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1 HISTÓRIA DO DIREITO Prof. Dr. Frederico Martins Ad usum privatum (Esquemas de aulas conforme bibliografia) Objetivo do estudo é o de fazer uma leitura histórica do fenômeno jurídico enquanto expressão cultural de idéias, pensamento e instituições. Reinterpretar as fontes do passado sob o viés da interdisciplinaridade social, econômico e político. Aceitar a politização das idéias e das instituições jurídicas significa superar todo e qualquer viés metodológico representado pelo historicismo legal de cunho formalista, erudito e elitista. Uma história do direito articulada na dialética da vida e das relações sociais. As instituições jurídicas tem reproduzido, ideologicamente, em cada época e em cada lugar, fragmentos que revelam o senso comum legislativo e o ritualismo dos procedimentos judiciais. Noção de instituição jurídica como estrutura normativa sistematizada e permanente, atuando e coordenando determinados núcleos de ação que tem funções específicas: controle social, sanção, administração política e financeira, ordem familiar, satisfação das necessidades comunitárias. Operadores profissionais: juiz, advogado, defensor público. Órgãos de decisão: tribunais de justiça. História com crises, rupturas, avanços e recuos. História do direito pode ser entendida como parte da História geral que examina o Direito como fenômeno sócio-cultural, inserido num contexto, materializado evolutivamente por fontes históricas, documentos jurídicos, agentes operantes e instituições legais reguladoras. Há uma distinção clássica: História externa: exame formal dos acontecimentos político-sociais que influenciam as fontes clássicas do direito (documentos, legislação, costumes, jurisprudência) e História interna: estudo material da vida dos institutos e das instituições públicas e privadas (família, propriedade, contrato, e outros.) 2 UNIDADE I – O DIREITO NAS SOCIEDADES PRIMITIVAS Ubi societas, ibi ius (Ulpiano) Toda cultura tem um aspecto normativo: existencialidade de padrões, regras, valores, modelos de conduta... Intuito de assegurar uma determinada ordem social. Regulamentação capaz de atuar como sistema eficaz de controle social A lei é expressão de um direito ordenado na tradição e nas práticas costumeiras que matem a coesão do grupo. Textos jurídicos com escrita? Melhor que direito “primitivo”, direito “arcaico”. Sociedades que se desenvolveram, superando àquelas primitivas, mas que não tiveram o domínio da escrita. Algumas permanecem como: aborígenes da Austrália ou da Nova Guiné, dos povos da Papuásia ou de Bornéu, de certos povos índios da Amazônia (Gilissen, John Introd. Hist. Direito) 1. FORMAÇÃO DO DIREITO A compreensão deriva do tipo de sociedade que o gerou. Esta funda-se no princípio de parentesco. Conseqüentemente, a base geradora do jurídico encontra-se nos laços de consangüinidade, no convívio familiar unidos às crenças e tradições. A propriedade e a sucessão tiveram em grande parte origem na família e seus procedimentos como crenças, sacrifícios e o culto aos mortos. As práticas primárias de controle são transmitidas oralmente marcadas por revelações sagradas e divinas. Os intérpretes eram, portanto, sacerdotes-legisladores, que eram ao mesmo tempo executores. Receio da vingança dos deuses O direito é algo pronto, querido e não criado. O ilícito se confundia com a quebra da tradição. Há uma profunda associação entre as sanções legais e sanções rituais. Sanção possui caráter repressivo e restritivo (castigo e reparação à pessoa injuriada). O direito arcaico manifesta-se não pelo conteúdo, mas pela repetição de fórmulas. Através dos atos simbólicos, das palavras sagradas, dos gestos e da força dos rituais desejados. Os efeitos jurídicos são determinados por atos e procedimentos, através da magia e pela palavra, transforma-se num jogo constante de ritualismos. Este direito primitivo avança, historicamente, para o período que se impõe a força e a repetição dos costumes. Três estágios de evolução (SUMER MAINE): o O direito que provem dos deuses; o O direito confundido com os costumes; o O direito identificado com a lei; 3 Nas sociedades antigas, tanto as leis como os códigos foram expressões da vontade divina, garantida pela casa sacerdotal. A passagem para o direito consuetudinário denota um conjunto de práticas e costumes, reiterados por um longo período de tempo e publicamente aceitos, não ainda aquele direito escrito. O costume aparece como expressão da legalidade. Não havia questionamento da validez e sua aplicabilidade, visto que era divino. Com a escrita se há a compilação destes costumes tradicionais, proporcionando os primeiros códigos da Antiguidade: o Hemarábi (1700 aC – Mesopotâmia, Susa- Irã) o Manu (entre o séc. II a.C. e II d.C. – Mundo indiano) o Sólon (Atenas V sec. a.C.) o Leis das XII Tábuas (mos maiorum – carácter imediatista, prático e objetivo) (450 a.C.) Somente mais tarde se começa a distinguir o direito da moral e a religião do direito. De todos os povos antigos, foi com os romanos que o direito avançou para uma autonomia diante da religião e da moral. Longa e progressiva evolução das obrigações e dos deveres jurídicos da condição de status. As obrigações são fixadas, na sociedade, de acordo com o status que ocupam seus membros. Diferentemente do direito legislativo formal, com relação contratual dependente da vontade e da autonomia das partes. 2. CARACTERÍSTICAS E FONTES O direito primitivo não era legislado. Não se conhecia a escritura formal e suas regras de regulamentação eram conhecidas pela tradição. Cada comunidade sua regra, vivendo com autonomia e pouco contato com outros povos. Diversidade dos direitos não escritos. Profundamente contaminado pela prática religiosa. Regras de cunho social, moral e jurídico se mesclavam e se integravam no religioso. Não há ainda uma diferenciação entre o jurídico e o não-jurídico. As regras de controle podem variar no tempo e no espaço. Assume caráter jurídico a medida em que, constrangendo, garante o cumprimento das normas de comportamento. O costume é a fonte mais importante deste direito. Procedimentos orais: provérbios e adágios. 3. FUNÇÕES E FUNDAMENTOS As regras jurídicas primitivas não se reduzem à imposições. Existia um direito civil consensualmente aceito e respeitado. A lei civil primitiva não tem um aspecto negativo de castigo, somente, mas assume caráter positivo através da recompensa para os que respeitam a lei. O direito não funciona por si mesmo, mas é parte integrante de uma estrutura. LUÍS ANTONIO Realce 4 O direito não é exercido de forma arbitrária e unilateral, mas produto de acordo com regras bem definidas e dispostas em cadeia de serviços recíprocos bem compensados. Não se sabe se o matriarcado, realmente ocorreu e se foi sucedido pelo patriarcado.
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