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Personalidade e rigor acadêmico . Variáveis facilitadoras do stress em alunos quintanistas de psicologia ARMANDO ROCHA JÚNIOR

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Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006. 33
Personalidade e rigor acadêmico: variá-
veis facilitadoras do surgimento do
stress em alunos quintanistas de
psicologia
PERSONALITY AND ACADEMIC RIGIDITY: FACILITATIVE VARIABLES OF THE APPEARANCE OF STRESS IN
STUDENTS OF THE LAST YEAR OF THE PSYCHOLOGY COURSE
FÁBIO DONINI CONTI*
Curso de Psicologia
Universidade de Guarulhos
ARMANDO ROCHA JÚNIOR*
Curso de Psicologia
Universidade de Guarulhos
RESUMO
Tornar-se profissional é, hoje, um dos grandes desafi-
os para aqueles que buscam espaço no mercado de
trabalho – especificamente no que se refere aos
graduandos do último ano do curso de Psicologia –
pois além de depararem-se com um mercado compe-
titivo, estes têm de dar conta das exigências feitas
para atingirem os requisitos mínimos exigidos pela
formação. Este processo traz conseqüências nem sem-
pre positivas para os alunos, visto que o desgaste é
grande, patologias como o stress podem surgir, inter-
ferindo tanto no aspecto físico quanto no psíquico
dos indivíduos. Frente ao exposto, o presente traba-
lho tem por objetivos verificar quais são as variáveis
que mais interferem em alunos de quinto ano duran-
te o processo final de graduação e que facilitam o
surgimento do stress; levantar o índice de stress entre
alunos quintanistas de Psicologia e identificar se al-
gum tipo de personalidade, em especial, é mais pro-
penso a adquirir stress em uma etapa tão importante
da formação profissional. Para tanto, utilizou-se o In-
ventário de stress de Marilda Lipp, aplicado em 29
alunos quintanistas, além do IFP de Azevedo, Ghesti e
Pasquali. Também aplicou-se um questionário para
facilitar o atingimento dos objetivos. Os resultados
foram os seguintes: 62,1% dos componentes da amos-
tra encontram-se em situação de stress, e 37,95% em
condições psicológicas saudáveis. No que tange aos
fatores que mais incomodam os sujeitos, observa-se
que a confecção dos relatórios, o porvir, o rigor aca-
dêmico e o excesso de trabalhos, entre outros fato-
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, tornar-se profissional requer gran-
de dispêndio de energia e numerários, por parte da-
queles que iniciam a trajetória em busca de espaço
no mercado de trabalho. As exigências da sociedade
moderna sobre o homem aumentam de forma linear,
fazendo com que o mesmo utilize grande parte de
seu tempo para preparar-se profissionalmente
(ROSA,1996). Tal preparo, muitas vezes cansativo, nem
sempre é compensado, ou seja, o sujeito, depois de
adquirir a formação necessária para trabalhar, não con-
segue achar espaço no mercado para por em prática
o que aprendeu. No entanto, mesmo tendo conse-
guido atingir alguma posição e/ou tendo conquistado
um emprego, o profissional tem que se esforçar de-
masiadamente para se manter lá (LIPP, 1996). Para
aqueles que estão prestes a adentrar neste mundo
competitivo, especificamente estudantes universitári-
os, situações como a descrita acima acabam por ve-
zes assusta e até desmotiva os estudantes em relação
ao seu futuro. Tal desmotivação, por exemplo, pode
ser o fator desencadeador de doenças como o stress,
res, aliados a determinadas características de persona-
lidade, transformam-se em elementos que facilitam o
desenvolvimento do stress.
PALAVRAS-CHAVE
Stress. Personalidade. Graduação. Psicologia.
34Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
alterando profundamente a dinâmica psicológica do
indivíduo, modificando assim o dinamismo de sua per-
sonalidade.
Em que pese a seriedade do stress como patolo-
gia, são poucos os estudos feitos sobre essa questão
na vida acadêmica. Entre eles, está o estudo de Lipp
(2002), que deu ênfase às conseqüências do trabalho
do professor em alunos com distúrbios de conduta, e
Reinhold (1985), que considerou o trabalho do pro-
fessor brasileiro de primeiro grau como sendo cansa-
tivo e desgastante. Há também a obra do psicanalista
brasileiro Simon (1983), que através de técnicas psi-
cológicas clínicas, realizou um trabalho preventivo para
lidar com o stress dos alunos da Escola Paulista de
Medicina e, além desses autores, há o estudo de
Fischer (1994) que, em uma pesquisa com alunos es-
coceses, percebeu o quanto é desgastante inserir-se
no mundo acadêmico, visto o aluno de primeiro ano
deparar-se com um rol de situações próprias da gra-
duação que acabam por facilitar o surgimento de do-
enças como o stress.
STRESS: SEUS SIGNIFICADOS E CONSEQÜÊNCIAS
O primeiro cientista a estudar o stress foi o médi-
co austríaco Hans Selye (1936 1 apud LIPP, 1996), na
década de 20 do século passado. Ele observou a quei-
xa de alguns pacientes e imaginou que os sintomas
diagnosticados nada tinham a ver com uma doença
específica, mas sim com a própria condição de estar
doente. A este fato Selye deu o nome de Síndrome
de Adaptação Geral, que mais tarde foi substituído
pelo termo hoje conhecido como stress. Segundo o
cientista, o stress é uma síndrome que desencadeia
uma série de sintomas no indivíduo quando este é
submetido a eventos que exijam adaptação do orga-
nismo frente a situações novas.
Para Fernandez (1981) o stress vem a ser uma
reação filogenética que eventualmente leva a adapta-
ção, isto é, toda espécie humana possui condições de
adaptar-se ao meio ambiente. Já Arroba e James (1989)
entendem o stress como uma resposta a um nível de
pressão inadequado efetuado sobre sujeito, funcio-
nando de maneira simbólica e viabilizando através de
representações funcionais, a existência de uma
casualística tensional.
Lipp et al. (1990) , consideram o stress como uma
reação do organismo em relação às situações que lhe
causem medo, irritação, confusão e até mesmo felici-
dade, surgidas por alterações psicofisiológicas e de-
pendentes destes componentes físicos e psicológicos
para que se efetue.
Para Simonton (1995), o stress surgiu com o ad-
vento da industrialização, pois com a inclusão das in-
dústrias na sociedade, as condições ambientais e soci-
ais foram alteradas, e conseqüentemente a forma de
vida do homem também mudou.
Nota-se, então, que há um consenso entre estes
autores, pois para eles o stress depende de situações
que exijam do organismo adaptação frente ao ambi-
ente. No entanto, o stress deve ser considerado um
processo, e não algo estático. Lipp (2000b), aponta
que o stress divide-se em :
Fase de alerta - Esta fase caracteriza-se por rela-
ções que o sujeito estabelece com seus agentes
estressores, apresentando sensações como taquicardia,
sudorese excessiva e respiração ofegante, entre ou-
tros. Neste momento, o organismo prepara-se para
fugir ou atacar o que lhe aflige.
Fase de resistência e quase-exaustão - Ocorre quan-
do o organismo tenta recompor-se das sensações vivi-
das na fase anterior. O sujeito ainda tem forças para
combater o agente estressor e levar seu organismo
ao reequilíbrio. Porém, quando situações de stress
perduram por determinado tempo ou se ocorrem com
freqüência, o organismo começa a enfraquecer e ca-
minhar para a fase de quase- exaustão, e os sintomas
anteriormente vistos surgem mais agravados, tornan-
do as defesas do corpo mais debilitadas e o organis-
mo mais propenso a doenças físicas e até psíquicas.
Fase de exaustão - Nesta fase, o sujeito já não mais
possui forças para combater a sua fonte de stress, e o
organismo está ainda mais comprometido física e psi-
cologicamente em relação à fase anterior. É nesta
fase que surge a síndrome de Burnout.
Burnout, que significa queimar em chamas (LIPP,
2002), é considerado como uma conseqüência do
stress crônico, caracterizado por grande exaustão físi-
ca, emocional e mental. Há também um profundo
sentimento de frustração, que com o passar do tem-
po estende-se por toda a esfera da vida da pessoa.
Está ligada a questões profissionais e muitas vezes,
esta síndrome se instala por expectativas altamente
elevadas e não realizadas.É comum ocorrer em em-
presários e em pessoas que possuem grande idealis-
mo. No caso do aluno de quinto ano, o medo de não
conseguir espaço no mercado de trabalho, pode tor-
nar-se um pesadelo.
O Burnout é um processo gradual e cumulativo, e
35Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
não acontece do dia para a noite. Os sintomas
indicativos da síndrome são a falta de prazer, alegria,
satisfação, autoconfiança, motivação, entre outros. A
falta de atitude também dá indícios de o sujeito estar
passando por esta fase. Segundo Cataldi (1999) as ca-
racterísticas essenciais para que a síndrome ocorra são:
a exaustão emocional, a despersonalização ou
distanciamento emocional exacerbado e a redução
da realização profissional e pessoal, que também fi-
cam comprometidas.
As fontes do stress são múltiplas e diversificadas e
os eventos estressores serão qualificados de acordo
com os significados dados pela cultura. No entanto,
afirmar que as causas do stress são apenas originárias
de eventos ambientais, seria um engano. Para Lipp
(1996), há fatores internos que também são conside-
rados eventos estressores. Em sua pesquisa feita em
1992 com pessoas que procuraram atendimento para
combater o stress, a autora percebeu que as crenças,
valores e demais características pessoais também de-
sencadeavam sintomas típicos dessa patologia. Abreu
et al. (2002) também consideram os aspectos indivi-
duais como fatores que influenciam na etiologia da
doença.
A PERSONALIDADE COMO FATOR RESPONSÁVEL
PELA GÊNESE DO STRESS
Chisholm et al. [19—], afirmam que as pessoas têm
diferentes características de personalidade e que es-
tes atributos individuais determinam a forma como as
situações do cotidiano serão enfrentadas. A origem
deste determinismo foi estabelecida na primeira in-
fância, onde a relação materno-filial irá influenciar fu-
turamente a capacidade adulta do homem em lidar
com as tensões oriundas do desequilíbrio social e psí-
quico.
Já Abreu et al. (2002), descrevem que dois indiví-
duos de um mesmo contexto podem passar pelos
mesmos problemas sociais, existenciais e psicológi-
cos, mas os experienciarem de maneira totalmente
oposta. Para Lipp (1996), pessoas que têm “espírito
competitivo” e ambição elevada, são grandes
candidatas a adquirirem stress.
Segundo Gonçalves, Magalhães e Reis (1984), a
dinâmica da personalidade articula os conteúdos in-
ternos com a realidade de cada sujeito, refletindo na
estrutura egóica e na maneira como este vivencia essa
relação. Partindo do aspecto econômico proposto pela
metapsicologia de Freud (1895/1974), a quantidade
de energia pulsional que vem ancorada ao objeto
catexizado, pode superar a capacidade do ego de su-
portar determinadas cargas afetivas (LABAKI, 2001).
Portanto, a maneira de interagir consigo mesmo pode
de fato causar stress.
No caso dos alunos universitários que estão pres-
tes a se formar, especificamente alunos do último ano
do curso de psicologia, a busca de status, de coloca-
ção profissional e o processo de separação entre alu-
no-universidade pode tanto estimular o indivíduo
como desanimá-lo em relação ao porvir. Essas reações,
de acordo com Aberastury (1998) e Erikson (1998),
estão relacionadas ao processo de desenvolvimento
da pessoa e, por conseqüência, com a sua estrutura
de personalidade e identidade adquiridas. Assim, o
indivíduo pode se fragilizar perante os desafios e ex-
perimentar certa estagnação ou sentir-se estimulado
a reagir perante as dificuldades, suplantando-as.
Entretanto, as situações que perturbam a psique
desses sujeitos podem ser várias. A condição de tor-
nar-se profissional provavelmente é uma delas. Sendo
assim, é importante conhecer quais fatores da vida
acadêmica são considerados eventos estressores e
reconhecer como é desgastante deixar de ser estu-
dante para tornar-se profissional.
TORNAR-SE PROFISSIONAL: UM PROCESSO
DESGASTANTE
Um estudo realizado por Fisher (1994) em institui-
ções escocesas demonstrou que logo no processo
de inserção dos estudantes na vida acadêmica, o des-
gaste já é grande e cansativo. O período de adapta-
ção, a rotina, o feedback negativo em relação ao de-
sempenho dos próprios alunos e os problemas soci-
ais, podem levá-los a crises psicossociais e até mesmo
à desistência do curso, caso não haja meios de preve-
nir e dar suporte a esses estudantes.
Existem também duas variáveis que se entrelaçam
e podem facilitar o surgimento do stress: o período
noturno de estudos e a condição sócio-econômica
desfavorável. Estas duas variáveis acabam por exigir
mais energia por parte dos acadêmicos, gerando o
surgimento de reações pessoais que conduzem o in-
divíduo ao stress.
Lipp (2002) aponta que a forma como nosso siste-
ma educacional funciona já é por si só desgastante,
pois a educação supervaloriza a avaliação formal em
relação ao desempenho dos alunos. As provas escritas
ou orais são grandes fontes de stress, pois geram ten-
36Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
são e o rendimento esperado muitas vezes não é al-
cançado.
Moura (1999), descreve o profissional de Psicolo-
gia que se tem na atualidade e relata o tipo de profis-
sional que o mercado exige. Para ela, ainda há uma
discrepância entre o que é e o que deveria ser, e
acredita que se o foco voltar-se para o processo de
formação do profissional, ter-se-á chance de se obter
bons psicólogos em atuação. Rocha Júnior (2000),
relata as dificuldades que o psicólogo recém-formado
tem para conseguir emprego e afirma que para o es-
tudante ter chance no mercado, este deve passar por
alguns sacrifícios no processo de formação. As partici-
pações em congressos, eventos de iniciação científi-
ca, simpósios, grupos de estudo e outros encontros
diversos devem fazer parte do currículo do graduan-
do de Psicologia. Estas demandas possivelmente ge-
ram no estudante sentimentos de grande responsabi-
lidade, ansiedade e competitividade, além do desgas-
te físico e psíquico, podendo levá-lo a desencadear
patologias como o stress.
MÉTODO
1- PARTICIPANTES
Participaram da presente pesquisa 29 alunos do
quinto ano dos cursos de Psicologia de uma Universi-
dade particular da grande São Paulo, com idade entre
22 e 40 anos, sendo 15 do sexo feminino e 14 do
sexo masculino. Não se levou em consideração o ní-
vel sócio-econômico-cultural e a raça.
2- INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
A possibilidade de se compreender o fenômeno
do stress em alunos de psicologia é possível pelo fato
de existirem instrumentos capazes de mensurar o ní-
vel de stress das pessoas e que, segundo Holmes e
Rahe (19671 , apud LIPP, 2000b), este nível pode ser
medidopela avaliaçãodoseventos que causam stress
nos indivíduos.
Um desses instrumentos é o Inventário de Sinto-
mas de Stress (ISSL) de Lipp (2000b), que indica em
qual fase do stress encontra-se o indivíduo. Também,
por meio de instrumentos psicológicos, é possível
compreender determinadosaspectos da personalida-
de, e como aponta Arzeno (1995), os testes psicológi-
cosmuitas vezes sãoutilizadosna investigação da per-
sonalidade humana.
Existem vários testes de personalidade. O Inventá-
rio Fatorial de Personalidade (IFP) de Azevedo, Ghesti
e Pasquali (1997) está entre eles. Trata-se de um ins-
trumento que avalia 15características de personalida-
de, e mais duas escalas de controle, a de validade e a
de desejabilidade social. Sua interpretação é feita em
função do sexo do sujeito, onde os escores brutos
obtidosdas respostasdosmesmos transformam-se em
escores percentílicos. Assim, os valores que constitu-
em necessidade moderada são aqueles que situam-
se entre 40 e 60 da coluna do escore percentílico na
tabela de normas, e os valores que situam-se abaixo e
acima de 40 e 60, respectivamente, constituem ne-
cessidade fraca e forte. Vale destacar que os alunos
de Psicologia têm em seuprocesso de graduação dis-
ciplinas que envolvem técnicas de exame psicológi-
co, fato que inclui a apropriação do uso de instrumen-
tos psicológicos porparte dos mesmos. Sendo assim,
a escolha do referido teste (IFP) tem, além das carac-
terísticas acima, a vantagem de este não ser ensinado
na Instituição cujos alunos colaboraram na presente
pesquisa, impedindo, dessa forma, que os mesmos
criassem defesas psicológicas durante a aplicação do
IFP.
A aplicação de questionários também é valida para
o presente estudo, principalmente aqueles questio-
nários que são estruturados com o intuito de identifi-
car possíveis dificuldades por parte do examinando.
Sendo assim, oquestionárioelaboradopara os alunos
estudantesquintanistas docurso de Psicologia contin-
ha três perguntas abertasque se referiam, respectiva-
mente, aos fatores que mais incomodavam os mes-
mos durante o processo de graduação e o porvir da
graduação, devendo estes hierarquizar três respostas
nesta pergunta, aos possíveis problemas afetivo-
relacionais e aospossíveisproblemas de ordem sócio-
econômica. Problemas de ordem acadêmica, pessoal
e financeira podem alterar o dinamismo psicológico
desses indivíduos, levando-os a contrair patologias
como o stress.
Assim sendo, a referida pesquisa utilizou-se de três
instrumentos psicológicos: o IFP de Azevedo, Guesti
e Pasquali (1997), o inventário de sintomas de stress
de Lipp (2000b) - visto fazer parte dos objetivos levan-
tar o índice de stress entre alunos quintanistas de psi-
cologia, bem como conhecer ascaracterísticas de per-
sonalidade destes indivíduos - e um questionário ela-
borado para identificar possíveis dificuldades acadê-
micas, afetivo -relacionais e sócio-econômicas.
37
Condição da amostra em relação ao stress
Figura 2.
Fases do stress observadas na amostra
As caracteristicas de personalidade dos grupos de
alunos estressados e não-estressados
Para compreender um pouco das características
psicológicas dos sujeitos da amostra, foram analisados
as escalas de personalidade que o IFP abrange, como
por exemplo: necessidade de ajudar as pessoas (Ass -
Assistência); pensar objetivamente (I- Intracepção);
necessidade de apoio e proteção (Af - Afago); admira-
ção por figuras superiores (Def- Deferência); necessi-
dade de dar e receber afeto (Afl - Afiliação); necessi-
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
3- PROCEDIMENTOS
Os testes foram aplicados coletivamente em salas
de supervisão, no começo do segundo semestre de
2004, no período inicial dos horários de supervisão do
curso de Psicologia. Foi revelado aos estudantes o
propósito da referida pesquisa, bem como o compro-
misso ético que estava sendo estabelecido com os
participantes da mesma.
Os sujeitos submeteram-se, inicialmente, ao Inven-
tário de Stress de Lipp (2000a), que identificou, entre
os examinandos, quais apresentavam características
consideradas próprias de pessoas acometidas de stress.
Após esse processo, os examinandos caracterizados
como portadores de stress foram submetidos, junta-
mente com os indivíduos não acometidos da doença,
a um teste de Personalidade (IFP). Além disso, os su-
jeitos foram orientados a responder algumas pergun-
tas, através do questionário supracitado, apontando
três itens que mais os preocupam enquanto alunos
quintanistas e futuros psicólogos.
RESULTADOS
Os resultados da coleta de dados foram os seguin-
tes: 62,1% dos componentes da amostra encontram-
se em situação de stress, enquanto 37,95% estão em
condições psicológicas saudáveis. Desses sujeitos con-
siderados stressados, 44,4% estão na fase de resistên-
cia, cujo sintoma predominante é o stress psíquico;
33% estão na fase de resistência, cujo sintoma predo-
minante é o stress físico; 11% estão na fase de quase
exaustão, ou seja, tipo de stress cujas características
são alterações psíquicas. Apenas 5,5% da amostra en-
contram-se em fase de exaustão psicológica, indican-
do que tais indivíduos já não possuem mecanismos
para combater o agente stressor, e 5,5% na fase de
alerta, com sintomas psicológicos predominantes. Não
houve casos de exaustão e quase-exaustão física. Os
resultados serão revelados nos Gráficos 1 e 2 a seguir
onde, respectivamente, serão explicitadas as condi-
ções de stress na amostra e em qual fase de stress
encontram-se os sujeitos.
38
dade de dominar e persuadir pessoas (Do - Domina-
ção); admitir erros e fracassos (Den - Denegação);
ambição e desempenho (Des - Desempenho); vaida-
de (Ex- Exibição); agressividade (Ag - Agressividade);
capacidade de organização (O - Ordem); persistência
(Per - Persistência); condição à mudança (M - Mudan-
ça); independência (Aut - Autonomia); necessidade de
relacionar-se com o sexo oposto (Het -
Heterossexualidade); desejabilidade social (Ds -
Desejabilidade social). O item que avalia a veracidade
das respostas e a validade do protocolo (Me - Menti-
ra) não foi descrito nos resultados, visto não existir
protocolos considerados inválidos1 .
A representação grupal da personalidade dos in-
divíduos stressados
Os resultados das características de personalidade
do grupo dos estressados encontram-se na Tabela 1.
T abela 1.
Características de personalidade dos indivíduos considerados estressados.
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
39Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
Nota-se que, entre os componentes da amostra,
27,7% tem muita necessidade e desejo de ajudar as
pessoas que necessitam de suporte psicológico (Ass),
27,7% possuem necessidades e desejos medianos e
44,4% pouquíssima necessidade e desejo de ajuda-
rem aqueles que precisam de suporte psicológico; em
relação ao pensamento objetivo (I), 27,7% dos sujei-
tos possuem facilidade para agir mais objetivamente,
enquanto que 44,4% agem de forma mais moderada
e 27,7% agem através da subjetividade, indicando for-
te tendência ao pensamento religioso, místico e filo-
sófico; em relação à necessidade de apoio e proteção
(Af), apenas 11% dos componentes da amostra de-
monstram muita necessidade, enquanto que 16,7%
possuemnecessidade moderada.A grande maioriados
sujeitos (72,2%), indicam não necessitar veemente-
mente apoio e proteção; na escala que avalia a neces-
sidade de admiraçãopor figuras superiores (Def), per-
cebe-se que 27,7% admiram e reverenciam figuras
superiores, enquanto que outros 27,7% o fazem mo-
deradamente e os 44,4% restantes não expressam
qualquernecessidade de admirar, elogiar ou valorizar
tais figuras; 44,4% dos indivíduos participantes da
amostra possuem muita necessidade de dar e rece-
berafeto (Afl); 16,6% apresentam necessidade mode-
rada de dar e receber afeto, e 38,8% possuem pouca
necessidade em dar e receber afeto; sobre o índice
dominar e persuadir pessoas (Do), nota-se que 38,8%
dos sujeitos necessitam controlar aspessoas para atin-
gir seus objetivos, enquanto que 38,8% têm tal ne-
cessidade mais controlada. Os outros 22,2% da amos-
tra não reúnem tais necessidades como prioridade;
em relação a escala que avalia a necessidade de ad-
mitir erros e fracassos (Den), percebe-se que 50%
possuem muita necessidade, 16,6% possuem esta ne-
cessidade moderada e 33,3% pouquíssima necessida-
de; na escala que avalia a ambição e o desempenho
(Des), 72,2% são ambiciosos e empenham-se para
completar suas metas e planos de auto-realização,
22,2% tem ambição média e o restante (11%) não
possuem condições de realizar tarefas difíceis, muito
menos sinais de ambição e empenho para alcançar
metas; 33,3% dos componentes da amostra apresen-
tam sinais de vaidade e exibição (Ex), possuindo mui-
ta necessidade de serem vistos e ouvidos, enquanto
que 38,8% e 27,7% respectivamente, possuem ne-
cessidade moderada e pouca necessidade;a escala
que avalia a agressividade (Ag) revela que 22,2% são
extremamente agressivos, 38,8% possuem condições
de deixar com que a agressividade se expresse de
maneira mais controlada e 38,8% não demonstram
padrões de comportamentos agressivos, ou seja, são
pouco agressivos; a escala que avalia a capacidade
de organização (O), revelou que 5,5% possui condi-
ção de se organizar para as tarefas do dia-dia. 44,4%
apresentam certa condição para se organizarem e os
outros 50% tem extrema dificuldade para isso; em
relação à persistência (Per), que representa a condi-
ção de terminar trabalhos difíceis e que exijam gran-
de dispêndio de energia, nota-se que 33,3% dos su-
jeitospossuem condiçãopara execução, enquantoque
44,4% apenas iniciam o percurso e desistem posteri-
ormente, principalmente se as dificuldades progredi-
rem. Os outros 22,2% não possuem condições de
persistir, nem que seja na fase inicial das tarefas; 5,5%
dos indivíduos indicam que possuem muita necessi-
dade de mudar e conhecer coisas novas (M), bem
como sair da rotina e mudar hábitos antigos, 38,8%
possuem necessidade moderada e 55,5% tem extre-
ma dificuldade de mudar hábitos antigos; em relação
à necessidade de atingir independência (Aut), 44,4%
dos sujeitos mostraram ser autônomos e independen-
tes, pois gostam de agir livremente, enquanto que
5,5% ainda estão no processo de aquisição da inde-
pendência e 50% são extremamente dependentes;
sobre a escala que avalia o desejo de relacionamento
com o sexo oposto (Het), observa-se que 27,7% dos
indivíduosmostraram quepossuemfascínio sobre sexo
e coisas afins, 55,5% apresentaram certa necessidade
por sexo e 22,2% não priorizam interesse pelo assun-
to; sobre o grau de desejabilidade social (Ds), 22,2%
possuem muita necessidade de serem aceitos pelo o
meio, 61,1% possuem necessidade de aprovaçãosoci-
al mais equilibrada e 22,2% não demonstraram gran-
des necessidades ou qualquer preocupação em se-
rem aceitos ou obterem aprovação do meio.
40
A REPRESENTAÇÃO GRUPAL DA PERSONALIDADE DOS INDIVÍDUOS NÃO-ESTRESSADOS
Os resultados das características de personalidade do grupo de indivíduos não estressados encontram-se na
Tabela 2.
Tabela 2.
Características de personalidade dos indivíduos considerados não-estressados.
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
41Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
Percebe-se que entre os indivíduos, 36,3% tem
muita necessidade de ajudar pessoas que necessitam
de suporte psicológico (Ass), 18,1% possuem necessi-
dades moderadas e 45,4% pouquíssima necessidade;
em relação ao pensamento objetivo (I), 45,4% tem
facilidade em agir mais objetivamente, enquanto que
27,2% agem de forma mais moderada e 27,2% agem
através do subjetivo, indicando forte tendência ao
pensamento religioso, místico e filosófico; sobre a
necessidade de apoio e proteção (Af), apenas 18,1%
demonstram muita necessidade, enquanto que 27,2%
possuem tal condição mediana e os 54,5% restantes
demonstram não necessitarem de apoio e proteção;
em relação à admiração por figuras superiores (Def),
54,5% admiram e reverenciam fortemente tais figu-
ras, enquanto que 27,2% admiram de maneira contro-
lada e 18,1% não expressam necessidade de admira-
ção e veneração; 63,6% dos indivíduos considerados
stressados possuem muita necessidade de dar e rece-
ber afeto (Afl); 27,2% apresentam essa necessidade
mais moderada e 9% não priorizam trocas afetivas;
na escala que avalia o desejo de dominar e persuadir
pessoas (Do), observa-se que 18,1% dos sujeitos ne-
cessitam controlar as pessoas para atingir seus objeti-
vos, enquanto que 36,3% têm essa necessidade mais
controlada e 45,4% não possuem tais características
de personalidade marcante; em relação a admitir er-
ros e fracassos (Den), 54,5% possuem fortes condi-
ções, 36,3% possuem condições moderadas e 9%
pouquíssimas condições para admitir erros e fracas-
sos; na escala que avalia ambição e desempenho (Des),
observa-se que 54,5% dos indivíduos são ambiciosos
e empenham-se para completar suas metas e planos
de auto-realização, 9% tem ambição moderada e o
restante (36,3%) não aparentam ter muita ambição e
desempenho; os índices de vaidade e exibição (Ex)
na amostra revelam que 9% dos sujeitos tendo muita
necessidade de serem vistos e ouvidos, enquanto que
45,4% possuem esta necessidade mais controlada e
45,4% possuem pouca necessidade de serem vistos e
notados; sobre a agressividade (Ag), 63,6% são pou-
co agressivos, 36,3% possuem condições de deixar
com que a agressividade se expresse de maneira mais
controlada e, no referido grupo, não há indivíduos
extremamente agressivos; em relação à capacidade
de organização (O) apenas 27,2% dos sujeitos possu-
em condições para se organizar para as tarefas do
dia-dia. 9% possuem certa condição para se organizar
e ou outros 54,5% tem extrema dificuldade para isso;
na escala que avalia a persistência (Per), nota-se que
54,5% desses sujeitos têm condições para persistir em
tarefas mais difíceis, enquanto que 9% apenas inici-
am o percurso e desistem posteriormente, principal-
mente se a dificuldade progredir, e os outros 27,2%
não possuem condições de persistir, nem que seja
inicialmente, em quaisquer trabalhos; 36,3% dos indi-
víduos têm muita necessidade de mudar e conhecer
coisas novas (M), bem como sair da rotina e mudar
hábitos antigos. 36,3% possuem necessidade mode-
rada e 27,2% têm extrema dificuldade de mudar hábi-
tos antigos; na escala que avalia independência (Aut),
9% dos sujeitos são autônomos e independentes,
45,4% ainda estão tentando adquirir independência e
45,4% são extremamente dependentes do meio am-
biente, e não possuindo muita necessidade para atin-
gir a autonomia; sobre a necessidade de se relaciona-
rem com o sexo oposto (Het), 18,1% dos indivíduos
indicam demonstrarem fascínio sobre sexo e coisas
afins; 54,5% apresentam certa necessidade por sexo
e 27,2% não demonstram interesse pelo assunto; em
relação ao grau de desejabilidade social, 45,4% pos-
suem muita necessidade de se revelarem para o meio,
27,2% possuem tal necessidade mais equilibrada e
27,2% não demonstraram necessidade de serem acei-
tos ou obterem aprovação do meio.
No Gráfico 3 encontram-se os resultados relativos
à incidência das características de personalidade que
convergiam e divergiram entre os dois grupos.
42
Incidência das características de personalidade que convergiram e divergiram entre os grupos de indivíduos
estressados e não-estressados
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
Ao se observar o Gráfico 3, nota-se que as caracte-
rísticas de personalidade que tiveram grande desta-
que em ambos os grupos somam 39% dos resultados
desta análise. Estas características de personalidade
que convergem tanto no grupo do stressados, quanto
no grupo dos não-stressados são: a pouca necessida-
de em ajudar as pessoas (Ass); a pouca necessidade
de se obter apoio e proteção (Af); a tendência à vaida-
de (Ex); a pouca capacidade para organização (O) e a
necessidade moderada de se relacionar com o sexo
oposto (Het). As outras características de personalida-
de avaliadas pelo IFP, somam 61% dos resultados
desta análise e indicam a divergência entre ambos os
grupos. O observado foi o seguinte: o grupo dos su-
jeitos considerados stressados possui condições mo-
deradas de pensar objetivamente, enquanto que o
grupo dos sujeitos considerados não-stressados pos-
sui grandes condições (I); o grupo dos sujeitos consi-
derados stressados possui pouca necessidade em ad-
mirar figuras superiores, enquanto que o grupo dos
sujeitosnão-stressados possui muita necessidade (Def);
o grupo dos sujeitos considerados stressados possui
pouca necessidade em dar e receber afeto, enquanto
que o grupo dos não-stressados possui muita necessi-
dade (Afl); o grupo dos sujeitos considerados stressados
possui grande necessidade de dominar e persuadir
pessoas, enquanto que o grupo dos não-stressados
possui necessidade mediana (Do); o grupo dos sujei-
tos considerados stressados possui grandes condições
de admitirem erros e fracassos, enquanto que o gru-
po dos não-stressados possui condições medianas
(Den); o grupo dos sujeitos considerados stressados
possui grande ambição e desempenho, enquanto que
o grupo dos não-stressados possui pouca ambição e
desempenho (Des); o grupo dos sujeitos considera-
dos stressados possui agressividade mediana, enquanto
que o grupo dos não-stressados possui pouca
agressividade (Ag); o grupo dos sujeitos considerados
stressados possui condições medianas de persistir em
tarefas mais árduas, enquanto que o grupo dos não-
stressados possui grandes condições (Per); o grupo
dos sujeitos considerados stressados possui pouca
necessidade em termos de condição à mudança, en-
quanto que o grupo dos não-stressados possui muita
necessidade (M), o grupo dos sujeitos considerados
stressados possui pouca necessidade para se torna-
rem independentes, enquanto que o grupo dos não-
stressados possui esta necessidade moderada (Aut).
Por fim, o grupo dos sujeitos considerados stressados
possui necessidade moderada de serem aceitos soci-
almente, enquanto que o grupo dos não-stressados
possui muita necessidade (Ds).
Junto com as características de personalidade dos
sujeitos da amostra, do levantamento do índice de
stress entre os alunos do curso de psicologia e a clas-
sificação da personalidade dos alunos em grupos de-
nominados stressados e não stressados, levantou-se,
através do questionário, quais eram os fatores que
mais incomodavam os indivíduos enquanto graduandos
do último ano do curso. Esses fatores foram relatados
permitindo ao aluno descrever apenas três itens. Os
resultados encontram-se à mostra na Tabela 3.
43
Tabela 3.
Fatores considerados incômodos pelos alunos do quinto ano de Psicologia
Observando-se a Tabela 3, obtém-se os seguintes
resultados: o porvir em relação ao futuro profissional
preocupa 31,05% dos alunos da amostra; A falta de
tempo é condição que interfere e preocupa 31,05%
desses sujeitos; 24,15% consideram a cobrança por
parte dos professores, ou seja, o rigor acadêmico, como
sendo fator preocupante; 20,70% disseram que o ex-
cesso de trabalhos escolares é o que mais atrapalha o
bom desempenho do aluno; 20,70% disseram que o
TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) é a preocupa-
ção vigente; 17,25% acham que os relatórios a serem
confeccionados são extremamente difíceis; 17,25% têm
dificuldades para trabalhar em grupos de supervisão e
estágios ; 13,80% possuem medo de não concluírem
o curso no tempo estimado, enquanto que 10,45%
têm o medo da reprovação universitária; 6,90% rela-
tam que o medo da profissionalização é fator mais
preocupante e 6,90% acham que a separação dos
amigos é a situação mais difícil de suportar. Não hou-
ve dados relativos aos possíveis problemas afetivo-
relacionais e sócioseconômicos.
Discussão dos resultados
Ao se fazer uma análise pormenorizada dos resul-
tados, têm-se uma amostra cujo número de indivídu-
os estressados ultrapassa o número de indivíduos não
estressados, e que quase todas as divisões das fases
de stress conceituadas por Lipp (2000b) foram preen-
chidas, menos as fases de quase-exaustão e exaustão
física. Na fase de alerta, em que o mecanismo carac-
terístico é o preparo do organismo para lutar ou fugir,
encontrou-se apenas um sujeito, que através de uma
conversa informal, relatou ter passado por uma expe-
riência não muito agradável momentos antes da apli-
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cação do Inventário de Stress (ISSL), fato que propicia
o aparecimento dos sintomas revelados no inventário.
A fase de resistência psíquica foi a que mais se desta-
cou entre os indivíduos (44,4%), indicando que eles
ainda possuem estrutura para combater o agente
estressor (LIPP, 2000b). Neste item de classificação, o
incômodo acontece a nível psicológico, o que pode
estar ocorrendo devido aos padrões de personalidade
individuais e à própria condição de ser aluno
quintanista, que requer do sujeito grande dispêndio
de energia física e psíquica. A fase de resistência físi-
ca também teve destaque entre os alunos (33%), in-
dicando que, para que estes consigam adequar-se às
condições do ambiente, é necessário sobrecarregar-
se fisicamente. Neste período, o organismo, mesmo
sobrecarregado, não se encontra enfraquecido, de-
monstrando que os alunos ainda conseguem perma-
necer, mesmo com dificuldades, no processo de for-
mação acadêmica.
No que tange às características de personalidade
desses alunos, percebe-se que existem aspectos que,
por o aluno ser graduando e futuro profissional da
área de psicologia, deveria aparecer com maior fre-
qüência, e no entanto o que se encontrou foi o opos-
to. Um desses aspectos é a necessidade de ajudar as
pessoas, item este que revelou a pouca necessidade
que a maioria dos alunos de ambos os grupos,
estressados e não-estressados, possuem (44,4% e
45,4%, respectivamente). Um outro aspecto que dei-
xou a desejar, foi a capacidade de pensar de maneira
objetiva, pois no grupo de estressados (27,7%) foram
poucos os sujeitos que apresentaram tal condição e
no grupo dos não-estressados, apenas 45,4% apresen-
taram maiores condições para pensar mais racional e
objetivamente. Sabe-se que, um bom profissional deve
ter condições de atingir o raciocínio lógico e objetivo,
pois é isso que a sua profissão e o mercado de traba-
lho exigem (ERIKSON, 1998). Deve-se considerar tam-
bém que o psicólogo trabalha com aspectos subjeti-
vos do ser humano. No entanto, a predileção a pensar
subjetivamente e não objetivamente, indica que a
propensão a fantasiar destes alunos é maior do que a
propensão a pensar de maneira real, e que este recur-
so a fantasiar pode estar associado à condição destes
sujeitos serem alunos do quinto ano do curso, ou seja,
este recurso pode, hipoteticamente, estar sendo utili-
zado por estes alunos para poderem lidar com a difícil
situação de se tornar profissional, fato este mais
marcante no grupo dos stressados.
Um outro aspecto relevante levantado na pesqui-
sa refere-se ao fato de os alunos de uma forma geral,
não necessitarem de apoio e proteção (11% no grupo
dos estressados e 18,1% do grupo dos não-estressados).
Rosa (1996) salienta que durante o processo de cons-
trução de uma estrutura social e pessoal, o jovem pre-
cisa depender e receber apoio de seus responsáveis,
tanto psíquica quanto financeiramente. Na atual soci-
edade em que vive o homem moderno, a dependên-
cia e a necessidade por suporte psicológico e emoci-
onal é fundamental para lidar com as vicissitudes e os
problemas do dia-dia. No entanto, o IFP, além de re-
velar algumas características de personalidade, revela
também o desejo do sujeito para apropriar-se delas.
Dessa forma, pode-se levantar a hipótese de que os
alunos da referida pesquisa preferem proteger-se por
si só do que precisar de apoio e proteção de outrem.
A ausência do desejo por suporte e proteção é descri-
ta na literatura psicanalítica como condição patológi-
ca, visto esta característica ser fator constitucional do
indivíduo, e que se manifesta desde a concepção ma-
terna. Esta situação pode ser descrita como uma for-
ma de negar a realidade, não só a psíquica, como
afirma Klein (1991), em que considera tal movimento
psicológico uma maneira de o sujeito não aceitar o
teste de realidade, por este ser demasiadoviolento,
mas também social, visto ser na relação com um ou-
tro que a construção do sujeito se forma, pois é por
intermédio do outro que um sujeito se apropria dos
valores e da funcionalidade de uma sociedade, o que
necessariamente requer a disponibilidade de um indi-
víduo que não seja o próprio sujeito (RODRIGUES, 1975).
Uma outra divergência entre as características de
personalidade dos dois grupos estudados refere-se à
necessidade de admirar figuras superiores (pais, pro-
fessores, etc). Nos sujeitos não-estressados, há uma
grande quantidade de sujeitos que admiram tais figu-
ras (54,5%). Para o profissional que está prestes a in-
serir-se no mercado de trabalho, obter um modelo de
postura profissional é um fator positivo, pois ter uma
referência e uma idéia de como se atua profissional-
mente traz ao sujeito maior segurança em sua prática,
além de nortear a sua própria conduta. Entretanto, o
grupo dos estressados não apresentou necessidade
de admirar figuras superiores (72,1%). Isto pode ser
desvantajoso tanto para o indivíduo, quanto para a
sociedade, visto que os futuros psicólogos não
internalizaram nenhuma referência como base para
agir na prática profissional e também possivelmente
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
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prestarão serviços a uma sociedade que sofrerá as
conseqüências desta negligência. Frente a esse qua-
dro, fica aqui uma pergunta a ser respondida: quem
será a referência desses alunos?
Um outro ponto interessante é a necessidade de
dar e receber afeto. No grupo dos estressados, há
uma divergência nos resultados, pois uma parte tem
pouca necessidade (44,4%), e uma outra parte (38,8%)
tem muita necessidade de dar e receber afeto. No
grupo dos não-estressados, os resultados foram mais
convergentes: boa parte do grupo tem boas condi-
ções para dar e receber afeto (63,2%). Se estes resul-
tados forem relacionados com a capacidade de ajudar
pessoas que estes alunos possuem, chega-se ao se-
guinte ponto: parte dos alunos, mais precisamente os
estressados (38,8%) querem dar e, principalmente, re-
ceber afeto, mas não querem ajudar e dar suporte
psicológico para quem necessita (44,4%). Este funcio-
namento de personalidade é comum em pessoas do
tipo narcisistas, que pensam apenas em si, principal-
mente no que tange à satisfação de desejos, e não
conseguem enxergar o restante do mundo (FREUD,
1974). Esta afirmação tem nexo quando comparada
com a escala do teste que avalia o desejo de contro-
lar e persuadir pessoas em prol de metas individuais.
No grupo dos estressados, o resultado revela que este
grupo tem tal necessidade fortíssima, pois apenas
22,2% não apresentam esta característica como traço
marcante. Por isso, a hipótese de um funcionamento
narcísico desses alunos considerados stressados tor-
na-se mais precisa quando relacionada com estes da-
dos, pois, analisando as escalas observadas até agora,
tem-se os seguintes dados: ausência de desejo de
suporte psicológico, pouca necessidade de ajudar
pessoas que necessitam de apoio, vontade de contro-
lar e persuadir pessoas para atingir metas individuais
e pouca necessidade de admirar figuras superiores.
Há, no entanto, um outro ponto positivo a ser des-
tacado. Ambos os grupos, têm em sua maioria sujei-
tos com alto índice de ambição e desempenho (72,2%
no grupo dos estressados e 54.5% no grupo dos não-
estressados), fato importante para quem quer consti-
tuir-se como sujeito social e auto-realizar-se profissio-
nalmente (ERIKSON, 1976). O que deve ser levado
em consideração é a maneira como esta auto-realiza-
ção pode se concretizar, pois a pesquisa revelou estar
frente a tipos de personalidade que costumam pen-
sar mais em si mesmos do que pensar nos outros,
podendo estes indivíduos, hipoteticamente, perderem
os próprios limites e não respeitar também os limites
dos demais sujeitos ao seu redor, tudo para atingir
objetivos pessoais. Lipp (1996) descreve que pessoas
com ambição elevada são grandes candidatas a ad-
quirirem o stress propriamente dito, e é no grupo dos
estressados que está a maior concentração de sujei-
tos ambiciosos. Uma outra característica positiva que
apareceu em ambos os grupos, refere-se à necessi-
dade dos alunos de admitirem seus erros e fracassos
(50% no grupo dos estressados e 54.5% no grupo dos
não-estressados). Esta característica é essencial para o
profissional da área de Psicologia, já que ele é o espe-
cialista em manejar os fracassos e as angústias revela-
das pela sua clientela, e estar apto a reconhecer isto
em si mesmo, facilita o bom trabalho que esta possa
vir a desenvolver com seus clientes.
Já em relação à agressividade, nota-se que ela é
maior entre os sujeitos pertencentes ao grupo dos
não-estressados (63,3%). A agressividade é fator posi-
tivo quando utilizada eficazmente, pois é uma carac-
terística que o sujeito possui para conquistar as coisas
do dia-dia e não pode ser considerada sempre um
aspecto negativo, apenas se estiver ausente ou em
excesso (KLEIN, =1991). Tal agressividade não teve peso
importante no grupo dos estressados (50,8%) e esta
situação cria margem para se pensar na influência que
o stress tem sobre a vida do indivíduo, pois possivel-
mente o stress pode ou estar inibindo a agressividade
que deveria ser canalizada para o meio ambiente, ou
permitindo sua expressão em demasia.
A capacidade de organizar as tarefas do dia-dia (re-
latórios, trabalhos, pesquisas, etc.) é esperada em um
aluno que esteja no quinto ano do curso de Psicolo-
gia. No entanto, o resultado não foi compatível com o
esperado, como pudemos ver. Ambos os grupos, os
estressados e os não-estressados, possuem
pouquíssimas condições para organizar as tarefas do
dia-dia, bem como se organizar para estas tarefas (5,5%
e 27,2%, respectivamente). Portanto, como esta ca-
racterística apareceu nos dois grupos, é de se supor
que a pouca capacidade para a organização, não de-
corre apenas do stress, mas também das característi-
cas de personalidade desses sujeitos.
Um outro ponto que faz pensar na influência que
o stress tem na vida do indivíduo é a persistência des-
ses alunos para atingirem seus objetivos. No grupo
dos não-estressados, os alunos (54,5%) permanecem
mais tempo tentando atingir seus objetivos, geralmen-
te desistindo apenas quando o conquistam. O grupo
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de estressados (66,6%) até tem condições de iniciar e
persistir em uma tarefa árdua, mas desistem quando
ela tende a complicar. Rocha Jr. (2000) revela que
muitos profissionais reclamam do fantasma chamado
desemprego. Para o autor, ser profissional de Psicolo-
gia requer persistência e força de vontade, pois sabe-
se que as dificuldades são muitas para exercer e con-
quistar a profissão, e que esta falta de persistência é
mais uma característica que o stress e a própria perso-
nalidade possivelmente não permitem ao aluno apro-
priar-se dela.
No grupo dos estressados (5,5%), a condição para
sair da rotina e conhecer coisas novas é mais escassa
do que no grupo dos não-estressados (36.3%). Erikson
(1998) aponta a conseqüência da estagnação na vida
do indivíduo, relatando que tal estagnação pode re-
verter-se futuramente em um sentimento de menos-
valia, tornando o sujeito frustrado consigo mesmo e
com o mundo. Já o desejo de ser autônomo e inde-
pendente, aparece com maior freqüência no grupo
dos stressados (44,4%). Como Rosa (1996) descreve,
o sujeito, para atingir autonomia e conquistar sua in-
dependência, deve permanecer mais tempo na de-
pendência dos pais, para preparar-se melhor e
instrumentalizar-se culturalmente. E, os alunos do quin-
to ano, especificamente aqueles considerados
estressados, não se sentem à vontade dependendo
dos outros, fato visto na escala que avalia a necessida-
de de receber apoio e proteção (72,2%).
Percebe-se também que os alunos,em sua maio-
ria, não perderam o interesse em relacionar-se com o
sexo oposto, pois como descrito nos resultados (55,5%
no grupo dos estressados e 54,4% no grupo dos não-
estressados), o desejo para trocas diversas entre sujei-
tos de sexos diferentes é mediano, ou seja, os alunos
não pensam excessivamente em sexo, nem tendem
a negar essa necessidade, mas conseguem achar um
meio termo para satisfazerem suas necessidades pes-
soais.
Por fim, a última escala do IFP analisada e a ser
discutida é o grau de desejabilidade social. A necessi-
dade de ser aceito é importante para quem quer arru-
mar um emprego. Mas quando isto se torna um dese-
jo, este desejo passa a governar a conduta do indiví-
duo, fazendo com que este se mostre para as pessoas
da maneira como elas gostariam que ele fosse e não
como ele é realmente. No grupo dos não-estressados
(45,4%), esta característica é muito forte, e isso reve-
la que, frente ao ambiente, estes sujeitos relacionam-
se de forma teatral, ou seja, mascaram quem real-
mente são e agem de acordo com as expectativas
dos outros. Em termos psicanalíticos, estes alunos
investem mais libido no ambiente do que em si
mesmos, frente a situações específicas. No grupo dos
estressados, a questão é outra. Estes possuem certo
desejo de serem aceitos pelo meio (61,1%), mas não
ultrapassam os limites da realidade. Isto pode estar
associado ao fato de estes alunos investirem mais
libido em si do que no ambiente, levando-se em con-
sideração situações específicas. Para Freud (1974), é
nesse intercâmbio de catexias que se moldam as re-
alizações de desejo e os respectivos comportamen-
tos do homem.
E, como se as características da personalidade não
bastassem para facilitar o aparecimento do stress, há
ainda um outro fator que pode ser considerado como
agente facilitador da doença: o processo de tornar-se
profissional. Como descrito nos resultados apresenta-
dos na tabela 3, às situações que são submetidos os
alunos do quinto ano do curso de Psicologia são inú-
meras. Os relatórios, as ansiedades e medos do que
é ser profissional, a separação dos amigos, os traba-
lhos de conclusão de curso e alguns outros itens que
foram citados pelos sujeitos da pesquisa são fatores
que os preocupam e interferem no bom desempe-
nho acadêmico. Não houve sujeitos que revelaram
sentir dificuldades por serem alunos do noturno ou
por enfrentar crises sócioeconômicas desfavoráveis.
Também não apareceram nos resultados preocupa-
ções do tipo provas ou sistema de ensino. As únicas
variáveis que se assemelham a estes dados são a re-
provação e a cobrança por parte dos professores para
entregarem trabalhos dentro do prazo.
Rev. ciênc. hum, Taubaté, v. 12, n. 1, p. 33-49, jan/jun 2006.
E, como foi apontado no início do presente traba-
lho, estas demandas geram no aluno sentimentos de
responsabilidade, competitividade e ansiedade, bem
como o medo do porvir, especificamente o desem-
prego. Também são poucos os alunos que possuem
condição para assumirem responsabilidade, lidar com
o sentimento de competitividade, com o porvir e com
as ansiedades que estes fatores suscitam, já que,
psicodinamicamente, não possuem uma estrutura
desenvolvida para enfrentar esta situação, principal-
mente os alunos considerados estressados, pois foi
nesse grupo de alunos que as características neces-
sárias para se tornar um bom profissional quase não
apareceram, comparadas com as características do
outro grupo de alunos, os não-estressados, fato visto
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anteriormente.
CONCLUSÃO
t
Frente ao material já apresentado anteriormente,
torna-se possível tecer a parte final do presente traba-
lho. No entanto, deve-se ter certo cuidado ao consi-
derar os resultados apresentados como conclusão pro-
priamente dita, pois o número da amostra estudada é
relativamente pequeno para tornar os dados extrema-
mente precisos.
Quanto ao índice de stress, objetivo primário da
pesquisa, considera-se que é relativamente alto
(62,1%), pois mais da metade da amostra revelou ter
algum tipo de stress. Dentre os stressados, percebe-
se que a grande maioria (77,4%) ainda possui recur-
sos para lidar com a patologia, visto não estarem na
fase de exaustão física ou psicológica descrita por Lipp
(2000b). Quanto aos mecanismos que eliciam a pato-
logia, diz-se que há dois tipos: as características de
personalidade e alguns fatores que são próprios do
curso de Psicologia, ambos mecanismos pertencen-
tes também à esfera dos objetivos do presente traba-
lho.
Ser aluno de quinto ano é considerar submeter-se
a tarefas árduas e difíceis, visto ser neste o momento
em que o aluno aproxima-se da condição de tornar-se
profissional. Neste processo de trocar o espaço de
graduação pelo espaço profissional, a ansiedade e
temor surpreendem os alunos, que até então não ti-
nham vivenciado tal problema tão de perto, e que
notavam que este espaço ia diminuindo a cada entre-
ga de relatório, a cada final de supervisão, a cada dia
que passava. E, nesse enlace da aproximação da pro-
fissão com as exigências acadêmicas, que tornam isso
possível, o aluno se deparava com um rol de experi-
ências próprias de quem está no último ano do curso,
acabando por sentir-se desgastado e propenso a ad-
quirir o stress. Muitos revelaram ser o porvir o fator
que mais exige esforço psíquico e causa maior ansie-
dade. Muitos também revelaram ser o Trabalho de
Conclusão de Curso aquele que mais desgasta o alu-
no. Mas, como foi possível observar, existem outros
fatores que acontecem simultaneamente a estes e
que também são agentes que facilitam o aparecimento
do stress. É de acordo com os pontos de vista dos
alunos e as características de personalidade dos mes-
mos que tais fatores podem ter relevância para uns e
para outros não.
O terceiro objetivo a ser descrito está intimamen-
te ligado à questão da personalidade. Embora as ca-
racterísticas de personalidade de ambos os grupos
estudados, os stressados e os não-stressados, revelem
certa diferença, a sua discrepância não pode ser con-
siderada forte. Como visto nos resultados, certas ca-
racterísticas de personalidade muitas vezes não facili-
tam a vida do graduando, especialmente aquele do
último ano do curso de psicologia. Algumas delas são
essenciais para o aluno, como por exemplo a capaci-
dade para se organizar, a energia (agressividade) para
atingir os objetivos, a preocupação com as pessoas, a
preocupação consigo mesmo... No entanto, tais ca-
racterísticas não apareceram nos resultados apresen-
tados anteriormente com certa intensidade entre os
sujeitos da amostra.
No grupo dos stressados, percebe-se que existem
determinadas características de personalidade que
colaboram para o surgimento da patologia. Sujeitos
com ambição elevada apareceram mais neste grupo,
e Lipp (1996) aponta que tais indivíduos possuem maior
propensão a adquirir stress em alguma fase da vida. A
pouca condição para sair da rotina e mudar algumas
atitudes também são agentes facilitadores de stress.
Há também, uma característica que teve pouca apari-
ção neste grupo e que é essencial para quem almeja
a profissão de psicólogo: a persistência. Frente a um
mercado de trabalho competitivo, é interessante man-
ter-se firme e tentar aproveitar as oportunidades que
surgem para conseguir um espaço e trabalhar. Lipp
(1996) já apontou como é difícil se manter profissio-
nalmente, e para quem tem pouca condição em per-
sistir, tornar-se psicólogo passa a ser quase que uma
utopia nessas condições.
Portanto, é determinante que algumas caracterís-
ticas de personalidade, aliada a fatores externo/
ambientais, propiciem a inserção do stress na vida do
indivíduo, e que para dar conta dessa demanda, seria
necessário ou rever as condições a que o aluno de
quinto ano é submetido, ou então criar instrumentos
preparatórios que forneçam subsídios parao graduan-
do que está prestes a adentrar no último ano do curso
de psicologia, adquira condições de se preparar e es-
tar preparado para o processo final da etapa de gradu-
ação, além de ressaltar a importância do trabalho de
análise ou psicoterapia pessoal que estes devem de-
senvolver durante a etapa de graduação, fator impres-
cindível para a formação de bons profissionais.
48
pathologies as the stress can appear, interfering so
much in the physical as in the psychological aspects
of the individuals. According the exposed, the present
work has as objectives to verify which are the variables
that cause more interpose in students of the fifth year
during the final process of graduation and who facility
the appearance of the stress; to find out the stress
index among them and to identify if it’s easier to a
specific type of personality to stress in such an important
step of the professional formation. However, it was
used a stress Inventory of Marilda Lipp, applied to 29
students of the last year of the psychology course,
besides IFP of Azevedo, Guesti and Pasquali. A
questionnaire was also applied to facilitate the
appropriation of the objectives. The results were the
following ones: 62,1% of the components of the
sample are in stress situation, and 37,95% in healthy
psychological conditions. Talking about the factors that
more interpose causes to the students, writing reports,
the academic rigidity and the excess of works, among
other factors, followed by certain personality
characteristics, become elements that facility the
development of the stress.
KEY-WORDS
Stress. Personality. Graduation. Psychology.
NOTAS EXPLICATIVAS
1 Selye, H. A. (1936). A síndrome produced by diverse nocuous agents.
Nature: 138.
2 Holmes, T. H.; Rahe, R. H. “ The social readjustment rating scale”. Journal of
Psychosomatic Research, 4. 1967, pp.189-194.
3Estas siglas são próprias do manual do teste (1997), por isso foram
descritas no presente trabalho.
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PERSONALIT Y AND ACADEMIC RIGIDITY:
FACILITATIVE VARIABLES OF THE APPEARANCE OF
STRESS IN STUDENTS OF THE LAST YEAR OF THE
PSYCHOLOGY COURSE
ABSTRACT
Becoming professional today is one of the greatest
challenges for those who are looking for space in the
job market - specifically in what refers to the students
of the last year of the psychology course – besides
facing with a competitive market, they have to supply
the demand of the minimum requirements for the
formation. This process brings consequences not always
positive to the students, because the waste is big,
49
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Fabio Donini Conti
Graduando do 5º ano do curso de psicologia da UnG.
Rua Mato Grosso, 25
JardimTranquilidade
Guarulos- SP
CEP.
e-mail: Fabio_donini:@hotmail.com
Armando Rocha Junior
Mestre em Educação pela PUC-SP e Doutor em Ciências da Religião pela
Universidade Metodista de São Paulo.
Artigo recebido em :29/03/05
Aceito para publicação:22/03/06
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