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Prezado(a) Aluno(a), 
Com relação as disciplinas on-line, caso tenha dúvidas de conteúdo poderá
encaminhar e-mail para a equipe da tutoria on-line. 
As dúvidas referente a calendário, provas, agendamento, devem ser verificadas
no seu campus. Este canal de comunicação é para esclarecimento sobre o
conteúdo e entendimento da disciplina 
tutoriaonline@unip.br 
O contato ocorre através do endereço eletrônico acima. 
Atenciosamente, 
Universidade Paulista
 
CONTEÚDO DO 1º BIMESTRE (PROVA NP-1)
 
Módulo 1
 
1. - A origem humana.
1.1 - O debate das determinações biológicas e geográficas no comportamento
humano.
 
 
Básica -
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia – ciência do homem, filosofia da cultura. São
Paulo: Contexto. 2009. “Abrangência da Antropologia”, Pp. 11-31.
 
LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro:
JORGE ZAHAR, 19ª ed., 2005. “O determinismo biológico”; “O determinismo
geográfico”, pp. 17-24
 
 Complementar -
BUSSAB, Vera S. R.; RIBEIRO, Fernando L.; “Biologicamente Cultural”, texto
disponível em:
http://pet.vet.br/puc/vera%20bussab.pdf
 
CANTARINO Carolina. “Natureza, cultura e comportamento humano”, texto
disponível em:
http://www.comciencia.br/200407/reportagens/07.shtml
 
GUERRIERO, Silas (Org.). ANTROPOS E PSIQUE. O outro e sua subjetividade. SP:
Ed. Olho D’água, 5ª. Ed., 2004. “As origens do antropos”, pp.
 
Escola Estadual Prof. Ascendino Reis, vários autores. “Introdução à evolução”,
texto disponível em:
http://sti.br.inter.net/rafaas/biologia-ar/introducao.htm 
 
PAZZA, R. (2004) O que é Evolução Biológica?. Projeto Evoluindo - Biociência.org.
[http://www.evoluindo.biociencia.org]
 
 
Objetivos:
Neste item o objetivo é relacionar evolução biológica com comportamento
cultural. O debate atual na Antropologia reforça a tese segundo a qual nossa
espécie apenas evoluiu para as características biológicas atuais como o uso da
inteligência, a postura ereta e as habilidades para fabricar instrumentos, SOB
INFLUÊNCIA DIRETA de um comportamento cultural baseado em regras e na
capacidade de simbolização. Ou seja, nossa evolução física foi influenciada pelo
comportamento de nossos ancestrais, e vice-versa, até chegarmos ao que somos
hoje.
 
 Se cultura é importante para compreender quem e como somos enquanto
espécie, é importante você saber que o conceito de cultura sofreu mudanças
históricas em sua interpretação. Essas mudanças são fundamentais para uma
abordagem em que você possa distinguir visões consideradas cientificamente
superadas, que, entretanto, fazem parte de noções comuns e muito presentes
atualmente em defesas carregadas de preconceitos infundados e errôneos.
 
 Você está convidado a uma nova compreensão de ser humano, na qual o
nosso aparato biológico tão fantástico (pensamos e fabricamos coisas) precisa do
comportamento cultural para se realizar. Então, biologia e cultura se
complementam. Vamos lá?
 
 
 
Obs.: os textos indicados na bibliografia são fundamentais para o seu
aprendizado, mas você pode dispor também de sugestões que estão disponíveis
na Web. Lembre que esse material eletrônico é complementar, e não deve ser
utilizado como única fonte de estudos.
 
 
DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO - item 1
1. A ORIGEM HUMANA
Neste conteúdo são abordados temas e idéias como:
- a teoria evolucionista e a explicação da biologia para a origem e evolução do ser
humano;
- a colaboração da teoria antropológica sobre a visão da biologia e do
evolucionismo; a antropologia defende que a explicação puramente biológica é
apenas uma parte de nossa complexa evolução – o papel do comportamento
cultural também foi determinante para surgimento de nossa espécie como é hoje.
- a antropologia afirma que é falsa a afirmação que o ser humano é determinado
pelo clima ou pela herança genética; sim, as populações se adaptam a diferentes
meio ambientes para sobreviver, mas não é o meio ambiente que determina
nosso comportamento; sim, cada indivíduo é resultado de uma herança genética,
o que não significa que é “escravo” dessa herança.
 
 
Voltar às origens da cultura é também voltar à origem da humanidade. Ter
costumes e hábitos aprendidos é um comportamento relacionado com a nossa
sobrevivência e evolução enquanto espécie. O tema possibilita uma abordagem
que ressalta a importância da compreensão do ser humano como um ser bio-
psico-social, ou seja, somos seres cujo comportamento é determinado ao mesmo
tempo:
BIO - por nossas características orgânicas (o tipo de aparelho físico que temos e
como podemos utilizá-lo);
PSICO - por nossas experiências pessoais racionais e afetivas de mundo e;
SOCIAL - pelo meio social onde vivemos.
 
Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence
desde o nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas
ou alimentos, e ainda se comunicar através desta ou daquela língua?
Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a
Paleontologia e a História, tem explorado profundamente essa questão sobre a
diferença do Homem em relação ao resto do mundo animal que nos cerca. Até o
momento puderam concluir que nosso comportamento é fruto de um processo
histórico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos ancestrais. Esse
trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura foram
responsáveis por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um
fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da
selva”.
Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou saber que
alimentos são comestíveis e como devemos prepará-los? Quem inventou o
primeiro tipo de calçado, ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu
a cultura? Que importância decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de
ser humano?
 Essas questões devem ser respondidas ao longo desse tema.
 
 
 No séc. XIX Charles Darwin (biólogo), afirmou que todas as espécies vivas
resultam de uma EVOLUÇÃO ao longo do tempo. Isso significa, que se
retornássemos em nosso planeta há milhões de anos atrás não encontraríamos as
espécies conforme as vemos hoje. Cada ser vivo, para chegar até hoje, passou
por sucessivas e pequenas transformações que possibilitaram sua sobrevivência;
esse processo de mudanças orgânicas ocorre por necessidade de ADAPTAÇÃO AO
MEIO. Consideremos que as condições do meio como clima, quantidade na oferta
de alimentos e todas as questões relacionadas às condições ambientais, estão em
constante mudança. Pois bem, as formas de vida existentes precisam acompanhar
essas mudanças, estando sujeitas – segundo Darwin – a dois destinos: a) podem
se adaptar e ao longo de muitas gerações apresentarem mudanças visíveis; b)
não conseguem se adaptar, entrando em extinção.
 Quais são as espécies que conseguem se adaptar? São as que possuem
alguns indivíduos do grupo dotados de características tais que o permitem
sobreviver e gerar uma prole (conjunto de filhos/as) que dá continuidade a essas
características. Os outros indivíduos de sua mesma espécie que não possuam tais
características, não conseguindo “lutar” pela sobrevivência, têm mais chances de
morrer sem deixarem descendentes. Assim, após muitas gerações, temos uma
espécie que já não se parece com seu primeiro exemplar.
A possibilidade da geração de uma prole com características que permitam a
adaptação ao meio é, para os evolucionistas, chamada de “seleção natural” –
sobrevivem apenas aqueles indivíduos com traços que os permitam a
sobrevivência. Ao lado da seleção natural, as mutações aleatórias também são
responsáveis pelas modificações de um organismo ao longo do tempo.
Uma das dificuldades do senso-comum em aceitar as idéias evolucionistas, está
no fato que não podemos “ver” a evolução acontecendo – apesarde ela estar
sempre acontecendo -, isto é, não testemunhamos alterações expressivas, pois as
mudanças são muito sutis e ao longo de períodos de tempo muito longos do ponto
de vista do ser humano.
As alterações podem ser consideradas em intervalos de tempo não inferiores a
cem ou duzentos mil anos. Portanto, muito além de qualquer evento que
possamos acompanhar. Mas podemos acompanhar sim a luta pela sobrevivência e
a mudança de hábitos em muitas espécies, como os pombos que povoam as
cidades, mas não estão tão concentrados demograficamente nos campos. Essa
espécie encontrou um ambiente ótimo nas cidades construídas pelos seres
humanos, aprendendo rapidamente como obter abrigo e alimento, com a
vantagem de estar livre de predadores como nas florestas e campos. Faz parte de
sua evolução esse novo ambiente. Assim entendemos que a evolução biológica de
todas as espécies vivas não acontece sem influencia de muitos fatores, não
acontece de forma “mágica” e independente do tipo de meio e hábitos que
podemos observar.
Hoje em dia o darwinismo está com uma nova roupagem e temos teorias como o
pós-darwinismo ou neo-darwinismo, que são conseqüência do desenvolvimento de
nossa tecnologia de pesquisa, e do próprio conhecimento cujas portas foram
abertas por Charles Darwin para seus sucessores.
 
 
"O APARECIMENTO DO HOMO SAPIENS- uma espécie que trabalha"
 
 O homem descende do macaco. Essa foi a afirmação polêmica de Darwin
na segunda metade do séc. XIX e que dividiu opiniões na sociedade moderna.
Essa polêmica permanece até hoje, pois encontrou como opositor o ponto de vista
de uma prática humana muito mais antiga que a teoria da evolução: a religião.
Não conhecemos nenhuma crença, em nenhuma cultura que coincida e concorde
totalmente com a afirmação de Darwin. Da perspectiva das crenças, a criação da
vida é atribuída a um “ser criador”, a algo externo e superior a toda a vida
existente. Ao conjunto de teorias e explicações que partem desse tipo de
raciocínio, denominamos “criacionismo”. Pois bem, para pensar como Darwin e a
maior parte dos cientistas até hoje, esqueça suas crenças. A ciência não
reconhece como possível a existência de seres superiores que tenham dado
origem à vida, e muito menos entende que o ser humano é uma espécie
“privilegiada” ou “superior”, seja pela capacidade de raciocínio, seja pela
capacidade de criar crenças.
 Para os evolucionistas, todas as espécies vivas foram surgindo das
transformações de outras já existentes, dando origem a novas espécies, enquanto
outras se extinguiram. Os primeiros humanos, chamados cientificamente de
hominídeos, surgiram das transformações de algumas famílias de símios que
fazem parte dos chimpanzés.
 Nossa espécie surgiu devido a mudanças biológicas e ao surgimento da
cultura. Que mudanças biológicas são essas que nos diferenciam dos símios? O
aumento da caixa craniana que nos dotou de um volume cerebral muitas vezes
maior que o de um macaco. A postura ereta, que possibilita utilizarmos apenas os
membros inferiores para nos locomover. E o surgimento do polegar opositor, que
possibilita a nossa espécie da capacidade do chamado “movimento de pinça”. É a
partir dessas três características básicas que desenvolvemos inúmeras outras
características fascinantes como a capacidade da fala ou ainda a de fabricar
instrumentos para nossa sobrevivência.
 Mas essas características como inteligência, fala e indústria não teriam
surgido em nossos ancestrais se não fosse a presença de um tipo de
comportamento que ajudou a modelar o corpo de nossos ancestrais, que é o
comportamento baseado na CULTURA. Ou seja, a necessidade de comunicação,
cooperação e divisão de tarefas facilitou o desenvolvimento dessas características
BIOLÓGICAS.
· Características biológicas: forma, funcionamento e estrutura do corpo. É a
nossa anatomia, características herdadas biologicamente e que não são resultado
da nossa escolha pessoal.
· Características culturais: todo comportamento que não é baseado nos
instintos, mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite
transformar a natureza para a sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir
significados e sentidos ao mundo através dos símbolos (a cor branco simboliza a
paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status).
 
Durante muito tempo pensou-se que o ser humano já teria surgido plenamente
dotado dessas características em conjunto. Hoje sabemos que nossa cultura foi
determinante para modelar nossas características biológicas ao longo do tempo, e
vice-versa. Nossos ancestrais foram lentamente se transformando em humanos, e
essa espécie que somos agora, foi aos poucos sofrendo pequenas transformações
que ao longo de milhões de anos nos diferenciaram totalmente de qualquer
ancestral símio.
No início da história humana, nossos ancestrais eram muito semelhantes a um
macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o cérebro era menor e a mandíbula maior.
A postura não era totalmente ereta, e as mãos não tinham muita habilidade, pois
o polegar ficava mais próximo dos outros dedos. O tamanho do cérebro foi
aumentando muito devagar, como também a postura ereta surgiu gradualmente,
e igualmente o polegar opositor não surgiu repentinamente. A cada geração,
mudanças muito sutis transformaram a espécie, e nesse processo a cultura teve
um papel fundamental, pois possibilitou ou exigiu que nosso ancestral
desenvolvesse comportamentos capazes de mudar nossa estrutura biológica. Um
exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características
que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos
para trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados
instrumentos de “pedra lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais
complexas e passou a utilizar uma área do cérebro, que é a mesma que nos
permite falar.
É importante compreender que nossa espécie não é fruto de coisas inexplicáveis,
mas resulta de um longo e lento processo de evolução, que significa mudanças ao
longo do tempo. Essas mudanças por sua vez, são fruto de uma dura luta por
parte de nossos ancestrais para sobreviver em condições pouco favoráveis e
convivendo com espécies mais fortes e predadores mais bem preparados
fisicamente para tal. Nossos ancestrais não tinham a mesma caixa craniana que
temos hoje, e não eram tão inteligentes; não tinham a postura totalmente ereta,
e não viviam em cidades. Eram mais uma espécie entre tantas outras, e o pouco
que puderam fazer então determinou sua sobrevivência, e mais que isso,
determinou COMO somos hoje.
Sobreviveram lascando uma pedra na outra para conseguir objetos pontiagudos e
cortantes que serviam como arma de caça, como raspador de alimentos ou
qualquer utilidade para a vida humana. Dormiam em cavernas, ao invés de
fabricar abrigos. Durante muito tempo o domínio do fogo era um mistério,
portanto não comiam muitos alimentos cozidos. Nessa época não havia escrita, e
os únicos vestígios de comunicação encontrados são as pinturas em cavernas
(arte rupestre) e pequenas estatuetas representando figuras femininas. Eram
organizados em bandos que praticavam caça e coleta, por isso dependiam de
deslocamentos constantes em busca de alimento. Durante quase quatro milhões
de anos sobreviveram dessa forma, e nesse período de tempo nossa forma física
foi se alterando, até que no chamado período “neolítico”, houve uma revolução.
A “revolução neolítica” foi um período marcante em nossa evolução, durante o
qual o ser humano desenvolveu técnicas determinantes para a história de nossa
espécie: a agricultura e a domesticação de animais, que permitiram o
sedentarismo (começamos a construir abrigos e povoados ao invés de habitar em
abrigos naturais). A agricultura e a domesticação de animais significaram a
garantia de alimentação dos grupos humanos, independente do sucesso na caça e
coleta.Isso permitiu à nossa espécie se fixar por períodos prolongados em
determinados lugares, formando aldeias e também colaborou para o crescimento
demográfico. É nesse momento que o ser humano começa a TRABALHAR, e não
mais viver da caça/coleta que o tornava dependente dos recursos nos territórios
habitados. A introdução do trabalho como estratégia de sobrevivência, segue um
padrão estabelecido em nossa evolução para obter resultados:
ü a divisão de tarefas;
ü a cooperação com o grupo;
ü e a especialização.
Essas características são importantes uma vez que possibilita que cada um de nós
realize apenas um tipo de tarefa. Não é possível produzir sozinho tudo que
necessitamos em nossa vida. Se não tivessem desenvolvido a capacidade de
trabalho, baseado nos princípios acima, provavelmente, nossos ancestrais não
teriam tido sucesso em sua evolução, e nenhum de nós estaria aqui hoje,
compartilhando a condição se HUMANOS.
Até hoje utilizamos essas habilidades de trabalho em grupo para viabilizar nossa
existência social. A capacidade de dividir tarefas, cooperar e se especializar
permite atingir objetivos com resultados mais efetivos e também possibilita um
conjunto social com melhor qualidade de vida.
O conjunto de tudo que o grupo social produz torna viável uma existência cultural,
nos libertando da “lei da selva”. O trabalho humano se fundamenta em
características básicas como comunicação e cooperação. Fixando-se em um lugar,
inaugurando o sedentarismo, o ser humano passa a viver em uma sociedade
organizada.
Mais alimentos disponíveis, mais segurança com as casas fabricadas, maior
permanência do grupo, isso tudo levou a uma maior reprodução da espécie. Tais
condições permitiram aos nossos ancestrais uma organização social mais
complexa baseada na SOCIEDADE, e não mais em bandos. A comunicação
também sofre uma revolução que foi o surgimento da ESCRITA.
A partir da escrita e do surgimento das grandes civilizações da Antiguidade como
Egito, Grécia e China, conhecemos exatamente como a humanidade se
desenvolveu. Mas para chegar até esse ponto, nossos ancestrais percorreram um
longo caminho. Ele é o resultado de um processo muito longo no tempo, e para os
quais foram determinantes: a postura ereta, a capacidade craniana, o polegar
opositor e a aquisição da fala.
Entretanto, nenhuma dessas características nos valeria muita coisa se não
tivéssemos desenvolvido um tipo de comportamento baseado em regras de
convivência social, divisão de grupos em parentesco, divisão do trabalho e uma
mente dotada de raciocínio lógico e abstrato ligado à criatividade e imaginação.
Foram nossas capacidades de ORGANIZAÇÃO e COMUNICAÇÃO que definiram tal
resultado, afastando nossa espécie do comportamento instintivo e determinando
essa longa e rica viagem chamada HUMANIDADE.
 
 
Conteúdo de 1º bimestre (prova NP-1)
 
DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO - item 1.1
 
1.1 - O debate das determinações biológicas e geográficas no
comportamento humano.
 
 Já é antiga e muito conhecida a idéia segundo a qual as diferenças de
comportamento humano de uma cultura para outra, são totalmente provenientes
das características biológicas de um povo (sua carga genética) ou ainda
totalmente provenientes do meio ambiente (ecossistema, clima) onde ele se
desenvolve.
 A antropologia discorda dessas idéias, que denominamos de teorias
deterministas, por pretenderem que um povo é determinado por variáveis sobre
as quais não há controle humano. Ou seja, essas teses deterministas descartam a
possibilidade do comportamento e valores de um povo ser proveniente de sua
historia e das características humanas que giram em torno da experiência de
mundo.
 Neste item serão apresentadas todas as idéias acima, e é importante
para resolução dos exercícios que você perceba que esses conceitos podem ser
observados em nossa vida cotidiana. Reconhecer as inconsistências das teses
deterministas é um importante aprendizado para valorizar a vida cultural dos
povos da humanidade.
 
“Como a Antropologia evidencia a importância da cultura na evolução
da espécie humana – a visão do antropólogo Clifford GEERTZ.”
 
Silas GUERRIERO afirma na pg. 24 do texto “A origem do antropos”, indicado na
bilbiografia:
 
“Como Geertz, podemos afirmar que a cultura é produto do humano, mas o
humano é também produto da cultura. Não fosse essa extraordinária
capacidade de articulação e fabricação de símbolos, provavelmente não
teríamos sobrevivido e, se o tivéssemos conseguido, não teríamos
diferenças anatômicas tão marcantes frente a nossos parentes mais
próximos. Em outras palavras, não estaríamos aqui contando essa história.”
 
 
E Roque de Barros LARAIA, na pg. 58 do texto “Idéia sobre a origem da cultura”
no livro “CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO”:
 
“A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio
equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das
características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume
cerebral.”
 
A leitura desses textos desenvolve a compreensão predominante atualmente na
Antropologia, que o ser humano não teve uma evolução puramente biológica para
nos capacitar de inteligência e postura ereta, mas antes, essa evolução
BIOLÓGICA não foi independente de sua “parceira”, a CULTURA humana.
 
 
- R. de Barros LARAIA discute se somos DETERMINADOS ou não pelo meio
ambiente e pela herança genética :
 
Da perspectiva biológica, o ser humano é uma única espécie. Somos todos partes
de uma mesma família que foi dividida ao longo do tempo por sucessivas
migrações.
Esse movimento de populações resultou em aparências distintas para cada grupo
populacional, popularmente conhecida como “raças humanas”. Vamos esclarecer
alguns aspectos importantes.
Cada indivíduo possui um fenótipo, que corresponde à aparência física.
Entretanto somos portadores de genótipos, que são os genes que carregamos e
podem ser determinantes nos resultados de nossa reprodução. Um indivíduo com
o fenótipo “pele clara e olhos azuis” carrega genes com essa informação, mas
também é portador de informações genéticas outras. Assim, cada indivíduo vai
resultar de uma combinação genética de seus antepassados, formando um
fenótipo próprio.
 
Durante muito tempo a sociedade em geral, e a ciência, debateram sobre essa
questão. Acreditava-se que a cada raça correspondia uma cultura. Dessa
perspectiva ultrapassada, surgiram as teorias deterministas.
O determinismo biológico defendia que a herança genética seria a responsável
pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura.
Bem, é importante ressaltar que esse tipo de afirmação logo encontrou “furos”,
pois nem sempre a totalidade dos herdeiros de genes “brancos” ou “negros”
apresentavam comportamentos semelhantes entre si. Multiplicavam-se os
exemplos de comportamentos diferentes para pessoas da mesma “raça”.
Assim, somou-se a esse equívoco científico um outro, que pretendia ser
complementar ao anterior e preencher as lacunas explicativas.
 
Trata-se do determinismo geográfico, que defendia que a ecologia (o meio
ambiente) no qual essa ou aquela população se desenvolveu, também seria um
fator DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida. Portanto, populações de
lugares com clima muito quente, ou muito frio teriam sofrido influências que,
somadas ao fator biológico, explicariam costumes, mentalidade, valores e
tradições.
 
Mesmo tendo sido totalmente desacreditadas pela ciência, esses determinismos
ainda hoje permeiam a visão de mundo do senso comum. É fácil encontrarmos
pessoas que atribuem ao clima, à vegetação, aos animais circundantes, e ao
fenótipo de cada população a explicação sobre “porque essas pessoas desse lugar
agem de tal forma”.
 
Você mesmo deve estar se lembrando de muitos exemplos que condizem com
esse esquema explicativo.Entretanto, é fundamental que você conheça os
pressupostos com os quais a ciência humana contemporânea trabalha.
 
TODOS OS SERES HUMANOS EXISTENTES HOJE DESCENDEM DE UM
ÚNICO GRUPO HUMANO ORIGINÁRIO DO CONTINENTE AFRICANO.
 
Essa é uma afirmação resultante de um século e meio de pesquisas, cujo material
arqueológico foi mais recentemente reforçado pelo conhecimento genético. Não há
como refutar que qualquer indivíduo humano, seja ele um esquimó, um indiano,
um escocês, um dinamarquês, um japonês e assim por diante são descendentes
de grupos oriundos da África.
Sim, todos os indivíduos carregam genes desses primeiros agrupamentos
humanos, apesar de terem fenótipos diferentes.
 
Portanto, somos uma mesma família, que foi desenvolvendo aparências distintas
como resposta adaptativa ao meio.
A geografia desempenhou um importante papel para a diversidade de tipos
humanos? Sem dúvida! Ao longo do processo evolutivo, mudanças importantes
ocorreram para permitir a sobrevivência de nossa espécie em diferentes meios. A
quantidade de melanina na pele e a dimensão do aparelho nasal foram sendo
modelados para permitir nossa sobrevivência.
Como a grande família humana foi seguindo rumos diferentes, os grupos que
migravam para esse ou aquele lugar, carregavam um conjunto genético que foi se
estabilizando ao longo de séculos e séculos. Isso foi criando fenótipos próprios a
cada população humana, que viveram praticamente isoladas umas das outras
durante tempo suficiente para que fosse surgindo um tipo de “padrão” que
chamamos etnia.
 
Mas, até que ponto a essa herança biológica e essa influência do meio têm relação
com a diversidade cultural?
Leia novamente a questão. De fato, há um LIMITE para tal influência, e nem
biologia, nem ecologia são isolados ou em conjunto a única explicação para o
comportamento diferenciado do ser humano dentro de cada cultura.
Portanto, NÃO EXISTE UMA DETERMINAÇÃO BIOLÓGICA / GEOGRÁFICA que
sustente a explicação sobre a diversidade cultural.
 
O que se aceita hoje é que esses são fatores importantes na relação do ser
humano com o meio, seja para sobreviver, seja para se relacionarem uns com os
outros. Mas não são determinantes.
Vamos a exemplos?
Tomemos o caso da “facilidade” de indivíduos afrodescendentes para o
desempenho em alguns esportes, como o basquete ou atletismo e que é
popularmente divulgado. Não há dúvidas sobre a base biológica que fundamenta
essa associação. Mas vamos refletir melhor sobre o comportamento humano, e
não apenas sobre seu legado biológico. Desculpe, mas vou formular a seguinte
questão sem qualquer preocupação científica ou política. O que o senso comum
diria a esse respeito: “Um indivíduo descendente de brancos pode se
desempenhar tão bem quanto um descendente de negros nesses esportes?”
A resposta óbvia, para a qual há inúmeros exemplos é: Sim!
Entretanto, vamos considerar o que se segue. O ser humano depende de desejos,
estímulos e condições para chegar a objetivos. Concorda? Um indivíduo
descendente de brancos que se determine a ser “exemplar” no basquete ou no
atletismo pode atingir esse objetivo perfeitamente. Ele não necessita dos genes
para ser isso ou aquilo. Basta que se dedique a aperfeiçoar o que deseja ser. O
que ocorre é que um indivíduo com facilidades genéticas chega ao mesmo
resultado com mais facilidades. Aquele que tem a genética “contra si”, precisa se
dedicar mais para atingir igual resultado. Isso para qualquer coisa que você possa
pensar.
A genética e a geografia são elementos na relação do homem com o meio, e não
fatores determinantes.
 
Os genes podem ser facilitadores para certas coisas, mas acima de tudo está a
determinação, os desejos e o investimento social que cada indivíduo pode dispor
para desenvolver certas características de seu comportamento.
 
O que explica a diversidade cultural, se não há determinismos?
 
O ser humano é uma espécie moldável e criativa. Em cada grupo social, as
respostas às necessidades e a qualidade dos vínculos sociais resultam de uma
história que é única àquele grupo. Portadores das marcas da história, das
experiências coletivamente vividas, das soluções criadas, cada grupo vai
construindo um conjunto absolutamente único que é sua cultura.
 
Vamos supor que você tome uma parcela da população norte-americana de hoje e
os coloque para viver durante um longo período de tempo em um outro local, com
características ambientais muitos semelhantes às quais estão acostumados. Daqui
a algumas gerações, se você for analisar esse grupo e o grupo de origem, poderá
ver que existem características que os diferenciam. E assim se dá, quanto mais o
tempo passa. Qualquer coletividade está sujeita a um destino próprio. E a cultura
é o resultado, a cada momento, dessa experiência de vida que não se repete
exatamente com os mesmos eventos, da mesma forma em todos os lugares.
 
A diversidade cultural é inerente ao ser humano. Onde quer que se forme um
grupo social, o resultado será sempre o mesmo: uma cultura própria.
Exercício 1:
Encontramos diversas teorias sobre origem humana. Entre elas, encontramos a teoria
elaborada por Charles Darwin. Esta teoria explica que:
A)
A) A criação da vida é atribuída a um “ser criador”, a algo externo e superior a toda a vida
existente.
B)
A) A teoria elaborada por Darwin recebe o nome de Criacionismo.
C)
A) De acordo com esta teoria, Nossos ancestrais foram lentamente se transformando em
humanos, e essa espécie que somos agora, foi aos poucos sofrendo pequenas
transformações que ao longo de milhões de anos nos diferenciaram totalmente de qualquer
ancestral símio.
D)
A teoria da seleção natural desconsidera a importância da cultura em nossa evolução
E)
A) Para Charles Darwin, a sobrevivência e evolução da espécie não depende da necessidade de
adaptação ao meio.
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Exercício 2:
Verifique as afirmações abaixo:
I) De acordo com Geertz, a cultura é produto do humano, mas o humano é
também produto da cultura.
II) De acordo com o determinismo geográfico, a herança genética é a
responsável pelo comportamento diferenciado do ser humano dentro de
cada cultura.
III) De acordo com o determinismo biológico, a ecologia (o meio ambiente) no
qual uma população se desenvolve, também seria um fator
DETERMINANTE para a cultura ali desenvolvida
De acordo com as afirmações acima, assinale corretamente:
A)
A) Apenas a alternativa I está correta
B)
A) Apenas a alternativa III está correta
C)
A) Apenas a alternativa II está correta
D)
A) Nenhuma das alternativas acima está correta
E)
A) As três afirmações acima estão corretas
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Exercício 3:
“No início da história humana, nossos ancestrais eram muito semelhantes a um
macaco. Tinham mais pelos pelo corpo, o cérebro era menor e a mandíbula maior.
A postura não era totalmente ereta, e as mãos não tinham muita habilidade, pois o
polegar ficava mais próximo dos outros dedos. O tamanho do cérebro foi
aumentando muito devagar, como também a postura ereta surgiu gradualmente, e
igualmente o polegar opositor não surgiu repentinamente. A cada geração,
mudanças muito sutis transformaram a espécie, e nesse processo a cultura teve
um papel fundamental, pois possibilitou ou exigiu que nosso ancestral
desenvolvesse comportamentos capazes de mudar nossa estrutura biológica. Um
exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características
que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos
para trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados
instrumentos de “pedra lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais
complexas e passou a utilizar uma área do cérebro,que é a mesma que nos
permite falar”.
O trecho acima refere-se exclusivamente :
A)
A) À teoria do Criacionismo
B)
À teoria da Seleção Natural
C)
A) Ao determinismo biológico
D)
A) Ao determinismo geográfico
E)
A) Ao determinismo biológico e darwinismo ao mesmo tempo.
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Exercício 4:
 Verifique os conceitos abaixo e, em seguida, complete a lacuna corretamente:
I) _______________: forma, funcionamento e estrutura do corpo. É a nossa
anatomia, características herdadas biologicamente e que não são
resultado da nossa escolha pessoal.
II) _________________: todo comportamento que não é baseado nos instintos,
mas nas regras de comportamento em grupo que nos permite transformar
a natureza para a sobrevivência (trabalho), e nos permite atribuir
significados e sentidos ao mundo através dos símbolos (a cor branco
simboliza a paz, ou o tipo de vestimenta simboliza status).
III) Segundo os teóricos _______________________, todas as espécies vivas
foram surgindo das transformações de outras já existentes, dando origem
a novas espécies, enquanto outras se extinguiram.
 
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas:
A)
A) I-evolucionistas, II- características biológicas, III- características culturais
B)
 I-evolucionistas, II- características culturais, III- características biológicas
C)
 I-características biológicas II- características culturais, III- evolucionistas
D)
 I-características biológicas II- evolucionistas, III- características culturais
E)
 I-características culturais II- características biológicas, III- evolucionistas
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Exercício 5:
Complete corretamente a lacuna do trecho “Idéia sobre a origem da cultura”, extraído
do livro “CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO”:
“A _____________ desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio
equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das
características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume
cerebral.”
A)
 Cultura
B)
Biologia
C)
Criacionismo
D)
Darwinismo
E)
 Determinismo
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CONTEÚDO DO 1º BIMESTRE (PROVA NP-1)
 
Módulo 2
2- O surgimento da cultura na humanidade.
2.1 - O conceito de cultura através da História.
 
Bibliografia
 
Textos básicos:
“Idéia sobre a origem da cultura” (item 2), “Antecedentes históricos do conceito
de cultura”, “O desenvolvimento do conceito de cultura” (item 2.1), in LARAIA,
Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE
ZAHAR, 19ª ed., 2005.
, in LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico, Rio de
Janeiro: JORGE ZAHAR, 17ª ed., 2005. pp 30-52.
 
Textos complementares:
“A pré-história da Antropologia”, “O século XVIII: a invenção do conceito de
homem”, in LAPLANTINE, F. APRENDER ANTROPOLOGIA, SP: Brasiliense,
2007. pgs. 37-62.
 
 
Sugestão de texto eletrônico disponível na Web:
 
NUNES, Rossano Carvalho. Antropologia. Texto disponível eletronicamente no
endereço:
http://www.gpveritas.org/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=54&Itemid=63
 
NUNES, Rossano Carvalho. Cultura. Texto disponível eletronicamente no
endereço:
http://www.gpveritas.org/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=55&Itemid=64
 
 
Objetivos:
O termo “cultura” não é utilizado apenas para descrever o conjunto de
conhecimentos e tradições de um povo.
Há inúmeras formas em seu uso, e esse termo pode servir para diferenciar
pessoas de acordo com seu status ou ainda para afirmar a superioridade de
alguns povos sobre outros.
Portanto há questões éticas envolvidas com esse conceito.
Nosso comportamento baseado em valores e tradições, que chamamos de cultura,
modelou a evolução até mesmo biológica de nossa espécie. Compreender como
isso se deu, modifica nossa ética de relação com o meio ambiente.
Ao final deste tema, você poderá confrontar as noções de cultura do senso-
comum que remetem a hierarquias sociais de educação e formação de valores,
com a visão científica que universaliza a condição cultural humana. Poderá
também identificar a importância da cultura como mediadora das relações
humanas e nossa capacidade de comunicação através dos símbolos. Identificar a
pesquisa antropológica como instrumento de aproximação entre diferentes
universos culturais.
 
 
DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO - item 2
 
A antropologia propõe que a cultura é a base de nossa forma de encarar o mundo à nossa
volta e dar formas e significados a ele.
Mas afinal, em que momento de nossa evolução o ser humano passou a viver distante da
natureza e dos instintos, e passou a depender da cultura?
Ou ainda, como podemos relacionar a evolução de nossa espécie e a influencia da cultura
no desenvolvimento geral da Humanidade?
Somos seres culturais, portanto todo o nosso comportamento depende de uma
combinação complexa entre característica inatas (que fazem parte de nossa natureza,
nossa carga genética) e meio social.
 
Vamos considerar que grande parte das coisas que realizamos em nosso dia-a-dia,
incluindo planos pessoais e organização de regras de convivência, é resultado de um
modelo coletivo de pensar como devemos ser?
 
Isto significa que aprendemos a estar no mundo, e não simplesmente somos
“jogados” nele. Desde a língua que falamos para nos comunicar, até os símbolos que
associamos a crenças, sonhos e mensagens, são criados de acordo com uma mentalidade
coletiva comum. Esse “modelo” para nos comunicar e dar sentido ao que pensamos, é
dado pela nossa cultura.
E em cada uma das culturas humanas, aquilo que nos faz rir, chorar ou sonhar varia
imensamente.
 
Mas, quando o ser humano passou a se comportar de forma cultural?
Segundo a antropologia, o ser humano nunca foi uma espécie apenas por suas
habilidades orgânicas, como capacidade de raciocínio e postura ereta.
 
Pelo contrário, essas características foram acentuadas, pois nossos ancestrais se
comportavam de forma cultural. Nesse comportamento podemos citar:
- desenvolvimento de tecnologia e de saberes;
- desenvolvimento de linguagens para a comunicação;
- regras de comportamento em grupo;
- idéias e crenças;
- tradições e hábitos comuns, etc...
 
Parece a você que todo ser humano tem como qualidade inata (que nos pertence desde o
nascimento) certos comportamentos como preferir alguns tipos de roupas ou alimentos, e
ainda se comunicar através desta ou daquela língua?
 
Pois a Antropologia, junto com outras ciências como a Arqueologia, a Paleontologia e a
História, explorou profundamente essa questão sobre a diferença do Homem em relação
ao resto do mundo animal que nos cerca, e puderam concluir que nosso comportamento é
fruto de um processo histórico no qual BIOLOGIA e CULTURA modelaram nossos
ancestrais. Esse trabalho conjunto entre nosso desenvolvimento biológico e a cultura
foram responsáveis por tamanhas mudanças em nossa espécie, que hoje achamos um
fato “natural” não necessitarmos entrar na “luta pela sobrevivência”, na “lei da selva”.
 
Quem começou a inventar palavras para dar nomes às coisas, ou saber quais alimentos
são comestíveis e como devemos prepará-los? Quem inventou o primeiro tipo de calçado,
ou descobriu como fabricar o vidro? Enfim, como surgiu a cultura? Que importância
decifrar esse fato pode ter para nossa compreensão de ser humano?
 
Uma resposta bastante simplista, e que se encontra repetida muito comumente, é aquela
que afirma que somos capazes de desenvolver cultura, pois somos biologicamente
dotados de inteligência. Mas, por que nosso cérebro se desenvolveu de forma a permitir
esse tipo de inteligência que os humanos se gabam por terexclusividade?
Essa questão foi investigada largamente por especialistas tanto das áreas de
conhecimento das ciências biológicas como das ciências humanas.
 
Eles acabaram por definir que não houve na evolução humana apenas um fator isolado
que tenha, de forma surpreendente, nos dotado dessa inteligência. Pelo contrario, nossa
evolução biológica teve influencia de muitos fatores, entre eles, o comportamento de
nossos ancestrais.
 
Conforme o aumento gradativo do cérebro[1] permitia o desenvolvimento de habilidades
mais complexas, como fala e fabricação de instrumentos, mais necessário à sobrevivência
seria ter essas capacidades. Assim, os indivíduos cujo cérebro não era desenvolvido o
suficiente para adquirir fala ou fabricar instrumentos, não deixavam descendentes, pois
tinham menores chances de sobrevivência.
 
Então, isso é a “seleção natural” na teoria da evolução de Darwin.
Assim, a cada geração, um cérebro mais complexo e seu uso para desenvolver
habilidades sociais, eram fundamentais aos nossos ancestrais humanos.
 
Portanto, se diz atualmente entre muitos cientistas, que somos “biologicamente
culturais”, ou “culturalmente biológicos”. Um fator (biologia) ajudou a modelar o outro
(cultura), e vice-versa.
 
Leia aos trechos abaixo, que podem ser encontrados no texto que está indicado na
bibliografia complementar:
 
“O modo de vida estritamente cultural impõe uma série de exigências para seu
funcionamento. Para começar, aumenta muito a importância da proximidade e
das relações sociais por um lado, e da inteligência, por outro. Nenhuma
espécie envereda por um caminho destes impunemente. Dentro de um jogo
complicado, pode-se pensar que a cultura, ao aumentar as chances de
sobrevivência do grupo, também aumenta a sua dependência da cultura para
sobreviver. Ao mesmo tempo em que liberta, submete.
Escapa-se de uma armadilha, entrando em outra.
Compreender o impacto da cultura na evolução humana tem sido um desafio
constante.
Ao que tudo indica, assim que nossos ancestrais desenvolveram uma
dependência da cultura para sobreviver, a seleção natural começou a favorecer
genes para o comportamento cultural.
(...)
A própria cultura é uma característica biológica
Há, porém, mais do que isso: o ser cultural do homem deve ser entendido
como biológico.
Há mais do que um jogo de palavras na afirmação de que o homem é
naturalmente cultural, ou ainda, de que a chave para a compreensão da
natureza humana está na cultura e a chave para a da cultura está na natureza
humana. O homem é a um só tempo, criatura e criador da cultura. Nas
palavras de Morin (1973, p.92), "o que ocorreu no processo de hominização foi
uma aptidão natural para a cultura e a aptidão cultural para desenvolver a
natureza humana". Desse modo, "desaba o antigo paradigma que opunha
natureza e cultura" (p.94). Entretanto, apesar da força do argumento, mesmo
várias décadas depois, ainda não se foi muito adiante.”
(BUSSAB, Vera S. R.; RIBEIRO, Fernando L.; “Biologicamente Cultural”,
texto disponível em: http://pet.vet.br/puc/vera%20bussab.pdf )
 
 
Um exemplo: sabemos que o surgimento da fala tem relação com duas características
que são a posição da laringe resultante da postura ereta e a utilização das mãos para
trabalhos de fabricação de instrumentos. Ao fabricar os chamados instrumentos de “pedra
lascada”, nosso ancestral permitiu operações mais complexas e passou a utilizar uma
área do cérebro, que é a mesma que nos permite falar.
 
Segundo uma grande quantidade de pesquisas arqueológicas, que consiste na teoria
científica mais aceita, a origem dos primeiros humanos ocorreu no continente africano
entre 200 e 100 mil anos atrás.
 
Esse grupo teria começado sua imigração para fora da África entre 65 e 50 mil anos
atrás, povoando os outros continentes. Nesse longo caminho, as famílias humanas foram
adquirindo características físicas diferentes em função tanto da necessidade de adaptação
a novos meios, como pela combinação da carga genética de cada grupo.
 
Existe toda uma corrente de pensadores na Antropologia, inaugurado pelo americano
Alfred KROEBER, que defendem inclusive, que a cultura é uma característica que torna a
humanidade completamente diferente em seu curso evolutivo, pois enquanto as outras
espécies passam por modificações anatômicas ao longo do tempo para se adaptar a
novas condições, o Homem utiliza um “equipamento extra-orgânico”, que é a cultura.
 
Leia o trecho que se encontra no livro de nossa bibliográfica básica para esclarecer
melhor essa questão:
A baleia não é só um mamífero de sangue quente, mas é reconhecida como o
descendente remoto de animais terrestres carnívoros. Em alguns milhões de
anos ... esse animal perdeu suas pernas para correr, suas garras para segurar
e dilacerar, seu pêlo original e as orelhas externas que, no mínimo, nenhuma
utilidade teriam na água, e adquiriu nadadeiras e cauda, um corpo cilíndrico,
uma camada de banha e a faculdade de reter a respiração. Muita coisa perdeu
a espécie, mais, talvez, em conjunto do que ganhou. L certo que algumas de
suas partes degeneraram. Mas houve um novo poder que ela adquiriu: o de
percorrer indefinidamente o oceano.
Encontramos o paralelo e também o contraste na aquisição humana da mesma
faculdade. Não transformamos, por alteração gradual de pai a filho, nossos
braços em nadadeiras e não adquirimos uma cauda. Nem precisamos
absolutamente entrar na água para navegar. Construímos um barco. E isto
quer dizer que preservamos intactos nossos corpos e faculdades de
nascimento, inalterados com relação aos de nossos pais e dos mais remotos
ancestrais. Os nossos meios de navegação marítima são exteriores ao nosso
equipamento natural. Nós os fazemos e utilizamos, ao passo que a baleia
original teve de transformar-se ela mesma em barco. Foram-lhe precisas
incontáveis gerações para chegar à sua condição atual.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura - Um Conceito Antropológico, Rio de
Janeiro: JORGE ZAHAR, 21ª Ed, 2007, pgs 40-41)
 
Kroeber chama a cultura de “superorgânico”, pois dota a humanidade de uma flexibilidade
adaptativa a tantos ambientes, que compensa a falta de expressividade de nosso
organismo.
 
Explicando. Frente a outros animais, o ser humano não possui capacidades anatômicas
muito destacadas como velocidade, olfato, visão ou mesmo força física.
Entretanto, ao utilizar os recursos da inteligência de forma cultural, superamos limites de
nosso organismo.
 
Portanto, a origem da cultura humana coincide com a origem de toda nossa espécie. Ela
sempre existiu, e faz parte de nossa forma de sobrevivência.
 
Já outros antropólogos, compreendem que esse debate sobre a evolução de nossa
espécie, não é mais importante que o debate sobre nossa condição de existência. Para
um grupo iniciado pelo francês Claude Lévi-Strauss, o foco dessa questão sobre a origem
da cultura está em conseguir perceber a importância do impacto do comportamento
orientado por valores e regras, muito mais do que as considerações sobre nosso
equipamento biológico.
 
Assim, Lévi-Strauss afirma que o fato de possuir cultura, dota a espécie humana de uma
característica fenomenal, que é a de ter nos distanciado dos instintos.
Ou seja, para ele, é importante perceber como a cultura nos moldou como seres que
agem não apenas preocupados com realizações praticas de sobrevivência, e sim, como
agimos o tempo todo pautados em uma moral, uma ética de mundo que nos dá
consciência.
 
Ele afirma inclusive, que entre todas as atitudes humanas que nos caracteriza como uma
espécie cultural, uma tem importância especial, por marcar em nossa evolução, o
momento em que o ancestral humano deixou de agir como animal e passou a agir como
Homem.
Esse momento teria sido a instituição da regra, que é universal ao ser humano, que
proíbe as relações incestuosas. Ou seja, relações sexuais entre indivíduos relacionados
por vínculos familiares muito diretos, como pais e filhos, ou tiose sobrinhos.
 
Segundo Lévi-Strauss, não há sustentação na afirmação simplista de que tenha sido
apenas pela observação de problemas genéticos resultantes dessas relações que o ser
humano tenha instituído essa regra.
O horror moral que provoca em qualquer ser humano, a notícia de que algum individuo
tenha burlado essa regra, supera em qualquer condição o horror a uma prole com
problemas genéticos. É uma regra de ordem moral, muito mais do que de efeito prático.
Concorda?
 
Pois bem, trata-se de uma das únicas regras que tem validade universal em nossa
espécie. Ou seja, não depende de época ou cultura. Todo se humano, em qualquer
sociedade evita e pune essa prática. Então, podemos pensar que de fato, ela tem uma
importância especial.
 
Sua importância, para Lévi-Strauss, está no fato de ter retirado definitivamente o ser
humano da esfera da natureza, dos instintos.
A partir do momento em que nossos ancestrais formularam essa regra, inaugura-se a
cultura. É um marco simbólico, entenda. Mas uma forma muito importante de explicar
nossa espécie.
 
Outros animais podem fabricar coisas, e ter atitudes inteligentes, ou memória.
 
Mas é muito mais difícil um animal, e todos os indivíduos de sua mesma espécie, aos
mesmo tempo, controlarem um instinto, conseguindo agir de forma a negá-lo. Os animais
domesticados quase sempre o conseguem. Mas já não fazem parte da natureza. Como o
nome diz, são “domesticados”, vale dizer, seu comportamento passa a ser orientado por
outras regras que não o instinto.
E, mesmo assim, não se pode garantir que seu instinto não venha a aflorar em certas
situações, como a exposição a alimentos, situações de agressividade contra os próprios
donos e assim por diante.
 
 
SAIBA MAIS
“Origem da cultura – a ética da relação ser humano / natureza”
Apesar de você não encontrar referência a isso na bibliografia indicada, é importante
ressaltar qual a importância dessa temática sobre a evolução humana e o
desenvolvimento de nossa inteligência que nos permite viver em cultura.
O ser humano tem uma tendência a compreender que sua própria espécie é superior a
todas as outras, por ter um cérebro que permite controlar o ambiente e os recursos de
nossa sobrevivência.
Infelizmente, a consequência disso tem sido uma prepotência humana em relação à
natureza circundante. É isso mesmo, o ser humano que se sente superior, se sente
também no direito de se apoderar, esgotar, destruir, manipular a natureza. O
resultado, bem conhecido de todos, tem sido um meio ambiente que ameaça os
destinos de nossa própria espécie, e subjuga à extinção uma grande quantidade de
outras espécies.
O desequilíbrio provocado pelo Homem em seu meio não é consequência apenas da
necessidade de avanço industrial e urbano. É também do modelo para realizar esse
“progresso”, que sofre de uma ausência de ética no relacionamento com as outras
espécies vivas.
Você pode ler mais sobre isso no livro: GUERRIERO Silas (org). “Antropos e Psique – o
Outro e sua subjetividade”, SP: Olho d´Água, 2005. Procure o capítulo intitulado “As
origens do antropos”.
 
 
Toda a temática deste módulo está desenvolvida de forma interessante na
bibliografia indicada no início deste item, especialmente os capítulos do livro de
LARAIA, Roque de Barros. CULTURA - Um Conceito Antropológico : “O
desenvolvimento do conceito de cultura“, “Idéia sobre a origem da cultura”, Pgs.
30-58.
 
Procure ler os textos indicados. Ao organizar bem seu tempo, é possível
enriquecer esse aprendizado lendo também os textos complementares.
 
 
[1] O aumento do cérebro permitiu o desenvolvimento do CÓRTEX CEREBRAL. Veja a definição da
Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3rtex_cerebral ):
O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro dos vertebrados, sendo rico
em neurônios e o local do processamento neuronal mais sofisticado e distinto. O córtex humano tem
2-4mm de espessura, com uma área de 0,22m2 (se fosse disposto num plano) e desempenha um
papel central em funções complexas do cérebro como na memória, atenção, consciência, linguagem,
percepção e pensamento.
Em animais com capacidade cerebral mais desenvolvida, o córtex forma sulcos para aumentar
a área de processamento neuronal, minimizando a necessidade de aumento de volume. É constituído
por cerca de 20 bilhões de neurônios, que parecem organizados em agrupamentos chamados
microcolunas. É formado por massa cinzenta e é responsável pela realização dos movimentos no
corpo humano.
O córtex é o local de representações simbólicas, o que ele recebe é processado e integrado,
respondendo com uma ação.
É a sede do entendimento, da razão, se não houvesse córtex não haveria: linguagem,
percepção, emoção, cognição, memória. No Homem, o desenvolvimento do córtex permitiu o
desenvolver da cultura que, por sua vez, foi servindo de estimulo ao desenvolvimento cortical.
 
 
 
 
 “O conceito de cultura através da história”
 
A antropologia social tem como conceito central o conceito de CULTURA.
Então ele é um conceito científico certo?
 
É isso mesmo. Mas não é essa a origem da palavra. O termo cultura existia muito
antes da Antropologia e outras ciências humanas passarem a utilizá-lo para fazer
referencia ao conjunto de hábitos que torna uma sociedade algo totalmente única
e particular.
 
Para refletir sobre a complexidade desse conceito, vamos começar tomando
exemplos de como podemos encontrar o uso da palavra cultura em situações
cotidianas.
 
Normalmente as pessoas utilizam essa palavra em frases como: ”O brasileiro
precisa valorizar mais sua própria cultura”; “Fulano é uma pessoa que tem muita
cultura”; “A cultura desse lugar é muito atrasada”; “A cultura oriental é muito
antiga”.
 
Nesses exemplos já é possível percebermos a complexidade e a multiplicidade do
uso que fazemos desse conceito. Precisamos começar a diferenciar quais são
utilizações do chamado senso-comum e, por outro lado, como a ciência
antropológica compreende e define cultura.
De acordo com o uso popular, percebemos que existe uma concepção segundo
qual cultura é uma questão de status e está muito relacionada com a aquisição de
conhecimento letrado[1].
 
Na frase “fulano é uma pessoa que tem muita cultura”, o sentido atribuído a esse
conceito é que se trata de uma coisa possível de ser acumulada e que distingue
um indivíduo dos demais.
A sociedade em geral pensa cultura como relacionada ao acesso a estudos
clássicos e letrados. O conhecimento letrado é aquele que não faz parte da “escola
da vida”, mas que se acumula no conhecimento transmitido por livros, autores,
autoridades em cada assunto.
Já numa outra situação como na frase ”o brasileiro precisa valorizar mais sua
própria cultura”, há a preocupação em situar o conjunto da produção cultural e da
história de nosso país.
 
Comparam-se assim as chamadas “culturas nacionais”, e somos capazes de
perceber que de uma sociedade para outra mudam regras, valores, arte, religião,
folclore, culinária e assim por diante. Assim podemos ver que os limites políticos e
geográficos que são as nações, podem compreender também culturas próprias.
 
Vamos a outro de nossos exemplos. Na frase “a cultura desse lugar é muito
atrasada”, existe uma nítida noção popular segundo a qual deve existir uma
hierarquia entre as diferentes culturas, que vão das mais “atrasadas” às mais
“avançadas”. Normalmente as pessoas se referem ao comportamento coletivo, à
qualidade da vida social. Elas querem expressar a existência de culturas que
desenvolvem meios para que as necessidades sociais sejam mais bem
solucionadas, seja em seu desenvolvimento tecnológico, ou pela chamada
“educação do povo”, que nesse caso, nada mais significa que o acesso a
informações e à cultura letrada.
 
Finalmente, na frase “a cultura oriental é muito antiga”, surge a noção que cultura
é algo que se acumula e se mantém (ou se perde) ao longo do tempo. Nesse
caso, há a preocupaçãoem pensar cultura como um conjunto de coisas
(denominados “elementos da cultura”) que podem se transformar tradições, pois
são mantidas ao longo do tempo; já outros elementos se transformam, dando a
idéia de passagem do tempo.
 
Para compreender essa multiplicidade de usos do conceito de cultura, é
importante resgatar o processo histórico que transformou seu uso.
É importante ressaltar que não há maneira mais correta ou incorreta de pensar
cultura nos exemplos apontados, mas é importante, que você como estudante
dessa disciplina, consiga perceber que o uso popular tem formas de julgar pessoas
e povos através de sua cultura. Nesse caso, cultura se torna um conceito que
permite fazer discriminações, ou até mesmo usar preconceitos contra outros.
 
Já o uso do conceito de cultura pela Antropologia, tem como idéia central fazer
referencia a hábitos, costumes, saberes, técnicas e todo o conjunto de valores de
um povo, sem a lógica do julgamento.
É o que você poderá perceber com o texto que segue e utilizando a bibliografia
indicada. 
 
ETIMOLOGIA DA PALAVRA CULTURA[2]
 
* Até o séc. XVIII, a palavra cultura existia APENAS com o registro de
“agricultura”.
* Em sua origem, o conceito de cultura demonstra já uma relação entre
HABILIDADES HUMANAS e o domínio da natureza circundante. Agricultura é uma
habilidade em observar o desenvolvimento das espécies vegetais e aperfeiçoar as
condições para o bom desenvolvimento e o cultivo em larga escala.
* Os diversos comportamentos culturais humanos, nesse registro
demonstrariam nossa capacidade de manipular, aperfeiçoar, utilizar, consumir.
Isso tudo aplicado ao UNIVERSO humano das coisas e idéias que nos cercam.
 
 
COMO A PARTIR DO SÉC. XVIII A DEFINIÇÃO DA PALAVRA CULTURA
SOFRE UMA GRANDE TRANSFORMAÇÃO
 
A partir desse momento histórico, a palavra cultura adquire uma MULTIPLICIDADE
de sentidos. Além de agricultura, hoje ela é associada a conhecimento, educação,
costumes e tradições. Como se deu essa mudança?
* Revoluções anteriores – séculos XV, XVI e XVII:
* RENASCIMENTO
* GRANDES NAVEGAÇÕES E A ENTRADA DO “NOVO MUNDO” NO MAPA MUNDI.
* A mentalidade européia passa por um impacto de profundas alterações
econômicas e sociais (os lucros com as Colônias, o contato com outros povos);
* O contato com povos de outros continentes fora da Europa, chamados de
“índios”, “aborígenes”, “primitivos”, e que habitam a África, as Américas e a
Austrália traz inquietação aos europeus.
* LEMBRE-SE: até o momento das Grandes Navegações, o “mundo conhecido”
pelos povos da Europa se resumia ao Norte da África, Oriente Médio, China e
Índia. O contato com os povos nativos de outros continentes, com um modo de
vida totalmente desconhecido para eles, causou espanto e dividiu as reações da
população européia[3]. 
* Nesse contexto, o contato com outros povos prepara o momento seguinte,
quando o conceito de cultura começa a ser associado a comportamento coletivo
de um povo. Veja abaixo. 
 
Após isso, na FRANÇA E ALEMANHA surgem duas diferentes definições de cultura
(séculos XVIII e XIX)
* ALEMANHA – (cultura = “kultur”), idéia de que um povo cultiva suas tradições
* FRANÇA – (cultura = “civilization”), preocupados em diferenciar pessoas/povos
que cultivam a educação refinada (burguesa)
 
* Nos sécs. XVIII e XIX estavam em processo de criação os Estados nacionais,
os países como conhecemos hoje. Era necessária a discussão sobre cultura, pois a
classe dominante precisava algum apoio ideológico para convencer diferentes
povos que a partir de então eles fariam parte de uma mesma “nação”.
* Perceba como é nesse momento que a palavra cultura amplia seu significado,
sendo associada TAMBÉM à idéia de COMO UM POVO CULTIVA SEU
COMPORTAMENTO COLETIVO. Como observamos, dominamos e orientamos a
conduta e o cultivo das relações sociais (registro alemão da palavra).
* Também é nesse momento que a palavra cultura passa a ser associada com
DISTINÇÃO SOCIAL, pessoas “civilizadas” e “cultas” e pessoas “atrasadas” e
“incultas” (registro francês da palavra).
 
 
Vale lembrar que o registro que o senso-comum tem hoje da palavra cultura, está
bem próximo da forma como na França se desenvolveu esse conceito, você pode
perceber isso?
 
Continuando. Os primeiros registros do uso científico do conceito de cultura
surgem na segunda metade do séc. XIX (1871).
O autor é Edward TYLOR que definiu cultura como "um conjunto complexo que
inclui os conhecimentos, as crenças, a arte, a lei, a moral, os costumes e todas as
outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma
sociedade".
 
Todas as definições que antecedem e foram trabalhadas por filósofos dos séculos
XVII e XVIII, e as que surgem após Tylor, têm em comum a tentativa de explicar
a diversidade de povos e culturas.
 
O séc. XIX sofre um profundo impacto da teoria evolucionista de Charles Darwin.
Apesar de sua teoria ser relativa única e exclusivamente à biologia, ela foi tão
importante e revolucionaria que acabou criando o que chamamos nas ciências
de PARADIGMA.
 
Um paradigma é uma teoria que adquire tamanha força explicativa, que passa a
ser utilizada para além de seu campo original. Então muitos pensadores utilizam
aquela idéia como fonte explicativa para suas próprias questões.
 
Pois o evolucionismo se transformou em paradigma, e influenciou profundamente
cientistas sociais, historiadores e até filósofos daquele século.
No que diz respeito ao conceito de cultura, foi criado o
chamado EVOLUCIONISMO SOCIAL, ou ainda “darwinismo social”.
Trata-se de uma teoria que defende existirem ESTÁGIOS EVOLUTIVOS para a
cultura humana, da mesma forma que existem os estágios evolutivos para cada
espécie.
Atenção a um detalhe importante: repetindo, “estágios evolutivos para a cultura
humana”, assim, no singular mesmo! Pois havia na época a convicção de que
haveria uma única forma de cultura humana, cujo exemplo máximo de evolução
seria aquela praticada pelos povos europeus.
Quanto aos outros povos, representavam estágios mais atrasados e pouco
importantes em relação aos povos europeus. Perceba então que na época não se
pensava no plural: “culturas humanas”. Esse tipo de pensamento se encontra em
quase todos os pensadores de então.
 
É o que chamamos de evolução unilinear, em oposição ao tipo de pensamento que
surge no sec. XX, com a idéia de evolução multilinear (localize essas idéias no
cap. 4 do livro Cultura – um conceito antropológico).
 
Evolução unilinear seria exatamente essa idéia de estágios evolutivos para a
cultura humana, que enxergava como uma única linha dentro da qual poderiam
ser encaixados em diferentes estágios evolutivos a cultura de cada povo.
 
Como era organizada a “lógica evolutiva” da cultura, dentro dessa concepção de
uma linha única e imaginaria de desenvolvimento dos povos?
 
Os critérios eram basicamente a presença ou ausência de quesitos como: escrita,
metalurgia, tecnologia, ciência, Estado, mercado e assim por diante. Entendia-se
que quanto maior o acúmulo de semelhanças com todos esses quesitos, que
curiosamente estavam presentes apenas em algumas sociedades européias e que
são as criadoras dessa teoria, maior a evolução de uma cultura. Quanto menor a
semelhança com esse tipo de aparato cultural, menor a sua evolução cultural.
 
Surgiram termos para marcar pontos nessa linha evolutiva como: selvagens,
bárbaros e civilizados.
 
Os povos indígenas brasileiros, por exemplo, que não possuíam escrita, não
fabricavam metais, não produziam além do necessário para a subsistência, seriam
colocados nas etapas mais primitivas dessa linha imaginaria, e eram chamados de
selvagens.
Então seguiriam os povos como os chineses, árabes e hindus, que possuíam
sofisticada tecnologia (lembra-se que Marco Polo trouxe a pólvora da China?),
instituições políticas complexas, mercado.... mas tinham uma “grave” falha: não
desenvolveram a ciência, como a conhecemosem sua herança européia[4]. Eles
eram chamados de bárbaros.
Por fim, algumas sociedades européias, como os ingleses, franceses ou alemães
entre outros, eram os chamados povos civilizados.
 
A principal reação ao evolucionismo tem início com o pensamento de Franz BOAS,
um pensador americano de origem alemã.
Ele funda uma corrente de pensamento denominada PARTICULARISMO
HISTÓRICO, que ficou bastante conhecida como Escola Cultural Americana. Ele
defende que cada grupo humano cria um caminho próprio de desenvolvimento.
Isso gera a idéia de múltiplas linhas de culturas (veja que agora aparece o plural).
 
Durante todo o século XX o evolucionismo continuou sendo combatido, e todos os
dados de pesquisas feitas por antropólogos reforçavam cada vez mais os erros do
evolucionismo social. Entretanto, aquele pensamento tão antigo e equivocado
permanece incrivelmente presente no pensamento do senso-comum até hoje, pois
foi divulgado de forma bastante eficiente pelas elites européias que então
dominavam todos os povos dos outros continentes, suas ex-colônias.
 
Muitas pessoas até hoje, não apenas utilizam esse pensamento evolucionista para
tratar de forma pejorativa outros povos, inferiorizando-os. Acredita-se, inclusive,
que uma suposta “superioridade” cultural seja consequência de uma superioridade
genética de alguns povos.
 
Ao associar cultura e genética, erros de pensamento são criados, e acabam
adquirindo status de verdade, pois os genes acabaram se tornando mitos no
mundo moderno. Neles parecem residir “chaves” e segredos incríveis, soluções de
toda ordem.
Por isso é muito importante ressaltar o pensamento de antropólogos como Geertz
e Kroeber, que colaboram para desmistificar o poder de influencia dos genes em
nosso comportamento cultural.
 
Nesse ponto, vamos destacar alguns trechos de LARAIA (indicado na bibliografia
do item) para finalizar:
 
Resumindo, a contribuição de Kroeber para a ampliação do conceito de
cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos:
1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento
do homem e justifica as suas realizações.
2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos
foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.
(Voltaremos a este ponto mais adiante.)
3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em
vez de modificar para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu
equipamento superorgânico.
4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as
barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu
hábitat.
5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do
aprendizado do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas.
6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é
este processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação, não
importa o termo) que determina o seu comportamento e a sua capacidade
artística ou profissional.
7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência
histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação
criativa do indivíduo.
8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade
de utilizar o conhecimento existente ao seu dispor, construído pelos
participantes vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto
ou uma nova técnica. Nesta classificação podem ser incluídos os indivíduos
que fizeram as primeiras invenções, tais como o primeiro homem que
produziu o fogo através do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem
que fabricou a primeira máquina capaz de ampliar a força muscular, o arco e
a flecha etc. São eles gênios da mesma grandeza de Santos Dumont e
Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje
consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto,
talvez nem mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje.
(LARAIA, R. B. Cultura, um conceito antropológico, RJ: Jorge Zahar, 2005,
pgs. 48-49)
 
Sabemos que o ser humano apesar de viver em cultura e ter se afastado de seu
comportamento geneticamente determinado (= instintos), não perdeu seus
instintos. Entretanto, a maneira de satisfazer às necessidades vitais é feita de
acordo com a cultura. Alimentação, horários de sono, atividade sexual, proteção,
ou qualquer outro item que faça parte da sobrevivência de nossa espécie possui
regras culturais para serem satisfeitos.
 
 
 
LEIA OS TEXTOS INDICADOS NA BIBLIOGRAFIA DESTE CONTEÚDO ANTES
DE INICIAR OS EXERCÍCIOS PROPOSTOS PARA AUTO-AVALIAÇÃO.
Tente pesquisar também sobre os temas abordados em artigos científicos
disponíveis em vários sítios da Internet.
 
 
 
[1] “Conhecimento letrado” é todo estudo que utiliza o estudo e aprofundamento de um assunto
através de livros, é uma forma de erudição, um conhecimento que deriva de estudos.
[2] Etimologia – estudo da origem e da evolução das palavras. Lembre-se que as palavras são
“coisas vivas” e seu uso pode mudar através do tempo, adquirindo novos sentidos, ou ganhando
novas formas de emprego no vocabulário cotidiano.
[3] Para saber mais sobre o assunto, leia LAPLANTINE, F. Aprender Antropologia, SP; Brasiliense,
1995, “A pré historia da Antropologia”, pgs. 37-53.
[4] O pensamento “científico” oriental até hoje é considerado pelo mundo ocidental como carente de
valores para legitimar sua racionalidade, pois encontra-se permeado de filosofias que por muitos
ainda são consideradas “crenças”, portanto não são validados como afirmações aceitáveis dentro da
metodologia cientifica.
Exercício 1:
Verifique as afirmações abaixo:
I) Aprendemos a estar no mundo, e não simplesmente somos “jogados” nele. Desde a
língua que falamos para nos comunicar, até os símbolos que associamos a
crenças, sonhos e mensagens, são criados de acordo com uma mentalidade
coletiva comum. Esse “modelo” para nos comunicar e dar sentido ao que p
nensamos, é dado pela nossa cultura.
II) Assim, Lévi-Strauss afirma que o fato de possuir cultura, dota a espécie humana de
uma característica fenomenal, que é a de ter nos distanciado dos instintos.
Ou seja, para ele, é importante perceber como a cultura nos moldou como seres
que agem não apenas preocupados com realizações praticas de sobrevivência, e
sim, como agimos o tempo todo pautados em uma moral, uma ética de mundo que
nos dá consciência.
III) Ao que tudo indica, assim que nossos ancestrais desenvolveram uma dependência
da cultura para sobreviver, a seleção natural começou a favorecer genes para o
comportamento cultural.
 
Assinale a alternativa correta:
A)
 As três afirmações estão corretas
B)
 Nenhumas das afirmações está correta
C)
Apenas as afirmações I e III estão corretas
D)
Apenas as afirmações II e III estão corretas
E)
 Apenas as afirmações I e II estão corretas
Comentários:
Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários 
Exercício 2:
Leia o trecho abaixo, extraído de um livro da bibliografia complementar:
 
“O modo de vida estritamente cultural impõe uma série de exigências para seu
funcionamento. Para começar, aumenta muito a importância da proximidade e das relações
sociais por um lado, e da inteligência, por outro. Nenhuma espécie envereda por um caminho
destes impunemente. Dentro de um jogo complicado, pode-se pensar que a cultura, ao
aumentar as chances de sobrevivência do grupo, também aumenta a sua dependência da
cultura para sobreviver. Ao mesmo tempo em que liberta, submete.
Escapa-se de uma armadilha, entrando em outra.”
 
De acordo com os conhecimentos sobre cultura, podemos afirmar:
A)
 A cultura consiste em comportamentos inatos
B)
A cultura é compartilhada por pessoas que, necessariamente, possuem laços afetivos
C)
 O trecho acima está incorreto, pois os indivíduos não são dependentes da culturaD)
 O trecho acima está correto e atual. Cada vez mais, somos dependentes de uma cultura.
E)
 A cultura é passada de geração para geração, através da herança genética
 
Comentários:
Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários 
Exercício 3:
Considere o exemplo de relações sexuais entre indivíduos que possuem vínculos familiares
muito diretos, como pais e filhos, ou tios e sobrinhos. Este exemplo trata-se de:
A)
Uma regra moral pertence exclusivamente à época atual. E não existia há cem anos atrás.
B)
 Consiste em uma das únicas regras que tem validade universal em nossa espécie. Ou
seja, não depende de época ou cultura.
C)
 Uma regra exclusivamente de países ocidentais
D)
 Uma regra que estava vigente há 200 anos atrás, mas que não mais se aplica
E)
Nenhuma das alternativas acima está correta
Comentários:
Essa disciplina não é ED ou você não o fez comentários 
 
Conteúdo do 1º bimestre – PROVA NP-1
 
MÓDULO 3
 
3. A ANTROPOLOGIA E O ESTUDO DA CULTURA.
3.1 - A diversidade cultural. Etnocentrismo e relativismo cultural.
 
 
Bibliografia
Textos básicos
“Teorias modernas sobre a cultura”, in LARAIA, R.B. CULTURA - Um Conceito
Antropológico, Rio de Janeiro: JORGE ZAHAR, 17ª ed., 2005. Pgs. 59-64.
 “Cultura e Diversidade”, in SANTOS, José Luiz dos. O QUE É CULTURA, SP:
Brasiliense, 2006. pp 07-20.
 
Textos complementares
NUNES, Rossano Carvalho. Antropologia. Texto disponível eletronicamente no
endereço:
http://www.gpveritas.org/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=54&Itemid=63
 
NUNES, Rossano Carvalho. Cultura. Texto disponível eletronicamente no
endereço:
http://www.gpveritas.org/portal/index.php?
option=com_content&view=article&id=55&Itemid=64
 
 
DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO – item 3
 
3 – A antropologia e o estudo da cultura
 
Antropologia é uma ciência dedicada ao estudo do Homem. O radical latino
“anthropos” significa Homem (Ser Humano), e “logia” é o estudo. Surge no séc.
XIX empenhada em aprofundar o conhecimento científico sobre as chamadas
“sociedades primitivas”, como eram chamadas as tribos e povos não-europeus, os
nativos das Américas, Austrália e África. Para explicar a grande diferença de
comportamento entre esses povos e os povos europeus, a Antropologia acabou se
concentrando no conceito de cultura.
Hoje, essa ciência não estuda apenas as tribos ou pequenas comunidades
distantes dos centros desenvolvidos, mas qualquer ambiente social. Isso ocorreu,
pois ficou comprovado que a diversidade cultural não gira apenas em torno de
“povos primitivos” e “povos civilizados”, mas está em toda parte onde haja
contato entre dois povos que cultivam costumes e valores diferentes. E
recentemente, em nossa história, com o início da chamada “globalização”, o
contato entre pessoas e organizações com diferentes referenciais de mundo, ou
seja diferentes culturas, intensificou-se num ritmo frenético. Por isso compreender
o conceito científico de cultura é tão importante.
 
 
No capítulo de LARAIA, intitulado “Teorias Modernas sobre a cultura” há uma
apresentação de duas correntes diferentes da antropologia quanto à definição do
que é cultura. Vamos dividi-las abaixo:
 
1) teorias que definem cultura como um SISTEMA ADAPTATIVO.
Para esses autores, a cultura é tudo que for criado pelo ser humano para adaptar
suas comunidades às suas bases biológicas (ecossistemas e território).
A tecnologia, a economia e a organização de um grupo social servem totalmente
aos propósitos de promover essa adaptação, e as mudanças culturais são
consequência direta de mudanças no meio.
 
 2) teorias que definem cultura como um SISTEMA COGNITIVO
(teorias idealistas)
Para esses autores, o que o ser humano produz em termos materiais não é o mais
importante. Interessa perceber a capacidade humana em desenvolver nos
domínios intelectuais o mundo que nos rodeia. Assim, cultura é um SISTEMA DE
CONHECIMENTO do mundo. Tudo que a inteligência traduz em linguagem e
símbolos, regras, crenças e formas de pensar o mundo fazem parte de nossa
cultura.
 
Para citar algumas idéias dessa última definição que parece ser mais complicada
para compreender:
 
W.H. Goodenough (1957) - “A cultura de uma sociedade consiste em tudo
aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitável os
seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas,
pessoas, condutas ou emoções. É melhor, uma organização de tudo isso. É a
forma das coisas que as pessoas têm em sua mente, seus modelos de percebê-
las, de relacioná-las ou de interpretá-las.”
 
Perceba como, na visão desse autor, a cultura não CONSISTE EM COISAS (bens
materiais), mas a cultura é um MODELO MENTAL, uma certa forma de interpretar
o mundo.
 
Clifford Geertz (1966) - “Se compreende melhor a cultura não como complexos
de esquemas concretos de conduta – costumes, usos, tradições, conjuntos de
hábitos – mas sim como planos, receitas, fórmulas, regras, instruções (o que os
engenheiros de computação chamam de ‘programas’) e que governam a conduta”.
 
 
Desenvolvendo ainda mais a mesma idéia do autor acima (Goodenough), Geertz
indica que a cultura é um conjunto de planos e receitas que GOVERNAM A NOSSA
CONDUTA. Traduzindo, todas as nossas atitudes, sejam elas de ordem prática ou
de ordem afetiva seriam organizadas em nossa mente através da receita
proporcionada pela nossa cultura. Para ele, a cultura é como um código, um
conjunto de símbolos, que para conseguirmos interpretar precisamos ter o
“segredo”, a “chave” para a interpretação. O mundo é um grande código, um
conjunto de símbolos “embaralhados” e a nossa cultura proporciona um
entendimento desse mundo.
 
Clifford Geertz, (1973) - “Cultura é um sistema simbólico, característica
fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional
e estruturada, significados e sentidos às coisas do mundo”.
 
Mais uma frase do mesmo autor acima, Geertz, que nos chama atenção para o
fato que o pensamento simbólico é EXCLUSIVAMENTE HUMANO. A capacidade de
interpretar símbolos é a base de nosso pensamento. Associamos símbolos a
coisas, e organizamos o mundo em nossas mentes. Por exemplo, o animal “cão”.
Para pensar no cão, criamos um símbolo que é o som da palavra cão, e ao pensar
através de palavras, estamos pensando simbolicamente.
Para Geertz, não existe nada no mundo que o ser humano deixe de atribuir um
significado. Isso é o que explica a cultura humana.
 
 
Em que aspecto exatamente, está a importância desse debate em
torno de diferentes concepções sobre cultura?
 
Para qualquer área do conhecimento, é importante compreender que trata-se de
definir a condição do ser humano em relação ao restante das espécies.
Os teóricos da cultura como sistema adaptativo, concebem que a cultura é uma
ferramenta como qualquer outra, e que permite soluções de sobrevivência e
reprodução aos membros de nossa espécie, homo sapiens sapiens. Isso a torna
interessante, uma vez que “desmistifica” as capacidades humanas, e nos faz
olhar para nós mesmos como seres que “batalham” pela sobrevivência como
qualquer outro.
Já os teóricos mais idealistas, entendem que somos seres cujo cérebro não
permite outra forma de uso, a não ser para criar cultura. Nosso órgão pensante
se tornou, ao longo da evolução, preparado para entender o mundo através de
uma lógica simbólica. Ele nos impele a formar vínculos familiares e afetivos,
pensar soluções práticas dentro de concepções culturais, nos pensar como
indivíduos que compõem grupos organizados. Isso a torna interessante, pois
mostra que essa característica é universal. Não há culturas que produzam
indivíduos mais inteligentes ou capazes.
Ambas são válidas e seus autores produziram uma grande quantidade
de conhecimento através de pesquisas e teorias que aprofundaram
nosso saber sobre a nossa própria espécie.

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