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David Colbert - O Mundo Mágico de Harry Potter

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Um dos prazeres de ler J.K. Rowling é descobrir as divertidas referências à 
história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus livros. 
 
O Mundo Mágico de Harry Potter desvenda as pistas deixadas 
por Rowling e revela significados habilmente escondidos nas aventuras 
de Harry Potter. 
Os leitores irão encontrar neste livro as fascinantes origens das 
criaturas mágicas citadas nos livros e histórias de alquimistas e 
feiticeiros, reais e imaginárias, através da contribuição de escritores tão 
variados como Shakespeare, Flaubert, Dickens, Ovídio e Tolkien. 
Não se preocupe se jamais tiver percebido nenhuma dessas 
pistas. Um dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade 
de lançá-las sem quebrar o ritmo da narrativa. No entanto, quando você 
descobre que muitas de suas referências fazem parte de lendas de 
milhares de anos, as histórias ficam ainda mais saborosas. 
Antes de tudo, um escritor é um leitor. Depois de devorar suas 
histórias, podemos notar que J. K. Rowling foi uma grande leitora, antes 
de se tornar uma grande escritora. Tão impressionante quanto o seu 
conhecimento sobre mitos e lendas é sua habilidade de aproveitá-los de 
modo tão original e de atualizá-los. 
J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o 
termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela, 
cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece 
 
material para os escritores e é continuamente alimentada por eles. 
Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja 
único, ele é construído sobre uma sólida base de mitos e folclore 
preservada através do tempo e da distância. A popularidade de seus 
livros atesta a riqueza da cultura de onde ela extrai muitos de seus 
personagens, imagens e temas. 
O Mundo Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs 
que tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você 
verá, ela utiliza pequenos detalhes de lendas e histórias já existentes para 
criar uma coisa totalmente nova. E, ainda assim, permanece totalmente 
fiel à essência de suas fontes. 
Em um chat online com fãs, ela encorajou um leitor, que 
perguntava a origem de uma frase, a “ir em frente e pesquisar. Um pouco 
de investigação faz bem a qualquer um”. É isso o que O Mundo Mágico de 
Harry Potter faz: uma pequena e descompromissada investigação com o 
propósito de divertir e fascinar. 
 
 
 
 
 
 
 
Sobre o autor: 
 
Formado pela Brown University, David Colbert estudou 
antropologia e mitologia, embora tenha passado a maior parte de seu 
tempo na biblioteca da universidade lendo o que encontrava - o que, 
de certa forma, ele continua fazendo até hoje. Além de escrever e editar 
vários livros sobre história, como World War II: A Tribute in Art and 
Literature e a coleção Eyewitness, Colbert trabalhou como redator-chefe 
do programa de televisão Who Wants To Be a Millionaire, similar ao 
popular Show do Milhão. Ele mora na Carolina do Norte, nos Estados 
Unidos, e seu e-mail para contato é djcolbert@aol.com 
 
2001 por David Colbert 
Título da edição original em inglês: The magical worlds of Harry Potter: 
A treasury of myths, legends and fascinating facts 
Publicado originalmente por Lumina Press LLC 
tradução Rosa Amanda Strausz 
preparo de originais Carlos Irineu da Costa 
revisão José Tedin Pinto Sérgio Bellinello Soares 
capa Raul Fernandes 
projeto gráfico e diagramaçâo Valéria Teixeira 
 
 
 
Para minhas sobrinhas 
Emma, Lillian e Molly, e 
meu sobrinho Sam 
 
 
 
LEIA OS MITOS COM OLHOS MÁGICOS: 
deixe os mitos ficarem transparentes a 
seu significado universal, e os 
significados dos mitos ficarem 
transparentes às suas origens misteriosas. 
 
O primeiro dos “Dez Mandamentos 
de Joseph Campbell para se 
Ler Mitologia” 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Introdução 
O Que faz de Harry Potter um herói universal? 
Adivinhação Sibila Trelawney já acertou alguma coisa? 
Alquimia Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica? 
Animagos Quais são os mais impressionantes animagos? 
Animais fantásticos Quais animais fantásticos saíram das lendas? 
Aranhas Como espantar uma aranha 
Avada Kedavra O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade? 
Basiliscos Basiliscos eram apenas serpentes grandes? 
Bichos-papões Criaturas que não sabem a hora de ir embora 
Bruxos Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade? 
Cálice de Fogo, O Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda? 
Centauros Por que centauros evitam os humanos? 
Corujas Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja? 
Dementadores Chocolate, um santo remédio contra dementadores 
Demônios da Cornualha Qual é o truque preferido dos duendes? 
Dragões Qual é a criatura digna de um rei? 
Druidas Quem foram os primeiros magos ingleses? 
Duendes Por que os duendes são bons banqueiros? 
Dumbledore Se Dumbledore é tão poderoso, por que não luta com Voldemort? 
Durmstrang Por que os alunos de Durmstrang viajam de navio? 
Egito De onde vem a magia 
Esfinge Por que a Esfinge faz uma pergunta a Harry? 
Espelhos Por que os espelhos são mágicos? 
Fawkes Qual dos personagens é imortal? 
Flamel O verdadeiro Flamel foi um alquimista bem-sucedido? 
Floresta Por que a floresta próxima a Hogwarts é proibida? 
 
Fofo Por que Fofo pertencia a um “sujeito grego”? 
Gárgula Que outro membro da turma de Draco tem nome de dragão? 
Gigantes Todos os gigantes são cruéis? 
Grifos Qual a criatura que domina tanto os céus quanto a terra? 
Grindylows Por que os pais se preocupam com os grindylows? 
Hipogrifos Qual é a criatura mágica menos verossímil? 
Hogwarts Por que alguém iria para uma escola onde tem uma Sonserina? 
Kappas Qual a criatura que não pode inclinar a cabeça? 
Labirintos Por que a terceira tarefa se passa em um labirinto? 
Latim Qual é o idioma mais importante para os bruxos? 
Lulas gigantes Quais criaturas da vida real ainda intrigam os cientistas? 
Malfoy Por que os nomes dos Malfoy combinam tanto com eles? 
Manticores Por que os bruxos não se aproximam dos manticores? 
Marca Negra Por que Voldemort grava a Marca Negra nos Comensais da Morte? 
McGonagall Por que a professora McGonagall aparece como uma gata? 
Nagini Qual dos aliados de Voldemort é originário da índia? 
Nomes De onde vêm esses nomes? 
Runas O que são as runas da penseira? 
Sereianos Por que teríamos medo de uma criatura do mar? 
Sirius Black Por que Sirius Black vira um cachorro negro? 
Trasgos Por que os trasgos cheiram mal? 
Unicórnios Como pegar um unicórnio? 
Vablatsky Quem realmente escreveu o livro de adivinhações? 
Varinhas mágicas Por que os bruxos usam varinhas mágicas? 
Vassouras voadoras Será que as bruxas sempre usaram vassouras voadoras? 
Veelas O que deixa as veelas zangadas? 
Voldemort Que pesadelos terão gerado Voldemort? 
Posfácio 
Agradecimentos 
Bibliografia 
 
GUIA DAS ABREVIAÇÕES DOS TÍTULOS DOS LIVROS 
 
Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Pedra 
Harry Potter e a Câmara Secreta: A Câmara 
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: Azkaban 
Harry Potter e o Cálice de Fogo: O Cálice 
Animais Fantásticos e Onde Habitam: Animais Fantásticos 
Quadribol Através dos Séculos: Quadribol 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Um dos prazeres de ler J. K. Rowling é descobrir as divertidas 
referências à história, às lendas e à literatura que ela esconde em seus 
livros. Por exemplo, a esfinge que surge no labirinto durante o Torneio 
Tribruxo pede a solução de um enigma, exatamente como a esfinge da 
mitologia grega. Fofo, o cachorro de estimaçãode Hagrid, é, na verdade, 
outro famoso ser da mitologia grega, Cérbero. “Durmstrang”, nome da 
escola de magia que só admite bruxos de sangue puro e tem uma ligação 
questionável com Lord Voldemort, vem de um estilo germânico 
chamado Sturm und Drang, que era o favorito do nazismo alemão. Da 
mesma maneira, os estudantes de Durmstrang chegaram a Hogwarts a 
 
bordo de um navio semelhante ao existente em uma famosa ópera do 
estilo Sturm und Drang. 
Leitores mais atentos já perceberam que Rowling também 
esconde pistas divertidas nos nomes que escolhe para seus personagens. 
Draco, o vingativo colega de Harry, tem seu nome inspirado na palavra 
latina para “dragão” ou “serpente”. A fênix de estimação de 
Dumbledore, Fawkes, tem seu nome tirado de uma figura histórica 
ligada a fogueiras - e acredita-se que as fênix sejam capazes de renascer 
do fogo. 
Este livro desvenda as pistas deixadas por Rowling e revela seus 
significados habilmente escondidos. Em um chat online com fãs, ela 
encorajou um leitor, que perguntava a origem de uma frase, a “ir em 
frente e pesquisar. Um pouco de investigação faz bem a qualquer um”. E 
isso o que O Mundo Mágico de Harry Potter faz: uma pequena e 
descompromissada investigação com o propósito de divertir e fascinar. 
Você pode até mesmo compartilhar um sorriso com a própria 
Rowling. Como disse a revista Time ao observar que o zelador de 
Hogwart, Argus Filch, teve seu nome inspirado no Argus da mitologia 
grega - um vigia com mil olhos espalhados pelo corpo -, “é o tipo de 
detalhe capaz de provocar um sorriso dentro da cabeça do autor”. 
Não se preocupe se você nunca tiver percebido essas pistas. Um 
dos mais extraordinários talentos de Rowling é sua habilidade de 
colocá-las no texto sem quebrar o ritmo da narrativa. Por exemplo, em 
 
Azkaban, ela ficou satisfeita em fazer apenas uma rápida referência ao 
manticora - um horrível monstro devorador de gente. Deixar passar a 
oportunidade de descrever detalhadamente uma criatura dessas exige 
disciplina. Para Rowling, bastou fazer uma referência casual. No 
entanto, quando você sabe o que é um manticora e que ele fez parte de 
muitas lendas por milhares de anos, a história fica ainda mais saborosa. 
J. R. R. Tolkien, autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, criou o 
termo “caldeirão de histórias” para descrever uma fervilhante panela 
cheia de idéias, personagens e temas, que ao mesmo tempo fornece 
material para os escritores e é continuamente alimentada por eles. 
Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja único, ele é 
construído sobre uma sólida base de mitos e folclore preservada através 
do tempo e da distância. 
A popularidade de seus livros comprova a riqueza da cultura de 
onde ela extrai muitos de seus personagens, imagens e temas. O Mundo 
Mágico de Harry Potter revela esses amplos domínios para os fãs que 
tiveram sua atenção despertada pela obra de Rowling. Como você verá, 
ela cria algo totalmente novo usando pequenos detalhes de lendas e 
histórias já existentes. Ainda assim, permanece totalmente fiel à essência 
de suas fontes. 
 
 
 
 
 
O QUE FAZ DE HARRY POTTER UM HERÓI 
UNIVERSAL? 
 
Os detalhes da vida de Harry são bem conhecidos por seus fãs. 
Alguns deles chegaram mesmo a deduzir certas informações que J. K.. 
Rowling não oferece, como o ano de nascimento de Harry (veja a 
legenda abaixo). 
 
 
Harry, o herói 
 
Mas, se conseguimos entender profundamente o personagem de 
Harry Potter, isso não se deve somente aos fatos. Harry, apesar de suas 
qualidade únicas, é um herói que nos parece bastante familiar. Desde o 
comecinho de A Pedra ele já aparece como um príncipe perdido ou um rei 
oculto - assim como Édipo, Moisés, o rei Artur e inúmeros outros de 
todas as culturas. Ele nunca soube que era um bruxo - nem mesmo sabia 
que existia o mundo mágico - antes de receber a carta chamando-o para 
Hogwarts. 
 
Quando nasceu Harry Potter? 
Alguns fãs dizem que foi em 1980, calculando a partir do 
 
500º aniversário de morte de Nick Sem-Cabeça, em A Pedra. Nick 
morreu em 1492. Dessa forma, A Pedra se passaria em 1992. 
Harry tem doze anos nessa ocasião. Apesar de alguns pequenos detalhes 
no livro contradizerem essa conclusão, ainda é um bom palpite. 
 
Para torná-lo ainda mais familiar a todos nós, ele é, pelo menos 
de acordo com os estranhos padrões dos Dursley, um patinho feio. Assim, 
eles o maltratam, como Cinderela foi maltratada, aprisionando-o num 
mundo totalmente alheio ao seu, forçando-o a dormir debaixo das 
escadas quando uma cama com dossel está à sua espera em Hogwarts, e 
alimentando-o de restos, o que o faz ficar espantado com a abundância 
dos banquetes de Hogwarts. 
 
 
Como Harry vê a si mesmo 
 
Apesar de a entrada para o mundo dos bruxos oferecer a Harry, 
de imediato, o reconhecimento que ele tão desesperadamente deseja - 
todo mundo que ele encontra já ouviu falar no grande Harry Potter -, ele 
ainda sente dúvidas, e muitas. A cicatriz brilhante não foi a única marca 
deixada por Voldemort. No fundo de sua consciência, ele guarda 
recordações daquela luta. Alguma coisa da psique de Voldemort 
conseguiu penetrar em Harry. E ele se preocupa com a dúvida em que 
 
ficou o Chapéu Seletor em A Pedra: ele pertence à casa Grifinória, com as 
virtudes que isso implica, ou será de Sonserina, suscetível ao Mal? Em A 
Câmara, Dumbledore explica-lhe que entre o Bem e o Mal existem 
sombras, áreas cinzentas, e não apenas escuridão e luz. A porção de 
Voldemort que há em Harry, segundo Dumbledore, simplesmente o 
torna mais incomum, ou dotado de mais habilidades do que a média dos 
alunos da Grifinória. E também o ajuda a entender Voldemort, o que é 
sempre uma vantagem. Nas futuras batalhas, essa força extra e esse 
conhecimento sem dúvida vão ajudar Harry. 
 
 
Linhagem 
 
A mãe de Harry, apesar de ser uma bruxa poderosa, nasceu 
trouxa. Para aqueles que dão importância à linhagem, como Draco 
Malfoy, Harry é um bruxo inferior. Mas, de alguma maneira, parece 
justamente que Harry é ainda mais forte justamente por também ter 
sangue de trouxa. 
De fato, suas conversas com Draco fazem eco a um incidente 
na infância de um outro grande mago britânico, Merlim, contado pelo 
antigo historiador Geoffrey of Monmouth: “Uma súbita discussão 
irrompeu entre os dois colegas, cujos nomes eram Merlim e Dinabutius. 
Em meio à troca de palavras, Dinabutius disse a Merlim: 'Por que você 
 
tenta competir comigo, seu idiota? Como pode pretender que suas 
habilidades estejam à altura das minhas? Tenho sangue nobre em ambos 
os lados da minha ascendência. Já você, ninguém sabe quem é, já que 
nunca teve um pai!'“ 
Mas o adversário de Merlim, assim como Draco Malfoy, estava 
predisposto a equívocos causados pelo próprio orgulho. Seu rompante 
atraiu a atenção dos mensageiros do rei Vortigern, que haviam 
justamente sido instruídos a encontrar um garoto sem pai. Foi assim que 
o jovem Merlim foi levado à presença do rei, e então iniciou sua carreira. 
 
 
Harry com mil caras 
 
As aventuras de Harry também seguem um padrão que nos 
parece sempre familiar. O estudioso Joseph Campbell escreveu um 
longo trabalho sobre o herói das mil caras, um personagem comum e 
central em diversas culturas por todo o mundo. 
De Ulisses, na Grécia Antiga, a Luke Skywalker, de Guerra nas 
Estrelas, esses heróis e suas lendas guardam uma intrigante similaridade. 
Contando com Harry, são mil e uma caras. 
Campbell resume tais histórias da seguinte maneira: “Um herói 
se arrisca a deixar o mundo cotidiano e penetra numa região do 
sobrenatural e do fantasioso.Forças miraculosas estão à sua espera, e ele 
 
alcança um triunfo decisivo. O herói retorna de sua misteriosa aventura 
dotado agora do poder de auxiliar seus semelhantes humanos.” 
A jornada do herói segue três etapas, que Campbell nomeia de 
Partida, Iniciação e Retorno. Entre essas etapas há pontos em comum com 
as aventuras de Harry. Uma olhada rápida nos livros revela a constância 
desse padrão: 
 
I. Partida 
 
O herói é chamado a aventura. 
De acordo com Campbell, o herói é primeiramente visto no mundo 
cotidiano. Ele está iniciando uma nova etapa em sua vida. Um mensageiro pode ser 
enviado para anunciar o destino que chama pelo herói. 
 
O início de A Pedra se encaixa bem nesta descrição. Harry está 
sofrendo horrores em sua convivência com os Dursley quando descobre 
que há um lugar à sua espera em Hogwarts. Como os Dursley 
interceptam as primeiras cartas, Hagrid vem pegá-lo. 
Harry continua a passar as férias com os Dursley e, portanto, os 
livros seguintes começam novamente com Harry no mundo cotidiano. 
 
O herói pode rejeitar o chamado da aventura. Ele pode ter inúmeras razões 
para tanto, desde as suas responsabilidades diárias até o egoísmo — ele não quer se 
 
dedicar a ajudar os outros. No entanto, por mais que resista, vai acabar descobrindo 
que não tem escolha a não ser seguir em frente. 
 
Embora Harry não percorra essa etapa em A Pedra, vai fazer isso 
nos livros seguintes. 
Em A Câmara, ele fica perturbado com a atenção dos outros, 
provocada por sua aventura anterior, e busca o anonimato. Mas seu 
caráter corajoso torna impossível para ele ignorar as misteriosas 
ocorrências - que, como manda o destino, têm Harry como alvo. 
Em O Cálice, mesmo tendo decidido não enganar o Cálice de 
Fogo para participar do Torneio Tribruxo, ele o escolhe da mesma 
forma. 
O herói encontra um protetor, um guia, que lhe oferece uma ajuda através de 
poderes sobrenaturais, freqüentemente sob a forma de amuletos. 
Aí está algo que vive acontecendo. Em A Pedra, Hagrid é 
mostrado como um dos protetores de Harry desde o nascimento do 
garoto. Ele foi o bruxo que levou Harry aos Dursley ainda bebê. 
Posteriormente, eles se reencontram, quando Harry está indo para 
Hogwarts. Eles visitam o Beco Diagonal, onde Hagrid cuida que Harry 
compre uma varinha mágica e outros acessórios de 
bruxos. Como presente de aniversário, Hagrid lhe dá 
uma coruja, Edwiges. Do mesmo modo, Dumbledore 
tem sido um protetor e um guia de Harry. 
 
 
 
Em A Pedra, ele dá a Harry a capa da invisibilidade. Em Azkaban, 
Harry descobre que Sirius vinha protegendo-o. 
 
O herói encontra a primeira entrada para o novo mundo. O protetor pode 
apenas levar o herói até a entrada, ele deve atravessá-la sozinho. O herói pode ter de 
lutar, inicialmente, com um guardião da entrada que está ali para impedi-lo de 
atravessá-la, ou superá-lo pela astúcia. 
 
O clímax de cada uma das aventuras de Harry começa com a 
travessia solitária de uma entrada. 
Em A Pedra, Rony pode ajudá-lo a definir quais são os 
movimentos a serem dados no xadrez e Hermione auxilia-o a descobrir 
as poções que o ajudarão a atravessar as chamas negras. Mas somente 
Harry pode entrar na “última câmara”, onde enfrenta Quirrell. 
Em A Câmara, apesar de ele, Rony e Lockhart percorrerem o 
escoadouro para encontrar o basilisco e salvar Gina Weasley, Harry 
precisa vencer sozinho o último e mais perigoso trecho da jornada. 
 
O herói penetra na “barriga da baleia”, uma expressão tirada das lendas, 
como a história de Jonas, que representa “ser tragado pelo desconhecido”. 
 
 
Seja quando entra na Câmara Secreta ou quando penetra no 
esconderijo de Lupin, debaixo do Salgueiro Lutador, Harry está na 
barriga da baleia. 
 
 
II. Iniciação 
 
O herói segue um caminho no qual é continuamente posto à prova. O 
ambiente é desconhecido. O herói pode encontrar companheiros que o ajudem a passar 
pelas provas. Forças invisíveis podem também vir em seu auxílio. 
 
Esses elementos se repetem em todos os livros. 
Harry sempre recebe novos amuletos, tal como a Capa 
da Invisibilidade, em A Pedra, e o Mapa do Maroto, em 
Azkaban. Ele aprende a invocar forças, como o 
Patrono. 
 
O herói é raptado, ou precisa empreender uma jornada à noite ou pelo mar. 
 
Harry é literalmente raptado quando toca a Taça Tribruxo, que 
havia sido transformada em portal. 
 
O herói enfrenta um dragão simbólico. Ele pode sofrer uma morte ritual, 
 
talvez mesmo desmembramento. 
 
Harry luta contra o basilisco, os dementadores e, é claro, com o 
maior de todos os dragões simbólicos - Voldemort. 
E parece que em cada aventura Harry sofre novos tipos de 
ferimentos - por exemplo, ele é literalmente desmembrado em A Câmara, 
quando quebra o braço durante uma partida de quadribol e seus ossos 
são acidentalmente removidos por um feitiço malfeito. 
 
O herói é reconhecido por seu pai ou se reúne a ele. Ele começa a entender essa 
força que comanda a sua vida. 
 
Em todas as aventuras, Harry vivência um profundo 
momento de contato com seus pais, como quando eles 
aparecem no Espelho de Ojesed, em A Pedra, e como 
imagens fantasmas emitidas pela varinha mágica de 
Voldemort, em O Cálice. 
 
O herói torna-se quase divino. Ele ultrapassou a ignorância e o medo. 
 
Harry conquista uma vitória contra o medo em cada aventura. 
Embora pareça surpreso por conseguir isso, ele se convence, 
progressivamente, a cada embate com Voldemort, que o Lorde das 
 
Trevas não o derrotará. Como diz Dumbledore, ao final de O Cálice, 
“Você mediu forças com o poder de um bruxo adulto e enfrentou-o de 
igual para igual”. 
 
O herói recebe a última dádiva, o objetivo de sua busca. Pode ser um elixir da 
vida. E pode ser diferente do objetivo original do herói, pois ele se tornou mais sábio 
durante seu percurso. 
 
Em A Pedra, o Espelho de Osejed coloca a última dádiva -algo que 
de fato produz um elixir da vida - bem em seu bolso. Em A Câmara, ele 
derrota o monstro que vive nos subterrâneos de Hogwarts há décadas, 
salvando Gina Weasley (e inúmeros outros estudantes que poderiam ter 
se tornado vítimas do basilisco). 
Em Azkaban, ele encontra o prêmio que todos os bruxos vêm 
procurando: Sirius Black. Mas, depois de descobrir a verdade sobre 
Black, ele arruma um jeito para salvá-lo da inevitável 
sentença de morte - o que é a mesma coisa que ter lhe dado 
um elixir da vida. 
Em O Cálice, o objetivo é óbvio: a vitória no Torneio 
Tribruxo. Mas o que Harry descobre é mais profundo. Ele 
luta contra Voldemort, varinha mágica contra varinha mágica, e 
novamente escapa da morte - dessa vez, em virtude de suas próprias 
habilidades. Então, começa a se dar conta do quanto é grande o seu 
 
poder de bruxo. 
III. Retorno 
 
O herói empreende um vôo mágico de volta ao seu lugar de 
origem. Ele pode ser salvo por forças mágicas. Um de seus protetores 
iniciais pode ajudá-lo. Uma pessoa, ou alguma coisa de seu mundo de 
origem, pode aparecer para trazê-lo de volta. 
 
Em A Pedra, Harry é miraculosamente salvo, e viaja de volta 
enquanto ainda está inconsciente. 
Em A Câmara, ele é salvo por Fawkes. A fênix lhe traz o Chapéu 
Seletor, que lhe entrega a Espada de Griffindor, com a qual ataca o 
basilisco. 
Em O Cálice, falando com a imagem de Cedrico Diggory, emitida 
pela varinha de Voldemort, Harry jura solenemente levar de volta o 
corpo de Diggory para Hogwarts. 
 
O herói volta ao mundo cotidiano, atravessando de novo a passagem. Ele pode 
ter alguma dificuldade para se readaptar à sua vida original onde as pessoas não 
conseguem compreendero que vivenciou. 
 
Depois de cada período escolar, ele tem de voltar para a 
residência dos Dursley, na Rua dos Alfeneiros, onde definitivamente 
 
ninguém o compreende. Mesmo outros bruxos têm dificuldade de 
compreendê-lo, como lemos no final de Azkaban. “Ninguém em 
Hogwarts sabia a verdade do que acontecera... A medida que o trimestre 
foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que 
realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da 
verdadeira.” 
 
O herói se torna senhor de ambos os mundos: o do cotidiano, que representa a 
sua existência material, e o mundo mágico, que significa seu íntimo. 
 
Encontrar Voldemort é o pior pesadelo da maioria dos bruxos. 
Mas Harry encontrou-o muitas vezes e viu coisas que nenhum outro 
bruxo jamais viu. Esses encontros o fizeram conhecer uma parte de si 
mesmo na qual os demais bruxos jamais pensaram. Todos podem estar 
certos de que, eventualmente - mesmo que ele próprio duvide -, essas 
experiências vão fazer dele um bruxo até mesmo mais poderoso do que 
Dumbledore. (Não há dúvida de que Dumbledore sabe disso, e de que a 
perspectiva lhe agrada.) 
 
O herói conquistou sua liberdade para viver como desejar. Superou os medos 
que o impediam de viver plenamente. 
 
O medo, assim nos é dito, é o maior inimigo de Harry - maior até 
 
do que Voldemort. Em Azkaban, o professor Lupin não deixa Harry 
enfrentar o bicho-papão porque não queria uma imagem de Voldemort 
revoando por Hogwarts. Mas Harry lhe diz: “Eu não estava pensando 
em Voldemort... Eu lembrei foi dos dementadores.” Lupin fica 
impressionado com a percepção de Harry. “Isso sugere que o que você 
mais teme é o medo. Muito sábio, Harry.” 
Claro que Rowling não segue uma espécie de mapa passo a 
passo. Esses padrões e modelos aparecem em seus livros assim como 
têm estado presentes na mitologia e no folclore há séculos, já que a 
jornada do herói permanece a mesma. Lutar contra as forças das trevas que 
existem no mundo exige que o herói enfrente as trevas que existem 
dentro de si mesmo e redescubra, a cada aventura, que é merecedor da 
vitória. Nós entendemos Harry porque, como Campbell diz, “todos 
temos de enfrentar nosso grande desafio”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADIVINHAÇÃO 
 
Sibila Trelawney já acertou alguma coisa? 
 
A matéria dada pela professora Trelawney, Adivinhação, consiste 
em interpretar sinais e ações com o objetivo de predizer o futuro, ver o 
passado ou, às vezes, simplesmente encontrar objetos perdidos. 
São usados muitos métodos para a adivinhação. Os romanos 
preferiam os augúrios e interpretavam o vôo das aves. Outras culturas 
usam a hepatoscopia, que é o exame das entranhas de animais 
sacrificados. 
Não é por coincidência que o primeiro nome da professora 
Trelawney vem das famosas profetisas da mitologia, as Sibilas, que 
muitas vezes apresentavam suas premonições sem nem mesmo terem 
sido consultadas. Sibila Trelawney também é chegada a fazer predições - 
muitas vezes aterrorizantes - sem que ninguém tenha lhe pedido nada. 
Mal acabou de conhecer Harry e já previu a sua morte. Mas, como bem 
lembra a professora McGonagall, “Sibila Trelawney tem predito a morte 
de um aluno por ano desde que chegou a esta escola. Nenhum deles 
morreu ainda”. 
J. K. Rowling parece não acreditar muito em adivinhação, ou 
 
pelo menos mostra uma atitude ambivalente. Hermione acha o assunto 
“meio confuso”, mas estuda Aritmancia, que é a adivinhação por meios 
dos números. Apesar de completamente obcecados pela leitura do 
destino nas estrelas, os centauros da Floresta Proibida são criaturas 
bastante inteligentes. 
Talvez Rowling se sinta como Dumbledore, que explica a Harry 
em Azkaban: “As conseqüências dos nossos atos são sempre tão 
complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente 
difícil.” 
 
AO LADO, MAPA DO SIGNIFICADO DAS UNHAS DA MÃO. 
 
 
 
 
 
 
Outros tipos de adivinhação e os meios que utilizam para prever o destino: 
 
Belomancia: o vôo das flechas. 
Quiromancia: as linhas da mão. 
Datilomancia: a oscilação de um anel suspenso. 
Dafnomancia: o estalar de folhas de louro incendiadas. 
Geloscopia: risadas. 
Lampadomancia: o brilho das lamparinas. 
Libanomancia: a fumaça do incenso. 
Litomancia: pedras preciosas. 
Margaritomancia: pérolas. 
Metoposcopia: manchas na testa. 
Frenologia: formato do crânio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALQUIMIA 
 
Os alquimistas procuravam mesmo uma pedra mágica? 
 
Exatamente o que os alquimistas tentavam fazer? Será que eles 
chegaram a concluir alguma coisa ou todo o seu trabalho desapareceu 
numa nuvem de fumaça? Qualquer um que tenha lido A Pedra sabe que a 
alquimia é uma antiga mistura de química com magia. Os alquimistas 
tentavam criar ouro a partir de metais menos nobres, assim como 
inventar uma poção capaz de curar todas as doenças e tornar seu usuário 
imortal. 
Acredita-se que a origem da alquimia esteja no mundo árabe. O 
nome vem do termo árabe al-kimia, que também gerou a palavra 
“química”. No entanto, alguns historiadores dizem que a raiz dessa 
palavra árabe vem do grego antigo Khmia, que significa “Egito”. Eles 
acreditam que os alquimistas egípcios possam ter existido muito antes de 
o mundo árabe iniciar essa prática. De qualquer maneira, a alquimia de 
fato se desenvolveu em todo o mundo, inclusive na China e na Índia. 
Costumamos imaginar alquimistas como pessoas gananciosas e 
ambiciosas, obcecadas por dinheiro e pela imortalidade. Mas algumas 
 
pessoas pensam que o trabalho deles lançou as bases da química 
moderna. Vários cientistas sérios estudaram alquimia. O físico e 
matemático Isaac Newton foi um deles, e escreveu inúmeros tratados 
sobre o assunto. No entanto, Newton respeitou a tradição de manter 
suas experiências com a alquimia em segredo, chegando ao ponto de 
insistir para que outro alquimista guardasse “segredo total” sobre seu 
trabalho. 
 
A capital da alquimia 
 
Nos últimos anos do século XVI, dois imperadores começaram a 
recrutar alquimistas para trabalhar na cidade de Praga, localizada na atual 
República Tcheca. A concentração de alquimistas no local deu à cidade o 
apelido de “capital da alquimia”. 
Imperadores, no entanto, podem ser muito temperamentais. 
Quando o alquimista inglês Edward Kelley tentou produzir ouro, mas 
falhou, foi jogado numa masmorra. Nem mesmo os esforços da rainha 
Elizabeth I foram suficientes para livrá-lo da prisão. Kelley morreu 
numa tentativa de fuga. 
Evidentemente, havia muitas fraudes. Conta-se que, mais ou 
menos nessa época, chegou a Praga um árabe, que convidou os homens 
mais ricos da cidade para um banquete, prometendo multiplicar todo o 
ouro que eles levassem. Depois de juntar todos os objetos de valor 
 
levados ao banquete, o falso alquimista preparou uma mistura estranha 
que levava substâncias químicas e diversas esquisitices, como cascas de 
ovo e estrume de cavalo. Não tardaram a perceber para que servia a tal 
mistura. Uma violenta explosão espalhou pela casa um fedor tão terrível 
que atordoou os convidados e permitiu que o charlatão fugisse com todo 
o ouro. 
 
Assim como a palavra árabeal-kimia deu 
origem aos termos “alquimia” e “química”, a 
matemática árabe, uma das mais avançadas do 
mundo, nos deu outra expressão muito utilizada nas 
salas de aula: al-gebr. Ela quer dizer “igualar”, e é 
isso que os alunos fazem com os dois lados de uma 
equação algébrica. 
 
 
A pedra filosofal 
 
Embora alguns estudiosos digam que o verdadeiro processo 
seguido pelosalquimistas era “absurdamente complicado”, suas bases 
eram bastante simples. De acordo com a teoria básica seguida pelos 
alquimistas, todos os metais não passavam de combinações de enxofre e 
mercúrio. Quanto mais amarelo o metal, mais enxofre havia na mistura. 
 
Para criar ouro, então, bastaria combinar enxofre e mercúrio na 
proporção adequada e seguindo uma seqüência correta. 
Após algum tempo, os alquimistas começaram a ficar frustrados, 
pois seu método simples não funcionava. Então, iniciaram a procura de 
um ingrediente mágico, que chamaram de pedra filosofal. Alguns 
alquimistas continuaram a acreditar que o tal ingrediente mágico era 
apenas enxofre. No entanto, em A Pedra, ele é descrito como um objeto 
vermelho-sangue. É provável que Rowling tenha pensado em alguma 
coisa mais interessante... 
 
 
Veja também: 
Fofo 
Espelhos 
 
Flamel 
ANIMAGOS 
 
Quais são os mais impressionantes animagos? 
 
J.K. Rowling criou o termo “animago” misturando o latim magus 
(bruxo) a animal. Um animago é um bruxo que pode virar bicho sem 
perder seus poderes mágicos. 
A habilidade de transformar-se em animal é tão antiga quanto as 
lendas. Na mitologia celta, volta e meia alguém se transforma em cervo, 
javali, cisne, águia ou corvo. Os xamãs das antigas tribos indígenas 
norte-americanas também costumam assumir formas de animais, 
principalmente pássaros. 
Um dos primeiros seres a demonstrar essa habilidade foi Proteu, 
da mitologia grega. Ele era criado de Posseidon, deus dos oceanos, e 
uma de suas habilidades especiais era conhecer o passado, o presente e 
o futuro. Por conta disso havia muita gente que o procurava para 
perguntar coisas. Proteu então se transformava em 
diversos animais e monstros horrorosos para poder ficar 
em paz. Ainda hoje dizemos que uma coisa capaz de 
mudar de forma é “proteiforme” ou “protéico”. 
 
HOMEM-ÁGUIA. TOTEM DOS HAIDA, DO NOROESTE DO PACÍFICO. 
 
 
Duelos de animagos 
 
Este tipo de fogo cerrado entre lutadores que mudam 
constante- mente de forma foi lembrado pelo autor T. H. White, cuja 
história A Espada Era a Lei conta de outra forma a lenda do jovem rei 
Artur e seu tutor, o mago Merlim. Neste livro, Merlim combate outra 
bruxa, Madame Mim, em um dos mais criativos duelos da literatura: 
O objetivo do feiticeiro no duelo era transformar-se em um tipo 
de animal, vegetal ou mineral capaz de destruir o animal, vegetal ou 
mineral escolhido por seu oponente. Algumas vezes, o duelo levava 
horas... 
Ao primeiro soar do gongo, Madame Mim imediatamente 
transformou-se em um dragão. Era um bom lance de abertura e 
esperava-se que Merlim respondesse assumindo a forma de uma 
tempestade de trovões ou coisa parecida. Em vez disso, ele surpreendeu 
sua oponente virando um ratinho, quase invisível no gramado, dando 
uma boa mordida em sua cauda. Madame Mim arregalou os olhos, 
procurou por toda a parte durante uns bons cinco minutos até se dar 
conta do ratinho com dentes cravados em seu rabo. Quando finalmente 
reparou, num piscar de olhos tornou-se um furioso gato listrado. 
Artur prendeu a respiração para ver no que o ratinho iria se 
transformar - pensou logo em um tigre capaz de matar o gato —, mas 
 
Merlim simplesmente virou outro gato. Ele se plantou diante de 
Madame Mim e começou a fazer caretas. Esse procedimento, 
muitíssimo irregular, deixou a bruxa espantada, e ela levou mais de um 
minuto para voltar a si e virar um cachorro. Quase no mesmo instante, 
Merlim já era outro cachorro, sentado diante dela como tinha feito 
pouco antes. 
“Oh! Bem pensado, Merlim!”, gritou Artur, começando a 
perceber o plano. 
Madame Mim estava furiosa... Era melhor ela começar logo a 
alterar suas táticas e surpreender Merlim. 
Decidiu tentar uma nova jogada, deixando a ofensiva a cargo de 
Merlim e assumindo uma posição defensiva. Transformou-se em um 
imenso carvalho. 
Merlim parou, desconcertado, e ficou sob a árvore por alguns 
segundos. Então, ousadamente, transformou-se em um minúsculo 
passarinho azul, que voou e pousou muito empertigado nos galhos de 
Madame Mim. O carvalho ferveu de indignação por um instante. Mas 
logo sua raiva ficou bem fria e o pobre passarinho percebeu que estava 
sentado não sobre um galho, mas sobre uma imensa serpente. A boca da 
serpente estava escancarada e, na verdade, o pássaro estava pousado 
sobre seus dentes. Quando a boca se fechou num estalo, o passarinho já 
havia escapulido, em forma de mosquito. Madame Mim seguiu-o e a 
velocidade da disputa começou a ficar alucinante. Quanto mais rápido o 
 
atacante assumia uma nova forma, menos tempo o fugitivo tinha para 
imaginar uma boa saída. As mudanças agora estavam tão rápidas quanto 
o pensamento. 
 
 
 
A batalha termina quando Madame Mim vira um aullay, animal 
semelhante a um imenso cavalo com tromba de elefante. Ela arremete 
contra Merlim, mas ele simplesmente desaparece. De repente... 
...coisas muito esquisitas começaram a acontecer. O aullay teve 
um ataque de soluços, foi ficando vermelho, inchado, com uma tosse 
terrível, todo sarapintado, cambaleou três vezes, revirou os olhos e 
desabou pesadamente no chão. Suspirou, esperneou e disse adeus... 
O esperto feiticeiro tinha se transformado sucessivamente em 
diversos micróbios, ainda desconhecidos naquele tempo. Assim, fez sua 
oponente pegar soluços, escarlatina, caxumba, coqueluche, sarampo e 
varíola. Tudo ao mesmo tempo. Com uma combinação dessas, a infame 
Madame Mim rapidamente bateu as botas. 
 
 
 
Alguns animagos de J. K. Rowling: 
Minerva McGonagall pode virar um gato. 
Tiago Potter transformava-se em cervo, de onde seu apelido: Pontas. 
Sirius Black significa “cachorro preto”, sendo essa a forma que ele assume. 
Rita Skeeter vira um besouro. 
Pedro Pettigrew, o Rabicho, disfarçava-se como o rato de estimação de 
Rony, Perebas. 
 
 
As regras de Rowling 
 
Uma grande diferença entre o mundo de Rowling e os mundos 
criados por outros autores é que ela criou diversas restrições para os 
animagos. De acordo com ela, virar bicho é uma habilidade 
relativamente rara, e tão regulamentada que os animagos devem ser 
registrados no Ministério da Magia. 
No entanto, em praticamente todos os outros mundos 
imaginários, os bruxos podem se transformar livremente no bicho que 
bem entenderem. 
Talvez Rowling se preocupe com os riscos desse tipo de 
atividade. Em Quadribol, ela adverte: “O bruxo ou bruxa que se 
transfigura em morcego pode voar sem problemas. No entanto, como 
 
também tem um cérebro de morcego, ele esquece para onde vai assim 
que levanta vôo.” 
Outra escritora famosa, Ursula K. Le Guin, conta na história A 
Wizard of Earthsea (O Mago de Mareterra), o que pode acontecer aos 
bruxos descuidados: 
Como qualquer menino, Ogion achava que seria uma delícia 
usar magia para assumir qualquer forma que desejasse, homem ou bicho, 
árvore ou nuvem, e então brincar de ser milhares de seres. No entanto, 
como bruxo, ele havia aprendido que essa brincadeira tem um preço, 
que é o risco de perder a própria identidade ao mudar sua realidade. 
Quanto mais distante uma pessoa fica de sua própria forma, maior é o 
perigo. Todo aprendiz de feiticeiro estuda a história do mago Beira do 
Caminho, que adorava se transfigurar em urso. Ele fez isso tanto, e 
tantas vezes seguidas, que o urso cresceu dentro dele. O homem se 
esvaneceu a tal ponto, que virou mesmo um urso e acabou matando o 
próprio filho na floresta. Teve um fim trágico: foi caçado e morto. 
 
J. K. Rowling costuma dizer que a personalidade de cada 
um é determinante na escolha do animal no qual pode setransformar. E acrescenta: “Pessoalmente, gostaria de virar 
uma lontra, que é meu bicho favorito.” 
 
Ninguém sabe, na verdade, quantos dos golfinhos que saltam nas 
 
águas do Mar Secreto já foram homens, sábios homens, que perderam 
sua sabedoria e seu nome nos encantos do mar sem fim. 
Sem dúvida, Harry, que muitas vezes ultrapassa os limites 
normais, vai correr esse risco. Vamos ver em que tipo de animago ele irá 
se transformar. 
 
Veja também: 
Sirius Black 
McGonagall 
 
 
 
 
ANIMAIS FANTÁSTICOS 
 
Quais animais fantásticos saíram das lendas? 
 
Mesmo sendo imaginárias, muitas das criaturas de Animais 
Fantásticos são tão conhecidas em nosso mundo quanto no de Harry. 
Veja algumas das histórias que alimentaram a imaginação de J. K. 
Rowling: 
 
 
 
 
Barretes Vermelhos 
 
De acordo com Animais Fantásticos, os barretes vermelhos 
“vivem em covas localizadas em antigos campos de batalha ou em 
lugares onde o sangue humano tenha sido derramado... [e] tentam matar 
a pauladas os trouxas que passam por ali em noites escuras”. Essa 
criatura existe há muito tempo nas lendas da Inglaterra e Escócia, países 
vizinhos e muitas vezes envolvidos em guerras violentas. Também é 
conhecido como capuz sangrento ou crista vermelha. Dizem que seu 
chapéu é vermelho de tanto ser usado para recolher o sangue de suas 
vítimas. 
 
 
Ramora 
 
Seguindo uma lenda milenar, Rowling diz que esse peixe - que 
existe mesmo e é conhecido como rêmora - é capaz de deter um navio. 
Seu nome deriva da palavra latina usada para designar “atraso”. Graças a 
uma ventosa localizada em sua cabeça, as rêmoras se prendem a navios e 
tubarões para se alimentarem das sobras. Sua força já havia sido bastante 
exagerada desde o século 1 a.C quando Plínio, o Velho, escreveu: 
“Furacões podem ser arrasadores e tempestades podem devastar,- mas 
 
este peixe consegue regular a fúria deles, controlar seu vigor e 
intensidade e obrigar navios a parar, de um modo que nem cabos nem 
âncoras conseguem fazer. Que criatura inútil é o homem, que pode ser 
imobilizado e detido por um peixe de apenas seis polegadas!” Plínio 
sustentava a tese de que o navio de Marco Antônio havia sido bloqueado 
por rêmoras durante a Batalha de Actium, fazendo com que perdesse a 
batalha e mudando o curso da história romana. 
 
 
Hipocampo 
 
O nome desse cavalo-marinho mistura a palavra grega hippos 
(cavalo) e a latina campus (terreno, chão). Também é chamado de 
Hydrippus - a palavra grega para água é hydro. A carruagem de Posseidon, 
o deus grego dos mares, é puxada por hipocampos. 
 
O autor de Animais Fantásticos, Newton (“Newt”) Artemis Fido 
Scamander, traz vários trocadilhos embutidos em seu nome. Newts são pequenas 
salamandras, os lagartos mágicos que vivem no fogo (veja adiante]. Artemis era a 
deusa grega da caça, um nome apropriado para um estudioso que pesquisa criaturas 
mágicas. Fido, do latim fidus (fiel), é um nome comum para cachorros. O som de 
Scamander lembra o de salamandra, embora seja, na verdade, o nome de um rio 
mencionado por Homero em sua Ilíada. 
 
 HIPOCAMPO RETRATADO EM XILOGRAVURA ALEMÃ. 
 
Um livro chamado Physiologus, escrito por volta do século II, 
conta que algumas lendas consideravam o hipocampo como “o rei de 
todos os peixes”. Mas na época em que esse livro foi escrito, o judaísmo 
e o cristianismo estavam atropelando os velhos mitos, e a lenda sofreu 
uma leve mudança para incorporar a idéia de um peixe dourado que vivia 
no Leste. Nessa versão, o hipocampo é um guia, tal como Moisés: 
“Quando os peixes se agruparam em cardumes, saíram em busca do 
Hydrippus. Quando o encontraram, ele se dirigiu para o Leste e todos o 
seguiram, os peixes do Norte e os peixes do Sul. Estavam todos 
próximos ao peixe dourado, o Hydrippus à sua frente. E quando o 
Hydrippus e todos os peixes chegaram, aclamaram o peixe dourado 
como seu rei.” 
 
 
Salamandra 
 
Rowling diz que são lagartos habitantes do fogo. Eles vivem 
“apenas enquanto o fogo do qual surgiram está vivo”. Essa lenda 
remonta a milhares de anos. O filósofo grego Aristóteles escreveu, no 
 
século IV a.C, que “o fato de alguns animais serem resistentes ao fogo é 
evidenciado pela existência da salamandra, que extingue o fogo 
rastejando sobre as chamas”. Acreditava-se que a salamandra 
conseguisse essa proeza por ter o corpo extraordinariamente frio. Quase 
mil anos mais tarde, Santo Isidoro, bispo de Sevilha, também achava que 
a salamandra “vive no meio das chamas sem se machucar e nem ser 
consumida”. E acrescentava: “Entre todos os venenos, o seu é o mais 
poderoso. Outros animais peçonhentos são mortais, mas este é capaz de 
matar várias pessoas de uma só vez. Para isso, a salamandra atravessa 
uma árvore e infecta suas frutas, envenenando todos os que as 
comerem.” 
 
 SALAMANDRA EM CHAMAS, DE UM BRASÃO DE FAMÍLIA. 
 
 
Erkling 
 
O nome foi inventado por Rowling. É uma pequena inversão 
das letras do Ed King ou Erl Kõnig (elfo-rei) das lendas germânicas. Mas 
a descrição que ela faz da criatura corresponde à lenda. Trata-se de uma 
criatura diabólica que habita a Floresta Negra alemã e seqüestra crianças. 
 
No poema de Goethe, Erl King chama uma criança que viaja pela floresta 
acompanhada pelo pai: 
“Oh, venha comigo criança querida! Oh, venha comigo! Vamos brincar 
tanto, não há perigo.” 
O menino tenta alertar o pai, que não pode escutar o Erl King, e 
a história acaba mal. Assim como a lenda dos grindylows na Inglaterra e 
dos kappas no Japão, a história do Erl King foi concebida pelos pais para 
evitar que seus filhos se perdessem nas florestas. 
Hoje em dia, muitos restaurantes possuem fornos conhecidos como 
salamandras, assim chamados por causa de seus mecanismos de aquecimento, cujo 
jormato lembra uma serpente ou a cauda de um lagarto, e são quentíssimos. 
 
 
Quimera 
 
 QUIMERA. 
PEÇA DECORATIVA EM BRONZE DO SÉCULO V. 
 
A descrição da quimera feita por Rowling em Animais Fantásticos 
pode ser esquisita, mas corresponde exatamente à antiga lenda grega. 
 
Segundo essa lenda, a quimera é um monstro com três cabeças - uma de 
dragão, uma de leão e a última de bode. É aparentada à esfinge e ao 
Cérbero, o cão de três cabeças que guardava as portas do Inferno. 
Rowling menciona casualmente que “só há um caso conhecido 
em que uma quimera foi morta, e o pobre mago que conseguiu este feito 
morreu em seguida ao cair de seu cavalo alado”. Ela faz uma brincadeira 
com a lenda original, segundo a qual o monstro foi vencido pelo herói 
Belerofonte, que montava o cavalo alado Pégaso. Belerofonte ganhou a 
batalha, mas, em outra aventura, atreveu-se a tentar penetrar no Olimpo, 
morada dos deuses, no mesmo cavalo alado. Como punição pela 
audácia, Zeus jogou-o para fora do cavalo e aleijou-o para sempre. 
O termo “quimera” acabou sendo usado para designar alguma 
coisa (normalmente uma criatura viva) criada por humanos a partir da 
combinação artificial de elementos naturais. 
 
 
Kelpie (gênio da água) 
 
Conforme é contado em Animais Fantásticos, o kelpie, um demônio 
aquático das lendas celtas, geralmente tem a forma de um cavalo com a 
crina de junco verde. Ele atrai as pessoas para montarem em seu 
lombo e então as carrega para as profundezas da água. Como Rowling 
conta, quem consegue botar rédeas no kelpie o subjuga. Por causa de sua 
 
força extraordinária, ele pode fazer o trabalho de muitos cavalos. 
 
 
Selkies e merrows 
 
No verbete sobre Sereianos, de Animais Fantásticos, Rowling 
menciona os selkies e os merrows. São tipos especiaisde Sereianos 
conhecidos na Inglaterra. Os selkies são homens-focas das ilhas do norte 
do país. Eles podem adquirir belíssimas formas humanas quando estão 
em terra firme, mas devem reassumir a forma de focas ao entrar na água. 
Matar um selkie provoca uma violenta tempestade. 
Já os merrows são da Irlanda. As mulheres são muito bonitas, mas 
os homens são horrorosos. Dizem que eles possuem chapéus mágicos e, 
se um humano conseguir roubar este chapéu, o merrow não poderá voltar 
para o mar. 
 
Veja também: 
Bicho-papão 
Duendes 
Grindylows 
Kappas 
Sereianos 
Veelas 
 
 
 
ARANHAS 
 
Como espantar uma aranha 
 
Em Hogwarts, vivem aranhas - algumas comuns, outras 
extraordinárias - de todos os tipos. Em sua maioria, são comuns e 
inofensivas. Mas algumas poucas, como Aragogue, Mosag e seus 
filhotes, são gigantescas, muito inteligentes e dotadas da palavra. 
 
 
O nome de Aragogue 
 
A origem do nome 
Aragogue é a mesma de 
aracnídeo, o nome científico 
para aranhas. Ambos vêm de 
uma personagem da mitologia, 
Ariadne, particularmente 
prendada nas artes de tecer e 
cerzir. Ariadne era muito 
orgulhosa, e assim desafiou Minerva, a deusa romana do artesanato, para 
um torneio. Ariadne venceu Minerva, mas a deusa ficou tão aborrecida 
 
que transformou Ariadne numa aranha, forçando-a a tecer teias para o 
resto da vida. Os nomes Aragogue e Mosag também lembram os nomes 
dos gigantes Gog e Magog. E mosag é gaélico, uma palavra que significa 
“mulher suja” ou “impura”. 
 
 
Comedores de gente 
 
Em A Câmara, Aragogue parece bastante satisfeito em deixar seus 
filhotes devorarem Rony e Harry. Ele está seguindo uma antiga tradição. 
Muitos autores divertiram-se criando monstros comedores de gente 
com forma de aranha. Comparados a estas, as aranhas de J. K. Rowling, 
ainda que fiquem felizes ao devorar seres humanos, se mostram mais 
compreensivas que as outras. São muito mais dóceis do que Shelob, a 
aranha criada por J. R. R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis: 
 
Ela estava lá há muitas eras, uma coisa maléfica sob a forma 
de aranha... e não servia a ninguém senão a si mesma, bebendo do 
sangue dos elfos e dos homens, criando e engordando inúmeras 
ninhadas graças a seus banquetes, tecendo teias de sombras, já que 
todas as criaturas viventes eram alimento, e seu vômito, escuridão... 
“Pouco conhecia ou se importava com torres e anéis, ou 
com qualquer coisa arquitetada pela mente ou feita por mãos, ela 
 
que apenas desejava a morte dos demais, corpo e mente, e, para si 
mesma, saciar-se na sua existência solitária, e crescer até que as 
montanhas não pudessem dar-lhe sustento e a escuridão não fosse 
mais capaz de abrigá-la. 
“Mas seu apetite estava ainda longe de satisfazer-se, e já 
fazia tempo que ela estava faminta, escondida em seu covil, 
enquanto o poder de Sauron aumentava e a luz e os seres viventes 
fugiam de seu alcance; a cidade e o vale estavam mortos, e nenhum 
elfo ou humano aproximava-se, à exceção dos infelizes e magros 
Orcs, refeição pouco satisfatória. Mas ela precisava comer e não 
importava o quanto eles se esforçassem por descobrir novas 
passagens aéreas que lhes permitissem sair de seu desfiladeiro e da 
torre, pois ela sempre encontrava um meio de apanhá-los em 
armadilhas. No entanto, ela sonhava em comer carne mais doce... 
 
 
A utilidade das aranhas 
 
Aragogue e sua família são bons exemplos do que, 
aparentemente, são normas importantes no mundo de Harry: as 
aparências enganam e a maioria das criaturas tendem (assim como os seres 
humanos) a tratar os outros tão mal como tenham sido tratadas. 
 
Faz sentido quando percebemos que, por baixo 
de sua aparência assustadora e seu ódio, Aragogue é 
uma criatura com sentimentos, essencialmente 
benévola, e não um ser do mal. De fato, ela fornece a 
Harry uma pista importante para o garoto resolver o mistério da câmara 
secreta. Houve um tempo em que Aragogue, equivocadamente, foi 
tomada como o monstro que teria sido libertado da câmara cinqüenta 
anos antes das aventuras de Harry. Mas esse monstro, segundo 
Aragogue, era na verdade “uma criatura muito antiga que nós, as 
aranhas, tememos mais do que a qualquer outra”. Posteriormente, Harry 
vai descobrir que Aragogue está se referindo ao basilisco e, quando 
percebe que as aranhas estão fugindo de Hogwarts, conclui que a grande 
serpente está à solta. 
 
Veja também: 
Basilisco 
 
 
 
 
 
 
AVADA KEDAVRA 
 
O “Avada Kedavra” é um feitiço de verdade? 
 
No mundo de Harry, esse é o feitiço mais mortífero, a pior das 
três Maldições Imperdoáveis. O uso de qualquer uma delas contra um 
ser humano pode condenar um bruxo a passar o fim de seus dias em 
Azkaban. Foi a maldição que Voldemort utilizou para matar os pais de 
Harry, a mesma com a qual tentou assassiná-lo e também a que acabou 
com a vida de Cedrico Diggory. Harry foi o único que sobreviveu ao seu 
poder fatal. 
Embora Rowling costume inventar a maioria de seus feitiços e 
maldições, a expressão “Avada Kedavra” tem origem em uma antiga 
língua do Oriente Médio chamada aramaico. A frase abbaââa kedhabra 
quer dizer “desapareça como esta palavra” e era utilizada por antigos 
feiticeiros para fazer doenças sumirem. Não há provas de que tenha sido 
usada para matar ninguém. Essa frase tem a mesma origem da palavra 
mágica abracadabra. Embora hoje só tenha utilidade para mágicos que 
animam festinhas de aniversário, já houve tempo em que era levada a 
sério pelos médicos. Quintus Serenus Sammonicus, médico romano que 
viveu por volta de 200 a.C, usava-a como feitiço para fazer baixar a febre 
de seus pacientes. De acordo com sua receita, era preciso escrevê-la onze 
 
vezes em um pedaço de papel, a cada vez retirando uma letra. Assim: 
 
ABRACADABRA 
ABRACADABR 
ABRACADAB 
ABRACADA 
ABRACAD 
ABRACA 
ABRAC 
ABRA 
ABR 
AB 
A 
 
O papel devia ficar amarrado em torno do pescoço do paciente 
com uma tira de linho durante nove dias. Depois disso, era preciso 
jogá-lo por sobre o ombro num rio que corresse para o leste. Quando a 
água apagasse as palavras, a febre desapareceria. 
A popularidade desse feitiço cresceu tanto durante os séculos 
que sucederam a Sammonicus, que ele foi usado até mesmo contra a 
Peste Negra. O leitor mais atento já deve ter percebido que este remédio, 
mesmo se não fizer mais nada, ajuda o tempo a passar. Como muitas 
doenças desaparecem naturalmente em uma ou duas semanas, o feitiço 
 
provavelmente não tinha nenhum efeito. Por outro lado, não doía! 
 
Veja também: 
Latim 
 
 
BASILISCOS 
 
Basiliscos eram apenas serpentes grandes? 
 
Os basiliscos estão entre as mais temíveis criaturas mágicas. “Das 
muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há 
nenhum mais curioso ou mortal”, descobriu Hermione em A Câmara. 
Com certeza o basilisco é muito mais do que uma serpente 
grande. Também conhecido como basilisca, ele esteve presente nas 
lendas durante muitos séculos. Em Animais Fantásticos, Rowling credita a 
um mago grego chamado Herpo, o Maluco, a criação do primeiro 
basilisco. Mas ela está apenas fazendo mais uma brincadeira. Herpein é 
uma palavra grega que significa rastejar. A ciência que estuda os répteis, 
como as cobras e as serpentes, chama-se herpetologia. 
No entanto, Rowling não está inventando quando diz que os 
basiliscos são resultado do cruzamento de um galo ou galinha com uma 
serpente ou um sapo. E exatamente isso o que dizem todas as lendas. 
 
Alguns artistas seguiram essa descrição ao pé da letra e desenharammonstros estranhos combinando carac- terísticas desses animais. Mas o 
mais comum é que os basiliscos sejam retratados 
como uma serpente com uma coroa ou uma mancha 
branca na cabeça. É provável que as najas, que 
possuem essas manchas, tenham inspirado a lenda do 
basilisco. 
 
BASILISCO, DE ACORDO COM UMA ANTIGA XILOGRAVURA. 
 
 
A MEDUSA TINHA COBRAS NA CABEÇA, EM VEZ DE 
CABELOS, OS HUMANOS QUE OLHARAM QUE 
OLHARAM PARA ELA FORAM TRANSFORMADOS EM 
PEDRA. 
 
Os basiliscos foram descritos como seres capazes de matar 
mesmo à distância. Segundo o naturalista romano Plínio, “matam os 
arbustos sem nem mesmo tocar neles, só com a respiração, e as pedras 
racham, tal é o poder diabólico dessas criaturas”. Alguns estudiosos 
descrevem três variedades: há o basilisco dourado, que pode envenenar 
alguém só com o olhar; um outro tipo capaz de cuspir fogo; e um 
terceiro, que, assim como a cabeça cheia de cobras da Medusa, provoca 
 
tamanho horror em quem o olha que suas vítimas ficam petrificadas. 
Até William Shakespeare fala de basiliscos em uma de suas peças, 
Ricardo III. Logo após assassinar seu irmão, o diabólico personagem 
principal vai cortejar a viúva, elogiando seus belos olhos. Mas ela não 
está interessada nos elogios e responde: “Quem me dera fosse os olhos 
de um basilisco para matá-lo.” 
 
 
Como vencer um basilisco 
 
Em A Câmara, um basilisco controlado por Lord Voldemort se 
infiltra em Hogwarts, quase matando Harry e vários de seus amigos. 
Harry é salvo por Fawkes, a fênix de estimação do professor 
Dumbledore, que fura os olhos do monstro. O fato de ele ter sido 
salvo por um pássaro é muito apropriado. De acordo com a lenda, um 
pássaro - o galo - é fatal para o basilisco. Por isso, na Idade Média, 
algumas pessoas levavam um galo nas viagens como proteção contra 
basiliscos. 
 
 
 
BASILISCO, EM UMA ESTAMPA MAIS RECENTE. 
 
Veja também: 
Aranhas 
Animais Nagini 
 
 
 
BICHOS-PAPÕES 
 
Criaturas que não sabem a hora de ir embora 
 
Algumas criaturas mágicas podem ser mais perigosas do que 
outras. A primeira vista, o bicho-papão parece ser perigosíssimo. Mas, 
como explica Hermione em Azkaban, ele “é capaz de assumir a forma do 
que achar que pode nos assustar mais”. Ou seja, incomoda mais do que 
machuca. 
 
Bicho-papão em inglês é boggart. Também é conhecido como bogey 
ou bogeyman nos Estados Unidos, bogle na Escócia e Boggelmann na 
Alemanha. Tidos como espíritos maltratados que se tornaram cruéis, os 
bichos-papões adoram brincadeiras de mau gosto e normalmente não 
chegam a ser perigosos. Eles gostam de agir à noite, quando ficam mais 
convincentes. 
Geralmente, bichos-papões assombram casas e, neste caso, a 
única maneira de se livrar deles é providenciar a mudança. Isso é mais 
fácil de falar do que de fazer, já que o bicho-papão, algumas vezes, 
resolve acompanhar uma família que ele acha particularmente divertida. 
Quanto mais irritada fica a família, mais o bicho-papão gosta dela. 
Harry encontrou bichos-papões em Azkaban e no campeonato 
de O Cálice. Ele os derrotou com a ajuda do professor Lupin, que lhe deu 
o mesmo conselho que damos às crianças de nosso mundo há centenas 
de anos: “O que realmente acaba com um bicho-papão é uma boa 
risada.” Obviamente, isso é bem mais fácil para os bruxos, que só 
precisam agitar suas varinhas e usar o feitiço Riddikulus para transformar 
o bicho-papão em uma coisa inofensiva. 
Veja também: 
Animais fantásticos 
Duendes 
Goblins 
Trasgos 
Veelas 
 
BRUXOS 
 
Quais dos “bruxos e bruxas famosos” existiram de verdade? 
 
Quando embarcam pela primeira vez no Expresso Hogwarts, 
Rony mostra a Harry as figurinhas dos bruxos e bruxas famosos que 
vêm dentro da embalagem dos sapos de chocolate. Ele cita alguns: 
Dumbledore, Merlim, Paracelso, a druida Cliodna, Hengisto de 
Woodcroft, Morgana, Ptolomeu e Circe. Alguns desses bruxos existiram 
mesmo. Outros existem em lendas que já têm centenas de anos. 
 
 
Agrippa 
 
Heinrich Cornelius Agrippa foi um mago que viveu na 
Renascença. Nascido Heinrich Cornelius, perto de Colônia, Alemanha, 
em 1486, ele adotou o nome de Agrippa em homenagem ao fundador de 
sua cidade natal. 
Trabalhou como médico, advogado, astrólogo 
e com curas através da fé. Mas fez tantos inimigos 
quanto amigos e foi acusado de feitiçaria. Em 1529, 
publicou um livro chamado Sobre a Filosofia Oculta, 
 
valendo-se de textos hebraicos e gregos para argumentar que a melhor 
maneira de chegar a conhecer a Deus era por meio da magia. A Igreja 
declarou-o um herético e o prendeu. Morreu em 1535. 
 
 
Agrippa foi uma das inspirações de Wofgang Goethe para 
escrever a peça Fausto, na qual um homem de ciência faz um pacto com 
o diabo - semelhante ao pacto entre Voldemort e seus seguidores. Seu 
nome é também o termo usado para designar um livro de magia muito 
especial, cortado no formato de uma pessoa. 
Bem a propósito, sua figurinha é uma das mais raras. 
 
 
 
O FILÓSOFO E MAGO HEINRICH CORELIUS AGRIPPA. 
 
 
 
 
A druida Cliodna 
 
Na mitologia irlandesa, Cliodna desempenha diversos papéis, de 
deusa da beleza a mandatária da Terra Prometida - a vida após a morte. 
Ela é também a deusa dos mares. Alguns dizem que seu rosto surge nas 
praias em cada nona onda que se quebra no litoral. Ela tinha três 
pássaros encantados que curavam os enfermos. 
 
 
Paracelso 
 
Phillipus Aureolus Paracelso, nascido na Suíça em 1493, é 
considerado o fundador da química e da medicina modernas. Começou 
a vida como médico e depois dedicou-se ao estudo da magia, 
especialmente a alquimia e a arte das profecias. Sua reputação como 
mago e sua trajetória como médico estão ligadas. Como recusou-se a 
ficar limitado à formação médica tradicional e desenvolveu seus 
próprios métodos terapêuticos, foi acusado de bruxaria. Mas Paracelso 
ignorou seus críticos: “As universidades não ensinam tudo”, ele disse, 
“portanto, um médico precisa procurar as anciãs sábias, os ciganos, os 
bruxos e os feiticeiros de tribos, velhos ladrões e outros foras-da-lei para 
extrair deles o conhecimento. Um médico precisa ser um viajante. 
Conhecimento é experiência.” 
 
 
O TALENTOSO MÉDICO PARACELSO. 
 
Paracelso desenvolveu vários remédios úteis. Também descobriu 
a causa da silicose, uma doença comum entre os trabalhadores de minas, 
causada pela inalação de vapores metálicos, que anteriormente era 
atribuída a maus espíritos. Paracelso ajudou a controlar um surto de 
peste, em 1534, usando uma espécie de vacina. 
Suas posições e seus êxitos angariaram antipatia no meio médico. 
Paracelso passou mais de uma década exilado dos círculos acadêmicos e 
foi forçado a fugir para a cidade de Bassel, sob a proteção da noite, em 
1528. Mas, por ocasião de sua morte, em 1541, sua reputação já havia 
crescido enormemente. 
 
 
Morgana 
 
Morgana foi uma feiticeira poderosa da mitologia britânica, 
especialmente dotada nas artes da cura. Merlim foi seu tutor e, algumas 
 
vezes, é dito que ela era meia-irmã do rei Artur. 
Apesar disso, sempre rivalizou com Artur, roubando sua espada, 
Excalibur, ou mesmo tramando sua morte. 
De acordo com algumas lendas, ela viveu no estreito de 
Messina. Uma corrente incomum que atravessa aquela região puxa as 
criaturas fosforescentes das profundezas para a superfície, criando a 
impressão de estranhas luzes ou de objetos flutuando sobre a água. 
Essas figuras são chamadas Fata Morgana, sendo que fata, em italiano, 
significa fada. 
 
 
Merlim 
 
Merlim é considerado um dos mais sábiosmagos que já 
existiram, um bruxo-mestre. Dizem que foi conselheiro dos reis 
britânicos Vortigern, Uther Pendragon e Artur. Embora a lenda possa 
ter se baseado em alguém que tenha existido de fato, o Merlim que 
conhecemos é um personagem tirado da fantasia. Por exemplo, alguns 
dizem que foi ele quem colocou no lugar as enormes pedras de 
Stonehenge. Outros dizem que ele possuía o dom da profecia porque 
vivia ao contrário, do futuro para o passado, e portanto já tinha visto o 
futuro. 
Merlim é mais conhecido como o mentor do rei Artur. Um 
 
notável paralelo é que ele ocultou o garoto Artur, protegendo-o, do 
mesmo modo como Dumbledore escondeu Harry de Voldemort. O 
poeta Alfred Lord Tennyson reconta parte dessa lenda em Idylls of the 
King: 
Por causa da amargura e do sofrimento 
Que oprimiu sua mãe, bem antes do seu nascimento, 
Artur veio ao mundo, e assim que nasceu 
Foi enviado às escondidas 
Para Merlim, para ser criado em lugar distante 
Até que fosse chegada sua hora-, e tudo porque os lordes 
Daqueles dias violentos eram os próprios senhores da violência, 
Bestas ferozes que com certeza teriam feito a criança 
Em pedaços, dividindo-a entre eles, se soubessem que ela existia, 
já que cada um deles 
Nada mais almejava senão ser o próprio poder, 
E muitos deles odiavam Uther. 
Razão pela qual Merlim levou a criança 
E a confiou a Sir Anton, um ancião cavaleiro 
E antigo amigo de Uther, e sua mulher então 
Cuidou do jovem príncipe, criando-o entre seus próprios, 
E nenhum homem disso soube. 
Assim, os lordes Lutaram uns contra os outros como bestas ferozes, 
Enquanto o reino se arruinava. 
 
 
Posteriormente, Merlim tornou-se tanto o tutor quanto o 
conselheiro de Artur, usando sua aguçada inteligência e sua poderosa 
magia para ajudar o jovem rei a lutar contra os inimigos da Bretanha. 
De acordo com algumas histórias, Merlim foi enganado pela 
Dama do Lago, a quem amava, e levado a criar uma coluna mágica feita 
de ar, que ela então utilizou para aprisioná-lo para sempre. 
 
 
Hengisto de Woodcroft 
 
Este mago ou é, ou recebeu seu nome em homenagem ao rei 
saxão da Inglaterra. O rei Hengisto e seu irmão Horsa - seus nomes vêm 
das palavras em alemão para “garanhão” e “cavalo” - chegaram à 
Inglaterra em 449 a.C, como mercenários, para ajudar o rei Vortigern a 
derrotar a rebelião dos Pictos e dos Celtas da Escócia. No entanto, 
começaram sua própria rebelião. Hengisto fundou o reino de Kent. 
Apesar de não ser chamado de Hengisto de Woodcroft nas 
crônicas anglo-saxônias, quando inquirido por Vortigern ele proclamou: 
“Adoramos os deuses de nossa terra: Saturno, Júpiter e outros que 
comandam as leis do mundo, e mais especialmente Mercúrio, que em 
nossa língua chamamos de Woden (relativo à madeira). Nossos ancestrais 
dedicavam o quarto dia da semana a ele, que até hoje é chamado de 
 
Wednesday (quarta-feira) em alusão a seu nome.” E razoável supor que 
Hengisto tenha também chamado seu reino de Woden (croft em inglês 
significa “terreno”, “pequena fazenda”). 
O mais provável entretanto é que o nome Woodcroft seja 
simplesmente um dos que J. K. Rowling descobriu num mapa e gostou. 
Em Peterborough, na Inglaterra, no norte de Kent, existe o Castelo 
Woodcroft, lugar famoso por seus assassinatos e fantasmas. Em 1648, o 
Dr. Michael Hudson, capelão do rei Charles, ali foi morto durante uma 
batalha contra as tropas de Cromwell. Conta-se que ele assombra o 
castelo, aparecendo sempre no aniversário da sua morte. Rumores de 
batalha, então, podem ser ouvidos, assim como os gritos de Hudson 
implorando misericórdia. 
 
 
Circe 
 
No poema épico de Homero, a Odisséia, Circe é apresentada 
como a “deusa poderosa e sagaz” que vive numa ilha. Os homens de 
Ulisses, voltando para casa depois da 
Guerra de Tróia, param em sua ilha e se tornam vítimas de seu 
encantamento: 
Quando chegaram à morada de Circe, viram que era construída 
de pedras cortadas da montanha, num sítio que poderia ser avistado de 
 
longe, do meio da floresta. Por toda a sua volta, era guardada por lobos e 
leões ferozes - pobres criaturas, vítimas de seus feitiços, que ela havia 
dominado pela magia e submetido às suas poções. Logo atingiram os 
portais de entrada da morada da deusa e, ali parados, podiam ouvir que 
Circe, lá dentro, cantava enquanto trabalhava em seu tear, tecendo uma 
rede tão fina, tão macia, e de cores tão deslumbrantes, que nenhuma 
outra deusa poderia tecer. Chamaram e ela desceu ao encontro deles, 
abriu os portais e os convidou a entrar. Sem suspeitar de nada, eles a 
seguiram. 
Uma vez que ela os viu dentro da casa, fez com que se 
sentassem e preparou uma bebida com mel, à qual misturou suas 
poções venenosas, o que os faria esquecer quem eram e de onde vieram. 
Depois que a beberam, transformou-os em porcos com um simples 
gesto de sua varinha mágica, para logo a seguir prendê-los no chiqueiro. 
Tinham toda a forma de porcos — cabeça, pêlos — e também grunhiam 
como porcos; mas sua consciência era a mesma de antes e eles se 
lembravam claramente do que haviam sido. 
Foi o próprio Ulisses que, tendo tomado uma poção 
especial, conseguiu resistir ao encantamento de Circe e, 
ao final do episódio, conseguiu libertar os seus 
homens. 
 
 
 
 
Alberico Grunnion 
 
Este nome deve ter sido inspirado pelo de Alberico, o poderoso 
bruxo do poema épico germânico Nibelungenlied (A Canção dos Nibelungos). 
O poema é um registro mítico de um evento histórico - a vitória dos 
hunos sobre o reino da Burgundia (hoje, parte da França), em 437 d.C. 
Foi a base de muitos trabalhos modernos, sendo o mais importante o 
Anel dos Nibelungos, uma série de peças de ópera ligadas entre si, 
compostas por Richard Wagner no século XIX. (Quando você vir 
desenhos com cantores de ópera usando capacetes com chifres, pode ter 
certeza de que estão cantando uma das óperas de Wagner). 
Na versão de Wagner, Alberico é o rei dos duendes, cheio de 
ódio e de ambição. Quando descobre um tesouro em ouro, guardado 
por donzelas inocentes, faz de tudo para obtê-lo, até mesmo renunciar 
para sempre ao amor. Ele usa o ouro para fazer um anel que lhe dá 
grande poder. Quando o anel é roubado, Alberico joga sobre ele uma 
maldição. Todo aquele que o usar padecerá enormes sofrimentos. Na 
continuação da história, outros personagens tentam conquistar o anel e 
pagam caro por isso. 
 
Veja também 
Flamel 
 
 
CÁLICE DE FOGO, O 
 
Por que Harry e Cedrico parecem cavaleiros da Távola Redonda? 
 
O Cálice de Fogo é “um cálice grande de madeira toscamente 
talhado” que “teria sido considerado totalmente comum se não estivesse 
cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão 
de dançar”. Através da mágica, ele seleciona alguns bruxos para testá-los 
no Torneio Tribruxo. Esse desafio e sua fonte misteriosa ligam os 
competidores, incluindo Harry e Cedrico, às lendas do rei Artur e da 
Távola Redonda. 
O Cálice de Fogo tem grande semelhança com outro cálice 
poderoso que foi responsável por torneios e batalhas: o Santo Graal. 
Segundo se acredita, o Graal possui poderes mágicos e teria sido usado 
por Cristo na Ultima Ceia. Embora algumas vezes retratado como sendo 
feito de prata brilhante, o Santo Graal, usado por um humilde 
carpinteiro, provavelmente teria sido feito de madeira - semelhante ao 
Cálice de Fogo. 
O Graal, assim como o Cálice de Fogo, era um 
objeto mágico. Quem bebesse dele obteria curas 
miraculosas. E, assim como o Cálice de Fogo, o Graal 
 
pressentiria se determinado cavaleiro o merecia. 
De acordo com a lenda, passando um períododifícil em seu 
reinado, Artur fez uma prece implorando um sinal dos céus. 
 
Como resposta, teve a visão do Graal. Nas primeiras histórias, o 
Graal era uma grande travessa,- com o passar dos tempos, tornou-se um 
cálice. Ele e seus cavaleiros, então, lançaram-se à sua busca, tentando 
obtê-lo, ou pelo menos entender o seu significado. 
No mundo de Harry, a última tarefa do Torneio Tribruxo 
também é encontrar um Graal, neste caso a Taça Tribruxo, e 
conquistá-la para Hogwarts. Nas lendas do rei Artur, o Graal foi 
finalmente encontrado por Galahad, porque a sua alma era 
imaculadamente pura. Da mesma forma, Harry e Cedrico conseguem 
encontrar a Taça Tribruxo por seu caráter e por suas habilidades 
mágicas. 
É curioso notar que, embora seja Galahad quem encontre o 
Graal, a maioria das lendas destaca um personagem chamado Percival. 
Nascido numa família de camponeses, Percival viria a provar sua virtude 
e a se tornar um cavaleiro da Távola Redonda. Se Percy Weasley algum 
dia mostrará as qualidades insinuadas pela semelhança do seu nome com 
o do cavaleiro, é algo que ainda veremos. 
 
Veja também: 
 
Labirintos 
 
CENTAUROS 
 
Por que centauros evitam os humanos? 
 
Centauros são animais míticos que têm corpo de cavalo e tronco, 
braços e cabeça de gente. Em Animais Fantásticos, J. K. Rowling diz que 
eles “preferem manter distância de feiticeiros e trouxas em geral”. É uma 
crença que remete a antigas lendas. De acordo com essas histórias, 
centauros vêm das montanhas da Grécia, onde costumavam se 
relacionar muito bem com os habitantes locais. No entanto, quando 
alguns deles exageravam no vinho, tornavam-se selvagens e violentos. 
Por causa disso, eram freqüentes as guerras entre centauros e humanos. 
Uma das mais famosas começou por causa de uma festa de casamento 
para a qual os centauros tinham sido convidados. Como de hábito, eles 
exageraram um pouco no entusiasmo e acabaram tentando raptar a 
noiva, o que motivou uma guerra intensa na qual foram derrotados. As 
cenas dessa guerra eram uma das decorações preferidas nos vasos 
gregos. 
No entanto, nem todos os centauros tinham 
um comportamento bestial. Alguns deles eram 
 
conhecidos por sua nobreza de caráter... Chiron, a quem os deuses 
Apolo e Artemis ensinaram as artes da medicina e da caça, fundou uma 
escola onde estudaram alguns dos grandes heróis da época, como 
Aquiles e Ulisses. 
 
 
Perdido nas estrelas 
 
Apesar de imortal, Chiron foi ferido por uma flecha com a 
ponta envenenada. O ferimento provocado pela flecha causou-lhe um 
sofrimento intenso e incessante. Chiron preferiu morrer do que sentir 
dores intensas durante o restante de sua vida. 
Em reconhecimento pela bondade de Chiron, Zeus o colocou 
entre as estrelas da constelação de Sagitário. Outra constelação, a do 
Centauro, é uma das mais visíveis do Hemisfério Sul. Duas de suas 
estrelas, Alfa Centauro e Beta Centauro, estão entre as dez mais 
brilhantes do céu. Alfa Centauro é a estrela mais próxima da Terra e do 
Sol, a mais de 4,3 anos-luz. 
Tantos centauros no céu explicam por que Firenze, Ronan e 
Agouro, os que habitam a Floresta Proibida de Hogwarts, estão sempre 
de olho nas estrelas para ler o futuro. 
 
 
NESSO, O CENTAURO INIMIGO DE HÉRCULES, RETRATADO EM UAI VASO 
GREGO DO SÉCULO VII A.C. 
 
 
 
CORUJAS 
 
Além do correio, o que mais significa a chegada de uma coruja? 
 
 
As corujas, é claro, são o principal meio de comunicação entre os 
bruxos do mundo de Harry. Mas, em nosso mundo, apesar de todos 
gostarem de receber cartas, nem todos gostam de corujas. Muitas 
culturas, como a egípcia, a romana e a asteca, têm sentimentos ambíguos 
com relação a esse predador. Em muitas partes do mundo, o piado 
agudo da coruja é considerado mau presságio, às vezes mesmo o 
anúncio da morte. Além do mais, as corujas, como pássaros noturnos, 
 
são há muito associadas com a bruxaria, o que 
com certeza apavora algumas pessoas. 
No entanto, houve culturas que 
reverenciavam esse pássaro. O símbolo de 
Atenas era uma coruja, e isso porque havia 
muitas delas na região. Havia um ditado 
antigo: “Não mande corujas para Atenas”, 
significando fazer algo inútil. Hoje em dia, uma frase similar seria: 
 
“Vender geladeiras para esquimós”, já que os esquimós 
obviamente não precisam de geladeiras. 
Mas, como Atenas era um centro de conhecimento, as corujas 
também se tornaram símbolo de inteligência. Eram o símbolo de 
Minerva, a deusa romana da sabedoria (derivada da deusa grega Palas 
Atenas, protetora de Atenas). 
 
 
 
 
 
 
 
DEMENTADORES 
 
Chocolate, um santo remédio contra dementadores 
 
Como todo fã de Harry Potter sabe, dementadores são criaturas 
mágicas letais. Eles não têm rosto e vestem mantos longos, que cobrem 
inteiramente seu corpo “cinzento, de aparência viscosa e coberto de 
feridas”. Dementadores “esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar 
à sua volta” (Azkaban). 
 
 
A explicação de Rowling 
 
Em uma entrevista, Rowling confirmou que os dementadores 
representam a doença mental conhecida como depressão: “É 
exatamente o que eles são. Foi uma coisa inteiramente consciente e 
totalmente tirada da minha experiência. A depressão foi a coisa mais 
desagradável que vivenciei. É uma impossibilidade de imaginar que você 
algum dia será uma pessoa alegre novamente. A 
ausência de esperança. Um sentimento de apatia muito 
diferente da tristeza. A tristeza machuca, mas é um 
sentimento saudável, uma coisa necessária. Depressão é 
 
outra história.” 
Não podemos deixar de notar que o remédio utilizado para 
minimizar os efeitos provocados pelos dementadores é o chocolate, que 
os médicos dizem ser capaz de fazer com que as pessoas deprimidas se 
sintam mais animadas. O chocolate produz alguns efeitos semelhantes 
aos dos remédios receitados pelos médicos. E, como não podia deixar de 
ser, chocolate parece ser a cura ideal para a maior parte dos males no 
mundo de Harry. 
 
 
 
 
 
DEMÔNIOS DA CORNUALHA 
 
Qual é o truque preferido dos duendes? 
 
Duendes são agitados espíritos domésticos que aparecem nas 
lendas do sudoeste da Inglaterra, que inclui a Cornualha. Na maioria das 
histórias, vestem roupas verdes e um chapéu pontudo. Possuem traços 
juvenis e muitos têm o cabelo ruivo. J. K. Rowling se afasta da tradição 
ao descrevê-los, em A Câmara e em Animais Fantásticos, como 
“azuis-elétricos com cerca de oito polegadas de altura”. 
No folclore, duendes costumam agir de modo semelhante aos 
elfos domésticos do mundo de Harry. Podem ser muito úteis, mas basta 
que ganhem uma peça de roupa de presente para desaparecerem. No 
entanto, diferentemente dos elfos domésticos, que ficam felizes por 
fazerem todo o trabalho, os duendes não costumam facilitar a vida dos 
preguiçosos. 
Duendes adoram dançar à luz do luar. Também costumam retirar 
cavalos dos estábulos para galopar durante a noite inteira. Só os 
devolvem pela manhã, exaustos e cheios de misteriosos nós na crina. 
Mas sua brincadeira preferida é fazer com que viajantes se 
percam nas estradas. Por isso, na Inglaterra, sempre que alguém está 
 
confuso ou desnorteado, dizem que foi “guiado por um duende”. O 
feitiço desorientador pode ser quebrado se a vítima tirar o casaco e 
tornar a vesti-lo pelo avesso. 
Desviar viajantes do caminho é um truque também usado por 
outro espírito inglês mencionado em Azkaban-, hinkypunk. Como ele é 
mais parecido com uma nuvem esfumaçada do que uma pessoa sólida, 
também é chamado de Will o' the Wisp. 
 
Veja também: 
Bicho-papão 
Animais

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