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2ª UNIDADE: TEORIA DA LEI PENAL
Sumário: 1. Introdução; 2. Norma e Lei penal; 2.1. Classificação; 2.2 Características da Lei Penal; 2.3 Princípio da Legalidade; 2.4 Interpretação da Lei penal; 2.5 Lei Penal no Tempo; 2.5.1 Hipótese de Retroatividade; 2.5.2. Hipóteses de Irretroatividade; 2.5.3. Combinação de Leis penais; 2.5.4. Lei Penal Intermediária; 2.5.5. Ultratividade da Lei Penal; 2.5.6. Lei penal em branco e conflitos de lei penal no tempo; 2.5.7. Lei penal no tempo; 2.6. Aplicação da Lei no espaço; 2.6.1. Lugar do crime; 2.6.2. Conceito de Território; 2.6.3. Princípio da Territorialidade; 2.6.4. Extraterritorialidade; 2.7. Lei penal em relação ás pessoas; 3.0. Disposições Finais sobre a aplicação da Lei penal; 4.0. Conflito aparente de normas penais. 
 
INTRODUÇÃO
Na unidade anterior vimos às fontes do direito penal, onde identificamos a lei como fonte formal imediata do Direito Penal. Senão relembremos ao menos a classificação das fontes do direito penal: 
● Fontes do Direito Penal: é a origem primária do direito, identificando-se com a gênese das normas jurídicas. É o lugar de onde o direito provém. No sentido aqui empregado, fontes do direito são todas as formas pelas quais são criadas, modificadas ou extintas as normas de determinado ordenamento jurídico. São classificadas, tradicionalmente em, em fonte material e fonte formal.
a) Fonte material; (produção ou substancial): refere-se ao órgão incumbido de sua elaboração. → C.F. art. 22, I - A UNIÃO. (Exceção: P.único - Competência suplementar dos Estados, em matéria especifica indicada por lei complementar, de interesse local). 
b) Fonte formal;(de cognição ou de conhecimento): refere-se ao modo pelo qual o direito penal se exterioriza.
b.1) imediata: LEI - (exclusividade, generalidade, imperatividade e impessoalidade).
b.2) mediata: I. Costumes: Conjunto de normas de comportamento criadas espontaneamente pela consciência comum do povo que observa de modo constante e uniforme pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica.
 		II. Jurisprudência: Se processa através do exercício da jurisdição, em virtude da sucessão harmônica das decisões dos tribunais.
		III. Doutrina: resultado da atividade jurídico cientifica dos estudos dos juristas que analisam e sistematizam as normas jurídicas, através de elaborações, conceitos e interpretações das leis, emitindo juízo de valor a respeito de conteúdos e disposições legais e apontando sugestões e reformulações do direito vigente.
		IV. Ato administrativo nas normas penais em branco - (Rogério Sanches).
Neste momento, nos interessa o estudo da lei penal, pois como fonte formal imediata do Direito Penal incumbe, exclusivamente, por disposição constitucional, o papel de criar infrações penais e cominar-lhes as penas respectivas. 
NORMA E LEI PENAL.
	A ordem jurídica é, por excelência, normativa, de cunho ético, e se exprime por meio de regras de condutas essencialmente imperativas. Isso significa que a norma jurídica prescreve - ORDENA PROÍBE - determinada maneira de agir, regulando, assim, a vida do homem em sociedade.
	2.1 - CLASSIFICAÇÃO OU ESPÉCIES: 
			As normas penais apresentam diversas divisões. Das muitas abordagens podem ser estudadas da seguinte forma: 
 		A. Normas Não incriminadoras: Não definem condutas proibidas, nem prevêem sanções explicitas. Subdividem-se em: 
			A1. Normas Permissivas: Tornam licitas determinadas condutas típicas excluindo a ilicitude. Em regra estão revistas na parte geral (C.P, art. 20, art. 23), mas podem ter previsão na parte especial, tal como ocorre nos arts. 128 (aborto legal) e 142 (exclusão da ilicitude nos crimes contra a honra) do código penal. 
 
			A2. Normas exculpantes: estabelecem a não culpabilidade do agente ou ainda a impunidade de determinados delitos. Estão presentes tanto na parte geral quanto na parte especial (C.P, arts. 27, 28,§ 1º, art. 312, § 3º, 1ª. Parte e 342, § 2º);
			A3. Normas Interpretativas ou Explicativas: são aquelas que esclarecem o conteúdo das normas penais ou delimitam o âmbito de aplicação da pena. Art. 4º, Art.10, art. 33, art. 150, § 4º e art. 327;
			A4. Normas de Aplicação ou complementares: delimitam o campo de validade das leis incriminadoras: arts. 2º. e 5º. do Código Penal;
			A5. Diretivas: normas que estabelecem princípios de determinada matéria. Ex: art 1º. do C.P. (Princípio da reserva legal);
			A6. Integrativas ou de extensão: são normas que completam a tipicidade no tocante ao nexo causal nos crimes omissivos impróprios, à tentativa e à participação (CP, arts. 13, § 2º, 14,II e 29, caput). 
		B. Normas Incriminadoras: Descrevem condutas proibidas e prevêem as respectivas sanções. Enfim descrevem os comportamentos delituosos, chamados de infrações penais, estabelecendo a proibição de forma indireta, através da ameaça de pena. A legislação penal brasileira optou pela proibição indireta, descrevendo o fato como pressuposto da sanção. 
São imperativas, pois há um valor que deve ser realizado na conduta, como um dever ser imperativo. São elaboradas a partir de um juízo de valor prévio da realidade (fato/ação humana). O que encarece é lembrar que toda a proibição ou mandato subjaz uma decisão: O que se quer preservar ou criar é valorado de forma positiva, juízo de valor positivo para todo acontecimento que favoreça a manutenção de um bem jurídico; e o que se quer evitar ou extinguir é valorado de forma negativa, juízo de valor negativo para todo acontecimento que lesione ou prejudique o bem jurídico. Portanto, a função prescritiva da norma: proíbe-se (ou ordena-se) ação (omissão) humana, valorada negativamente, porque adequada a ofender bens jurídicos. 
	NORMA DECRITIVA → V.g. Matar alguém = Desvalor do resultado. 
	NORMA PRESCRITIVA → V.g. Deixar de prestar socorro = Desvalor da ação. 
B.1. Elaboração da Norma Incriminadora:
			
 
OBS: A confusão de Binding.
B.2. Partes da Norma Incriminadora.
	A. Preceito Primário: Descrição da conduta; 
	B. Preceito Secundário: Sanção.
C. Normas Penais em branco.
		Em razão do princípio da legalidade o Direito penal busca definir condutas de modo autônomo os pressupostos de suas normas, evitando a remissão a outras regras do ordenamento jurídico.
		Ainda assim, a regulação jurídico-penal de certas matérias (economia popular, meio ambiente, relações de consumos, saúde pública, ordem tributária) condicionadas a fatores históricos, sócio-culturais, que exigem uma atividade normativa constante e variável, costuma ser realizada por imperiosa necessidade de técnica legislativa, a denominada lei penal em branco. As mutações impostas em razão do tempo e do lugar se fazem por meio de atos legislativos. Que sublima a vantagem de dar estabilidade ao dispositivo principal. O preceito secundário está completo, permanecendo indeterminado seu conteúdo. 
		Assim, as normas penais BRANCO: são aquelas que há uma necessidade de complementação para que se possa compreender o âmbito de sua aplicação de seu preceito primário.
 		A descrição requer, obrigatoriamente, um complemento extraído de um outro diploma - leis, decretos, regulamentos e etc. Levando em conta a origem do complemento elas podem ser:
			1ª. Normas Penais em Branco HOMOGÊNEAS (ou em sentido estrito): quando o complemento é oriundo da mesma fonte legislativa, no nível idêntico a que descreve a conduta. V.g Art. 237 do C.P e Art.183, I a VI do C.C.(contrair casamento com causa absoluta de nulidade)
			 
			2ª. Normas Penais em Branco HETEROGÊNEAS (ou em sentido amplo): quando o complemento é oriundo de fonte legislativa diversa, no nível diverso da que descreve a conduta. V.g Art. 2º, VI, da lei 1.521/51 (Crime contra a economia popular e Tabela de preços oficias) V.g. Lei 11.343 (Drogas definição na portaria da ANVISA). 
Atenção: Não confundir normas penais em branco com normas penais imperfeitas ou incompletas.
	
Normas penais incompletas são aquelas que não descrevema sanção imposta pela transgressão de seu preceito primário, o legislador nos remete a outro texto de lei. Existe a previsão da hipótese fática (preceito incriminador), sendo que a conseqüência jurídica localiza-se em outro dispositivo da própria lei ou em diferente texto legal. V.g. Art.1º da Lei 2.889/56 (Maggiore chama de normas de REENVIO). Art. 304, ao mesmo tempo N. imperfeita e NP em branco em um único tipo penal.
2.2 CARACTERÍSITCAS DA LEI PENAL 
Exclusividade: só a lei pode criar delitos e penas (CF, art. 5º, XXXIX e CP, art. 1º.);
Imperatividade: o seu respeito é obrigatório, pois o descumprimento acarreta a imposição de uma sanção penal;
Generalidade: dirigi-se indistintamente a todas as pessoas, inclusive aos inimputáveis. Dirigi-se a todas as pessoas que vivem no território nacional ou são alcançadas por preceitos extraterritoriais.
Impessoalidade: projeta seus efeitos indistintamente contra todas as pessoas que venham a cometer fatos delituosos futuros, com exceção da anistia e fatos concretos, que alcançam fatos concretos.
Anterioridade: as leis penais incriminadoras apenas alcançam prática de infração penal desde que estejam em vigor quando do cometimento da infração, com exceção da lei mais benéfica ou abolitio criminis. 
 
2.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
É justamente relacionado às normas incriminadoras que encontramos o princípio da legalidade em sua forma mais pura, Princípio da reserva legal.
		► “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há crime sem prévia cominação legal” Só a lei em seu sentido mais estrito, emanada do Poder Legislativo, pode definir crimes e cominar penas. Mas semelhante princípio seria de todo inútil caso pudesse a nova lei retroagir para incidir sobre fatos consumados antes de sua entrada em vigor. Assim, decorre do principio da legalidade:
a) proibir a retroatividade da lei penal;
b) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes;
c) proibir o emprego da analogia para criar crimes;
d) A lei deve ser escrita, clara, certa, determinada, popular, estrita, prévia e descrever uma ofensa ao bem jurídico relevante.
e) Afasta a possibilidade de Medida Provisória criar condutas delituosas. Art. 62, §1º., I, b.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
 INTRODUÇÃO
A interpretação e a aplicação do direito formam um processo único e complexo que compreendem a análise e apreciação dos fatos, provas e textos, de sorte que constituem momentos dos mais importantes da (re) construção social da realidade, arbitrária e seletiva. Interpretar a lei penal é procurar seu sentido, seu alcance e sua correta aplicação ao caso penal e, sendo a lei a única fonte formal de incriminação, a hermenêutica adquire maior relevância no Direito Penal. A interpretação sempre é necessária, ainda que a lei se mostre, inicialmente, inteiramente clara, pois podem surgir dúvidas quanto aos seus efetivos alcances.
2.4.6 ESPECIÉS DE INTERPRETAÇÃO
Pode a interpretação ser classificada levando-se em conta o sujeito responsável pela sua realização, os meios de que sés ervem o intérprete e, por último, os resultados obtidos.
Quanto ao sujeito:
► legislativa ou autêntica: o próprio legislador edita uma lei com o propósito de esclarecer o alcance e o sentido de outra, podendo ser contextual (quando tem vigência concomitante à da lei interpretada – ex: art. 13 – causa/ art. 327- funcionário público, ambos do CP), ou sucessiva (quando é posterior – ex: art. 1º da lei n. 5429/67 em relação à lei n. 4898/65) e sua incidência é retroativa (ex tunc) em ambos os casos;
► doutrinária: exercida pelos juristas, doutrinadores e operadores do direito, por meio de suas obras, artigos, pareceres, etc., bem como pelos parlamentares através de estudos e exposições de motivos que acontecem no decorrer do processo legislativo;
► Judicial ou jurisprudencial: é a interpretação exercida pelos membros do Poder Judiciário, nas decisões de casos concretos que lhes são submetidos, que, não raro, inspiram o legislador, como no caso da prescrição retroativa. Possuem força obrigatória dentro do caso concreto decidido, através da coisa julgada, e quando perfizer súmula vinculante (CF, art. 103-A e Lei 11.417/2006).
b) quanto ao objeto:
► literal ou gramatical: flui da acepção literal das palavras, procura o significado técnico ou gramatical – deve servir apenas como ponto de partida;
► lógico: busca o significado racional do texto, busca a se genuína vontade manifestada na lei, podendo utilizar-se de seguintes elementos: sistemático (vê o contexto em que a lei se insere, cotejando a norma com outras dentro do ordenamento jurídico, ou seja dentro do sistema), teleológico (procura a finalidade da norma, a mens legis), histórico (analisa o processo de formação da lei, a evolução histórica da lei e do seu objeto, partindo, inclusive da análise das suas raízes) e sociológico (considera a realidade social a fim de que se adapte a norma a ela).
c) quanto ao resultado: 
► declaratória: quando o texto interpretado diz exatamente o que teve intenção de dizer. Nada resta a ser retirado ou acrescentado;
► restritiva: quando o texto interpretado diz mais do que teve intenção de dizer (plus dixit quam voluit), cabendo ao intérprete a sua redução – ex: o art. 28 diz que a emoção não exclui a imputabilidade penal, mas como a palavra "emoção" tanto pode significar uma perturbação momentânea da consciência quanto um sintoma de doença mental, deve se entender que o artigo mencionado quis se referir apenas ao primeiro sentido;
► extensiva: quando o texto interpretado diz menos do que teve intenção de dizer (minus dixt quam voluit), cabendo ao intérprete a sua ampliação, seja ela favorável (acolhida sempre – ex: é causa de extinção da punibilidade o casamento do agente com a vítima, cf. art. 107, VII, devendo ser incluído também o casamento da agente com a vítima) ou desfavorável (quando a técnica de redação da própria lei autoriza a ampliação – ex: o art. 235 fala de bigamia, mas deve ser abrangida também a poligamia).
					2.4.7 ANALOGIA E INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
A hipótese de interpretação extensiva desfavorável ao Réu não se confunde com a utilização da analogia in mala partem.
A interpretação extensiva ou analógica ocorre quando a própria lei faz uma definição casuística, elegendo alguns paradigmas. Após o elenco do(s) paradigma(s), a lei utiliza a expressão “ou outro...”, com as características daquele paradigma que devem ser levados em conta. Quando à autorização legal de ampliar o sentido se dá por meio de uma fórmula genérica, após enumeração casuística, tem-se a interpretação analógica ou intra legem, espécie da extensiva, portanto, de que é exemplo o art. 121, §2º, III, que diz "com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum").
Apesar de alguns defenderem que sempre existe uma norma para cada caso (dogma da completude), é possível que, ocorrendo um fato concreto, haja uma lacuna jurídica ou vazio normativo, pois o legislador não teria capacidade de prever todos os fatos da vida social, até porque eles são mutáveis.
Para solucionar este tipo de problema, o Direito Penal deve-se valer das regras de integração sistemática, principalmente a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito e a eqüidade.
Pelo princípio da reserva legal, os tipos penais incriminadores devem ser previstos em lei – logo, não se admitem analogia, costumes ou princípios gerais para resolver uma lacuna de lei penal incriminadora ou agravadora. Já na lacuna de tipos penais permissivos é possível o uso de tais recursos para estender o benefício a situações não abarcadas previamente pela lei – ex: não se pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estupro (art. 128, II, CP) e, por analogia in bonam partem, se ela resulta de atentado violento ao pudor. Não se confunde a analogia com a interpretação analógica, pois esta supõe um fato e uma lei válida que,ao regulá-lo, utiliza-se de expressões semelhantes, enquanto aquela supõe dois fatos semelhantes e uma lei, que regula apenas um dos fatos.
2.5 A LEI PENAL NO TEMPO
	O período de vigência da lei penal não apresenta exceções às normas que regulam as leis em geral. A lei começa a produzir efeitos após sua entrada em vigor, geralmente passando pelo período da vactio legis, passando a regular todas as situações futuras. Permanece em vigor até que outra lei a modifique ou revogue, a menos que se trate de lei temporária. A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação); expressa ou tácita. 
	O princípio básico que domina a sucessão de leis e a sua aplicação é o tempus regit actum: os fatos são regulados pela lei do tempo em que se verificam. Assim, a lei regula todas as situações ocorridas durante o seu período de vida, isto é, de vigência, denomina-se atividade. A atividade é a regra. A extra-atividade ocorre somente da lei mais benéfica. A irretroatividade, no campo da lei penal, somente se aplica aquela que agrava a situação do réu. Quando a lei regula situações passadas, a extra-atividade é conhecida como retroatividade. Quando a lei regula situações futuras, a extra-atividade denomina-se ultra-atividade.
 
Art. 2º. “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.
	O conflito de leis penais que se sucedem no tempo resolve-se sempre pela aplicação de um princípio básico, que é o retroatividade ou ultra-atividade da lei mais benigna (extra-atividade da lex mitior).A lei mais severa em nenhum caso retroage. 
	
As possíveis hipóteses foram identificadas por José Frederico Marques, são elas: Abolitio Criminis, Novatio Criminis, Novatio legis in mellius, novatio legis in pejus, que de maneira lógica podem dividir-se em hipóteses que retroagem e hipóteses que não retroagem.
		
2.5.1 HIPÓTESES DE RETROATIVIDADE:
“ABOLITIO CRIMINIS” (ou descriminalização): a lei nova exclui normas incriminadoras. RETROAGE- DESAPARECE OS EFEITOS PENAIS.(Caput do art. 2º CP e art.5º, XL, da CF).
		V.g. adultério, sedução,rapto consensual ... (Permanecem os efeitos civis)
 “NOVATIO LEGIS IN MELLIUS”(lei peal mais branda): lei posterior que altera para melhor a situação do agente no caso concreto. RETROAGE. V.g. lei 9.437/97 estabelecia aumento de pena para quem já tivesse condenação por crime contra a pessoa, contra o patrimônio e entorpecente. 
2.5.2 HIPÓTESES DE IRRETROATIVIDADE:
“NOVATIO CRIMINIS”: lei incriminadora cria novos tipos penais, novas condutas delituosas, sua aplicação se limitará ás situações a partir de sua entrada em vigor, não antes. NÃO RETROAGE.
			V.g. Lei 9.503 Racha e Estatuto do idoso art. 95, art. 104.
“NOVATIO LEGIS IN PEJUS”: lei posterior que de qualquer modo vem agravar a situação do agente. O tratamento mais severo ( aumentando as penas, vedando a progressão de regimes, vendando a concessão de benefícios...) só será aplicará as infrações consumadas a partir de sua efetiva vigência. NÃO RETROAGE. 
		V.g. crimes hediondos, lei Maria da Penha. 
		*(Exceção das normas temporárias ou excepcionais).
► Crimes permanentes e continuados- Sumula 711 STF - aplicam-se a lei in pejus.
Parágrafo único do art.2º. “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. [Quantum debeatur] ?
A persecução penal ainda não iniciou - Não se instaura inquérito policial. E não oferece denúncia;
O processo está em aberto, foi só recebida denúncia - tranca a ação penal;
Já existe sentença condenatória com trânsito em julgado: a pena não pode ser executada;
O condenado está cumprindo pena: decreta a extinção de punibilidade, deve ser solto. 
IRRETROATIVIDADE DA JURISPRUDÊNCIA 
Paulo Queiroz, de modo inovador, indaga ainda se o princípio da legalidade e seus corolários estariam a atingir aos precedentes judiciais que confiram ás normas interpretação desfavoráveis ao réu. 
 O brilhante penalista alemão, Claus Roxin, capitania o entendimento majoritário quando afirma que a proibição de retroatividade de se refere à lei, exclusivamente, pois a nova interpretação não é uma punição ou agravação retroativa, mas a realização de uma vontade da lei, que já existia desde sempre e que somente agora foi corretamente reconhecida. 
Em oposição à maioria Odone Sanguiné afirma que a solução está na perspectiva constitucional, estendendo a proibição de retroatividade às alterações jurisprudenciais desfavoráveis ao réu, quando sublima a segurança jurídica, o princípio da irretroatividade e a separação dos poderes. Por fim, argumenta Sanguiné que a lei e sua interpretação possuem um vínculo necessário de complementação, de modo que a realidade jurídica do princípio da legalidade só será atendida quando, para determinado tipo penal,vigore a mesma interpretação que lhe era dada à época do cometimento do fato e que corresponda à verdadeira pretensão normativa. 
2.5.3 COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS (Lex Tertia)?
Pode ocorrer o conflito entre duas leis penais sucessivas no tempo, cada qual com partes favoráveis e partes desfavoráveis ao réu. Exemplo: A lei “X” comina a certo crime as penas de reclusão – 1 á 4 anos e multa. Posteriormente, tal lei é revogada por outra, “Y”, a qual prevê ao mesmo delito a pena de reclusão – 2 á 6 anos, sem multa. A questão reside se ao juiz é dado utilizar as partes que beneficiam ao réu, na lei “X” (pena de 1 á 4) e na lei “Y” (sem multa), formando uma lei híbrida? 
Ou verbi gratia: 
A doutrina se divide acerca do assunto:
Aqueles que se posicionam contrariamente (Hungria, Fragoso e Aníbal Bruno etc.) alegam em geral que a combinação implicaria criação de uma terceira lei (Lex tertia) e o juiz estaria assim usurpando função própria do legislador em afronta ao princípio da legalidade e divisão de poderes. 
Os favoráveis (Bittencourt, Frederico Marques, Damásio, Paulo Queiroz, Juarez Cirino dos Santos, entre outros) argumentam que é dado ao juiz escolher entre duas disposições legais, a que lhe pareça mais benigna, não sendo exacerbação de poder combinar ambas. Pois, quem pode o mais pode o menos. Paulo Queiroz chega afirmar que não vê combinação, apenas retroatividade parcial da lei. Sendo impróprio falar em criação de uma nova lei, sendo a solução simples decorrência da aplicação simultânea de leis igualmente válidas. E não admiti-la, a pretexto de que tal importaria criar lex tertia, é negar vigência ao princípio constitucional da retroatividade da lei mais favorável. 
Nos últimos anos, o STF tem se mostrado contrário à combinação de leis em prol do acusado. (HC 68.416/DF) 
 
Lei penal Intermediária
É possível nos casos de sucessão de leis penais a aplicação de uma lei intermediária mais favorável ao réu, ainda que não seja a lei em vigor quando da prática da infração penal ou a lei vigente a época do julgamento. Assim, por exemplo, ao tempo da conduta delituosa vigora a lei “A”, sucedida pela lei “B” (mais favorável), encontrando-se em vigor ao tempo da sentença a lei “C”. Enfim, prevalecerá sempre a lei mais favorável, independentemente de ser a lei vigente à época do fato, á época do julgamento do fato ou intermediária. 
Ultratividade da Lei penal: leis temporárias e leis excepcionais
A lei penal temporária é aquela que tem a sua vigência predeterminada no tempo, isto é, o seu termo final é expressamente previsto (25 de dezembro...) em data certa do calendário, morem com a data aprazada.
 	A lei excepcional, por outro lado, é aquela que possui sua vigência vinculada a uma dada situação de anormalidade, são vigentes enquanto durar as circunstâncias descritas, quer seja uma situação de emergência, calamidade, comoção interna, guerra, catástrofe ou afins. 
Essas leis são AUTO-REVOGÁVEIS. Não precisam de outra lei que as revogue. Bastaa superveniência do dia nela previsto (temporária) ou o fim da situação de anormalidade (excepcional) para que deixem automaticamente, de produzir os efeitos jurídicos. Por esse motivo, são classificadas como leis intermitentes.
Ambas possuem ULTRATIVIDADE, aplicam-se aos fatos cometidos durante sua vigência, embora decorrido o período de sua duração (temporária) ou cessadas as circunstâncias que a determinaram (excepcional). Conforme determina o Art. 3º. Do Código Penal.
Parte da doutrina põe em dúvida a constitucionalidade do Art. 3º, CP, posto que constitui, segundo eles, exceção à irretroatividade legal que consagra a Constituição (Salvo para beneficiar o réu) e não admite exceções, ou seja, possui caráter absoluto (C.F. , inc. XL). 
 
Leis penais em branco e conflito de leis no tempo 
Já vimos que normas penais em branco (Binding) são tipos penais cujo conteúdo, incompleto, é integrado por outra regra jurídica (lei, decreto, regulamento, portaria), ou, a complementação da descrição da conduta proibida é remetida para outras normas legais, regulamentares ou administrativas.
Em tempo citamos como principais exemplos o art. 269 (omissão de notificação de doença), a conduta do tráfico de drogas da lei 11.343 e a conduta que fere a economia popular em períodos de congelamentos e produtos.
A questão aqui é saber s na hipótese de revogação das normas complementares (lei, decreto, regulamento e portaria), se teriam ou não efeito retroativo.
Com efeito, o complemento da lei penal em branco pode assumir duas naturezas distintas: A) NORMALIDADE (a retroatividade é obrigatória) e B) ANORMALIDADE (ocorre a ultratividade, aplica-se). Assim, se essas normas não tiverem caráter temporário ou excepcional, terão efeito retroativo sempre que beneficiem o réu (v.g. caso da descriminalização da maconha). Contrariamente, em caráter excepcional ou temporário, tal qual no caso da tabelas de preços (crimes contra a economia popular), mesmo após a cessação da sua vigência, continuarão regendo as situações consumadas durante a sua existência, em face do seu caráter temporário. 
 
Tempo do crime
Para a aplicação da lei penal é necessária a identificação do momento em que se considera praticado o crime, para que se opere a aplicação da lei penal ao seu autor. Existem três teorias para melhor explica o tempo do crime, que são elas:
Teoria da atividade – considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o momento do resultado.
Teoria do resultado – estabelece que o crime considera-se praticado no momento da ocorrência do resultado.
Teoria mista ou da ubiqüidade – concede igual relevo aos dois momentos apontados pelas teorias anteriores, asseverando que tempo do crime será o da ação ou omissão, bem como o do momento do resultado.
O momento da conduta, comissiva ou omissiva, será, portanto, o nosso marco inicial para todo tipo de raciocínio que se queira fazer em sede de extra-atividade da lei penal, bem como nas situações onde não houver sucessão de leis no tempo.
O art. 4º. do C.P. acolheu a teoria da atividade, o momento da ação ou omissão determina o momento em que o crime considera-se praticado, ainda que em outro momento tenha decorrido o resultado.
Daí surgem algumas conseqüências:
Aplica-se a lei em vigor ao tempo da conduta, exceto se a do tempo do resultado for mais benéfica;
A imputabilidade é apurada ao tempo da conduta
No crime permanente e no crime continuado, em que a conduta tenha se iniciado sob o império da lei mais branda e prossegue até atingir a vigência da lei mais grave, aplica-se a lei nova em vigor, ainda que mais severa; (Súmula 711 do STF)
No crime habitual aplica-se a lei mais nova, mesmo que mais severa, desde que tenha havido reiteração da conduta sob a égide da lei nova.
◙ ATENÇÃO: Em matéria de prescrição, o art. 11, do código penal preferiu a teoria do resultado.
 APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO
A aplicação da lei penal no espaço relaciona-se com os limites de incidência e eficácia de normas penais de determinado Estado soberano quanto a infrações ocorridas sob a sua própria soberania ou sob a de outro Estado. A importância decorre da necessidade de apresentar solução aos casos em que um crime viole interesses de dois ou mais países, ou porque a conduta foi praticada no território nacional e o resultado ocorreu no exterior, ou porque a conduta foi praticada no exterior e o resultado ocorreu no território nacional. 
 O princípio geral é o locus regit actum ou da territorialidade, inerente à soberania, eis que não existe Estado sem território sobre o qual incide seu ordenamento jurídico: a aplicação territorial da lei é a projeção, na delimitação geográfica e política do Estado da sua própria soberania. Todavia essa territorialidade não é absoluta, mas moderada, visto que excepciona regras de Direito Internacional (art. 5º, CP), chamadas de regras de extraterritorialidade. Assim, podemos afirmar que o Código Penal brasileiro limita o campo de validade da lei penal com observância de dois vetores fundamentais: a territorialidade (art. 5º) e a extraterritorialidade. Com base neles se buscam solucionar os conflitos de leis no espaço. 
Mas para entender tais princípios, é mister responder a algumas questões:
a) onde se considera praticado o crime?
b) o que é território nacional?
c) quando a lei penal brasileira não é aplicável ao crime ocorrido em território nacional?
		2.6.1 Lugar do crime
A maioria dos crimes se dá num único local (crime unilocal); às vezes, porém, as fases de realização das infrações podem ocorrer em lugares diferentes, como nos crimes plurilocais (quando as etapas do iter acontecem em locais diversos, porém dentro do mesmo território – têm relevância apenas processual) e nos crimes à distância ou de espaço máximo (quando as etapas ocorrem em territórios diferentes). Existem três teorias para definir onde se considera praticado o crime:
teoria da atividade ou da conduta: lugar do crime é aquele onde foi praticada a ação;
b) teoria do resultado ou do evento: lugar do crime é aquele em que se produz o resultado pretendido pelo agente ou onde ele deveria ter sido produzido; 
c) teoria da ubiqüidade ou mista: lugar do crime é aquele onde tanto ocorreu a conduta quanto o resultado, tanto faz a ação ou do resultado.
As duas primeiras teorias podem levar a um absurdo lógico, pois se um crime plurilocal for cometido num Estado que adota o critério do resultado e seu resultado for produzido em outro que adota o critério da atividade, haverá a impunidade do crime, o que não acontece com o critério da ubiqüidade, acolhido pelo nosso CP, art. 6º. Em outras palavras, basta que o crime tenha “tocado” o território nacional, isto é, que qualquer dos elementos do iter puníveis (a partir da execução até a consumação) tenham ocorrido no território nacional.
				2.6.2 Conceito de Território
Território nacional é o espaço geográfico da soberania, incluindo o mar territorial (doze milhas – lei n. 8.617/93) e o espaço aéreo correspondente. Também são consideradas território nacional as embarcações e aeronaves públicas ou as que estão a serviço do Estado, onde quer que se encontrem, bem como as embarcações e aeronaves brasileiras, mercantes ou de propriedade privada quando estiverem em alto mar ou no espaço aéreo correspondente – é o território nacional por extensão (art. 5º, §1º). São também consideradas território nacional as embarcações e aeronaves privadas estrangeiras que estejam em mar territorial brasileiro ou no espaço aéreo correspondente quando da prática da infração (art. 5º, §2º). As embarcações e aeronaves públicas estrangeiras não são consideradas território nacional, mesmo que estejam em mar territorial brasileiro ou no espaço aéreo correspondente quando da prática da infração.
De ver-se que não há extensão territorial quando se trata de embaixadas, consulados, legados ou prédios públicos, apenas a aplicação da lei brasileiraem crimes ocorridos em seu interior pode sofrer limitações quanto às pessoas que exercem determinadas funções em virtude de convenções ou tratados diplomáticos.
2.6.3 Princípio da Territorialidade
	Este princípio é a principal forma de delimitação do espaço geopolítico de validade da lei penal nas relações entre Estados soberanos. Por isso, o Código Penal, de conformidade com a Constituição Federal (arts. 1º., I e 4º. , II), consagra (art. 5º. Caput) o princípio da territorialidade segundo o qual ao Estado brasileiro compete apurar, processar e julgar todas as infrações penais ocorridas em território nacional, independentemente da nacionalidade dos envolvidos (autores e vítimas).
	Essa é a regra geral. Aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos no terirrório nacional. Há exceções que ocorrem quando o brasileiro pratica crime no exterior ou um estrangeiro comete delito no Brasil. Deste modo diz-se que a adoção deste princípio não se deu de forma absoluta, mas de modo mitigado ou temperado.
				2.6.4 Extraterritorialidade
Em alguns casos, o Direito Penal brasileiro pode alcançar condutas ocorridas fora do território nacional, o que se chama de extraterritorialidade, para infrações que, de algum modo, têm grande relevância para o país e, mesmo, para a comunidade internacional, e se coaduna com um programa mundial de repressão à criminalidade. É preciso, contudo, que haja um liame entre o ordenamento brasileiro e o crime cometido no exterior a fim de conferir-lhe legitimidade para a punição. A extraterritorialidade é regida pelos princípios:
a) princípio da proteção ou da defesa real: aplica-se a lei penal brasileira ao crime cometido contra bem jurídico brasileiro no exterior (art. 7º, I, b e c)
b) princípio da personalidade: aplica-se a lei brasileira do país de origem de uma das pessoas envolvidas no delito (sujeito ativo ou passivo) e subdivide-se em:
– personalidade passiva: a lei penal brasileira aplica-se ao crime praticado contra brasileiro no exterior (art. 7º, I, a e §3º);
– personalidade ativa: a lei penal brasileira aplica-se ao crime cometido por brasileiro em outro país (art. 7º,I, d e II, b)
c) princípio cosmopolita, da competência universal ou da justiça universal: a lei penal brasileira é aplicável aos crimes que, pela sua repercussão internacional, o Brasil se comprometeu a reprimir por meio de tratados e convenções (art. 7º, II, a).
d) princípio da representação quando o Estado em cujo território ocorreu a infração deixa de submeter o autor à sua jurisdição. Aplica-se a lei brasileira aos crimes cometidos no interior de embarcações e aeronaves brasileiras, mercantes ou de propriedade particular quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados (art. 7º, II, c).
A extraterritorialidade pode ser condicionada ou incondicionada, isto é, para que a lei brasileira seja aplicável pode ser ou não necessário o preenchimento de outros requisitos (condições objetivas de punibilidade), além do elemento de conexão. Tais requisitos encontram-se nos §§ 2º e 3º, art. 7º, CP.
São condições para que a lei penal brasileira seja aplicável por força dos princípios da nacionalidade ativa, da justiça universal e da representação: "a entrada do agente no território nacional, a punibilidade do crime no Estado em que ocorreu, a possibilidade de extradição, a inocorrência de absolvição ou de cumprimento de pena no estrangeiro e inexistência de perdão ou de extinção da punibilidade.
Para o princípio da nacionalidade passiva, além dessas condições, é necessário, ainda, que não tenha sido pedida ou negada a extradição e que tenha havido requisição do Ministro da Justiça.
A extraterritorialidade é incondicionada quando, existindo o elemento de conexão, a lei penal brasileira incide, independentemente da ocorrência de qualquer outra condição. Ela se dá nos casos do inciso I do art. 7º, CP, ainda que o agente tenha sido absolvido ou condenado no estrangeiro (§ 1º, art.7º).
O art. 8º disciplina os efeitos da pena cumprida no estrangeiro por crime também sujeito à lei brasileira. Para evitar o bis in idem, o CP estabelece duas regras: se a pena cumprida no estrangeiro for da mesma natureza da pena aplicada no Brasil, faz-se a detração (art. 42); se de naturezas diversas, a pena brasileira será atenuada (art. 8º).
Jurisdição é ato de soberania. Por isso mesmo, a sentença estrangeira tem seus efeitos limitados no Brasil. Ela depende de homologação no STF (a rigor, é a homologação do STF que produz efeitos), apenas para obrigar o condenado à reparação do dano e outros efeitos civis, e para sujeitá-lo a medida De segurança.
	Sem prejuízo dos casos previstos pelo Código Penal, o art. 2º. da Lei 9.455/1997 estatui mais uma situação de extraterritorialidade incondicionada, nos seguintes termos: “O disposto nesta lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisidição brasileira”. 
 LEI PENAL EM RELAÇÃO AS PESSOAS
Ao adotar o princípio da territorialidade o código penal o faz de modo mitigado, não é absoluto, pois há casos de crimes cometidos em nosso território que não se sujeitam à aplicação da lei penal brasileira: são as prerrogativas dadas a pessoas que exercem determinadas funções, e essas imunidades decorrem tanto de convenções, tratados e regras internacionais (imunidades diplomáticas), quanto do Direito Constitucional (imunidades parlamentares e do advogado).
A imunidade não fere o principio da isonomia porque ela não é pessoal, mas sim funcional. A imunidade pode ser:
a) Imunidade diplomática: prerrogativa de direito público interno de que desfrutam os diplomatas, os funcionários do corpo diplomático e família.
b) Imunidade parlamentar: acolhida pelo artigo 53 da CF pode ser imunidade absoluta, em relação à palavra, voto e opiniões, está protegido penal, civil, disciplinar e politicamente; ou imunidade relativa, de natureza formal ou processual, previstas no art. 53, §1º, a 6º, da Constituição Federal, se referem:
			● À PRERROGATIVA DE FORO (§1º), desde a expedição do diploma serão submetidos a julgamento no STF;
			● À PRISÃO (§2º), os membros não poderão ser presos, salvo em flagrante delito de crime inafiançável. Nesse caso os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas para que à Casa respectiva, pelo voto da maioria, resolva sobre a prisão. O excesso do prazo, 24hs, não descaracteriza a prisão em flagrante. 
			● AO PROCESSO (§ 3º), recebido o processo, por crimes cometidos após diplomação, contra Deputados ou Senadores o STF dará ciência a casa legislativa respectiva, que por iniciativa de partido político com representação e pelo voto da maioria de seus membros, poderá até decisão final, sustar o andamento da ação. A sustação do processo suspende a prescrição. 
			● SERVIR COMO TESTEMUNHA (§6º), não serão obrigados a servir como testemunha sobre informações prestadas ou recebidas em razão do mandato. 
		Com relação aos Deputados Estaduais as imunidades parlamentares são automaticamente deferidas por força do disposto no art. 27, §1º, da CF.
		Quanto aos vereadores apenas a imunidade absoluta ou inviolabilidade lhes são garantidas. 
 
A imunidade diplomática é concedida ao agente diplomático que pratique crime em nosso território; em verdade, ela não significa isenção de crime, pois o agente pode ser submetido a julgamento pelo Estado acreditante, mas exclusão da jurisdição brasileira. Funda-se nas práticas de respeito e cortesia, indispensáveis para a convivência harmoniosa entre os povos.
São imunes o embaixador ou agente diplomático, os familiares e as pessoas que exercem função diplomática (mesmo que brasileiras), bem como os abrigados ou asilados no espaço físico da legação, seus documentos e correspondência. Não o são os empregados particulares (mesmo que estrangeiros) e o pessoal nãooficial da missão diplomática que não represente o país estrangeiro, como os cônsules.
 DISPOSIÇÕES FINAIS SOBRE A APLICAÇÃO DA LEI PENAL
3.1. Eficácia de sentença estrangeira
A sentença penal estrangeira produz alguns efeitos no Brasil , independentemente de qualquer condição. É considerada nesses casos, como fato jurídico, capaz de produzir efeitos jurídicos perante a lei brasileira. Bastará, pois uma prova documental idônea (certidão devidamente trazida, por exemplo) para que a sentença estrangeira produza aqueles efeitos previstos expressamente na lei penal brasileira.
3.2. Contagem de prazo
O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo (art. 10, primeira parte, do CP). Trata-se, no dispositivo, de disciplinar a contagem do prazo penal que tem relevância especial nos casos de duração de pena, do livramento condicional, do sursis, Da decadência, da prescrição, etc., institutos de direito penal.
Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. Há no caso imprecisão tecnológica. O calendário comum a que se refere o legislador tem o nome de gregoriano, em contraposição ao juliano, judeu, árabe, etc.
3.3. Frações não computáveis da pena
Segundo o art. 11, desprezam-se, nas penas privativas de liberdade nas restritivas de direitos, as frações de dia e, na pena de multa, as frações de cruzeiro. Também se tem entendido que, por analogia com o art. 11, deve ser desprezada a fração de dia multa, como se faz para o dia de pena privativa de liberdade. Extintos o cruzeiro antigo e o cruzado, o novo cruzeiro e o cruzeiro real, o real é a unidade monetária nacional, devendo ser desprezados os centavos, fração da nova moeda brasileira.
 CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS
Dá-se o conflito aparente de leis penais quando um único fato se revela possível, em tese, a aplicação de dois ou mais tipos legais, ambos instituídos por leis de igual hierarquia e originária da mesma fonte de produção, e também em vigor ao tempo da prática da infração penal. 
De ver-se que não se trata de concurso de crimes, pois se tratando de conduta singular, afigura-se injusta e desproporcional a incidência de mais e uma sanção penal, razão pela qual deve ser escolhido o dispositivo legal que, na vida real, apresenta melhor adequação típica. 
Aparente porque o Direito Penal é um todo harmônico, há uma só lei para aquele caso, apenas parece que a incidência é múltipla e concomitante, afinal o conflito aparece com correta interpretação da lei penal, que se dá com a utilização de princípios adequados. 
Assim, exigi-se os seguintes requisitos: a) Unidade de fato; b) pluralidade de leis penais; e c) vigência simultânea dessas leis penais. 
Em verdade, a análise do conflito aparente de normas visa assim a impedir bis in idem, assegurando-se a efetividade dos princípios da proporcionalidade e da legalidade. De proporcionalidade, porque se forem aplicadas simultaneamente todas as normas em conflito, punir-se-ia a conduta com penas desproporcionais. De legalidade, porque o agente acabaria respondendo por tipos penais em que a rigor não incidiu. 
Há três princípios que buscam estabelecer qual a norma aplicável àquele caso: especialidade, subsidiariedade e consunção; fala-se num quarto, a alternatividade, que, na verdade, não é um princípio, como se verá.
			4.1. Especialidade
Diz-se que uma norma é especial, também chamada de específica, possui sentido diferenciado, particularizado. Fala-se que a lei é especial em relação à outra, geral, quando ela contém todos os elementos desta e mais alguns, chamado especializantes. A primeira prevê o crime genérico, ao passo que a última traz em seu bojo o específico. – ex: infanticídio em referência ao homicídio. 
Prefere- se a lei especial à geral porque se entende que ela trata de forma mais adequada a situação nela prevista, mesmo que imponha pena maior ou menor ao agente. Lex specialis derogat legi generali. 
Sua aferição se estabelece em abstrato, ou seja, para saber qual lei é geral e qual é especial, prescinde-se da análise do fato praticado. É suficiente a comparação em tese das condutas definidas nos tipos penais. 
De notar-se que a análise é feita no plano abstrato e que é o único princípio que está positivado – art.12, CP. 
				4.2. Subsidiariedade
Diz-se que uma norma é subsidiária em relação a outra quando descreve um tipo menos grave, um menor grau de violação, podendo ser explícita (quando a própria lei faz a ressalva – "se o fato não constitui crime mais grave") ou implícita (a lei não é expressa, mas é possível fazer a ilação). 
A análise é no caso concreto. A norma subsidiária só é chamada quando não se configura o tipo mais grave (lex primariae derogat legi subsidiariae) – a punição é residual neste caso, daí porque a norma subsidiária é denominada "soldado de reserva". Exs: ameaça quanto ao roubo e falsa identidade quanto ao estelionato.
A subsidiariedade pode ser expressa ou tácita, a primeira quando declarada formalmente na lei, a segunda quando a lei residual não condiciona, taxativamente, a sua aplicação em caso de impossibilidade de incidência primária. Ex: constrangimento ilegal (art. 146, CP), subsidiário do estupro (art. 213) e do atentado violento ao pudor (art. 214). 
					4.3. Consunção
Diz-se que há consunção, ou absorção, quando o conteúdo descritivo de uma norma engloba, consome o de outra, existindo entre elas um liame de necessidade: o tipo menos abrangente (crime consunto ou consumido) é etapa necessária ou normal para se realizar o tipo mais abrangente (crime consuntivo), daí porque este prevalece (lex consumens derogat legi consumptae). A análise também é feita no caso concreto.
Damásio de Jesus, citando Asúa, diz que a consunção pode se dar de cinco formas:
a) de imperfeição a perfeição (atos preparatórios puníveis/tentativa/consumação);
b) de auxílio a conduta direta (partícipe autor);
c) de minus a plus (crimes progressivos);
d) de meio a fim (crimes complexos);
e) de parte a todo (progressão criminosa).
No crime progressivo, o verbo núcleo do tipo contém em si uma forma menos grave pela qual o agente passa necessariamente para execução de tal crime – ex: para matar-se alguém necessariamente provoca-se lesão corporal só responde pelo homicídio.
Quanto ao crime complexo, cujo tipo legal encerra elementares ou circunstâncias que, por si próprios, constituem crimes, não há consenso na doutrina, pois alguns entendem que se aplicariam os princípios da especialidade ou subsidiariedade, a depender do caso. Por fim, quanto à progressão criminosa, que se dá quando um crime, já praticado, concretiza-se ainda pela prática sucessiva de outro crime que se relaciona com o primeiro. Pode ser de três espécies: progressão criminosa em sentido estrito (seria um crime progressivo que se desvincula no tempo – ex: o autor, inicialmente, só quer ferir, mas após lesar a vítima, decide matá-la e o faz só responde por homicídio); antefactum impunível (quando o fato anterior menos grave é fase necessária ou normal de realização do mais grave – ex: possuir instrumentos empregados usualmente na prática do furto, que é uma contravenção, e praticar o furto só responde pela subtração) e postfactum impunível (quando o fato posterior menos grave é realizado contra o mesmo bem jurídico e do mesmo sujeito passivo, sem causar outra ofensa; seria um exaurimento – ex: furtar e, depois, destruir a res furtiva responde apenas pelo furto).
					4.4.Alternatividade 
Quando a lei penal prevê diversos fatos alternativamente, como formas de um mesmo crime, a norma penal é aplicável apenas uma vez, mesmo que o agente tenha praticado todas as condutas sucessivamente.
São os casos de tipos de ação múltipla ou conteúdo variável, tais como os art. 122, CP ou art. 12 da Lei n. 6368/76. Em verdade, não se trata de conflito aparente de normas porque as condutas descritas encontram-se todas no mesmo preceito primário.
◙ BIBLIOGRAFIACONSULTADA
BITTENCOURT, Cezar Roberto. Teoria geral do delito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
BITTENCOURT, Cezar Roberto e PRADO, Luiz Regis. Código penal Anotado e legislação complementar . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
GALVÃO, Fernando. Direito penal; parte geral. 1ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.
GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal - Parte geral e anotações LFG, 2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito penal; parte geral. 6ª. ed., Nitéroi: Impetus, 2006.v. 1
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado; parte geral. São Paulo, Método, 2009. 
PRADO, Luiz Regis. Manual de direito penal; parte geral. 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
QUEIROZ, Paulo. Direito Penal – Parte Geral. 4ª. Edição. Rio de Janeiro. Lúmen Juris, 2008.
ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal. Trad. Luís Greco. Rio. São Paulo. Recife. Editora Renovar. 2006
A todos um excelente aproveitamento. Bons estudos!
Prof. Esp. Clodovil Moreira Soares 
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DIREITO PENAL I – 3º PERÍODO
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PRECEITO PRIMÁRIO: “Matar alguém”.
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PRECEITO SECUNDÁRIO: Pena: “reclusão de 6 a 20 anos”.
TRATAMENTO DO CRIME DE TRÁFICO DE DOGAS PARA O EXTERIOR
LEI 6.368/76 (Art. 12 c/c Art. 18, I) 3 A 12 DE RECLUSÃO → Causa de aumento: 1/3 a 2/3;
LEI 11.343 (Art. 40, I) 5 a 15 DE RECLUSÃO → Causa de aumento: 1/6 a 2/3.
 
			HIPÓTESES
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EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA
CONDIÇÕES
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● Crime contra a vida ou liberdade do Presidente da República;
● Crime contra o patrimônio público ou a fé pública da U. DF. Ts. Es. Mcs., empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público.
EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA
HIPÓTESES
● Crime contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
CONDIÇÕES: Não existem. O agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
● Crime de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
UNIME	DIREITO PENAL I PROF. CLODOVIL M. SOARES

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