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Psicologia dos Grupos e Subjetividade Unid II(1)

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PSICOLOGIA DOS GRUPOS E SUBJETIVIDADE
Unidade II
Teorias sobre grupos
Nesta unidade, são apresentados alguns dos principais conceitos associados à Psicologia, numa 
perspectiva crítica que tem instrumentalizado as práticas de pesquisa e intervenção no que diz respeito 
ao trabalho com grupos: a Teoria das Representações Sociais, a Identidade, o Processo Grupal e novos 
campos para o embate ideológico: Linguagem e Imaginário.
5 GRUPOS E SUBJETIVIDADE
5.1 Conceituação
Só no século XVIII, a palavra grupo vai designar ajuntamento de pessoas. A origem dessa palavra 
remonta a um termo técnico italiano das Artes Plásticas (groppo, gruppo), que designa vários indivíduos, 
pintados ou esculpidos, compondo um tema (ANZIEU; MARTIN, 1975). Além da “novidade” do conceito, 
Anzieu e Martin (1975), ao apresentarem diferentes concepções sobre grupos, indicam também que, até 
há pouco tempo, nas Ciências Sociais, havia um preconceito bem‑estabelecido contra a ideia do grupo, 
do pequeno grupo. Para alguns, esse mal‑estar em relação ao conceito estaria presente porque seria 
entendido como categoria para o entendimento do social, e esta supostamente comportaria a negação 
do indivíduo. Para outros, esse incômodo se estenderia ao próprio fenômeno grupo, como perturbador 
da personalidade – os grupos de jovens e os grupos partidários, por exemplo.
Contemporaneamente, podemos reconhecer grupos definidos a partir de uma metáfora biológica (o 
grupo‑organismo) ou mecânica (o grupo‑máquina), ou simplesmente pelo ajuntamento de pessoas, nas 
multidões, nos bandos, nas aglomerações. A ideia de grupo também está presente em grupos nos quais 
os indivíduos se encontram face a face, os pequenos grupos sociais, ou nas organizações das quais todos 
participamos e por meio das quais temos um papel no jogo social.
Para discutir qual ou quais os sentidos de um grupo social e tentar traçar uma dinâmica dos grupos, 
isto é, o movimento de uns em relação a outros, é necessário descrever algo da história dos estudos 
sobre grupos a partir das maneiras como eles têm sido definidos. Algumas das referências para essas 
definições têm sido a quantidade de membros (se são pequenos grupos, categorias sociais, a “massa”), 
a medida da sua organização (aglomerados, categorias sociais, grupos estruturados, organizações, 
instituições) ou a medida do relacionamento entre seus membros (face a face ou não).
Geralmente, quando falamos em grupos, pensamos nos pequenos, aqueles dentro dos quais seus 
membros têm contato face a face, grupos que são estruturados, organizados por regras e com objetivos 
definidos, cuja ação está delimitada no espaço – por uma sala, um campo, uma instituição. Menos comum 
é chamarmos de grupos os agregados mais ou menos numerosos de indivíduos que não têm propriamente 
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nenhum contato entre si, os amontoados percebidos por Sartre numa fila à espera do ônibus (uma série) 
que não estão sujeitos a normas claras de comportamento comum, conjuntos que compreendem meros 
aglomerados ou categorias sociais que indicam um relacionamento de ordem simplesmente distributiva. 
Estes últimos são aqueles das nacionalidades, da cor da pele, dos matizes ideológicos, do sexo ou da opção 
sexual. Contudo, mesmo nessa outra ordem de agrupamentos que se constitui a partir de sua simples 
nomeação, por um critério burocrático, filosófico, político e mesmo biológico ou étnico, tendemos a dizer 
dos indivíduos a eles pertencentes que se “comportam como um grupo”.
Figura 10 – As mulheres são uma categoria social
Tratamos a semelhança entre os membros dessas categorias com a mesma naturalidade com 
que compreendemos a semelhança entre os que pertencem a uma organização. Em alguns casos, 
todavia, a escolha da filiação e daquilo que ela implica está também no âmbito do indivíduo, que 
pode apresentar‑se como jogador do time tal ou como pertencendo a certa instituição religiosa, 
profissional ou acadêmica, por exemplo, ou filiado a uma determinada ONG. Em outros casos, não 
há escolha, mas a suposição de que, entre os nomeados de uma determinada maneira, há certa 
identidade de comportamento, incluídas aí visões de mundo, expectativas, disposições para a ação. 
Sobre essas pessoas socialmente nomeadas não se questiona sua pertença a uma categoria, embora 
elas sejam reconhecidas por essa identificação e esse reconhecimento implique a forma como os 
“outros” se comportam em relação a elas (ainda que esse reconhecimento possa fazer diferença entre 
tratá‑las ou não como seres humanos, entre segurança e assassinato, estupro, genocídio, exclusão 
social; enfim, violência).
Essas maneiras de entender um grupo como uma unidade estruturada ou como uma categoria 
são bastante conhecidas e utilizadas pelos cientistas sociais (HARRÉ, 1984). Contudo, as pessoas de 
modo geral – e, mesmo em muitas ocasiões, esses mesmos cientistas sociais – tendem a tratá‑los como 
se fossem a mesma “coisa”. Espera‑se de indivíduos que pertencem a um grupo que se define pela 
nomeação, muitas vezes circunstancial, a mesma homogeneidade de comportamento dos indivíduos 
que fazem parte de grupos estruturados, mais permanentes, com normas e objetivos bem‑definidos. 
Esperar que um jogador de futebol tente marcar um gol nas redes do adversário pode ter o mesmo 
valor preditivo que a expectativa em relação ao comportamento de um simpatizante de um partido de 
esquerda quando em oposição a um certo governo (ser “contra”, por exemplo).
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Essa concepção de que nos grupos estruturados determinadas regras dirigem a disposição dos 
indivíduos (como num jogo) é extrapolada para uma situação em que tais regras não existem senão 
implicitamente na imagem que acompanha aquela categoria. A garantia que se tem ao se afirmar a 
repetição de um comportamento (ser de esquerda para ser “contra”) para um grupo apenas categorizado 
baseia‑se na experiência social do sujeito que afirma isso e que apreendeu uma identidade para aquele 
grupo, reificada pela insistência em identificar grupos como sendo “assim”; afirmação que confirma 
uma tendência cada vez mais enraizada nos relacionamentos sociais contemporâneos: sua objetivação, 
coisificação (CARVALHO, 2002).
Nesse sentido, basta ter um nome e o grupo se transforma em coisa. O grupo ou a categoria a que 
esse nome está associado passa a ser vinculado a uma imagem estereotipada, cristalizada, a algo mais 
do que a apenas uma palavra, o nome, desde que essa imagem implique também comportamentos 
estereotipados. Assim, o grupo tende a ser visto como algo que não se modifica, ou melhor, sua “inércia”, 
porque ele se tornou “coisa”, passa a ser muito grande – é difícil de mover‑se, de mudar de posição. Os 
movimentos em direção a qualquer mudança são difíceis, e ele vai se encontrar instalado efetivamente 
fora do tempo, que, de fato, parece não existir. Ele não se apresenta como referência para a identidade 
do grupo. Aqueles indivíduos que indicamos como parte de um grupo teriam sempre as mesmas 
características, independentemente do contexto no qual estivessem envolvidos.
Essa imagem,que a partir do olhar do outro configura um grupo inerte, contamina o próprio grupo 
nomeado, de tal forma que o esforço de manutenção, espécie de trava que pretende garantir a paralisia 
e a identidade do grupo, não é algo exterior, mas se verifica entre os próprios nomeados, eles mesmos 
guardiães da estereotipia. Desse modo, uma mulher tende a comportar‑se como “uma mulher” de 
acordo com um modelo que está apoiado numa história do que devem ser as mulheres e que não tem 
mais suporte nesse momento da sociedade. Aproveitando o exemplo, o mesmo se pode considerar sobre 
as pessoas de “esquerda”, alienadas numa expectativa sobre o que isso significa, num mundo em que a 
crítica ao status quo é mais indefinida.
Seja o grupo estruturado ou a categoria social, desde que tenham um nome, sua imagem estática, 
congelada, será a figura que o identifica; um “nome” cuja presença‑imagem participará da mediação 
entre os grupos, naquilo que regula e orienta seus movimentos uns em relação aos outros. O nome do 
grupo é sua bandeira, e é como algo cujo único movimento possível é o proporcionado pelo vento – por 
mais arrasador, não pode redesenhar o brasão. Tem‑se quase sempre procurado qualificar os grupos e 
seus movimentos no ambiente social (CARVALHO, 2002).
5.2 Uma história das ideias sobre grupos
A representação que se tem de um grupo social compreende aquilo que se “vê” e o que se espera 
dele numa determinada circunstância. Assim, é preciso estar atento não apenas ao que está sendo 
representado e em qual contexto, mas também a quem representa, para se poder compreender, na 
história das ideias sobre grupo, as explicações que se oferecem a como e por que os indivíduos se 
associam, classificam e categorizam uns aos outros, assim como os efeitos dessas associações nos 
relacionamentos que ocorrem dentro dos grupos e entre eles. A discussão das ideias sobre grupos 
passa pelas histórias de constituição e da manutenção dos próprios grupos de pesquisadores, 
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tanto nos seus aspectos simbólicos (a instituição de uma figura significativa, um líder, o fundador) 
quanto nos seus aspectos imaginários – imaginário entendido aqui a partir das considerações de 
Castoriadis (2007).
Um dos principais organizadores da história das ideias sobre grupos pode ser identificado no 
entendimento sobre presença e importância do imaginário. As teorias sobre grupos tratam, com maior ou 
menor intensidade, da presença do imaginário nos grupos como um problema, um resto que precisa ser 
excluído: ora ele é privilegiado, deixando de lado tudo o que seria contextual, ora ele é descartado, quer 
pela sua pouca importância (na Psicologia Social americana), quer pela impossibilidade de manipulá‑lo 
(como na Psicologia Institucional francesa). Neste último caso, o imaginário é muitas vezes confundido 
com a ideologia, e os indivíduos e grupos que a ele se submetessem estariam alienados da “realidade” – 
como se fosse possível evitar sua presença cada vez mais “visível”.
Na mesma perspectiva que garante o descarte do imaginário e de seu caráter perturbador, as teorias 
sobre grupo nessas diferentes correntes negligenciam a questão da linguagem no âmbito dos grupos. 
De um lado, pela simples ausência de importância oferecida à linguagem como marca e continente 
dos grupos sociais; de outro, mesmo quando a linguagem é reconhecida como elemento configurador 
do grupo, na ausência de discussão sobre quais entendimentos sobre a linguagem estariam presentes 
nessas correntes: se a linguagem é entendida como propiciadora de sentidos e de possibilidades (“meio 
universal”), ou como simples ferramenta (“cálculo”), tendo uma função meramente representacional 
(KUSCH, 1989). Em outras palavras, vários autores têm entrado nessa discussão sobre se as palavras 
instituem, constroem a realidade, ou se servem apenas para representar uma realidade que existe para 
“além” da linguagem.
Uma pista para entender o debate sobre o imaginário e a linguagem nas Ciências Sociais e, assim, 
nos trabalhos sobre grupos está na compreensão de que imaginário e linguagem comportam, de fato, 
a “desordem” que não poderia ser equacionada no âmbito da ciência e que o próprio senso comum 
procura excluir, na tentativa de preservar o social como permanente (Lembra‑se da discussão sobre 
a identidade?). Na ciência, esses elementos não encontrariam lugar, seja em razão dos princípios 
que sustentariam uma abordagem científica na perspectiva do positivismo, e que se oferecem como 
paradigma científico, seja pela tradição dos grupos de pesquisadores no trato com tais elementos. Sua 
(quase) exclusão é tentativa de encobrir aquilo que não faz sentido, que implica a própria presença do 
pesquisador, de sua identidade, de sua história e de suas escolhas, de presenças que resistem à razão e à 
ordem mais imediata: a das leis e normas que regem os objetos naturais. É também tentativa de resistir 
à inclusão de elementos que se encontram em profunda e contínua transformação e que teimam em 
não se submeter à permanência que um olhar organizador solicita.
 Lembrete
Positivismo é a doutrina que Augusto Comte (século XIX) propõe 
como fórmula para constituir as Ciências Sociais nos mesmos princípios 
das Ciências Naturais, fundada na separação entre sujeito e objeto do 
conhecimento.
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Dentre os diferentes entendimentos sobre os grupos e as tradições históricas e filosóficas às quais 
estão vinculados, uma chave para sua apresentação é percorrer a incidência do imaginário nesses 
universos. Destacamos, inicialmente, a Psicologia dos Grupos voltada para as questões individuais, 
marcadamente ideológica, de ordem funcionalista, uma Psicologia Social dos pequenos grupos naturais. 
Esta se verifica mais intensamente no âmbito da Psicologia Social americana, com autores como Lewin, 
Newcomb, Asch, Stoessel e Maisonnave, e é voltada para os problemas de produção e de eficiência, seja 
num grupo de soldados ou de operários, seja num grupo terapêutico, estudando os relacionamentos 
intragrupo, a liderança e a motivação.
Na outra ponta, na Psicologia Social das categorias sociais, estão os estudos sobre grupos que 
colocam em jogo os elementos da história e da cultura nas quais os grupos estão inseridos. Alinhados 
à Psicologia Social “sociológica”, que veio se desenvolvendo principalmente na Europa do Pós‑Guerra, 
esses estudos que privilegiam os fatores históricos, ideológicos e políticos identificam a Psicologia Social 
europeia e os trabalhos de autores como Tajfel, Doise e Moscovici.
Numa posição intermediária em relação a essas duas vertentes, no que diz respeito aos estudos 
sobre grupos, estariam os trabalhos sobre Psicoterapia de Grupo, sejam ou não de inspiração 
freudiana, mais ou menos próximos da vertente americana, como Moreno, ou da vertente europeia, 
como Guattari, e os desenvolvidos por psicólogos sociais sul‑americanos, como Baremblitt, Bauleo, 
Bleger e Pichon‑Rivière.
Em qualquer das vertentes da Psicologia Social – a Psicologia Social dos pequenos grupos naturais, 
a Psicoterapia de Grupo ou a Psicologia Social das categorias sociais –, a presença do imaginário como 
elemento para identificação e mediação entre os grupos traz, de maneira indiscutível, a tensão entre a 
ordem e a desordem no âmbito dos grupos.
5.2.1 A Psicologia Social dos pequenos grupos
A PsicologiaSocial americana tem sua fundação filosófica no funcionalismo de William James 
e no pragmatismo de John Dewey. Aquilo que é social nessa Psicologia diz respeito a sua função 
e utilidade, bem como sua localização fora do contexto e do tempo, no limite do tempo do 
“eu‑grupo”, isto é, o social entendido como coisa, naturalizado. Num contexto cultural e social, o 
norte‑americano, no qual se dará a valorização e o engrandecimento do “eu” com a apropriação 
dos princípios humanistas para mitificação de uma cultura narcisista, a Psicologia Social oferecerá 
recursos para o estudo e a implementação do que seja o melhor funcionamento dos grupos. As 
pesquisas sobre a dinâmica de grupos, em especial, irão exigir uma concepção de grupo na qual 
este possa ser compreendido a partir de sua estrutura “física”, com os participantes organizados 
a fim de definir objetivos e estratégias para alcançá‑los, desempenhando tarefas e obedecendo às 
normas de funcionamento do grupo (LEWIN, 1973).
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Figura 11 – Grupo face a face
Esse pequeno grupo, face a face, necessariamente estruturado, é o grupo típico dos setores 
administrativos dos empreendimentos capitalistas, alvo dos profissionais de Recursos Humanos. 
Caracteriza um entendimento de grupo cuja história recente, reforçada pela importância dada aos 
aspectos gerenciais – e de controle – das relações humanas, seja numa empresa, seja numa organização 
como o exército, remonta à Segunda Grande Guerra, quando se dará importância especial ao estudo 
dos pequenos grupos. Traçando a história desses estudos, o autor definirá esses pequenos grupos 
como compostos de duas ou mais pessoas que entram em contato para determinado objetivo (MILLS, 
1970). Estão implícitas aqui as ideias de proximidade, de frequência e de intensidade no contato 
entre os membros do grupo. O estudo dos pequenos grupos justifica‑se pela sua importância como 
microcosmo social, pelo atravessamento das pressões sociais, pela densidade afetiva e, portanto, pela 
influência que exerce sobre o indivíduo. De maneira geral, no pequeno grupo o sujeito é, ou procura 
ser, sujeito.
Figura 12 – Grupo de soldados
Essa concepção, apoiada no estudo dos pequenos grupos, aponta a ênfase na sua importância 
funcional, isto é, sabendo que os grupos influem no comportamento e, mais ainda, no desempenho 
do indivíduo, é preciso entender seu funcionamento e sua dinâmica, conhecer suas variáveis e, 
assim, poder operar sobre ele. Dessa forma, os cientistas sociais (sociólogos e psicólogos sociais) 
não investiram apenas em pesquisas que oferecessem informações sobre a dinâmica dos grupos, 
mas também em instrumentos de intervenção grupal, inclusive clínicos. Assim, os modelos para o 
estudo dos pequenos grupos têm como referência a sua funcionalidade, o quanto são operacionais 
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para o pesquisador e para os próprios membros do grupo. Para tais pesquisadores (Bales, Festinger, 
Heider, Deutch), os grupos apresentam‑se como unidades nas quais seus membros buscam a 
satisfação de suas necessidades individuais. Essas visões sobre grupos encontram‑se num contexto 
em que a associação presta‑se de uma forma ou de outra à otimização de seu funcionamento 
em direção a um determinado objetivo (MILLS, 1970). Os critérios para esses entendimentos não 
relacionam sequer o contexto no qual esses grupos estariam inseridos, excluindo aqui toda e 
qualquer referência à dimensão imaginária nos pequenos grupos. Nessa mesma tradição, incluem‑se 
as pesquisas desenvolvidas por Kurt Lewin.
5.2.2 A dinâmica de grupo de Kurt Lewin
Criador da expressão dinâmica de grupo, Kurt Lewin tem como uma das principais contribuições 
de sua Psicologia Social as investigações sobre a solução de conflitos nos pequenos grupos. 
Lewin propôs‑se a estabelecer os conceitos e a metodologia que, dando conta das dinâmicas 
nos pequenos grupos, fossem também abrangentes o suficiente quanto ao entendimento e à 
intervenção nos grupos sociais. Nas pesquisas com grupos de crianças em que se variava o clima 
das relações com um monitor (autoritário, democrático, laissez‑faire), ele procurou identificar o 
efeito do ambiente político e de suas mudanças sobre a capacidade dos indivíduos de realizarem 
tarefas, assim como suas repercussões sobre a satisfação e a agressividade. A “descoberta” do clima 
democrático como o mais adequado à produção teve enorme repercussão durante a Segunda 
Grande Guerra (ANZIEU; MARTIN, 1975).
Figura 13 – Memorial da Segunda Guerra Mundial (Washington, EUA)
Os estudos sobre a dinâmica dos pequenos grupos realizados por Lewin buscariam responder a 
duas perguntas relativas ao funcionamento dos grupos sociais nesse contexto tão decisivo da nossa 
história: como se pode produzir o nazismo como fenômeno psicológico? Qual a prevenção psicológica 
contra ele? Temas de seu grande interesse – ele próprio judeu e egresso da Europa durante a guerra. 
A importância alcançada por Lewin na Psicologia Social americana pode também ser encontrada no 
seu linguajar físico, ao tratar do confronto de forças intragrupos e intergrupos, o que conferiria um 
maior reconhecimento científico às suas teorias. Com seu interesse aumentado pelo fascínio que o 
desenvolvimento de tecnologia, inclusive para a manipulação de seres humanos, produziu a partir das 
Grandes Guerras, como “arma” contra literalmente quaisquer problemas, inclusive os sociais, as teorias 
de Lewin viriam a reafirmar as concepções sobre pequenos grupos, que, desenvolvidos em ambiente de 
guerra, serviriam para a otimização de seus comportamentos.
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 Observação
O nazismo foi a doutrina política conduzida na Alemanha por Adolf 
Hitler que, entre outros fatores, levou o mundo à Segunda Guerra Mundial. 
Movimento nacionalista, racista e fascista, o nazismo buscava uma 
supremacia de raça.
É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos 
ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status 
científico a essas considerações. Também é importante considerar o contexto em que são feitas suas 
pesquisas: em meio às Grandes Guerras, num ambiente em que parecia ser preciso marcar a diferença 
entre o “povo alemão” e o “povo americano” – de sua nova pátria. Ainda assim, mesmo reconhecendo os 
aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança notável de sua formação científica europeia, Lewin 
elabora nessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que é “visível”, ainda 
que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais. Nas suas considerações, 
em que pese a importância da valoração dos grupos e de suas diferenças, elementos essencialmente 
simbólicos, o grupo continua mantendo uma existência natural. Portanto, não são consideradas as 
dimensões imaginárias (isto é, afetivas, sócio‑históricas) nos fenômenos grupais, as quais poderiam 
auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.
5.2.3 As psicoterapias de grupo
Os pequenos grupos, face a face,são exemplares de relações que parecem dar‑se in natura, nas quais 
o que importa é o aqui e agora. Eles são típicos das organizações sociais, que parecem mais simples, nas 
quais a quantidade de pessoas envolvidas, a proximidade do contato e a caracterização mais insistente 
desses conjuntos de pessoas como uma unidade conferem a impressão de que suas determinações, sua 
dinâmica, aquilo que explica o funcionamento dentro do grupo (intragrupo) pode prescindir do que é 
“exterior” a ele e que o atravessa: o social e a história nos quais ele está imerso, elementos supostamente 
perturbadores de sua ordem.
Assim como os estudados por Kurt Lewin (operários, estudantes, soldados), outros exemplos de 
pequenos grupos podem ser encontrados no âmbito das psicoterapias de grupo, consideradas aqui como 
modalidade da Psicologia Clínica que vem sendo desenvolvida concomitantemente com os avanços das 
psicoterapias individuais desde o início do século XX e como prática que se encontra no âmbito da 
Psicologia Social.
Nessas práticas terapêuticas, será possível apreender uma ideia de grupo que ocupa uma posição 
central no conjunto dos conceitos que as definem e que lhes oferecem sentido. As soluções oferecidas aos 
indivíduos que se submetem à terapia grupal, seja ela estritamente clínica, tenha ela um viés político ou 
instrumental, dependem da concepção do que seja um grupo. A quantidade e diversidade de orientações, 
princípios e objetivos que sustentam as práticas de terapeutas fundamentadas em Bion e Moreno, entre 
outros, respondem às diferentes histórias que congregam os vários grupos de teóricos e profissionais que se 
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associaram a um ou a outro desses nomes. Quando, porém, escolhemos o imaginário como fazendo fundo 
para as diferenças, isto é, quando percorremos no contexto das psicoterapias de grupo, bem como as ideias 
sobre grupos que elas comportam, e discutimos a presença do elemento “perturbador” – o imaginário –, 
deparamo‑nos com um cenário no qual há mais semelhanças do que diferenças.
O imaginário será visto, muitas vezes, como componente causador de perturbação, justamente 
quando é mais visível, sensual, perceptível, banhado do afeto envolvido nos relacionamentos face a face. 
O momento em que quase se pode tocá‑lo é quando sua presença mais será negada ou demonizada. O 
posicionamento em relação ao imaginário nas psicoterapias de grupo não está marcado necessariamente 
pela disposição científica ou ideológica do pesquisador, pela sua ânsia por verdade ou justiça social. 
Parece depender, antes, do preconceito ontológico contra tudo o que não possa ser perfeitamente 
equacionado, o que não significa que não possa ser compreendido – herança do cientificismo nas 
Ciências Sociais.
As considerações de autores como Lancetti (1994), Pontalis (1972) e Guattari (2005) discutidas a 
seguir são exemplares de alguns dos principais posicionamentos sobre os pequenos grupos terapêuticos: 
a vertente mais politizada e engajada da psicoterapia institucional francesa e a mais histórica e 
filosófica da Psicanálise também francesa. Todas elas revelam a presença/ausência do imaginário e da 
linguagem nos grupos a partir de diferentes perspectivas teóricas, como o psicodrama, a Psicanálise ou 
a grupoterapia engajada politicamente. Esses autores discutirão a presença das disposições afetivas e 
não racionalizáveis na Psicoterapia de Grupos.
Para Lancetti (1994), a atenção metodológica que se tem dado aos grupos nas mais diferentes circunstâncias 
e modalidades em psicoterapia tem servido, entre outras coisas, a uma proposta ideológica: melhorar as 
relações entre os indivíduos, nas famílias, nas instituições, na produção. Nesse sentido, a Psicoterapia de Grupo 
tem como modelo as práticas que orientaram o estudo dos conjuntos de pessoas no Pós‑Guerra, quando se 
verificou, como já foi visto no contexto da Psicologia Social americana, a importância das circunstâncias 
grupais para a produção. Lancetti (1994) defende a tese de que os estudos sobre grupos, paradoxalmente, 
comportam uma ideologia individualista. Os movimentos que se verificam nos grupos seriam similares aos 
dos indivíduos, solicitando entendimentos e intervenções que deixam à mostra a intenção de promover, antes 
de tudo, a modificação do comportamento do outro por meio de técnicas de grupo, que poderiam, no limite, 
ser responsáveis por “uma forte promoção narcísica” (LANCETTI, 1994, p. 87).
A instituição de grupos, nos quais se produz a individualização do grupo e a grupalização do sujeito, 
teria como função “obturar a função desejante do indivíduo e oferecer um dos melhores exemplos do 
que Guattari chamou de grupos submetidos” (LANCETTI, 1994, p. 87). Neles, a ideia de grupo, segundo 
a crítica de Lancetti, está contaminada com o que seria o funcionalismo da Psicologia americana: ele 
encontra nas psicoterapias de grupo a mesma preocupação com a “produção”, que pode ser verificada 
nos trabalhos de Kurt Lewin, por exemplo. Todavia, também a Psicoterapia de Grupo via Psicanálise 
estaria contaminada, segundo ele, por uma presença que viria a distorcer o real e a iludir o grupo quanto 
à sua cura: a presença do engano (o imaginário) claramente identificado ao falso, à invenção, em franca 
oposição à razão e, portanto, sem valor, senão como perturbador da realidade. Para Lancetti (1994), a 
ilusão (o imaginário) é compreendida como um problema que precisa, de alguma forma, ser controlado 
e extraído.
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Unidade II
Figura 14 – Terapias de grupo/terapia comunitária (Tenda Che Guevara FSM)
5.2.4 Dos grupos diagnósticos à Psicanálise: as críticas de Pontalis e Guattari
Produzidas durante a década de 1950 e o início dos anos 1960, as considerações de Pontalis (1972) 
sobre a Psicoterapia de Grupo comportam referências importantes sobre a questão do contexto e da 
história no entendimento dos grupos sociais. Percebendo nas práticas clínicas em grupo distorções 
tanto de ordem ideológica quanto técnica, ele discute o que entende ser uma leitura equivocada dos 
textos freudianos sobre grupos. Para Pontalis, o que assegura a existência de um grupo humano é sua 
função institucional, isto é, o seu lugar num universo simbólico. O pequeno grupo deve ser pensado 
não como absolutamente independente, mas sempre como inserido no contexto social. As práticas 
de intervenção sobre os grupos, dentre as quais ele destaca o psicodrama de Moreno, pretenderiam, 
equivocadamente, reduzir as barreiras imaginárias que bloqueiam, retardam e perturbam um processo 
natural, resolvendo, assim, problemas de comunicação entre os indivíduos. Nesse caso estariam todas 
as práticas em Psicoterapia de Grupo que compreenderiam sua não contextualização, tomando o grupo 
como unidade completa e independente do social, sem referência exterior. Estão aqui também a corrente 
psicossociológica, que pretenderia o ajuste dos comportamentos por meio de práticas grupais, e também 
as práticas inspiradas numa visão biologizante de grupo, que faz dele, em qualquer circunstância, uma 
unidade em desenvolvimento, em que não cabem o caos e o imponderável associados ao imaginário.
Segundo Pontalis (1972), desde o grupo diagnóstico ou terapêutico (T‑group), inventado em 1947 
nos EUA por discípulos de Kurt Lewin, os grupos são necessariamente artificiais. O T‑group seria um 
grupo sem passado e sem futuro, quecomporta uma realidade falseada, em que se amplificam situações 
que, na realidade, não teriam a mesma intensidade. A partir daí, a história das intenções e práticas 
comportadas nos trabalhos com grupos inicia‑se pelo interesse numa Pedagogia comunicativa (é 
preciso que haja comunicação no grupo), passando pela ênfase no autoconhecimento do próprio grupo, 
de como ele “funciona”, até bastar‑se como espaço para a experiência, sem nenhuma outra finalidade. 
Nessa história, os grupos não têm mais modelos normativos, nos quais se trate do seu desenvolvimento. 
Quando essa concepção ainda pode ser percebida, isto é, quando o grupo é entendido como em 
desenvolvimento, tal qual um organismo, isso se dá como tentativa de isolar os significados possíveis 
da experiência grupal, e a Psicoterapia de Grupo continua descaracterizada quanto à sua possibilidade 
de intervenção social – e clínica. Portanto, a técnica, qualquer que seja (lewiniana, psicodramática, 
psicossociológica, sociométrica), seria, para Pontalis (1972), comandada pela ideologia e, assim, as 
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supostas diferenças entre as várias tendências quanto a seu aparato “técnico” seriam, de fato, mínimas, 
acentuadas apenas pelos diferentes vocabulários que adeptos de umas e outras utilizam. Por meio 
dessas técnicas, o indivíduo na Psicoterapia de Grupo será tratado, de uma forma ou de outra, como 
subgrupo que precisa ser integrado à sociedade e à realidade, uma forma de adaptação ao contexto e 
de negação das dimensões imaginárias nas quais está inserido.
Num texto posterior, Pontalis (1972) encontrará no início da década de 1960 a Psicoterapia de 
Grupo sendo exercida mais frequentemente como Psicanálise Aplicada. As práticas com grupos, assim 
como a Psicanálise, estão na moda e são apresentadas ora como instrumento de formação, ora como 
ferramenta terapêutica. Assinalando sua dúvida quanto à pertinência da separação entre terapia e 
formação na prática de grupos, Pontalis identifica, nessa mesma linha, a precariedade, muitas vezes, em 
definir os objetivos de um trabalho de grupo, descritos sem parcimônia como a tentativa de sensibilizar 
os participantes para os “fenômenos de grupo” (PONTALIS, 1972). O autor reconhece, em relação aos 
estudos de grupo, que continuaria havendo uma diversidade quanto às influências (Lewin, Moreno), 
quanto às técnicas (experimentalista, observação clínica) e quanto aos modelos (matemático, organicista, 
psicanalítico), mas indica que essas práticas teriam sofrido um “banho” de Psicanálise que, ao mesmo 
tempo que as teria habilitado como transformadoras e retirado seu ranço ideológico, diluiu ainda mais 
os conteúdos teóricos que as caracterizariam, tornando‑as menos rigorosas e ainda mais semelhantes. 
Nesse cenário, aqueles que antes eram críticos dos trabalhos de grupo como “engenharia humana” 
teriam reconhecido, depois, possibilidades de intervenções grupais transformadoras, revolucionárias. 
As técnicas de grupo deixariam de ser necessariamente ideológicas, podendo ter outro “uso”. Seja 
como for, a ideia de grupo nessas práticas psicoterapêuticas, tanto antes quanto nesse ponto, continua 
sendo, fundamentalmente, subsidiária de uma prática, de uma ferramenta, ainda que alcançando uma 
dimensão social que inicialmente parecia desnecessária. A contribuição da Psicanálise para a Teoria dos 
Grupos, segundo Pontalis (1972), está inicialmente nas tentativas de encontrar, nos grupos, similares das 
instâncias da personalidade da segunda tópica freudiana (ego, superego, ideal do ego).
Será com Bion, entretanto, que a Psicanálise virá a oferecer uma nova dimensão para a Psicoterapia 
de Grupo, com as diferenças entre os grupos de base e os grupos de trabalho, bem como o conceito de 
hipótese de base. Enquanto os grupos de trabalho são aqueles organizados para uma tarefa, os grupos de 
base caracterizam‑se por não estarem presos a normas de funcionamento, mas a circunstâncias, como o 
horário da sessão de psicoterapia. Esses grupos não têm tarefa, ou ela é (re)definida permanentemente pela 
sua história. Já as hipóteses de base seriam responsáveis por organizar o grupo, orientando, por exemplo, a 
escolha de um líder, por meio de critérios de dependência (de um líder), de duplicação (esperança messiânica 
no fim das dificuldades do grupo) ou de ataque e fuga (como estratégia de manutenção), e fundamentam‑se 
nas teorias de Melanie Klein sobre os mecanismos de defesa infantis. De acordo com Bion, citado por Pontalis 
(1972), o grupo seria um agregado de indivíduos, e mais, possuiria um fantasma, isto é:
[...] uma realidade estruturada, que age, capaz de informar não apenas imagens e sonhos, mas todo 
o campo do comportamento humano (p. 218).
É isso que o grupo provoca nos indivíduos, o efeito desse fantasma. Quando o indivíduo se vê face 
a face com um grupo, isso lhe provoca efeitos fantasmáticos, quanto a se o grupo é um “bom” objeto – 
com o qual pode aliar‑se, sumir nele como indivíduo – ou um “mau” objeto –, um grupo persecutório, 
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que o ameaça de destruição. Nos dois casos, está em jogo a morte do indivíduo, prevalecendo o grupo. 
Nessa perspectiva bioniana, Pontalis reconhece, se não efetivamente uma novidade nos estudos sobre 
grupos, ao menos um retorno a questões já formuladas pela Psicanálise a respeito disso e que resgatam 
a importância, inclusive clínica, do imaginário no entendimento dos grupos:
Não basta mostrar os processos inconscientes que operam no seio do grupo, 
por mais sabedoria que se possa provar: enquanto se colocar fora do campo 
da análise a própria imagem do grupo, com as fantasias e os valores que 
ela carrega em si, na realidade se evitará qualquer pergunta sobre a função 
inconsciente do grupo (PONTALIS, 1972, p. 222).
 Observação
Melanie Klein, psicanalista inglesa do século XX, seguidora de Freud, é 
responsável por uma leitura muito original e provocadora da obra freudiana.
Apesar da importância dada a Bion por Pontalis (1972) no que diz respeito às ideias sobre grupos 
contidas no âmbito das psicoterapias grupais, é com Guattari (2005) que vem tomar corpo aqui, mais 
efetivamente, também por meio da Psicanálise, uma dimensão crítica e transformadora. Tratando de um 
determinado tipo de grupo, o “grupo‑sujeito”, Guattari afirma que eles:
[...] se definem por coeficientes de transversalidade que conjuram as 
totalidades e hierarquias; são agentes de enunciação, suportes do desejo, 
elementos de criação institucional; por meio de sua prática não deixam de 
se confrontar com o limite de seu próprio sentido, de sua própria morte ou 
ruptura (GUATTARI, 2005, p. 14).
Assim, o grupo‑sujeito deveria atuar como uma “máquina de guerra”, uma “máquina de desejo”, 
sem pretensão de ser vanguarda ou de hegemonia, “senão como simples suporte que permita a 
transferência e a desaparição das inibições” (GUATTARI, 2005, p. 17). Desse modo, Gilles Deleuze faz a 
apresentação de uma das ideias ou funções de grupo que Guattari (2005) conceitua para tratar de um 
grande problema, como já o havia definido Pontalis (1972): a oposição – ou composição – do grupo 
como realidade social e do grupo como “subjetividade”, tendo a Psicanálise como pano de fundo. Nessa 
tentativa, Guattari (2005) visa dar sustentação a um projeto político e revolucionário de intervenção 
social, que toma os grupos como capazesde movimentos de transformação, desde que se leve em 
conta não só seus aspectos históricos, como pretenderia uma concepção marxista, mas também os 
aspectos imaginários dos grupos (o “fantasma” do grupo), razão pela qual foi violentamente criticado 
pelas instituições de esquerda francesas na década de 1960.
Nas duas modalidades de grupo propostas por esse autor (o grupo‑sujeito e o grupo‑objeto), 
localiza‑se um quantum de imaginário, que está ora “sob controle”, como nos grupos‑sujeito, ora 
inundando o grupo, como nos grupos‑objeto. O imaginário, antes de ser uma marca permanente do 
grupo, apresenta‑se para ele como uma função que não pode ser excluída da experiência grupal, e assim 
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deve ser interpretado. Se não o for, mesmo os grupos ditos revolucionários tenderão a grupos‑objeto, isto 
é, completamente “imaginarizados”. Esses grupos “dominados” pelo imaginário ficariam, assim, distantes 
de seu objetivo transformador, e se verificaria neles o crescimento da burocracia em detrimento da 
sua criatividade social. Somente os grupos‑sujeito, ou a atuação dessa função no grupo, escapando à 
burocracia, seriam capazes de induzir movimento.
Discutindo seu próprio histórico de relacionamentos e suas implicações com uma grande variedade de 
grupos, como estudantes, políticos, universitários, acadêmicos e, especialmente, grupos revolucionários, 
Guattari (2005) procura definir mais precisamente as duas funções que explicariam os movimentos gerais 
dos grupos. Citando Freud, ele afirma que existe uma série contínua entre o estado amoroso, a hipnose e 
a formação coletiva – lá onde estaria a alienação – e que o neurótico acaba por substituir suas formações 
sintomáticas pelas grandes formações coletivas (as instituições da humanidade), criando seu próprio 
mundo imaginário. Da mesma forma, Guattari (2005) acabaria por encontrar algo equivalente também 
nos indivíduos que pertencem a grupos sociais, mesmo os tidos como revolucionários, como partidos 
de esquerda ou grupos de jovens, e que poria por terra a distinção fácil entre grupos “revolucionários” e 
“não revolucionários” quanto sua potência de transformação social.
Figura 15 – Estamos preparados para a revolução?
Os grupos submetidos ou grupos‑objeto são aqueles que recebem dos outros suas determinações 
e que não podem recuperar sua função desejante, porque passam a “desejar” a sobrevivência grupal, 
operando não contraditoriamente. Por outro lado, os grupos‑sujeito propõem‑se a recuperar sua lei 
interna, seu projeto, sua influência sobre os outros grupos, que encontrariam similar, em princípio, 
nos grupos revolucionários (GUATTARI, 2005). Mesmo caracterizado assim, um grupo não seria, 
definitivamente, grupo‑sujeito ou grupo‑objeto, e Guattari (2005, p. 192) acaba por indicar essas duas 
maneiras de ser do grupo como funções:
Dizemos que o grupo‑sujeito se articula como uma linguagem e se articula 
no conjunto do discurso histórico, enquanto o grupo‑objeto se estrutura 
de um modo espacial, com uma forma de representação especificamente 
imaginária que é o suporte do fantasma do grupo; mas, na realidade, se 
trata mesmo de duas funções que inclusive podem aparecer conjuntamente.
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Haveria, portanto, grupos‑sujeito, que se deixam embalar por seus fantasmas, e grupos‑objeto, nos 
quais se apresentam momentos de subjetividade do grupo. Para que um grupo se confirme ou se mantenha 
como grupo‑sujeito, é necessário que haja uma articulação entre a criatividade do grupo, sua expressão 
organizativa e sua elaboração teórica. Além disso, com o grupo‑sujeito definido como não produtor de 
burocracia, mas de movimento, a proposta desse conceito viria a opor‑se ao entendimento do que seriam 
as instituições sociais, como organizações detentoras de formações imaginárias que comprometeriam 
inapelavelmente esse movimento. Tais formações seriam comuns a todo e qualquer grupo social, desde 
que os grupos não estão sujeitos apenas a injunções contratuais (racionais), mas responderiam também 
a “forças” subjetivas, caóticas, imponderáveis, irracionais, inconscientes, que estariam a serviço da 
manutenção da permanência reificada dos grupos e dos indivíduos (GUATTARI, 2005).
Desde que grupo‑objeto e grupo‑sujeito possam ser pensados como funções, Guattari (2005) sugere 
que o imaginário nos grupos poderia ser suplantado por meio da instituição de um analisador, o que 
faria surgir o grupo‑sujeito como “campo de leitura dos fenômenos inconscientes”, provocando uma 
mudança no fantasma do grupo. Tal mudança pode ser efetivada, já que, para para o autor, o fantasma 
não seria único, definitivo, nem se apresentaria como marca da essência de um grupo. Pode ocorrer que 
o fantasma originado em um indivíduo ou em um grupo particular venha a servir circunstancialmente 
de suporte à “fantasmatização” do grupo, da mesma forma que os individuais também serão função 
de certo fantasma coletivo. É justamente o caráter circunstancial do fantasma de grupo, diferente do 
fantasma individual, que pode abrir caminho para a transformação do grupo, catalisada pela função 
“grupo‑sujeito”.
Os grupos oscilariam, dessa forma, entre dois tipos de fantasmas, de acordo com a quantidade 
de imaginário que eles comportem: de um lado, os fantasmas de base, dos grupos submetidos, mais 
fundamentais, institucionais, que dependem do caráter de submissão do grupo (os aspectos imaginários 
na igreja, no casamento, no partido político, por exemplo); de outro, os fantasmas transicionais, 
associados aos grupos‑sujeito, capazes de mudanças, ligados ao processo interno de subjetivação que 
corresponde às diferentes transformações do grupo, como a teoria num partido revolucionário.
Para Guattari (2005), as intervenções institucionais devem levar em conta estes aspectos dos grupos: 
funções e fantasmas. Um grupo que tenha as funções imaginárias “funcionando bem” é aquele no qual as 
pessoas sentem‑se “em casa”. Ali, o fantasma do grupo é transicional. Nos grupos que não estão “lutando” 
por sua permanência, há possibilidade de avanço. Nos outros, o sujeito paga com a paralisia a oferta 
de manter‑se “vivo”. O autor oferece como exemplo destes últimos um grupo político‑revolucionário no 
qual a burocracia supera seu objetivo transformador: ainda que buscando a transformação, esse grupo 
revolucionário não se apresenta como parte do jogo, isto é, como inserido num espaço de mudança 
permanente de seus lugares e funções sociais, de sua identidade. A função imaginária nos grupos‑objeto, 
presente num certo fantasma de grupo, compele os indivíduos a procurar esconjurar a morte. Associados 
num “sentimento de eternidade” (2005, p. 198), isso implicaria, no entanto, e paradoxalmente, certo tipo de 
morte no grupo, desde que permanece, mas nele não há movimento. O “efeito morte”, para Guattari, não 
está alicerçado apenas na presença do imaginário no grupo: pelo contrário, se o imaginário “funcionasse 
bem”, os indivíduos não se perceberiam num movimento em direção à fusão com o absoluto; ao contrário, 
eles estariam abertos para o desejo, isto é, livres para ser. O “efeito morte” será, assim, determinado não 
pelo imaginário, mas pela função que ele desempenha.
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 Lembrete
O conceito de imaginário, em Guattari (2005), guarda semelhanças 
com aquele utilizado por Castoriadis (2007) proposto na confluência dos 
estudos marxistas e da Psicanálise.
5.2.5 A Psicologia Social das categorias sociais
Depois da apresentação das concepções de grupo presentes em diferentes práticas na psicoterapia 
e nas práticas institucionais fundamentadas na Psicanálise, tratamos aqui da discussão sobre grupos no 
âmbito da Psicologia Social europeia. Nesse caso, o debate sobre o imaginário e a linguagem nas ideias 
sobre grupos tem uma história bastante recente.
Reconhecida como tradição e campo de pesquisa científica a partir do final da Segunda Grande 
Guerra, a Psicologia Social europeia constitui‑se influenciada pela Sociologia de Durkheim e em 
oposição à hegemonia da Psicologia Social americana, situando suas preocupações nos grandes grupos 
sociais e em sua dinâmica (FARR, 2006). Nesse sentido, ao lado dos esforços para sistematizar métodos 
e procedimentos de pesquisa, os psicólogos sociais europeus irão dar especial importância à história e 
ao contexto, isto é, ao tempo, no desenvolvimento de seus trabalhos. Estarão marcados pela presença 
de discussões ideológicas, por teorias que garantem a prevalência do social, como o marxismo, e pelos 
processos que explicam os relacionamentos intergrupos, como a categorização social, base para se 
pensar a instituição e o pertencimento a grupos.
Os pesquisadores alinhados a essa tradição europeia serão profundamente influenciados por questões 
sobre o comportamento e a dinâmica dos grupos sociais deixadas na esteira da Segunda Grande Guerra. A 
importância oferecida aos contextos social e político no Pós‑Guerra é um indicativo dos parâmetros que 
viriam a orientar os pesquisadores na tentativa de explicar, entre outros, o comportamento intergrupos, 
seja na preparação para a guerra, seja durante o seu desenrolar. Os grupos‑alvo dessas pesquisas serão 
predominantemente aqueles das categorias sociais, isto é, grupos caracterizados como sem estrutura 
e sem leis de funcionamento predefinidas, com objetivos circunstanciais, que têm membros cuja 
relação não será necessariamente face a face. Nessa tradição, encontram‑se os estudos sobre grupos 
desenvolvidos pelas escolas de Bristol e de Genebra, assim como os trabalhos realizados a partir da 
Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici.
Nas considerações de Amâncio (2004) sobre a Escola de Bristol, situada na tradição de uma Psicologia 
Social de orientação sociológica, encontramos uma apresentação crítica dos trabalhos de Tajfel e 
Turner, seus principais representantes. Esses autores, ainda que vinculados a uma tradição sociológica 
de pesquisa, apresentariam os grupos sociais como estando a serviço de determinantes psicológicos, 
mais especificamente, da constituição e da manutenção de uma identidade controlada por processos 
cognitivos individuais, como motivações, reforçando a ideia do grupo como coadjuvante do self positivo 
e esvaziando sua dimensão solidária.
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Estudando o que determina a discriminação intergrupos, Tajfel e Turner opõem‑se às explicações 
que extrapolam o nível do individual e do interindividual para o das relações intergrupos, mais 
especificamente à atribuição do conflito como determinante da discriminação entre grupos sociais. O 
ponto de partida em Tajfel é o de que a percepção do que está à nossa volta não é uma ação puramente 
mecânica, mas comporta uma dimensão valorativa, na qual a categorização se apresenta como processo 
cognitivo fundamental e universal (apud AMÂNCIO, 2004).
Nas experiências com grupos mínimos, paradigma experimental dessa concepção, verifica‑se, numa 
situação socialmente vazia, o favorecimento do grupo ao qual se pertence, em detrimento do grupo dos 
outros, com a categorização como condição mínima para a emergência da discriminação intergrupos. 
Nessa perspectiva, em que o autofavorecimento dos grupos orienta‑se pela busca dos indivíduos por 
uma identidade social positiva, Amâncio (2004) indica que:
[...] os processos intergrupais de categorização e comparação sociais passam 
a ser regulados por uma motivação e o próprio grupo de pertença torna‑se 
uma entidade temporária e arbitrária, que serve de mero substituto funcional 
à satisfação de um self positivamente distintivo (AMÂNCIO, 2004, p. 296).
Para a autora, se Tajfel situa a identidade num continuum entre o interpessoal e o interindividual, e 
Turner transforma o conflito interpessoal‑intergupo numa oposição entre o self e o grupo, entre uma 
identidade pessoal e uma identidade social, isso leva a uma ideia de grupo “como um simples meio de 
satisfação da necessidade psicológica de uma distintividade social positiva” (AMÂNCIO, 2004, p. 298).
Apresentando os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores vinculados à Escola de Genebra, 
representados por Doise, e que também fazem parte da tradição europeia de Psicologia Social, Amâncio 
(2004) afirma que eles preservarão conceitos como a ideia de categorização social e o paradigma do 
grupo mínimo, mas que os resultados dessa abordagem, ainda que integrando elementos da Escola de 
Bristol, afrontam princípios defendidos por Tajfel e Turner, como o da causalidade psicológica universal. 
Segundo a autora, para os pesquisadores de Genebra:
[...] a dicotomia entre identidade pessoal diferenciada e identidade social 
homogeneizante torna‑se inaceitável, tanto teórica como empiricamente, 
visto que o comportamento do indivíduo, no interior do grupo e em relação 
ao grupo comparativamente relevante, não é universalmente orientado por 
uma motivação, mas sim por referências a normas e valores coletivos que 
a categorização intergrupos torna significantes (AMÂNCIO, 2004, p. 303).
O processo de discriminação intergrupos que vai constituir as identidades sociais seria, assim, função 
dos elementos simbólicos que se situam na trama social, afastando essa concepção de grupos das 
explicações psicológicas e a localizando como francamente social.
Propondo a ideia de uma diferenciação categorial, os autores da Escola de Genebra defendem 
que, no processo psicológico de estruturação do meio, os conteúdos das categorias não podem ser 
desligados dos seus critérios classificatórios e que tais critérios dependem fundamentalmente das 
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relações intergrupos. Aqui, o ponto de partida está em estudos sobre conflitos nas décadas de 1950 e 
1960, cuja evolução entre os grupos é acompanhada por uma evolução nas imagens que cada grupo 
tem de si e do outro (AMÂNCIO, 2004). Doise irá complementar essas constatações incluindo a discussão 
sobre a dinâmica das representações dos grupos e afirmando que tais representações operam funções 
sociocognitivas que orientariam as interações entre os grupos: pela função seletiva, a diferenciação 
categorial dar‑se‑ia tendo o contexto como mediador; a partir da função justificativa, os conteúdos 
das representações que veiculariam uma imagem do outro grupo seriam justificados pelas posições 
de cada grupo no contexto da interação; a função antecipatória orientaria o desenvolvimento da 
relação entre os grupos. Assim, os trabalhos de Doise, em especial,observam uma maior interação 
entre o grupo e os indivíduos que o constituem, assim como entre as realidades simbólicas dos grupos 
e suas representações, num processo de constituição de identidades e diferenças sociais no qual os 
grupos se constroem, afetam os comportamentos dos indivíduos, e estes, por sua vez, interagem e 
corroboram a realidade dos grupos.
5.3 A Teoria das Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici
5.3.1 O pensamento do senso comum: os grupos pensam?
Na tradição da Psicologia Social europeia e buscando caracterizar o que seria efetivamente uma 
dimensão sociocognitiva (os grupos pensam?), o francês Serge Moscovici irá propor, a partir da década 
de 1960, a Teoria das Representações Sociais (TRS). Para iniciar a apresentação dessa teoria, vale aqui 
uma pergunta: quais as relações entre o pensamento científico e o senso comum?
Na tentativa de buscar uma resposta para essa questão num contexto de grande debate sobre 
a relevância do pensamento científico no Pós‑Guerra e de como esse pensamento era assimilado e 
transformado pelas “pessoas comuns”, Moscovici (1986) propõe o conceito de representações sociais, 
apresentado pela primeira vez no trabalho As Representações Sociais da Psicanálise, em 1961.
Moscovici tem como ponto de partida a ideia de representações coletivas, antes proposta pelo 
sociólogo francês Émile Durkheim. É um dos fundadores da Sociologia como ciência, para quem as 
representações coletivas são instituídas na origem da sociedade humana e têm status ontológico, isto é, 
não se constituem como uma média das representações individuais, mas são formadas por um caráter 
universal e necessário, apoiadas na natureza (social).
Na tradição de uma ciência sustentada pela razão e que busca na sociedade seu caráter positivo, 
verificável, concreto, Durkheim trata das representações coletivas como uma forma de conhecimento, 
próprio da sociedade, que é concebida como um “ser” que pensa: as representações coletivas 
“correspondem à maneira pela qual esse ser especial, que é a sociedade, pensa as coisas de sua própria 
experiência” (DURKHEIM, 1989, p. 513).
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Figura 16 – Émile Durkheim (1858‑1917)
O conceito de representação coletiva procurava dar conta de determinados conhecimentos inerentes 
à sociedade, como a religião, os mitos ou a ciência. Entre eles, Durkheim destacou a religião como 
origem de todas as formas de conhecimento. No estudo da religião de povos “primitivos”, ele identificou 
formas elementares que estariam presentes também em religiões mais elaboradas (SÁ, 1994).
A ideia original de Durkheim, que irá sustentar a proposta de um objeto próprio para a Sociologia, 
“um pensamento social”, contraria o senso comum e a concepção do pensamento como atributo 
do indivíduo e abre a porta para considerar‑se sociedade (e grupos) como entes para os quais cabe 
reconhecer e, então, estudar os processos que sustentam as representações.
Moscovici, apoiado nesse debate, subverte, no entanto, a concepção durkheimiana e indica que 
a representação dos objetos e das teorias sobre os quais as sociedades humanas têm interesse são 
reconstruídos por essas sociedades num processo contínuo apoiado, fundamentalmente, nas relações 
entre as pessoas e os grupos sociais.
Essa concepção de Moscovici pode ser contemporaneamente associada a outras preocupações e 
movimentos do pensamento nas Ciências Sociais, como sugere Arruda (2002, p. 10), ao falar das relações 
da Psicologia com outras áreas do saber:
Estamos numa era de reforma do pensamento que desvela a complexidade 
do objeto da Psicologia e a ingênua veleidade de acreditar que podemos, a 
partir de uma única área de saber, dar conta dele. Isso projeta a Psicologia 
no território da interdisciplinaridade.
Para a autora, seguindo o pensamento desenhado por Boaventura de Souza Santos (2010), vivemos 
um cenário em que se apresentam diferentes rupturas epistemológicas, isto é, movimentos que desafiam 
a hegemonia do valor dos conhecimentos já estabelecidos. A primeira dessas rupturas seria a do senso 
comum para a ciência, quando esta se constitui como campo hegemônico do saber. A segunda, da qual 
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estamos mais próximos no tempo, subverte e transforma esse entendimento, quando da passagem da 
ciência para o senso comum; mas um senso comum já transformado pela presença do pensamento 
científico e capaz de desafiar a hegemonia daquele pensamento.
Os interesses de Moscovici (2003) na construção da Teoria das Representações Sociais apresentam‑se 
nessa convergência; mas, indo além, ele pretende constituir teórica e metodologicamente um campo 
de trabalho em que se possa recuperar não apenas a importância do senso comum, mas a do grupo (e 
do humano). Sinteticamente, a TRS apresenta uma concepção que pretende atender a um problema 
crônico nas Ciências Sociais: a relação entre o pensamento científico e aquele que se refere ao senso 
comum, o pensamento do grupo, propondo, nesse sentido, outro problema: os grupos pensam?
A resposta a essa pergunta não é simples, porque propõe a superação de um entendimento 
bem‑estabelecido: o pensamento, para todos os efeitos, é um fenômeno individual. Como falar de um 
grupo que pensa? Como entender algo como uma cognição social? Moscovici (2003) vai, assim, construir 
uma teoria que pretende instituir uma maneira diferenciada de conceber a realidade dos grupos, o seu 
pensamento e, como decorrência, o comportamento e o devir dos grupos humanos.
Deparando‑se com o que ele entendia ser um fenômeno, antes de ser um conceito, a representação social, 
Moscovici evita sistematicamente definir, na sua obra, as representações sociais, sucumbindo a esse esforço 
em poucos momentos. Numa das poucas vezes em que sugere uma definição, ele se refere às representações 
sociais como “uma rede de conceitos e imagens arranjados juntos de diferentes maneiras de acordo com as 
interconexões entre as pessoas e os meios que servem para estabelecer comunicação, cujos conteúdos se 
diferenciam continuamente através do tempo e do espaço” (MOSCOVICI, 1988, p. 222).
Já Denise Jodelet (2001), psicóloga francesa do mesmo grupo de Moscovici, tentou materializar 
minimamente esse conceito e compreende uma representação social como:
[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada com um 
objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a 
um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda 
saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, 
do conhecimento científico (p. 22).
Na passagem das teorias científicas para o senso comum, num processo mediado pelo diálogo entre 
os indivíduos, a Teoria das Representações Sociais redescobre nos grupos sociais uma explicação para o 
mundo que orienta o comportamento dos indivíduos no grupo.
Considerando as representações sociais uma teoria do senso comum, e não uma teoria científica, 
como uma versão do senso comum, isso não lhes confere, no entanto, o status de pensamento 
primitivo ou menor. Ao contrário, a representação social apresenta‑se como uma categoria especial de 
conhecimento, variando de acordo com onde, quando e quem se serve dela. Sua presença e função podem 
ser verificadas no cotidiano de todos nós e não implicam uma apreensão “deficiente” da realidade,mas 
um entendimento socialmente determinado pelas relações humanas e que organiza nossa compreensão 
e ação no mundo.
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5.3.2 Objetivação e ancoragem
Moscovici irá considerar que o processo de elaboração de uma representação social, que ele caracteriza como 
do âmbito da cognição social, pode ser compreendido em razão de dois momentos: a objetivação e a ancoragem.
A objetivação é o processo pelo qual se tenta reabsorver um excesso de significações, materializando‑as. 
A quantidade de significantes e indícios que um determinado grupo utiliza pode tornar‑se de tal maneira 
abundante que os sujeitos, diante dessa situação, procuram combatê‑la tentando ligar palavras a coisas. 
Aqui, Moscovici entende estar a dimensão imagética da representação social, que tem importância 
direta no seu processo de disseminação.
É possível reconhecer esse movimento, por exemplo, ao se falar da representação social da Psicanálise. 
Ainda que se trate de campo complexo e suponha uma difícil assimilação, não podemos deixar de 
lembrar a figura de Freud, das práticas psicoterapêuticas e do sofrimento mental, cada vez que nos 
depararmos com um simples divã.
Figura 17 – Um divã pode compor a representação social da Psicanálise
A ancoragem é o outro lado da moeda em relação à objetivação. Ajusta o objeto representado à realidade 
da qual este foi sacado, promovendo a constituição de uma rede de significações em torno dele e orientando 
as conexões entre ele e o meio social. Assim, o objeto, via representação social, passa a ser um instrumento 
auxiliar para a interpretação da realidade. Nesse contexto, pode‑se verificar a dimensão conceitual e 
linguageira da representação social. Para não irmos muito longe, podemos recorrer novamente à Psicanálise 
como exemplo. É possível verificar o processo de ancoragem na associação que podemos fazer entre a prática 
religiosa católica da confissão e a Psicanálise: ambas ocorrendo num espaço reservado, com garantia de 
sigilo, possibilidade de se tratar de questões íntimas que o sujeito não traria para o espaço público. A prática 
psicanalítica como conceito viria ancorar‑se, assim, no conceito já conhecido de confissão.
Exemplo de aplicação
Considere outro exemplo do processo de disseminação das representações sociais na sua dimensão 
imagética: qual famosa marca de refrigerantes pode ser reconhecida pelo formato inconfundível de 
suas garrafas?
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5.3.3 Teoria das Representações Sociais e grupos
De acordo com Moscovici, as representações sociais são função dos grupos, de sua experiência 
e daquilo que os identifica, sua identidade. Assim, pode‑se considerar que variam de acordo com 
determinado grupo. Isso é de tal forma importante que seria possível reconhecer a pertença (a relação 
com o grupo) por meio do estudo das representações sociais. Universitários versus operários, mulheres 
versus homens, cada categoria social apresentaria singularidades em relação às suas representações 
sociais de um determinado objeto/teoria.
Apesar dessa associação, Moscovici e outros estudiosos da TRS têm recolhido exemplos de como, 
em um mesmo grupo, podem conviver diferentes representações sociais, o que foi chamado de polifasia 
cognitiva (MOSCOVICI, 1986).
Nos estudos sobre a representação social da Psicanálise, Moscovici entendeu que havia evidências 
quanto a diferentes representações que coexistiam tanto em um mesmo indivíduo quanto em um mesmo 
grupo social, dependendo do contexto em que são produzidas e dos objetivos a que estão subordinadas. 
Conforme as condições nas quais as representações são evocadas, elas podem diferir e deixar transparecer 
diferentes racionalidades e sistemas para explicar a realidade. Dessa forma, as pessoas lançam mão de 
um ou outro desses saberes, dependendo das circunstâncias e dos interesses particulares que sustentam 
em um dado lugar e tempo. De acordo com Jodelet (2001), Moscovici propõe esse entendimento no 
contexto de debates ligados à diversidade do saber e da sua sobreposição, exigindo uma explicação que 
desse conta da convivência, no cotidiano, de diferentes abordagens do conhecimento, que vão da ciência 
a outras formas embebidas em outras racionalidades, como as crenças, as representações sociais etc.
Alguns exemplos sobre as representações sociais podem ajudar a entender a valoração das experiências 
sociais e étnicas, de como o conhecimento é função da história e das circunstâncias concretas que 
levam os diferentes grupos sociais a instituírem representações sociais e a elas recorrerem.
O primeiro, apresentado pelo próprio Moscovici (1986), afirma que a população de origem espanhola 
do sudoeste dos Estados Unidos possui quatro registros diferentes para classificar e interpretar as 
doenças: a sabedoria popular medieval do sofrimento físico, a cultura das tribos ameríndias, a medicina 
popular inglesa nas zonas urbanas e rurais, e, finalmente, a ciência médica. Tendo em vista a gravidade 
da doença e a situação econômica do grupo, eles recorrem a um ou outro desses registros para procurar 
a cura.
Outro exemplo pode ser encontrado no estudo sobre populações de origem chinesa na Inglaterra 
e suas diferentes formas de cuidar da saúde, especialmente entre os adultos jovens. De acordo com 
Gervais e Jovchelovitch (1998), pode‑se constatar o uso de duas representações diferentes: a da 
medicina tradicional chinesa (MTC) e a da medicina ocidental. De acordo com o tipo de problema e a 
sua gravidade, os indivíduos buscam uma ou outra. Não fossem apenas as grandes diferenças entre 
os princípios e os métodos de cada uma dessas práticas, o que chamou a atenção da pesquisadora 
aqui foi a aparente contradição (o reconhecimento de uma prática deveria invalidar a outra), que é 
tomada pelo grupo com “naturalidade”: afinal, trata‑se de um uso que pretende ser, sempre, o melhor 
para resolver a questão de saúde.
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No que diz respeito à relação com os grupos, vale reiterar ainda outros aspectos das representações 
sociais,l um deles a linguagem. As representações sociais são definidas no contexto das relações, são 
entidades dinâmicas, mudando de acordo com o contexto social em que se apresentam. São relativas, 
assim, ao grupo que delas se apropria e, mais ainda, são função também da linguagem desse grupo, e, 
ainda, de como esse grupo usa a linguagem.
Outro aspecto diz respeito às relações entre as representações sociais e o comportamento do grupo. 
Segundo Moscovici (1986), a representação social é compreendida também como comportando a 
preparação para a ação, isto é, não tem apenas status de constructo, mas é um “instrumento” nas 
inter‑relações cotidianas. O comportamento de um indivíduo ou grupo poderá ser assim entendido 
como referente ao universo de representações sociais que os caracteriza, e o estudo de uma certa 
representação social refere esse universo em relação ao qual o grupo se orienta. Assim, para investigar 
as condições grupais das representações sociais, é necessário observar as questões da história e do 
jogo dessas representações. Seguindo o sugeridopor Jodelet (1989) e Spink (1993), é especialmente 
importante o entendimento não apenas dos conteúdos, mas também dos processos sociais envolvidos 
nas representações, integrando essas duas dimensões e apelando para a história de sua produção como 
fonte de conhecimento. Uma chave para dar conta dessa preocupação é tomar como referência, para 
organização e categorização do contexto, conceitos como tempo longo (o imaginário social), tempo 
curto (a situação interacional) e tempo vivido (as disposições adquiridas em virtude da filiação a 
determinados grupos sociais), indicados por Spink (1993) e que se prestam a localizar o lugar ocupado 
por uma determinada representação social.
Dinâmica, organizadora, integradora, histórica, a representação social apresenta‑se e reproduz‑se 
nas conversas do dia a dia, nas esquinas, nas praças e nos bares, instalando‑se de maneira que subverta 
as normas e a rigidez habituais de aprendizagem. Integrando o que é desconhecido, a representação 
social possibilita apontar a importância do senso comum nas ações dos indivíduos em suas realidades.
Ao terminar este tópico, vale destacar uma dimensão menos explorada nas discussões teóricas 
sobre a TRS, mas muito importante quando se trata das práticas de investigação numa dimensão 
crítica. Como modelos compartilhados nas relações cotidianas, as representações sociais participam 
na definição das identidades pessoais e sociais. Sob esse viés crítico, compreende‑se que identidades 
e representações sociais estão sujeitas às condições de dominação e controle social, à influência da 
ideologia, e não podem ser entendidas como construídas em ambientes neutros e alheias a esses 
determinantes. Dessa forma, as representações sociais podem ser consideradas como ideológicas e 
potentes para cristalizar relações concretas de dominação (OLIVEIRA; WERBA, 2002), especialmente 
quando se trata da identidade.
Para tomar aqui um exemplo, Mattos e Ferreira (2004), ao tratarem das representações sociais que um 
determinado grupo pode possuir sobre moradores de rua, discutem como essas representações podem 
estar a serviço de instituir uma condição permanente, naturalizada. As representações sociais sobre as 
pessoas em situação de rua podem estar a serviço de reforçar identidades que possuem intrinsecamente 
um valor negativo; nesse caso, seriam consideradas ideológicas, pois materializam relações concretas 
de dominação.
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5.3.4 Teoria das Representações Sociais, imaginário e grupos
Discutindo as ideias sobre grupos presentes na Teoria das Representações Sociais, autores importantes 
como Jorge Vala e Rom Harré irão afirmar que estas classificam os grupos como categoriais. A partir daí, os 
autores apontam as consequências dessa caracterização para o estabelecimento da TRS como uma genuína 
teoria dos grupos sociais e, mais ainda, para sua filiação à corrente sociológica de Psicologia Social. Em tais 
considerações, abrem caminho para a introdução do imaginário nessa concepção de grupo social.
Numa apresentação crítica da TRS, Vala (2004) faz um levantamento das concepções de grupo que 
perpassam pela Psicologia Social. Segundo o autor, fundamentados no processo de categorização, os 
psicólogos sociais teriam produzido, como vimos antes, pelo menos duas maneiras relativamente distintas 
de considerar um grupo. Na perspectiva cognitiva, como a de Tajfel e Turner, “um grupo só existe quando 
os indivíduos integram na sua autodefinição a inclusão numa categoria de pessoas produzida pelo 
processo de categorização” (VALA, 2004, p. 381). Já na perspectiva sociocognitiva de Doise, “um grupo 
existe quando os indivíduos integram na sua autodefinição a pertença a uma categoria social, sendo que 
esse processo é regulado pela interdependência dos grupos sociais” (VALA, 2004, p. 381). Para o autor, no 
entanto, o processo de categorização social implicaria utilizar não só o que ele chama de categorias “reais”, 
mas também aquelas decorrentes de certa história e contextos simbólicos, resultado do entrecruzamento 
das linguagens cotidiana, econômica, religiosa, administrativa e jornalística. Desse modo, a construção de 
representações sociais no âmbito do grupo seria um passo fundamental para o processo de categorização.
Os indivíduos constroem representações sobre as estruturas sociais; estas, por sua vez, organizam a 
instituição dessas representações sociais de forma que, no esforço para o estabelecimento dos limites 
dos grupos, a pergunta “quem sou eu” englobe“o que significa ser membro desse grupo”. Isso quer dizer 
que a constituição de uma identidade grupal é função do universo simbólico (e imaginário) no qual os 
membros desse grupo estão imersos.
Em oposição a esse entendimento do grupo como uma categoria, autores que representam uma 
Psicologia Social psicológica, como Horowitz, Rabbie, Deutsch e Sherif, indicariam, segundo Vala (2004, 
p. 382), que “um grupo social deve ser considerado como uma totalidade dinâmica, caracterizada pela 
interdependência entre os seus membros, enquanto uma categoria social corresponde apenas a uma 
simples coleção de indivíduos que compartilham, pelo menos, um atributo comum”. Assim, só haveria 
grupo quando houvesse interdependência e objetivos comuns, diferentemente do que se encontra numa 
categoria social. Vala (2004), mediando essa disputa, sugere que, em vez de se pensar uma diferença 
absoluta entre grupos e categorias, deve‑se considerar a organização social como um continuum, com 
grupos pré‑estruturados (categorias) e grupos estruturados (os “grupos” propriamente ditos), sem 
prejuízo de sua relevância teórica e metodológica.
Nas considerações desse autor, encontram‑se argumentos para preservar o grupo categorial e a 
própria TRS no contexto de uma Psicologia Social sociológica; já Rom Harré irá colocar em xeque esse 
entendimento. As críticas de Harré (1984) às noções de cognição e de social que perpassam pela TRS 
estabelecem‑se a partir da distinção entre os grupos estruturados, aqueles cujas relações entre membros 
implicam direitos, obrigações e cumprimento de certos papéis, e os grupos categoriais, chamados por ele 
de taxonômicos, constituídos basicamente pelas similaridades entre seus componentes.
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Unidade II
Esses grupos taxonômicos seriam entidades ideais, agregados, resultados de uma atitude classificatória 
arbitrária, feita de acordo com interesses que podem ou não ser justificados cientificamente (HARRÉ, 
1984). Entendendo que no âmbito das representações sociais predomina a noção de grupo taxonômico, 
isso implicará, de acordo com Harré, uma compreensão do social como equivalente a um conjunto de 
indivíduos similares, uma pluralidade distributiva, fazendo da representação social uma “representação 
social distributiva”. Em última análise, a TRS, em vez de constituir‑se como produção exemplar de uma 
Psicologia Social sociológica, viria a ser apenas mais uma versão “psicológica” de Psicologia Social, 
reafirmando a ênfase no individualismo.
Quanto a um exemplo de como essa ênfase implica diferenças significativas, ele diz, apontando para 
a diferença entre a importância dada aos problemas que tratam de regras e papéis sociais e aqueles 
que tratam de cognição – em relação, por exemplo, à prerrogativa da racionalidade do cientista –, 
que “comparando cientistas e pessoas comuns, nós não devemos perguntar

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