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Estudo acerca do Crime Concussão e Excesso de Exação. ART. 316, §§ 1º E 2º

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ESTUDO ACERCA DO ART. 316, §§ 1º E 2º, DO DECRETO-LEI Nº. 2.848 DE 7 DE 
DEZEMBRO DE 1940. CÓDIGO PENAL BRASILEIRO1 
 
Dayna Rafaela Martins da Conceição 
Alejandro Dhllomo Souza Oliveira Falabelo; 
Edilson Miranda Junior; 
Nara Naiane Pinheiro Silva; 
Vanessa Nascimento Kantianis; 
Yasmin Samara Martins Kosminsky 2 
 
SÚMARIO: 1 Histórico do Crime Concussão, 2 Conceito de Concussão, 3 
Diferenças 3.1 Concussão versus Corrupção Passiva, e versus Corrupção 
Ativa, 3.2 Concussão e Extorsão, e I Palavra – chave, II Verbo do Crime, III 
Objeto Jurídico, Hipótese do §§ 1° e 2°, do art. 316, CP. Súmulas e Conclusão 
1. Histórico do Crime Concussão 
As origens mais remotas da concussãotem origem no Direito Romano, que 
nãoaceitavaaos altos funcionários do Estadorecebessem recompensa por 
cumprimento de deveres funcionais.Nesse sentido, em caso de indevido 
recebimento,a interposição de ação de repetição(pecuniasrepetere) contra o 
funcionário3. Estes funcionários enquadravam-se, os magistrados, advogados e 
dentre outros, pois, essas funções tinham natureza de dever cívico e, poressa razão, 
deviam ser prestadas gratuitamente. O desrespeito e este praticava ilícito civil e, 
posteriormente, transformado em ilícito penal. Aexpansão do Império Romano 
aumentou a ganância dos seus funcionários públicos,obrigando o governo a 
transformar em crime o recebimento indevido de vantagenspelos seus funcionários, 
aplicando-lhes a multa equivalente ao dobro daindenização devida a vitima, que era 
a sanção aplicada aos crimes de furto4.Ressalta-se, que na Idade Media a 
concussãofoi confundida com a corrupção, embora algunspraxistas estabelecessem 
as devidas diferenças, que iremos apresentar. 
Quanto aos códigos penais, oCódigo Penal Frances de 1791 criminalizou a 
concussão, embora não lhetenha dado nenhuma definição. O Código de Napoleão, 
em 1810,dispõem acerca daconcussão, atribuindo-lhe melhor definição.Este Código 
influenciou nosso Código Criminal, em 1830, cujo disciplinou modalidadesde 
concussão, a exemploda cobrança abusiva de tributos. Já o Código Penal de1890, 
 
1
 Artigo apresentado à Disciplina Direito Penal IV, sob orientação do Professor Romulo Nunes. Texto 
Colaborativo dos Autores. 
2
 Alunos da UNAMA- Universidade da Amazônia. Campus ICJ- Instituto de Ciências Jurídicas. 
3
 BITTENCOURT. Cezar Roberto. Tradado de Direito Penal 5. Parte Especial. 
4
MANZINI, Vincenzo.Tratado de Derecho Penal, Buenos Aires, Ediar, 1961, v. 3, t. 8, p. 207. 
2 
 
por sua vez, tipificou o crime de concussão no art. 219, atribuindo uma definição 
especifica.Revolução da época, em 1940, disciplinou a concussãoem seu art. 316, 
complementando o “excesso de exação”, que tem como beneficio o próprio Poder 
Publico. 
2. Conceito de Concussão 
O crime de concussão vem disposto no art. 316, do Código Penal In Verbis: 
“exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou 
antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Pena – reclusão, de 
dois a oito anos, e multa”5.De acordo com a doutrina, o termo concussão vem do 
latim concutare, tradução é “sacudir uma árvore para fazer seus frutos caírem”. Para 
Fernando Capez o crime de concussão guarda íntimas características com a 
extorsão, uma vez que tanto nessa como naquela conduta há o constrangimento 
ilegal à vítima, fazendo com a mesma se sinta amedrontada, não pela violência, 
como na extorsão, mas pelo receio de sofrer represálias relacionadas ao exercício 
da função do agente, uma vez que o sujeito ativo da concussão é um funcionário 
público 6. 
3. Diferenças 
Ao estudarmos as diferenças podemos apontar melhor o conceito do crime 
concussão. A diferença em todos os outros crimes está no núcleo do tipo 
3.1 Concussão versus Corrupção Passiva, e versus Corrupção Ativa 
Façamos uma suposição, fictícia, que: dois Policiais Militares do Estado do 
Pará acusados de terem recebido propina para liberar o carro de atropeladora, 
cantora “Japa do GDA”,vítima,a filha da atriz, “MeghFaisca” foram denunciados à 
Justiça Militar.O sargento “Leal X-9” e o cabo Mega Bigode vão responder à Justiça 
sob acusação dos crimes de corrupção passiva e outros. Os PMs foram 
denunciados pela promotora “Justiça sem pena”. Em depoimento o empresário 
Robin Wood, pai de “Japa do GDA”, disse que os policiais pediram R$ 10 mil para 
que sua filha não fosse responsabilizada pelo atropelamento da atriz, que andava 
desfilando no túnel fechado- Caso crime, corrupção passiva”. 
 
5
Decreto-lei 2848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/del2848.htm Acesso em 05 de Junho de 2015. 
6
 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade 
sexual e dos crimes contra a administração pública(arts. 213 a 359H) 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 
2012. P. 491 a 492. 
3 
 
No crime de concussão, a diferença está no verbo exigir, verbo imperativo, 
que denota ordem, intimar, impor como obrigação. Já na corrupção passiva, o 
criminoso pede ou recebe o dinheiro (conteúdo patrimonial, ou “troca” de favores) 
para fazer ou deixar de fazer algo que a lei não permite. Eles são acusados de terem 
pedido R$10 mil, não importa se a outra parte pagou ou não: o crime está cometido 
assim que a pessoa pediu o dinheiro/bem/favor. 
Já a corrupção ativa ocorre quando alguém oferece alguma coisa, não 
necessariamente, um bem patrimonial. Para que um agente público faça ou deixe de 
fazer algo que não deveria. Por exemplo, o motorista que, parado por excesso de 
velocidade, oferece uma ‘ajuda para o leitinho das crianças’ ao policial. Reparem 
que, nesse caso, o criminoso é quem oferece a propina, usando termo implícito e 
não o agente público – que provavelmente irá prender o criminoso. Para que o crime 
esteja configurado, não importa que o agente aceite a propina. 
Mas é possível também que ambas as partes cometam o crime. 
 
3.2 Concussão e Extorsão 
Suponhamos, que a “Presidente Alayde do GDA”, é descoberta em um 
esquema de corrupção por um colega, “MeghLoyd”, e esta passa a exigir dinheiro ou 
“troca de favores” para que não ocorra denuncia. 
 No crime de Extorsão é ato de obrigar alguém a fazer ou deixa de fazer, por 
meio de ameaça ou violência, com objetivo de obter vantagem. 
No crime de concussão, a diferença está no verbo exigir, verbo imperativo, 
que denota ordem, intimar, impor como obrigação. 
Observe o quadro comparativo: 
Concussão –Art. 316 CP Corrupção Passiva –Art. 
317 CP 
Corrupção Ativa –Art. 333 
CP 
Exigir vantagem indevida Solicitar vantagem 
indevida 
Oferta ou promessa 
vantagem indevida 
Sujeito ativo: funcionário 
público (crime próprio) 
Sujeito ativo: funcionário 
público (crime próprio) 
Sujeito ativo: qualquer 
pessoa (crime comum) 
O agente deve estar em 
exercício ou em razão, 
qualidade de sua função. 
A função se torna uma 
mercadoria 
- 
4 
 
A obtenção da vantagem 
deve ser posterior a 
exigência. 
A obtenção da vantagem 
pode ser antecedente ou 
consequente. 
- 
Pena 
Reclusão 2 a 8 e multa. 
Pena 
Reclusão 2 a 12 e multa. 
Pena 
Reclusão 2 a 12 e multa. 
 
 
“Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que 
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem 
indevida: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
Excesso de exação 
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou 
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrançameio 
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 
8.137, de 27.12.1990) 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei 
nº 8.137, de 27.12.1990) 
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que 
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.” 
 
 
I – Palavra – chave: Código Penal, Direito Penal, Crime de Concussão e 
Crime Contra a Administração Pública. 
II – Verbo do Crime: Exigir. 
III – Objeto Jurídico: O objeto jurídico é a Administração Pública que 
visa coibir a ação do funcionário público em obter vantagem indevida em detrimento 
da moralidade administrativa, já que esta é representada por ele. Pois que em 
primeiro lugar, o objeto a ser tutelado é a moralidade e a probidade da 
Administração Pública; e logo depois vem o patrimônio e a liberdade individual. 
Os grandes doutrinadores Julio Fabbrini MIRABETE e Renato FABBRINI 
conceituam claramente: 
 
“objetiva a incriminação do fato tutelar a regularidade da administração, no 
que tange à probidade dos seus funcionários, ao legítimo uso da qualidade 
e da função por eles exercida. Em plano secundário, protegido está também 
o interesse patrimonial de particular, ou mesmo de funcionário, de quem é 
exigida a vantagem” 
7
. 
 
 
7
 MIRABETE, Julio Fabbrini. FABBRINI, Renato. Manual de Direito Penal, volume 3: parte especial, 
arts. 235 a 361 do CP. 24 ed. Rev. E atual. Até 5 de janeiro de 2010 – São Paulo: atlas, 2010. 
5 
 
§ 1º do art.316- Excesso de exação 
O crime de concussão prevê o excesso de exação, disposto no § 1º do artigo 
316 do Código Penal Brasileiro e se refere a cobrança rigorosa e exagerada de 
dívidas ou impostos, transmitindo a ideia de abuso de poder com o fim de obter 
vantagem indevida. 
O parágrafo 1º expõe o seguinte: “Se o funcionário exige tributo ou 
contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega 
na cobrança meio vexatória ou gravosa, que a lei não autoriza”. Neste dispositivo é 
possível verificar que a ação tem como verbo “exigir”, dar ordem, impor uma 
obrigação, e tem como sujeito ativo dessa exigência, o funcionário público, estando 
dentro ou fora do exercício da função, mas devendo o crime configurar sempre em 
razão do cargo. Ressalta-se, que o excesso de exação tem como objeto jurídico 
guardar a moralidade e a legalidade da administração pública, incentivando a licitude 
na atividade tributária, além de proteger o patrimônio do particular e sua 
propriedade.Quanto a consumação e tentativa, a primeira se constitui com a 
exigência da cobrança, com o recebimento ou aceitamento da promessa de 
vantagem indevida, já a segunda tentativa é de difícil ocorrência, é necessário que 
haja um iter criminis, como a solicitação feita por carta, onde se tenta impor o 
pagamento do crédito tributário. 
Levando em consideração a pena exposta no art. 317 § 1º, de reclusão, de 
três a oito anos e multa, cabe ressaltar que se o funcionário deixar de praticar 
qualquer ato de ofício ou realizá-lo infringindo lei funcional, tem a pena aumentada 
de um terço. E no que diz respeito a ação penal, consiste em ser pública 
incondicionada, não precisa de representação para se iniciar, punindo assim o 
excesso, concluindo que o abuso de direito é considerado ilícito. 
§2°, Art.316: Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que 
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos. 
Este parágrafo, sendo na modalidade mais gravosa do crime, ou seja, na sua forma 
qualificada, na qual consiste como principal característica a realização do desvio de 
valores recebidos indevidamente em proveito próprio ou alheio, no qual deveriam ser 
recolhido aos cofres públicos, mas que desviados em proveito próprio ou de outrem 
pelo funcionário publico (sujeito ativo). Vale ressaltar, que o desvio deverá ser 
realizado antes da entrada desses valores aos cofres públicos, pois caso sua 
ocorrência si der após a entrada aos cofres públicos estaremos diante de outra 
modalidade de crime que será o de peculato. 
SUMULAS STF 
6 
 
EMENTA 
APELAÇÃO CIVIL. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EXIGÊNCIA COERCITIVA 
DE TRIBUTO POR MEIO INDIRETO. INADMISSIBILIDADE. SÚMULAS 70, 323 E 
547, DO STF. 
É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança 
de tributos. É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para 
pagamento de tributos Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito 
adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfandegas e exerça suas 
atividades profissionais APELAÇÃO CÍVEL IMPROVIDA EM CONSONÂNCIA COM 
O PARECER MINISTERIAL. 
SÚMULA 70 
 É INADMISSÍVEL A INTERDIÇÃO DE ESTABELECIMENTO COMO MEIO 
COERCITIVO PARA COBRANÇA DE TRIBUTO. 
 
SÚMULA 323 
 É INADMISSÍVEL A APREENSÃO DE MERCADORIAS COMO MEIO COERCITIVO 
PARA PAGAMENTO DE TRIBUTOS. 
 
SÚMULA 547 
NÃO É LÍCITO À AUTORIDADE PROIBIR QUE O CONTRIBUINTE EM DÉBITO 
ADQUIRA ESTAMPILHAS, DESPACHE MERCADORIAS NAS ALFÂNDEGAS E 
EXERÇA SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS. 
 
CONCLUSÃO 
É um crime próprio, contra a Administração Pública, tendo características 
próprias de fácil identificação para aquele que faz uso continuo da lei, entretanto 
pode ser facilmente confundido com o crime de corrupção passiva. Porém vários 
magistrados enquadram a conduta, caracterizada pelo verbo de cada hipótese 
criminal, verificando-se assim, a diferença entre elas. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BRASIL, Código Criminal, Lei de 16 de dezembro de 1830, disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM-16-12-1830.htm. 
 
BRASIL, Decreto n. 847, de 11 de outubro de 1890, disponível em 
http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049 
 
 
7 
 
BRASIL, Decreto-lei 2848, de 7 de dezembro de 1940, disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm 
 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, 5: parte especial: dos 
crimes contra a administração pública e dos crimes praticados por prefeitos. 6.ed. 
rev. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2013. 
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 3, parte especial: dos crimes 
contra a dignidade sexual e dos crimes contra a administração pública(arts. 213 a 
359H) 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 
 
MIRABETE, Julio Fabbrini. FABBRINI, Renato. Manual de Direito Penal, volume 3: 
parte especial, arts. 235 a 361 do CP. 24 ed. Rev. E atual. Até 5 de janeiro de 2010 
– São Paulo: atlas, 2010.

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