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Legítima Defesa X Estado de Necessidade

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UNIVERSIDADE PAULISTA 
CAMPUS – ASSIS 
DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARCOS GONÇALVES GOMES 
ROSEMAR VIANA 
 
 
 
 
 
3º SEMESTRE 
2015 
 
 
UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE DIREITO PENAL: 
Legítima Defesa X Estado de Necessidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho desenvolvido como parte das 
Atividades Práticas Supervisionadas para 
a conclusão do 3º semestre na graduação 
em Ciências Jurídicas, apresentado à 
Universidade Paulista – UNIP. 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Prof.ª Cláudia Cardia Suzuki 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASSIS 
2015 
 
 
LEGÍTIMA DEFESA X ESTADO DE NECESSIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É melhor correr o risco de salvar um 
homem culpado do que condenar um 
inocente”. 
(Voltaire) 
 
 
 
 
 
 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho é uma proposta em que tentamos externar o nosso 
entendimento sobre o que foi tratado em sala de aula a respeito dos institutos da 
Legítima Defesa e do Estado de Necessidade. 
Com o intuito de sermos fiéis aos tópicos sugeridos pela orientadora, deixamos 
de abordar assuntos correlatos importantes não indicados, que tornariam esse 
trabalho extenso e enfadonho. 
Isto posto, esta atividade procurou abordar as diferenças jurídicas desses 
institutos, de forma a dirimir as dúvidas que elas causam aos iniciados da Dogmática 
Jurídica. 
Embora seja simples, a proposta deste trabalho é a de ser uma ponte entre o 
senso comum e o conhecimento científico do acadêmico de Direito a respeito dessas 
excludentes. Ponte essa que depois de atravessada, não se deve mais voltar. 
Assim, iniciemos a travessia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 6 
 
1. LEGÍTIMA DEFESA................................................................................................ 7 
1.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DA LEGÍTIMA DEFESA.................................. 9 
1.2. MODALIDADES DE LEGÍTIMA DEFESA.......................................................... 11 
1.2.1. LEGÍTIMA DEFESA PRÓPRIA....................................................................... 11 
1.2.2. LEGÍTIMA DEFESA DE TERCEIRO............................................................... 12 
1.2.3. LEGÍTIMA DEFESA PREORDENADA............................................................ 12 
1.2.4. LEGÍTIMA DEFESA X CRIMES PASSIONAIS................................................ 13 
1.2.5. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA...................................................................... 14 
1.3. EXCESSO NA LEGÍTIMA DEFESA.................................................................... 15 
1.4. JURISPRUDÊNCIAS RELACIONADAS COM A LEGÍTIMA DEFESA............... 16 
 
2. ESTADO DE NECESSIDADE................................................................................ 17 
2.1. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO DE NECESSIDADE................ 18 
2.2. ESTADO DE NECESSIDADE FAMÉLICO......................................................... 20 
2.3. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA COM O ESTADO DE NECESSIDADE.... 21 
 
3. QUESTÕES SOBRE LEGÍTIMA DEFESA E ESTADO DE NECESSIDADE........ 22 
 
CONCLUSÃO........................................................................................................... 25 
 
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
INTRODUÇÃO 
Dizemos, grosso modo, que ilicitude é tudo aquilo contrário ao direito, à lei. 
Portanto, tudo que a lei proíbe é, obviamente, ilícito. Isto posto, o crime se enquadra 
nesse simplificado conceito. 
Entretanto, apesar de todo crime ser um ato ilícito, surge, eventualmente, 
situações em que, mesmo o agente praticando uma conduta descrita como criminosa, 
terá o seu ato devidamente justificado pela lei penal, de forma que essa conduta não 
será considerada ilícita, em razão das circunstâncias, levando sempre em 
consideração o caso concreto. 
Desta feita, citamos Mirabete: 
“O direito prevê causas que excluem a antijuridicidade do fato típico (causas 
excludentes da criminalidade, causas excludentes da antijuridicidade, causas 
justificativas, causas excludentes da ilicitude, eximentes ou descriminantes). 
São normas permissivas, também chamadas tipos permissivos, que excluem 
a antijuridicidade por permitirem a prática de um fato típico. 
Segundo o entendimento adotado, a exclusão da antijuridicidade não implica 
o desaparecimento da tipicidade e, por conseguinte, deve-se falar em 
‘conduta típica justificada’. De acordo, porém, com a teoria dos elementos 
negativos do tipo, as causas de justificação eliminam a tipicidade. Segundo 
esta posição, se entende que o tipo constitui somente a parte positiva do tipo 
total de injusto, a que se deve juntar a parte negativa representada pela 
concorrência dos pressupostos de uma causa de justificação. Somente será 
típico o fato que também for antijurídico; presentes os requisitos de uma 
descriminante não há que se falar em conduta típica”1. 
 
Assim, o agente que atua sob a redoma das excludentes de ilicitude, terá o seu 
ato justificado, e não responderá pelo crime. 
Exposto isso, declinaremos sobre duas das quatro excludentes, a saber: 
Legítima Defesa e Estado de Necessidade, institutos que, embora possam causar 
confusão no seu entendimento, mostram-se bastante diferentes em suas essências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________ 
1.MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 
7 
 
1. LEGÍTIMA DEFESA 
Legítima Defesa é um instituto jurídico atribuído como uma excludente de 
ilicitude, ou seja, é uma causa de justificação do ato do agente, conforme se 
depreende do Código Penal: 
“Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu 
ou de outrem. ” 
(Código Penal Brasileiro – Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) 
 
Isso implica dizer que quem age em legítima defesa não comete crime, 
conforme estatui essa mesma lei penal: 
“Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – [...]; 
II - em legítima defesa; 
III – [...]. ” 
 
Historicamente, o Estado, a partir do momento em que chamou para si a 
responsabilidade de distribuir justiça, aplicando a lei ao caso concreto, pretendeu 
terminar com a justiça privada, geradora de inúmeros excessos e incidentes 
incontroláveis. Entretanto, não podendo estar, por meio de seus agentes, em todos os 
lugares ao mesmo tempo, facultou à pessoa agredida a legítima defesa de seus 
direitos, pois, caso contrário, o direito deveria ceder ao injusto, o que é inadmissível. 
Bitencourt, citando Bettiol, ilumina nosso entendimento a cerca desse instituto 
através dos tempos afirmando: 
“[...] ela na verdade corresponde a uma exigência natural, a um instinto que 
leva o agredido a repelir a agressão a um seu bem tutelado, mediante a lesão 
de um bem do agressor. Como tal, foi sempre reconhecida por todas as 
legislações, por representar a forma primitiva da reação contra o injusto. O 
reconhecimento do Estado da sua natural impossibilidade de imediata 
solução de todas as violações da ordem jurídica, e objetivando não 
constranger a natureza humana a violentar-se numa postura de covarde 
resignação, permite, excepcionalmente, a reação imediata a uma agressão 
injusta, desde que atual ou iminente, que a dogmática jurídica denominou 
legítimadefesa.”2. 
 
Está assentada em um duplo fundamento: de um lado, a necessidade de 
defender bens jurídicos perante uma agressão injusta; de outro lado, o dever de 
defender o próprio ordenamento jurídico, que se vê afetado ante uma agressão 
ilegítima. 
 
 
_______________ 
2.BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17ªed. Saraiva: 2012. 
8 
 
Trata-se de uma reação humana, contra ato agressivo injusto e voluntário 
praticado por outro ser humano. Embora essa reação não possa ser medida com 
precisão matemática, a atitude reativa deve ser moderada e proporcional ao agravo 
até cessá-lo. O critério da moderação é muito relativo e deve ser apreciado em cada 
caso, ficando o agente defensor sujeito a punições pelo excesso cometido. Dessa 
forma, não é razoável, hipoteticamente, um homem forte, robusto, com estatura de 
dois metros de altura, mestre em artes marciais, desferir e matar, com vários tiros de 
arma de fogo, um homem franzino, de estatura baixa para os padrões médios, cuja 
massa corporal seria inferior a cinquenta quilogramas, que o atenta de “mãos limpas”. 
Por vezes, bastaria um simples empurrão. Claro que são as circunstâncias e as 
peculiaridades do momento que irão ditar a forma e o meio pelo qual o defensor irá 
repelir a injusta agressão. 
São várias as teorias que explicam os fundamentos desse instituto. Nesse 
sentido destacamos o aporte de Mirabete: 
“As teorias subjetivas, que a consideram como causa excludente da 
culpabilidade, fundam-se na perturbação de ânimo da pessoa agredida ou 
nos motivos determinantes do agente, que conferem licitude ao ato de quem 
se defende etc. As teorias objetivas, que consideram a legítima defesa como 
causa excludente da antijuridicidade, fundamentam-se na existência de um 
direito primário do homem de defender-se, na retomada pelo homem da 
faculdade de defesa que cedeu ao Estado, na delegação de defesa pelo 
Estado, na colisão de bens em que o mais valioso deve sobreviver, na 
autorização para ressalvar o interesse do agredido, no respeito à ordem 
jurídica, indispensável à convivência ou na ausência de injuridicidade da ação 
agressiva”3. 
 
Assim, entendemos que as teorias objetivas analisam os elementos de acordo 
com o preconizado positivamente na lei penal, ao passo que as teorias subjetivas são 
de caráter doutrinário, estudam o teor que está subentendido, levando cada 
doutrinador a classificar e interpretar tais elementos de acordo com o seu 
entendimento. 
As teorias objetivas parecem-nos as mais acertadas, pelo fato de que elas 
ressaltam as características jurídicas, os elementos compositores desse importante 
instituto, limitando o entendimento estritamente ao texto descrito na lei, evitando 
interpretações difusas, como ocorre nas teorias subjetivas. 
 
 
 
_______________ 
3.MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 
9 
 
1.1. ELEMENTOS CONSTITUINTES DA LEGÍTIMA DEFESA 
Para se configurar que um agente tenha sua conduta enquadrada de acordo 
com o instituto da legítima defesa, faz-se necessário o entendimento de alguns pré-
requisitos que a lei apresenta para que o instituto se mostre configurado ao caso 
concreto. Basta a ausência de um destes elementos para que seja desnaturada a 
possibilidade de arguição da legítima defesa. São eles: 
a) Agressão injusta: 
Trata-se de qualquer ação ou omissão humana contrária ao Direito. Portanto, 
depreendemos que a ação permissiva da legítima defesa não se restringe aos bens 
jurídicos tutelados pelo Direito Penal, mas a todo o universo do Direito. 
“Define-se a agressão como a conduta humana que lesa ou põe em perigo 
um bem ou interesse juridicamente tutelado. Mas a agressão, contudo, não 
pode confundir-se com a mera provocação do agente, que é, digamos, uma 
espécie de estágio anterior daquela, devendo-se considerar a sua 
gravidade/intensidade para valorá-la adequadamente. Pode-se afirmar que é 
irrelevante o fato de a agressão constituir, ou não, um ilícito penal, uma vez 
que o art. 25 do nosso Código Penal não faz restrições a respeito, logo, é 
suficiente que a agressão constitua um fato ilícito, caso contrário não será 
uma agressão injusta”4. 
 
Vale lembrar que a provocação pode ou não ser uma agressão, depende da 
valoração dispensada a ela, sempre relacionada ao caso concreto. 
 
b) Atualidade ou iminência da agressão: 
Evento atual é quando o evento está ocorrendo. Evento iminente é o fato prestes 
a ocorrer. 
“a) Atual: é a que está ocorrendo, ou seja, o efetivo ataque já em curso no 
momento da reação defensiva. No crime permanente, a defesa é possível a 
qualquer momento, uma vez que a conduta se protrai no tempo, renovando 
se a todo instante a sua atualidade. Exemplo: defende-se legitimamente a 
vítima de sequestro, embora já esteja privada da liberdade há algum tempo, 
pois existe agressão enquanto durar essa situação. Para ser admitida, a 
repulsa deve ser imediata, isto é, logo após ou durante a agressão atual. 
b) Iminente: é a que está prestes a ocorrer. Nesse caso, a lesão ainda não 
começou a ser produzida, mas deve iniciar a qualquer momento. Admite-se 
a repulsa desde logo, pois ninguém está obrigado a esperar até que seja 
atingido por um golpe (nemo expectare tenetur donec percutietur)”5. 
 
Isso posto, não basta que a agressão seja injusta, tem de estar pautada na 
atualidade ou no instante que está para ocorrer. 
 
_______________ 
4.BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
5.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
10 
 
c) Defesa de um direito próprio ou alheio: 
Somente se pode invocar a legítima defesa quem estiver defendendo bem ou 
interesse juridicamente protegido, não importando se é em defesa própria ou de 
terceira pessoa. 
“O sujeito pode defender seu bem jurídico (legítima defesa própria) ou 
defender direito alheio (legítima defesa de terceiro), pois a lei consagra o 
elevado sentimento da solidariedade humana. Admite-se, no segundo caso, 
apenas a defesa de bens indisponíveis quando o titular consente na 
agressão, mas não quando há agressão consentida e a bens disponíveis. 
Pode-se defender a vítima de um homicídio consentido, mas não o patrimônio 
de alguém que consente na subtração, no dano etc., ou na lesão à honra de 
quem não deseja essa tutela. 
A legítima defesa de terceiro inclui a dos bens particulares e também o 
interesse da coletividade (como na hipótese da prática de atos obscenos em 
lugar público, da perturbação de uma cerimônia fúnebre etc.), bem como do 
próprio Estado, preservando-se sua integridade, a administração da justiça, 
o prestígio de seus funcionários etc”6. 
 
No caso da defesa de terceira pessoa, essa pessoa não precisa ser conhecida 
ou possuir algum grau de parentesco, seja por consanguinidade ou por afinidade. 
 
d) Moderação dos meios necessários à repulsa: 
O agente, ao defender-se, deve utilizar dos meios que causam o menor dano 
indispensável à defesa do direito tutelado, podendo esse “meio necessário” ser até 
mesmo desproporcional com o utilizado no ataque, desde que seja o único à sua 
disposição naquele momento. 
“Os meios necessários, são os suficientes para arrostar a agressão, tendo-se 
em conta o que as circunstâncias permitem [...]. Demais disso, é preciso que 
exista uma certa proporcionalidade entre a agressão e a reação defensiva, 
em relação aos bens e direitos ameaçados. Caso contrário, a reação 
defensiva será ilícita, já que excessiva, e pode dar lugar à legítima defesa por 
parte do inicial agressor (legítima defesa sucessiva). Esta última não se 
confunde com a chamada legítima defesa recíproca, em que há 
impossibilidade de defesa lícita emrelação a ambos contendores (ex.: 
duelo)”7. 
 
Os elementos descritos acima são de caráter objetivo, o que, para a maioria 
dos doutrinadores, não são suficientes para a plena compreensão do tema, pois o 
caráter subjetivo do agente não deve ser ignorado, ou seja, para a caracterização da 
legítima defesa, devemos considerar também a vontade e a capacidade do agente de 
compreender a atitude agressora, bem como o seu interesse de se defender. 
 
_______________ 
6.MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 
7.PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 11ª ed. São Paulo: RT, 2011. 
11 
 
Todavia, é interessante destacar o posicionamento contrário de Magalhães 
Noronha. Vejamos: 
“É comum sustentar-se que só existe legítima defesa quando há consciência 
ou vontade de defender-se, como escreve o eminente Aníbal Bruno. 
Não comungamos dessa opinião. A legítima defesa é causa objetiva 
excludente da antijuridicidade. Situa-se no terreno físico ou material do fato, 
prescindindo de elementos subjetivos. O que conta é o fim objetivo da ação, 
e não o fim subjetivo do autor. Como acentua Mezger, ‘não pertence à defesa 
o conhecimento do ataque, nem a intenção de defender-se ou defender 
outro’. Se, v. g., um criminoso se dirige à noite para sua casa, divisando entre 
arbustos um vulto que julga ser um policial que o veio prender e, para escapar 
à prisão, atira contra ele, abatendo-o, mas verifica-se a seguir que se tratava 
de um assaltante que, naquele momento, de revólver em punho, ia atacá-lo, 
age em legítima defesa, porque de legítima defesa era a situação. O que se 
passa na mente da pessoa não pode ter o dom de alterar o que se acha na 
realidade do fato externo. Consequentemente, não se exclui a legítima defesa 
do ébrio, do insano etc., quando a situação externa era a de quem 
legitimamente se defende”8. 
 
 
Como podemos depreender, ele descarta os elementos subjetivos, apontando 
apenas caracteres objetivos como meio de se conceber a legítima defesa. 
 
 
1.2. MODALIDADES DE LEGÍTIMA DEFESA 
Não é pacífico na doutrina a classificação de todas as modalidades percebidas, 
no que tange a legítima defesa. Isto posto, arriscamo-nos a enumerar algumas delas, 
conforme vários apontamentos de renomados doutrinadores, acrescentando 
exemplos para que nossa ideia ecoe na mente do leitor, assinalando o alerta de que 
são apenas tópicos exemplificativos. Assim, temos: 
 
1.2.1. LEGÍTIMA DEFESA PRÓPRIA 
Modalidade exercida pela própria pessoa que sofre a agressão. 
Marcos, de arma de fogo em punho, rouba o relógio de Renan e, gratuitamente, 
agride-o com coronhadas, que, em um momento de possibilidade de reação, 
consegue entrar em luta corporal com Marcos e toma para si aquela arma de fogo. 
Renan tenta parar a agressão de Marcos ordenando-lhe que pare naquele momento. 
Marcos, de forma violenta e com porte físico muito mais forte que Renan, parte em 
direção deste. Renan, sem outras alternativas disponíveis, desfere um tiro no tórax de 
Marcos, mas este ainda entra em luta corporal e quase retoma a arma de fogo. Renan, 
mais uma vez sem saída, tendo a sua vida próxima de um fim trágico, em meio à luta, 
consegue desferir um tiro na cabeça de Marcos, suprimindo-lhe a vida e dando fim a 
_______________ 
8.NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: Introdução e Parte Geral. 38ª ed. São Paulo: Saraiva: 2004. 
12 
 
a agressão, com o único meio e com a proporção necessária a situação em concreto. 
Nesse exemplo fica patente a legítima defesa própria, pois Renan dispunha 
naquele momento do único meio eficaz para cessar a injusta agressão, que era a 
própria arma de fogo que Marcos portava. 
 
1.2.2. LEGÍTIMA DEFESA DE TERCEIRO 
Modalidade em que alguém, em ação altruísta, intervém a favor de outro, vítima 
de agressão injusta atual ou iminente. Não se exige do agente defensor grau de 
parentesco nem relação de amizade com a vítima agredida. 
 Rose, mestra em artes marciais, ao presenciar a Michele sendo assaltada por 
um homem com uma faca, investe-o com um golpe certeiro de judô e o imobiliza com 
uma “gravata” até a chegada da polícia, causando lesões no pescoço. 
Nesse exemplo, mesmo havendo a Rose causado lesão no pescoço do 
agressor, ela não responderá pelo crime, em razão de ter agido para proteger o bem 
jurídico de outrem, a incolumidade da Michele. 
 
1.2.3. LEGÍTIMA DEFESA PREORDENADA 
 
Hodiernamente, diante da inépcia do Estado em garantir a plena segurança da 
sociedade, verifica-se que inúmeros cidadãos têm adotados práticas que visam coibir 
ações delituosas, em especial contra o patrimônio, sem “quebrar” a prerrogativa 
estatal da autotutela, instalando em suas casas dispositivos denominados 
ofendículos. 
“São instalados para defender não apenas a propriedade, mas qualquer outro 
bem jurídico, como, por exemplo, a vida das pessoas que se encontram no 
local. Funcionam como uma advertência e servem para impedir ou dificultar 
o acesso de eventuais invasores, razão pela qual devem ser, 
necessariamente, visíveis. Desta forma, os ofendículos constituem aparatos 
facilmente perceptíveis, destinados à defesa da propriedade ou de qualquer 
outro bem jurídico. Exemplos: cacos de vidro ou pontas de lança em muros e 
portões, telas elétricas, cães bravios com placas de aviso no portão etc”9. 
 
A doutrina diverge quanto a natureza jurídica dos ofendículos. Parte dela trata 
como legítima defesa (quando é disposto), enquanto outra, entende haver exercício 
regular de direito. 
 
 
 
_______________ 
9.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
13 
 
Para a parte dominante o ofendículos seria legítima defesa no momento em 
que o agente delituoso tenta invadir uma propriedade e é repelido pelos efeitos do 
obstáculo. Assim: 
Vitor, com a intenção de praticar furto na residência de Lucas, consegue o feito 
de pular um muro de 3 metros de altura que contém cacos de vidro e arame farpado 
instalado no topo, que circunda a casa. Vitor, achando que se desvencilhou daqueles 
ofendículos, segue no intento de invadir a casa, mas ao tocar na maçaneta da porta, 
recebe uma descarga elétrica moderada de um equipamento devidamente instalado 
para choque de baixa intensidade. Vitor, que era cardíaco e utilizava marca-passo, 
não suporta a descarga e morre no local. 
Nesse exemplo, Lucas está juridicamente amparado pelo instituto da legítima 
defesa, haja vista que o choque não seria letal para as pessoas medianas. Ele utilizou 
de dispositivo predisposto para proteger seu patrimônio. Por outro lado, é sabido, 
também, que no exemplo exposto, Vitor, mesmo sabendo dos ofendículos instalados 
no muro, insistiu em adentrar na casa. 
 
1.2.4. LEGÍTIMA DEFESA X CRIMES PASSIONAIS 
Como foge do nosso propósito, não vamos discorrer sobre a evolução histórica 
a respeito dos crimes cometidos por violenta paixão. Limitamo-nos a enfatizar que nos 
dias atuais a doutrina majoritária entende, embora com controvérsias, que não há 
legítima defesa nesses crimes específicos, mas é possível a minoração da pena. 
Nesse norte apontamos Capez: 
“ [...] nada justifica a supressão da vida do cônjuge adúltero, não apenas 
pela falta de moderação, mas também devido ao fato de que a honra é um 
atributo de ordem personalíssima, não podendo ser considerada ultrajada por 
um ato imputável a terceiro, mesmo que este seja a esposa ou o marido 
do adúltero”10. 
 
Notadamente, na mesma esteira está Mirabete: 
“Inegavelmente, o sentido da dignidade pessoal, a boa fama, a honra, enfim, 
são direitos que podem ser defendidos, mas a repulsa do agredido há de ater-
se sempre aos limites impostos pelo art. 25. Na jurisprudência tem-se 
admitido,aliás, como ato de legítima defesa, a imediata reação física contra 
injúria verbal, desde que não excessiva a reação. Quanto às lesões corporais 
ou homicídio praticado pelo sujeito que surpreende o cônjuge em flagrante 
adultério, há também decisões em que se reconhece a existência da 
descriminante. A honra, porém, é atributo pessoal ou personalíssimo, não se 
deslocando para o corpo de terceiro, mesmo que este seja a esposa ou o 
marido do adúltero; assim, a maioria da doutrina e jurisprudência é no sentido 
de não existir a legítima defesa nessas hipóteses”11. 
_______________ 
10.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
11.MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 
14 
 
Assim: 
Frederico, quando chega a sua casa, flagra sua esposa mantendo relações 
sexuais com o seu amigo e sócio da empresa. Acometido por uma fúria dantesca, ele 
pega uma estatueta de metal e desfere vários golpes na cabeça do sócio, que em 
momento algum esboça reação, mas acaba falecendo no local. 
Embora Frederico subjetivamente possa alegar mácula em sua honra, ele 
jamais poderia hipoteticamente dar cabo da vida do desafeto adúltero. É um ato 
verdadeiramente desproporcional e descabido, mesmo porque a tempos o próprio 
adultério deixou de configurar como crime. 
 
1.2.5. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA 
Ocorre quando o agente se defende de um ato que, pelas circunstâncias, julga 
erroneamente ser uma agressão prestes a acontecer. É o que podemos depreender 
com o seguinte exemplo: 
Roberto, passando por uma rua mal iluminada, depara-se com um antigo 
desafeto, que lhe aponta um objeto brilhante e, pensando estar na iminência de levar 
uma facada, saca sua arma e mata esse desafeto que, na verdade, portava uma barra 
de chocolate em papel alumínio. 
“Pode acontecer, contudo, que o agente tenha uma percepção equivocada 
acerca da existência ou atualidade da agressão injusta e creia, erroneamente, 
que se encontra em uma situação de legítima defesa, dando lugar a uma 
legítima defesa putativa. Ocorre legítima defesa putativa quando alguém se 
julga, erroneamente, diante de uma agressão injusta, atual ou iminente, 
encontrando-se, portanto, legalmente autorizado a repeli-la. A legítima defesa 
putativa supõe que o agente atue na sincera e íntima convicção da 
necessidade de repelir essa agressão imaginária (legítima defesa 
subjetiva)”12. 
 
Nota-se, nesse ensinamento que as circunstâncias são relevantes para que o 
agente possa justificar o seu ato como sendo legítima defesa putativa. Vale ressaltar 
que quando há danos materiais, cabe indenização no âmbito da legislação civil, 
conforme assevera a jurisprudência: “A legítima defesa putativa supõe negligência na 
apreciação dos fatos, e por isso não exclui a responsabilidade civil pelos danos que 
dela decorram”13. 
 
 
_______________ 
12.BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17ª ed. Saraiva: 2012. 
13.RESP 513.891/RJ, Rel. Min. ARI PARGENDLER, j. 20.3.2007. 
15 
 
1.3. EXCESSO NA LEGÍTIMA DEFESA 
O parágrafo único do artigo 23 do Código Penal responsabiliza o agente que, 
no momento de sua defesa, voluntariamente age com excesso. 
Para a doutrina, quando o agente reage a uma agressão injusta, ele age de 
acordo com três situações diferentes: 
a) usa moderadamente o meio adequado e dentro do necessário para repelir a 
agressão; 
b) emprega conscientemente um meio desnecessário ou usa imoderadamente 
o meio necessário; e 
c) após a reação justa (meio e moderação) por imprevidência ou 
conscientemente continua desnecessariamente na ação. 
No item “a” haverá necessariamente o reconhecimento da legítima defesa. 
No item “b” (meio desnecessário ou sem moderação) a legítima defesa fica 
afastada por ter excluído um de seus requisitos essenciais. Note-se que a exclusão 
pode ocorrer quer por imoderação quanto ao uso do meio, quer pelo emprego de um 
meio desnecessário. 
Finalmente, no item “c” (início justo, continuidade desnecessária) agirá com 
excesso, isto é, o agente intensifica demasiada e desnecessariamente a reação 
inicialmente justificada. 
O excesso poderá ser doloso, quando conscientemente o agente vai além do 
necessário à reação, ou culposo, quando, por imprevisão em relação à gravidade do 
ataque ou modo de repulsa, ultrapassa o necessário. 
O agente responderá pela conduta constitutiva do excesso, ou seja, o excesso 
da legítima defesa não absorve toda ação. O agente só será punido pelo ato que 
gerou o excesso. 
Segue esse entendimento a jurisprudência: 
"Dentre as hipóteses de excesso doloso, tem-se sua configuração quando a 
vítima, embora agindo inicialmente sob a proteção da legítima defesa, passa 
a repelir as agressões em situação que não mais justifica o revide. Na 
hipótese, dá-se o chamado excesso extensivo, arredando, a partir de sua 
concretização, a justificativa da legítima defesa (...)" 14. 
 
 
 
 
 
_______________ 
14.TJCE – ACr 1998.08167-4 – 1ª C.Crim. – Des. Fernando Luiz Ximenes Rocha – DJCE 03.05.2000. 
16 
 
1.4. JURISPRUDÊNCIAS RELACIONADAS COM A LEGÍTIMA DEFESA 
Exemplo de jurisprudência acolhendo a tese da legítima defesa: 
EMENTA: SENTENÇA CONDENATÓRIA. CRIME CAPITULADO NO ART. 157, § 5º, DO CPM. APELO 
DA DEFESA. RECONHECIMENTO DA EXCLUDENTE DE ANTIJURIDICIDADE. LEGÍTIMA DEFESA 
DE TERCEIRO. PROVIMENTO DO RECURSO. Age em legítima de defesa o militar que, acreditando 
que o seu irmão está sendo agredido injustamente, dirige-se rumo ao suposto agressor com o intuito 
de prestar socorro ao ente familiar. Provimento do apelo defensivo. Decisão unânime. 
(STM - AP: 288120117030203 RS 0000028-81.2011.7.03.0203, Relator: José Coêlho Ferreira, Data de 
Julgamento: 12/09/2012, Data de Publicação: 03/10/2012 Vol: Veículo: DJE). 
(fonte:<http://stm.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23053892/apelacao-ap-288120117030203-rs-
0000028-8120117030203-stm.> Acesso em 19 mai. 2015.) 
 
Entendemos que nesse julgado, a defesa demonstrou que o autor agiu em 
legítima defesa putativa de terceiro. Ele, o autor, teria avistado o seu irmão gritando 
por socorro ao ser abordado por um sargento, em conjunto com outros milicianos, e 
acreditando piamente que o seu irmão estava sendo agredido injustamente, impeliu a 
agir contra os milicianos em favor da integridade do seu irmão, incorrendo em erro de 
proibição. Nos autos consta que, por unanimidade, o Tribunal conheceu e deu 
provimento ao Apelo defensivo, reformando a sentença contra o autor, que havia sido 
condenado por infração ao artigo 157, § 5º do Código Penal Militar, pois excluiu-se o 
dolo, uma vez provado que ele agiu em legítima defesa putativa. 
 
Exemplo de jurisprudência afastando a tese em razão do excesso: 
 
EMENTA: LESÃO CORPORAL GRAVE. APELAÇÃO CRIMINAL. LEGÍTIMA DEFESA NÃO 
CARACTERIZADA, EM RAZÃO DO EXCESSO. PENAS CORRETAMENTE DOSADAS. Trata-se 
de APELAÇÃO CRIMINAL interposta por CELSO LUIZ DIONISIO contra a sentença proferida nos autos 
nº 482.01.2009.020117-0, do Juízo da 3ª Vara Criminal de Presidente Prudente, que o condenou à 
pena de 1 ano e 2 meses de reclusão, em regime semiaberto, como incurso no art. 129, § 1º, I, 
do Código Penal, concedido o apelo em liberdade (fls. 99/105). Inconformado, pleiteia absolvição, 
diante da fragilidade das provas ou por legítima defesa (fls. 114/119). Contrariado o recurso, a 
Procuradoria-Geral de Justiça opina pelo seu improvimento (fls. 125/129 e 136/137). 
(TJ-SP, Relator: Eduardo Abdalla, Data de Julgamento: 25/10/2013, 2ª Câmara Criminal Extraordinária) 
(fonte:<http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/118247729/apela-o-apl-201171220098260482-sp-
0020117-1220098260482/inteiro-teor-118247739> Acesso em 19 mai. 2015.) 
 
Nesse exemplo entendemos que a cortenão acolheu a tese da defesa, por 
entender que um golpe teria sido o suficiente para cessar a agressão. Nos autos há a 
informação de que a vítima parou com o carro ao lado do autor, e fez a menção de 
pegar algo sob o banco. Assim, o autor, acreditando estar na iminência de sofrer 
agressão, “deu” uma paulada na cabeça da vítima, que ficou desorientada. Mesmo 
assim, o autor continuou a dar pauladas, causando ferimentos por todo o corpo dela. 
Ficou patente o excesso ao praticar o seu ato defensivo. Assim, o Tribunal, com base 
nas provas carreadas, negou o provimento a esse recurso. 
 
 
17 
 
2. ESTADO DE NECESSIDADE 
Estado de necessidade é a situação de perigo atual, não provocado 
voluntariamente pelo agente, em que este lesa bem de outrem, para não sacrificar 
direito seu ou alheio, cujo sacrifício não podia ser razoavelmente exigido. 
“Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para 
salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro 
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não 
era razoável exigir-se. 
§ 1º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de 
enfrentar o perigo. 
§ 2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena 
poderá ser reduzida de um a dois terços”. 
(Código Penal Brasileiro – Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) 
O Estado de necessidade pressupõe um conflito entre dois ou mais bens 
jurídicos lícitos, de forma que para cessar o conflito há o sacrifício de um desses bens 
conflitados para que o outro possa continuar existindo. Nesse sentido destacamos 
Rogério Greco: 
“(...) no estado de necessidade a regra é de ambos os bens em conflito 
estejam amparados pelo ordenamento jurídico. Esse conflito de bens é que 
levará, em virtude da situação em que se encontravam, à prevalência de um 
sobre o outro”15. 
 
No crime famélico, por exemplo, o agente, morrendo de fome, vai ao mercado 
e subtrai um alimento. Aqui estamos falando de dois bens: de um lado o patrimônio 
do mercado, de outro a vida do faminto. Nesse conflito, certamente prevalecerá a vida, 
que é um bem indisponível. É como se tivesse uma balança de dois pratos. Num dos 
pratos está a vida do faminto, no outro está o patrimônio do mercado. Um dos bens 
terá que ser sacrificado, porque só assim o outro continua existindo. Assim, não há 
bem maior do que a vida, de forma que ela prevalecerá sobre o bem patrimonial. 
Capez destaca com propriedade esse raciocínio: 
“No estado de necessidade existem dois ou mais bens jurídicos postos em 
perigo, de modo que a preservação de um depende da destruição dos 
demais. Como o agente não criou a situação de ameaça, pode escolher, 
dentro de um critério de razoabilidade ditado pelo senso comum, qual deve 
ser salvo. Exemplo: um pedestre joga-se na frente de um motorista, que, para 
preservar a vida humana, opta por desviar seu veículo e colidir com outro que 
se encontrava estacionado nas proximidades. Entre sacrificar uma vida e um 
bem material, o agente fez a opção claramente mais razoável. Não pratica 
crime de dano, pois o fato, apesar de típico, não é ilícito”16. 
 
 
 
_______________ 
15.GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2011. 
16.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
18 
 
Desta feita conclui-se, na voz de Damásio que: 
 “[...] estado de necessidade tem como fundamento um estado de perigo para 
certo interesse jurídico, que somente pode ser resguardado mediante a lesão 
de outro. Há uma colisão de bens juridicamente tutelados causada por forças 
diversas, como um fato humano, fato animal, acidente ou forças naturais. Em 
tais casos, para proteger interesse próprio ou alheio, o Direito permite a lesão 
de outro bem, desde que seu sacrifício seja imprescindível para a 
sobrevivência daquele. Se há dois bens em perigo de lesão, o Estado permite 
que seja sacrificado um deles, pois, diante do caso concreto, a tutela penal 
não pode salvaguardar a ambos”17. 
 
2.1. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO DE NECESSIDADE 
Segundo o entendimento de Damásio de Jesus, esses elementos dividem-se 
em objetivos e subjetivos. 
Os requisitos objetivos são relacionados à situação, assim descritos: 
a) existência de perigo atual. 
Perigo atual é o presente, que está acontecendo; iminente é o prestes a 
desencadear-se. 
“Entendemos, porém, que não se pode obrigar o agente a aguardar que o 
‘perigo iminente’ se transforme em ‘perigo atual’. Se o perigo está prestes a 
ocorrer, não parece justo que a lei exija que ele espere que se torne real para 
praticar o fato necessitado”18. 
 
b) ameaça a direito próprio ou alheio. 
Nos mesmos termos da legítima defesa, adequando as peculiaridades. 
c) perigo não provocado voluntariamente pelo agente. 
“Em que pese a conduta voluntária poder apresentar-se tanto sob a forma 
dolosa quanto culposa (...), entendemos que o legislador quis referir-se 
apenas ao agente que cria dolosamente a situação de perigo, excluindo, 
portanto, o perigo culposo. Com efeito, quando a lei emprega a expressão 
‘perigo atual, que não provocou por sua vontade’, está nitidamente querendo 
aludir à vontade de produzir o perigo, que nada mais é do que dolo. Assim, 
quem esquece um cigarro aceso na mata e dá causa a um incêndio pode 
invocar o estado de necessidade, já que não provocou o perigo por sua 
vontade, mas por sua negligência”19. 
 
d) Inexistência legal de enfrentar o perigo 
“Sempre que a lei impuser ao agente o dever de enfrentar o perigo, deve ele 
tentar salvar o bem ameaçado sem destruir qualquer outro, mesmo que para 
isso tenha de correr os riscos inerentes à sua função. Poderá, no entanto, 
recusar-se a uma situação perigosa quando impossível o salvamento ou o 
risco for inútil. Exemplo: de nada adianta o bombeiro atirar-se nas correntezas 
de uma enchente para tentar salvar uma pessoa quando é evidente que, ao 
fazê-lo, morrerá sem atingir seu intento. (...)”20. 
 
_______________ 
17, 18, 19 e 20. JESUS, Damásio. Direito Penal. Parte Geral. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
19 
 
Quanto aos requisitos subjetivos, eles são relacionados ao fato necessitado. 
Sendo: 
a) Inevitabilidade do comportamento: 
“O chamado commodus discessus, que é a saída mais cômoda, no caso, a 
destruição, deve ser evitado sempre que possível salvar o bem de outra 
forma. Assim, antes da destruição, é preciso verificar se o perigo pode ser 
afastado por qualquer outro meio menos lesivo. Se a fuga for possível, será 
preferível ao sacrifício do bem, pois aqui, ao contrário da legítima defesa, o 
agente não está sofrendo uma agressão injusta, mas tentando afastar uma 
ameaça ao bem jurídico. Do mesmo modo, a prática de um ilícito extrapenal, 
quando possível, deve ter preferência sobre a realização do fato típico, assim 
como o delito menos grave em relação a um de maior lesividade. Exemplo: o 
homicídio não é amparado pelo estado de necessidade quando possível a 
lesão corporal. Configura-se, nesse caso, o excesso doloso, culposo ou 
escusável, dependendo das circunstâncias”21. 
Somente se admite o sacrifício do bem quando não existir qualquer outro meio 
de se efetuar o salvamento. 
b) Proporcionalidade do ato sacrificial: 
A lei não faz valoração de bens, somente trata da razoabilidade do sacrifício. 
Assim, depreendemos que basta que o agente aja de acordo com o senso comum 
daquilo que é certo, correto, razoável. Exemplo: para uma pessoa de mediano senso, 
a vida humana vale mais do que um veículo, um imóvel ou a vida de um animal 
irracional. 
Capez22, representando majoritariamente a doutrina, traz as seguintes 
espécies de estado de necessidade: 
a) Quantoà titularidade: 
1. Estado de necessidade próprio. Quando se protege bem jurídico próprio. 
Exemplo: Os náufragos Guilherme e Santiago agarram-se a um salva-vidas, 
insuficiente para os dois. Assim, Guilherme joga Santiago na água, e este morre 
afogado. 
2. Estado de necessidade de terceiro. Quando o agente protege o bem jurídico 
alheio. 
Exemplos: a) Durante uma cerimônia religiosa, anuncia-se no povoado um 
incêndio. Então, Marcelo interrompe a cerimônia para avisar os vizinhos. b) A casa de 
Otávio incendiou-se. Ronaldo, para evitar a propagação do incêndio na casa do 
vizinho Leandro, derruba uma parte da casa em chamas. 
 
_______________ 
21.JESUS, Damásio. Direito Penal. Parte Geral. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
22.CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
20 
 
b) Quanto ao elemento subjetivo do agente: 
1. Estado de necessidade real: a situação de perigo existe. 
2. Estado de necessidade putativo: o agente imagina a situação de perigo 
(perigo imaginário). Não a ilicitude. Sendo inevitável o erro, isenta o agente de pena; 
se evitável, responde por crime culposo. 
 
c) Quanto ao terceiro que sofre a ofensa: 
1. Estado de necessidade defensivo: o agente, ao agir em estado de 
necessidade, sacrifica o bem jurídico do próprio causador do perigo. 
2. Estado de necessidade agressivo: o agente, ao agir em estado de 
necessidade, se vê obrigado a sacrificar o bem jurídico de terceiro alheio à criação da 
situação de perigo. Apesar do ilícito penal, configura ilícito civil, passível de 
indenização e posterior ação regressiva (em estado inverso aos acontecimentos). 
Vale dizer que na jurisprudência tem-se excluído o estado de necessidade em 
caso de culpa, como na hipótese de lesões corporais culposas em que o acusado 
invadiu a contramão de direção ao procurar impedir que seu filho menor caísse do 
banco do veículo que dirigia, uma vez que a criança estava sendo transportada sem 
as devidas cautelas, o que lhe provocou o perigo da queda (RT 546/357), e do 
motorista que alegou ter sido forçado a subir com o veículo na calçada, atropelando 
um pedestre, quando provocou o perigo ao deixar de observar o fluxo do tráfego da 
preferencial quando nela ingressou (RT 572/380). 
 
2.2. ESTADO DE NECESSIDADE FAMÉLICO 
O furto famélico ocorre quando alguém subtrai coisa alheia para saciar uma 
necessidade urgente e relevante. 
“O furto famélico não é crime porque a pessoa age em estado de 
necessidade: para proteger um bem jurídico mais valioso – sua vida ou a vida 
de alguém – a pessoa agride um bem jurídico menos valioso – a propriedade 
de uma outra pessoa. Para que o crime seja configurado, é essencial que se 
preencham alguns requisitos: Primeiro, tem de ser furto. Não pode ser roubo, 
extorsão etc. Apenas quando não há violência ou ameaça há o furto famélico 
(como o nome diz, é furto, e não roubo famélico). Se houver violência ou 
grave ameaça, o direito protegido – vida – passa a estar muito próximo do 
direito agredido (a vida ou incolumidade física da vítima). A razoabilidade 
deve ser considerada quanto a quantidade furtada. Assim, se alguém tem dez 
filhos, óbvio que vai precisar de mais comida para alimentá-los do que alguém 
que tem um filho. O furto famélico é apenas para suprir as necessidades 
básicas de sobrevivência imediata. Não dá para furtar cem quilos de arroz e 
dizer que é famélico, pois ninguém consome cem quilos de arroz em poucos 
dias. Por fim, o juiz precisa estar convencido de que a pessoa precisa do bem 
21 
 
para sobreviver. Esse é um requisito básico de qualquer estado de 
necessidade. Não dá para alguém que pode obter o bem de outra forma 
alegar que não tinha opção. O estado de necessidade só fica configurado 
quando não há outra opção razoável. Além disso, o bem precisa ser essencial 
para a sobrevivência. É descabido, portanto, furtar uma televisão ou um 
casaco de grife etc”23. 
 
É o caso da pessoa que furta para comer, pois, se não furtasse, morreria de 
fome. Mas o furto famélico não existe apenas para saciar a fome: alguém que furta 
um remédio essencial para sua saúde, um cobertor em uma noite de frio, ou roupas 
mínimas para se vestir, também pode estar cometendo furto famélico. 
 
2.3. JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA COM O ESTADO DE NECESSIDADE 
EMENTA: PENAL. ART. 261, DO CÓDIGO PENAL. CRIME DE ATENTADO CONTRA 
A SEGURANÇA DE TRANSPORTE FLUVIAL. MATERIALIDADE E AUTORIA. 
ESTADO DE NECESSIDADE CONFIGURADO. ART. 23 DO CÓDIGO PENAL. 
APLICABILIDADE. EXCLUSÃO DO CRIME. ABSOLVIÇÃO. APELAÇÃO PROVIDA. 
1. O apelante, na condição de comandante da embarcação fluvial Almirante 
Guimarães, foi condenado por ter exposto a perigo a referida embarcação, em razão 
de estar transportando passageiros acima do limite permitido em lei. 2. Presentes os 
elementos subjetivos e objetivos do artigo 242 do Código Penal, caracterizando a 
excludente de ilicitude do estado de necessidade (artigo 23 do CPB), bem como do 
estrito cumprimento de dever legal, invocado no artigo 15, d, da Lei 2.180/1954, 
considerando que, o que deu causa à superlotação, foi o fato de a embarcação 
Almirante Guimarães ter prestado socorro à embarcação Santo André, a qual se 
encontrava à deriva com perigo de naufrágio. 3. Absolvição do réu, em face da 
ocorrência de excludente de antijuridicidade (art. 23, CP). 4. Apelação provida. 
(TRF-1 - ACR: 57570820034013200 AM 0005757-08.2003.4.01.3200, Relator: DESEMBARGADORA 
FEDERAL MONICA SIFUENTES, Data de Julgamento: 10/12/2013, TERCEIRA TURMA, Data de 
Publicação: e-DJF1 p.257 de 10/01/2014). 
(fonte:<http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24812132/apelacao-criminal-acr-
57570820034013200-am-0005757-0820034013200-trf1> Acesso em 19 mai. 2015.) 
 
Nesse julgado, ficou demonstrado que o autor agiu em estado de necessidade, 
pois ao avistar uma embarcação à deriva, não tinha outro meio de salvar aqueles 
passageiros, sob pena de responder por omissão de socorro. 
 
 
 
 
 
 
_______________ 
23. Excerto do texto publicado em 10 ago. 2010 denominado Furto Famélico. Disponível em 
<http://direito.folha.uol.com.br/blog/furto-famlico>. Acesso em: 03 mai. 2015. 
22 
 
3. QUESTÕES SOBRE LEGÍTIMA DEFESA E ESTADO DE NECESSIDADE 
1. (XVI Exame da Ordem Unificado – 1ª Fase – 2015). Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por 
uma rua com pouco movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com 
a vinda de um cão pitbull na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, 
que estava armado e tinha autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do cão, 
que não foi atingido, ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do animal, 
Leandro, que chegava correndo em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A 
vítima atingida veio a falecer, ficando constatado que Carlos não teria outro modo de agir para evitar o 
ataque do cão contra o seu filho, não sendo sua conduta tachada de descuidada. 
a) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de Leandro. 
b) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte de 
Leandro. 
c) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro. 
d) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela morte de 
Leandro. 
 
Comentários: 
A alternativa correta é a “c”, em virtude de que na atitude de Carlos, encontramos todos os requisitos 
previstos no art. 24 do CP. Fica afastada a hipótese de ele responder pelo excesso punível porque o 
ricochete do projétil em uma pedra e matando Leandro, deriva de circunstância alheia a sua vontade, 
ou seja, não houve culpa nem dolo por parte de Carlosna morte de Leandro. 
(Questão disponível em 
<http://www.jurisway.org.br/v2/Provas_Resolver.asp?id_prova=574&id_materia=0&id_questao_atual=
61>) 
 
2. (FGV – 2014 – XIII Exame de Ordem Unificado – OAB) 
Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica no muro. Certo dia, Cláudio, com 
o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro, acreditando que conseguiria escapar 
da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa. Cláudio, entretanto, não obtém 
sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de proteção. Ocorre que, por 
sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase instantaneamente. Após a análise 
pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era suficiente para matar uma pessoa em 
condições normais de saúde, mas suficiente para provocar o óbito de Cláudio, em virtude de sua 
cardiopatia. 
Nessa hipótese é correto afirmar que: 
a) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente. 
Alternativa errada. Não se pode no caso invocar qualquer modalidade de culpa, ainda mais aquela 
chamada de consciente que serve para explicar situação onde o indivíduo até faz previsão de um 
resultado, mas acredita que conseguirá evitá-lo. No problema, verificou-se que o agente não agiu com 
inobservância de um dever objetivo de cuidado, e tampouco fez previsão de algo objetivamente 
previsível. 
b) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual. 
Alternativa incorreta. O raciocínio feito anteriormente serve perfeitamente aqui, com o cuidado apenas 
de separar dolo e culpa. Se o agente não fez previsão do resultado que possibilitasse a invocação da 
culpa consciente, o mesmo se aplica na verificação e invocação do dolo eventual. 
c) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido. 
Alternativa incorreta. Não há que se falar em resultado diverso do pretendido, posto que em momento 
algum o problema disse que ele deseja resultado morte ou mesmo que desprezava esse resultado 
casso viesse a ocorrer. Na verdade, até se poderia presumir que o resultado desejado por ele fosse a 
proteção de sua propriedade. 
d) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada. 
Alternativa correta. O problema traz assunto ligado as causas de exclusão da ilicitude, versando sobre 
proteção patrimonial, qual seja, a legítima defesa preordenada feita por meio de ofendículos. 
No caso, é perfeitamente possível a verificação dessa modalidade de legítima defesa posto que o 
problema deixou claro que os cuidados necessários foram observados, tais como a visibilidade 
ostensiva dos aparatos defensivos, bem como a não letalidade dos meios. 
A morte de Cláudio não poderá ser imputada a Jaime, tendo em vista estar este amparado por uma 
causa que exclui a aparente ilegalidade do ato. 
(Questão disponível em: <http://fabriciocorrea.jusbrasil.com.br/artigos/121941818/prova-da-oab-xiii-exame-unificado-da-fgv>) 
23 
 
 
3. (FCC – 2010 – TJ/PI – Assessor Jurídico). A respeito do instituto da legítima defesa, considere: 
I. Não age em legítima defesa aquele que aceita o desafio para um duelo e mata o desafiante que atirou 
primeiro e errou o alvo. 
II. Admite-se a legítima defesa contra agressão pretérita, quando se tratar de ofensa a direito alheio. 
III. A injustiça da agressão deve ser considerada quanto à punibilidade do agressor, não podendo, por 
isso, ser invocada quando houver repulsa a agressão de doente mental. 
Está correto o que se afirma APENAS em: 
a) I. 
b) III. 
c) I e II. 
d) I e III. 
e) II e III. 
 
Comentário: 
Alternativa correta: “A”. 
Para agir em legítima defesa, a agressão a ser repelida tem de ser injusta. A partir do momento em que 
há a concordância em duelar, afasta-se o elemento citado. A agressão tem de ser atual ou iminente, 
ou seja, deve estar ocorrendo ou prestes a acontecer. A violência nunca poderá ser anterior. A injustiça 
deve ser em relação ao agredido, que, sofrendo injustamente, repele seu agressor. Independente das 
condições físicas ou psíquicas de quem agride, portanto pode ser contra um inimputável. 
(Questão disponível em: <http://questoesdepenalcomentadas.blogspot.com.br/2011/11/excludentes-de-ilicitude-
serie-tjpe.html>) 
 
4. (Promotor 2005 – MP/AP). Tício Micio, policial militar, atendendo ocorrência solicitada ao COPOM 
190 foi informado sobre um crime de roubo que estava sucedendo próximo ao Fórum de Macapá. Ao 
passar pela Avenida Fab, onde atenderia a ocorrência, depara com Felício Louco, foragido do COPEN 
(IAPEN) e considerado de alta periculosidade (condenado por 17 homicídios), na posse de um objeto 
metálico parecido com uma arma branca (mais tarde constatou-se que o objeto era um isqueiro) e 
simulava através de gestos bruscos que estava ameaçando gravemente seu filho Técio Micio, 
obrigando-o a entregar sua carteira porta cédulas. Entretanto, Técio era amigo de Felício Louco, sem 
o conhecimento de Tício. Neste momento Tício sacou seu revólver e desferiu um tiro em Felício Louco, 
matando-o. Pergunta: 
a) A conduta de Tício não foi legítima, mesmo tratando-se de vítima perigosa, deve responder por crime 
na sua forma tentada. 
b) A brincadeira era com Técio, portanto, deve Tício ser processado por crime doloso consumado e 
qualificado, pela não observância dos princípios gerais do direito. 
c) Agiu Tício em estado de necessidade putativa, pois era seu dever salvar o filho e, além disso, era 
Felício Louco foragido, podia usar dos recursos necessários para detê-lo. 
d) É caso específico de legítima defesa putativa de terceiro. 
(Disponível em <http://professorgecivaldo.blogspot.com.br/2009/02/questoes-comentadas-
homicidio.html>) 
 
Comentários: 
A alternativa correta corresponde à letra “d”. Tício, ao se deparar com a situação ilustrada, 
imaginou que seu filho estivesse sendo vítima de agressão injusta, e revidou, vindo a tirar a vida de 
Felício Louco. Trata-se de legítima defesa putativa de terceiro, considerando que a injusta agressão 
não era real, mas somente imaginária. A hipótese se encaixa perfeitamente no que prevê o art. 20, 
parágrafo 1º, em sua parte inicial: “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas 
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. (...)”; interpretado em 
consonância com o art. 23, II, e 25 do CP. 
 
 
5. (CESPE / Defensor Público - DPE - AL / 2009). Quanto ao estado de necessidade, o CP brasileiro 
adotou a teoria da diferenciação, que só admite a incidência da referida excludente de ilicitude quando 
o bem sacrificado for de menor valor que o protegido. 
Comentário: Errado. O Código Penal brasileiro adotou a teoria unitária, na qual o estado de 
necessidade é causa de exclusão de antijuricidade, desde que o bem jurídico sacrificado seja de valor 
igual ou inferior ao bem preservado. Dessa forma, se, para salvar vida humana, houver destruição de 
patrimônio alheio ou a morte de outra pessoa, haverá a excludente de ilicitude. Basta, somente, a 
razoabilidade da conduta do agente. Na teoria diferenciadora, no entanto, faz-se sim a distinção entre 
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estado de necessidade justificante (excludente de ilicitude) e o exculpante (causa supralegal de 
exclusão de culpabilidade), através de ponderação dos bens. 
 
6. (CESPE / Defensor Público - DPE - PI / 2009). Segundo o CP, o agente que repele injusta agressão 
de um menor ou de um louco não age em legítima defesa, pois essa excludente de antijuridicidade só 
está presente se a agressão for, além de injusta, ilícita. 
Comentário: Errado. O agente que repele injusta agressão de um inimputável age, sim, em legítima 
defesa. Deve-se levar em consideração a injustiça da agressão de maneira objetiva, pelo fato em si, e 
não quanto à impunibilidade do autor da agressão. Ademais, não se exige que a agressão além de 
injustaseja uma figura típica. Basta que o agredido não esteja obrigado a suportá-la. Por exemplo, o 
furto de uso, embora não constitua ilícito penal, autoriza a legítima defesa por parte do proprietário do 
bem atingido, já que configura uma injusta agressão. 
 
7. (CESPE / Defensor Público - DPE - PI / 2009). No CP, o estado de necessidade é excludente da 
antijuridicidade fundada no balanceamento de bens, na comparação entre os bens em jogo, não 
podendo o bem sacrificado ser mais valioso que o salvo. 
Comentário: Errado. A primeira parte da questão está errada, pois diz respeito à teoria diferenciadora, 
não adotada pelo Código Penal brasileiro, na qual existe a verificação da prevalência de um bem sobre 
o outro, ou seja, utiliza-se o princípio da ponderação dos bens. A segunda parte está correta já que um 
dos requisitos do estado de necessidade é a razoabilidade do sacrifício do bem. Assim, há estado de 
necessidade no sacrifício de um bem menor para salvar um bem de maior valor, bem como no sacrifício 
de um bem de valor idêntico ao preservado, como no caso de um homicídio praticado num naufrágio, 
numa disputa pelo colete salva-vidas. Não se pode, todavia, abdicar-se da vida humana por um 
patrimônio. Essa aferição, valoração dos bens, é feita no caso concreto pelo magistrado. 
 
As questões 5,6 e 7 estão disponíveis em <http://pt.slideshare.net/ZikeUjo/08-1001-questoes-
comentadas-direito-penal-cespe>. 
 
8. (EJEF / TJ/MG – Juiz Estadual/2008). 
Em relação à legítima defesa, assinale a alternativa INCORRETA. 
a) Pela legítima o agente pode repelir agressão injusta a direito seu ou de outrem que pode ser qualquer 
pessoa física, mesmo que um criminoso. 
b) Através da legítima defesa pode-se proteger qualquer bem jurídico. 
c) Na legítima defesa o agente pode escolher qualquer meio à sua disposição para repelir o injusto. 
d) Na legítima defesa o agente não pode empregar o meio além do que é preciso para evitar a lesão 
do bem jurídico próprio ou de terceiro. 
(Disponível em 
<http://www.jurisway.org.br/v2/Provas_Resolver.asp?id_prova=415&id_questao_atual=35>) 
 
 
Comentários: 
A alternativa correta corresponde à letra “c”. O agente não pode escolher qualquer meio à disposição 
para repelir injusta agressão. Ele deve utilizar-se apenas dos meios necessários e de forma moderada, 
conforme preceitua o artigo 25 do CP, de acordo com o caso concreto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONCLUSÃO 
O estudo dos institutos da legitima defesa e do estado de necessidade é 
bastante interessante, pois seus conceitos jurídicos ainda causam certa confusão aos 
acadêmicos do Direito e, de certa forma, ao público em geral. 
Tudo o que foi exposto nesse trabalho nos levou a chegar ao mesmo 
entendimento prático. Entendemos que o objetivo desses institutos é o mesmo: o de 
afastar uma agressão injusta, atual ou iminente, considerando as devidas 
peculiaridades para cada situação. 
São as circunstâncias, o momento, a vontade do agente que ditarão quais dos 
institutos devem ser aplicados ao caso concreto. 
As diferenças conceituais são sutis, conforme apresentamos, mas que se não 
forem entendidos de forma plena, assim como os outros institutos não mencionados, 
levarão os futuros operadores do direito a definharem antes mesmo de alçarem voo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. 
MIRABETE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. 17ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2011. 
BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal, parte geral: v.1 – 4ª ed. São 
Paulo: Saraiva. 2004. 
 
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011. 
 
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal: Introdução e Parte Geral. 38ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2004. 
 
GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 5ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011. 
 
JESUS, Damásio. Direito Penal. Parte Geral. 32ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 
 
SOUZA, Gilson Sidney Amâncio de. O tratamento das ofendículas na doutrina 
brasileira. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 51, 1 out. 2001. Disponível 
em: <http://jus.com.br/artigos/2260>. Acesso em: 29 abr. 2015. 
 
BERNARDES, Marcelo Di Rezende. A realidade vigente dos chamados crimes 
passionais. Revista Âmbito Jurídico. Disponível em <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2291>. 
Acesso em: 02 mai. 2015. 
 
Furto Famélico. Disponível em <http://direito.folha.uol.com.br/blog/furto-famlico>. 
Acesso em: 03 mai. 2015. 
 
ALMEIDA, Daniel Leão de. Qual a diferença entre legítima defesa e estado de 
necessidade? Disponível em <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2018930/qual-a-
diferenca-entre-legitima-defesa-e-estado-de-necessidade-daniel-leao-de-almeida>. 
Acesso em: 03 mai. 2015.

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