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Ponto 8 - Civil

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PONTO 08. DIREITO CIVIL: OBRIGAÇÕES: CONCEITO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS. MODALIDADES. TRANSMISSÃO.
Atualizado por Nivaldo Luiz Dias – Janeiro/2008
Atualizado por Luciano Mendonça Fontoura - Outubro/2010
Atualizado por Pedro Felipe de Oliveira Santos – Agosto/2012
Atualizado por Pedro Maradei Neto – Agosto/2014
Atualizado por Caroline Vieira Figueiredo
1. CONCEITO
Conceito do Direito das Obrigações. Conjunto de regras e princípios jurídicos reguladores das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo), a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer.
Conceito de “obrigação”. Washington de Barros Monteiro: “obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor, cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”. 
Distinções conceituais: a) dever jurídico: conceito mais amplo de todos, é a necessidade que corre a todo indivíduo de obedecer as ordens ou os comandos do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer em uma sanção (Orlando Gomes). Pode ser geral ou especial, conforme se concentre em uma certa pessoa ou se refira à universalidade das pessoas; b) obrigação: decorre do conceito de dever jurídico em sua acepção especial, e consiste em vínculo especial entre pessoas determinadas ou determináveis, de modo que uma delas tem o poder de exigir da outra (direito subjetivo) uma prestação de dar, fazer ou não fazer; c) responsabilidade: obrigação derivada (dever jurídico sucessivo), surgida em ocorrência de um fato jurídico lato sensu, consequente à violação de um dever jurídico obrigacional originário; d) sujeição jurídica: relacionada aos direitos potestativos, em que sujeito passivo nada tem que fazer para satisfazer o interesse do sujeito ativo, havendo apenas uma subordinação inafastável à vontade desse; e) ônus: necessidade de observância de determinado comportamento para a obtenção ou conservação de uma vantagem para o próprio sujeito – e não para a satisfação de interessas alheios (Maria Helena Diniz), como ocorre no caso do dever e da sujeição.
2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO
A estrutura da obrigação é composta pelos seguintes elementos: elemento subjetivo (sujeitos ou partes); elemento objetivo (objeto ou prestação) e elemento ideal (vinculo ou relação jurídica). 
(a) ELEMENTO SUBJETIVO: sujeitos ou partes – SUJEITO ATIVO (credor): quem tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação; SUJEITO PASSIVO (devedor): quem assume um dever, na ótica civil, de cumprir o conteúdo da obrigação, sob pena de responder com seu patrimônio.
Devem ser capazes (artigo 104). Ao contrário do direito real (que comporta sujeito indeterminado, havendo uma sujeição passiva indeterminada), no direito obrigacional, os sujeitos são pessoas que necessariamente se individualizarão, ou seja, os sujeitos precisam ser determinados ou determináveis. EXEMPLO DE SUJEITO PASSIVO DETERMINÁVEL: o IPTU é obrigação propter rem, assim, qualquer pessoa que adquire o imóvel pode ser devedora. EXEMPLO DE SUJEITO ATIVO DETERMINÁVEL: título ao portador (o credor é quem apresentar o título); credor de promessa de recompensa (declaração unilateral de vontade).
(b) ELEMENTO OBJETIVO: objeto ou a prestação – elemento material da obrigação, constitui o seu conteúdo. O objeto imediato da obrigação é a prestação, que pode ser positiva (dar ou fazer) ou negativa (não fazer). Já o objeto mediato da obrigação é o bem jurídico (coisa, tarefa, abstenção), que também é o objeto imediato da prestação.
Deve ser lícito, possível e determinado (quando é especificada) ou determinável (obrigação é genérica, p. ex., dar coisa incerta) (artigo 104). O objeto imediato é sempre um comportamento do devedor, uma conduta sua, denominada prestação. PRESTAÇÃO é a atividade do devedor satisfativa do credor. A prestação pode ser passiva, ou seja, consistente em um nada. GODOY: a principal diferença entre o direito real e o obrigacional está no objeto, porque o direito real permite que o agente exerça diretamente seu poder sobre o objeto sem a intervenção de mais ninguém. No direito obrigacional, o direito do indivíduo somente é exercido mediante a conduta de interposta pessoa..
(c) ELEMENTO IDEAL: vínculo ou relação jurídica – é o vínculo jurídico, um elo que liga as partes, pela lei, contrato, vontade (ato unilateral) ou ato ilícito. Por esse vínculo, o devedor deve cumprir uma prestação para o credor. O vínculo é bipartido em dois elementos: dívida - débito (liame que vincula o devedor ao credor) e responsabilidade do devedor (quando houver o inadimplemento, o devedor responde com o seu patrimônio pelo cumprimento do débito). A definição de que o vínculo contém esses dois elementos resulta da aplicação da TEORIA DUALISTA DA OBRIGAÇÃO. CRÍTICA: os adeptos da TEORIA UNITÁRIA DA OBRIGAÇÃO entendem que débito (Schuld) e responsabilidade (Haftung) não são separáveis.
Em verdade, três são as teorias que tentam explicar o vínculo obrigacional:
Monista – limitação para o vínculo jurídico, sendo mais importante a dívida – débito. Despreza a responsabilidade, que seria de direito processual.
Dualista – engloba a dívida e a responsabilidade, mas valoriza mais a responsabilidade.
Eclética ou mista – adotada pelo nosso código, valoriza tanto a dívida quanto a responsabilidade, dando o mesmo valor às duas.
Exceções à regra de que todas as obrigações têm dívida e responsabilidade, ou seja, casos em que há dívida sem responsabilidade (inexigibilidade): obrigações naturais (dívida de jogo ou aposta – artigo 141 – ou obrigações prescritas). Também há casos de responsabilidade sem dívida: fiador, que é um terceiro interessado, um garante pessoal (artigo 801), que não é devedor, mas tem responsabilidade, porque seu patrimônio, desde a prestação da fiança, já começa a responder pela dívida; ou garantidor hipotecário (quem dá o imóvel para garantia de débito de terceiro), que é responsável, mas não é e nunca será devedor. Assim, há um interesse pragmático em analisar separadamente o débito e a responsabilidade.
Pode ser que o fiador se torne o devedor, caso o devedor principal não pague a dívida.
Obrigação natural ou imperfeita. 
As obrigações classificam-se em civis e naturais, na medida em que sejam exigíveis ou apenas pagáveis (desprovidas de exigibilidade jurídica).
A obrigação natural é um debitum em que não se pode exigir judicialmente a responsabilização patrimonial (obligatio). Tal inexigibilidade é derivada de algum óbice legal com finalidade de preservação da segurança e da estabilidade jurídica. Não obstante, uma vez cumprida espontaneamente, dá-se a irrepetibilidade do pagamento. Vale salientar que a obrigação natural não se identifica com o mero dever moral, pois representa uma dívida efetiva, proveniente de uma causa precisa. O objeto de sua prestação pertence, do ponto de vista ideal, ao patrimônio do credor, de modo que, não cumprida a obrigação, sofre ele um prejuízo, o que não se verifica quando há o descumprimento de um dever moral. 
As obrigações naturais classificam-se: a) quanto à tipicidade, em típicas e atípicas, na medida em que é prevista em texto legal como relação obrigacional inexigível; b) quanto à origem, em originária e derivada ou degenerada, conforme o momento em que se torna inexigível; c) quanto aos efeitos produzidos, pode ser comum ou limitada.
Estabelece o art. 882 do CC: “não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente inexigível”. Nessa mesma linha, no que se refere às dívidas de jogo ou aposta, preceitua o art. 814 do CC: “As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito. § 1o Estende-se estadisposição a qualquer contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo; mas a nulidade resultante não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé. §2o O preceito contido neste artigo tem aplicação, ainda que se trate de jogo não proibido, só se excetuando os jogos e apostas legalmente permitidos. § 3o Excetuam-se, igualmente, os prêmios oferecidos ou prometidos para o vencedor em competição de natureza esportiva, intelectual ou artística, desde que os interessados se submetam às prescrições legais e regulamentares”. Artigo 50, LCP (jogo intolerado): a dívida decorrente dos jogos intolerados não são dívidas naturais, são dívidas NULAS, uma vez que objeto da prestação é ilícito. 
Obrigações ambulatórias, mistas (reais, in rem, ob rem ou propter rem) e Obrigaçoes com eficácia real. 
	Sempre que a indeterminabilidade do credor ou do devedor participar do destino natural dos direitos oriundos da relação, ou seja, for da própria essência da obrigação examinada – a exemplo da decorrente de título ao portador ou da obrigação propter rem, estaremos diante do que se convencionou chamar de obrigação ambulatória.
As obrigações propter rem pertencem à categoria das obrigações híbridas. Nessa categoria podem ser incluídas, também, as obrigações com ônus reais e as com eficácia real. As obrigações propter rem decorrem de um direito real sobre determinada coisa, aderindo a essa e, por isso, acompanhando as modificações de seu titular (exemplos: art. 1.315, 1.297). Cuida-se de uma relação obrigacional que decorre de um direito real. A nota distintiva é se constituir em um direito pessoal vinculado a um direito real.
EXEMPLO 01: nos direitos de vizinhança há o direito de tapagem, em decorrência do qual os vizinhos têm a obrigação propter rem de arcar com os custos da tapagem. Assim, essa é uma obrigação acessória ao direito real.
EXEMPLO 02: no condomínio comum, os condôminos têm a obrigação propter rem (que está ligada à fração ideal) de contribuir para a manutenção do bem.
EXEMPLO 03: no condomínio edilício (que é condomínio especial porque mescla as propriedades de áreas exclusivas e áreas comuns), cada titular de unidade autônoma tem o dever de contribuir com as despesas da área comum; quando deixa de ser proprietário da unidade autônoma, o sujeito deixa de ser responsável pela obrigação proter rem. STF vem considerando que o pagamento dos valores condominiais pode ser cobrado do condômino que seja PROMISSÁRIO COMPRADOR (mesmo sem o título registrado, desde que tenha pago o valor do bem). Quem compra unidade autônoma responde pelos valores passados, por determinação legal, não por ser devedor de obrigação propter rem.
A maioria da doutrina entende como sinônimas as expressões OBRIGAÇÕES PROPTER REM e OBRIGAÇÕES REAIS. Mas há quem estabeleça distinção entre as duas nomenclaturas: CAIO MÁRIO – real é a obrigação que todos os indivíduos têm de respeitar o direito real alheio.
Para Venosa, “as obrigações gozam de eficácia real quando, sem perderem o caráter essencial de direitos a uma prestação, se transmitem, ou são oponíveis a terceiros, que adquiram direitos sobre determinada coisa”. Exemplo: Contrato de locação: as obrigações do locador, contrariando a regra geral da relatividade das convenções (pela qual o contrato só vincula as partes contratantes), podem ser transmitidas ao novo titular do domínio, que deve respeitar o contrato de locação, do qual não fez parte (contrato por tempo determinado com cláusula de vigência em caso de alienação e averbação – art. 8º da Lei do Inquilinato). Existe, portanto, uma obrigação que emite uma eficácia real. 
PERGUNTA: os tributos e tarifas são obrigações propter rem? Essa é uma questão problemática. Na verdade, não são obrigações propter rem, mas sim ônus reais. PABLO: acredita que se trata de obrigação propter rem. ÔNUS REAL é uma terminologia que tem entendimentos distintos na doutrina, ou seja, tem o significado polissêmico: (i) há quem entenda como DIREITO REAL DE GARANTIA OU DE FRUIÇÃO SOBRE COISA ALHEIA e (ii) outros dizem que é uma obrigação que alguém tem que pagar em virtude de alguma coisa, mas, respondendo por débitos atrasados, como o IPTU ou ITR – o STJ em diversas passagens entende que é obrigação propter rem: “A exegese dos artigos 32 e 123 do CTN indicam o sujeito passivo para fins de pagamento, mas não vedam que uma vez adimplida a exação, possa a mesma ser restituída ao novel titular do domínio quer por força da cessão do crédito, convencionado ou legal, quer em face da natureza propter rem da obrigação”.
Para quem tem o último entendimento, a diferença entre OBRIGAÇÃO PROPTER REM e ÔNUS REAL reside na conseqüência: na propter rem o sujeito somente responde pelo período em que for titular do direito real; no ônus real, pelo período anterior, como no tributo. GODOY: a melhor distinção é que na PROPTER REM há uma obrigação verdadeiramente acessória, é menos extensa que o ônus real; já o ÔNUS REAL é um ônus que faz parte do direito real, ele integra o direito de propriedade, por isso que se diz classicamente que é a própria coisa que deve, no caso é o ônus da própria coisa, como o ônus tributário. Conforme acima ressaltado, o condomínio especial (edilício) por natureza é uma obrigação propter rem, mas, por determinação legal, o proprietário responde pelos débitos anteriores.
 
OBRIGAÇÃO COMO PROCESSO
É a visão moderna do Direito das Obrigações, com origem no Direito Alemão – foi adotada pelo nosso Código Civil.
A finalidade do direito obrigacional é o adimplemento – Conceito moderno de OBRIGAÇÃO: “processo na busca do adimplemento”.
O código civil trata da obrigação como um processo, conforme se pode ver da posição topográfica dos títulos – Título I: das modalidades; Titulo II: da transmissão das obrigações; Título III: do adimplemento e extinção; Título IV: do inadimplemento.
Clóvis do Couto e Silva escreveu o livro “A obrigação como processo” e esteve na comissão que formulou o novo CC - seu livro se baseou nos estudos de KARL LARENZ, entendendo que a obrigação seria o conjunto de atividades necessárias à satisfação dos interesses do credor.
Manto principiológico: a) proteção contra influências externas – função social dos contratos - “tutela externa do crédito” - toda a sociedade possui o dever de respeitar um processo obrigacional em curso; b) efeitos internos: a busca do adimplemento deve se dar da melhor forma para credor e devedor – relação de cooperação e não de antagonismo (boa-fé objetiva).
Princípios incidentes sobre as relações obrigacionais: função social dos contratos, boa-fé objetiva, cooperação, proteção, informação.
DEVERES INSTRUMENTAIS, DEVERES SECUNDÁRIOS, DEVERES ANEXOS OU DEVERES COLATERAIS
Há constatação de que existem no vínculo obrigacional o que a doutrina tem chamado dos DEVERES INSTRUMENTAIS, DEVERES SECUNDÁRIOS, DEVERES ANEXOS ou DEVERES COLATERAIS. 
Wanderlei de Paula Barreto, Professor da Universidade Estadual de Maringá: O ordenamento civil obrigacional brasileiro não contém normas específicas e tampouco outras adequadas para regular hipóteses do chamado adimplemento ruim ou insatisfatório e das denominadas violações positivas do contrato. As recentes normas sobre a boa-fé objetiva (artigos. 113 e 422 do Código Civil de 2002) e sobre o abuso de direito (art. 187 do mesmo Código, que se vale, entre outros, da boa-fé como valor paradigma para aferir o abuso de direito) introduziram fundamento legal para a admissibilidade de deveres secundários nos negócios jurídicos e nos contratos. Enquanto as obrigações principais ou primárias pressupõem violação culposa para ensejar responsabilidade pela indenização, os denominados deveres anexos ou secundários consideram-se violados objetivamente.
Quer as partes queiram ou não, esses deveres, que enriquecem o vínculo obrigacional além da obrigação principal prevista, são deveres de conduta de lealdade, por exemplo, são deveres de informação, de sigilo, de cuidado, de colaboração;são deveres de comportamento que visam a garantir que o vínculo patrimonial irá se desenvolver de forma mais honesta e solidária; esses deveres decorrem do PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA (standard de comportamento honesto e leal). A BOA-FÉ OBJETIVA tem várias aplicações no CC / 02, inclusive a FUNÇÃO SUPLETIVA. Com essa função a boa-fé objetiva enriquece o vínculo obrigacional quer as partes queiram ou não. 
Essa função supletiva da BOA-FÉ OBJETIVA pode ser verificada no ordenamento jurídico pátrio:
•	CF/88 (implicitamente) – artigo 3º: constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e SOLIDÁRIA. As relações entre as pessoas devem ser solidárias.
•	CDC – todo ele está construído sobre dois DEVERES ANEXOS: informação / transparência e segurança.
•	CC/02 – artigo 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios da probidade”.
Na praxe do comércio jurídico, são recorrentes os casos nos quais, por falta de norma direta e à míngua de cláusula negocial expressa, a prestação, apesar de causar dano ao credor, deve ser dada como regular, legal ou contratualmente efetuada. Vale dizer: conquanto tenha infligido dano ao credor a maneira pela qual a obrigação foi cumprida, não houve, a rigor, ofensa à lei ou ao contrato. Caracteriza os deveres/obrigações principais ou primárias, entre outros traços, o fato de emanarem, expressa ou tacitamente, diretamente da norma legal ou convencional (contrato).
EXEMPLO (FRANCISO C. PONTES DE MIRANDA): devedor que tem de pagar, no cais, ao credor que vai embarcar e efetua o pagamento em notas ou moedas de mínimo valor, ou paga à porta do banco, como se avençara, mas no momento em que se fechava a porta. DANO AO CREDOR: grande volume momentos antes do embarque ou, no segundo caso, arcar com o transtorno do transporte, da guarda e do risco de manter em seu poder o numerário.
Por vezes, esses deveres COLATERAIS podem surgir antes da formação da obrigação principal (EXEMPLOS: aconselhamento dado pelo advogado antes de ser contratado ou informação dada pelo vendedor antes de concretizar a venda) ou depois de finalizada essa, o que se chama de PÓS-EFICÁCIA (EXEMPLO: patrão demite seu empregado doméstico, sem justa causa e paga tudo certo; a obrigação principal não surte mais efeitos. Depois, ele procura o patrão para pedir declaração objetiva de que trabalhou como copeiro, o que não consta no seu contrato de trabalho e nem na carteira de trabalho. Como o patrão tem o dever de informação, deve fornecer a declaração solicitada).
Os DEVERES ANEXOS são a garantia de que a obrigação principal irá se executar da melhor maneira, mais solidária, mais leal; não precisam estar expressos e vinculam as partes.
Todo o acima exposto decorre da principal alteração principiológica das obrigações advinda com o novo CC/02: a obrigação passou a ser tida como um processo – uma série de atos relacionados entre si – que desde o início se encaminha a uma finalidade: a satisfação do interesse na prestação (Nelson Rosenvald). A obrigação deve ser encarada como um processo de colaboração contínua entre as partes (Clóvis Couto e Silva).
3. MODALIDADES.
As obrigações, apreciadas segundo a prestação que as integra, poderão ser:
obrigação positiva de (a) dar coisa certa/ incerta ou (b) fazer e 
obrigação negativa de não fazer. 
Essa é a classificação básica das obrigações, que, inspirada no Direito Romano (dare, facere, non facere), foi adotada pela legislação brasileira desde o esboço de Teixeira de Freitas.
(a) Obrigação de dar. 
As obrigações de dar, que têm por objeto prestações de coisas, consistem na atividade de dar (transferindo-se a propriedade da coisa), entregar (transferindo-se a posse ou a detenção da coisa) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa entregue ao devedor). Subdividem-se, todavia, em obrigações de dar coisa certa e obrigações de dar coisa incerta.
	Obrigações de dar coisa certa. O devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa específica, determinada, certa. Não poderá o credor ser constrangido a receber outra senão aquela descrita no título da obrigação. Nesse sentido, clara é a dicção do art. 313 do CC: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”. Contudo, caso consinta em receber prestação diversa em substituição à originária, estará praticando um modo extintivo da obrigação – a dação em pagamento (art. 356). MAS ATENÇÃO: em relação aos títulos de crédito, o credor não pode recusar-se ao recebimento do pagamento parcial.
Aplica-se também para as obrigações de dar coisa certa o princípio jurídico de que o acessório segue o principal. Dessa forma, não resultando o contrário do título ou das circunstâncias do caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que, sem integrar a coisa principal, secundam-na por acessoriedade (art. 233).
	 Até a tradição, a coisa pertence ao devedor, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação (art. 237).
	Quanto ao risco de perecimento ou deterioração do objeto, há que se invocar a milenar regra do res perit domino suo (essa regra, cuja raiz assenta-se no Código de Hamurabi, significa que, em caso de perda ou deterioração da coisa, por caso fortuito ou força maior, suportará o prejuízo o seu proprietário).
Em caso de perda ou perecimento (prejuízo total), duas situações diversas podem acontecer:
se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art.234);
se a coisa se perder, com culpa do devedor, responderá este pelo equivalente (valor da coisa), mais perdas e danos. Entenda-se por perdas e danos apenas a expectativa patrimonial frustrada – lucros cessantes -, pois os danos emergentes, evidentemente, compensam-se na devolução dos valores pagos. Invariavelmente, haverá uma presunção de culpa do devedor inadimplente quanto ao fato que gerou a perda do objeto, tendo ele o ônus probatório de desconstituí-la.
Em caso de deterioração (prejuízo parcial), também duas hipóteses são previstas em lei:
se a coisa se deteriora sem culpa do devedor, poderá o credor, a seu critério, resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu (art. 235);
se a coisa se deteriora por culpa do devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou outro caso, a indenização pelas perdas e danos.
Obs.: É a culpa que implica a responsabilização por perdas e danos
As obrigações de restituir, por sua vez, mereceram tratamento específico. Nessa modalidade de obrigação, a prestação consiste na devolução da coisa recebida pelo devedor, a exemplo daquela imposta ao depositário (devedor), que deve restituir ao depositante (credor) aquilo que recebeu para guardar e conservar.
O CC prevê em seu art. 238 que, “se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. De qualquer forma, subsiste a regra de que a coisa perece para o dono (credor), que suportará o prejuízo, sem direito à indenização, considerando-se a ausência de culpa do devedor.
Em caso de simples deterioração, o art. 240 estipula que: “se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”.
Por sua vez, se a coisa se perde ou se deteriora por culpa do devedor, o art. 239 dispõe que: “se a coisa se perder porculpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”. Entretanto, segundo o Enunciado 15 do CJF, “as disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine”, o que quer dizer que se a coisa se deteriorar por culpa do devedor, o credor também poderá optar por aceitar a coisa no estado em que se acha, mais perdas e danos.
Ocorre lembrar que, se o interessado na restituição da coisa estiver em mora para recebê-la, mesmo nas hipóteses de perda acidental pelo depositário, culminará por ser responsabilizado a ponto de efetuar o pagamento, conforme se depreende do art. 492, §2°, do CC. Em sentido inverso, se o atraso for debitado àquele a quem incumbia a entrega da coisa, mesmo que a sua perda resulte de caso fortuito/força maior (art. 399), recairá contra o devedor a condenação em perdas e danos. De fato, a mora gera uma expansão da responsabilidade do devedor, alcançando mesmo as situações de perda ou deterioração da coisa alheia aos seus cuidados normais. Excepcionalmente, o devedor isentará a sua responsabilidade se demonstrar que, mesmo se a entrega fosse tempestiva, o evento ainda assim ocorreria.
Por fim, cumpre fazer referência aos melhoramentos, acréscimos e frutos experimentados pela coisa, nas obrigações de restituir. Se tais benefícios se agregaram à coisa principal, sem concurso de vontade ou despesa para o devedor, lucrará o credor, desobrigado da indenização (art. 241). Se, todavia, tais melhoramentos (cômodos obrigacionais) exigiram concurso de vontade ou despesa para o devedor, o CC determina que sejam aplicadas as regras atinentes aos efeitos da posse, quanto às benfeitorias realizadas (art. 242). Quanto aos frutos, aplicam-se também as regras previstas pelo legislador ao tratar dos efeitos da posse.
Obs.: Exceções ao res perit domino – Vícios Redibitórios (art. 441 CC); Evicção: perda de um bem em virtude de um contrato oneroso por uma decisão judicial ou administrativa que conceda o direito sobre esse bem a um terceiro estranho à relação contratual originária – STJ: a decisão administrativa (Ex.: apreensão em blitz policial) também pode ser fator de deflagração da evicção.
Obrigações de dar dinheiro (obrigações pecuniárias). Segundo Álvaro Villaça Azevedo, “o pagamento em dinheiro consiste na modalidade de execução obrigacional que importa a entrega de uma quantia de dinheiro pelo devedor ao credor, com liberação daquele. É um modo de pagamento que deve realizar-se, em princípio, em moeda corrente, no lugar do cumprimento da obrigação, onde esta deverá cumprir-se, segundo o art. 315 do CC”.
O art. 315 dispõe que: “as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes”. Consoante se depreende dessa regra legal, é o princípio do nominalismo que regula as denominadas dívidas de dinheiro. Por força dessa regra, assevera Carlos Roberto Gonçalves, considera-se “como valor da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no ato de emissão ou cunhagem. De acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando a quantidade de moeda mencionada no contrato ou no título da dívida, e em curso no lugar do pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando contraída a obrigação”. Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para que se realize a atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas próprias partes.
Entretanto, ao lado das dívidas de dinheiro, a doutrina, influenciada pela instabilidade de nossa economia, elaborou o conceito das chamadas dívidas de valor. Estas não teriam por objeto o dinheiro em si, mas o próprio valor econômico (aquisitivo) expresso pela moeda.
Obrigações de dar coisa incerta. Ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as obrigações de dar coisa incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada apenas pela espécie e quantidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas. Nesse sentido, clara é a norma do art. 243 do CC: “a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”. Ressalte-se, entretanto, que essa indeterminabilidade do objeto há que ser meramente relativa.
A operação, por meio da qual se especifica a prestação, convertendo a obrigação genérica em determinada, denomina-se “concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”. A escolha, por princípio, cabe ao devedor, uma vez que o CC, em quase todas as suas normas, prefere o devedor, quando a vontade das partes não houver estipulado a quem assiste determinado direito. Essa liberdade de escolha, contudo, não é absoluta, eis que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor (art. 244: “nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”) - princípio da equivalência das prestações. Por óbvio, se nas obrigações de dar coisa incerta a prestação é inicialmente indeterminada, não poderá o devedor, antes de efetuada a sua escolha, alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246). O gênero, segundo tradicional entendimento, não perece jamais.
Entretanto, se o Projeto de Lei n. 6960/02 converter-se em lei, essa regra será relativizada, nos seguintes termos: “antes de cientificado da escolha o credor, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito, salvo se se tratar de dívida genérica limitada e se extinguir toda a espécie dentro da qual a prestação está compreendida”.
Contudo, para Nelson Rosenvald, “se a obrigação referir-se à entrega de coisas genéricas, porém previamente indicadas e localizadas, há de falar-se em prestação de dar coisa certa, aplicando-se as regras dessa modalidade. Exemplificando: contrato para a entrega de arroz situado em um depósito ou dos cavalos que se encontram em um estábulo. É o que a doutrina chama de dívida de gênero limitado”.
Feita a escolha, as regras que passarão a ser aplicadas serão aquelas previstas para as obrigações de dar coisa certa.
(b) Obrigações de fazer. 
Nas sociedades pré-revolução industrial, as obrigações de fazer eram praticamente insignificantes, comparadas às obrigações de dar, que compreendiam o fornecimento de coisas, a título de posse e propriedade. Atualmente, as sociedades massificadas e tecnológicas privilegiam o fornecimento dos mais variados serviços, havendo uma predominância das atividades do setor terciário.
Nas obrigações de fazer, interessa ao credor a própria atividade do devedor. Pretende o credor a prestação de um fato, e não o bem que eventualmente dele resulte. Em tais casos, a depender da possibilidade ou não de o serviço ser prestado por terceiro, a prestação do fato poderá ser fungível ou infungível.
A obrigação de fazer será fungível quando não houver restrição negocial no sentido de que o serviço seja realizado por outrem. Atento a isso, o CC admite a possibilidade de o fato ser executado por terceiro, havendo recusa ou mora do devedor. Nos termos do seu art. 249: “se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”.
A grande novidade do CC, no que tange às obrigações de fazer, é a possibilidade de deferir-se ao credor o exercício da auto-executoriedade, em caso de urgência na obtenção da obrigação de fazer fungível (art. 249, parágrafo único). Cuida-se de evidente aplicação do paradigma da operabilidade.
Comentando esse dispositivo, SÍLVIO VENOSA pontifica: “é interessante notar que, no parágrafo único, a novel lei introduz a possibilidade de procedimento de justiçade mão própria, no que andou muito bem”. Assim, poderá o credor, independentemente de autorização judicial, contratar terceiro para executar a tarefa, pleiteando, depois, a devida indenização, o que, se já era possível no sistema anterior por construção doutrinária, agora se torna norma expressa.
Quanto poderá ser cobrado do devedor, pelo trabalho do terceiro, não está previsto no CC. Se for judicialmente, o impasse estaria resolvido graças à aplicação do procedimento quase licitatório. 
PARTE DA DOUTRINA: o credor pode pagar diretamente ao terceiro, em face da urgência (e o terceiro não tem nenhuma relação com o inadimplemento). Depois, deve requerer ao juiz o arbitramento do valor, suportando qualquer diferença, já que assumiu o risco dessa forma de execução coativa. Assim, o credor pode procurar terceiro, mas o valor a ser pago deve ser o arbitrado judicialmente.
GODOY: mais justa é a interpretação de que se a lei autorizou o credor a procurar terceiro, mais lógico que, em princípio, possa o credor cobrar do devedor exatamente aquilo que teve que pagar ao terceiro; note-se que essa é a posição EM PRINCÍPIO, já que para ser assim deve no caso estar aplicada a BOA-FÉ OBJETIVA (EXEMPLO: não pode o credor chamar o arquiteto mais famoso do Brasil para executar o serviço do pedreiro; independentemente de existir ou não intenção do credor).
Por outro lado, se ficar estipulado que apenas o devedor indicado no título da obrigação possa satisfazê-la, estaremos diante de uma obrigação infungível. Trata-se das chamadas obrigações personalíssimas (intuitu personae), cujo adimplemento não poderá ser realizado por qualquer pessoa, em atenção às qualidades especiais daquele que se contratou. Tais pessoas não poderão, sem prévia anuência do credor, indicar substitutos, sob pena de descumprirem a obrigação personalíssima pactuada.
Poderá a prestação de fazer ser naturalmente infungível, com base nas qualidades pessoais do devedor, v.g., pintura de tela por artista; será ainda contratualmente infungível, caso o credor queira impor natureza personalíssima a uma obrigação em tese fungível. Aliás, o art. 247 refere-se a ambas as modalidades de obrigações infungíveis (“incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta – infungível por convenção, ou só por ele exeqüível – infungível por natureza”).
Impende observar que, em algumas situações intermediárias – sobremodo aquelas em que da atividade resulte uma obra ou um objeto – poderá o intérprete ter alguma dificuldade em determinar uma obrigação como de dar ou de fazer. Assim, se A prometer entregar um imóvel a B, a obrigação será de fazer, caso a atividade seja a própria construção da coisa; consistirá, porém, em obrigação de dar coisa certa, se o imóvel já estiver pronto e acabado ao tempo da contratação. Em suma, nas obrigações de dar, o credor procura um objeto já existente ao tempo do nascimento da obrigação. Se, porventura, houver incidência conjunta de prestações de coisas e atividades pessoais, há de buscar-se a tipificação da obrigação pelo critério da preponderância. Exemplificando, há uma polêmica na jurisprudência acerca da natureza da obrigação do devedor que envolve a correção monetária de saldos e creditamento de dinheiro em contas vinculadas ao FGTS. A discussão avulta, pois a classificação dada permitirá ou não a imposição de multa diária contra o devedor por recusa ao cumprimento. Para ROSENVALD, trata-se de obrigação de dar, pois o que prepondera na espécie é a entrega de coisa (pecúnia), e não o fato ou a atividade que será desempenhada pela instituição financeira devedora. Com efeito, toda obrigação de dar requer o desempenho de um certo fazer, mas ele só será acessório à finalidade principal.
A esse respeito, foi editado o Enunciado 160 na III Jornada de Direito Civil: “a obrigação de creditar dinheiro em conta vinculada de FGTS é obrigação de dar, obrigação pecuniária, não afetando a natureza da obrigação a circunstância de a disponibilidade do dinheiro depender da ocorrência de uma das hipóteses previstas no art. 20 da Lei n. 8.036/90”.
Vale ressaltar que as obrigações de fazer podem ainda ser classificadas em duradouras ou instantâneas. As instantâneas aperfeiçoam-se em um único momento; nas duradouras, a execução da obrigação protrai-se no tempo de forma continuada, ou de modo periódico, mediante trato sucessivo.
Interessa, ainda, a análise da modalidade de obrigação de fazer que envolve a promessa de fato de terceiro (art. 439). Pelo princípio da relatividade contratual, as avenças realizam-se res inter alios acta. Assim, em princípio, o terceiro é um estranho à relação obrigacional, sendo a sua conduta objeto da prestação. Porém, o objeto da obrigação em si é a promessa do próprio devedor; isto justifica o seu sancionamento. Mas se o terceiro aceitar a prestação, exonera-se o devedor de responsabilidade, já que a promessa foi cumprida e o terceiro assumiu o contrato, vinculando-se aos seus termos.
Finalmente, cumpre analisar as consequências do descumprimento de uma obrigação de fazer.
Se a prestação do fato se torna impossível sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação, sem que haja a conseqüente obrigação de indenizar. Entretanto, se a impossibilidade decorrer de culpa do devedor, este poderá ser condenado a indenizar a outra parte pelo prejuízo causado. Nesse sentido, dispõe o art. 249: “se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos”.
Estudando essa regra, cumpre advertir que o tratamento dispensado pelo CC ao descumprimento das obrigações de fazer não foi o mais adequado, apresentando-se de forma extremamente lacunosa. De fato, a moderna doutrina processual ensina que, ao lado da pretensão indenizatória, existem outros meios de tutela jurídica colocados à disposição do credor, consoante abordagem a ser realizada no tópico da tutela processual das obrigações de dar, fazer e não fazer.
 
(c) Obrigações de não fazer. 
A obrigação de não fazer tem por objeto uma prestação negativa, um comportamento omissivo do devedor. Implica uma abstenção, impedindo que o devedor pratique um ato que normalmente não lhe seria vedado, tolere ato que normalmente não admitiria ou, mesmo, obrigue-se a não praticar um ato jurídico que em princípio ser-lhe-ia lícito. Ex.: não construir muros, não possuir animais.
Depreende-se ter sempre a natureza infungível, haja vista que toda omissão é uma atitude pessoal e intransferível do devedor. Difere, portanto, da obrigação de fazer que pode comumente ser satisfeita por terceiros, na base da fungibilidade.
Dividem-se as obrigações negativas em obrigações de não fazer instantâneas – posto impossível o desfazimento da nova situação com restituição ao estado originário; e permanentes -, quando, mesmo após o descumprimento, admitem a recomposição ao status quo ante. O art. 251 refere-se às obrigações permanentes, posto passíveis de desfazimento (“Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”). O parágrafo único do art. 251 autoriza o credor, em caso de urgência, desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.
As relações jurídicas que criam obrigações de não fazer são aquelas que mais cerceiam a liberdade do contratante. Assim, poderá haver uma deliberação judicial no sentido de restringir o conteúdo de tais prestações, quando ofensivas à ordem econômica ou a direitos fundamentais do ser humano.
Nos termos do art. 250, “extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar”.
Obs.: um devedor poderá ser adimplente sendo omisso? Correto, nas obrigações negativas.
3.1. Tutela processual das obrigaçõesde dar. 
Nas obrigações de dar coisa certa, a execução seguia o rito dos arts. 621/628 do CPC, fosse ela proveniente de título executivo judicial ou extrajudicial. Com a recente reforma imprimida pela Lei 10.444/02, desloca-se a execução da sentença condenatória das referidas obrigações para o livro do processo de conhecimento.
Com efeito, com a redação do art. 461-A, permite-se que a sentença de procedência no processo de conhecimento ostente eficácia executiva lato sensu, sendo suficiente que o magistrado estipule na sentença um prazo para cumprimento espontâneo da obrigação de dar coisa certa, com previsão de expedição, em prol do autor, de mandado de busca e apreensão da coisa móvel ou imissão na posse da coisa imóvel, em caso de recusa ao cumprimento pelo réu no prazo fixado no decisório.
A outro lado, para os títulos executivos extrajudiciais, com obrigação líquida, certa e exigível de entregar coisa (art. 585 do CPC), mantém-se a tutela erigida pelo art. 621 do CPC, mediante o ajuizamento de ação de execução, capaz de propiciar ao credor a imissão na posse do bem imóvel ou a busca e apreensão do bem móvel desejado, caso o réu recuse-se a entregar voluntariamente a coisa no prazo de 10 dias contados da citação.
Outra novidade da L 10444/02 concerne ao parágrafo único do art. 621, que permite ao juiz a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação. As astreintes possuem finalidade coativa, constrangendo o devedor a cumprir a tutela específica. Pela nova sistemática, resta superada a necessidade de caracterizar o tipo de obrigação para a aplicação da multa cominatória. Agora, para qualquer hipótese de infungibilidade da prestação – casos em que só o devedor poderá cumpri-la – a lei admite a imposição de multa diária ao réu, até a satisfação da obrigação determinada.
Havendo obrigação de dar coisa incerta, enfatiza-se a mesma distinção operada quanto à forma de execução das obrigações de dar coisa certa. Na reforma, a execução de título judicial dar-se-á nos moldes do art. 461-A, §1°. Tratando-se de dívida de gênero baseada em título executivo extrajudicial, a execução impõe-se na forma dos arts. 629/631 do CPC, sendo indispensável o incidente de individualização do objeto da prestação.
Caberá ainda a execução por quantia certa (art. 646 do CPC), restrita às obrigações pecuniárias. Diversamente das demais modalidades de execuções de obrigações de dar, a decorrente de dívida por quantia certa é conhecida como execução genérica, pois o credor detém livre acesso a qualquer um dos bens que compõem o patrimônio do devedor, visando a convertê-los em dinheiro. Já nas modalidades de dar coisa certa e incerta, fala-se de execuções específicas, eis que o credor circulará restritamente pelo patrimônio do devedor, sendo-lhe apenas facultado buscar os bens voluntariamente recusados.
A execução por quantia certa é igualmente oportunizada quando restar frustrada a execução específica – consistente na busca da prestação in natura -, por haver o objeto da obrigação sido extraviado ou danificado.
3.2. Tutela processual das obrigações de fazer e não fazer. 
A visão tradicional do direito das obrigações, pelo seu cunho intrinsecamente patrimonialista, sempre defendeu que seria uma violência à liberdade individual da pessoa a prestação coercitiva de condutas, ainda que decorrentes de disposições legais e contratuais. Na concepção civilística do pacta sunt servanda, o magistrado apenas asseguraria à parte lesada a recomposição dos danos consequentes ao descumprimento contratual. Jamais lhe seria facultado penetrar nas relações privadas, que seriam leis entre particulares. Assim, pela convicção de que a liberdade humana é o valor maior na sociedade, a resolução em perdas e danos seria a única consequência para o descumprimento das obrigações de fazer e não fazer.
Hodiernamente, contudo, o vigente ordenamento jurídico brasileiro reconhece que a incoercibilidade da vontade humana não é um dogma inafastável, desde que respeitados os direitos fundamentais. Agora, o legislador procura antecipar-se à ocorrência dos danos, impondo meios hábeis a impedir ou remover o próprio ilícito legal ou contratual, enfatizando a tutela inibitória das obrigações, em detrimento da tutela ressarcitória.
O art. 461 do CPC (art. 84 do CDC) permite ao juiz impor ao devedor a observância estrita do que foi objeto da convenção entre as partes, concedendo ao credor duas formas alternativas de implementação da tutela inibitória. Primeiramente, a tutela específica da situação a que originariamente o autor faria jus. Sendo materialmente impossível o cumprimento da prestação originária, ou entendendo o magistrado que outra medida poderá atender ao credor, porém de maneira menos gravosa ao devedor, conceder-se-á resultado prático equivalente ao autor da ação, por meio da tutela assecuratória (inespecífica), mediante providências alternativas exigidas ao réu. As tutelas específica e assecuratória serão alcançadas pela imposição de meios coercitivos indiretos, sobremaneira pelas astreintes.
O STJ enfatiza a eficácia do aludido provimento, mesmo em face do Poder Público: “em conformidade com o entendimento assentado em ambas as turmas da 3ª seção, o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode fixar as denominadas astreintes contra a Fazenda Pública, com o objetivo de forçá-la ao adimplemento da obrigação de fazer no prazo estipulado” (AGA n° 476719/RS). Ainda, “é possível a fixação de multa diária por atraso na implantação de benefício previdenciário, em razão de tratar-se de obrigação de fazer” (AGRESP 374502/SP).
Em arrimo à prestigiada tutela inibitória, não se olvide ainda da letra dada ao art. 287 do CPC que permite a imposição de sanção pecuniária para o eventual descumprimento da sentença ou da decisão antecipatória de tutela.
A tutela inibitória não é a única conquista em matéria de efetividade das obrigações de fazer e não fazer. Paralelamente a ela foi instituída a denominada tutela de remoção do ilícito (art. 461, §5°), também conhecida como medidas de apoio. Trata-se de demanda executiva lato sensu, verdadeiro meio de coerção direta promovido em sub-rogação ao demandado.
Importante lembrar que, apesar de mal localizado, o artigo 475 do CC/02 também traz previsão relativa à tutela específica “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento...”.
Enfim, torna-se a exceção as perdas e danos, razão pela qual faz-se mister propugnar por uma interpretação mais consentânea e lógica do art. 248 do CC, ou seja, tal regra somente pode ser aplicada quando não é mais possível o cumprimento da obrigação ou, não tendo o credor mais interesse na sua realização – ante o inadimplemento do devedor -, o autor da ação assim o pretender. Obviamente, a busca da tutela específica não exclui a indenização pelas perdas e danos ocorridos até a data da realização concreta da obrigação de fazer submetida à apreciação judicial.
3.3. Classificação Especial das Obrigações:
1. Classificação especial quanto ao elemento subjetivo (sujeitos)
a) Obrigações fracionárias: Nas obrigações fracionárias, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma proporcionalidade do crédito (concursu partes fiunt). É a regra geral. As obrigações fracionárias ou parciais podem ser, do ponto de vista ideal, decompostas em tantas obrigações quantos os credores ou devedores, pois, encaradas sob a ótica ativa, não formam um crédito coletivo, e, sob o prisma passivo, coligam-se tantas obrigações distintas quanto os devedores, dividindo-se o cumprimento da prestação entre eles. As dívidas de dinheiro, por exemplo, são, em princípio, fracionárias (ex: art. 1371). Tais obrigações, por óbvio, pressupõem a divisibilidade da prestação.
A respeito das obrigações fracionárias, ORLANDO GOMES enuncia regras básicas que defluem de sua própriaestrutura:
a) cada credor não pode exigir mais do que a parte que lhe corresponde e cada devedor não está obrigado senão à fração que lhe cumpre pagar;
b) para os efeitos da prescrição, pagamento de juros moratórios ou nulidade da obrigação e cumprimento de cláusula penal, as obrigações são consideradas autônomas, não influindo a conduta de um dos sujeitos, em princípio, sobre o direito ou dever dos outros.
b) Obrigações conjuntas: Também chamadas de unitárias ou de mão comum. Nesse caso, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, impondo-se a todos o pagamento conjunto de toda a dívida, não se autorizando a um dos credores exigi-la individualmente.
c) Obrigações disjuntivas: Nesta modalidade de obrigação, existem devedores que se obrigam alternativamente ao pagamento da dívida. Desde que um dos devedores seja escolhido para cumprir a obrigação, os outros estarão consequentemente exonerados, cabendo, portanto, ao credor a escolha do demandado. Diferem das obrigações solidárias por lhes faltar a relação interna que é própria do mecanismo da solidariedade, justificando, nesta última, o direito regressivo do devedor que paga.
d) Obrigações solidárias: Existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de credores, cada um com direito à dívida toda (solidariedade ativa), ou uma pluralidade de devedores, cada um obrigado à dívida por inteiro (solidariedade passiva). Nada impede que se fale também em solidariedade mista, ainda que não haja previsão legal específica.
Principais postulados:
a solidariedade só se manifesta nas relações externas (só se aplica entre os pólos), eis que cada credor poderá exigir o pagamento de qualquer devedor no todo, como se fosse o único existente, assim como o devedor poderá exonerar-se pagando o total a qualquer credor. Já nas relações internas, prevalece o direito apenas fracionário de reembolso dos co-credores que não receberam suas partes e o direito de regresso do devedor que pagou o preço em face dos co-devedores;
observe-se que existe unidade objetiva da obrigação (o objeto é único), embora concorram mais de um credor ou devedor, cada um deles com direito ou obrigado a toda a dívida. É isto o que defende a teoria unitária (majoritária), possibilitando que qualquer um que receba ou pague, extingue a obrigação. Também há a teoria plural (min.), que defende a existência de vários vínculos;
a solidariedade não se presume (art. 265 do CC). Nasce em virtude de convenção das partes ou imposição legal (arts. 932 e 942, parágrafo único, CC e art. 2°, §2°, CLT). Ressalte-se que apesar de constituir exceção na atual codificação civil, a solidariedade é regra no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), o qual prescreve em seu artigo 7º: “tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação de danos previstos nas normas de consumo”. Também para a responsabilidade civil o art. 942 traz a previsão da solidariedade. Não se presume solidariedade passiva (art. 265 do Código Civil) pelo simples fato de duas ou mais pessoas jurídicas integrarem o mesmo grupo econômico (Enunciado n. 22 da I Jornada de Direito Comercial, promovida pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em 2012).
Não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nessas últimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são totalmente distintos, embora decorram de um único fato (ex: suponhamos um caso de incêndio de uma propriedade segurada, causada por culpa de terceiro. Tanto a seguradora como o autor do incêndio devem à vítima indenização pelo prejuízo, porém não existe uma origem comum na obrigação. 
Para verificação da solidariedade não interessa a natureza jurídica do bem, por isso, não se confunde com a idéia de indivisibilidade. A solidariedade é criada pelo direito para facilitar o recebimento pelo credor, é um artifício jurídico.
Solidariedade ativa. Traduz um concurso de credores na mesma obrigação, cada um com direito a exigir a dívida por inteiro (art. 267 do CC). É instituto pouco utilizado, pelo risco de os co-credores não obterem ressarcimento daquela que recebeu o pagamento, seja por incorrer em insolvência ou simples desonestidade. Muitos credores optam pela outorga de mandato, eis que os mandatários agem em nome alheio e em caráter revogável.
Vencida a dívida, poderá o devedor oferecer o pagamento a qualquer um dos credores, desonerando-se da prestação (art. 269 do CC). Todavia, se um dos credores antecipar-se, acionando o devedor, surge o fenômeno da prevenção judicial (art. 268 do CC). Conseqüentemente, o devedor só poderá obter liberação pagando ao autor da ação, não lhe sendo lícito exigir o litisconsórcio ativo entre os demais credores, sob pena de desvirtuamento do instituto.
Poderá ocorrer, todavia, que um dos credores solidários, em vez de exigir a soma devida, haja perdoado a dívida (art. 272 do CC). Nesse caso, assim como ocorre quando recebe o pagamento, o credor remitente responderá perante os demais credores pela parte que lhes caiba. Contudo, se a remissão for motivo suficiente para o credor remitente cair em insolvência, não podendo ressarci-los, poderão ajuizar a ação revocatória ou pauliana (art. 158 do CC).
Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste (permanece), para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271 do CC). 
 Diferença entre a obrigação solidária ativa e a obrigação indivisível no que toca aos efeitos da conversão em perdas e danos: de acordo com o art. 263 do CC, a obrigação indivisível perde esse caráter quando da sua conversão em perdas e danos, o que não ocorre com a obrigação solidária ativa, que permanece com o dever do sujeito passivo obrigacional de pagar a quem quer que seja.
O CC prevê, ainda, regra específica no que se refere ao falecimento de um dos credores na obrigação solidária ativa: se um dos credores falecer, a obrigação se transmite a seus herdeiros, cessando a solidariedade em relação aos sucessores, uma vez que cada qual somente poderá exigir a quota do crédito relacionada com o seu quinhão de herança – a chamada refração do crédito (art. 270 do CC). Mas a prestação poderá ser reclamada por inteiro nos seguintes casos (Washington de Barros Monteiro): a) se o credor falecido só deixou um herdeiro; b) se todos os herdeiros agem conjuntamente e c) se indivisível a prestação. Mas veja que para os demais credores nenhuma inovação acarreta o óbito do consorte.
Finalmente, inovou o CC ao prever regras inéditas atinentes à defesa do devedor e ao julgamento da lide assentada em solidariedade ativa. O art. 273 dispõe que: “a um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros”. Exceção, aqui, significa defesa.
Aliás, questões diversas resultam da solidariedade no tocante ao instituto da prescrição. Há de ressaltar-se que as causas suspensivas – de caráter personalíssimo – não se comunicam aos co-credores, exceto se o objeto da obrigação foi indivisível (art. 201, CC). A outro turno, quando se operam causas interruptivas em prol de um dos credores, o benefício incorpora-se aos co-credores (art. 204, §4°, CC).
Obs.: solidariedade e prescrição – a citação válida contra devedor fracionário não se estende aos demais; a interrupção do credor solidário se estende aos demais; a interrupção contra devedor solidário também se estende aos demais devedores.
Por fim, temos o inusitado art. 274 do CC, o qual, penetrando na esfera do processo civil, estabelece: “o julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”.
A primeira parte do artigo 274 não é novidade, pois a derrota do credor que tenha ajuizado a ação não vincula os outros credores, que podem propor outras ações: a derrota não se comunica com os demais credores (Tepedino: extensão da coisa julgada secundum eventum litis, os credores quenão participaram do processo apenas podem ser beneficiados com a coisa julgada, jamais prejudicados). 
A segunda parte do artigo é que é nova, porque garante que se o julgamento for favorável, haverá o aproveitamento aos outros credores. Se o credor que propôs a ação ganha, a sua vitória poderá aproveitar os demais credores, exceto se se fundar em uma exceção pessoal (é defesa alegada pelo devedor: comum afeta a todos os credores e pessoal somente ao credor que ajuizou a ação). 
Assim, se o juiz rejeitou uma defesa comum, não é preciso submeter os outros credores à necessidade de ajuizamento de ação. Mas se o juiz rejeita uma exceção pessoal (ou seja, formulada somente perante o credor que ajuizou a ação), os credores deverão ajuizar outra ação, na medida em que não podem se aproveitar da defesa pessoal contra o credor que ajuizou a ação. 
Entretanto, tem surgido na doutrina processualista, entendimento de que a parte final do art. 274 do CC não tem sentido. De fato, segundo Fredie Didier Jr: “O julgamento favorável ao credor não pode estar fundado em exceção pessoal, alegação da defesa que é; se assim fosse, a decisão seria desfavorável e, por força da primeira parte do art. 274, não estenderia seus efeitos aos demais credores. Em resumo: não há julgamento favorável fundado em exceção pessoal; quando se acolhe a defesa, julga-se desfavoravelmente o pedido. A parte final do art. 274, se interpretada literalmente, não faz sentido”. Com este mesmo posicionamento, José Carlos Barbosa Moreira. A interpretação proposta pelo primeiro processualista citado é a seguinte: se o credor vai a juízo e ganha, essa decisão beneficiará os demais credores, salvo se o devedor tiver exceção pessoal que possa ser oposta a outro credor não participante do processo, pois em relação àquele que promoveu a demanda o devedor nada mais pode opor. 
Hipótese corriqueira de solidariedade ativa surge em contratos bancários de conta conjunta. Também há casos (raros) de solidariedade ativa por força de lei, a exemplo dos arts. 2° da Lei 8245/91 (Lei do Inquilinato: Art. 2º Havendo mais de um locador ou mais de um locatário, entende - se que são solidários se o contrário não se estipulou) e 12 da Lei 209/48. tão-só o emitente da cártula pode ser responsabilizado pelo débito, uma vez que a conta corrente estabelece solidariedade ativa entre seus titulares apenas perante o banco, mas não diante de terceiros.
Obs.: Estatuto do Idoso – traz hipótese de solidariedade legal entre filhos na obrigação de prestar alimentos aos pais enquadrados nas regras do estatuto. Ex.: 3 filhos – pode cobrar alimentos de um só deles, ficando este com direito de regresso em relação aos demais, observado o binômio necessidade/possibilidade.
Solidariedade passiva. Existe solidariedade passiva quando, em determinada obrigação, concorre uma pluralidade de devedores, cada um deles obrigado ao pagamento de toda a dívida. (art. 275: “O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores”. Observe-se que não se cogita de concentração do débito o fato de o credor optar preferencialmente por um dos devedores, por tratar-se de litisconsórcio passivo facultativo. O parágrafo único afasta expressamente a aplicação da tese da supressio, conceituada como a perda de um direito pelo seu não exercício no tempo.
Assim como ocorre na solidariedade ativa, na passiva a pluralidade de devedores encontra-se internamente vinculada, de forma que aquele que pagou integralmente a dívida terá ação regressiva contra os demais (art. 283).
O devedor que for demandado poderá opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e, bem assim, as defesas que forem comuns a todos os devedores. Não lhe aproveita, contudo, as defesas pessoais de outro devedor.
Saliente-se ainda que se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os demais só estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Da mesma forma, se o credor perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários, os demais permanecerão vinculados ao pagamento da dívida, abatida, por óbvio, a quantia relevada (art. 277). Destaque-se que a hipótese é de remissão ou pagamento de parte da dívida, e não simplesmente de exclusão do devedor solidário, pelo seu não-acionamento, o que é direito potestativo do credor, ultima ratio (processualmente, esta última afirmação é relativizada pela figura do chamamento ao processo� ).
Quanto à responsabilidade dos devedores solidários, se a prestação se impossibilitar por dolo ou culpa de um dos devedores, todos permanecerão solidariamente obrigados ao pagamento do valor pelo equivalente. Entretanto, pelas perdas e danos só responderá o culpado (art. 279). Na solidariedade ativa a situação é diferente, mantendo-se a solidariedade também pelas perdas e danos. 
Diferentemente do que ocorre com a obrigação indivisível, todos os devedores solidários sempre respondem pelo débito, mesmo não havendo descumprimento por parte de um ou de alguns. Dessa forma, a solidariedade quanto ao valor da dívida permanece em todos os casos. Porém, quanto às perdas e danos somente será responsável o devedor que agiu com culpa estrita (imprudência, negligência, imperícia) ou dolo (intenção de descumprimento).
Não se deve esquecer que, apesar de as obrigações solidárias estarem dirigidas à satisfação do mesmo interesse, são obrigações distintas, no sentido que cada uma delas pode ser apreciada isoladamente no tocante aos requisitos de existência, validade e eficácia.
Nítida autonomia das obrigações dos devedores solidários é evidenciada no parágrafo único do art. 333 do CC, ao afastar-se o vencimento antecipado do débito dos co-devedores solventes na hipótese de insolvência de um deles.
Como ocorre com a solidariedade ativa, no caso de falecimento de um dos devedores solidários, cessa a solidariedade em relação aos sucessores do de cujus, eis que estes somente serão responsáveis até os limites de seus quinhões correspondentes (salvo se obrigação for indivisível). Mas veja que o próprio artigo 276 estabelece que todos os herdeiros reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores. Assim, há que se distinguir a situação antes e depois da partilha. Proposta a ação de cobrança pelo credor antes da partilha, responde o monte pela dívida, não se aplicando o dispositivo em exame, já que todos os herdeiros se encontram reunidos em condomínio forçado. A regra incidirá, contudo, se já concluída a sucessão hereditária, cada herdeiro ficando então obrigado pela sua parte.
Além da tradicional solidariedade derivada de negócio jurídico, várias situações de co-responsabilidade resultam de disposição expressa em lei, como, v.g., o disposto nos art. 942 do CC (visto acima). Outra hipótese contemporânea de solidariedade legal é contemplada no CDC (art. 7°, parágrafo único).
O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua cota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores (ar. 283).
O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Todavia, no caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia o insolvente (art. 284).
A renúncia à solidariedade se diferencia da remissão quanto aos efeitos, conforme reconhece o Enunciado n. 350 CJF/STJ, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, cuja redação é a seguinte: “A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual codevedor insolvente,nos termos do art. 284”. No caso de rateio entre os codevedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente. 
 	Na IV Jornada de Direito Civil, aprovou-se o Enunciado n. 349 CJF/STJ: “Com a renúncia da solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá cobrar do beneficiado a sua quota na dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia”, bem como o Enunciado n. 351 CJF/STJ, pelo qual “A renúncia à solidariedade em favor de determinado devedor afasta a hipótese de seu chamamento ao processo”.
Obs.: nos casos de exoneração da solidariedade ou de um dos devedores solidários ser remitido (perdoado) da obrigação, o resultado será o mesmo, diminuição do quantum a ser cobrado dos demais – mas na exoneração poderá cobrar todo o débito (a parte do exonerado – fracionária – acrescido do restante dos outros devedores ainda solidários) 
O art. 285 (“Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar”) enquadra-se perfeitamente na lógica da divisão dos elementos da obrigação no débito (schuld) e responsabilidade (haftung). Situação, por exemplo, do avalista em título de crédito.
PERGUNTA: qual a diferença entre o fiador e o INTERVENIENTE GARANTIDOR SOLIDÁRIO dos contratos bancários? Essa figura dos contratos bancários é a instituição de uma garantia pessoal que se presta solidariamente, de tal forma que este interveniente garante com seu patrimônio solidariamente o pagamento do débito. O que acontece, porém, é que, às vezes, essa figura do interveniente vai mais além, porque não é só uma garantia pessoal e solidária, podendo dar um bem seu em garantia preferencial, ocasião em que será garantidor hipotecário sem prejuízo da garantia pessoal. Não se trata de uma figura típica, que consiste em um grande garantidor solidário. O STJ assim já decidiu: “GARANTIDOR SOLIDÁRIO”. OUTORGA UXÓRIA. Não há como se confundir a figura do "interveniente garantidor solidário" com a do avalista ou fiador. Dessarte, não lhe são aplicáveis disposições legais cabíveis à fiança, o que afasta a necessidade da outorga uxória. Precedentes citados: REsp 6.268-MG, DJ 20/5/1991, e REsp 3.238-MG, DJ 19/11/1990. REsp 538.832-RS, Rel.
Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 10/2/2004. Terceira Turma– Informativo 198. O TJMG e TJSP entendem que a nomenclatura adotada é irrelevante, sendo na verdade um avalista “Ao anuir aos termos do contrato de mútuo, concordou o avalista em figurar como garantidor solidário da dívida, sendo irrelevante se o contrato o intitula como avalista ou como fiador”.
Subsidiariedade. A responsabilidade subsidiária é uma forma especial de solidariedade, com benefício ou preferência de excussão de bens de um dos obrigados. Na responsabilidade subsidiária, temos que uma das pessoas tem o débito originário e a outra tem apenas a responsabilidade por esse débito. Por isso, existe uma preferência, dada pela lei, na ordem de excussão. Vale lembrar que a expressão “subsidiária” se refere a tudo que vem “em reforço de...”. Assim, não podemos afirmar que existe, a priori, uma obrigação subsidiária, mas sim apenas uma responsabilidade subsidiária.
2. Classificação especial quanto ao elemento objetivo (prestação)
a) Obrigações alternativas. As obrigações alternativas ou disjuntivas são aquelas que têm por objeto duas ou mais prestações, sendo que o devedor se exonera cumprindo apenas uma delas. São, portanto, prestações de objeto múltiplo ou composto.
Teoricamente, é possível fazer a distinção entre obrigações genéricas e alternativas. As primeiras são determinadas pelo gênero, e somente são individualizadas no momento em que se cumpre a obrigação; as segundas, por sua vez, têm por objeto prestações específicas, excludentes entre si.
Como regra geral, o direito de escolha cabe ao devedor, se o contrário não houver sido estipulado no título da obrigação .
ATENÇÃO: o princípio da indivisibilidade do objeto não se aplica ao contrato estimatório, pois é da própria natureza desse negócio a possibilidade de cumprimento em partes da obrigação, ou seja, o consignatário pode pagar parte do preço de estima e devolver parte das coisas consignadas.
Interessante notar que o CC não cuidou de estabelecer prazo para o exercício do direito de escolha. Por isso, a despeito da omissão do CC, o CPC, em seu art. 571, dispõe que: “Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, este será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro em 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei, no contrato, ou na sentença. § 1o  Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercitou no prazo marcado. § 2o  Se a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial da execução”.
Quanto à impossibilidade de cumprimento das obrigações alternativas, cumpre consignar o seguinte:
impossibilidade total (todas as prestações alternativas):
a) sem culpa do devedor – extingue-se a obrigação (art. 256);
b) com culpa do devedor – se a escolha cabe ao devedor: deverá pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou mais perdas e danos (art. 254); se a escolha cabe ao credor: poderá exigir o valor de qualquer das prestações, mais perdas e danos (art.255).
impossibilidade parcial (de uma das prestações alternativas):
a) sem culpa do devedor – concentração do débito na prestação subsistente (art. 253);
b) com culpa do devedor – se a escolha cabe o devedor: concentração do débito na prestação subsistente (art. 253); se a escolha cabe ao credor: poderá exigir a prestação remanescente ou o valor da que se impossibilitou, mais perdas e danos (art. 255).
Por fim, impende salientar que é possível a retratação do devedor, desde que prove que incorreu em erro substancial, ignorando que a prestação era alternativa.
b) Obrigações facultativas. O CC não cuidou dessa espécie obrigacional, também denominada obrigação com faculdade alternativa ou obrigação com faculdade de substituição. A obrigação é considerada facultativa quando, tendo um único objeto, o devedor tem a faculdade de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa, prevista subsidiariamente (é direito potestativo do devedor).
Orlando Gomes reconhecia os seguintes efeitos às obrigações facultativas:
o credor não pode exigir o cumprimento da prestação facultativa;
a impossibilidade de cumprimento da prestação devida extingue a obrigação;
somente a existência de defeito na prestação devida pode invalidar a obrigação.
	O devedor se libertará adimplindo qualquer das prestações, mas o credor somente poderá lhe cobrar a principal – o principal objetivo desta modalidade é facilitar o adimplemento.
Para Venosa, não se confunde a obrigação facultativa com a dação em pagamento. Nessa é imprescindível a concordância do credor, enquanto na obrigação facultativa a faculdade é do próprio devedor e só dele. Ademais, na dação em pagamento, a substituição do objeto do pagamento ocorre posteriormente ao nascimento da obrigação, enquanto na facultativa a possibilidade de substituição participa da raiz do contrato. 
c) Obrigações cumulativas. As obrigações cumulativas ou conjuntivas são as que têm por objeto uma pluralidade de prestações, que devem ser cumpridas simultaneamente. Note-se que as prestações, mesmo diversas, são cumpridas como se fossem uma só, e encontram-se vinculadas pela partícula conjuntiva “e”. No caso de perda do bem, aplica-se a mesma regra relativa às obrigações de dar coisa certa (arts. 234 a 236)
d) Obrigações divisíveis e indivisíveis. As obrigações divisíveis são aquelas que admitem o cumprimento fracionado ou parcial da prestação; as indivisíveis, por sua vez, só podem ser cumpridas por inteiro.
À vista desses conceitos, vale mencionar que a divisibilidade ou indivisibilidadedas obrigações só oferece interesse jurídico havendo pluralidade de credores ou devedores. Isso porque nem o credor é obrigado a receber pagamentos parciais, nem o devedor a fazê-los, se outra coisa foi estipulada. O pagamento, pois, em princípio, deverá ser sempre feito em sua integralidade (art. 314).
O CC trata das obrigações divisíveis em seu art. 257 (“Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta se presume dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”). Já o art. 258 trata das obrigações indivisíveis (“a obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico”).
A indivisibilidade poderá ser: a) natural (material) – quando decorre da própria natureza da prestação; b) legal – indivisibilidade do lote urbano de 125m2; c) contratual – quando decorre da vontade das próprias partes, que estipulam a indivisibilidade no próprio título da obrigação. Vale frisar que o “motivo de ordem econômica” e a “razão determinante do negócio jurídico” são expressões utilizadas pelo art. 258 para caracterizar outras formas de indivisibilidade que tanto pode ser legal ou convencional – Ex. motivo de ordem econômica: um diamante de 50k vale mais do que 10 diamantes de 5k.
Evidentemente, qualquer que seja a natureza da indivisibilidade, se concorrerem dois ou mais devedores, cada um deles estará obrigado pela dívida toda. Note-se, todavia, que o dever imposto a cada devedor de pagar a dívida toda não significa que exista solidariedade entre eles, uma vez que é o objeto da própria obrigação que determina o cumprimento integral do débito. O efeito disso, porém, é muito semelhante à solidariedade, uma vez que o devedor que paga integralmente a dívida sub-roga-se nos direitos do credor em relação aos outros coobrigados (trata-se de uma SUBROGAÇÃO LEGAL). Mas subrogação não se confunde com direito de regresso: na primeira há o efeito translativo de todos os direitos do credor, sendo mais abrangente que o segundo.
Por outro lado, se a pluralidade for de credores, poderá qualquer deles exigir a dívida inteira. O devedor se desobrigará em duas hipóteses: a) pagando a todos os credores conjuntamente; b) pagando a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
Recebendo a dívida por inteiro, o credor deverá repassar aos outros, em dinheiro, as partes que lhes caibam no total (art. 261). Essa regra se justifica pelo fato de que a coligação entre os credores decorreu da própria impossibilidade de fracionamento da prestação, e, se assim foi, os outros deverão se contentar com as suas parcelas em dinheiro. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros, mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente (art. 262). 
Finalmente, por força do que dispõe o caput do art. 263 do CC, “Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos”, sendo que se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais (§1º). 
Neste ponto, não se pode deixar de mencionar a existência de divergência doutrinária na interpretação do §2º do dispositivo acima referido, o qual preceitua, in verbis: “Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos”. De fato, a grande maioria da doutrina (Álvaro Villaça Azevedo, Maria Helena Diniz, Sílvio de Salvo Venosa, Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias), interpretando o § 2º de acordo com o caput do art. 263 (“Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos”), afirma que, havendo perda da prestação por culpa de apenas um dos devedores, não há isenção ou redução da responsabilidade dos demais, que, de maneira divisível, respondem pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas danos. Nesse sentido, Sílvio de Salvo Venosa afirma: “mas pelo valor da prestação, evidentemente, responderão TODOS” (Direito Civil, v. 2, 11ª ed. São Paulo: Atlas, p. 108). No entanto, Flávio Tartuce pontua: “Entendemos que a exoneração mencionada no parágrafo em análise é total, eis que atinge tanto a obrigação em si quanto a indenização suplementar” (Direito Civil, 4ª ed. São Paulo: Método, v. 2, p. 115). Por isso, foi editado o Enunciado 540 na VI Jornada de Direito Civil do CJF, nos seguintes termos: “Havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de apenas um dos devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas e danos.” 
Como decorrência da indivisibilidade da prestação, em matéria de prescrição, a sua declaração aproveita a todos os devedores, mesmo que haja sido reconhecida em face de apenas um, assim como a suspensão ou interrupção interfere na situação jurídica de todos.
Em conclusão, convém traçar a diferença existente entre obrigações solidárias e as obrigações indivisíveis. Nesse sentido, tem-se que:
a causa da solidariedade é o título, e a da indivisibilidade é, normalmente, a natureza da obrigação;
na solidariedade, cada devedor paga por inteiro, porque deve integralmente, enquanto na indivisibilidade solve a totalidade em razão da impossibilidade jurídica de se repartir em quotas a coisa devida;
a solidariedade é uma relação subjetiva, e a indivisibilidade objetiva, enquanto que a indivisibilidade assegura a unidade da prestação, a solidariedade visa a facilitar a satisfação do crédito;
a indivisibilidade justifica-se com a própria natureza da prestação, quando o objeto é em si mesmo insuscetível de fracionamento, enquanto a solidariedade é sempre de origem técnica, resultando da lei ou da vontade das partes;
a solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a indivisibilidade subsiste enquanto a prestação suportar;
a indivisibilidade termina quando a obrigação se converte em perdas e danos, enquanto a solidariedade conserva este atributo.
Obrigações líquidas e ilíquidas. Líquida é a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto. A obrigação ilíquida, por sua vez, carece de especificação do seu quantum, para que possa ser cumprida. A apuração processual se dá por meio do procedimento de liquidação previsto a partir do art. 603 do CPC.
3. Classificação especial quanto ao elemento acidental
a) Obrigações condicionais. Trata-se de obrigações condicionadas a evento futuro e incerto. Lembre-se que a condição é a determinação acessória que faz a eficácia da vontade declarada dependente de algum acontecimento futuro e incerto. Nesses casos, a aposição de cláusula dessa natureza no ato negocial subordina não apenas a sua eficácia jurídica, mas, principalmente, os direitos e deveres decorrentes do negócio jurídico, de tal sorte que enquanto não se implementar a condição, não poderá o credor exigir o cumprimento da dívida.
b) Obrigações a termo. Se a obrigação subordinar a sua exigibilidade ou a sua resolução, outrossim, a evento futuro e certo, estaremos diante de uma obrigação a termo. Em regra, nas obrigações a termo, poderá o devedor antecipar o pagamento, sem que isso caracterize enriquecimento sem causa do credor, eis que apenas a exigibilidade está suspensa.
c) Obrigações modais. As obrigações modais são aquelas oneradas com encargo imposto a uma das partes que experimentará um benefício.
Finalmente, se a obrigação não for condicional, a termo ou modal, diz-se que a obrigação é pura.
4. Classificação especial quanto ao conteúdo
a) Obrigações de meio. A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a empreender sua atividade, sem garantir, todavia, o resultado esperado.
Obs.: o STJ entende que a obrigação assumida pelos médicos são, em regra, de meio, com exceção das cirurgias plásticas estéticas, que se caracterizam como obrigação de resultado
b) Obrigação de resultado. Nesta modalidade obrigacional, o devedor se obriga

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