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2015 Perícia contábil e arbitragem Profª. Arlete Regina Floriani Copyright © UNIASSELVI 2015 Elaboração: Profª. Arlete Regina Floriani Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 657.450 F635p Floriani, Arlete Regina Perícia contábil e arbitragem/ Arlete Regina Floriani. 2.ed. Indaial : UNIASSELVI, 2015. 192 p. : il. ISBN 978-85-7830-894-0 1.Perícia contábil - auditoria. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. III aPresentação Prezado acadêmico, a partir deste momento você terá a oportunidade de conhecer o que é perícia contábil e arbitragem. Trata-se de um tema de grande importância na sua formação profissional, pois lhe dará a base necessária para que você possa encontrar excelentes oportunidades no mercado de trabalho. Isso depende apenas do seu comprometimento com o estudo. Serão abordados os aspectos introdutórios, nos quais buscaremos registrar as regras da perícia atribuídas ao contador, a origem da perícia de âmbito geral e o surgimento da perícia contábil no Brasil. Dando prosseguimento, buscaremos identificar os objetivos, conceituar o sentido e também os elementos da perícia. Trataremos também do perfil do profissional habilitado para o exercício da perícia. Esforçamo-nos para conceituar e esclarecer que a tomada de decisão cabe aos Juízes Estaduais e Federais, que conduzem os processos de acordo com o Código de Processo Civil. Também procuramos esclarecer questões sobre o início e as características da matéria pericial, fundamentos doutrinários, a ética profissional, bases contextuais, exercício profissional, a função contábil e o perito. Teremos por assunto uma abordagem histórica e as características que levaram à realização da perícia, como classificação, requerimento e trabalhos técnicos da contabilidade. Para nos tornarmos afins de nossas atribuições, tornaremos evidente o exercício profissional e ressaltaremos que, ao realizar uma perícia, podem ocorrer irregularidades administrativas e irregularidades contábeis. No que diz respeito a essas irregularidades, o assunto abordado deve ser demonstrado em um laudo elaborado pelo profissional da área denominado de perito. Por fim, versaremos sobre as funções contábeis que se subdividem em fundamentais e complementares. As funções fundamentais são também conhecidas como funções peculiares da contabilidade e contemplam três subfunções, assim identificadas: escritural, expositiva e interpretativa. As funções complementares são conhecidas como funções corretivas que complementam sua utilidade, tais como função administrativa, função revisora e função pericial, em que acontece o registro das transações ou dos negócios contratados, a conciliação das contas segundo os registros realizados e a realização da perícia é feita, oportunamente, apenas quando há necessidade de testemunhar a existência de elementos patrimoniais e/ou de situações do direito. Com esta exposição é possível percebermos a relevância desta matéria. Desejo a você bom estudo e que este caderno lhe forneça subsídios para sua aprendizagem. Então mãos à obra! Profª Msc. Arlete Regina Floriani IV NOTA Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! V VI VII UNIDADE 1 – DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL ................................................................ 1 TÓPICO 1 – DADOS HISTÓRICOS ................................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ........................................................................................................ 4 3 ORIGEM ................................................................................................................................................. 4 4 O SURGIMENTO DA PERÍCIA CONTÁBIL NO BRASIL ......................................................... 5 5 OBJETIVO .............................................................................................................................................. 6 6 CONCEITUAÇÕES .............................................................................................................................. 7 6.1 PERÍCIA ............................................................................................................................................ 7 6.2 O PERITO .......................................................................................................................................... 16 6.2.1 O conceito ............................................................................................................................... 17 6.2.2 Normas profissionais do perito ............................................................................................ 20 6.3 O ASSISTENTE TÉCNICO ............................................................................................................. 22 6.4 USUÁRIOS DA PERÍCIA ............................................................................................................... 23 7 NOMEAÇÃO, CONTRATAÇÃO E ESCOLHA DO PERITO-CONTADOR OU INDICAÇÃO DO PERITO-CONTADOR ASSISTENTE ............................................................. 24 8 INDEPENDÊNCIA ............................................................................................................................... 25 9 IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO ....................................................................................................... 25 10 HONORÁRIOS ................................................................................................................................... 27 11 O SIGILO ..............................................................................................................................................31 12 RESPONSABILIDADE E ZELO....................................................................................................... 31 13 UTILIZAÇÃO DE TRABALHO DE ESPECIALISTA .................................................................. 34 14 A ÉTICA PROFISSIONAL ................................................................................................................ 34 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40 TÓPICO 2 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO, E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE .......... 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ........................................................................................................ 43 3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA .......................... 45 4 A CLASSIFICAÇÃO DA PERÍCIA .................................................................................................. 45 5 REQUERIMENTO ................................................................................................................................ 47 6 TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE ...................................................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49 TÓPICO 3 – EXERCÍCIO PROFISSIONAL ........................................................................................ 51 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51 2 EXERCÍCIO PROFISSIONAL ............................................................................................................ 51 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 62 sumário VIII TÓPICO 4 – FUNÇÕES CONTÁBEIS ...............................................................................................65 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................65 2 FUNÇÕES CONTÁBEIS ...................................................................................................................65 3 FUNÇÕES FUNDAMENTAIS .........................................................................................................65 4 FUNÇÕES COMPLEMENTARES ...................................................................................................66 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................69 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................71 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................72 UNIDADE 2 – PERÍCIA CONTÁBIL .................................................................................................75 TÓPICO 1 – ABORDAGENS GERAIS SOBRE A PERÍCIA CONTÁBIL ..................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 2 LEGISLAÇÃO PERICIAL .................................................................................................................77 2.1 NBC TP 01 ......................................................................................................................................78 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................97 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................98 TÓPICO 2 – CARACTERÍSTICAS DOS TRABALHOS PERICIAIS .........................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 PLANO DE TRABALHO ...................................................................................................................101 3 EXECUÇÃO DO TRABALHO PERICIAL .....................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113 TÓPICO 3 – EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO PERITO ..............................................................115 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115 2 LAUDO PERICIAL .............................................................................................................................115 2.1 ESTRUTURA DOS LAUDOS .......................................................................................................120 2.2 REQUISITOS DE UM LAUDO CONTÁBIL ..............................................................................121 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126 TÓPICO 4 – FUNÇÕES CONTÁBEIS ...............................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 PARECER PERICIAL CONTÁBIL ...................................................................................................129 3 ENCAMINHAMENTO DO PARECER PERICIAL CONTÁBIL ...............................................131 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................133 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137 UNIDADE 3 – ARBITRAGEM ............................................................................................................139 TÓPICO 1 – LEGISLAÇÃO QUE REGULAMENTA A ARBITRAGEM ....................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 A ARBITRAGEM ................................................................................................................................141 2.1 LEGISLAÇÃO ................................................................................................................................141RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................153 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................154 IX TÓPICO 2 – ÉTICA NO EXERCÍCIO DA ARBITRAGEM ............................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 CÓDIGO DE ÉTICA ..........................................................................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................164 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166 TÓPICO 3 – ITENS RELEVANTES NO EXERCÍCIO DA ARBITRAGEM ................................169 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................169 2 ORIGEM DA ARBITRAGEM ..........................................................................................................169 3 ÁRBITRO E PERITO .......................................................................................................................170 4 PERÍCIA ARBITRAL .......................................................................................................................173 5 TÉCNICAS DE ARBITRAMENTO .................................................................................................174 6 LAUDO ARBITRAL ...........................................................................................................................175 7 SENTENÇA ARBITRAL ....................................................................................................................175 8 PERITO DO JUÍZO: ESTIMATIVA E ARBITRAMENTO DOS HONORÁRIOS .................179 8.1 EM JUÍZO ARBITRAL ...............................................................................................................181 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................182 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................184 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................186 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................189 X 1 UNIDADE 1 DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade você será capaz de: • entender os conceitos de perícia contábil; • conhecer o código de ética; • identificar os quesitos; • elaborar laudo (parecer) pericial contábil; • entender arbitragem. A Unidade 1 será apresentada com a estrutura de quatro tópicos, sendo que ao final de cada tópico encontrarás atividades que auxiliarão no seu aprendizado. TÓPICO 1 – DADOS HISTÓRICOS TÓPICO 2 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO, E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE TÓPICO 3 – EXERCÍCIO PROFISSIONAL TÓPICO 4 – FUNÇÕES CONTÁBEIS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DADOS HISTÓRICOS 1 INTRODUÇÃO Na maioria das vezes o aluno se questiona: por que estudar história? Que ligação tem com a contabilidade? Conhecer os dados históricos é de fundamental importância, pois, desta maneira, temos a oportunidade de entender qual era o pensamento dos precursores da matéria. Acerca deste tema buscamos apresentar aspectos doutrinários da perícia contábil, as datas que marcaram este período que iniciou em 1939 e mostrar que sete anos foram necessários para que a perícia contábil se institucionalizasse, pois, somente em 1946, com a criação do Conselho Federal de Contabilidade, Decreto-Lei nº 9.295, é que foi institucionalizada a perícia contábil no Brasil. Hoog (2005, p. 48) descreve que: Após edição da lei 8455, de 24.08.1992 que introduziu alterações relativas à perícia e aos peritos, visualizamos a ocupação de espaço significativo na mídia quanto ao trabalho executado por profissionais e, em especial, os seus resultados querem na área de engenharia, acidentes aéreos, construção civil, quer na área médica, especialmente nos casos de atentado contra a vida e a honra; igual importância tem na área contábil envolvendo fatores como aferição de contas relativas às campanhas políticas, fraudes em grandes e renomadas instituições financeiras e até mesmo no âmbito familiar, na separação conjugal, quando abrange grandes fortunas. Mais uma razão para se estudar a historicidade dos fatos para conhecer como eram resolvidos estes tipos de problema antes da normatização. Complementamos este item abordando a relação do CPC – Código de Processo Civil com a Contabilidade aplicada a esta área específica, que é a perícia, a legislação pertinente e onde iniciou e o surgimento da perícia no Brasil. É recomendável que quando você iniciar o estudo de um novo tema, sempre inicie com a leitura da parte histórica. Isto enriquecerá seu conhecimento específico. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 4 2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS No Brasil, analisando os primeiros sinais do surgimento da perícia contábil, observamos que o período remonta a 1939, quando o Código de Processo Civil (promulgado pelo Decreto-Lei nº 1.608, de 18.09.1939, em seus arts. 57, 117, 129, 131, 132, 208, 254, 255, 256, 257, 267, e 268) descreveu, de maneira sucinta e precisa, admitindo a perícia como prova de fato, que depende de conhecimento especial, inclusive expôs sobre o laudo, a recusa do perito, a substituição deste, os esclarecimentos pelo perito em audiência, a indicação de assistentes técnicos, as despesas com o ato e as penalidades aplicáveis por eventual ato ilícito ou dolo do perito, explica Hoog (2010). Em 2011, mencionou Hoog, que Oscar Castelo Branco (1941) realizou um estudo sobre perícia contábil, que pela sua notoriedade foi intitulado de “A função do contador na perícia contábil”, e publicado pela Companhia Melhoramento de São Paulo (indústria de papel). Continua Hoog (2011), face a acontecimentos mais recentes, é possível concluir que com a criação do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, via Decreto-Lei nº 9.295/1946, é que foram impressas as primeiras atribuições legais do contador, ou seja, a parametrização da perícia contábil, conferindo trabalho privativo aos contadores diplomados ou a eles equiparados legalmente, naquela época. A partir de 1966 com o advento da nº Lei 4.983; e Decreto-Lei nº 7.661/45 que foi revogado pela Lei nº 11.101/2005, relativo à Lei de Falências, tivemos grande evolução que estabeleceu as regras de perícia contábil. Em 1973, com a edição do Código de Processo Civil promulgado pela Lei nº 5.869, as perícias judiciais contempladas com tratamento mais transparente. Decorridas mais de duas décadas e os procedimentos de perícia são emanados das resoluções do CFC; Lei nº 8.455/92; Lei nº 8.748/93, e legislação complementar. MAGALHÃES et al. (2008) corroboram com Hoog (2011) e mencionam quefoi com o segundo Código de Processo Civil, criado pela Lei nº 5.869/73, e com as modificações atribuídas pelas Leis Complementares ao Código de Processo Civil, que as perícias judiciais tiveram legislação ampla, clara e aplicável. 3 ORIGEM A origem da perícia conta com o apoio dos dados históricos na formação do seu processo, pois nos leva a conhecer a cultura dos povos que os levaram a introduzi-la. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 5 Não é possível afirmar que a Perícia Contábil surgiu com os primórdios da civilização, assim como é comentado em relação à Contabilidade, haja vista que nesta época a animalidade era maior do que a racionalidade. Vestígios de perícia são encontrados, registrados, e, documentados na civilização antiga do Egito, e também, na Grécia, onde se iniciou a sistematização dos conhecimentos jurídicos, com a utilização de especialistas em determinados campos do conhecimento para proceder à verificação e ao exame de algumas questões. Disponível em: <http://analgesi.co.cc/html/t13379.html>. Acesso em: 6 maio 2011. No Direito Romano também é possível perceber, com maior clareza, a figura do perito, sem estar dissociada do árbitro, no momento em que a decisão necessitava de apreciação técnica de um fato, ou seja, o magistrado tinha a faculdade de deferir o juízo da causa a homens que, através de seus conhecimentos técnicos, melhor pudessem pronunciar-se sobre os fatos, transformando-se em perito e juiz simultaneamente. Nessa época, a adequação do direito civil não era devido ao conteúdo material de sua legislação, mas sim, à estrutura uniforme e racional, baseada na aplicação de leis escritas, previamente estabelecidas por tribunais compostos por técnicos, que atendiam a critérios racionais de prova e de argumentação no processo judicial, explica Wolkmer (1996). A superioridade do direito romano para a prática mercantil em suas bem-definidas noções de propriedade absoluta residia nos critérios racionais de prova, e na ênfase atribuída a uma magistratura profissional, vantagens estas que os tribunais normalmente não atribuíam, porém, de extrema importância ao perito na época, pela valorização profissional. A necessidade da verificação dos fatos constatados foi o que conduziu a perícia à condição de instrumento auxiliar da instância decisória, pessoal ou coletiva, judicial ou extrajudicial, mesmo nos mais remotos tempos. No Brasil, a perícia contábil começou a surgir com maior intensidade no início deste século, e se mantém ativa até os dias atuais, cada vez mais ocupando seu espaço para dirimir as discrepâncias existentes entre as pessoas, buscando a resolução dos problemas não equacionados segundo a racionalidade. Disponível em: <http://analgesi.co.cc/html/ t13379.html>. Acesso em: 6 maio 2011. 4 O SURGIMENTO DA PERÍCIA CONTÁBIL NO BRASIL Conhecer quando ocorreu o surgimento da “Perícia Contábil” no Brasil é muito importante, porque esta informação nos proporciona entender melhor todo o contexto da matéria, como eram realizados os encontros dos profissionais da época, e a sua valorização. Embora as informações ocorressem de forma precária, o que se sabe é que a perícia surgiu em um evento da classe contábil em 1924, quando aconteceu o primeiro Congresso Brasileiro de Contabilidade, comenta Sá (2009). UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 6 Na mesma ocasião, os profissionais oficializaram a necessidade da “Perícia Judicial”, cujos trabalhos seriam atribuídos privativamente aos membros das Câmaras periciais, e que seriam fiscalizados pelos Conselhos de Contabilidade no momento de sua criação. Outro item importante, que foi decidido no mesmo evento, foi a remuneração do trabalho do perito. Prossegue Sá (2009) afirmando, que somente na década de 40, foi regulamentada a Profissão de Contador, e na mesma época oficializado que a perícia é função privativa do Contador, através do Decreto-Lei nº 9.295/46, e que o Decreto nº 5.746, em 1929, veio para regular a atribuição da tarefa pericial apenas ao Contador. Magalhães et al. (2008) corroboram com Sá (2009) e citam que foi com o advento do “segundo” Código de Processo Civil, criado pela Lei nº 5.869/73, através das Leis Complementares atribuídas ao Código de Processo Civil, que as perícias judiciais tiveram ampliada a sua legislação, ficando de forma clara e aplicável. Neste mesmo contexto foi inclusa a Legislação Trabalhista e o Direito Comercial, que adotam a mesma metodologia que as jurisprudências de natureza processual civil, ampliando ainda mais a área atingida pela perícia. Diante do exposto no parágrafo acima, e apoiados no entendimento dos autores Magalhães et al. (2008), é possível observar que a Perícia Contábil é disciplinada através de um conjunto de normas de natureza técnica-contábil emanadas pelo CFC, por apresentar um conteúdo elucidativo e esclarecedor, que permite ao magistrado decidir sobre as questões que se apresentam para serem resolvidas entre partes adversas. 5 OBJETIVO A perícia contábil, segundo Hoog (2010), tem por objetivo verificar atos das empresas ou fatos ligados a sua riqueza, com o objetivo de oferecer opinião científica contábil, prova cabal, solucionando as questões propostas. Para oferecer opinião, laudo ou parecer revelador de prova, são realizados exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramento, procedimento necessário para dar sustentação científica contábil. De acordo com Magalhães et al. (2008), a perícia pode ser realizada em qualquer área científica, ou, até mesmo em situações empíricas, apesar de que é a natureza do processo que a classificará; a perícia pode ser de origem judicial, extrajudicial, administrativa ou operacional. No que tange à natureza dos fatos que se deparam, a perícia pode ser classificada como criminal, contábil, médica, trabalhista, entre outras. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 7 Para melhor entendimento do tema, utilizou-se a ideia de Barboza (2010), que explica que a perícia tem como objetivo a busca da VERDADE REAL em determinado caso judicial, onde haja alguma dúvida voltada para o julgador, sobre a Ação Judicial lhe apresenta um fato, que é contestado pelo réu, nascendo destes dois pontos de vista “duas verdades”, as quais poderão ser diferentes da VERDADE REAL, e cuja resposta somente poderá ser demonstrada ou encontrada com a ajuda do perito, que deve agir com imparcialidade e se atentar aos aspectos técnicos e científicos, que lhe qualifica para a tarefa. Complementa o autor: a perícia tem por objeto principal e centralizador os fatos pertinentes à lide, os quais merecem análise e verificação pelo perito. Em outras palavras é possível dizer que a perícia visa avaliar, verificar, e, analisar as situações, coisas e fatos, e atinge as relações, efeitos, e haveres patrimoniais. Sua procedência acontece depois de estabelecido requerimento ou ofício, devendo restringir-se especificamente ao objeto merecedor de análise. O objeto não pode ser o objetivo da perícia, haja vista que o objeto se refere aos fatos de natureza técnica, e o objetivo se destina a apresentar uma prova ou constatação, de forma final e verdadeira. O trabalho pericial materializa-se através do laudo elaborado pelo perito, e deve refletir de forma nítida e imparcial a verdade dos fatos técnicos analisados por este profissional (perito). Embora se saiba que existem diferentes tipos de pesquisas, neste caderno, nosso objetivo é explorar o que foi escrito sobre perícia contábil, razão pela qual abordaremos com superficialidade as outras espécies. 6 CONCEITUAÇÕES Antes de iniciar qualquer atividade prática, o primeiro passo é conhecer o conceito do que se propõe analisar.Neste subtópico serão abordados os seguintes itens: perícia, perito, assistente e usuários da perícia para que você, acadêmico, tenha o conhecimento necessário para a realização das atividades pertinentes, bem como conheça e reconheça a função de cada profissional envolvido no processo. 6.1 PERÍCIA A expressão perícia é derivada do latim peritia, que significa conhecimento. (SÁ, 2009). A forma de se elaborar a perícia é a que enseja opinião sobre a verificação feita, ao patrimônio individualizado de empreendimentos ou de pessoas, cujo procedimento, por sua natureza, é determinado ou requerido quando alguém, interessado no tema, pede a opinião. Para maior entendimento Sá (2009, p. 3), conceitua a “perícia contábil como sendo a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta”. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 8 Dessa forma, explica Wakim (2012, p. 4), pode-se definir perícia contábil como “uma tecnologia da contabilidade que significa pesquisa, exame acerca da verdade dos fatos, efetuada por pessoa com reconhecida habilidade ou experiência na matéria investigada”. Magalhães et al. (2008), ao se reportarem à perícia, divergem parcialmente seu entendimento do conceito apresentado por Sá (2009), e explicam que a perícia, de forma mais ampla, pode ser entendida como qualquer trabalho de natureza específica que tenha rigor na execução se em nível mais profundo, com o objetivo de obtenção de prova ou opinião que permita orientar uma autoridade formal no julgamento de um fato, ou para desfazer conflito em interesses de pessoas. Esta afirmação nos faz entender que pode haver perícia em qualquer área científica ou até em situações empíricas. A definição ou conceito de perícia ainda não está contemplada no Código de Processo Civil, apesar de estabelecer normas e procedimentos processuais, bem como as condições legais quanto à habilitação do profissional para o exercício da Perícia Judicial. Outro diploma legal que contribui para o entendimento do que seja Perícia Contábil Judicial é o Decreto-Lei nº 9.295/46, que em seu art. 25, alínea “e”, combinado com o art. 26, expressa que a Perícia Contábil é de competência dos contadores. O Conselho Federal de Contabilidade, através da Resolução nº 1.243/2009, fez sua parte e alterou o conceito de Perícia Contábil como o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. Para ampliar o assunto e deixar claro quais são as atribuições profissionais cabíveis aos profissionais da contabilidade, foi verificado o Decreto-Lei nº 9.295/46, que regulamenta a profissão do Contador, e no artigo 25, alínea “c” foi constatado que são atribuições privativas dos contadores diplomados, as perícias contábeis ou extrajudiciais, revisão de balanços e de haveres, revisão permanente ou periódica de escritas, regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias, grossos ou comuns, assistência aos conselhos Fiscais das Sociedades Anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade. Com o intuito de que não ocorra qualquer dúvida sobre este campo de atuação privativa dos contadores, buscou-se dar maior abrangência ao tema, e assim permitir ao acadêmico entender melhor quais são, de fato, suas oportunidades de trabalho enquanto contador diplomado. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 9 Sá (2009) vai além e explica que a formação do conceito de perícia contábil exige razões do raciocínio, como a necessidade de se conhecer uma opinião de profissional contábil, a qualquer tempo, de forma qualitativa e quantitativa, sobre uma determinada realidade patrimonial, através de exame do especialista. Os procedimentos periciais são realizados através de exame, levantamentos, vistorias, indagações, investigações, avaliação e arbitragem (procedimento este realizado quando da falta de elementos mais concretos), de forma a fazer o necessário para ter segurança sobre o que será dito, escrito sobre determinada opinião, uma vez que os procedimentos periciais são aplicados segundo a pertinência de cada caso. Não se pode confundir perícia com informe. O informe serve à perícia, na geração de um parecer ou um ponto de vista lógico. Perícia é conhecimento e experiência das coisas. A função pericial é, portanto, aquela pela qual uma pessoa conhecedora e experimentada em certas matérias e assuntos examina as coisas e os fatos, reportando sua autenticidade e opinando sobre as causas, essência e efeitos da matéria examinada. (D’AURIA, 1962, p. 35) Complementa Sá (2009), a perícia pode ser “parcial” ou “total”, dependendo do que se pretende detectar (realidades ou existências, valores, forças de provas ou configurações de situações da riqueza aziendal. Uma perícia pode requerer outra perícia quando o interesse de opinião abrange um objetivo que requer amplo conhecimento de uma questão postulada. A “abrangência” está relacionada ao caráter da perícia, e tem por finalidade atingir a “especificidade” para a qual a perícia foi requerida. Entre os seus objetivos, está o “pleno alcance da realidade”. Ressalta Sá (2009) que todos os meios são válidos para a formação de uma opinião que se apoie na “realidade”, na “plenitude”, na “essencialidade” e nas “formas” dos fatos em exame, e explica que o perito ao realizar a perícia, busca a “verdade” sobre o que se pretende evidenciar e deve ter sustentação documental. Sua finalidade é ser utilizada para fins diversos e para isso deve ser suficientemente “confiável”. Entre os principais fins da perícia estão os de matéria: (I) pré-judicial, que ilustra a abertura dos processos; (II) judiciais; (III) regimentais, que são utilizados para decisões administrativas, para decisões de âmbito social, e para finalidades fiscais. A matéria a ser periciada deve ater-se ao objeto para a qual a perícia foi requerida. As perícias são contratadas para tomada de “decisões” de diversas naturezas, como de gestão, de direito etc. e o fim é sempre a obtenção de “prova competente”, mas para isso é necessário que se lastreie em bases consistentes e de plena materialidade, isto é, competentes e verdadeiras. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 10 Sá (2009) vai além, e explica que os fins para os quais se pode requerer uma perícia são vários, precisando para isso que se baseie em elementos “verdadeiros” e “competentes”. Para que você, acadêmico, tenha um conhecimento mais amplo, buscou- se um case apresentado por Magalhães et al. (2008, p. 110-115), referente a uma perícia extrajudicial, pertinente a uma Prestação de Contas de Administradores/ Procuradores, que descrevemos a seguir. Inicialmente apresenta-se o perito e as partes, conforme demonstrado no item 1. 1 Apresentação Identificação do perito: (..........) Matéria Periciada: litígio entre outorgante e outorgados quando do encerramento da gestão administrativa-comercial de empresa concessionária de derivados de petróleo. Outorgante: Parte 1 (Contratante da Perícia Extrajudicial) Parte 2 (Praticante do Ilícito) Parte 3 (Praticante do Ilícito) Síntese: Atendendo às condições expressas no CONTRATO DE SERVIÇOS DE PERÍCIA CONTÁBIL EXTRAJUDICIAL,firmado em 31-07-x5, periciamos os registros contábeis e os documentos que nos foram apresentados, mencionados na sequência: Livros: Diário, nº (...) registrado na JCP/(...), sob nº(...), em 8-7-x5, fls. (...); Registro de Entradas da Matriz, nº (...), fls. (...); Registro de Saídas da Matriz, nº (...), fls. (...); Registro de Apuração de ICMS da Matriz, nº (...), fls. (...); Registro de Inventário da Matriz, nº (...), fls. (...) Registro de Entradas da Filial de BF, nº (...), fls. (...); Registro de Saídas da Filial de BF, nº (...), fls. (...); Registro de Apuração de ICMS da Filial de BF, nº (...), fls. (...); Registro de Inventário da Filial de BF, nº (...), fls. (...). Documentos: Notas fiscais de compras e de vendas; CMD (Controle de Movimento Diário de Combustíveis); Extratos de Contas Correntes; Canhotos de Cheques; Ordens de Pagamento; Recibos de Depósitos, dos seguintes bancos: BANCO 1, BANCO 2, BANCO 3, BANCO 4. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 11 De posse da documentação, os autores fazem uma explanação de como foram desenvolvidos os trabalhos, conforme é apresentado no item 2. 2 Visão do conjunto A perícia foi desenvolvida em todos os registros, aplicando-se os procedimentos usuais, com aprofundamento específico nas áreas identificadas a seguir: disponibilidades, estoques, compras e vendas, registros fiscais e registros contábeis. 2.1 Caixa e Equivalentes de Caixa Nos exames efetuados nos controles auxiliares e facultativos das contas que registram as disponibilidades, constatou-se as seguintes irregularidades: a) Banco conta Movimento – BANCO 1 - omissão de lançamentos contábeis de alguns fatos ocorridos nos meses de abril a junho de 19x5; - encontramos na documentação cinco canhotos de talões de cheques pertencentes a uma conta não identificada, cujas anotações envolvem operações comerciais idênticas às da empresa periciada, por exemplo: o cheque nº 143891, no valor de R$ 6.000.000,00 (seis milhões de reais), tendo como beneficiário um posto de gasolina; o cheque nº 333103, no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), também para pagamento de um posto; os cheques nº 143904 e 143907, todos ao mesmo beneficiário. b) Banco Conta Movimento – BANCO 2 - omissão de lançamentos contábeis dos fatos ocorridos nos meses de abril a junho de 19x5; - um comprovante de depósito em nome de outra empresa (...) Ltda., autenticado com o número “055, de 13/FEV./x5”, no valor de R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), foi encontrado junto com os comprovantes de depósitos bancários da empresa periciada. c) Banco Conta Movimento – BANCO 3 - este sem registro de movimento em nome da empresa periciada, porém está documentado um registro de lançamento a crédito, no extrato expedido pelo banco, na conta da Outorgada: Parte 3 (PRATICANTE DO ILÍCITO), procuradora da empresa periciada, no valor de R$ 38.000.000,00 (trinta e oito milhões de reais), emitido em 01/02/x5. 2.2 Estoques, compras e vendas Nos exames desses controles, foram constatadas as seguintes irregularidades: UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 12 a) Estoques: MCD – Movimentação de Controle Diário de Combustíveis – foi constatado omissão do registro da entrada de 9.800 (nove mil e oitocentos litros) de ÓLEO DIESEL, adquiridos da fornecedora “[...] Distribuidora S/A”, conforme nota fiscal nº 29.301, no valor de custo igual a R$ 10.923.570,00 (dez milhões, novecentas e vinte e três mil, quinhentos e setenta reais). b) Compras: no Registro de Entradas a NF nº 9.804, de “[...] e Representações de Produtos Derivados de Petróleo Ltda., foi lançada com um erro de valor; R$ 3.000,00 (três mil reais), que representa uma saída fictícia de caixa. c) Vendas: no exame dos talonários de notas fiscais e no registro de Saídas, constatamos omissão de registro de vendas dos meses de ABRIL a MAIO/x5, da Filial de BF, no valor de R$ 5.395.520,00 (cinco milhões, trezentos e noventa e cinco mil, quinhentos e vinte reais) e mais uma diferença nas vendas do dia 10/março/x5 no valor de R$ 549.000,00 (quinhentos e quarenta e nove mil reais), que comprovam omissão na entrada de caixa, no valor de R$ 5.944.520,00 (cinco milhões, novecentos e quarenta e quatro mil, quinhentos e vinte reais). 2.3 Registros Fiscais Os registros fiscais não estão revestidos das formalidades legais, pelas razões enunciadas a seguir: a) Registro de entradas da Matriz: erro de valor no lançamento da segunda linha às fls (...); rasurado às fls. [...]; soma a lápis. b) Registro de Saídas da Matriz: rasurado às fls [...]; somas a lápis. c) Registro de Entradas da Filial de BF: rasurado às fls [...]. d) Registro de saídas da Filial de BF: o valor das vendas de MAR./x5 e ABRIL/ x5 não conferem com os valores registrados no Registro de Apuração do ICMS para os mesmos meses. 2.4 Registros contábeis Os registros contábeis, também, não estão feitos em conformidade com a legislação comercial e tributária, pelos motivos que enunciamos a seguir: a) Omissão de lançamentos de fatos contábeis, principalmente, nas contas “Banco Conta Movimento”, nos meses de ABRIL a JUNHO/x5. b) Lançamento indevido a débito da conta “Venda de Lubrificantes isentos”, no valor de R$ 12.480.640,00 (doze milhões, quatrocentos e oitenta mil, seiscentos e quarenta reais), implicando em erro de classificação da conta. c) Lançamentos sintéticos da conta “Caixa” com ausência de Livro Caixa Analítico ou Boletins Diários de Caixa. d) Alteração do sistema contábil utilizado, no curso da gestão administrativa, sem justificativa de mudança. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 13 3 Comentários periciais (CONCLUSÕES) As conclusões apresentadas são pela existência de: (a) Fraudes e erros, efetivamente comprovados; (b) Indícios de fraudes, que podem ser investigadas; (c) Ausência de prestação de contas dos atos praticados pelos procuradores, na gestão administrativa, a seguir especificados: a) Fraudes e erros constatados b) Indícios de fraudes Histórico R$ Compra de mercadoria sem a competente entrada do estoque, o que significa desvio da mercadoria, NF nº 29.301. 10.923.570,00 Venda de mercadoria sem a competente entrada do valor recebido, NFVC nº 051 a 165. 5.393.520,00 Saída fictícia de caixa, por compra lançada com valor maior do que o real: valor lançado: valor lançado R$ 695.935,00; valor correto conforme NF.9804 – R$ 692.935,00; diferença encontrada 3.000,00 TOTAL 16.322.090,00 Histórico R$ Depósito em nome de outra empresa (...) Ltda., no Banco 3. 5.000.000,00 Depósito de grande valor em nome da Parte 3, procuradora da empresa periciada, no Banco 4. 38.000.000,00 TOTAL 43.000.000,00 c) Ausência de prestação de contas - Não consta dos registros contábeis que os procuradores tenham prestado contas ao deixarem a empresa; a Contabilidade registra elevados saldos de CAIXA, conforme provam os balancetes dos últimos quatro meses, a saber: Histórico R$ - MARÇO/x5 (nas duas filiais) 16.817.301,00 - ABRIL/x5 (matriz e filiais) 86.278.793,00 - MAIO/x5 (matriz e filiais) 78.331.986,00 JUNHO/x5 (matriz e filiais) 80.144.048,00 UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 14 4 Documentos Probantes Os documentos comprobatórios das irregularidades, fraudes e erros constatados, dos indícios de fraudes e dos saldos de caixa, estão elencados, a seguir: a) Nota Fiscal nº 29.301, de “[...] Distribuidora S/A”; b) Notas Fiscais de Venda a Consumidor nº 051 a 200: c) NotaFiscal nº 9.804, de “[...] Derivados de Petróleo Ltda.”; d) Controles de Movimento Diário dos meses de FEV. a MAR./x5 das bombas de GASOLINA, ÓLEO DIESEL e ÁLCOOL HIDRATADO; e) RECIBO DE Depósito Nº 998907, do BANCO 3; f) Extrato de Conta Corrente, BANCO 4, emitido em 1-2-x5, conta em nome da Parte 3; g) Talonários de cheques (canhotos), nºs 143891 a 143900; 332371 a 332390; 332391 a 332410; 333101 a 333120; 833891 a 833910; 299911 a 299930 (conta não identificada); h) Balancetes dos meses de março a junho de 19x5. 5 Recomendações a) Seja o contabilista responsável pela Contabilidade da empresa convidado a regularizar os registros contábeis, efetuando os lançamentos omitidos e reclassificando os lançamentos incorretos, no prazo legal. b) Sejam os procuradores, Parte 2 e Parte 3 (PRATICANTES DO ILÍCITO) convidamos a prestar contas amigavelmente ou em juízo, se assim o preferirem, requerendo-se o depoimento pessoal de cada um deles sobre os fatos não esclarecidos. 6 Contribuição ao aprendizado Os aspectos mais relevantes desse caso, como contribuição ao aprendizado, estão circunscritos nos seguintes pontos: a) Os atos preparatórios para a Perícia Extrajudicial são expressos no contrato, portanto, diferentes daqueles usuais na Perícia Judicial, pois, nesse caso, o perito não é nomeado pelo juiz, mas contratado pela(s) parte(s). b) Na Perícia Extrajudicial, podem ser elaborados quesitos ou não, porém seguidas as regras básicas definidas no contrato. c) A essência da Perícia Extrajudicial está no exame do sistema contábil, dos livros e dos documentos que formam o suporte da escrita contábil e dos atos da gestão social. d) A apresentação do Laudo da Perícia Extrajudicial deve ser feita com observação da seguinte estrutura: introdução, visão do conjunto, documentos e livros examinados, comentários periciais. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 15 7 Críticas ao laudo e sugestões para os casos futuros Prezado Acadêmico, como você pode observar, não basta apenas levantar e apresentar os fatos, é necessário fundamentar segundo a legislação, pertinente. A estrutura do laudo pericial está ótima, bem sistematizada, escrita de tal forma a combinar síntese e clareza. Os comentários periciais, embora escritos de forma elucidativo, estão sem fundamentação expressa (leis, normas etc. que qualificam as fraudes e erros encontrados, os indícios de fraudes, a ausência de prestação de contas). Comentamos autores (2008). FONTE: Magalhães et al. (2008, p. 110-115) Existem diferentes fins para serem realizadas as perícias, os quais são qualificados da seguinte forma: • Para fins administrativos a perícia pode ser realizada, por exemplo, para verificar se o almoxarife está controlando os estoques sem permitir de haja desvio dos mesmos. Este tipo de perícia pode ser requerido dentro da própria empresa, por seu setor de contabilidade caso não disponha de outros meios. • Para fins regimentais as perícias são realizadas para as Comissões Parlamentares de Inquérito, e quem as solicita é a Câmara dos Deputados. • Para fins sociais as perícias são promovidas pelos sindicatos para que haja clareza na forma como os acordos salariais foram realizados. • Para fins de observar se as empresas possuem meios de remunerar melhor, a perícia apura as condições em que os aumentos se suportam, tão como se há boa-fé na apuração. • Para confirmar se as afirmações dos autores estão em conformidade, buscou-se o que contempla o Código de Processo Civil, e no artigo 420 está disposto que “a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação”. O texto da lei nº 5.869/1973 fala em “prova pericial” que é o elemento competente para instruir decisão. No que se refere ao método de realização da perícia, este depende sempre do objeto que se examina. Sá (2009) explica e destaca que: a) Quando a matéria é parcial, alcançável, é examinado tudo, isto é, todo o universo de exame. b) Quando a matéria é demasiadamente ampla, com risco de não alcançar o objetivo da perícia pela totalidade, é utilizada “excepcionalmente” uma amostra. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 16 As normas de auditoria podem ajudar o desempenho da perícia, mas como elemento subsidiário, isto é, valemo-nos da auditoria como ajuda para alguns poucos casos apenas, uma vez que, o método da perícia contábil não se confunde com o da auditoria. (SÁ, 2009) A metodologia da perícia é basicamente analítica, detalhada sempre que necessário, uma vez que é preciso: I) identificar bem o objetivo; II) planejar competentemente o trabalho; III) executar o trabalho baseado em evidências inequívocas, plenas e confiáveis; IV) ser prudente na conclusão e emiti-la somente depois que tenha absoluta certeza sobre os resultados; V) a conclusão deverá ser de forma clara, precisa, e, inequívoca. O método básico da perícia contábil de maior abrangência é o analítico, visando à confiabilidade da opinião, como prova que deverá ser para terceiros. Infere-se que a perícia contábil deve ser elaborada de forma imparcial, ampla, segura e sigilosa, utilizando-se o perito de fontes seguras, não permitindo que os resultados sejam tratados de forma que venham a beneficiar alguma das partes. 6.2 O PERITO No início deste caderno foi abordado o surgimento da perícia, e observou- se que os primeiros sinais surgiram em 1939. Daquela época para os dias atuais já houve muitas mudanças e adequações, porém, devido à crescente evolução e a relevância do trabalho pericial, necessário se faz atualização e aprimoramento das normas, daí mais uma vez a necessidade, do Conselho Federal de Contabilidade, fazer novos ajustes. Em 10 de dezembro de 2009 foi aprovada a Resolução nº 1.244/09 (que está ainda vigente, e sem nenhuma alteração, até esta data), a qual entrou em vigor em 1º de janeiro de 2010, e estabelece o seguinte: o artigo 1º aprovou NBC PP 01 que dispõe sobre o Perito Contábil; o artigo 2º aprova a data de início de vigência, e o artigo 3º revoga, a partir de 1º de janeiro de 2010, as Resoluções CFC nº 857/99, 1.050/05, 1.051/05, 1.056/05 e 1.057/05, publicadas no Diário Oficial da União – D.O.U, seção I, de 29/10/99, 08/11/05, 08/11/05, 23/12/05 e 23/12/05, respectivamente. Esta resolução tem por objetivo normatizar os procedimentos inerentes à atuação do contador na condição de perito, e conceituar quem de fato pode ser perito, quais as reais necessidades para que seja habilitado como tal, e conhecer os deveres e obrigações. Nesse contexto observa-se o que explica Hoog (2011, p. 69) sobre o perito “[...] o perito não é funcionário público concursado, trata-se de um profissional liberal devidamente habilitado de livre escolha do magistrado, por ser pessoa de sua confiança”. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 17 Infere-se que qualquer profissional da contabilidade devidamente habilitado pode ser perito, cabe a este fazer seu cadastro no poder judiciário em site específico, ou então, dependendo do porte da Comarca em que deseja prestar seus serviços, entregar seu currículo na forma impressa. 6.2.1 O conceito Conforme pesquisa realizada para a elaboração deste caderno, ainda não existe nada escrito quanto ao conceito de perito, e nossas bibliografias são carentes no que concerne a este tema, explicam Magalhães et al. (2008), porém, as Normas de Perícia Judicial conceituam, e é aceito, da seguinte forma: Perito Judicial é o profissional habilitado e nomeado pelo juiz para emitir sua opinião sobre questões técnicas de sua especialidade. Ressaltam Magalhães et al. (2008) que o profissional para poder atuar como perito necessita ter nível universitário, ser inscrito no órgão de classecompetente, e no caso do contador, este profissional deve ser inscrito no Conselho Regional de Contabilidade do Estado onde estiver inserido, devendo comprovar sua especialidade mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. A lei processual denomina perito o profissional que é nomeado por iniciativa do juiz, podendo, após este ato, as partes ou uma delas, indicar o assistente técnico “Perito da Parte”. Wakim e Wakim (2012) entendem que o art. 145 do CPC considera o perito como cientista, isto porque ele fornecerá ao condutor do litígio informações técnicas e científicas que permitam o juiz tomar sua decisão, e complementam citando o que preveem os parágrafos 1º e 2º: § 1º Os peritos são escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente. § 2º Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. Até a alteração do Código de Processo Civil, que ocorreu com a promulgação da Lei nº 8.455/92, perito ou assistente técnico era nomeado para fazer perícia, os quais mencionavam o que viam e o que constatavam em suas investigações e o faziam com bases reais e com absoluta intenção de justiça, mencionam Magalhães et al. (2008). Foi a partir desta alteração, que coube ao perito fazer a perícia, lavrar e assinar o laudo. Já não é mais possível mencionar que não há nada escrito que conceitue o Profissional Perito, haja vista que a Resolução nº 1.244/09 do CFC, foi instituída e está em vigor desde 1º de janeiro de 2010 (sem alteração), a qual apresenta de forma clara três conceitos que apresentamos a seguir: UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 18 1) Perito é o contador regularmente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências da matéria periciada; 2) Perito-contador nomeado é o designado pelo juiz em perícia contábil judicial; contratado é o que atua em perícia contábil extrajudicial; e escolhido é o que exerce sua função em perícia contábil arbitral; 3) Perito-contador assistente é o contratado e indicado pela parte em perícias contábeis, em processos judiciais e extrajudiciais, inclusive arbitral. Barboza (2010) conceitua o profissional perito como um agente ativo da perícia, uma pessoa entendida sobre determinado assunto, expert, que tem como objetivo esclarecer os aspectos técnicos dos fatos, mediante elaboração de exame, ou de vistoria, indagação, investigação, arbitramento, avaliação ou até certificação. A visão de Peleias (2010) é divergente. Para este autor o Perito Contábil é o profissional que prepara e fornece informações relativas ao patrimônio de pessoas e sociedades. Seu trabalho é realizado para atender a uma classe especial de tomadores de decisão, com a finalidade de subsidiar seus processos decisórios. Para melhor compreensão deste parágrafo, buscamos identificar quem são os tomadores de decisão. Observamos que são os Juízes Federais ou Estaduais que conduzem os processos segundo as determinações do Código de Processo Civil. Para os casos em que houverem questões controversas de natureza patrimonial, e que não possuir o conhecimento necessário, estes, se utilizarão do trabalho do Perito contábil. Para dirimir eventuais dúvidas, no que diz respeito ao que significa perito, utilizamo-nos do dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Ferreira (1999) que explica: “perito é a pessoa sabedora ou especialista em determinado assunto; ou ainda, é o profissional nomeado judicialmente para exame ou vistoria”. Apesar de já estar normatizado o significado de perito, conforme conceituamos anteriormente, nosso entendimento como Profissional da Contabilidade vem de encontro com o exposto pelo CFC, através da Resolução nº 1.244/2009. Perito é o profissional formado em Ciências Contábeis, que tem seu diploma registrado no Conselho Regional de Contabilidade, e que realiza trabalhos profissionais com profundo conhecimento da contabilidade e matérias afins, para produzir prova amparado em elementos verdadeiros e competentes, que garantam a veracidade dos fatos. De acordo com o item 7 da Resolução CFC 1.244/2009, o perito deve comprovar sua habilitação profissional, por intermédio da Declaração de Habilitação Profissional – DHP, de que trata a Resolução CFC nº 871/00. É permitida a utilização da certificação digital, em consonância com a legislação vigente e as normas estabelecidas pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP – Brasil. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 19 No âmbito geral, a habilitação profissional significa o conhecimento de determinado assunto, que permite apresentar a quem de direito, os fatos que comprovem a realização de atos ilícitos, e permita às autoridades dirimir dúvidas pertinentes. Para isso é necessário comprovar sua habilitação, que segundo Sá (2009, p. 277), “devem o perito-contador e o perito-contador assistente, fazê-lo mediante apresentação de certidão específica, cujo documento é emitido pelo Conselho Regional de Contabilidade, de acordo com a forma a ser regulamentada pelo Conselho Federal de Contabilidade”. A referida certidão deverá ser juntada ao processo no primeiro momento que o perito-contador, ou o perito-contador assistente se manifestarem nos autos, ficando habilitados para o exercício da função pericial contábil. O CRC de cada estado é o órgão que emite a DHP, a qual é fornecida ao profissional da contabilidade que está em dia com suas obrigações profissionais, através do acesso à internet, na página do CRC.SC. FIGURA 1 - SITE DO CRC.SC. Certidão de Regularidade Profissional Certidão de Regularidade - Sociedade / Empresário Certidão de Regularidade - Escritório Individual Emitir Certidões, Acesso Público FONTE: Site do Conselho Regional de Contabilidade de santa Catarina – CRCSC. Acesso em: 5 jan. 2015. A declaração fornecida está demonstrada a seguir, e foi baixada pela autora deste caderno, que é Contadora e Perita Judicial. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 20 CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DE SANTA CATARINA CERTIDÃO DE REGULARIDADE PROFISSIONAL O CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADA DE SANTA CATARINA certifica que o(a) profissional identificado(a) no presente documento encontra- se em situação regular. IDENTIFICAÇÃO DO REGISTRO NOME: ................ REGISTRO: .......... CATEGORIA: ....... CONTADOR: ......................... CPF: ................... A presente CERTIDÃO não quita nem invalida quaisquer débitos ou infrações que posteriormente, venham a ser apurados pelo CRCSC contra o referido registro. A falsificação deste documento constitui-se em crime previsto no Código Penal Brasileiro, sujeitando o autor à respectiva ação penal. Emissão: Florianópolis, 05.01.2015 as 12:31:07. Válido até: 05.04.2015. Código de Controle: 74580. Para verificar a autenticidade deste documento consulte o site do CRCSC. 6.2.2 Normas profissionais do perito Sempre que temos matéria nova sobre determinado assunto, o primeiro passo é conhecer a sua normatização, para uma perfeita aplicação. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 21 Dada a relevância do tema Perícia Contábil, o Conselho Federal de Contabilidade que é o órgão máximo de fiscalização do exercício profissional do Contador, no Brasil, absorveu também a matéria relativa à Perícia Contábil. A constanteevolução e a crescente importância da perícia exigem atualização e aprimoramento das normas endereçadas à sua regência para manter permanente justaposição e ajustamento entre o trabalho a ser realizado e o modo ou o processo dessa realização. O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, através da Resolução nº 1.243, de 10 de dezembro de 2009, resolve aprovar a NBC PP 01, que trata do Perito Contábil a qual entrou em vigor em 1º de janeiro de 2010 e ainda permanece vigente sem sofrer alteração, a qual revogou as resoluções anteriores. A NBC PP 01 que trata do Perito Contábil quando se refere ao item 5 – Competência Profissional, ressalta que para o exercício da função deve manter: Competência técnico-científica pressupõe ao perito manter adequado nível de conhecimento da ciência contábil, das Normas Brasileiras de Contabilidade, das técnicas contábeis, da legislação relativa à profissão contábil e aquelas aplicáveis à atividade pericial, atualizando-se, permanentemente, mediante programas de capacitação, treinamento, educação continuada e especialização. E complementa que para isso, o perito deve demonstrar capacidade para pesquisar, examinar, analisar, fundamentar de forma sintética a prova no laudo pericial contábil e/ou no parecer pericial contábil, quando se tratar do perito- contador assistente. IMPORTANT E Realizar seus trabalhos com a observância da equidade significa que o perito- contador e o perito-contador assistente devem atuar com igualdade de direitos, adotando os preceitos legais técnicos inerentes à profissão contábil. De acordo com Sá (2009), o espírito de solidariedade do perito-contador e do perito-contador assistente não pode induzir, como também não justifica a participação ou ser conivente com erros ou atos infringentes às normas profissionais e éticas que regem o exercício da profissão, devendo sempre buscar a verdade fática a fim de esclarecer o objeto da perícia de forma técnica e imparcial. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 22 Prezado acadêmico! Você teve a oportunidade de conhecer as normas profissionais do perito, a sua aplicação, competência profissional, enfim, a legislação necessária para a prática da perícia contábil, e chamo a sua atenção no sentido de nunca esquecer a prática da justiça e o reconhecimento dos direitos de cada um. 6.3 O ASSISTENTE TÉCNICO Quando se fala em assistente logo se associa a alguém que assiste a outrem, e este tipo de função é comum na área da saúde onde algum profissional assiste a alguém que é incapaz de realizar suas necessidades pessoais etc. Na elaboração da perícia não é diferente, ou seja, pode o perito em algum momento necessitar de um assistente que lhe atenda com informações precisas à realização do serviço para o qual foi contratado, e sobre o qual o perito não possui o conhecimento necessário. O Perito-Contador pode exercer a figura de Perito-Contador Judicial como também Perito-Contador Assistente. O assistente é um perito, porém, é indicado pelas partes para acompanhar o trabalho desenvolvido pelo perito designado pelo juiz, haja vista que em muitos casos o problema a ser resolvido não é passível de acordo amigável, o que leva à contratação do assistente, para sentir-se mais seguro dos resultados apresentados. De acordo com o § 1º, inciso I, art. 421 do CPC, o juiz incumbe às partes a “indicação” do assistente técnico, dentro do prazo de cinco dias, a contar da data de intimação do despacho de nomeação do perito. De acordo com o art. 421:2c. “A falta de intimação do despacho de nomeação de perito pode ser suprida, pelo juiz, com a ampliação do prazo do art. 421, § 1º, do CPC, para garantia da participação do assistente técnico na perícia”. (STJ – 3ª T., Resp. 1.932, Min. Gueiros Leite, j.14.5.90, DJU 11.6.90). Prossegue ainda o CPC, art. 421: 3, mencionando que a indicação do assistente técnico é facultativa. O assistente técnico é um mero assessor dos litigantes e não perito do juízo. Por isso as partes são livres para indicar ou não seu assistente, especialmente no caso de interesses distintos. De acordo com Magalhães et al. (2008), o assistente técnico, diferente do perito, apenas emite parecer. O que a lei não deixa claro é, se o parecer se baseia na matéria sob exame, ou, somente no conteúdo do laudo. Segundo Sá (2009), nas perícias contábeis judiciais, três são os peritos: um perito é nomeado pelo juiz, e as partes indicam os assistentes quando assim desejarem. Os peritos das partes, denominados assistentes, devem ser indicados no prazo de cinco dias, a partir da data da nomeação do perito, e, no mesmo prazo devem ser apresentados os quesitos pelas partes, conforme prevê o art. 421 do CPC – Código do Processo Civil, com as alterações da Lei nº 8.455, de 24 de agosto de 1992. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 23 Se os assistentes aceitarem a indicação, então o perito do juiz se compromete, e, pode conectar-se com os assistentes indicados, explica Sá (2009), que nos faz lembrar que os peritos devem ser Contadores, devidamente registrados no Conselho Regional de Contabilidade. Outro detalhe importante, quando da solicitação da perícia, é a escolha do perito, pois é dele que depende o sucesso dos trabalhos. Quando se trata de causas mais complexas, a decisão sobre a contratação do perito deve considerar o grau de experiência e cultura que ele deve ter, isto gerará maior confiabilidade no trabalho realizado. Quando se trata do assistente técnico (de ambas as partes) é importante ressaltar que este profissional toma conhecimento de sua indicação pelas partes em litígio ou pelos advogados; não existe mais a obrigatoriedade de notificação para que se procedesse à assinatura de termo de compromisso em cartório. Os assistentes não se compromissam, apenas são indicados e depois avaliam o laudo do perito do juízo. (SÁ, 2009). Corrobora Sá (2009), com Magalhães et al. (2008), quando menciona que o CPC prevê que aos assistentes técnicos cabe a manifestação em forma de parecer do laudo do perito do juízo, no prazo de dez dias contados da juntada do laudo nos autos, quando estes deverão concordar ou então apresentar as ressalvas, porém, na prática o que acontece é a permissão aos assistentes a terem amplo acesso durante a elaboração do trabalho de campo, antes mesmo da elaboração do laudo final, para que haja benefício na qualidade técnica e na doutrina contábil por parte do perito do juízo. Pelo fato de que a perícia judicial é do tipo de trabalho que se realiza “em conjunto”, este procedimento tem favorecido a manifestação dos assistentes, evitando interpretações diferentes, uma vez que as divergências podem ser discutidas e sanadas na fase de trabalho de campo, eliminando as concordâncias e discordâncias que poderiam vir a ocorrer posteriormente. 6.4 USUÁRIOS DA PERÍCIA De acordo com Wakin; Wakin (2012), os usuários básicos que utilizarão as informações geradas pelo perito são: I) o magistrado; II) os advogados; III) as partes. I) O magistrado precisa de informações técnicas de determinada área para formar opinião e tomar sua decisão, apontando a parte que realmente possui o direito dentro de um litígio. II) Os advogados que defendem as partes envolvidas utilizarão os resultados encontrados no laudo pericial como base para buscar a verdade de seus clientes e defender os interesses de seus contratantes. III) As partes envolvidas no processo são os mais interessados nas informações apresentadas no laudo pericial, porque é através deste que se conhecerá o vencedor em um litígio. UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DAPERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 24 7 NOMEAÇÃO, CONTRATAÇÃO E ESCOLHA DO PERITO- CONTADOR OU INDICAÇÃO DO PERITO-CONTADOR ASSISTENTE A nomeação, a contratação e a escolha do perito-contador, ou a indicação do perito-contador assistente, para o exercício da função pericial contábil, em processo judicial, devem ser consideradas como distinção e reconhecimento da capacidade e honorabilidade do Contador, (SÁ 2009, p. 277). Sempre que o perito-contador reconhecer que não tem competência ou não dispõe de estrutura profissional adequada para desenvolver a função pericial contábil, deverá escusar ou renunciar os serviços, contemplada a utilização do serviço de especialistas de outras áreas, quando parte do objeto da perícia assim o requerer, dispõe o art. 146 do CPC: O perito tem o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a diligência: pode, todavia, escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. Parágrafo único. A escusa será apresentada dentro de cinco dias, contados da intimação ou do impedimento superveniente, sob pena de se reputar renunciado o direito de alegá-lo (art. 423). O fato de os peritos-contadores e peritos-contadores assistentes terem que utilizar serviços de especialistas de outras áreas, quando parte do objeto da perícia assim o requerer, não implica presunção de incapacidade dos profissionais, devendo tal fato ser, formalmente, relatado no Laudo Pericial Contábil ou no Parecer Pericial Contábil para conhecimento do julgador, das partes ou dos contratantes, explica Sá (2009). Esta indicação ou a contratação, menciona Sá (2009, p. 278): Ocorre quando as partes ou contratantes necessitarem comprovar algo que depende de conhecimento técnico específico, razão pela qual o contador só deverá aceitar o encargo se reconhecer sua capacidade com conhecimento técnico suficiente, discernimento e irrestrita independência para a realização do trabalho. Quando o profissional não se sentir preparado para assumir determinado serviço, deve ter conhecimento e ética para reconhecer o ato de recusa da função específica para aquele caso. TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS 25 8 INDEPENDÊNCIA Um profissional independente é aquele que toma suas próprias decisões, que tem autonomia para a realização de suas funções. De acordo com o item 15, das Normas Brasileiras de Contabilidade PP 01 – Perito Contábil, alterada segundo a Resolução do CFC – Conselho Federal de Contabilidade nº 1244/2009, o “Perito deve evitar qualquer interferência que possa constrangê-lo em seu trabalho, não admitindo, em nenhuma hipótese, subordinar sua apreciação a qualquer fato, pessoa, situação ou efeito que possa comprometer sua independência, denunciando a quem de direito a eventual ocorrência da situação descrita”. Pelo exposto entende-se que o profissional da perícia contábil deve realizar seu trabalho conforme sua autonomia, ética, caráter, e livre de qualquer compromisso. Hoog (2012) faz seus comentários e conclui que o perito-contador judicial ou perito-contador assistente têm total liberdade para firmar sua opinião no laudo, não podendo subordinar o resultado do seu trabalho à anuência de quem quer que seja, advogados, partes, magistrados, inclusive os outros peritos assistentes ou nomeados que são colegas de trabalho, devendo denunciar por escrito, nos autos, se houver algum tipo de tráfico de influência, ameaça, constrangimento de ordem física entre outros. Ressalta o autor que discutir sobre o resultado da análise é saudável, e isto prestigia e valoriza o contraditório e a ampla defesa. 9 IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO Continuando com o estudo das Normas Brasileiras de Contabilidade PP 01 – Perito Contábil, alteradas de acordo com a Resolução CFC nº 1244/2009, averiguou-se os itens 16 a 19, que tratam do impedimento e suspeição observando o seguinte: • O item 16 explica que são situações de fatos que impossibilitam o perito de realizar atividade pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive arbitral, segundo legislação vigente e Código de ética Profissional do contabilista. • Para que o perito possa exercer suas atividades com imparcialidade, segundo o item 17, é fator determinante que ele se declare impedido, depois de nomeado, contratado, escolhido ou indicado quando ocorrerem as situações previstas nesta Norma. • O item 18 disciplina que quando nomeado em juízo, o perito deve dirigir petição, no prazo legal, justificando a escusa ou o motivo do impedimento. • O item 19 trata do perito-contador assistente: prevê que quando for indicado pela parte e não aceitar o encargo, este deve comunicá-la sobre sua recusa, devidamente justificada por escrito, com cópia ao juízo. Os casos de impedimento não param por aí, e então novamente consultamos a Resolução CFC 1.244/09, item 20, que trata do impedimento legal, que contempla a seguinte redação: UNIDADE 1 | DADOS HISTÓRICOS, PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS PARA O SURGIMENTO DA PERÍCIA, CLASSIFICAÇÃO E TRABALHOS TÉCNICOS DA CONTABILIDADE, BASES CONTEXTUAIS, EXERCÍCIO PROFISSIONAL, FUNÇÃO CONTÁBIL 26 O perito-contador nomeado ou escolhido deve se declarar impedido quando não puder exercer suas atividades com imparcialidade e sem qualquer interferência de terceiros, ou ocorrendo pelo menos uma das seguintes situações: (a) for parte do processo; (b) tiver atuado como perito-contador contratado ou prestado depoimento como testemunha no processo; (c) tiver mantido, nos últimos dois anos, ou mantenha com alguma das partes ou seus procuradores, relação de trabalho como empregado, administrador ou colaborador assalariado; (d) tiver cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau, postulando no processo ou entidades da qual esses façam parte de seu quadro societário ou de direção; (e) tiver interesse, direto ou indireto, mediato ou imediato, por si, por seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau, no resultado do trabalho pericial; (f) exercer cargo ou função incompatível com a atividade de perito-contador, em função de impedimentos legais ou estatutários; (g) receber dádivas de interessados no processo; (h) subministrar meios para atender às despesas do litígio; (i) receber quaisquer valores e benefícios, bens ou coisas sem autorização ou conhecimento do juiz ou árbitro. Finalizamos os casos de impedimento, item 21 da mesma Resolução, com a abordagem do impedimento técnico-científico a ser declarado pelo perito, que abrange, a autonomia, a estrutura profissional e a independência para poder realizar de forma isenta o seu trabalho, e apresenta os seguintes motivos: (a) a matéria em litígio não ser de sua especialidade; (b) a constatação de que os recursos humanos e materiais de sua estrutura profissional não permitem assumir o encargo; cumprir os prazos nos trabalhos em que o perito-contador for nomeado, contratado ou escolhido; ou em que o perito-contador assistente for indicado; (c) ter o perito-contador da parte atuado para a outra parte litigante na condição de consultor técnico ou contador responsável, direto ou indireto em atividade contábil ou em processo no qual o objeto de perícia seja semelhante àquele da discussão, sem previamente comunicar ao contratante. Na sequência trataremos ainda da suspeição que contempla os itens 22, 23 e 24 da resolução 1.244/2009. O perito-contador nomeado ou escolhido deve declarar-se suspeito segundo o item 22, quando, após, nomeado, contratado ou escolhido observar a ocorrência de situações que venham suscitar suspeição face da sua imparcialidade ou independência, comprometendo o resultado do seu trabalho em relação à decisão. O item 23 apresenta os casos de suspeição
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