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6- Apostila Quinta

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Profº. Ms. Flawbert Farias Guedes Pinheiro
flawbertguedes@ig.com.br
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 A PROTEÇÃO DOS SERVIÇOS
 PÚBLICOS NO CDC
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. 
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
O serviço público só é regido pelo CDC, quanto este for remunerado e prestado de forma singular (uti singuli) e não coletivo (uti universi). Neste último, não há relação consumerista, ou seja, consumidor e fornecedor; o que se vê nos serviços prestados de forma coletiva é uma relação tributária onde estão presentes os sujeitos contribuinte e fisco.
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RESUMINDO: Os serviços públicos regidos pelo CDC são aqueles que são prestados de forma individual (possível identificação da pessoa beneficiada pelo serviço) e de forma onerosa (não gratuita). Esse é o entendimento do STJ!
A título de exemplo: Uti singule - seriam os serviços de telefone; Já os Uti universi - o serviço de iluminação pública.
A grande controvérsia gira em torno dos serviços essenciais. 
Explicaremos primeiro o que seriam tais serviços e depois a sua possibilidade de poder suspendê-lo ou não.
Serviços essenciais são aqueles considerados indispensáveis para os interesses básicos de toda uma coletividade, são essenciais para a garantia da dignidade da pessoa humana. É por essa razão que o CDC impõe uma continuidade. 
Isso é uma regra que veio com o fundamento do Princípio da Continuidade do Serviço Público. Trata-se de uma constatação não muito clara, pois se exige certo subjetivismo. Pensando nisso, o art. 10 da Lei 7.783/89 fixa alguns serviços que seriam considerados essenciais.
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Vimos que o serviço essencial é aquele indispensável à Dignidade da Pessoa Humana. Este princípio está previsto na Constituição Federal e constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. É com base nesse princípio que o Min. Luiz Fux, ex STJ e atual STF, entendeu que quando o indivíduo se encontra em estado de miserabilidade, não se lhe é possível cortar os serviços públicos essenciais.
O STJ vinha entendendo, de forma majoritária, que a interrupção dos serviços essenciais não era possível, pois o fornecedor possuía outros meios para se exigir do consumidor o adimplemento da obrigação.
Por outro lado, alguns autores entendem que a continuidade do serviço público que o código aduz seria àqueles serviços essenciais em relação à coletividade de consumidores, no sentido de que o serviço não poderia deixar de ser ofertado a todos os usuários. Já em relação ao serviço individualizado, o consumidor inadimplente não há nenhum obstáculo para se interromper o serviço, já que o fornecedor desses serviços não poderia ser obrigado a suportar serviços sem a devida contraprestação.. 	
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Pensando o contrário, acabaria onerando o serviço àqueles que pagam devidamente por tais serviços.
 	
Essa tese foi ganhando força, e hoje é o entendimento do STJ. 
A Suprema corte deixou de aplicar a continuidade do serviço mesmo por inadimplemento do consumidor e passou a permitir a suspensão de tais serviços em caso de não pagamento. 
O STJ ainda aduz que o art. 22 do Código de Defesa do Consumidor deve ser interpretado conjuntamente com a lei 8.987/95, cujo artigo 6º, § 3º determina a interrupção, in verbis: 
“não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando por inadimplemento do usuário, considerando o interesse da coletividade”.	
	
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ATENÇÃO:
Para haver a suspensão do serviço público, a inadimplência tem que ser atual, não servindo como meio de cobrança para débitos pretéritos do consumidor, o que configuraria até mesmo uma cobrança abusiva conforme o artigo 42, do CDC – “na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça”.	
Por fim, o STJ tem entendimento quanto à possibilidade de suspensão ou não dos serviços prestados às pessoas jurídicas de direito público. 
O Superior Tribunal aduz que, diante da inadimplência desses entes, pode haver a interrupção do fornecimento do serviço, mas devem-se preservar as unidades públicas 	inadiáveis da coletividade provedoras de necessidades (como por exemplo, um hospital). O STJ invoca o artigo 10 da Lei de Greve para se determinar as unidades públicas.	
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Art. 10, da Lei de 7.783/89: “São considerados serviços ou atividades essenciais: 	
I – tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustível; 	
II – assistência médica e hospitalar; 	
III – distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; 	
IV – funerários; 	
V – transporte coletivo; 	
VI – captação e tratamento de esgoto e lixo;	
VII – telecomunicação; 	
VIII – guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; 	
IX – processamento de dados ligados a serviços essenciais; 	
X – controle de tráfego aéreo; 	
XI – compensação bancária”.	
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UNIDADE II - DA PUBLICIDADE E DA OFERTA 
 Princípio da Publicidade (Princípio da Vinculação Contratual); 
 A publicidade clandestina; 
 A publicidade enganosa; 
 A publicidade abusiva; 
 A prova da verdade e correção do desvio publicitário. 
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A oferta é o meio pelo qual uma mensagem (geralmente uma proposta) é transmitida, tendo o fornecedor como emissor e o consumidor como receptor. 
Conforme o artigo 30 do CDC, a informação e a publicidade integram a oferta. 
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
A oferta já é eficientemente causa que faz criar um liame entre os sujeitos da relação de consumo, ou seja, há uma obrigação pré-contratual, obrigando o fornecedor a cumpri-la nos exatos termos anunciados, vinculando-o contratualmente. 	
A doutrina aponta o Princípio da Vinculação Contratual da Publicidade como fundamento do artigo 30, do CDC.
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Em havendo recusa do fornecedor de cumprir o que ofertou, o consumidor terá o direito potestativo de exigir: 	 	
O cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; ou 
Aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; ou 
Rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, mais perdas e danos (esta hipótese se dá quando o consumidor já tenha realizado o contrato).
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Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
O artigo 31, do Código de Defesa do Consumidor, teve como fundamento os Princípios da Informação e Transparência, todos advindos do sempre presente Princípio da boa-fé objetiva, como já vimos, no estudo do artigo 6º, III.
Com isso, toda oferta, de produtos ou serviços devem assegurar as informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa.	
O descumprimento do artigo em estudo gera vício de informação e, com isso, o fornecedor terá o dever de indenizar os consumidores. Além disso, também constitui crime, conforme o artigo 66 do CDC.
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Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.
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Publicidade Enganosa - É enganosa toda a publicidade que não reflete a verdade, ou que omite informações. Em 2012, o PROCON Carioca multou a Claro em mais de R$ 2 milhões por entender que a operadora se utilizava de tal prática. Segundo o órgão, a Claro divulgou, por meio de anúncio publicitário, que o serviço de internet pré-pago custava R$ 1,99 por dia. Entretanto, o valor era cobrado cada vez que o usuário conectava-se à rede via modem.
Publicidade Abusiva - A publicidade que explora o medo, a superstição ou que induz o as pessoas a se comportarem de forma a prejudicar a saúde, ou segurança, é considerada abusiva. Também se enquadra nessa definição a propaganda discriminatória, a que desrespeita valores ambientais e a que se aproveita da inocência infantil. Em 2012, a Mattel foi multada em R$ 534 mil pelo Procon-SP. De acordo com o órgão, filmes publicitários da Barbie, em que a boneca usava secador e babyliss, foram considerados inadequados por projetarem preocupação exagerada com a aparência e inserção precoce da criança no mundo adulto.
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Art. 60. A imposição de contrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator.
§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo responsável da mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva.
PUBLICIDADE CLANDESTINA:
No Direito Brasileiro, o Art. 36 e seguintes do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, tratam da publicidade. O dispositivo mencionado determina que a publicidade seja transmitida de forma que o consumidor tenha a possibilidade de forma rápida e fácil identifique a mensagem como tal. Ou seja, o CDC, veda a publicidade clandestina ou subliminar, assim entendida aquela que se vale do subconsciente do consumidor para nele incutir o desejo de consumo de produtos e serviços.
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Publicidade CLANDESTINA é aquela utilizada em filmes, desenhos animados, jogos de futebol, onde o produto é estrategicamente exposto (merchandising).
Já a publicidade SUBLIMINAR é aquela que induz o consumidor a consumir, por força subconsciente, determinado produto. Embora muito contestados os efeitos concretos deste tipo de publicidade, ela é sempre tema recorrente.
De acordo com Paulo Jorge Scartezzini Guimarães, pode-se conceituar a publicidade subliminar como aquela inserida dentro de uma imagem (um quadro nas 24 cenas que se sucedem durante um segundo) por duração tão curta que seria imperceptível ao estado de consciência, porém atuando de forma poderosa diretamente no subconsciente, influenciando o comportamento do homem. (GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. A publicidade ilícita e a responsabilidade civil das celebridades que dela participam. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 113).
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O merchandising não é visto como uma técnica de publicidade honesta, pois o público não está consciente do tipo de publicidade que está recebendo e isso dá mais lucro que o modo convencional, pois a pessoa que está utilizando o produto na programação passa emoção e realidade para o consumidor. 
Entretanto, esse merchandising não chega a ser tão nocivo quanto o subliminar, pois pode ser percebido no nível consciente, apesar de transmitir uma mensagem de forma discreta. Já a publicidade subliminar não pode ser identificada pelo telespectador de forma visível e tão pouco consciente. 
E é exatamente isso que diferencia a publicidade subliminar das demais técnicas, ou seja, o fato de esta lidar com informações que são captadas apenas pelo subconsciente do consumidor. 
Enfim, a publicidade procura, através de mensagens subliminares, estimular áreas exatas no cérebro, de modo que este estímulo seja decisivo nas escolhas das pessoas. 
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Em 2012, denúncias de consumidores levaram o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) a investigar três blogs de moda. Havia a suspeita de que elogios publicados pelas blogueiras – referentes a cosméticos encontrados na loja Sephora – eram, na verdade, propaganda paga. Embora a denúncia tenha sido negada pelas autoras dos textos e pela loja, o Conar emitiu uma advertência a todos os envolvidos, recomendando ser necessário deixar claro quando um post tem natureza comercial.
Depois de observar fixamente por 30 segundos para o ponto preto na imagem da bandeira brasileira e olhar logo em seguida para uma folha branca de papel, o que você percebe? 
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A cor vermelha desperta a fome . A cor amarela dá uma sensação de vazio e no símbolo da McDonalds é representada pela letra "M“, em uma imagem que lembra batatas-fritas, e acaba induzindo as pessoas a comerem mais rapidamente. 
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UMA QUESTÃO QUE A DOUTRINA NOS TRAZ É SE O FORNECEDOR PODE ALEGAR QUE HOUVE EQUÍVOCO, ERRO NA OFERTA, COM A FINALIDADE DE SE EXCLUIR DA VINCULAÇÃO DO QUE OFERTOU?
À primeira vista a resposta seria não, a responsabilidade, fundada na teoria objetiva, não permitira tal defesa. 
Todavia, conforme toda a base da boa-fé objetiva tem-se amenizado tal regra se o erro for claramente grosseiro, ou seja, aquele se pode identificar claramente que há um erro na oferta. 
Exemplo seria num jornal em que há preços de produtos de televisão e em vez de sair R$ 100,00 sai R$ 1,00.	
Portanto, o CDC não permite a desvinculação da oferta, salvo, como já vimos, se tratar de erro grosseiro com base na boa-fé objetiva.	
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 ESTRANGEIRISMO
É muito comum, nos dias de hoje, o uso de palavras estrangeiras, seja por estratégia de marketing, ou por não possuirmos tradução legítima para nossa língua. Com isso, é importante realçar que em tais casos, em que as palavras em línguas estrangeiras for notória, tem-se tolerado o uso das mesmas, mesmo que o código exija o uso da língua portuguesa. 	
Todavia, devemos ressaltar que se o consumidor não conhecer a palavra estrangeira e adquirir um produto ou serviço que lhe cause dano, é um risco que o fornecedor corre de responder pelos danos que vierem a causá-lo.
Os produtos importados também devem seguir essa regra da tradução para língua portuguesa. Com 	isso, os importadores e demais fornecedores que querem vender os produtos no mercado interno, devem, antes, possibilitar a tradução de todas as informações contidas, no produto estrangeiro objeto de importação.

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