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- CAP.6: O SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA – “A adoção dessa forma fabril de produção marca a ascensão do sistema econômico capitalista" (p.138) = A produção fabril permite o aumento de volume e produtividade. Durante esse período expandiu-se as condições que sintetizam o funcionamento de uma fábrica: a concentração dos fatores de produção nas mãos de um grupo e a força de trabalho como forma única de sobrevivência para outro grupo. “Ele [capitalismo] não opera sua extração de excedente econômico nem se apropriando do produtor – como na escravidão -, nem do trabalho do produtor – como na economia dominial -. Tampouco apropria-se dos resultados do trabalho do produtor – como na economia senhorial. O capitalismo extrai excedente dentro do próprio processo de produção, de um produtor livre, através da diferença de valor que esse produtor recebe pela venda de mercadoria força de trabalho, em relação às mercadorias que essa força de trabalho produz. “Essa forma de extração do excedente econômico, denominado mais- valia, faz com que não exista relação alguma entre o valor que o produtor recebe e o valor que ele cria. Na verdade, o valor que o produtor recebe pela venda de sua força de trabalho – denominado salário -, corresponde ao necessário para garantir apenas sua própria reprodução” (p.139). É importante destacar que a definição acima é, evidentemente, de ordem marxista. Ao meu ver, a teoria marxista é consideravelmente aplicável ao momento em que foi formulada e às circunstâncias do processo econômico vigente. É evidente que o momento econômico atual apresenta grandes discrepâncias entre as características socioeconômicas do período histórico em que a teoria [marxista] fora formulada. Em outras palavras, é completamente anacrônico atribuir validade às teorias e explicações marxistas aos nossos dias. Julgo de suma importância manter sempre em mente que as explicações e teorias apresentadas cabem justamente no momento estudado. Nesse sistema, o valor da produção (produtividade) pode ser aumentado através da inserção de novas técnicas e/ou tecnologias no processo produtivo. “Por outro lado, o capitalismo não realiza o pleno emprego. Ao contrário, ele leva à formação do que se denomina exército de reserva de mão de obra, que é constituído por trabalhadores mantidos desempregados, ou mesmo por produtores ainda não completamente destituídos dos meios de produção, localizados principalmente nas éreas rurais. Sua constituição obedece a um duplo propósito: permitir a rotatividade da mão de obra, barateando os salários e dificultando a formação do proletariado em um bloco coeso, e também garantir uma reserva estratégia para a futura expansão do sistema, ou para ser reforço em épocas de retração da demanda” (p.140). - A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA – Chamada também de Primeira Revolução Industrial, foi restrita à Inglaterra. A verdadeira essência dessa Revolução foi a alteração da força motriz: antes desse momento, qualquer movimento era feito a partir de processos humanos ou animais, vento ou água... Entre 1769 e 1782 os processos mecânicos passam a ser resultado da introdução do vapor como gerador do movimento (James Watt). A partir daí a tecnologia, industrialização, crescimento demográfico, crescimento econômico, etc. dão um enorme salto: meios de transporte mais rápidos e eficientes – como as locomotivas a vapor. Isso vai impactar o setor mineiro (especialmente os setores de carvão e ferro). “Seu efeito mais permanente e radial, no entanto, foi o de possibilitar ao homem estabelecer a duração dos ciclos produtivos, sem maiores considerações para com as forças da natureza, que agora podiam ser contínuos, melhor se adequando às flutuações da demanda” (p.141). Outra consequência foi o emprego de grandes empregados que podiam ser facilmente treinados para realizarem operações repetitivas. Passa-se da habilidade individual da manufatura para o processo fabril da maquinofatura. “Em termos de produção, a Revolução Industrial Inglesa caracterizou- se por um tripé: a indústria têxtil1, a siderurgia2 e a mineração de carvão3” (p.141). 1 I N D U ST R IA T ÊX TI L •O segmento que liderou o mercado têxtil foi a produção de algodão, apesar da ainda ativa indústria de lã. Em 1830 as exportações de algodão chegaram a representar 50,3% de todas as exportações inglesas. 2 I N D Ú ST R IA S ID ER Ú R G IC A •A principal razão para o aumento das produções siderúrgicas foi, sem dúvida, a expansão das ferrovias. Em 1850, a construção de 6 milhas de ferrovias movimentou a produção de cerca de 2 milhões de toneladas de ferro no mesmo ano. 3 I N D Ú ST R IA D O C A R V Ã O •Teve um aumento significativamente grande nesse período por ser o combustível básico para a máquina a vapor. A mineração de carvão aumentou de 16 milhões de toneladas para 50 milhões de toneladas em 20 anos. - O ÊXODO RURAL INGLÊS – “A cidade transformou-se no centro produto e consumidor de toda a economia, relegando o campo a uma posição economicamente secundária. A própria cidade de Manchester teve sua população de 17 mil habitantes em 1760, decuplicada para 180 mil em 1830. Por volta de 1850, várias cidades industrias inglesas possuíam cerca de 300 mil habitantes – Bradorf, Liverpool, Leeds, Sheffield, Birmingham, Bristol –, e Londres concentrava 4 milhões de habitantes em 1880. Uma vez desencadeado, esse processo de urbanização que a fábrica provoca torna-se irreversível; a Inglaterra vê sua produção rural, que representava 52% em 1851 baixar para 31% em 1881, e para apenas 22% em 1911” (p.143). - AS CONDIÇÕES DO TRABALHADOR – “’Natureza humana esmigalhada, defraudada, oprimida e esmagada, lançada em fragmentos sangrentos por toda face da sociedade. A cada dia de minha vida agradeço aos Céus não ser um pobre com família na Inglaterra’’. Visto tais condições, é evidente que o trabalhador (proletariado) tenha se revoltado. Essas manifestações de insatisfação trouxeram frutos: jornadas de trabalho reduzidas para 12 horas para o trabalho infantil; trabalho infantil e feminino proibidos nas minas de carvão; em 1842 é fixada como 10 horas a jornada máxima diária para mulheres e crianças. Em 1847 essas horas máximas passam a ser instituídas em todas as fábricas. - A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – “[...] o novo conjunto de inovações técnicas que surge a partir da segunda metade do XIX estende-se a vários países da Europa [...], aos Estados Unidos e aos Japão. [...]. “Esse novo conjunto de inovações [...] trouxe profundas alterações ao sistema econômico capitalista, mudando sua organização e estrutura, e levou- o da “infância” à “adolescência”. Se comparado com a 1ªR.I., vemos que durante a 2ºR.I. o desenvolvimento das linhas de transporte férreas continua ativa e impetuosa (a Inglaterra já possuía, em 1913, 23.000Km de linhas férreas; Alemanha, França, Rússia e EUA já possuíam, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, respectivamente 62.000, 48.000, 67.000 e 540.000 Km de ferrovias), mas, a antiga matriz energética (o vapor d’água) é substituído pela eletricidade (representada pela lâmpada incandescente de Thomas Edison de 1879) e pelo petróleo, que tornou possível o motor a combustão. O ferro, antes um produto industrializado, passa a ser matéria-prima para a produção do aço, fabricado pela primeira vez em 1856 por Henry Bessemer com a passagem de ar através do ferro em estado de fusão; em 1864 a sucata de ferro e aço pôde ser reaproveitada graças ao processo Martin, que transforma ferro em aço em um forno de revérbero. Houve ainda a criação do processoThomas em 1878 que retém o ferro do minério de ferro. Ajudou no desenvolvimento das diversas técnicas das diversas áreas fabris a crescente independência da indústria química. Foi nesse período também que as fábricas conhecem o sistema de linhas de montagem com o fordismo e o taylorismo. Entretanto, é de determinante e imprescindível importância lembrar que a adoção desses sistemas - e as próprias pesquisas – representaram custos e não significavam retornos de investimentos a curto prazo. Essa problemática levou o aparecimento dos cartéis e dos trustes, que dizimaram as pequenas e médias empresas, graças a impossibilidade de concorrência. A esse novo tipo de empresa capitalista deu-se o nome de holding, caracterizadas pela prática do monopólio. “A livre concorrência entre as empresas, pela conquista do mercado consumidor, faz naturalmente com que o ‘capital maior engula o capital menor’, concentrando-o. Esse capital concentrado, por sua vez, pelo domínio que ele exerce sobre o mercado, dada a ausência de concorrência, faz com que ele possa maximizar seus lucros, estabelecendo nesse sentido os preços e controlando a oferta. Esse capital monopolista manifesta-se pela constituição de dois tipos de empresas, os trustes e os cartéis. Os primeiros são acumulações verticais de capitais, que controlam a oferta de determinado produto, desde as fontes de matérias-primas, passando pelos processos de fabricação, até sua comercialização. Os segundos, são acumulações horizontais de capitais, que controlando apenas parte do setor produtivo, levam as diferentes empresas especializadas em suas diversas etapas, a associarem-se a fim de impedir a concorrência e controlar os mercados” (p.148). - CAP.7: O NOVO COLONIALISMO – “Na virada do século não existe região alguma no globo, que não esteja submetida, em maior ou menor grau, a uma relação de trocas desiguais com os países industrializados” (p.163). - O CAPITAL MONOPOLISTA – As experiências de livre mercado tiverem êxito histórico somente no início do capitalismo, pois na virada do século essa experiência já não era mais possível graças ao desequilíbrio do mercado em relação à produtividade das empresas. Além disso, os diversos processos monopólicos impediam o crescimento (e mesmo o surgimento) de pequenas empresas. “Dessa forma, o capital naturalmente concentrou-se, segundo a clássica forma do ‘capital maior engole o capital menor’. Foi auxiliado pela conjuntura negativa, que produziu uma constante queda nos preços dos produtos industrializados, e terminou por levar à extinção as formas menos sólidas ou com uma baixa produtividade” (p.164). “[...] os processos produtivos caros e de longo retorno acabaram por fazer da concentração de capitais, a forma necessária para a continuidade do processo capitalista de produção” (p.165). Graças às práticas monopolistas a oferta pode ser controlada por grupos pequenos, concentrando os lucros ao mesmo tempo que as novas tecnologias geram maior produtividade, reduzindo a necessidade da mão de obra humana em um período de acentuado crescimento demográfico. “O capitalismo esgotara sua capacidade de manter o desenvolvimento econômico baseado unicamente nos mercados internos nacionais” (p.166). Políticas protecionistas e dumping agravaram a situação econômica pois a conjuntura era de demanda retraída. Tudo isso fez com que houvesse o aumento do desemprego a fim de se evitar a redução dos lucros. INOVAÇÃO TÉCNICA REDUÇÃO DA DEMANDA DE MÃO DE OBRA REDUÇÃO DA DEMANDA DE MERCADO INCAPACI- DADE DE DESENVOL- VIMENTO ECONÔMICO (LUCRO) RETRAÇÃO DO MERCADO INTERNO 1 ESQUEMA DA PROBLEMÁTICA INTERNA MERCADOS EXTERNOS EM PROCESSO DE INDUSTRIALI- ZAÇÃO CONCOR- RÊNCIA EXTERNA IMPLEMENTA- ÇÃO DE POLÍTICAS PROTECIONIS- TAS E DUMPING INCAPACIDADE DE DESENVOLVI- MENTO ECONÔMICO (LUCRO) DESEMPREGO E REDUÇÃO DE HORAS DE TRABALHO 2 ESQUEMA DA PROBLEMÁTICA EXTERNA - O IMPERIALISMO – A solução para toda a conjuntura negativa foi a transformação de áreas antes inexploradas em áreas exploráveis, importadoras e fornecedoras de matéria-prima. Isso explica a voracidade com que as áreas periféricas foram tomadas pelos países industrializados. Nesse momento histórico há um globo dualista: de um lado, países industrializados-centrais; do outro, países produtores-periféricos. Quase que a totalidade dos países do primeiro grupo eram europeus. As exceções eram os EUA e os impérios otomano e chinês. Os dois últimos sofreram fortes pressões para que cedessem territórios e concessões econômicas aos demais países do globo. Ao criar relações com o exterior, os países capitalistas internacionalizaram a economia, com os investimentos de capitais direcionados às novas áreas periféricas nas indústrias extrativas, comunicações e transportes das matérias-primas. A fim de garantir a estabilidade da taxa de câmbio (importante mais do que nunca), os países adotaram o padrão-ouro. Até mesmo os EUA – grandes exploradores da prata – o adotaram em 1900. “Como os investimentos de capitais foram direcionados para as matérias-primas e produtos primários desejados pelos países industrializados, o imperialismo implicou também numa especialização produtiva em nível mundial. Isso deu aos países periféricos uma falsa noção de progresso, uma vez que eles não eram capazes de manter seu desenvolvimento econômico, sem maciças importações de capital que se dirigiam prioritariamente para baratear e racionalizar o escoamento de seus produtos primários (ferrovias, portos, eletricidade). E isso só se agravava sua situação de dependência. “Entre 1900 e 1914, os produtos primários correspondiam a 2 3⁄ de todas as mercadorias em circulação no comércio mundial. Fica evidente o grau de dependência das regiões periféricas sob o imperialismo” (p.171). “O país mais favorecido nessa fase do imperialismo foram os EUA, uma vez que além de nação industrializada eram grandes produtores de matérias- primas. Sua participação nas exportações mundiais se elevou de 11,7% para 14,8% entre 1896 e 1913, enquanto a Inglaterra apresentou uma queda de 16,3% para 13,1% no mesmo período” (p.172). ÍNDIA E CHINA 80% das exportações de CHÁ BRASIL 60% das exportações de CAFÉ CUBA E INDONÉSIA 65% das exportações de AÇÚCAR EGITO E ÍNDIA ALGODÃO AUSTRÁLIA E ARGENTINA LÃ CHILE, PERU E MÉXICO MINÉRIO DE COBRE BOLÍVIA E MALÁSIA ESTANHO BORNÉU E INDONÉSIA PETRÓLEO - AS FORMA DE IMPERIALISMO – 1. IMPERIALISMO INFORMAL: dominação das áreas periféricas sem a dominação política, ou seja, se trata de uma relação entre países independentes, mas com dependência econômica, uma vez que esses países periféricos produzem e exportam matérias-primas de interesse aos países industrializados. O melhor exemplo para essa forma de imperialismo é, sem dúvida, a América Latina que exportava para a Europa três grupos de produtos primários: os de clima temperado, os de clima tropical e os de minerais. O Brasil se enquadra no segundo grupo, sendo exportador em nível mundial de café. É imprescindível ressaltar que todas essas experiências de imperialismo (em qualquer forma em que ela se apresente) o investimento de capitais estrangeiros levou à constituição de grandes centros de produção, urbanização localizada, implantação de ferrovias e a possibilidade das inovações técnicas. Em contrapartida, os altos investimentos de capital estrangeiros não deixam espaço para o desenvolvimento (nem seque para o surgimento) de companhias nacionais, sejam estatais ou privadas, ou seja, a desnacionalização dos setores mais importantes da economia. “O rumor que corria porvolta de 1910, de que os gringos possuíam mais do México do que os próprios mexicanos, estava longe de ser um exagero” (p.176). 2. IMPERIALISMO FORMAL: dominação das áreas periféricas com a dominação política, ou seja, se trata de uma relação de país central-capital versus país periférico-colônia, com dependências política e econômica, e uma ocupação altamente rentável. Como o interesse dos países industrializados era puramente econômico e exploratório, não é de se admirar que as condições básicas aos nativos dessas regiões (como educação, saneamento e saúde) fora completamente ignorada pelas potências dominadoras. Tudo isso, como fim, as maximizações dos lucros. Essa forma de imperialismo é dividida, ainda, em mais quatro tipos. 2.1. Colônias de enraizamento: “Serviram basicamente para receber os excedentes populacionais dos países da área central, [...]”; “[...] não deixam de conservar um caráter colonial, pela falta de autonomia política, pelos investimentos externos centrados na infra-estrutura [...]” (p.177). Os exemplos-padrão: Nova Zelândia e Austrália. 2.2 Colônias de enquadramento: é a colonização caracterizada pelas imposições administrativas, jurídicas e de segurança da capital para com a área ocupada. O melhor exemplo é o da Índia Britânica, “onde menos de 5 mil funcionários ingleses eram responsáveis pelo controle de 300 milhões de indianos, pela guarda de suas fronteiras, pela administração de seu território e pela supervisão de sua economia” (p.178). O processo econômico era baseado na superexploração dos nativos e na espoliação dos recursos naturais. 2.3 Protetorados: forma de dominação onde os colonizadores mantêm e preservam a estrutura política vigente, exercendo uma dominação indireta baseada na cooptação das elites locais, que tinham suas propriedades intocadas, ao passo que as demais áreas foram cedidas aos dominadores, em que a população era empregada. 2.4 Áreas de influência: regiões independentes como potencial fornecedora de receita através de concessões econômicas e territórios anexos. “O que o capitalismo fez, sob a prática capitalista, foi solucionar de imediato os dois problemas principais que atingiam suas áreas centrais: o excesso de capitais e o excedente populacional. O alargamento do mercado consumidor de produtos industrializados se daria como decorrência, tanto da presença imperialista nas áreas periféricas, como do melhor nível de remuneração salarial nas áreas centrais” (p.182). - OS DOIS MOMENTOS DO CAPITALISMO – 1º: capitalismo no início do séc. XIX: Inglaterra como centro urbano, tecnológico e comercial. O excedente produtivo deveria ser absorvido. Coube aos países ainda pouco desenvolvidos essa tarefa (como o Brasil). 2º: capitalismo do final do séc. XIX e início do XX: capital ocioso. Mais uma vez, coube aos países menos desenvolvidos a tarefa de suprir a necessidade por demanda de polos de investimento das grandes capitas. Surge nesse momento as sociedades de massa, que nada mais são do que as típicas sociedades do início do séc. XX que vão aos poucos, descobrindo e familiarizando-se com a modernidade: assalariamento, consumo, lazer, o início da oportunidade de ganhar dinheiro, o cinema e o cigarro. “Estendera-se a todas as partes do mundo, e constituíra em sua área central um pujante mercado consumidor alimentado por uma população assalariada em crescimento, enquanto sujeitava sua área periférica a uma relação de trocas desiguais, que só contribuía para sua auto-reprodução” (p.186). - CAP.8: O TESTE DO CAPITALISMO – “No período que se estende de 1914 a meados da década de 1950, o sistema econômico capitalista passou por uma série de eventos conjunturais que, somados, refletem uma crise de crescimento [...]” (p.187). - A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL - Apesar de usada como desculpa durante anos para o início da Primeira Guerra Mundial, a morte do arquiduque do Império Austro-Húngaro não foi a principal e único motivo para o estopim da guerra. Esta foi gerada da instabilidade política e muito mais da instabilidade econômica, já que as potências divergiam quanto à divisão dos territórios periféricos da economia- mundo, os quais acabaram envolvendo-se e participando de uma forma ou outra para o desenvolvimento do conflito. Em uma economia de guerra, os países procuram, majoritariamente, a eficiência plena em um sistema autossuficiente voltado à produção de produtos bélicos, com o Estado no controle da produção. Na Alemanha, por exemplo, “Já em 1914 é criado o Kriegs-Rohstoff-Abteilung (Departamento de matérias-primas para a guerra), que efetua uma política de direcionamento das matérias-primas para a indústria de armamentos, organiza a exploração nos territórios ocupados, incentiva a descoberta de novos métodos produtivos e, principalmente, desenvolve a utilização de substitutivos para as matérias-primas mais raras, apoiando a enorme indústria química alemã”. Mas toda essa necessidade de trabalho adicional é rapidamente impedida por um problema bem simples: quantos indivíduos vão trabalhar no setor produtivo e quantos estarão nas linhas de batalha? É um trade-off bastante delicado, se analisado com os respectivos jargões econômicos; há custos de oportunidade incalculáveis entre garantir o sucesso na produção e garantir o sucesso na guerra. De maneira ainda mais direta, analisando economicamente a situação: o esforço econômico da guerra impeliu o aumento dos impostos aliado ao aumento da emissão e circulação de moeda em praticamente todas as potências mais envolvidas na guerra. Nesse jogo econômico tudo era válido: da formação de carteis à formação de alianças entre as nações no setor aduaneiro. - OS EFEITOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL - É natural que se comece citando o Tratado de Versalhes como principal consequência da primeira grande guerra e esquecendo-se, portanto, de consequências muito mais latentes e menos explícitas, como: I. A Europa perde sua posição como centro político-econômico no cenário mundial para os EUA que se vê agora como credor da soma de mais de 4 bilhões de dólares de todas as – antigas – potências europeias. Em outras palavras, toda a Europa se via em uma situação econômica desfavorável, mesmo os países neutros, como Holanda, Suíça e Suécia. “A tarefa primordial da Europa em 1918, era a da sua reconstrução econômica” (p. 193). II. O Japão foi um grande beneficiário da guerra: apoderou-se de territórios alemães, conquistou mercados como China, Indochina Francesa, Rússia e até mesmo espaços na costa oeste americana em 1917, além de Chile e Peru. III. Graças à desordem da marinha mercante, diversos países (como o Brasil) se viram na necessidade de industrializar-se como alternativa às importações que não mais tinham acesso. Outra consequência foi que justamente esses mesmo países podiam agora servir de exportadores de produtos primários para uma Europa destruída e fragilizada pela guerra; ou seja: esses mesmo países investiram, eles mesmos, em suas próprias marinhas mercantes. IV. O auxílio das colônias às suas respectivas capitais (a Índia, por exemplo, levou mais de um milhão de homens como soldados das forças britânicas) fomentou um espírito libertário por parte de suas elites, o que levou diversos países à luta pela liberdade e independência política. V. A Rússia perdera mais de 1 milhão de mortes de militares e 2 milhões de civis. VI. “[...] havia uma convicção geral [...] de que as Potências Centrais – particularmente a Alemanha –, pagariam pelos colossais danos que a guerra causara [...]. Nesse sentido, parecia perfeitamente natural, a tomada definitiva das colônias alemãs, e a apropriação de suas patentes industriais,além da divisão dos territórios do Império Otomano que se desagregara, entre os países vencedores, como uma forma de ‘justa recompensa’” (p.194). Nesse cenário, mais do que nunca, a presença do Estado regulador se fez necessária. Uma das soluções encontradas foi (agora sim) o Tratado de Versalhes, que impôs à Alemanha a cessão de navios, equipamentos, recursos naturais e propriedades no exterior, além da estratosférica dívida de 132 bilhões de marcos em reparações. Toda essa negativa conjuntura negativa mundial levou à obscura década que vai de 1920 a 1930, marcada por óbice atrás de óbice. - A DÉCADA DE 20 - “[..] os Estados Unidos, atravessando um período de notável prosperidade, devido mais aos créditos acumulados no período da guerra junto aos países aliados, que a um alargamento real de seu mercado consumidor interno, tentaram manter sua produção industrial nos mesmo níveis do período bélico, se não mesmo aumentá-la, mesmo que para tal, tivessem que financiar seus consumos interno e externo, com os capitais que acumularam em nível de se tornarem ociosos. “[...]. Quando os Estados Unidos viram-se impossibilitados de continuar a sustentar seus níveis de consumo interno, por uma absoluta escassez de capitais que se haviam transformado em estoque ou em investimentos externos, a economia-mundo mergulhou em sua crise mais grave, para a qual a solução ultrapassava os mecanismos “clássicos” de controle” (p.197). Apesar de se parecer como a década de recuperação do mundo depois de uma guerra mundial e uma epidemia, os anos de 1920 a 1930 foram, na verdade, os prenúncios de uma das piores depressões econômicas que o mundo já presenciou. - A EUROPA E OS ANOS 20 - A preocupação principal da Europa no início da década de 20 era reestabelecer o padrão-ouro uma vez que títulos e depósitos bancários eram baseados nesse padrão. Além disso, a grande dívida da Alemanha forçava o cenário econômico mundial a adotar alguma garantia de que o país seria capaz de pagar a dívida. Durante muito tempo, a Alemanha emitiu moeda sem lastro provocando sua desvalorização a níveis calamitosos. 1918 1920 1921 1922 1923 Marcos/US$1,00 8 marcos 40 marcos 184 marcos 7.350 marcos 14.000.000.000.000 marcos “O marco é abandonado por não valer mais nada, o que diminui mais ainda seu valor e obriga o governo a emitir mais, formando-se um círculo vicioso de efeitos catastróficos” (p.199). Em 1924 é criado o Plano Dawes: reescalona a dívida, faz as grandes indústrias comprometerem-se com partes da dívida, cria uma nova moeda (Deutschmark) lastreada ao padrão-ouro. Só aí que a economia alemã retorna ao crescimento. 2 ANOS 1 ANO 1 ANO 1 ANO 32 MARCOS 144 MARCOS 7.166 MARCOS 13.999.999.992.650 MARCOS Isso não quer dizer, porém, que a economia da Europa como um todo está nos caminhos da restituição da felicidade; ao invés disso, os números disponíveis nos mostram um claro retrocesso em comparação com as demais partes do globo (Canadá, Estados Unidos e Japão representavam 300%, em média, de suas participações nas exportações-mundo, ao passo que o maior exportador da Europa não apresentava um volume de 50%). - OS ESTADOS UNIDOS DURANTE A DÉCADA DE 1920 - No início da década de 1920 (1920 a 1922), os EUA passaram por um período de reconversão pós-guerra, um momento um tanto quanto delicado para todos os países do globo. Após esse período, os Estados Unidos passaram por um período de liberalismo que trouxe a concentração de capital, fato que auxiliou a prosperidade, longe, entretanto, de ser uma prosperidade partilhada equitativamente. Outro problema válido a ser pontuado é a formação de estoques que levou à contração das taxas de lucro. “[...]. Já no verão de 1929, percebendo que no setor configurava-se uma crise de superprodução, a indústria automobilística cortou suas compras de matérias-primas (borracha, aço, vidro, etc.). Isso iniciou uma reação em cadeia, uma vez que a indústria de base era dominada pela de consumo de bens, respondendo o setor automobilístico pelo consumo de 15% da produção total de aço norte- americano” (p.204). Concomitantemente, o cenário conjuntural da Europa continuava em um lento reajuste. - A CRISE DE 1929 - “As frágeis bases sobre as quais se assentava a era de prosperidade norte-americana são ainda mais fragilizadas pela corrida especulativa, que de 1923 a 1926 fez as transações na Bolsa de Nova York subirem de 236 para 451 milhões de títulos, enquanto o preço médio de 25 títulos representativos subiu 54%” (p.207). A crise de 1929 que partiu dos EUA teve seu fundamento em: I. No excesso de mercadorias paradas (formação de estoque) II. Na especulação das ações, o que levou ao efeito manada III. A utilização dos débitos como créditos por parte dos EUA - A GRANDE DEPRESSÃO - A grande depressão de 29, como dito, foi causada por alguns fatores. Explicando-os e destrinchando-os ponto a ponto: I. No excesso de mercadorias paradas (formação de estoque): a formação de estoque leva ao aumento do desemprego. Isso leva à retração da demanda de mercado, diminuindo os lucros (como aconteceu na época da Revolução Industrial). Uma das causas da formação de estoques foi a reestruturação dos mercados europeus, que, anteriormente, consumiam os produtos estadunidenses. II. Na especulação das ações, o que levou ao efeito manada: o aumento dos investimentos em ações sem que elas efetivamente tivessem se valorizado (especulação) levou, em certa hora, a retirada em massa dos investidores – o chamado “efeito manada”. III. A utilização dos débitos como créditos por parte dos EUA: a redução das dívidas externas em função da utilização dos créditos que os EUA tinham no mercado internacional fez com que os Estados Unidos não acumulassem capital internamente, reduzindo a taxa de crescimento. - REAÇÃO À GRANDE DEPRESSÃO: O NEOLIBERALISMO - “O termo neoliberalismo foi usado para designar a prática econômica que privilegia o intervencionismo estatal, para corrigir distorções impossíveis de serem superadas pelos mecanismos de mercado” (p.211). O principal programa de reestruturação do mercado norte-americano como resposta à Depressão de 29 foi o plano econômico New Deal. O plano fundamentou-se, basicamente, no aumento das dívidas públicas como incentivo do mercado: construção e aprimoramento da infraestrutura, como rodovias, escolas, hospitais, etc., o que gerou empregos e estimulou a roda da economia.
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