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Aula 3 - O Direito dos povos sem escrita e O direito na cidade-reino de Eshnunna

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O Direito dos povos ágrafos
Aula 3
Embora algumas vezes as pessoas confundam Direito e Leis Escritas, se partirmos do pressuposto de que um conjunto de regras ou normas que regulamentam uma sociedade pode ser chamado (ainda que humildemente) de direito, todas as comunidades humanas que existem ou existiram – produziram ou produzem seu “Direito”.
Só podemos estudar História e, portanto, História do Direito a partir do advento da escrita (que varia no tempo de povo para povo), antes disso chamamos de pré-história.
História do direito advento da escrita
As origens do DIREITO situam-se na formação das sociedades e isso remonta a épocas muito anteriores à escrita, e o que se mostra mais interessante neste estudo especificamente é que, dependendo do povo de que tratamos, essa “época” ainda é hoje.
Não têm um tempo determinado. Podem ser os homens da caverna de 3.000 a.C.
Povos sem grafia  ágrafos
Podem ser os índios brasileiros até a chegada de Cabral, ou até mesmo as tribos da floresta Amazônica que ainda hoje não entraram em contato com o homem branco.
São abstratos: como são direitos não escritos, a possibilidade de abstração fica ilimitada. As regras devem ser decoradas e passadas de pessoa para pessoas da forma mais clara possível.
Características Gerais dos 
Direitos dos Povos Ágrafos
São numerosos: cada comunidade tem seu próprio costume e vive isoladamente no espaço e, muitas vezes, no tempo. Os raros contatos entre grupos vizinhos (que porventura vivem no mesmo tempo e dividem o mesmo espaço) tem como objetivo a guerra.
São relativamente diversificados: essa distância (no tempo e espaço) faz com que cada comunidade produza mais dissemelhanças do que semelhanças em seus direitos.
São impregnados de Religiosidade: como a maior parte dos fenômenos são explicados, por esses povos, através da religião, e regra jurídica não foge a esse contexto. Na maior parte das vezes, a distinção entre regra religiosa e regra jurídica torna-se impossível.
São direitos em nascimento: a diferença entre o que é jurídico e o que não é muito difícil. Essa distinção só se torna possível quando o direito passa do comportamento inconsciente (derivado do puro reflexo) ao comportamento consciente, fruto de reflexão.
Entendemos como “fontes de direito” tudo aquilo que é utilizado como base ou “inspiração” para a feitura de regras ou códigos.
Os Povos Ágrafos basicamente utilizam os Costumes como fonte de suas normas, ou seja, o que é tradicional o viver e conviver de sua comunidade torna-se regra a ser seguida.
Fonte dos Direitos dos Povos Ágrafos = Costumes
O costume não é a única fonte do direito desses povos. 
Nos grupos sociais onde se pode distinguir pessoas que detêm algum tipo de PODER, estes impõem regras de comportamento, dando ordens que acabam tendo caráter geral e permanente.
O PODER
O precedente também é utilizado como fonte. As pessoas que julgam (chefes ou anciãos) tendem a, voluntária ou involuntariamente, aplicar soluções já utilizadas anteriormente.
Precedente
Muitos grupos utilizam o procedimento de, em intervalos regulares de tempo, terem suas regras enunciadas a todos pelo chefe (ou chefes) ou anciãos. 
Outras formas são os Provérbios e Adágios que desempenham papel decisivo na tarefa de fazer conhecer as normas da comunidade.
Transmissão das Regras
AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E O CÓDIGO DE ESHNUNNA
Há um lugar no mundo em que quase tudo que consideramos “civilizado” nasceu: O crescente fértil, onde hoje está o Iraque, uma parte do Irã e parte de seus vizinhos.
Esse lugar tem este nome por causa da fertilidade que os rios Tigre e Eufrates dão a uma região que é semelhante a uma lua crescente de cabeça para baixo.
O crescente fértil e as primeiras leis escritas
Crescente Fértil
Atualmente
Nessa região primeiro o homem dividiu as horas, os minutos e os segundos em sessenta, fez tijolos e erigiu grandes construções com eles, criou (para a felicidades dos olhos e da alma) a jardinagem, inventou o Estado e o Governo, fez as primeiras escolas, inventou a cerveja.
Grandes inventos
Mas a mais grandiosa invenção dessa gente da Mesopotâmia foi passar para uma superfície símbolos que expressavam ideias; a isso chamamos de escrita. O tipo de escrita que inventaram foi a cuneiforme.
Escrita
Urukagina reinou de 2.380 a.C até 2.360 a.C. Foi governante da cidade-estado de Lagash, na Mesopotâmia. Ficou conhecido por combater a corrupção, e por ser o primeiro reformador social da história. 
Povos, ainda, mais antigos
Nos textos que datam do seu reinado, constata-se uma tendência para a igualdade jurídica entre os cidadãos. 
Retirou impostos que recaíam sobre viúvas e órfãos ("A viúva e o órfão não mais estarão à mercê dos poderosos"); custeou despesas de funerais, inclusive as oferendas dedicadas aos mortos; e decretou que nenhum pobre seria mais obrigado a vender os próprios bens para os ricos.
O "Código de Urukagina de Lagash" buscava a liberdade e igualdade. Limitava o poder dos sacerdotes e grandes proprietários de terras. Dispunha sobre usura, roubos, mortes, dentre outros.
Rei Urukagina
Estela 
Ur-Nammu foi o fundador da terceira dinastia de Ur 2112-2095 a.C. Segundo suas próprias palavras, ele obteve este título do governante local chamado Utuhengal de Uruk. 
Rei Ur-Nammu
O Código de Ur-Nammu (cerca de 2040 a.C.), surgido na Suméria, descreve costumes antigos transformados em leis e a enfatização de penas pecuniárias para delitos diversos ao invés de penas talianas. 
Considerado um dos mais antigos de que se tem notícias, no que diz respeito a lei, foi encontrado nas ruinas de templos da época do rei Ur-Nammu, na região da Mesopotâmia (onde fica o Iraque atualmente).
Eshunna – Cidade-Reino
Cultura Suméria
As "Leis de Eshnunna" são duas tábuas encontradas no Iraque. Foram escritas durante o reinado de Dadusha. Consistem em 60 artigos, escritos em língua acádica (a mesma do "Código de Hamurabi"). 
A maior parte das penas é pecuniária, isto é, evita-se a pena de morte na maioria dos casos. Apenas em 5 artigos a pena capital aparece, sendo aplicada para crimes de natureza sexual, para assaltos e também roubos.
Leis de Eshnunna
O Código de Ur-Nammu (...) foi descoberto somente em 1952, pelo assiriólogo e professor da Universidade da Pensilvânia, Samuel Noah Kramer. É possível identificar em seu conteúdo dispositivos diversos que adotavam o princípio da reparabilidade dos atualmente chamados danos morais. 
 
Danos Morais na antiga Mesopotâmia Cidade-Reino de Eshnunna
Existia um sistema judiciário, onde os juízes, em geral eram os membros mais velhos da comunidade. Havia leis e contratos escritos nos tribunais, negócios e até casamentos. No casamento o contrato estipulava cláusulas, onde constavam os deveres e multas, em caso de divórcio.
Sistema judiciário
O direito privado sumeriano reconhecia alguma independência em relação ao marido. O divórcio era realizado através de decisão judicial e poderia favorecer a qualquer dos cônjuges. O repúdio da mulher acarretava uma indenização pecuniária e somente era permitido pelos motivos indicados na lei.
Direito de Família 
O adultério era um delito, porém, sem consequências se havia o perdão do marido. 
O filho que renegasse seu pai poderia ou ter a mão cortada ou ser vendido como escravo.
A esposa era responsável pelas dívidas do marido. 
O adultério / Filho que renega o pai/ responsabilidade solidária da mulher
Casamento em Eshnunna - exigia-se a presença de um contrato escrito e o oferecimento de um banquete. E, conforme as condições financeiras dos envolvidos, exigia um pagamento prévio pelo pai do noivo ao da noiva, por este fixado (dote), o qual passava a constituir patrimônio da mulher e que acaso saísse do lar ou dele fosse expulsa permanecia em sua propriedade, pois o marido apenas o administrava.
O Casamento em Eshnunna e o Dote
Legislação atual: para a validade do casamento a lei exige o contrato escrito, tal como em Eshnunna, na forma do prescrito no art. 1543 do Código
Civil, segundo o qual: O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro.
Código Civil Brasileiro – art. 1543
Já no que diz respeito ao banquete, em nossa legislação não é exigível para ser válido, todavia, pelo costume, faz parte da nossa tradição como forma de representar o conhecimento formal das famílias envolvidas.
Não temos mais o regime dotal no Brasil.
Banquete e Dote
As leis penais dos sumerianos muitas vezes substituíam o Princípio da Pena de Talião (que será explicado em tempo hábil) por multas ou por indenizações legais.
Leis penais
Furto - Assim dispunha o § 12 das Leis de Eshnunna: O awilum que for apanhado no campo de um mushkênum, ao meio-dia, junto dos feixes de grão: pesará dez siclos de prata. O que for apanhado, de noite, junto dos feixes de grão, morrerá, ele não viverá.
O artigo revela a intenção de furto por parte do homem livre e que, se fosse surpreendido durante o dia, onde a vigilância poderia ser maior, pagaria pesada multa; se o furto ocorresse à noite, o furtador deveria morrer.
Furto
Legislação atual: o crime de furto encontra-se no capítulo concernente aos crimes contra o patrimônio, no art. 155 do Código Penal, segundo o qual: Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos. 
Se o crime é cometido à noite dispõe o § 1o do citado artigo: A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
Crime de furto no Código Penal Brasileiro
Legislação atual: A Pena de Morte. A princípio não é admitida, ressalvando a hipótese contida no art. 5o, inc. XLVII, alínea a, da Constituição da República, que admite a supressão da vida de alguém em caso de guerra declarada.
Legislação atual
Suas leis (Eshnunna) são, sob a ótica humanística, muito mais brandas que as de Hammurabi como veremos a seguir, e, por conseguinte, embora anteriores, mais evoluídas. 
Outrossim, a situação social em Eshnunna era de qualidade superior à Babilônia, com impostos mais brandos, custos menores e certa estabilidade no cotidiano. 
Leis de caráter humanista
Vale ressaltar o status dispensado à mulher casada em Eshnunna, a qual deveria ser ouvida em questões relativas aos filhos, bem como podia ter um trabalho desvinculado do lar. 
Com isto, comparando o reino Eshnunna com Babilônia e outras civilizações da Mesopotâmia, fácil é concluir que aquele era dotado de qualidade de vida e cultura superiores aos povos que o sucederam, como teremos oportunidade de constatar.
Mulher casada status diferenciado
Reino de Eshnunna era mais evoluído
Primeiro cabe esclarecer o que é:
Compilação – reunião aleatória de textos;
Consolidação – reunião de textos sobre um mesmo assunto, mas de forma assistemática;
Codificação – reunião de temas jurídicos de maneira uniforme e sistematizada, em um só texto legal.
Natureza das Leis de Eshnunna
Podemos observar que as Leis de Eshnunna não constituíam, como ocorria com todos os “códigos” da antiguidade, verdadeiras leis. Mas se aproximavam de casos concretos julgados, e que, pela relevância do assunto, ou pela qualidade das partes envolvidas, foram merecedores de destaque e transcritos seguidamente. São casos concretos, com soluções. 
Há institutos de nosso atual ordenamento jurídico que tiveram origem remota não no direito romano, como equivocadamente se afirma, mas nos “códigos” da Mesopotâmia e através do Torá, ou Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia), onde vários dispositivos similares também são encontrados.
Leis atuais e os códigos antigos
“Se um awilum tornou-se pobre e vendeu a sua casa, no dia em que o comprador quiser vender, o dono da casa poderá resgatar”.
Vejam o art. 513 do Código Civil Brasileiro, que trata da preempção, prelação ou preferência.
Parágrafo 39 das Leis de Eshnunna
Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.
Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.
Código Civil Brasileiro - CCB

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