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SINDICALISMO NOS QUADRINHOS - DAVID TOMÁS - 2ª JORNADA INTERNACIONAL DE QUADRINHOS DA ECA-USP

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Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013 
 
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USO DO SINDICALISMO NOS QUADRINHOS 
 
David Tomás 
 
Faculdade Cearense / Oficina de quadrinhos - UFC, Fortaleza, Brasil 
 
 
RESUMO 
 
Nessa proposta pretende-se analisar o uso dos quadrinhos humorísticos em movimentos sindicais 
para a comunicação, e principalmente, a sua importância para a sociedade que está acompanhando 
as noticias dos informativos impressos até mesmo as mídias digitais, como a internet. Para tanto, 
procura-se explicar sobre a história dos quadrinhos na politica, bem como história de alguns autores 
que fizeram parte como os cartunista Henfil, Laerte e outros (inclusive um desenhista do estado do 
Ceará) que participaram desse movimento com divulgação impressa chamada “O Pasquim” e outras 
publicações que surgiram no seculo XXI até os dias de hoje. A metodologia dessa pesquisa 
proporciona também uma experiência em publicações impressas e digitais como fonte de análise. 
Há também, um estudo de campo com alguns movimentos sindicais, que foram trabalhados no 
estado cearense durante o mês de junho de 2012 até o mês de agosto de 2013 e que participaram do 
processo de criação tanto interno quanto externo na numa agência especializada em comunicação 
sindical. Por fim, pretende mostrar o sentido dos quadrinhos humorísticos para manifestar, não 
somente, como um desenho engraçado, mas também como os movimentos sindicais devem 
trabalhar esse processo de forma simples e com uma linguagem popular para dar sentido ao tipo de 
trabalho que deve ser comunicado e interpretado ao público trabalhador e outros públicos que 
acompanham os grupos sindicais, seja ele, durante suas manifestações, reivindicações aos sindicatos 
patronais, outros grupos políticos e a grande mídia que pode formar a opinião dos cidadãos, seja ela 
a favor ou contra o sindicato a partir de estudos de aprofundarmos nossas discussões. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Sindicalismo, Quadrinhos, Comunicação. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Tendo como base o Jorna da Fetrace
 
(2012, p.4), grande parte dos desenhistas 
humorísticos, sejam eles profissionais ou autônomos começa a trabalhar em movimentos 
sindicais , pois geralmente são as agências de comunicação ou os próprios sindicatos que na 
maioria das vezes contratam um profissional da área (seja ele jornalista, publicitário, 
assessor de comunicação etc.). Dessa forma a comunicação sindical tem que ser parcial e 
ético pois o quadrinista além de lidar com o público trabalhador, tem, também, a missão de 
entender os objetivos e as ações da entidade que ele trabalha, sejam elas centrais sindicais, 
sindicatos, empresas e federações. 
 
Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013 
 
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 O humor nos quadrinhos (principalmente a charge) é outro ponto importante na 
comunicação sindical, conforme o documentário O Riso dos Outros, o humor tem que 
divertir, entender e fazer o trabalhador pensar, enquanto lê tiras ou charges ligadas ao 
sindicato patronal. E obvio que, nesse caso, a piada precisa ter um fundo de verdade na 
ilustração, isso representa algo de importante, pois como a mesma é levada muito a sério, 
mesmo engraçada. O quadrinista, junto com a agência de comunicação e com o próprio 
sindicato, responsabiliza pelas consequências do traço que está sendo interpretado, afinal 
poderá haver uma possibilidade de censura (ameaças, processos judiciais etc.) e o 
patrulhamento não só dos patrões, mas sim de outros públicos que não são ligados aos 
movimentos. Por isso, toda ação tem uma reação e o cuidado com a informação, mesmo 
pesada, são pontos que o desenhista tem que fazer antes de colocar em um material de 
comunicação para gerar um discurso ideológico. Por isso, o quadrinista tem que estar ao 
lado do trabalhador, pois se ele quer fazer uma crítica do outro movimento, mesmo sendo 
seu trabalho, ele precisa ter um alvo, que é os patronais
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 e haverá um estereótipo no 
quadrinho humorístico, que é o trabalhador, afinal precisa retratar que ele está sendo 
explorado, sendo mau pago, escravizado por horas excessivas, em receber salario e outros 
argumentos que podem ser aplicados a esse contexto humorístico (ARANTES, 2012). 
 
PRINCIPAIS DESENHISTAS E PERIÓDICOS POLÍTICOS 
 
Com base no programa televisivo Pra Você Ver, na emissora TVT (TV dos Trabalhadores), 
na década de 70, o Brasil vivia na ditadura, e os Metalúrgicos do ABC começaram um novo 
movimento sindical, para propor uma mudança social. Com essa nova proposta de 
ideologia, criaram a Tribuna Metalúrgica, uma das publicações mais importantes do mundo 
e por onde passou vários chargistas, como Laerte, Henfil, Paulo Monteiro, Gilmar, entre 
outros que fizeram o humor e desenho como forma de protesto, porque, além de se tornar o 
símbolo dos trabalhadores metalúrgicos, representou também o movimento sindical em 
todo o país, na época da ditadura. 
 
 
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Conjunto de peões [v. peão2]. 
 
Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013 
 
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Figura 1: Tira do personagem João Ferrador 
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_z3-
MCFugKnY/TPKqujmHSCI/AAAAAAAAC_A/ONNiw6yPtV0/s400/joao+ferrador01.jjpg 
 
 Ainda com base no programa televisivo Pra Você Ver, um dos personagens criados 
no movimento sindical foi o João Ferrador, um trabalhador invocado e batalhador que não 
se calava e chamava outros trabalhadores, conhecidos de peãozada
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, para mobilização. O 
motivo principal para criação foi após o ex-líder sindical Luís Inácio Lula da Silva, assumir 
a posse do sindicato em 1975, com a necessidade de se comunicação com os trabalhadores 
e criar uma dinâmica de interpretação com que o sindicato queria transmitir a informação 
que ele precisava entender, no caso, direitos trabalhistas, reivindicações etc. com isso criou-
se as charges. Uma frase muito comum que ele usava é "hoje eu não to bom", que é uma 
frase que o Lula usava e pediu para o Laerte colocar na fala do personagem. O motivo era 
que nada estava bom, a situação, a exploração dos patrões, os salários e entre outros fatores 
que o trabalhador não achava bom naquela época. Com a criação do personagem, Laerte 
fala no vídeo que não foi um personagem tão real porque a intenção era criar um 
personagem como um motivador de ideias. No vídeo, Wilson Roberto Ribeiro, aposentado, 
fala que durante o cadastro para adquirir a carteira de sócio, os trabalhadores recebiam do 
sindicato um chaveiro com o formato do personagem. Mas o desenho do personagem não 
foi por acaso, outro motivo segundo João Paulo de Oliveira, ex-diretor do sindicato, fala 
que a necessidade de criar o personagem foi também pelo fato da maioria dos trabalhadores 
serem analfabetos e que o uso do desenho foi a forma de facilitar a comunicação no 
informativo sindical (TV dos Trabalhadores, 2012). 
 
 
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 Conjunto de peões [v. peão2]. 
 
Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013 
 
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 Os grandes cartunistas do humor brasileiros já deixaram suas marcas nesse 
movimento sindical, um deles é Henfil, que fazia críticas a ditadura militar e, entre outros, 
tocava entre assuntos sociais e políticos com personagens marcantes, como a graúna etc. 
Após os trabalhos realizados no Diário de Minas e no Jornal dos Sports, Henfil começou a 
trabalhar em São Paulo: 
 
O momento em que ele chegou a São Paulo foi paralelo à onda de greves no ABC 
paulista. A organização dos movimentos sociais começou a dar sinal de retorno e 
foi criada a Oboré, núcleo de comunicação responsávelpor publicações dos 
sindicatos paulistas. Na Oboré surgiu uma nova forma de diálogo com os 
trabalhadores, em cartilhas ricamente ilustradas e interativas. A iniciativa de 
Henfil em colaborar com os sindicatos fez parte do desejo manifesto pelo 
cartunista em realizar um trabalho menos isolado, mais coletivo. (MALTA, 2008, 
1.ed., p. 62) 
 
 No programa televisivo Pra Você Ver, na emissora TVT (TV dos Trabalhadores), 
Henfil apresentava uma ácida irreverência em suas tiras que infernizavam os ditadores da 
época. Segundo o chargista Laerte, falou que ele tinha uma capacidade de criar charges com 
seu traço bem simples e com um humor bem afiado, com opiniões bem revolucionárias e 
boa parte das ideias e rascunhos para outros chargista vinha do próprio Henfil, com uma 
velocidade que o chargista Laerte e outros entendia e ele já passava outra ideia. Já o 
chargista Gilmar Barbosa fala, que após conversar com o filho do Henfil, estava bem no 
Rio de Janeiro e com ótimo trabalho significativo e decidiu ir para o estado paulista, onde 
iriam acontecer as mudanças (no caso uma revolução sindical) onde ele queria estar com 
antecedência. O chargista Pecê, fala também que o Henfil sabia que a luta dos trabalhadores 
tinha um preço a se pagar, um risco de vida e uma luta de classe para lutar nessa ditadura e 
ele representava muito bem, sem perder o humor. 
 
 Outro que se consagrou nesse processo foi o cartunista Laerte. Em uma entrevista 
com o apresentador Claudiney Ferreira do programa Itaú Cultural, Laerte falou sobre sua 
passagem no movimento sindical. Tentou ser arquiteto, mas não concluiu, tentou escolher 
uma coisa como profissão e acabou não dando certo, e entrou na Escola de Comunicação e 
Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Por fim, entrou para fazer música, mas 
com o incentivo do professor Vile Correia, acabou trancando o curso e entrou no curso de 
Jornalismo, onde arrumou emprego na revista Balão e durante a graduação começou 
 
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ilustrações junto com o Kiko, Chico Carusso e outros ilustradores, para se profissionalizar 
na área, vender a revista (na faculdade, nos sinais etc.) e fazer comunicação para o público, 
também não concluiu o curso escolhido. 
 Fundou, junto com outros cartunista, a empresa Oboré, ele desenhou para mais de 
100 sindicatos, com a necessidade de ajudar no processo de comunicação, assim criaram 
essa estrutura como existia e existe na parte jurídica, médica e outras estruturas para atender 
o associado (o trabalhador). Um dos personagens que Laerte criou, foi o João Ferrador, um 
personagem do movimento sindical para publicações como produções de campanhas 
publicitárias e informativos jornalísticos para o trabalhador, onde surgiu também o Lula, 
que criou o bordão "hoje não to bom" para o personagem. Mas não durou muito tempo por 
motivo de instinto e acabou indo para outros trabalhos, com outras ideias para aplicar nos 
quadrinhos, como comportamento, sexualidade, drogas e outros trabalhos nos quais Laerte 
trabalhava até hoje como cartunista profissional. 
 Ainda temos o jornalismo alternativo, que teve uma relevância politica e que deu 
destaques aos chargistas, ilustradores, caricaturistas e escritores da época, precisamente O 
Pasquim, pelo autor Luís Pimentel, ele fala em seu livro: 
 
O Pasquim e os acontecimentos do período em que ele surgiu (1969, ditadura 
militar instalada no país) despertaram indignações e vocações pelo Brasil inteiro, 
resultando numa geração invejável, de cartunistas, caricaturistas e redatores de 
humor. Boa parte desses criadores continuou mostrando seus trabalhos na 
chamada grande imprensa. (PIMENTEL, 2004, p.20) 
 
 De acordo com o autor citado, diferente de outras publicações alternativas, o 
Pasquim durou mais de 20 anos, porque ele revolucionou com experiência o jornalismo 
brasileiro. O jornal era submetido a censura, na época da ditadura militar, pois os originais 
eram avaliados e voltaram danificados com um risco de um X feito de caneta. Até que em 
1970, a editora foi fechada e os responsáveis foram todos presos. Pelo menos na edição 72 
(PIMENTEL, 2004, p.38). 
Existe também outro destaque regional no sindicalismo em quadrinhos, 
precisamente no estado do Ceará, trata-se de Arievaldo Viana, nascido no interior de 
Canindé. Sobre sua trajetória de trabalho, ele relata ao blogueiro David Tomás, sua inserção 
no movimento sindical: 
 
 
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[…] passei minha adolescência em Canindé e colaborei cm diversas publicações. 
Cheguei a fundar um fanzine chamado TRAMELA, que circulava mensalmente e 
criamos um Salão de Humor Nacional que repercutiu em todo o país. Dessa turma 
de cartunista apenas eu e o Klévisson (meu irmão) continuamos a desenhar 
profissionalmente. Mas havia uma turma talentosa: Nildo e Neuzo Bento, 
Hagamenon, dentre outros. Depois surgiram Jardel, Fabiano, Lourival, todos em 
Canindé, na esteira desse movimento. Em 1992 mudei-me para Fortaleza e passei 
a colaborar ativamente com as publicações do movimento sindical, a convite do 
jornalista Tarcísio Matos. Comecei no Sindipetro-CE, depois SINTAF, SENECE, 
SINDSAÚDE... tive uma rápida passagem pelo Sindicato dos Bancários e fiz 
também muita charge para os Comerciários. Tenho tudo isso reunido num livro 
ainda inédito: 20 anos da história do movimento sindical cearense pela ótica de 
um chargista. Fiz uma triagem em meio a mais de 500 charges e extraí as cem que 
considero mais representativas. O período em que fui mais produtivo foi durante 
o (des) Governo FHC. Ali era prato cheio para qualquer chargista. Publiquei 
muita coisa numa revista chamada PÉROLA NEGRA, que era editada pelo 
Sindicato dos Petroleiros. (VIANA, 2013) 
 
 
Figura 2: Capa da Revista Pérola Negra 
Fonte: http://davidtomasilustracoes.blogspot.com.br/2013/06/entrevista-com-arievaldo-
viana-ce.html 
 
 
Ainda na entrevista, Arievaldo também citou um dos personagens que retrata o 
contexto social ligado ao movimento sindical como qual se identificou: 
 
No Sindipetro existia o PINGA-FOGO. Quando cheguei lá esse personagem já 
existia, mas não tinha uma personalidade definida. Era um bonequinho com a 
cabeça de chama, tipo tocha. Como estava muito vinculado a determinada 
diretoria do sindicato, foi abolido. Depois dele, vieram a dupla PAPANGU & 
MOFOFÓ que era um sarro, porque era um peão alienado e um bodegueiro 
politizado. O choque entre ambos sempre resultava em boas tiradas. (VIANA, 
Arievaldo. 2013) 
 
Conforme citado por Arievaldo Viana, além da publicação da revista Pérola Negra (figura 
2 na página 6), ainda tem 20 anos de história nesse movimento sindical que o chargista 
 
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criou durante esses anos e criou um livro chamado Traço Operário (figura 3), no qual ele 
selecionou várias charges durante os anos de 1999 até 2009. Sobre esse trabalho ele expõe: 
 
O ‘TRAÇO OPERÁRIO’ continua inédito por falta de editor. Os sindicatos é que 
deveriam bancar esta publicação, pois afinal de contas, conta a sua história. Ainda 
não tive tempo de cair em campo para ‘vender’ essa ideia, porque desenvolvo 
outras atividades. (VIANA, Arievaldo. 2013) 
 
 
Figura 3: Capa do Livro Traço Operário, que ainda não foi lançado 
Fonte: http://davidtomasilustracoes.blogspot.com.br/2013/06/entrevista-com-arievaldo-
viana-ce.html 
 
 
 Ainda na fala de Arievaldo, é explícita opinião sobre a importância e uso das 
charges mesmo nos tempos de hoje e da maioria de seus trabalhos perdidos:Um boletim com charge ou quadrinho é 100 vezes mais atrativo. Mesmo nesse 
período de internet, de boletins virtuais, a charge ainda é um barato. Perdi muita 
coisa, consegui armazenar apenas um terço do que produzi ao longo dos últimos 
25 anos, mas, mesmo assim, tenho mais de 500 trabalhos entre charge, quadrinho 
e cartum. (VIANA, Arievaldo. 2013) 
 
PROCESSO DE TRABALHO COM CHARGES 
 
 Para o trabalho em questão, a analise de experiência profissional que foi a própria 
agência de comunicação, chamada Metamorfose Comunicação, uma agência de noticias 
 
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que atua desde 4 de julho de 2008. Trabalha com movimentos sindicais, politicas, 
ambientais, acadêmicas e organizações não governamentais (ONGS). 
Por motivos mais técnicos e acadêmicos vem explicados nessa parte. Desde a minha 
entrada na agência, até os trabalhos atuais, sendo feitos entre o meses de junho de 2012 até 
o mês de agosto de 2013, citados no resumo desse artigo com outros membros da equipe e 
junto e também com outros sindicatos. Uma das coisas a fazer num material de quadrinhos 
humorísticos, seja ele impresso ou digital a agência tem como obrigação pegar a 
informação com o dirigente sindical ou responsável pelo trabalho de comunicação do 
sindicato. Para que a entidade transmita melhor a mensagem para seu receptor, que é o 
trabalhador da categoria que acompanha a sua comunicação, que no caso é o sindicato. 
Por isso existe formas de pegar a informação com grupo sindical, a primeira é a 
pauta jornalística, nela vai ser anotado todas as informações para ser aplicado no material e 
a ser distribuído, nisso, é entregue a pessoa responsável pela charge vai entender a ideia da 
ilustração a ser feita. 
 Outra solução é o brainstorm, que é exatamente uma “chuva de ideias” onde vários 
profissionais joga todas as palavras para chegar a solução a ser aplicada no material, muito 
usado na publicidade, mas que pode ser aplicado na comunicação sindical. Além desses 
fatores, também pode participar das reuniões dos membros sindicais para assimilar melhor 
como vai ser a charge e entre outras formas de pegar informações. 
 Mas o motivo disso tudo é justamente fazer com que o público entenda a informação 
de forma clara, objetiva e bem-humorada, mas sem perder a indignação de uma denúncia 
feita pelo sindicato, afinal o quadrinista, chargista ou responsável pela arte sequencial que é 
responsável de criar as charges, tem que ilustrar a defesa de uma ideia a favor ou contra ao 
patronato do movimento sindical e transmitir a mensagem para o público ligado a entidade 
e para o público que não faz parte desse movimento. E para isso foi criado dois tópicos, 
uma parte publicitária e outra na parte jornalística. Assim fica fácil de entender como os 
responsáveis pela criação dos quadrinhos deve ser bem aplicada ao material que vai ser 
usado nesse movimento sindical. 
 
PROCESSOS PUBLICITÁRIOS: 
 
Campanha do Sintro: Case “O povo no sufoco e o motorista sofrendo em dobro” 
 
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 O Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Ceará 
(Sintro), filiado à CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), fez um pedido de trabalho 
para Metamorfose Comunicação que seria divulgar uma arte publicitária que teria uma 
charge reivindicando a superlotação dos transportes rodoviários. A orientação desse 
trabalho foi da jornalista profissional Marina Valente, sócia da agência, que tinha a ideia de 
usar o brainstorm para facilitar o processo de trabalho e fazer uma assessoria com o próprio 
sindicato para acompanhar o processo da arte publicitária. 
 O motivo era criar primeiramente o slogan e em seguida a charge para concluir o 
trabalho, por isso houve uma reunião com o responsável pela comunicação do sindicato, a 
sócia da agência e o chargista, para “jogar ideias” num quadro branco, e começamos a 
encaixar palavras ate que criamos a frase “o povo no sufoco! E o motorista sofrendo em 
dobro!”, para alerta que o lado patronal deve ficar atento a superlotação dos terminais de 
ônibus, prejudicando o motorista, o trocador e o usuário do transporte público. 
 
Figura 4: Arte publicitária do Sintro-Ce 
Fonte: http://davidtomasilustracoes.blogspot.com.br/2012/07/arte-do-cartaz-exibida-no-
jornal-local.html 
 
 
Atrás do panfleto foi criado uma carta aberta com as reivindicações do sindicato 
como a dupla função, reajuste salarial, vale alimentação, cesta básica e outros pontos 
importantes que o sindicato lutou e para negociar com o Sindicato das Empresas de 
Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus). 
 Após o slogan criado, partimos para a arte finalização da charge (figura 4), mas 
antes houve mais uma conversa para definir a ilustração, até chegar num resultado, onde 
 
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seria um ônibus superlotado com o motorista dirigindo e usuários preocupados com a 
lotação. Nisso, foi feito o traço e a pintura pelo chargista e a diagramação da própria sócia 
da agência. No final houve a aprovação do próprio responsável do sindicato. 
 Antes da greve começar, houve uma distribuição do panfleto da agência junto com o 
Sintro, no terminal da Parangaba, para os usuários que foram informados sobre o assunto, 
pois grande parte da população fortalezense que mora na região metropolitana, não 
costumam entender as dificuldades e as necessidades dos motoristas rodoviários. 
 E o resultado da greve foi um acordo que favoreceu ao sindicato. Isso mostra que a 
charge impactou não apenas os motoristas e trocadores de ônibus que entenderam e 
reivindicação esse protesto, mas também a maioria da população que leu a carta e a arte 
publicitária (a charge) que demonstrou a situação da greve. 
 
Campanha do Sintigrace: Case “Vamos virar o jogo” 
 
 O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Gráfica, da Comunicação Gráfica e dos 
Serviços Gráficos do Estado do Ceará (Sintigrace) fez um pedido para agência, qual seja o 
de criar um anúncio publicitário sobre a campanha salaria 2013 com o tema “Vamos virar o 
jogo”, o slogan foi baseado numa sugestão do dirigente sindical Rogério Andrade que deu 
referência a música com o titulo“virada” da sambista Beth Carvalho (NOCA, 1999). 
 Após uma conversa com a equipa da Metamorfose, foi criado uma pauta com os 
tópicos impontantes para colocar no material impresso, como a cesta básica, o fim da 
terceirização, o auxílio creche, a participação nos lucros e resultados (PLR) e o principal 
que é o piso salarial para ser negociado com o Sindicato da Indústria Gráfica do Estado do 
Ceará (SINGRACE), que levaria esses assuntos a mesa de discussão durante a campanha no 
mês março do ano de 2013 e entre outros que não foram citados nesse artigo. 
 
 Depois da pauta, tínhamos que desenvolver o trabalho, mas para isso, além do 
trabalhador ser o principal foco, precisávamos atrair também o público que não era ligado à 
entidade, então a sócia da agência Marina Valente, sugeriu, de fazer um anúncio ligado ao 
futebol, que é muito comum ao público do movimento sindical e ao videogame, que poderia 
atrair um novo público a entender essas reivindicações que continham nesse material 
publicitário, de preferência os mais jovens. 
 
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Figura 5: Arte publicitária do Sintigrace 
Fonte: http://davidtomasilustracoes.blogspot.com.br/2012/10/trabalho-em-agencia-cartaz-
para-o.html 
 
Na imagem acima (figura 5), podemos perceber algunspontos, um deles é o anúncio 
não conter as logomarcas famosas (Mc Donald´s, Nike, Adidas etc) nas faixas e nos locais 
de propaganda publicitaria, o principal motivo é para tal fato que o movimento sindical está 
ligado ao trabalhor que não iria aceitar, porque essa linguagem representaria o capitalismo e 
por motivos de evitar confusão, não foi colocado nos anúncios, até porque seria um 
"suicídio" colocar referência de marcas famosas nas propagandas ilustradas nesse material. 
 
PROCESSOS JORNALÍSTICOS: 
 
Jornal dos Sapateiros: Case "Gosto de sola de sapato" 
 O Sindicato dos Sapateiros do Ceará (Sindsapateiros), é dos mais antigos do estado 
cearense. O sindicato mencionado tinha marcado uma reunião com a agência Metamorfose 
Comunicação, junto com a diretoria responsável na sede do sindicato, para falar sobre as 
noticias que iriam fazer parte do Informativo O Martelo. Essa matéria que tem como titulo 
gosto de sola de sapato, retrata as condições de higiene e qualidade nos alimentos, 
conforme se observa: 
 
Trabalhadores afirmam ter encontrado baratas mortas dentro da comida do 
bandejão. Como prova da denúncia, um dos trabalhadores tirou uma foto de seu 
celular. As graves condições de higiene do refeitório e da comida vêm deixando 
trabalhadores doentes, é o que afirma o membro da Comissão Interna de 
Prevenção de Acidentes (CIPA), conhecido como “Bastião do Bandejão”. (Gosto 
de sola de sapato: Sapateiros denunciam alimentação da Vulcabrás, O martelo, 
Fortaleza, , p.2, Março de 2013) 
 
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Figura 6: Charge sobre Alimenta dos trabalhadores, jornal O Martelo 
Fonte: http://davidtomasilustracoes.blogspot.com.br/2013/06/arte-para-o-jornal-o-
martelo.html 
 
 A partir de então, o sindicato fez um rascunho e que depois foi passado para o 
briefing
3
, além de uma charge para compor a matéria citada com duas comparações da 
realidade (figura 6), ao lado esquerdo do quadro, o patrão com todas as mordomias 
possíveis em um ambiente limpo e agradável e do outro lado, o trabalhador em um 
ambiente sujo e mau conservado pela empresa, para mostrar e facilitar o entendimento do 
texto associando à charge que foi desenhada para o informativo O Martelo. 
 
 Os dois quadros contendo nos balões que os personagens principais falam, existe 
uma frase dizendo “O negócio ta bom hoje!”, para dar um humor mais irônico, porque na 
charge mostra a denúncia de forma bem-humorada e para transmitir a mensagem para todos 
os trabalhadores do setor de calçados que acompanham o jornal O Martelo. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 O principal objetivo do trabalho foi mostrar a importância da comunicação sindical 
aplicada nos quadrinhos, afinal não basta ter a técnica das histórias em quadrinhos e 
somente “aplicar” como se fosse uma história qualquer, requer um conteúdo cultural e 
 
3
 Briefing é um conjunto de informações, uma coleta de dados para o desenvolvimento de um 
trabalho, geralmente utilizada em áreas como Administração e por profissionais da comunicação, como 
Relações Públicas e publicitários. O briefing cria um roteiro de ação para criar a solução que o cliente procura, 
é um mapeamento do problema com o objetivo de após ter idéias para criar soluções. 
 
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histórico também para que o desenho humorístico tenha sentido e seja de fácil entendimento 
para a sociedade, temos que entender que boa parte desses trabalhadores não teve acesso a 
educação. Relatou-se a experiência profissional objetivando a compreensão dos 
trabalhadores da maioria das categorias e a sociedade em geral precisa entender que a 
informação nem sempre vem das grandes mídias, os matérias impressos e digitais que 
fazem parte dos gastos dos sindicatos, de forma para transmitir as causas cotidianas que a 
população precisa entender (direitos trabalhistas, exploração, greves etc.). 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ARANTES, Pedro. O Riso dos Outros, Disponível 
em:<http://www.youtube.com/watch?v=PRQ1LuBWoLg >. Data de acesso: 18 de Abril, de 
2013. 
 
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<http://www.dicio.com.br/patronal/ >Data de acesso: 22 de junho de 2013. 
 
Dicionário.co. 2013. Disponível em: <http://dicionario.co/pe%C3%A3ozada >Data de 
acesso: 22 de junho de 2013. 
 
Hoje não to bom: João Ferrador. 2013. Disponível em: 
<http://quadrinholatra.blogspot.com.br/2010/11/hoje-nao-to-bom-joao-ferrador.html 
>Data de acesso: 10 de junho de 2013. 
 
Laerte - Série HQ - Jogo de Ideias (2012) - parte 1/2. 2012. Disponível em: 
<http://www.youtube.com/watch?v=aqBx5hQbN8s>Data de acesso: 19 de abril de 2013. 
 
MALTA, Márcio. Henfil: o humor subversivo. São Paulo: Expressão Popular, 2088. 
 
NOCA, Gilper. Virada. In: CARVALHO, Beth, O Essencial De Beth Carvalho. Sony, 1999. 
 
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<http://www.youtube.com/watch?v=c0vuD35eUsc>Data de acesso: 18 de abril de 
2013. 
 
 
Escola de Comunicações e Artes – Universidade de São Paulo – 20 a 23.08.2013 
 
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