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Teorema do homomorfismo 3 ob je tiv os A U L A Metas da aula Pré-requisitos Apresentar o teorema do homomorfismo de anéis e sua demonstração. Realizar outra demonstração do teorema do resto chinês. Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: • Demonstrar o teorema do homomorfismo. • Demonstrar que os anéis Zn e Z /nZ são isomorfos. Você vai precisar dos conhecimentos sobre anéis e ideais, desenvolvidos nas Aulas 21 a 23 de Álgebra I, e Aulas 1 e 2 deste curso. 30 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 31 A U LA 3 Todo homomorfismo gera um isomorfismo entre um anel quociente e o anel imagem do homomorfismo. Esse importante resultado será o tema desta aula. Como aplicação, vamos rever o teorema do resto chinês, visto no seu curso de Álgebra I, obtendo, agora, uma nova demonstração. Vamos começar revendo a definição de isomorfismo de anéis, apresentada na aula anterior. DEFINIÇÃO 1 Um homomorfismo ƒ : A → B é chamado de um isomorfismo se for, também, uma bijeção. Nesse caso, dizemos que A e B são isomorfos e denotamos A ≈ B. O resultado principal desta aula, o teorema do homomorfismo, é similar a um resultado correspondente sobre os homomorfismos de grupos, apresentado no curso de Álgebra I. Lembre, da aula anterior, que dado o homomorfismo de anéis ƒ : A → B, então o conjunto imagem de A, ƒ(A), é um subanel de B e o núcleo de ƒ, N(ƒ), é um ideal de A. TEOREMA DO HOMOMORFISMO DE ANÉIS Dado um homomorfismo ƒ : A → B entre os anéis A e B, então existe um isomorfismo de anéis ϕ : A/N (ƒ) → ƒ(A) que satisfaz ƒ = ϕ ο π, onde π : A → A/N (ƒ) é o homomorfismo canônico. Representamos esse resultado pelo seguinte esquema. É de suma importância que você acompanhe passo a passo todas as etapas desta demonstração. Ela é longa e será dividida em várias etapas para facilitar a sua compreensão. Para que você não se perca na argumentação, leia e releia com atenção cada uma de suas etapas. Certifique-se de que você entendeu cada passagem e faça suas próprias anotações, justificando as passagens que você considera mais difíceis. Vamos lá então! INTRODUÇÃO A/N (ƒ) ≈ ƒ(A) ƒ A ƒ(A) ⊂ B π A/N (ƒ) ϕ 30 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 31 A U LA 3 Demonstração Vamos dividir a demonstração em alguns passos. 1o Passo: Vamos definir uma função ϕ : A/N(ƒ) → ƒ(A), segundo o diagrama anterior. Para isso, definimos ϕ(a) = ƒ(a) para todo a = a + N(ƒ) ∈ A/N(ƒ). Então, precisamos provar que ϕ é, de fato, uma função bem definida, o que significa mostrar que se a = b, então ϕ(a) = ϕ(b), ou seja, se a = b, então ƒ(a) = ƒ(b). Suponhamos, então, que a = b. Da aula anterior, sabemos que N(ƒ) é um ideal de A, logo, a – b ∈ N(ƒ) e, portanto, ƒ(a – b) = 0B. Assim, ƒ(a) – ƒ(b) = ƒ(a – b) = 0B, ou seja, ƒ(a) = ƒ(b), ou, equivalentemente, pela definição de ϕ, que ϕ(a) = ϕ(b). Concluímos, assim, que ϕ é, de fato, uma função de A/N (ƒ) em ƒ(A). 2o Passo: Vamos mostrar que ϕ é um homomorfismo. Para isso, basta verificar que ϕ satisfaz os axiomas de homomorfismo vistos na Aula 2. Se a, b ∈ A/N (ƒ), temos: H1. ϕ(a + b) = ϕ(a + b) = ƒ(a + b) pela definição de ϕ = ƒ(a) + ƒ(b) pois ƒ é homomorfismo = ϕ(a) + ϕ(b) pela definição ϕ. H2. ϕ(a . b) = ϕ(a . b) = ƒ(a . b) pela definição de ϕ = ƒ(a) . ƒ(b) pois ƒ é homomorfismo = ϕ(a) . ϕ(b) pela definição ϕ. H3. ϕ(1A) = ƒ(1A) pela definição de ϕ = 1A pois ƒ é homomorfismo. Concluímos, assim, que a função ϕ é um homomorfismo entre os anéis A/N (ƒ) em ƒ(A). 32 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 33 A U LA 3 3o Passo: Vamos provar, agora, que ϕ é uma função bijetora. Vamos começar provando que ela é injetora. Pela Proposição 2, item 2, da Aula 7, basta mostrar que N (ϕ) = {0A}. Seja a ∈ N(ϕ), então, pela definição de ϕ, ƒ(a) = ϕ(a) = 0B, ou seja, a ∈ N(ƒ). Portanto, a = a + N(ƒ) = 0A. Isso prova que N (ϕ) = {0A}. Caso você ache essa argumentação muito abstrata, vamos apresentar a demonstração clássica de injetividade, que consiste em provar que se ϕ(a) = ϕ(b), então a = b. De fato, se ϕ(a) = ϕ(b) , temos que ƒ(a) = ƒ(b), pela definição de ϕ, logo ƒ(a) − ƒ(b) = 0. Daí, ƒ (a – b) = ƒ(a) − ƒ(b) = 0, e isso significa que a – b ∈ N(ƒ), ou seja, a = b. Pois, lembre que a ∈ A/N(ƒ). Finalmente, ϕ é uma função sobrejetora, pois dado y ∈ƒ(A) arbitrário, então existe a ∈ A tal que y = ƒ(a) e, como ϕ(a) = ƒ(a), segue que y = ϕ(a). Concluímos, assim, que a função ϕ: A/N (ƒ) → ƒ(A), definida por ϕ(a) = ƒ(a), é um homomorfismo bijetor, ou seja, é um isomorfismo e, portanto, temos A/N (ƒ) ≈ ƒ(A). Esperamos que você tenha apreciado a demonstração desse belo teorema. Uma conseqüência imediata do Teorema do Homomorfismo é: Corolário 1 Se ƒ : A → B é um homomorfismo sobrejetor, então A/N (ƒ) e B são anéis isomorfos, isto é, A/N (ƒ) ≈ B. Demonstração Como ƒ é sobrejetora, temos ƒ(A) = B e, pelo teorema do homomorfismo, temos A/N (ƒ) ≈ ƒ(A). Portanto, concluímos que A/N (ƒ) ≈ B. 32 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 33 A U LA 3 ATIVIDADE Corolário 2 Seja n ∈ Z, n > 0. Então os anéis Z/nZ e Zn são isomorfos, isto é, Z/nZ ≈ Zn . A demonstração deste corolário você vai realizar, agora, como sua primeira atividade desta aula. 1. Nesta atividade, você vai demonstrar o Corolário 2. Para isso, seja ƒ : Z → Zn a função dada por ƒ(a) = a, onde a é a classe residual de a módulo n. Mostre que: a) ƒ é um homomorfismo sobrejetor; b) N(ƒ) = nZ; c) Z/nZ ≈ Zn. Agora, vamos utilizar o corolário anterior para provar o teorema do resto chinês. TEOREMA DO RESTO CHINÊS Sejam m, n ∈ Z, m, n > 0, tais que mdc(m, n) = 1. Então os anéis Zmn e Zm X Zn são isomorfos. Lembre que Zmn = {[a]mn a ∈ Z } e Zm X Zn = {([a]m , [a]n) [a]mn ∈ Zm e [a]n ∈ Zn }. Lembre, também, que dois inteiros m e n com mdc(m, n) = 1 são chamados de primos relativos (ou, primos entre si), o que significa que m e n não têm divisor primo comum. Demonstração Consideremos a função ƒ : Z → Zm X Zn definida por ƒ(a) = ([a]m , [a]n), onde [a]m e [a]n denotam as classes residuais de a ∈ Z, módulo m e módulo n, respectivamente. 34 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 35 A U LA 3 ATIVIDADE 1o Passo: provar que f é um homomorfismo de anéis. A demonstração desse fato é mais uma atividade proposta para você. 2o Passo: vamos mostrar que N(ƒ) = mnZ, onde N(ƒ) é o núcleo de ƒ. Vamos começar pela primeira inclusão: N(ƒ) ⊃ mnZ. Se a ∈ mnZ, então a é múltiplo de mn, isto é, mn a (lembre que esse símbolo significa mn divide a). Como m mn e n mn, temos que m a e n a , ou seja, [a]m = [0]m e [a]n = [0]n. Assim, ƒ(a) = ([a]m , [a]n) = ([0]m , [0]n) = 0Zm x Zn . Isso significa que a ∈ N(ƒ). Vamos provar, agora, a segunda inclusão: N(ƒ) ≠ mnZ. Seja a ∈ N(ƒ), então ƒ(a) = ([a]m , [a]n) = 0Zm x Zn = ([0]m , [0]n). Daí, segue que [a]m = [0]m e [a]n = [0]n. Logo, m a e n a . Como m a, n a e mdc(m,n) = 1 então, por propriedade conhecida do seu curso de Álgebra I, segue que m a, ou seja, a é múltiplo de mn. Portanto, a ∈ mnZ. Concluímos assim, que N(ƒ) = mnZ. 3o Passo: vamos provar que Zmn ≈ ƒ(Z). Nos passos anteriores mostramos que ƒ : Z → Zm X Zn é um homomorfismo com núcleo N(ƒ) = mnZ. Pelo Teorema do Homomorfismo, segue que Z/mnZ ≈ ƒ(Z). Agora, pelo Corolário 2,segue que Zmn ≈ Z/mnZ. Logo, pela Proposição 3 da Aula 7, segue que Zmn ≈ ƒ(Z). 2. Prove que função ƒ : Z → Zm X Zn, definida por ƒ(a) = ([a]m , [a]n), é um homomorfismo de anéis. Veja que propriedades você deve provar e tente adaptar as provas parecidas que já fizemos. 34 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 35 A U LA 3 4o Passo: para finalizar, vamos mostrar que ƒ (Z) → Zm X Zn. Como Z mn e f(Z) são isomorfos, então Zmn e ƒ (Z) têm o mesmo número de elementos. Sabemos que Zmn tem m . n elemento, portanto, ƒ (Z) também tem m.n elementos. Mas, ƒ (Z) ⊂ Zm X Zn. Como Zm X Zn também tem m.n elementos, concluímos que ƒ (Z) = Zm X Zn. Dos passos anteriores, concluímos que Zmn = Zm X Zn sempre que mdc(m,n) = 1. ATIVIDADE FINAL Sejam n, K ∈ Z, n, K > 0. Seja ƒ : ZKn → Zn definida por ƒ ([a]Kn ) = [a]n, onde [a]Kn e [a]n são as classes residuais de a, módulo kn e módulo n, respectivamente. a) Mostre que ƒ é um homomorfismo de anéis. b) Mostre que N(ƒ) = nZKm = {n . [x]Kn [x]Kn ∈ ZKn }. c) Mostre que ƒ é sobrejetora e conclua que os anéis ZKn / nZKn e Zn são isomorfos, isto é, ZKn /nZKm ≈ Zn. R E S U M O Nesta aula, você viu o importante teorema do homomorfismo, muitas vezes também chamado de teorema do isomorfismo. Esse teorema afirma que dado um homomorfismo de anéis ƒ : A → B, então os anéis A/N (ƒ) e ƒ(A) são isomorfos. Ele é um mecanismo de criação de isomorfismos e, assim, uma importantíssima ferramenta de comparação de anéis. Fizemos uma bela aplicação desse teorema quando provamos o teorema do resto chinês, que afirma que os anéis Zmn e Zm X Zn são isomorfos sempre que mdc(m,n) = 1. 36 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 37 A U LA 3 Atividade 1 a) Para mostrar que ƒ é homomorfismo, sejam a, b ∈ Z, então H1. ƒ (a + b) = a + b = a + b = ƒ(a) + ƒ(b); H2. ƒ (a . b) = a . b = a . b = ƒ(a) . ƒ(b); H3. ƒ(1) = 1 = 1Zn , ou seja, ƒ é um homomorfismo. Mais ainda, é um homomorfismo sobrejetor, pois, dado a ∈ Zn , temos ƒ(a) = a com a ∈ Z. b) Para provar que os dois conjuntos são iguais, seja a ∈ N(ƒ) ⇔ ƒ(a) = 0 ⇔ a = 0 ⇔ a ≡ 0 (mod n) ⇔ n a ⇔ a ∈ nZ. Assim, concluímos que N(ƒ) = nZ. c) Sabendo que ƒ : Z → Zn é um homomorfismo sobrejetor, segue, agora, diretamente do corolário 1, que Z /N(ƒ) ≈ Zn. E, como N(ƒ) = nZ, então, concluímos que Z /nZ ≈ Zn. Atividade 2 Precisamos verificar que ƒ : Z → Zm x Zn, definida por ƒ(a) = ([a]m , [a]n), satisfaz os três axiomas de homomorfismo. H1. ƒ(a + b) = ([a + b]m , [a + b]n), para todo a, b ∈ Z = ([a]m + [b]m , [a]n + [b]n) = ([a]m + [a]n ) + [b]m + [b]n) = ƒ(a) + ƒ(b); RESPOSTAS 36 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo C E D E R J 37 A U LA 3 H2. ƒ(a . b) = ([a . b]m , [a . b]n), para todo a, b ∈ Z = ([a]m . [b]m , [a]n . [b]n) = ([a]m , [a]n ) + ([b]m , [b]n) = ƒ(a) . ƒ(b); H3. ƒ(1) = ([1]m , [1]n) = 1Zm X Zm . Assim, concluímos que ƒ é um homomorfismo de anéis. Atividade Final a) Vamos verificar que f satisfaz os axiomas de homomorfismo. Sejam a, b ∈ Z, então H1. ƒ([a]Kn . [b]Kn) = ƒ([a + b]m ), para todo a, b ∈ Z = [a + b]n , pela definição de ƒ = [a]n + [b]n = ƒ(a) + ƒ(b); H2. ƒ([a]Kn . [b]Kn) = ƒ([a . b]Kn ) para todo a, b ∈ Z = [a . b]n , pela definição de ƒ = [a]n . [b]n = ƒ(a) . ƒ(b); H3. ƒ(1ZKn) = ƒ([1]Kn ) = [1]n , pela definição de ƒ = 1Zn . Assim, concluímos que ƒ é um homomorfismo de anéis. 38 C E D E R J Álgebra II | Teorema do homomorfismo b) Vamos calcular o núcleo de ƒ. Sabemos que N(ƒ) = {[a]Kn ∈ ZKn ƒ ([a]Kn ) = 0Zn = [0]n }. Temos ƒ ([a]Kn ) = [0]n ⇔ [a]n = [0]n ⇔ a = nt, t ∈ Z ⇔ [a]Kn = n. [t]Kn ⇔ [a]Kn ∈ nZKn. Portanto, concluímos que N(ƒ) = nZKn = {n . [x]Kn [x]Kn ∈ ZKn }. c) Para mostrar que ƒ : ZKn → Zn é sobrejetora, basta observar que dado [a]n ∈ Zn, então ƒ ([a]n ) = [a]n . Agora, pelo Teorema do Homomorfismo, concluímos que ZKn/ N(ƒ) ≈ Zn e, como N(ƒ) = nZKn , temos ZKn / nZKn ≈ Zn.
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