das criaturas de Animais Fantásticos são tão conhecidas em nosso mundo quanto no de Harry. Veja algumas das histórias que alimentaram a imaginação de J. K. Rowling: Barretes Vermelhos De acordo com Animais Fantásticos, os barretes vermelhos “vivem em covas localizadas em antigos campos de batalha ou em lugares onde o sangue humano tenha sido derramado... [e] tentam matar a pauladas os trouxas que passam por ali em noites escuras”. Essa criatura existe há muito tempo nas lendas da Inglaterra e Escócia, países vizinhos e muitas vezes envolvidos em guerras violentas. Também é conhecido como capuz sangrento ou crista vermelha. Dizem que seu chapéu é vermelho de tanto ser usado para recolher o sangue de suas vítimas. Ramora Seguindo uma lenda milenar, Rowling diz que esse peixe - que existe mesmo e é conhecido como rêmora - é capaz de deter um navio. Seu nome deriva da palavra latina usada para designar “atraso”. Graças a uma ventosa localizada em sua cabeça, as rêmoras se prendem a navios e tubarões para se alimentarem das sobras. Sua força já havia sido bastante exagerada desde o século 1 a.C quando Plínio, o Velho, escreveu: “Furacões podem ser arrasadores e tempestades podem devastar,- mas este peixe consegue regular a fúria deles, controlar seu vigor e intensidade e obrigar navios a parar, de um modo que nem cabos nem âncoras conseguem fazer. Que criatura inútil é o homem, que pode ser imobilizado e detido por um peixe de apenas seis polegadas!” Plínio sustentava a tese de que o navio de Marco Antônio havia sido bloqueado por rêmoras durante a Batalha de Actium, fazendo com que perdesse a batalha e mudando o curso da história romana. Hipocampo O nome desse cavalo-marinho mistura a palavra grega hippos (cavalo) e a latina campus (terreno, chão). Também é chamado de Hydrippus - a palavra grega para água é hydro. A carruagem de Posseidon, o deus grego dos mares, é puxada por hipocampos. O autor de Animais Fantásticos, Newton (“Newt”) Artemis Fido Scamander, traz vários trocadilhos embutidos em seu nome. Newts são pequenas salamandras, os lagartos mágicos que vivem no fogo (veja adiante]. Artemis era a deusa grega da caça, um nome apropriado para um estudioso que pesquisa criaturas mágicas. Fido, do latim fidus (fiel), é um nome comum para cachorros. O som de Scamander lembra o de salamandra, embora seja, na verdade, o nome de um rio mencionado por Homero em sua Ilíada. HIPOCAMPO RETRATADO EM XILOGRAVURA ALEMÃ. Um livro chamado Physiologus, escrito por volta do século II, conta que algumas lendas consideravam o hipocampo como “o rei de todos os peixes”. Mas na época em que esse livro foi escrito, o judaísmo e o cristianismo estavam atropelando os velhos mitos, e a lenda sofreu uma leve mudança para incorporar a idéia de um peixe dourado que vivia no Leste. Nessa versão, o hipocampo é um guia, tal como Moisés: “Quando os peixes se agruparam em cardumes, saíram em busca do Hydrippus. Quando o encontraram, ele se dirigiu para o Leste e todos o seguiram, os peixes do Norte e os peixes do Sul. Estavam todos próximos ao peixe dourado, o Hydrippus à sua frente. E quando o Hydrippus e todos os peixes chegaram, aclamaram o peixe dourado como seu rei.” Salamandra Rowling diz que são lagartos habitantes do fogo. Eles vivem “apenas enquanto o fogo do qual surgiram está vivo”. Essa lenda remonta a milhares de anos. O filósofo grego Aristóteles escreveu, no século IV a.C, que “o fato de alguns animais serem resistentes ao fogo é evidenciado pela existência da salamandra, que extingue o fogo rastejando sobre as chamas”. Acreditava-se que a salamandra conseguisse essa proeza por ter o corpo extraordinariamente frio. Quase mil anos mais tarde, Santo Isidoro, bispo de Sevilha, também achava que a salamandra “vive no meio das chamas sem se machucar e nem ser consumida”. E acrescentava: “Entre todos os venenos, o seu é o mais poderoso. Outros animais peçonhentos são mortais, mas este é capaz de matar várias pessoas de uma só vez. Para isso, a salamandra atravessa uma árvore e infecta suas frutas, envenenando todos os que as comerem.” SALAMANDRA EM CHAMAS, DE UM BRASÃO DE FAMÍLIA. Erkling O nome foi inventado por Rowling. É uma pequena inversão das letras do Ed King ou Erl Kõnig (elfo-rei) das lendas germânicas. Mas a descrição que ela faz da criatura corresponde à lenda. Trata-se de uma criatura diabólica que habita a Floresta Negra alemã e seqüestra crianças. No poema de Goethe, Erl King chama uma criança que viaja pela floresta acompanhada pelo pai: “Oh, venha comigo criança querida! Oh, venha comigo! Vamos brincar tanto, não há perigo.” O menino tenta alertar o pai, que não pode escutar o Erl King, e a história acaba mal. Assim como a lenda dos grindylows na Inglaterra e dos kappas no Japão, a história do Erl King foi concebida pelos pais para evitar que seus filhos se perdessem nas florestas. Hoje em dia, muitos restaurantes possuem fornos conhecidos como salamandras, assim chamados por causa de seus mecanismos de aquecimento, cujo jormato lembra uma serpente ou a cauda de um lagarto, e são quentíssimos. Quimera QUIMERA. PEÇA DECORATIVA EM BRONZE DO SÉCULO V. A descrição da quimera feita por Rowling em Animais Fantásticos pode ser esquisita, mas corresponde exatamente à antiga lenda grega. Segundo essa lenda, a quimera é um monstro com três cabeças - uma de dragão, uma de leão e a última de bode. É aparentada à esfinge e ao Cérbero, o cão de três cabeças que guardava as portas do Inferno. Rowling menciona casualmente que “só há um caso conhecido em que uma quimera foi morta, e o pobre mago que conseguiu este feito morreu em seguida ao cair de seu cavalo alado”. Ela faz uma brincadeira com a lenda original, segundo a qual o monstro foi vencido pelo herói Belerofonte, que montava o cavalo alado Pégaso. Belerofonte ganhou a batalha, mas, em outra aventura, atreveu-se a tentar penetrar no Olimpo, morada dos deuses, no mesmo cavalo alado. Como punição pela audácia, Zeus jogou-o para fora do cavalo e aleijou-o para sempre. O termo “quimera” acabou sendo usado para designar alguma coisa (normalmente uma criatura viva) criada por humanos a partir da combinação artificial de elementos naturais. Kelpie (gênio da água) Conforme é contado em Animais Fantásticos, o kelpie, um demônio aquático das lendas celtas, geralmente tem a forma de um cavalo com a crina de junco verde. Ele atrai as pessoas para montarem em seu lombo e então as carrega para as profundezas da água. Como Rowling conta, quem consegue botar rédeas no kelpie o subjuga. Por causa de sua força extraordinária, ele pode fazer o trabalho de muitos cavalos. Selkies e merrows No verbete sobre Sereianos, de Animais Fantásticos, Rowling menciona os selkies e os merrows. São tipos especiaisde Sereianos conhecidos na Inglaterra. Os selkies são homens-focas das ilhas do norte do país. Eles podem adquirir belíssimas formas humanas quando estão em terra firme, mas devem reassumir a forma de focas ao entrar na água. Matar um selkie provoca uma violenta tempestade. Já os merrows são da Irlanda. As mulheres são muito bonitas, mas os homens são horrorosos. Dizem que eles possuem chapéus mágicos e, se um humano conseguir roubar este chapéu, o merrow não poderá voltar para o mar. Veja também: Bicho-papão Duendes Grindylows Kappas Sereianos Veelas ARANHAS Como espantar uma aranha Em Hogwarts, vivem aranhas - algumas comuns, outras extraordinárias - de todos os tipos. Em sua maioria, são comuns e inofensivas. Mas algumas poucas, como Aragogue, Mosag e seus filhotes, são gigantescas, muito inteligentes e dotadas da palavra. O nome de Aragogue A origem do nome Aragogue é a mesma de aracnídeo, o nome científico para aranhas. Ambos vêm de uma personagem da mitologia, Ariadne, particularmente prendada nas artes de tecer e cerzir. Ariadne era muito orgulhosa, e assim desafiou Minerva, a deusa romana do artesanato, para um torneio. Ariadne venceu Minerva, mas a deusa ficou tão aborrecida que transformou Ariadne numa aranha, forçando-a a tecer teias para o resto da vida. Os nomes Aragogue e Mosag também lembram os nomes dos gigantes Gog e Magog. E mosag é gaélico, uma palavra que significa “mulher suja” ou “impura”. Comedores de gente Em A Câmara, Aragogue parece bastante satisfeito em deixar seus filhotes devorarem Rony e Harry. Ele está seguindo uma antiga tradição. Muitos autores divertiram-se criando monstros comedores de gente com forma de aranha. Comparados a estas, as aranhas de J. K. Rowling, ainda que fiquem felizes ao devorar seres humanos, se mostram mais compreensivas que as outras. São muito mais dóceis do que Shelob, a aranha criada por J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis: Ela estava lá há muitas eras, uma coisa maléfica sob a forma de aranha... e não servia a ninguém senão a si mesma, bebendo do sangue dos elfos e dos homens, criando e engordando inúmeras ninhadas graças a seus banquetes, tecendo teias de sombras, já que todas as criaturas viventes eram alimento, e seu vômito, escuridão... “Pouco conhecia ou se importava com torres e anéis, ou com qualquer coisa arquitetada pela mente ou feita por mãos, ela que apenas desejava a morte dos demais, corpo e mente, e, para si mesma, saciar-se na sua existência solitária, e crescer até que as montanhas não pudessem dar-lhe sustento e a escuridão não fosse mais capaz de abrigá-la. “Mas seu apetite estava ainda longe de satisfazer-se, e já fazia tempo que ela estava faminta, escondida em seu covil, enquanto o poder de Sauron aumentava e a luz e os seres viventes fugiam de seu alcance; a cidade e o vale estavam mortos, e nenhum elfo ou humano aproximava-se, à exceção dos infelizes e magros Orcs, refeição pouco satisfatória. Mas ela precisava comer e não importava o quanto eles se esforçassem por descobrir novas passagens aéreas que lhes permitissem sair de seu desfiladeiro e da torre, pois ela sempre encontrava um meio de apanhá-los em armadilhas. No entanto, ela sonhava em comer carne mais doce... A utilidade das aranhas Aragogue e sua família são bons exemplos do que, aparentemente, são normas importantes no mundo de Harry: as aparências enganam e a maioria das criaturas tendem (assim como os seres humanos) a tratar os outros tão mal como tenham sido tratadas. Faz sentido quando percebemos que, por baixo de sua aparência assustadora e seu ódio, Aragogue é uma criatura com sentimentos, essencialmente benévola, e não um ser do mal. De fato, ela fornece a Harry uma pista importante para o garoto resolver o mistério da câmara secreta. Houve um tempo em que Aragogue, equivocadamente, foi tomada como o monstro que teria sido libertado da câmara cinqüenta anos antes das aventuras de Harry. Mas esse monstro, segundo Aragogue, era na verdade “uma criatura muito antiga que nós, as aranhas, tememos mais do que a qualquer outra”. Posteriormente, Harry vai descobrir que Aragogue está se referindo ao basilisco e, quando percebe que as aranhas estão fugindo de Hogwarts, conclui que a grande serpente está à solta. Veja também: Basilisco AVADA KEDAVRA O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade? No mundo de Harry, esse é o feitiço mais mortífero, a pior das três Maldições Imperdoáveis. O uso de qualquer uma delas contra um ser humano pode condenar um bruxo a passar o fim de seus dias em Azkaban. Foi a maldição que Voldemort utilizou para matar os pais de Harry, a mesma com a qual tentou assassiná-lo e também a que acabou com a vida de Cedrico Diggory. Harry foi o único que sobreviveu ao seu poder fatal. Embora Rowling costume inventar a maioria de seus feitiços e maldições, a expressão “Avada Kedavra” tem origem em uma antiga língua do Oriente Médio chamada aramaico. A frase abbaââa kedhabra quer dizer “desapareça como esta palavra” e era utilizada por antigos feiticeiros para fazer doenças sumirem. Não há provas de que tenha sido usada para matar ninguém. Essa frase tem a mesma origem da palavra mágica abracadabra. Embora hoje só tenha utilidade para mágicos que animam festinhas de aniversário, já houve tempo em que era levada a sério pelos médicos. Quintus Serenus Sammonicus, médico romano que viveu por volta de 200 a.C, usava-a como feitiço para fazer baixar a febre de seus pacientes. De acordo com sua receita, era preciso escrevê-la onze vezes em um pedaço de papel, a cada vez retirando uma letra. Assim: ABRACADABRA ABRACADABR ABRACADAB ABRACADA ABRACAD ABRACA ABRAC ABRA ABR AB A O papel devia ficar amarrado em torno do pescoço do paciente com uma tira de linho durante nove dias. Depois disso, era preciso jogá-lo por sobre o ombro num rio que corresse para o leste. Quando a água apagasse as palavras, a febre desapareceria. A popularidade desse feitiço cresceu tanto durante os séculos que sucederam a Sammonicus, que ele foi usado até mesmo contra a Peste Negra. O leitor mais atento já deve ter percebido que este remédio, mesmo se não fizer mais nada, ajuda o tempo a passar. Como muitas doenças desaparecem naturalmente em uma ou duas semanas, o feitiço provavelmente não tinha nenhum efeito. Por outro lado, não doía! Veja também: Latim BASILISCOS Basiliscos eram apenas serpentes grandes? Os basiliscos estão entre as mais temíveis criaturas mágicas. “Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há nenhum mais curioso ou mortal”, descobriu Hermione em A Câmara. Com certeza o basilisco é muito mais do que uma serpente grande. Também conhecido como basilisca, ele esteve presente nas lendas durante muitos séculos. Em Animais Fantásticos, Rowling credita a um mago grego chamado Herpo, o Maluco, a criação do primeiro basilisco. Mas ela está apenas fazendo mais uma brincadeira. Herpein é uma palavra grega que significa rastejar. A ciência que estuda os répteis, como as cobras e as serpentes, chama-se herpetologia. No entanto, Rowling não está inventando quando diz que os basiliscos são resultado do cruzamento de um galo ou galinha com uma serpente ou um sapo. E exatamente isso o que dizem todas as lendas. Alguns artistas seguiram essa descrição ao pé da letra e desenharammonstros estranhos combinando carac- terísticas desses animais. Mas o mais comum é que os basiliscos sejam retratados como uma serpente com uma coroa ou uma mancha branca na cabeça. É provável que as najas, que possuem essas manchas, tenham inspirado a lenda do basilisco. BASILISCO, DE ACORDO COM UMA ANTIGA XILOGRAVURA. A MEDUSA TINHA COBRAS NA CABEÇA, EM VEZ DE CABELOS, OS HUMANOS QUE OLHARAM QUE OLHARAM PARA ELA FORAM TRANSFORMADOS EM PEDRA. Os basiliscos foram descritos como seres capazes de matar mesmo à distância. Segundo o naturalista romano Plínio, “matam os arbustos sem nem mesmo tocar neles, só com a respiração, e as pedras racham, tal é o poder diabólico dessas criaturas”. Alguns estudiosos descrevem três variedades: há o basilisco dourado, que pode envenenar alguém só com o olhar; um outro tipo capaz de cuspir fogo; e um terceiro, que, assim como a cabeça cheia de cobras da Medusa, provoca tamanho horror em quem o olha que suas vítimas ficam petrificadas. Até William Shakespeare fala de basiliscos em uma de suas peças, Ricardo III. Logo após assassinar seu irmão, o diabólico personagem principal vai cortejar a viúva, elogiando seus belos olhos. Mas ela não está interessada nos elogios e responde: “Quem me dera fosse os olhos de um basilisco para matá-lo.” Como vencer um basilisco Em A Câmara, um basilisco controlado por Lord Voldemort se infiltra em Hogwarts, quase matando Harry e vários de seus amigos. Harry é salvo por Fawkes, a fênix de estimação do professor Dumbledore, que fura os olhos do monstro. O fato de ele ter sido salvo por um pássaro é muito apropriado. De acordo com a lenda, um pássaro - o galo - é fatal para o basilisco. Por isso, na Idade Média, algumas pessoas levavam um galo nas viagens como proteção contra basiliscos. BASILISCO, EM UMA ESTAMPA MAIS RECENTE. Veja também: Aranhas Animais Nagini BICHOS-PAPÕES Criaturas que não sabem a hora de ir embora Algumas criaturas mágicas podem ser mais perigosas do que outras. A primeira vista, o bicho-papão parece ser perigosíssimo. Mas, como explica Hermione em Azkaban, ele “é capaz de assumir a forma do que achar que pode nos assustar mais”. Ou seja, incomoda mais do que machuca. Bicho-papão em inglês é boggart. Também é conhecido como bogey ou bogeyman nos Estados Unidos, bogle na Escócia e Boggelmann na Alemanha. Tidos como espíritos maltratados que se tornaram cruéis, os bichos-papões adoram brincadeiras de mau gosto e normalmente não chegam a ser perigosos. Eles gostam de agir à noite, quando ficam mais convincentes. Geralmente, bichos-papões assombram casas e, neste caso, a única maneira de se livrar deles é providenciar a mudança. Isso é mais fácil de falar do que de fazer, já que o bicho-papão, algumas vezes, resolve acompanhar uma família que ele acha particularmente divertida. Quanto mais irritada fica a família, mais o bicho-papão gosta dela. Harry encontrou bichos-papões em Azkaban e no campeonato de O Cálice. Ele os derrotou com a ajuda do professor Lupin, que lhe deu o mesmo conselho que damos às crianças de nosso mundo há centenas de anos: “O que realmente acaba com um bicho-papão é uma boa risada.” Obviamente, isso é bem mais fácil para os bruxos, que só precisam agitar suas varinhas e usar o feitiço Riddikulus para transformar o bicho-papão em uma coisa inofensiva. Veja também: Animais fantásticos Duendes Goblins Trasgos Veelas BRUXOS Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade? Quando embarcam pela primeira vez no Expresso Hogwarts, Rony mostra a Harry as figurinhas dos bruxos e bruxas famosos que vêm dentro da embalagem dos sapos de chocolate. Ele cita alguns: Dumbledore, Merlim, Paracelso, a druida Cliodna, Hengisto de Woodcroft, Morgana, Ptolomeu e Circe. Alguns desses bruxos existiram mesmo. Outros existem em lendas que já têm centenas de anos. Agrippa Heinrich Cornelius Agrippa foi um mago que viveu na Renascença. Nascido Heinrich Cornelius, perto de Colônia, Alemanha, em 1486, ele adotou o nome de Agrippa em homenagem ao fundador de sua cidade natal. Trabalhou como médico, advogado, astrólogo e com curas através da fé. Mas fez tantos inimigos quanto amigos e foi acusado de feitiçaria. Em 1529, publicou um livro chamado Sobre a Filosofia Oculta, valendo-se de textos hebraicos e gregos para argumentar que a melhor maneira de chegar a conhecer a Deus era por meio da magia. A Igreja declarou-o um herético e o prendeu. Morreu em 1535. Agrippa foi uma das inspirações de Wofgang Goethe para escrever a peça Fausto, na qual um homem de ciência faz um pacto com o diabo - semelhante ao pacto entre Voldemort e seus seguidores. Seu nome é também o termo usado para designar um livro de magia muito especial, cortado no formato de uma pessoa. Bem a propósito, sua figurinha é uma das mais raras. O FILÓSOFO E MAGO HEINRICH CORELIUS AGRIPPA. A druida Cliodna Na mitologia irlandesa, Cliodna desempenha diversos papéis, de deusa da beleza a mandatária da Terra Prometida - a vida após a morte. Ela é também a deusa dos mares. Alguns dizem que seu rosto surge nas praias em cada nona onda que se quebra no litoral. Ela tinha três pássaros encantados que curavam os enfermos. Paracelso Phillipus Aureolus Paracelso, nascido na Suíça em 1493, é considerado o fundador da química e da medicina modernas. Começou a vida como médico e depois dedicou-se ao estudo da magia, especialmente a alquimia e a arte das profecias. Sua reputação como mago e sua trajetória como médico estão ligadas. Como recusou-se a ficar limitado à formação médica tradicional e desenvolveu seus próprios métodos terapêuticos, foi acusado de bruxaria. Mas Paracelso ignorou seus críticos: “As universidades não ensinam tudo”, ele disse, “portanto, um médico precisa procurar as anciãs sábias, os ciganos, os bruxos e os feiticeiros de tribos, velhos ladrões e outros foras-da-lei para extrair deles o conhecimento. Um médico precisa ser um viajante. Conhecimento é experiência.” O TALENTOSO MÉDICO PARACELSO. Paracelso desenvolveu vários remédios úteis. Também descobriu a causa da silicose, uma doença comum entre os trabalhadores de minas, causada pela inalação de vapores metálicos, que anteriormente era atribuída a maus espíritos. Paracelso ajudou a controlar um surto de peste, em 1534, usando uma espécie de vacina. Suas posições e seus êxitos angariaram antipatia no meio médico. Paracelso passou mais de uma década exilado dos círculos acadêmicos e foi forçado a fugir para a cidade de Bassel, sob a proteção da noite, em 1528. Mas, por ocasião de sua morte, em 1541, sua reputação já havia crescido enormemente. Morgana Morgana foi uma feiticeira poderosa da mitologia britânica, especialmente dotada nas artes da cura. Merlim foi seu tutor e, algumas vezes, é dito que ela era meia-irmã do rei Artur. Apesar disso, sempre rivalizou com Artur, roubando sua espada, Excalibur, ou mesmo tramando sua morte. De acordo com algumas lendas, ela viveu no estreito de Messina. Uma corrente incomum que atravessa aquela região puxa as criaturas fosforescentes das profundezas para a superfície, criando a impressão de estranhas luzes ou de objetos flutuando sobre a água. Essas figuras são chamadas Fata Morgana, sendo que fata, em italiano, significa fada. Merlim Merlim é considerado um dos mais sábiosmagos que já existiram, um bruxo-mestre. Dizem que foi conselheiro dos reis britânicos Vortigern, Uther Pendragon e Artur. Embora a lenda possa ter se baseado em alguém que tenha existido de fato, o Merlim que conhecemos é um personagem tirado da fantasia. Por exemplo, alguns dizem que foi ele quem colocou no lugar as enormes pedras de Stonehenge. Outros dizem que ele possuía o dom da profecia porque vivia ao contrário, do futuro para o passado, e portanto já tinha visto o futuro. Merlim é mais conhecido como o mentor do rei Artur. Um notável paralelo é que ele ocultou o garoto Artur, protegendo-o, do mesmo modo como Dumbledore escondeu Harry de Voldemort. O poeta Alfred Lord Tennyson reconta parte dessa lenda em Idylls of the King: Por causa da amargura e do sofrimento Que oprimiu sua mãe, bem antes do seu nascimento, Artur veio ao mundo, e assim que nasceu Foi enviado às escondidas Para Merlim, para ser criado em lugar distante Até que fosse chegada sua hora-, e tudo porque os lordes Daqueles dias violentos eram os próprios senhores da violência, Bestas ferozes que com certeza teriam feito a criança Em pedaços, dividindo-a entre eles, se soubessem que ela existia, já que cada um deles Nada mais almejava senão ser o próprio poder, E muitos deles odiavam Uther. Razão pela qual Merlim levou a criança E a confiou a Sir Anton, um ancião cavaleiro E antigo amigo de Uther, e sua mulher então Cuidou do jovem príncipe, criando-o entre seus próprios, E nenhum homem disso soube. Assim, os lordes Lutaram uns contra os outros como bestas ferozes, Enquanto o reino se arruinava. Posteriormente, Merlim tornou-se tanto o tutor quanto o conselheiro de Artur, usando sua aguçada inteligência e sua poderosa magia para ajudar o jovem rei a lutar contra os inimigos da Bretanha. De acordo com algumas histórias, Merlim foi enganado pela Dama do Lago, a quem amava, e levado a criar uma coluna mágica feita de ar, que ela então utilizou para aprisioná-lo para sempre. Hengisto de Woodcroft Este mago ou é, ou recebeu seu nome em homenagem ao rei saxão da Inglaterra. O rei Hengisto e seu irmão Horsa - seus nomes vêm das palavras em alemão para “garanhão” e “cavalo” - chegaram à Inglaterra em 449 a.C, como mercenários, para ajudar o rei Vortigern a derrotar a rebelião dos Pictos e dos Celtas da Escócia. No entanto, começaram sua própria rebelião. Hengisto fundou o reino de Kent. Apesar de não ser chamado de Hengisto de Woodcroft nas crônicas anglo-saxônias, quando inquirido por Vortigern ele proclamou: “Adoramos os deuses de nossa terra: Saturno, Júpiter e outros que comandam as leis do mundo, e mais especialmente Mercúrio, que em nossa língua chamamos de Woden (relativo à madeira). Nossos ancestrais dedicavam o quarto dia da semana a ele, que até hoje é chamado de Wednesday (quarta-feira) em alusão a seu nome.” E razoável supor que Hengisto tenha também chamado seu reino de Woden (croft em inglês significa “terreno”, “pequena fazenda”). O mais provável entretanto é que o nome Woodcroft seja simplesmente um dos que J. K. Rowling descobriu num mapa e gostou. Em Peterborough, na Inglaterra, no norte de Kent, existe o Castelo Woodcroft, lugar famoso por seus assassinatos e fantasmas. Em 1648, o Dr. Michael Hudson, capelão do rei Charles, ali foi morto durante uma batalha contra as tropas de Cromwell. Conta-se que ele assombra o castelo, aparecendo sempre no aniversário da sua morte. Rumores de batalha, então, podem ser ouvidos, assim como os gritos de Hudson implorando misericórdia. Circe No poema épico de Homero, a Odisséia, Circe é apresentada como a “deusa poderosa e sagaz” que vive numa ilha. Os homens de Ulisses, voltando para casa depois da Guerra de Tróia, param em sua ilha e se tornam vítimas de seu encantamento: Quando chegaram à morada de Circe, viram que era construída de pedras cortadas da montanha, num sítio que poderia ser avistado de longe, do meio da floresta. Por toda a sua volta, era guardada por lobos e leões ferozes - pobres criaturas, vítimas de seus feitiços, que ela havia dominado pela magia e submetido às suas poções. Logo atingiram os portais de entrada da morada da deusa e, ali parados, podiam ouvir que Circe, lá dentro, cantava enquanto trabalhava em seu tear, tecendo uma rede tão fina, tão macia, e de cores tão deslumbrantes, que nenhuma outra deusa poderia tecer. Chamaram e ela desceu ao encontro deles, abriu os portais e os convidou a entrar. Sem suspeitar de nada, eles a seguiram. Uma vez que ela os viu dentro da casa, fez com que se sentassem e preparou uma bebida com mel, à qual misturou suas poções venenosas, o que os faria esquecer quem eram e de onde vieram. Depois que a beberam, transformou-os em porcos com um simples gesto de sua varinha mágica, para logo a seguir prendê-los no chiqueiro. Tinham toda a forma de porcos — cabeça, pêlos — e também grunhiam como porcos; mas sua consciência era a mesma de antes e eles se lembravam claramente do que haviam sido. Foi o próprio Ulisses que, tendo tomado uma poção especial, conseguiu resistir ao encantamento de Circe e, ao final do episódio, conseguiu libertar os seus homens. Alberico Grunnion Este nome deve ter sido inspirado pelo de Alberico, o poderoso bruxo do poema épico germânico Nibelungenlied (A Canção dos Nibelungos). O poema é um registro mítico de um evento histórico - a vitória dos hunos sobre o reino da Burgundia (hoje, parte da França), em 437 d.C. Foi a base de muitos trabalhos modernos, sendo o mais importante o Anel dos Nibelungos, uma série de peças de ópera ligadas entre si, compostas por Richard Wagner no século XIX. (Quando você vir desenhos com cantores de ópera usando capacetes com chifres, pode ter certeza de que estão cantando uma das óperas de Wagner). Na versão de Wagner, Alberico é o rei dos duendes, cheio de ódio e de ambição. Quando descobre um tesouro em ouro, guardado por donzelas inocentes, faz de tudo para obtê-lo, até mesmo renunciar para sempre ao amor. Ele usa o ouro para fazer um anel que lhe dá grande poder. Quando o anel é roubado, Alberico joga sobre ele uma maldição. Todo aquele que o usar padecerá enormes sofrimentos. Na continuação da história, outros personagens tentam conquistar o anel e pagam caro por isso. Veja também Flamel CÁLICE DE FOGO, O Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda? O Cálice de Fogo é “um cálice grande de madeira toscamente talhado” que “teria sido considerado totalmente comum se não estivesse cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão de dançar”. Através da mágica, ele seleciona alguns bruxos para testá-los no Torneio Tribruxo. Esse desafio e sua fonte misteriosa ligam os competidores, incluindo Harry e Cedrico, às lendas do rei Artur e da Távola Redonda. O Cálice de Fogo tem grande semelhança com outro cálice poderoso que foi responsável por torneios e batalhas: o Santo Graal. Segundo se acredita, o Graal possui poderes mágicos e teria sido usado por Cristo na Ultima Ceia. Embora algumas vezes retratado como sendo feito de prata brilhante, o Santo Graal, usado por um humilde carpinteiro, provavelmente teria sido feito de madeira - semelhante ao Cálice de Fogo. O Graal, assim como o Cálice de Fogo, era um objeto mágico. Quem bebesse dele obteria curas miraculosas. E, assim como o Cálice de Fogo, o Graal pressentiria se determinado cavaleiro o merecia. De acordo com a lenda, passando um períododifícil em seu reinado, Artur fez uma prece implorando um sinal dos céus. Como resposta, teve a visão do Graal. Nas primeiras histórias, o Graal era uma grande travessa,- com o passar dos tempos, tornou-se um cálice. Ele e seus cavaleiros, então, lançaram-se à sua busca, tentando obtê-lo, ou pelo menos entender o seu significado. No mundo de Harry, a última tarefa do Torneio Tribruxo também é encontrar um Graal, neste caso a Taça Tribruxo, e conquistá-la para Hogwarts. Nas lendas do rei Artur, o Graal foi finalmente encontrado por Galahad, porque a sua alma era imaculadamente pura. Da mesma forma, Harry e Cedrico conseguem encontrar a Taça Tribruxo por seu caráter e por suas habilidades mágicas. É curioso notar que, embora seja Galahad quem encontre o Graal, a maioria das lendas destaca um personagem chamado Percival. Nascido numa família de camponeses, Percival viria a provar sua virtude e a se tornar um cavaleiro da Távola Redonda. Se Percy Weasley algum dia mostrará as qualidades insinuadas pela semelhança do seu nome com o do cavaleiro, é algo que ainda veremos. Veja também: Labirintos CENTAUROS Por que centauros evitam os humanos? Centauros são animais míticos que têm corpo de cavalo e tronco, braços e cabeça de gente. Em Animais Fantásticos, J. K. Rowling diz que eles “preferem manter distância de feiticeiros e trouxas em geral”. É uma crença que remete a antigas lendas. De acordo com essas histórias, centauros vêm das montanhas da Grécia, onde costumavam se relacionar muito bem com os habitantes locais. No entanto, quando alguns deles exageravam no vinho, tornavam-se selvagens e violentos. Por causa disso, eram freqüentes as guerras entre centauros e humanos. Uma das mais famosas começou por causa de uma festa de casamento para a qual os centauros tinham sido convidados. Como de hábito, eles exageraram um pouco no entusiasmo e acabaram tentando raptar a noiva, o que motivou uma guerra intensa na qual foram derrotados. As cenas dessa guerra eram uma das decorações preferidas nos vasos gregos. No entanto, nem todos os centauros tinham um comportamento bestial. Alguns deles eram conhecidos por sua nobreza de caráter... Chiron, a quem os deuses Apolo e Artemis ensinaram as artes da medicina e da caça, fundou uma escola onde estudaram alguns dos grandes heróis da época, como Aquiles e Ulisses. Perdido nas estrelas Apesar de imortal, Chiron foi ferido por uma flecha com a ponta envenenada. O ferimento provocado pela flecha causou-lhe um sofrimento intenso e incessante. Chiron preferiu morrer do que sentir dores intensas durante o restante de sua vida. Em reconhecimento pela bondade de Chiron, Zeus o colocou entre as estrelas da constelação de Sagitário. Outra constelação, a do Centauro, é uma das mais visíveis do Hemisfério Sul. Duas de suas estrelas, Alfa Centauro e Beta Centauro, estão entre as dez mais brilhantes do céu. Alfa Centauro é a estrela mais próxima da Terra e do Sol, a mais de 4,3 anos-luz. Tantos centauros no céu explicam por que Firenze, Ronan e Agouro, os que habitam a Floresta Proibida de Hogwarts, estão sempre de olho nas estrelas para ler o futuro. NESSO, O CENTAURO INIMIGO DE HÉRCULES, RETRATADO EM UAI VASO GREGO DO SÉCULO VII A.C. CORUJAS Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja? As corujas, é claro, são o principal meio de comunicação entre os bruxos do mundo de Harry. Mas, em nosso mundo, apesar de todos gostarem de receber cartas, nem todos gostam de corujas. Muitas culturas, como a egípcia, a romana e a asteca, têm sentimentos ambíguos com relação a esse predador. Em muitas partes do mundo, o piado agudo da coruja é considerado mau presságio, às vezes mesmo o anúncio da morte. Além do mais, as corujas, como pássaros noturnos, são há muito associadas com a bruxaria, o que com certeza apavora algumas pessoas. No entanto, houve culturas que reverenciavam esse pássaro. O símbolo de Atenas era uma coruja, e isso porque havia muitas delas na região. Havia um ditado antigo: “Não mande corujas para Atenas”, significando fazer algo inútil. Hoje em dia, uma frase similar seria: “Vender geladeiras para esquimós”, já que os esquimós obviamente não precisam de geladeiras. Mas, como Atenas era um centro de conhecimento, as corujas também se tornaram símbolo de inteligência. Eram o símbolo de Minerva, a deusa romana da sabedoria (derivada da deusa grega Palas Atenas, protetora de Atenas). DEMENTADORES Chocolate, um santo remédio contra dementadores Como todo fã de Harry Potter sabe, dementadores são criaturas mágicas letais. Eles não têm rosto e vestem mantos longos, que cobrem inteiramente seu corpo “cinzento, de aparência viscosa e coberto de feridas”. Dementadores “esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta” (Azkaban). A explicação de Rowling Em uma entrevista, Rowling confirmou que os dementadores representam a doença mental conhecida como depressão: “É exatamente o que eles são. Foi uma coisa inteiramente consciente e totalmente tirada da minha experiência. A depressão foi a coisa mais desagradável que vivenciei. É uma impossibilidade de imaginar que você algum dia será uma pessoa alegre novamente. A ausência de esperança. Um sentimento de apatia muito diferente da tristeza. A tristeza machuca, mas é um sentimento saudável, uma coisa necessária. Depressão é outra história.” Não podemos deixar de notar que o remédio utilizado para minimizar os efeitos provocados pelos dementadores é o chocolate, que os médicos dizem ser capaz de fazer com que as pessoas deprimidas se sintam mais animadas. O chocolate produz alguns efeitos semelhantes aos dos remédios receitados pelos médicos. E, como não podia deixar de ser, chocolate parece ser a cura ideal para a maior parte dos males no mundo de Harry. DEMÔNIOS DA CORNUALHA Qual é o truque preferido dos duendes? Duendes são agitados espíritos domésticos que aparecem nas lendas do sudoeste da Inglaterra, que inclui a Cornualha. Na maioria das histórias, vestem roupas verdes e um chapéu pontudo. Possuem traços juvenis e muitos têm o cabelo ruivo. J. K. Rowling se afasta da tradição ao descrevê-los, em A Câmara e em Animais Fantásticos, como “azuis-elétricos com cerca de oito polegadas de altura”. No folclore, duendes costumam agir de modo semelhante aos elfos domésticos do mundo de Harry. Podem ser muito úteis, mas basta que ganhem uma peça de roupa de presente para desaparecerem. No entanto, diferentemente dos elfos domésticos, que ficam felizes por fazerem todo o trabalho, os duendes não costumam facilitar a vida dos preguiçosos. Duendes adoram dançar à luz do luar. Também costumam retirar cavalos dos estábulos para galopar durante a noite inteira. Só os devolvem pela manhã, exaustos e cheios de misteriosos nós na crina. Mas sua brincadeira preferida é fazer com que viajantes se percam nas estradas. Por isso, na Inglaterra, sempre que alguém está confuso ou desnorteado, dizem que foi “guiado por um duende”. O feitiço desorientador pode ser quebrado se a vítima tirar o casaco e tornar a vesti-lo pelo avesso. Desviar viajantes do caminho é um truque também usado por outro espírito inglês mencionado em Azkaban-, hinkypunk. Como ele é mais parecido com uma nuvem esfumaçada do que uma pessoa sólida, também é chamado de Will o' the Wisp. Veja também: Bicho-papão Animais
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