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( \ ~ ' ' ' 12 SUMARIO ---«----------· ---- -~-~-- Art. 744 l. Direito de reten,ao .......................................................................... 160 2. Cabimento dos embargos de reten9ao por benfeitorias ................... 161 Art. 814 l. Omissao da Lei 9.307/96................................................................. 165 2. Modifica,iio introduzida ................................................................. 165 Direito intertemporal: lei processual novae processo pendente...... 166 III on,P.,.._T ..... >'.-.T""' .->..;, ._,~ ,.__,,.._..._ I. Lei I 0.352, de 26.12.2001 ............................................ ~....................... 171 2. Lei 10.358, de 27.12.2001 .................................................................... 174 3. Lei 10.444, de 07.05.2002 .................................................................... 178 IV BIBLIOGRAFIA ....... ~~~ .... ·~~~~~~~ ~~~ ~~~ ~~·~.................. 183 ~ -D. .• -\/"'·' ~ ju~ IV-Vpu& y-JSU<A.. l.w:-G{ ;z ~\. 0rJ1JJJ..u d-. o o d.- o g ' (\f I NOTAINTRODUTORIA 1. Breve historico da nova refonna Continuando o incansavel trabalho legislativo de ref01ma do C6di- go de Processo Civil, iniciado ha uma ctecada, os integrantes da comis- sao constitufda pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual, em coG- junto com a Escola Nacional da Magistratura, sob a coordena~ao segu- ra dos ilustres Ministros Sa!vio de Figueiredo Teixeira e Athas Gus- mao Carneiro, elaboraram tres anteprojetos, visando mais uma vez a combater, em multiplas frentes, a excessiva !entidao do processo. As propostas em apre~o apresentavam altera~oes no ambito dos recursos, inclusive na esfera do reexame necessario; de inumeros as- pectos da sistematica do processo de conhecimento; e, ainda, em espe- cial, na seara da antecipa~ao da tutela (arts. 273 e 461) e da audiencia preliminar (art. 331). Ah5m do dia!ogo mantido com diversos segmentos da comunidade jurfdica, objeto inclusive de profunda debate durante as III Jornadas de Direito Processual Civil, ocorridas em Salvador, em meados de 1998, os textos entao idealizados foram submetidos a analise da Advocacia- Geral da Uniao, da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e, sobretu- do, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Assim, ap6s ampla consulta, as sugestoes foram submetidas ao Po- der Executive, seguindo, no ano 2000, para a aprecia~ao do Congresso Nacional. 2. Tramitac;ao do processo legislativo Transformados em projetos de lei, receberam na Camara dos Depu- tados, respectivamente, os ns. 3.474/00, 3.475/00 e 3.476/00, sendo ( ( ( ( ( ( ( ( ( c c. ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ; ( ( ( ( '' ····< j 14 ____ .L~ NQ]: A lN'fRODUTORIA:: : '-'~'c . -------- - relator o Deputado Ina! do Lelt~o.do PSDB do Estado daParalba. Su- cederam-se, en tao, imlmeros pedidos de vista. Ademais, tambem nessa oportunidade, alem da contribui9ao prestada pelo ilustre Deputado Jose Roberto Batocchio, manifestou-se a OAB, apresentando esta, por inter- ven~iio direta e providencial do experiente Conselheiro Marcelo Ribei- ro de Oliveira, modifica96es de inegavel relevo. No final do ano de 2001, mereceram aprova9ao do is daqueles tres projetos, ode n. 3.474 (n. 117/01 no Senado), que introduz modifica- 96es no sistema recursal, eo den. 3.475 (n. 118/01 no Senado), que alterou vanas vertentes do processo de conhecimento, 0 primeiro foi promulgado na fntegra pela Lei 10.352, de 26 de dezembro (DJU, 27.12.2001), eo segundo, com a aposi9ao de impor- tantes vetos, pela Lei 10.358, de 27 de dezembro de 2001 (DJU, 28. 12.2001 ), ambos com urn lapso de vacatio legis de 3 meses a con tar da respectiva publica~ao, ja em pleno vigor. 0 Projeto 3.476 (n. 144/01 no Senado) foi aprovado mais recente- mente pela Lei 10.444, de 7 de maio de 2002 (DJU, 08.05.2002), que se encontra agora no perfodo de vacatio e que teni for~a de lei a partir de 7 de agosto vindouro. 3. Metodologia da exposi~ao Aproveitando a oportunidade para dividir com os operadores do direito a nossa impressao inicial sobre tais textos legais, limitamo-nos a teccr algumas anota.:;oes preambu1ares, de ordem eminentemente pra- tica. sobre as modifica96es agora introduzidas no CPC. Sob o prisma metodo16gico, reputou-se mais coerente desprezar a individualidade formal das tres leis, proporcionando uma exposi9ao sistematica, seguindo a ordcm numerica dos at1igos alterados. Esclare<;a-se que, havendo qualquer duvida quanta a dispoSi9iiO le- gal das novidades, os textos das respectivas leis encontram-se reprodu- zidos na Integra. como apendice, ao final destas primeiras linhas. Longe de espelhar comentarios definitivos, aceitamos mais esse desafio na esperan<;a de provocar ulteriores reflexoes sobre a novel reform a. · ,,,,_ ''·'i·=''''''' , '•' ·""'-:''''''~-' '' ,,,.,,,,,. "'"'"" •d·'"·'·"'' J '' ::c:iE-c4-ii:~c'''-:C''-:.Z;;;;:L:,·, ,_ , I ___ _:=.:::- . - _-_:: ~-':'"_.;: ~- II ANOTA<;;OES EM ORDEM SISTEMATICA Art. 14. Sao deveres das partes e de todcs aque!es r:;ue de qualquer forma participam do process a: [ ... ] V- cumprir com exatidao os provimentos mandamentais e nao criar embarac;:os a efetivac;:ao de provimentos judiciais, de natureza antecipat6ria ou final. Paragrafo unico. Ressalvados OS advogados que se sujei- tam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violac;:ao do dis- paste no incise V deste artigo constitui ato atentat6rio ao exer- cfcio da jurisdic;:ilo, podendo o juiz, sem prejufzo das sanc;:6es criminais, civis e processuais cabfveis, aplicar ao responsa- vel multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e nilo superior a vinte por canto do valor da causa; nilo sendo paga no _prazo estabelecido, contado do transite em julgado da decisao final da causa, a multa sera inscrita sempre como dfvida ativa da Uniao ou do Estado. 1. Conduta processual das partes Regendo a atu~ao dos sujeitos parciais do processo, especifica o cap. II do tft II do livro I do CPC os "deveres da partes e dos seus procuradores", elencando-os logo na se<;ao I, em dois dispositivos, com a seguinte primitiva reda9ao: "Art. 14. Compete as partes e aos seus procuradores: I- expor os fatos em juizo conforme a verdade; II - pro- ceder com lealdade e boa-fe; III- nao formular pretensi5es, nem alegar defesa, cientes de que sao destituidas de fundamento; IV- nao produzir provas, nem praticar atos inuteis ou desnecessanos a declara9ao ou defe- sa do direito" e "Art. 15. E defeso as partes e seus advogados empregar ((((((((((((((((((((((((((((((((((( r r r r r -,-/" -,· ·( \ - •c:_ - 16 ll-ANOTA<;:OESEM ORDEMSISTEMATICA -exprc~·,;)Qcs injurio;.;as·nvs escritos apresentados no processo, cabendo aO juiz, de offcio ou a requerimento do of en dido, mandar risca-Jas. Paragra- fo unico. Quando as expressoes injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirii o advogado que nao as use, sob pena de !he ser cassada a palavra".' A lei processual impoe ai uma postura essencialmente etica aos litigantes e aos seus representantes judiciais, de sorte a insta-los, sob a amea~a das sanqoes especificadas nos subseqiientes arts. 16, 17 e 18,2 a cooperar com a celeridade do procedimento e com a atua~ao do 6rgao jurisdicional na aplicaqao do direito. Alcides de Mendon9a Lima, em doutrina9iio afrnada com as atuais tendencias do processo civil, ressaltava, a prop6sito, que "quanta mais se refor~am os poderes do juiz, mais de vern ser cerceadas as atitudes de improbidade, de quem quer que seja, evitando que a atua9iio do magis- trado pudesse tomar-se in6cua, se, como representante do Estado, pu- desse ser iludido, mal orientado ou burlado em sua missiiode fazer jus- ti9a e de preservar a legalidade. A autoridade judiciaria, portanto, encon- traria obices incompatfveis, como e 6bvio, com a moderna posi~iio a que foi erigida, em nome da propria ordem social, politica e jurfdica" .' 2. Amplia~ao subjetiva e objetiva dos deveres processuais Com a nova e aperfei9oada reda9ao do caput do art. I 4, observa-se claramente que, alem das partes, o legislador estendeu tais deveres a "todos aqueles que de qualquer forma participam do processo"- partes, Ministerio Publico atuando como custos legis, auxiliares da Justi~a etc. Ad~mais, aquele rol originano do art. 14, acrescentou-se o inc. V, que detcrmina a todos os protagonistas do processo o cumprimento estri- 111 Tenha-se presente que os deveres aqui arrolados nao se esgotam nestes dois artigos. 0 CPC contempla ainda, em inlimeras passagens, outros deveres dos litigantes e de seus respectivos patronos: cf., e. g., arts. 196,446, par. U.n., 599, 690. § 1.0 , II. V., ainda, no que se refere ao exerdcio profissional do advoga- do. "rt. 34 da Lei 8.906/94 (£statuto da Advocacia). (ll Disciplinados na ses_:fio II: Da responsabilidade das partes pordano proces- sual. m Probidade processual e Jinalidade do processo, Uberaba, Ed. Vit6ria, 1978, p. 26. ·- -_:.~:=--- ··cc~""rrrc.···r.r.ro;orrr 'ART.14 ·-··· . '"-17 -------·----~ to dos atos decis6rios mandan1entais e a nao oposi~uo de obstacuios a efetiva9ao de provimentos judiciais de natureza antecipat6ria ou final. 0 escopo dessa altera~iio, nas palavras do proprio legislador, foi a de robustecer a etica no processo, em especial, OS deYeres de leaJdade e de probidade que devem nortear a atua~iio dialetica niio apenas das partes e de seus procuradores, mas igualmente a interven9iio de quais- quer outros participantes do processo, como, e. g., a autoridade aponta- da como coatora nos mandados de seguran9a,4 ou as pessoas em geral que devam cumprir ou fazer cumprir os mandamentos judiciais e abs- ter-se de colocar 6bices a sua efetiva~iio. 5 Verifica-se, com efeito, que esse desejo de erradicar o dolo proces- sual tem sido deveras prestigiado pelo movimemo de renova9ao de nosso processo civil. A Lei 8.952, de 13 de dezembro de I 994, alteran- do a reda~ao do caput do art. 18, possibilitou que a litigancia de ma-fe passasse a ser reconhecida e sancionada de offcio pelo juiz. 3. Paragrafo unico do art. 14 Bern e de ver, por outro !ado, que a obstina~iio do legislador nessa materia vern revelada nos termos do par. tin. agora acrescentado ao art. 14, o qual: a) cria a modalidade de ato atentat6rio ao exerdcio dajurisdir;tio; e b) impoe multa ao responsavel, independentemente de outras sanr;oes processuais, em montante nao superior a 20% do valor da causa. 4. Analise critica da reforma legislativa a) Interpretar;tio sistematica Facil fica de perceber que a altera9iio Jegislativa introduzida no art. 14 busca refon;:ar as medidas de coer~ao indireta como objetivo precf- < 4) Nessa hip6tese vislumbrada pelo legislador na respectiva exposirdo de moti~ vos, alguma dificuldade pr3.tica podeni realmente existir se cotejada com o disposto no art. 37, § 6.0 , da Constitui~ao Federal, assim redigido: "As pes- seas jurfdicas de direito pUblico e as de direito privado prestadoras de servis;os pU.blicos responderiio peios danos que seus agentes, nessa qualidade, causa- rem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsavel nos casos de dolo ou culpa". '" Cf. exposirao de motivos do Projeto 3.475. .,( (.(;( .. (. ( .. ( (,(;(.(.(;(.( ( ( .. (,(.( .. ( (,(,(,(;( !.( .. (;(;( .. (;(,( ., '"· ·:18 n.:-ANOtA<;:oE~YE:0-6rmtl.-lsisiiMATICA puo de convencer o litigante a cumprir espontaneamente a ordem deter- minada na decisao interlocut6ria ou na senten<;a ou, ainda, a nao ofere- cer obstaculo a efetiva<;ao dos provimentos judiciais que imponham uma obriga9iio especffica. E que a tecnica de execu<;ao proviso ria, regrada no art. 588, aplica- vel "no que couber" a decisao interlocut6ria ou senten9a, de natureza mandamental ou executiva, antecipat6ria ou final, nao e suficiente, por si so. para atender a expectativa do jurisdicionado, tornando-se fre- qlientemente ineficaz ou inoperante. Aduza-se que os mecanismos coercitivos, punitivos ou assecurat6- rios para tornar bern mms eficaz a execuciio da tutela antecipada (nas situa~oes em que nao se procede por sub~roga9ao ), a exemplo do que se observa como regime das antecipat6rias especfficas ( obriga96es de fazer ou nao fazer - art. 461 ), notadamente as regras que permitem a imposi<;ao de multa (§ 4.0 ), e utiliza<;ao de medidas necessarias a efeti- va<;Jo da tutela ou obten9iio do resultado pnitico equivalente (v. g. bus- ca e apreensao, remo9ao de pessoas ou coisas, desfazimento de obras, impedimentos de atividade nociva, requisiviio de for9a policial- § s.o), nao figuravam expressamente no art. 273 do CPC, fator que dificulta- va, como e not6rio, a efeti va<;i'io das decisoes antecipat6rias, cataloga- das como executivas em sentido lato.6 Atento a essa problematica, a recem promulgada Lei 10.444/02 es- tendeu a aplica<;ao de medidas coercitivas tambem nas hip6teses preco- nizadas no art. 273, ao dispor no § 3.0 que: "A efetiva<;iio da tutela antccipada observara, no que couber e conforme a sua natureza, as nonnas previstas nos arts. 588,461, §§ 4.0 e 5.0 , e 461-A". Assim, diante desse quadro, a atual redavao do art. 14, ora sob an,ilise, encontra-se em perfeita harmonia com as regras dos art. 273 e !I>) Cf., em parte, Joel Dias Figueira JUnior, TCcnicas diferenciadas voltadas a t::fetiva~ao da tutela antecipat6ria generic a: aplica~ao de multa ("astreintes") e prisJ.o por descurnprimento a ordemjudicial ("contempt of court"),!nforma- rivo bzcijur, 16(2000):3, que defende a aplica~ao dos meioS coercitivos inclu- sive no que concerne as decis6es judiciais antecipat6rias, que imp6em paga- mento de quantia certa (tutela antecipat6ria genCrica). V., ainda, Ada Pellegrini Grinover, .Etica, abuso do processo e resistencia as ordens judiciarias, RePro, l02(2000):222 ss. 10 '/ 461, cujo escopo precfpuo. em nrol da efetividade da tutela dos direi- tos, e o de coibir a desobediencia a determinadas decisoes judiciais. b) Provimentos mandamentais - contempt of court Emprega-se a locu<;ao provimentos mandamentais no novo inc. V do art. 14, dando a entender que apenas 0 descumprimento destes e que pode configurar ato atentat6rio ao exercfcio da jurisdi9ao. Na verdade, os termos da exposir;iio de motivos do Projeto 3.475/00 (transformado na Lei 10.358, de 27.12.2001) sao claros, visto que reve- Iam ter o legislador se iL'1_spir-ado, nesse particular, no n:mdelo da COlJZlilUii, law, que preve a infli<;ao de multa pecuniaria as partes nas hip6teses de nao atendimento a decisoes de determinada especie. Como bern esclarecem Hazard e Taruffo, a expressao contempt of court designa em termos gerais a recusa em acatar a ordem emitida por uma corte de justi9a. Como conseqlii~ncia desse comportamento, odes- tinatario da ordem pode sofrer uma san<;ii.o pecuniaria ou restritiva de liberdade, dependendo da gravidade do contempt, sempre com o intui- to de constranger a parte a cumprir a determina<;ao judiciaL 0 pressuposto inafastavel- continuam a explicar- para que o liti- gante ou outro integrante do processo possa ser responsabilizado pelo contempt, consiste na existencia de uma ordem que imponha especifica- mente a quem e dirigida um;J. obriga9ao de fazer ou abster-se de fazer. Assim e que a san<;ao pelo respectivo descumprimento (contempt) pode ser imposta quando a determina<;ao for uma mandatory injunction, que ordena a parte fazer determinada coisa, ou quando for uma prohibitory injunction, que a ordena a absten9ao de determinado ato7 0 imediato cunho repressivodo comportamento que lesa a digni- dade da corte e a possfvel utiliza<;ao das normas penais que protegem os 6rgaos estatais constituem os do is elementos do notavel poder que o contempt of court concede ao juiz.8 m Geoffrey C. Hazard e ~ichele Taruffo, American civil procedure. An introduction, Binghamton, Yale University, 1993, p. 202; La giustizia civile negli Stati Uniti, Bologna, Mulino, 1993, p. 241. (S) Cf. Walter J. Habscheid,lntroduzione aldiritto processuale comparato, Rimini, Maggioli, 1985, p. 141. V., entre n6s, JUlio Cesar Bueno, Contribuifilo ao ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (( ( c ( c c ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( c ( ' ' c.20 n·~ANOTA<j:(JES EMDRDEM SISTEMATICA· .. · Cumpre ainda esclarecer que, no ambito do sistemajurfdico anglo- americano, essa arma de prote~ao da atividade jurisdicional pode ser utilizada nao apenas na hip6tese de ordem judicial de natureza provi- s6ria, mas tambem em caso de desatendimento de decisao definitiva.9 Nao e de hoje que segmento significative da doutrina processual patria sustenta que a tripartic;ao das eficacias das senten<;as nao encerra todas as situa~oes enfrentadas no plano pratico. Assim, ao !ado da ellis- sica classifica~iio dogmatica dos provimentos finais em sentenc;as de- clarat6ria, constitutiva e condenat6ria, acrescentam-se as sentenc;as man- damental e executiva. 10 Entendemos que a nota distintiva dessas duas derradeiras catego- rias reside no modo pelo qual sao praticados os atos de execuc;ao. Na realidade, tratam-se de senten~as que impoem prestac;ao, mas que nao sao remetidas a forma "tradicional" da instauracao de urn novo pro- cesso de execuc;ao." Consoante a literalidade da nova regra, exclusivamente o desaten- dimento dos pronunciamentos de natureza mandamental e que poten- cia atentado a atividade jurisdicional. estudo do contempt of court e seus reflexos no processo civil brasileiro, tese de doutoramento inedita, USP, 2001, p. 174 ss .. '" CL, a prop6sito, Garry D. Watson, Stephen Borins e Neil J. Williams, Canadian civil procedure. Cases and materials, 2. ed., Toronto, Butterworths, 1977, p. 1-ll. V., sabre o contempt of court, praticado por advogado, a luz da Regra 11 das Federal Rules of Civil Procedure dos Estados Unidos da Am6rica, Thomas D. Morgan, Sanctions and remedies for attorney misconduct, Southern Illinois Law Journal, 19(1995):343 ss.; Alan B. Morrison (coord.), The american legal profession - court sanctions, Fundamentals of american lmv, New York University School of Law, Oxford University Press, 1996, p. 159. {10) p . PC ara cornprovar o acerto da tese mvoca-se, como exemplo, o art. 639 doC , como intuito demonstrative da dificuldade de catalogar a decisiio mandamental entre aquelas da classificac;J.o tripartida (cf., v. g., Araken de Assis, Cumula- ;:ao de a<;oes, 2. ed., Sao Paulo, RT, !995, p. 83). V., a respeito, Ovidio A. Baptista da Silva, Senten<;a mandamental, Sentenra e coisa julgada, Porto Alegre, Fabris, 1979, p. 87. on Cf., a prop6sito, Fhlvio Luiz Yarshell, Tutelajurisdicional, Sao Paulo, Atlas, 1998. p. 164. . ~- -· ·ART.14 21 Em outras palavras, somente o nao cumprimento de comando judi- cial que prescinda de futura demanda (execu.;:ao direta) para realizar transforma~ao no mundo dos fatos e que pode caracterizar, por for~a da conjuga~ao do inc. V com o par. lin. do reformado art. 14, ato aten- tat6rio ao exercfcio da jurisdi<;:ao! Imaginamos, pois, que o legislador pretendeu inserir na categoria dos provimentos mandamentais apenas as situa~oes contempladas nos arts. 461 do CPC e 84 do CDC, nas quais, em Ingar de "condenar", o juiz emite uma "ordem", que, nao cumprida, perrnite a imposic;ao de sanc;ao visando a compelir o devedor ao pronto adimplemento. c) Provimentos judiciais de natureza antecipat6ria oufinal Mas nao e s6. 0 ambito aparentemente restrito da norma ora ana- lisada, que alude em primeiro lugar a provimentos mandamentais, na verdade, dilata-se na parte final do inc. V, em que contempladas as decisoes "antecipat6rias ou finais". Realmente, a recalcitriincia deliberada a efetivapio prdtica de "pro- vimentosjudiciais executives", de natureza antecipat6ria ou final, con- figura tambem comportamento atentat6rio ao exercfcio da jurisdic;ao. Dessume-se, destarte, que o atual reformador do processo civil tra- tou de inserir na primeira parte do referido inc. V apenas as decisoes mandamentais, e, na parte final, os pronunciamentos que se efetivam nos pr6prios autos, ditos executives lata sensu. Ao que parece, por outro !ado, o legislador procurou deixar clara, que, na pratica de atos tendentes a satisfac;ao do beneficiario da tutela antecipada, nao se recorre ao modelo do processo de execu.;:ao, isto e: (i) nao ha instaura~ao de uma nova relac;ao processual, (ii) nao ha nova cita~ao do demandado, e (iii) nao ha, pelas circunstancias anteriores, espa9o para a oposi9ao de embargos do devedor. Se realmente essa impressao e correta, a modifica9ao legal apenas robora o quanto ja vinha sendo reconhecido pela doutrina - ao menos nas hip6teses de obriga~oes de fazer, nao fazer e entrega de coisa. 12 Mas, ainda nesse particular, e possivel que a reforma tenha preten- dido estabelecer que, na pratica de atos tendentes a satisfa~ao do bene- 02) Cf., em parte, anota':r6es particulares cedidas pelo ilustre Col ega Fl<lvio Luiz Yarshell. : ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ·I 22. ll.::. AN()!~.C,:OfSE~\~.()l{DEM S!SJ!OJ.'l,\'f]CA ··••·• .c·cc-.· c····c·cc -~'::..:, .C"-C.::• j ficiario da tutela antecipada, nao se recorre apenas e necessariamente aos mecanismos de sub~roga~ao pr6prios da execuqiia, mas tambem aos mecanismos do que parte da doutrina convencionou denominar de execuqiia indireta ou, ainda, de execw;;iia impr6pria. 13 Vale dizer: ao se dar cumprimento ao comando que antecipou tutela, niio apenas e neces- sariamente se toma o Iugar do devedor para, contra sua vontade, satis- fazer-se o erector (= execuqiia) mas tambem e possfvel pressionar o devedor para que ele seja levado ao adimplemento. Infere-se, pois, que o inc. V do art. 14 engloba somente aquela categoria de provimentos mandamentais e executivos lata sensu - que nao comportam execu~ao ex intervala. 14 Dai por que se explica a razao pela qual, nesse art. 14, V, a lei nova alude, em Iugar de execu9ao, a efetivaqiia da decisao antecipat6ria. Em tais hip6teses, sobretudo nos casos de obriga96es de entrega de coisa, fazer e nao fazer, e de dar coisa fungfvel, efetivaqiia significa dizer que: (i) nao ha instaura~ao de uma nova rela9ao processual, (ii) nao ha nova cita9ao do demandado, e (iii) niio ha ensejo para a oposi- 9ao de embargos do devedor. E tudo isso e igualmente aplicavel, segundo se depreende da dic~iio do inc. v do art. 14, aos provimentos judiciais finais, isto e, jii transita- dos em julgado, que, pela sua propria natureza, niio exigem para a satisfa~iio do erector execu9iio direta. Assim, para finalizar, extrai-se em apertada sfntese do par. un. do art. 14, que configura ato atentat6rio ao exercfcio da jurisdi9ao, nao apenas o descwnprimenta de decisoes mandamentais (antecipadas ou definitivas), mas tambem a oposi9ao deliberada de obstiiculos a ejeti- va9<1o de provimentos antecipados de qualquer natureza, ou definiti- vos, Jesde que executivos lata sensu. d) At a atentat,)ria aa exerdcia da jurisdiqiia lmpoe-se, como visto, aos litigantes e aos demais "participantes do proccsso" (art. 14, caput) o dever de "cumprir com exatidao os provi- ·I:<J Cf., e. g., Ovidio A. Baptistada Silva, Curso de processo civil, v. 2, 4. ed., Siio Paulo, RT. 2000, p. 25. n 4 ) E daro que se o legislador pretendesse incluir outras esp€cies de provimentos, bastaria sirnplesmente ter inserido no examinado inc.V do art. 14 a expressiio decisi5es judiciais. ..... ccc" .. ;.:CART: i4. ·········· . '23 mentos mandamentais e nao criar embarac;os a efetiva<;iio de provimen- tos judiciais, de natureza antecipat6ria ou fmal" (inc. V). Violado esse dever, irrompe entao atitude atentat6ria ao exercfcio da jurisdic;ao (par. un.). Verifica-se, em primeiro Iugar, que a inova9ao em aprec;o procura evitar o menosprezo e o conseqtiente desprestfgio das decisoes judiciais. Ha, com efeito, duas razoes fundamentais - decerto correlaciona- das para que se avalie a real importiincia da eficacia dos pronuncia- mentos judiciais: a primeira e a sensa9ao, transmitida a quem recorre a Justi9a por se sentir de alguma forma lesado, de que existe efetivamen- te uma institui<;:ao publica (nao por acaso tipica e essencial, do Estado Democratico de Direito) capaz de dar a cada urn o que e seu. E a segun- da e a convic91io - inafastiivel para a crenc;a e a confianc;a no proprio valor da cidadania- de que hii uma relac;ao de causa e efeito imediata, tempestiva e eficaz entre a transgressao a lei e a puni<;ao legal. 15 No entanto, ao !ado da intoleravel demora na presta<;ao jurisdicio- nal, nada tern desgastado mais o Judiciano do que o esciimio diante de determinada ordem judicial, que acaba se traduzindo em urn c6modo instrumento de pressao, uma arma formidiivel nas maos dos mais for- tes para ditar ao adversano -c exatamente aquele beneficiado pela deci- sao nao cumprida- os termos da rendic;ao ... Cumpre, pois, ao ordenamento processual atender, de modo mais completo e eficiente possfvel, ao p1eito daquele que exerceu o seu di- reito a jurisdi9il0, bern COffiO daqueJe que resistiu, apresentando defe- sa. Por isso, e de suma releviincia que o processo civil disponha de mecanismos inibit6rios aptos a assegurar ao jurisdicionado que tenha razao a satisfa9ao de seu direito. Daf por que, segundo a reda9ao do par. lin. do art. 14, essa norma de aplica9iio geral pode incidir independentemente da existencia de outra, que tambem reprime a afronta a ordemjudicial. Invoque-se aqui, como expressivo exemplo, a hip6tese regulada no art. 600, III, do CPC. A resistencia injustificada oposta pelo devedor ( ou pelo erector, por que nao? ... ) ao cumprimento de determina<;:ao judicial configurara, a "" Uma revolw;ao judiciaria?, 0 Estado deS. Paulo, ed. 20.01.200!, p. A3 (editorial). c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c ·c c ·c c c c c c c ·c c c .. , .. : I• n::: ANOTA:¢5£$ EMORDEl\1 srsi'E:\IATICA . urn s6 tempo, ato atentat6rio a dignidade da justi<;:a e ao exerdcio da jurisdit;:iio, com todas as conseqiiencias previstas nos arts. 601 e 14, par. un. Como bern pondera Alcides de Mendon9a Lima, na maioria das vezes, no entanto, o litigante nao fara "tudo as claras, exatarnente per- que e precise dar a impressao de 'lealdade e probidade', sob pena de 0 seu procedimento perder o nefasto objetivo oculto. De qualquer mane i- ra, sera dificil igualmente estabelecer o que seja o a to que 'resiste injus- tific;,damente as ordens judiciais'". Existem realmente situa<;6es processuais nas quais tera de ser sope- sado urn valor de delicada aferi~ao concreta: a virtude 116 Nota-se, ademais, acentuada dificuldade para deterrninar-se de modo objetivo o comportarnento passive! de ser considerado descumprimento ou 6bice a efetiva<;ao dos ja referidos pronunciamentos judiciais. Sim, porque, ao moldar a locu<;ao ato atentat6rio ao exerdcio da jurisdiriio, o reformador invoca urn conceito legal imprecise, que dei- xa ao juiz larga margem de valora<;ao. n Nao obstante, entendemos que, na pratica, somente a atua<;ao mate- rial (e niio tl!cnica) e que poderia ensejar o desatendimento aos provi- mentos mandamentais ou a oposi9ao de embara<;os a efetiva<;ao de pro- vimcntos judiciais, de natureza antecipat6ria ou final. Assim, em outras palavras, a permanencia no im6vel despejando, a nao demoli<;ao do muro, a oculta<;ao do menor, constituem, todas, atituJes que dificilmente podem ser creditadas a outro participante que nao o destinatario direto da respectiva ordem judicial, isto e, o pn)prlo litigante. Seja como for, nada impedira, por certo, que em algumas situa<;5es exccpcionalfssimas, de cunho eminentemente tecnico, possa tambem ser inclufdo o procurador da parte. \!~J Comentdrios ao C6digo de Process a Civil, v. 6, 6. ed., Rio de Janeiro, Foren- se, 1990, p. 488 e 484. ur) Resulta, pois, que uma das finalidades que se pressup6e dever ser alcanc;ada pelo princfpio da legalidade, vale dizer, a seguranc;a do direito e a sua integral previsibilidade pelos particulares, nao pode ser aqui atingida, tornandowse pra- ticamente impossivel, no contexto da norma em aprec;o, antever os efeitos concretes e as suas conseqii@ncias pniticas. -'" .. · 25 e) Excet;ao atinente ao procurador da parte No entanto, segundo o infcio do par. iin. do art. 14, a norma em apre<;o nao abrange os advogados, qualquer que seja o ambito profis- sional em que esti verem atuando ( ou seja: profissionalliberal ou pro- curador da Fazenda Publica ou de 6rgaos correlatos), "que se sujei- tam exclusivarnente aos estatutos da OAB ... ". Insta anotar, destarte. que o advogado ou advogados de urn dos litigantes nao poderao ser atingidos pela san9ao af preconizada.18 Nao obstante, o juiz podera entender serem eles responsaveis pelo descum- primento dos provimentos mandarnentais ou pelo entrave colocado a efeti va<;ao de decisao de natureza antecipat6ria ou final. Machado Guimaraes, exortando os jnizes para a sobriedade no tra- to com os advogados, aconselha evitar qualquer especie explicita de censura na fundarnenta91io dos atos decis6rios. 19 A falta pro fissional grave, inclusive aquela passfvel de ser emoldurada nos quadrantes do novo art. 14, quando detectada pelo magistrado, deve ser comunicada a Ordem dos Advogados do Brasil para as devidas providencias. Tome-se como exemplo a regra do art. 196 do CPC, que se apre- senta, nesse particular, clara e precisa, ao dispor ser: " ... licito a qual- quer interessado cobrar os autos do advogado que exceder o prazo le- gal. Se, intimado, nao os devolverdentro em 24 (vinte e quatro) horas, perdera o direito a vista fora do cart6rio e incorreni em multa, corres- pondente a metade do sal:irio mfnimo vigente na sede do jufzo. Para- grafo iinico. Apurada a falta, o juiz comunicara o fato a se<;ao local da Ordem dos Advogados do Brasil, para o procedimento disciplinar e imposi9ao da multa". Cumpre anotar que a experiencia jurfdica portuguesa teve de en- frentar esse mesmo problema quando da tramita9ao legislativa do an- tigo CPC de 1939, entao idealizado por Jose Alberto dos Reis. Constava efetivarnente do art. 609 do respective Projeto do diplo- ma lusitano: "Se o juiz reconhecer que o advogado ou solicitador da parte teve responsabilidade pessoal e directa nos actos pelos quais se ns) Ada Pellegrini Grinover teceu severa critica a ressalva constante do citado dispositive (Paixiio e morte do contempt of court brasileiro, texto inCdito). < 19) 0 juiz e afum;do jurisdicional, Rio de Janeiro, Forense, 1958, p. 363. ( ( c ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( . ( ( . ( ( ( ( ( . ( ( ( ( .. \ (((((((.( 'i• ~-:: ,;c· :__':.'· :·;:-.::::__:: ,·-. _;:;_-_o.,·-'"-'---··· c· 26 ·u~ANOTA\X)ESEMORDEMSISTEMATICA. rcvc!ou a rna fe no litfgio, condemi-lo-a na quota parte das custas e indemniza~ao que !he parecer justa e dara conhecimento do facto a Ordem dos Advogados ou a Camara dos Solicitadores". Essa regra legal, segundo Alberto dos Reis. desencadeou verda- deira tempestade entre os componentes da Comissao Revisora. "Rom- pen o fogo o Dr. Pinheiro Chagas e !oo-o se !he associou, com toda a " .- C> . veemenc1a e energia, o Dr. Sa Carneiro, que chegou a fazer a decla- ra~aoseguinte: 'se o artigo for mantido tal como esta, terei de aban- donar a advocacia' ... ". N a verdade- confessa o au tor do Anteprojeto -. jamais fora sua inten~ao criar aos advogados uma situa<;:ao delica- da; "se formulei a disposi<;:ao do art. 609, foi porque a considerei JUsta e porque a via introduzida na iegisla9ao de paises adiantados, em que a advocacia e uma alta e nobre profissao. Inseriu-a no seu Projecto o Professor Carnelutti, apesar de ser urn dos mais valorosos advogados da Italia".20 Pondera ainda Jose Alberto dos Reis que a "justi9a do principio e incontestavel. Se, por via de regra, o dolo substancial e da responsabi- lidade da parte, porque induz em erro o seu mandatario, apresentando- lhe uma versao inexacta e desfigurada do litfgio, tarnbem por via de regra, ou pelo me nos numa grande parte dos casos, o dolo instrumental e da responsabilidade pessoal do advogado ou do solicitador. E entao pergunta-se: e justo que a parte suporte as conseqtiencias de factos e atitudes que nao quis nem autorizou, de que, porventura, nem sequer teve conhecimento? E inadmissfvel que pela condutapessoalmente ma- liciosa do mandatario responda o mandante? ... 0 debate encaminhou- se, por fim, para uma solu<;:ao transaccional: Pinheiro Chagas e Sa Car- neiro abdicavam da sua intransigencia, aceitavam o prindpio da res- ponsabilidade pessoal do mandatario, contanto que a aprecia9ao do facto e a aplica9ao das san96es fossem da competencia da Ordem dos Advogados ... Nesta base se formou maioria"." Esclare<;a-se que a regra do C6digo de 1939, consubstanciada no art. 468 (responsabilidade do mandatdrio ), foi integralmente preser- vada ao Iongo do tempo, inclusive pela atual reforma do processo civil portugues (art. 459), instituida pelos Decretos-leis 329-A/95 e 180/96, ( 201 Jose Alb.::rto dos Reis, C6digo de Processo Civil anotado, v. 2, 3. ed., Coim- bra, CoimbraEd., 1949, p. 273. "" Cf.. ainda. Alberto dos Reis. C6digo de Processo Civil anotado, cit., p. 274. ART.H 27 sempre atribuindo ao orgao da classe profissional a apura<;:ao de even- tual falta etica cometida pelo advogado. Observa-se assim que esse tema e, sem duvida, deveras tormento- so, nao apenas nos sistemas processuais de "direito escrito", mas, igual- mente, na esfera da common law. Focando a recente reforma do processo civil ingles (Woolf refor- ms), de 1999, Hazel Genu, ao analisar o agravarnento das san96es im- postas aos advogados, assinala as dificuldades para demarcar o limiar que separa a atuaqao profissional aguerrida do abuso, da alicantina, e, en tao, pergunta, quem e qualificado para proceder a tal julgarnento? - (who is qualified to make that judgement?). l1~ssevera, ~i~dn, e~ ~cp;, critico, que esse problema e arduo e reclarna atenqao sob os aspectos pratico e etico, alias desprezada na nova legisla<;:1io.22 E evidente que, no dia-a-dia do foro, deve o advogado procurar relacionar-se de modo cordial e urbano com todos os demais integran- tes da atividade forense jufzes, promotores, escrivaes, escreventes, oficiais de justi9a etc. E isso, por 6bvio, sem que se cogite de qualquer transigencia ati- nente a garantia de liberdade de que tradicionalmente desfruta 0 advo- gado no exercfcio de seu munus. Nao se pode supor que a modera9ao prejudica a energia. Tenha-se presente que os causfdicos mais impla- caveis sao precisamente os que traduzem as violencias por delicadezas de desprezo e ironia. Inseridos, ex vi legis, no ·mesmo plano hierarquico, o advogado e o juiz jamais devem externar, na pratica do respectivo offcio, qualquer ressentimento pessoal. Todavia, o advogado e o juiz, que saohomens como quaisquer outros, tern sentimentos profundos. A experiencia realmente demons- tra que a formaqao morale cultural dos protagonistas dajustiqa culmi- na interferindo no exerdcio da profissao. Nao sao raras as ocorrencias, em epoca contempori\nea, que revelam as dificuldades que emergem do relacionarnento advogado-juiz. E por essa razao que se justifica plenamente a exce9ao atinente aos advogados, uma vez que, na mao de jufzes rancorosos, a inovaqao le- <n) Access to just settlements: the case of medical negligence, Reform of civil procedure- Essays on "access to justice'", Oxford, Clarendon. 1995, p. 398. ~ ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (.( ( ( ( ( ( ( ( < ( ( ( ( ( ( ( ( ; ' .. --~.- 28 · rr~ ANOTA<;:OES EMOR!SEM SiSTE~lATICA gislativa, se lhes fosse aplicavel, acabaria sendo urn instrumento de amea~a e de constrangimento para o livre exercfcio da advocacia. Sim, porque, infelizmente, o ideal de isen9ao que deveria triunfar durante todo o desenrolar do procedimento judicial e sobretudo no momenta do magistrado proferir o julgamento, por for9a de inexor:iveis detenninantes do relacionamento humano, nem sempre e verificado. Em variadas ocasioes nao se faz possfvel individuar, nos atos deci- s6rios, aqueles preconceitos e valora96es inerentes a personalidade dos homens. Abandonada a vetusta teoria que reduzia a decisao a urn sim- ples silogismo nos quadrantes da 16gica formal, nao se pode negar, destarte, que a senten9a se consubstancia em urn ato extremamente complexo. Sabe-se hoje que, antes da propria fundamenta9iio, o juiz constr6i o dispositive, para, em seguida, procurar, na motiva9iio, argu- mentos que se prestam a justifica-lo. Nao foi, alias, por outro motivo que Cappelletti chegou a afirmar que, efetivameute, em muitas circunstancias, os verdadeiros fundamen- tos da ratio decidendi nao vern expressos na senten9a judicial, mas se encontram velados no espfrito do julgador, "o sentimento do juiz: a simpatia, a antipatia por uma das partes ou por uma testemunha; o interesse, o desinteresse por determinada questao ou argumenta9ao jurfdica; a tendencia a urn criteria evolutivo, hist6rico, sociol6gico de interpreta9iio das leis, em Iugar de uma exegese formal; o interesse ou niio diante de intrincado problema fatico, e assim por diante. Senti- mentes: afetos, tendencias, 6dios, rancores, convic96es, fanatismos; todas as varia96es desta realidade misteriosa, maravilhosa e terrfvel que •-' a alma humana, ref!etidas, com ou sem disfarces, nas linhas frias dos rcpert6rios de jurisprudencia: paixoes desencadeadas, paixoes re- colhidas, temuras e temores, nas estantes dos tribunais".23 Pensar de modo diferente seria, sem duvida, mera hipocrisia. 0 ato decis6rio de indole jurisdicional, como emana9ao do poder estatal de que se reveste o juiz, constitui, portanto, instrumento deveras perigoso quando conspurcada, por qualquer motivo de ordem material ou espiritual, a imparcialidade que necessariamente deve exomar a administra9iio da justi9a. (23) Ideologic nel diritto processuale, Processo e ideologie, Bologna, Mulino. 1969, p. 3-4. ~'ART, 14 29 Essa a razlio pela qual en ten demos que o novel dispositive ora sob exame reconhece o poder correcional legalmente conferido a Ordem dos Advogados do Brasil. Recomenda-se que, na pratica, antes da expedi~ao de comunica~ao ao 6rgao declasse para a tomada de providencias, conceda o 6rgao julga- dor oportunidade ao advogado para prestar os devidos esclarecimentos. Calha aqui invocar, ainda que por analogia, precioso ares to da 1.' Turma do STJ no julgamento do Recurso Especial250.781-SP, no qual ficou decidido: " ... nao foi dada ao recorrente qualquer chance de defe- sa da acusa9ao de litigancia de ma-fe, contrarian do-se, por conseguin- te, o disposto no inc. LV do art. 5.0 da CF/1988 ... ".24 5. Imposi\:ao de multa independentemente de outras san~oes Veja-se bern, sob outro aspecto, que a imposi9lio da multa nao pre- judica as demais san~oes previstas em outras normas do CPC e da le- gisla~ao extravagante. 0 dispositive nao deixa margem para duvidas: " ... podendo o juiz, sem prejufzo das san96es criminais, civise processuais cabfveis, aplicar ao responsavel multa em montante a ser fixado de acordo com a gravida- de da conduta e nao superior a vinte por cento do valor da causa ... ". Anote-se, outrossim, que o mesmo protagonista do processo pode sofrer, no curso do procedimento, mais de uma san9ao em diferentes ocasloes pelo comportamento reputado atentat6rio ao exercfcio da jurisdi9ao. 0 nOVO teXtO JegaJ preserva 0 direito a indeniza9li0 da parte preju- dicada fundado na responsabilidade processual. A imposi9lio de con- dena9iio de carater ressarcit6rio subordina-se, como e curial, a ex pres- so requerimento do interessado e a comprova9ao dos danos experi- mentados. Insta observar que, antes da atual reforma, abstraindo-se sempre de sua natureza (punitiva ou indenizat6ria), as san96es pecunianas, inclu- sive aquela severa do art. 601, sempre eram fixadas em pro! do outro litigante. 0 que realmente ensejava perplexidade era o fato de a parte adversariareceber cumulativamente aqueles val ores, importando, con- "" Revista do STJ, 135:190. ' ( ' ' ((((((((( ((((( ((( (( (((((( (((((((( \- " .. _, ·.: II :~A.'i61'A<;ots EMCiifuE.\islsTEMATICA forme observa<;ao de Clito Fomaciari Junior, verdadeiro enriquecimento sem causa. 25 Na verdade, como bern enfatiza Fredie Didier Jr., olvidava-se o maior lesado: o Estado.'6 Esclarece, com efeito, o legislador naja refe- rida justificativa do Projeto, que a puni<;ao economica e imposta ao responsdvel pelo ato atentat6rio ao exercfcio da jurisdi<;iio, como ativi- dade estatal inerente ao Estado de Direito! Agora, entao, a falha relativa ao destino da multa vern sanada, por- quamo a san<;ao pecuniaria, de natureza estritamente punitiva, imposta pelo par. un. do art. 14 sera inscrita, quando nao quitada ap6s 0 transito em ju!gado da decisao, na dfvida ativa da Uniao ou do Estado. Bem destacaram Luiz Rodrigues Warnbier e Teresa Arruda A! vim Wambier que a fixa<;ao da multa com base no valor atribufdo a causa nao parece mesmo ter sido o melhor criterio, porquanto, em inumeras situa<;iies em que o objeto da causae inestimavel, vern dado valor sim- b6lico, apenas para efeitos fiscais e de al<;ada. Realmente, teria sido mais coerente se a lei permitisse ao juiz arbitrar urn valor que represen- tasse efetiva "puni<;ao" aquele que criasse embara<;o ao cumprimento dos provimentos judiciais discriminados no novo texto legal." Deve ser lembrado, por outro !ado, que a pratica do ato atentat6rio ao exercfcio da jurisdi<;ao, assim como a atua<;ao temeraria da parte, nao ievam necessariarnente a sucumbencia. Continua atual, nesse par- ticular, o alvitre de Helio Tomaghi, ao pontuar que: "se, por exemplo, o juiz verifica que o autor omitiu intencionalmente fato essencial ao julgamento da causa mas que, nao obstante, esta com razao, dever jul- gar procedente o pedido e condena-lo as perdas e danos processuais que de seu comportarnento houverem decorrido".28 'm Aws atell!at6rios a dignidade da justifa, Reforma do C6digo de Processo Civil (obracoletivacoord. pelo Min. S3.lvio de Figueiredo Teixeira), Sao Pau- lo, Saraiva, 1996, p. 574-5~ ':" 1 ::V1udan<;ns na responsabilidade processual, de acordo com a proposta de refer- rna do CPC brasileiro, Genesis - Revista de Direito Processual Civil, 17(2000):502. ltn Breves comentririos a 2. a fase da reforma do C6digo de Processo Civil, Sao Paulo, RT, 2002, p. 30. ' 28 > Comentdrios ao C6digo de Processo Civil, v. 1, Sao Paulo, RT, 1974, p. 152. V., no mesmo sentido, Barbosa Moreira, A responsabilidade das partes par ,.,:__,__,_,_.._: _-_____ .c_-_ ·- ART.I4 "3r 6. Exigibilidade da multa Disp6e, como visto, a parte final do par. un. do art. 14 que:" ... nao sendo paga no prazo estabelecido, contado do transito em julgado da decisao final da causa, a multa sera inscrita sempre como dfvida ativa da Uniao ou do Estado". Infere-se, de logo, que a decisao devidarnente fundarnentada im- pondo a san<;ao af pre vista devera especificar urn prazo razoavel para o seu paga1nento, o qual sempre sera computado a partir do transito em julgado da decisao de extin<;il.o do processo. Inadimplido o valor da multa, devera ser ele inscrito na dfvida ati- va da Uniao ou do Estado, dependendo, e claro, do juizo (federal ou estadual) em que aplicada a san<;:il.o. Com o titulo executivo judicial (art. 584, I, CPC), representado pela certidao da decisao (interlocut6ria ou definitiva) que fixou a mul- ta e a comprova<;ao do transito em julgado da sentenqa de extin<;ao do processo, a Fazenda PUblica podera entao ajuizar, em autos apartados, a respectiva a<;il.o de execu<;il.o fiscal. De aduzir-se, por outro !ado, que, do modo como redigido esse referido par. un., se a san<;ao for imposta mediante decisao interlocut6- ria proferida ainda na fase postulat6ria, por exemplo, em virtude do descumprimento deliberado de urn provimento antecipat6rio, somente ap6s o transito emjulgado da senten<;a ou do ac6rdil.o ("decisao final") e que a multa, inadimplida, podera ser exigida! · 7. Mauifesta ineficacia em rela~;ao aoPoder Publico Sob diferente aspecto, percebe-se, em urn relance, que a presente altera<;ao legislativa vulnera, ex radice, o princfpio da isonomia pro- cessna!. Sim, porque, enquanto, de urn !ado, o com urn dos mortais sofrera a imposi<;ao de pesada multa, bastando que o juiz da causa entenda que nao cumpriu ou opos infundada resistencia a efetiva<;ao de determina- da decisao judicial, de outro !ado, o Poder PUblico, principalmente o dano processual no direito brasileiro, Temas de direito processual, Sao Paulo, Saraiva, 1977, p. 25. c r ('( c·c c·c c···c·c·c c·c·<·< c·( c·c c ·(!('('( ( ( (·(•(•()(.( ' .r· I 32 · II -ANQTA<;:OES EMORDEM SlSTEMAnCA·· -----·-····c·c.c~c~·····cc.j Executivo, continuani, por certo, a desprezar coram populum as ordens judiciais de que e destinatario! Como se faz 6bvio, jamais a multa do par. tin. do art. 14 podeni ser imposta ao Estado enquanto parte no processo, uma vez que sempre inexigfvel pel a inevitavel confusao (art. 1.049 CC).29 8. Impugna.;ao a imposic;iio da mnlta Cientificado o litigante da decisao que !he imp6s san~ao pecuniana nos termos do novo art. 14 do CPC, inicia-se a fluencia do prazo para a interposi<;ao do recurso cabfvel dependendo da natureza do respectivo provimcnto. Tratando-se de decisao interlocut6ria irrecorrida, a materia atinen- te a imposi<;ao da multa res tara preclusa, sendo certo que, independen- temente do resultado do processo, aquela somente sera exigi vel, como visto, apos o trans ito em julgado da senten<;a de extin<;iio do processo. Mesmo quando o destinatario da san<;iio nao for parte, podera, a evidencia, questionar a procedencia da imposi<;ao, mediante a interpo- si<;ao de recurso, a exemplo do que ja sucede na pratica como decor- rencia da aplica<;ao do par. tin. do art. 424 do CPC (multa ao perito). Ademais, nessa mesma linha, preciso julgado do TJSP, relatado pelo Juiz Pereira Cal<;as, ao enfrentar essa questao, deixou patenteado que: "o perito nao e parte, nem terceiro prejudicado, posto que sen direito nao tern qualquer rela<;ao de interdependencia ou conexao com a !ide objeto do processo. No entanto, se o perito se insurge contra a fixa<;ao de seus honorarios profissionais e instaura incidente a respeito de :ai questao, surge aquilo que Pontes de Miranda rotulou de 'verda- deiro procedimento paralelo, metido na a<;ao principal' ( C6digo de Processo Civil, 5/228), que foi citado em vetusto julgamento deste Tribunal de Justi<;a (Ap. 72.894, rei. pelo Des. Cantidiano de Almeida, RT 247/1 70) e repetido em venerando aresto rei. pelo e. Des. Alves Braga (RT 561192), cuja ementa e a seguir transcrita: 'Negar ao perito {2')) Excetuam-se, como e 6bvio, aquelas hip6tesesem que, por exemplo, determi- nado Estado da Federac;ao seja parte em processo pendente perante a Justi~a Federal, ou diante da Justi~a Estadual de outre Estado. Nestas hip6teses, a inadimplencia de eventual multa podeni perfeitamente ser inscrita na divida ativa da Unifi.o ou do Estado, dependendo da situa~ao concreta. ! . , ART.J:r.::: "' . _:; __ o dire ito de recorrer da decisao que arbitra seus sahirios e trancar-lhe o acesso a via judicial para a defesa de seus direitos' ... "30 Assim, tambem na hin6tese do art. 14, dado o gravame que ad vern da infli<;ao da multa, alem das partes, qualquer outro integrante do pro- cesso passara a ostentar legitimidade e interesse em recorrer. Ressumbra evidente que esse "terceiro" nao assume a qualidade de parte no processo e, muito menos, de terceiro interessado, mas, sem duvida, adquire a condi<;ao de parte no incidente processual que se produz com a imposi9ao da referida san<;ao. E, desse modo, nao ha aqui se presumir qualquer tumulto proces- sual com a interposi<;ao de eventual impugna9ao por quem nao e parte no processo. Com efeito, se o recurso apropriado for o de agravo de instrumento, autuado em apartado perante o 6rgao de segundo grau, em nada atravancara a marcha do processo. Por outro !ado, fixada a multa na senten<;a definitiva, alem da eventual apela<;ao da parte que sucumbiu, problema algum acarretara a interposi<;ao de outra apela- 9iio, v. g., do assistente tecnico que se viu prejudicado com a aplica9iio da multa naquele ato decis6rio31 "" RT, 700:85-6. 131 > Tornando-se como acertada a difundida afirma<;5.o de Liebman, no senti do de que terceiro e aquele que nao se encontra em contradit6rio perante o juiz, entendemos insustentavel a opiniiio de Fredie Didier Jr., que nega a qualidade de terceiro aqueles que, niio sendo parte, sao destinatarios da multa prevista no par. U.n. do art. 14 (Mudam;as na responsabilidade processual, de acordo com a proposta de refonna do CPC brasileiro, cit., p. 505-6). Anote-se que, mais recentemente, o jovem processualista mudou seu ponte de vista, passan- do a admitir que, alem do autor e reu, outros protagonistas do processo podem ser destinatarios diretos de urna decisffo judicial (A nova refonna processual (obra coletiva), Sao Paulo. Saraiva. 2002, p. 20). ' ( c c c < c c c c < c·c c c·< c ( ( c c··( c c (((((((((( :c '' Art. 253. Distribuir-se-ao por dependencia as causas de . . r qualquer natureza: I -quando se relacionarem, por conexao ou continencia, com outra ja ajuizada; II- quando, tendo havido desistencia, o pedido for reitera- do~ mesm0 quf!' em Htiscons6rcio com outros autores. [ ... ] 1. Distribui~ao da causa, conexao e continencia Ve-se, de logo, que foi mantida a mesma impropriedade tecnica que constava na reda~ao original, porquanto, estando ja determinada a competencia do juizo, a demanda ajuizada em seqUencia nao sera distribuida. E isso, porque, havendo conexao ou continencia de uma causa an- teccdcnte com outra posterior, esta sera registrada no cart6rio do distri- buidor e, dada a dependencia, remetida ao juizo daquela para que am- bas tram item in simultaneus processus. Justificam esse expediente os imperatives da economia processual e da harmonia de julgados (art. 105 do CPC). As hip6teses de conexao ou continencia vern delineadas nos arts. 103 e 104 do CPC, sendo certo que o art. 253 deve ser complementado pelas regras dos arts. 108 e 109, ao disporem que: "A a~ao acess6ria sera proposta perante o juiz competente para a a~ao principal" e "0 juiz da causa principal e tambem competente para a reconven~ao, a a~ao declarat6ria incidente, as a~5es de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente''. Esclare~a-se que, se duas demandas conexas forem distribufdas a diferentes jufzos, sen\ competente aquele em que se perfez a primeira cita~ao inicial. Por outro !ado, Ionge de imprimir coerencia como sistema ideali- zado a partir da teo ria das tres identidades, o legislador patrio, ao expor ·~-·:~~.:ART;iSJ·-- --· -- .35 .. o conceito de conexilo, procurou ampliar a rigidez daquela. Preceitua, com efeito, o art. 103 do C?C que se reputam conexas duas GU)nais ag5es, "quando lhes for com urn o objeto ou a causa de pedir". Nota-se, de logo, que tal conceito, apenas parcial, nao engloba ou- tras hip6teses de conexao, e, por isso, os tribunais tern determinado a reuniao de processos, ex vi do disposto no art. 105, que niio possuem o mesmo pedido nem a mesma causa petendi . Assim, como observa Barbosa Moreira, persiste-se "em falar de uma conexao em 'senti do largo', que abrangeria uma serie de casas estranhos ao ambito do art. 103; ou em reconhecer-se que na doutrina acolhida pelo C6digo 'nao se acha toda a teoria da conexao', impondo- se admitir a exis~~ncia de 'outras hip6teses', conqt!2.:1~:J '~2'J :~f~~~r:. temente sistematizadas' ". 1 Moniz de Aragao, valendo-se da classica li~ao de Pescatore, prefe- re afirmar que, para se caracterizar a conexilo, e indiferente que os elementos "comuns", exigidos pela lei, sejam, ou nao, identicos. "Tan- to podera ocorrer identidade entre urn, ou dois, deles, como podera dar-se de serem 'comuns', is toe, semelhantes. A comunhao, ou seme- lhanga, pode levar a identidade parcial. Assim e que sao 'comuns' as 'a~oes' seem uma delas a causa petendi mediata for a mesma, embora seja diversa a causa petendi imediata".2 Conclui-se, pois, que nas inumeras situa96es nas quais a conexao se revela importante no ambito do direito processual, nem sempre, em to- das elas, e reclamado o mesmo grau de conex.idade pela causa de pedir. 3 Realmente, superficial exame da jurisprudencia evidencia que, em varias ocasioes, prevalece tal entendimento, ao se reconbecer, por exem- plo, conexas agao revisional de aluguel e agao renovat6ria;4 a9ao de <J} A conexiio de causas como pressuposto da reconvenfdO, Sao Paulo, Saraiva, 1979, p. 125. "' . Conexao e "trip1ice identidade", RePro, 29(1983):55. m Cf. Antonio Araldo Ferraz Dal Pozzo, Reflex6es sabre o litiscons6rcio, Justitia, 116(1982):175. Antonio Junqueira de Azevedo, valendo-se do denominado "princfpio de gradar;iio da conexdo ", assevera que "quanta mais prOximo das causas, na ordem 16gica e crono16gica, estiver o elemento comum a ambas, tanto rnais intensa ser:i a conexao" (Conceito, identificar;do e conexdo de cau~ sas no dire ito processual civil, tese, Sao Paulo, 1967, p. 82). '" Ac. do 2.0 TACSP no Agravo de Instrumento 362.257-0, 6." C., 17 _08.1982, rei. Eros Piceli: RT, 690:126: "Imp6e-se a reuniao, para um s6 julgamento, de · .. (.~( (·( (C.((.(;(;( .. ( l C.(·( ( C C (.( ( ( ( (.(.( .. (.()(.(.( .. ( ( .::.:·.c ' ' . :: ----- c36 ll- ANOTA<;OES E.l>IQ~DEMSISTEMATICA. despejo por falta de pagamento de alugueis e acess6rios e a9ao de con- sign"<;ilo em pagamento.5 Nao se deve supor. como ja se afirmou, que os respectivos fundamentos destas guardam total identidade. Com efeito, a causa petmdi remota da mencionada a9ao de despejo e integrada pel a existencia da rela9ao ex locato (fato constitutivo) e pelo inadim- pkmcnto dos alugueis e acess6rios decorrentes da Joca9ao (fato viola- dar). sendo o direito de perceber tais valores, pela ocupaqao de im6vel de propriedade do autor, a causa de pedir proxima. Enquanto na con- signat6ria a causa petendi "tern por conteudo a existencia da relac;ao jurfdico-material (obrigac;ao) e a existencia de fato obstativo de sua extin<;ao pela via normal do pagamento". Em outras palavras, "a causa lie pcdir prOxima cifra-se no dircito que tern o devedor a desonerar-se da obriga9ao. recebendo regular quitac;ao; a remota, por seu turno, e representada pelos fatos geradores do seu interesse de agir, ou seja, os fatos que de ram origem a sua necessidade con creta dejurisdic;ao e que tornaram adequada a tutela jurisdicional pleiteada" .6 A conexidade ai estabelecida e justificada, nao pela identidade de fumbmentos, mas, sim, pela afinidade concernente ii relac;ao jurfdica material. Igualmente, serao reunidas, como visto, duas ou mais demandas quando entre elas houver continencia, ou seja, quando houver identi- dadc subjetiva (partes) e fatica (causa de pedir), sendo o pedido de uma abrangente da outra ou outras. Dai- como explica Para Filho -,haver a doutrina conferido a con- tinencia a designac;ao de litispendi!ncia parcial, dada a coincidencia de elementos constitutivos entre duas causas, com a diferenc;a de que, em uma. o pedido e mais amplo do que na outra7 rcnovatOria e da revisional baseadas em urn mesmo contrato, pois hi identida- de de c::n.Isa de pedir configurando conexfio''. Na verdade, data venia, h<i, nes- sa hip6tese. parcial similitude de causae petendi remoras. '~' V ·· e. g .. Theotonio Negr5.o, C6digo de Process a Civile legislcu;;iio proces- sual em t·igor, 33. ed., Sao Paulo, Saraiva, 2002, nota 9 ao art. 103, p. 207. !/;) Cf. Antonio Carlos Marcato, A~·cYo de consignar;Cio em pagamento, 2. ed., Sao Paulo, RT, 1987, p. 67-8. aJ Tomas Para Filho, Estudo sobre a conexdo de causas no processo civil, tese, Sao Paulo. 1964. p. I 06. 37 2~ Modificac;iio introduzida Apenas alterando'o vocabulo "feitos" por "causas··, a antiga reda- c;ao do caput do art. 253, preservada no essencial, acabou sendo desdo- brada no novo inciso I. Veio agora inserido o inciso II, que tambem deterrnina a "distribui- c;:ao" ao mesmo juizo ja prevento, "quando, tendo havido desistencia, o pedido for reiterado, mesmo que em litiscons6rcio com outros autores". Antes de mais nada, deve-se dizer que a ideia contida ne~~el dis£2sitivo Jlierece ser aplaudida, porquanto, visa a debelar or~xe ru;LU- co rew;;;eri'dlivci; cons!stente na reitera<;ao inescrupulosa da mesma &,ID.aiicta;-nateiltatlva de ver a sua causa dlstrlbu{da a- um")u?ZQ;juc esposa entendimento cQ!!y~m~2£.u-;;le £~st~l-;;do na peti9YoTnkial. --"~_,_.~~~===-~·=~.,~~- - ~-~ ~·-~-· ~~~ ... ~-----~,=~~-~-~=-=--~~~~" 'D!LPJ:ati!;;a- que, diga-se de passagem, c.Q!!flg.l!.La,ab.!!~~.2JJES;~!:~':'!'l - V£!!l~~do tt_@~~~~£2.~.!:nai.2':.f~Biieg_<2~I!a£_~f>'LLcl.it1Y.sJ:i~.a.fede r~. -~~1.:~1!!£.2. nagu~!~~-J:l.£<:\!_~sE-~-C!l!~ __ S9_';!1£2:!'!!!!_J?lei t<,JJiill!\EV de n~!'?t;!L<;.aut~L9,LQ!! anl~.ill!!!_Q!}J!: A sofisticac;ao de tal atua<;ao, para elidir a distribui<;ao eletr6nica, chegou ao ponto de provocar altera<;ao nominal do primeiro litiscon- sorte, para que a a<;ao fosse distribufda a outro jufzo ... Para coibir esse modus procedendi niio faltou esforqo. A diretoria do Foro da Justic;a Federal de primeiro grau da Sec;ao Judiciiiria de Sao Paulo, por exemplo, baixou a Ordem de Servi<;:o 3/2000, que imp6s a obriga<;ao de ser instruida a petic;ao inicial com c6pia autenticada do CPF ou do CNPJ do autor.8 Nao obstante, pela flagrante inconstitucionalidade contida em exigencia, violadora da garantia de amplo acesso ao Poder Judiciario <Sl A primeira p<igina do novo cademo Legal & Jurisprudencia da Gazeta Afer- cantil, ed. de 10.01.2001, noticia (sem maiores detalhes) que aJustip Federal da 2.a Regi5.o adotou novas regras "para assegurar a manutenc;fio do jui=-. natu- ral... Com a medida, o Tribunal quer evitar uma estrategia adotada por advo- gados para driblar o sistema informatizado-que distribui os processes aleato- riamente ~ atraves da entrada de virios processes sernelhantes. com auto res diferentes, que sao distribuidos pelo sistema para os juizes. Quando urn pro- cesso vai para as maos do desembargador cujo entendimento juridico seja favon'ivel a causa, o advogado pede a desistencia nos demais processes". ((((((((((((((((((((((((((((((((((( ,.,. ;. : 38 II- ANOTA<;:OBSEMGRDEMSfSTEMATiCA · (CF. art. 5.', XXXV e LV), nao demorou muito para que a diligente Associa<;ao dos Advogados de Sao Paulo se insurgisse contra aquela,' ao argumento de que a exigencia en tao criada, a! em de afrontar o texto da Lei Maior, viola o art. 282 do CPC, ao instituir requisito para o recebimento da peti<;ao inicial no protocolo do distribuidor. Acresceme-se que no vitorioso mandado de seguran<;a impetrado pela AASP foi invocado significativo precedente da 1.' Turrna do STJ, que teve oportunidade de examinar hlp6tese identica no Recurso Ordi- nario 3.568-9-RJ, relatado pelo Min. Humberto Gomes de Barros, cuja ementa e a seguinte: "A Portaria 253/92 do Juiz Federal Diretor do Foro da Se<;ao~Judici:iria do Rio de Janeiro, ao deterrninar se recusem peti,·ocs iniciais, quando nao acompanhadas do CPF das partes, incide em ilegalidade. Nao e licito ao Poder Judici:irio estabelecer para as peti<;oes iniciais, requisite nao previsto em lei federal (CPC, art. 282)". !2l_ante dos tenn~ do J.lP...\C.o_w_;?_?J .. ~!?riiJl~£§.§.§fu:iJLQ.ap.e.rl'e.i£Q;J ~n to £12. sisteJ.ill\.d.e~.dis!rib1Ji(j!g~_.£.QllL\lSie.l\enxolvimenJo.~jmJ?1~gJ!l <;ao d;~_§I)J:l:!ya,:,.:u:s!le.c.illc_Q,il)_~ll!~iE.i!Y.an!Q1l2.£f:l~~IE~',l~{).<;l_~,?a dos c.l~Ql)Q!LQs ~'Le!HJJ.ilisiitts£.onsoues. 3. Criticas a altera\aO legislativa A despeito da importiincia dessa nova regra, verificam-se, pelo menos, duas falhas tecnicas em sua reda<;ao. Em primeiro Iugar, alude-se a desistencia da demanda, assim en- tend ida como a abdica<;ao expressa da posi<;ao processual, alcan<;ada pelo au tor, ap6s o ajuizamento daquela. lnfere-se, pois, que, em consoniincia com 9 novel inc. II do art. 253, ,;lc<t~.si>I.encia.d<~.cdemandamesmo~~a;;:~itii~ii.\i',Jii.s~Ef{jt;:f a sitr,pJs.~dis.il:fu\li£ii9~,g~@~.PSlCYA;JlSliQ.Jlil!:a.£!,l~,'!.J~l!£,~~,£!:i,~n!,e. l:il!"AC.e, ~~u;.l,4U<>0SS'il"R0¥ida<le..afw.J:!!il-2, tradicional preceito d().£~e~'L2.£. art. 2.L\LJ.o.£I:C~.1"A cita<;iio valida toma~preventoo}U!zo~~·). Nunca e demais lembrar que o direito e um todo harmonico que hade ser apre- ciado em seu con junto ... Ademais, mesmo que nao haja desistencia expressa, ha, na lei pro- cessual, outros comportamentos ou expedientes que dao margem a extin<;iio do processo. '" Cf. Bole tim da AASP, 2.187(2000): L 39 .. -.----~--·-- 0 abandono do processo, contemplado no art. 267, III, seria assim urn caminho para fugir a letra do inc. II do art. 253. Igualmente, ate mesmo a distribui<;ao sera cancel ada, na dic<;ao do art. 257, tambem do CPC, se o autor nao providenciar, dentro de 30 dias, o pagamento das custas iniciais. Ora, em todas estas hip6teses, que evidentemente nao configuram desistencia (art. 267, VIII), a reitera<;iio da demanda ira propiciar dis- tribui<;ao livre! Impende aindareconhecer que o legislador dixit minus quan voluit, uma vez que, o autor, percebendo algum equfvoco porventura constan- te da peti<;ao inicial, podera desistir da a<;ao, e, em seguida, ajuizar outra demanda, mantido o mesmo pedido, mas com diferente funda- menta<;ao. Nao se trata, como e curial, de demanda identica. No entanto, como a lei, no apontado inc. II, refere-se especificamente a pedido, causas substancialmente diferentes que contenham pedido identico passam agora a ter, para os fins do art. 253, o mesmo tratamento! r c c c \ c c c c· c c c c c · c 1 < c c c c c c c' c · ( ·. c c c c c c c c ''', ;. '{' . ,.,., :: ._..,, -.- ---· --=--- . ._ .. ___ , -·--·-7:::::~- -· ·--- -- Art. 273. [ ••• ] § 3.' A efetiva<;:ilo da tutela antecipada observara, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588,461, §§ 4.'e 5.0 , e 461-A. [ ... ] § G.o A tutela antecipada tambem podera ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parce!a de~ les, mostrar-se incontroverso. § 7.' Se o autor, a titulo de antecipa<;:ao de tutela, requerer providencia de naturezacautelar, podera o juiz, quando pre- sentes os respectivos pressupostos, deferir a medida caute- lar em carater incidental do processo ajuizado . 1. Incidencia das medidas de refor~o Depois da precedente reforma, ditada pela Lei 8.952/94, que alte- rou substancialmente o regime da tutela antecipada, com a introdw;ao no sistema processual do importante art. 273, a praxe forense tern en- contrado imimeras dificuldades para a efetiva<;ao das decisoes anteci- pat6rias, catalogadas como executivas em sentido lato, e, ainda, nas situ;u,;oes em que se procede por sub-rogaqao. Tendo presente esse S<'rio problema, a Lei 10.444/02 em boa hora estcndeu a aplica<;ao das medidas coercitivas tambem nas hip6teses prccoriizada·; no art. 273, ao dispor no§ 3.0 que: "A efetiva<;ao da tutela antccipada obscrvara, no que coubcr e conforme a sua natureza, as nonnas prcvistas nos arts. 588,461, §§ 4.0 e 5.0 , e 461-A". Assim, torna-se mais eficiente a execu<;iio provis6ria do provimen- to antccipat6rio atinente a obriga<;ao de pagar quantia certa, porque, com a nova reda<;ao do art. 588, e possfvel, mediante garantia id6nea, proceder a aliena<;ao do bern do devedor (inc. III). A cau<;ao, outrossim, passu a ser dispensavel na hip6tese de credito alimentar nao superior ao valor de 60 sa!arios mfnimos, desde que o excqUente com prove o seu estado de necessidade (art. 588, § 2. 0 ). --~---·· .. ART . .273 41 --- ·----~-- -.-.. ,_,_ .. ____ ., __ .. Ademais, praticamente todas aquelas medidas de apoio (coerciti- vas, punitivas ou assecurat6rias) para tornar mais eficaz a satisfa.;ao decorrente da tutela ·antecipada, a exemplo do que se observa como regime das antecipat6rias especificas ( obriga<;6es de fazer ou niio fazer -art. 461 ), notadamente as regras que permitem a imposic;ao de multa (461, § 4.0 ), e utilizaqao de providencias necessarias a efetivac;ao da tutela ou obten<;ao do resultado pnitico equivalente ( v. g., busca e apreen- sao, remo<;_:ilo de pessoas ou coisas, desfazimento de obras, impedi- mentos de atividade nociva, requisi<;iio de for<;a policial- 461. § 5.0 , e 461-A), sao agora aplicaveis a tutela antecipada do art. 273. Afinada com essa novidade, na hip6tese de eventual abu>o do de- vector configurar ato atentat6rio ao exercfcio dajurisdi{'Cio, inc ide ain- da a san<;_:ao prevista no atual par. lin. do art. 14, cujo escopo precipuo, em pro! da efetividade da tutela dos direitos, e o de coibir a desobe- diencia, dentre outras, das decisoes antecipat6rias executivas lato sen- su, fundadas no art. 273. 2. Pedido incontroverso e tutela antecipada Para dar infcio ao processo de conhecimento, cum pre ao au tor pro- vocar a jurisdi<;ao solicitando uma determinada especie de provimento (pedido imediato), para tutelar urn bemjuridico (pedido mediato). A providencia jurisdicional que vern en tao reclamada, quando aco- lhida, redunda em uma senten<;a que, dependendo do tipo de demanda proposta, sera meramente declarat6ria, constitutiva, coridenat6ria, mandamental ou executiva, mas (em tese) sempre util ao autor. Anote-se que a petic;ao inicial deve cooter, como exigencia formal minima, alem da explicita referencia as partes, a indicac;iio da causa de pedir e do pedido. Assim, basta por exemplo que o autor descreva a relac;ao locaticia e a ulterior falta de pagamento (causa petendi remota e proxima) e extraia desse contexto fatico-juridico a conseqliencia previs- ta na lei, qual seja a rescisao do contrato eo despejo do im6vel alugado. E evidente que a complexidade dos epis6dios da vida relevantes para o direito, em certas ocasioes, ref!etem no plano do processo. Des- se modo, nada obsta que uma unica pretensao venha escudada em va- rios fatos e fundamentos juridicos. Normalmente, urn unico pedido singulariza uma unica demanda. Trata-se, nesse caso, de pedido simples, como, por exemplo, a conde- ( . ( ( . ( ( . ( ( c ( ( ( c ( ( ( ( ( c ( ( . ( ( c . c ( . ( ( c ( c ( c . ( c, ' '. -. "( .- .. ,.-, 42 II- ANOTA<;:OES EM ORDE!vLSlSTEMATICA ----- --- - --- -- ·- ~---·-· " -- -·----:--.-.:_-- -- :~=-: ··- --·-- na<;:io a restituicao do bem reivindicado· a rescisao do contrato de man- data... · ' No entanto, norteadas pelos imperativos da economia processual e da harmonia de julgados.' inurn eras Iegisla<;oes autorizam a cumulat;iio de pedidos em uma mesma demanda. Prescreve, com efeito, o art. 292 de nosso C6digo de Processo Civil, que: "E permitida a cumula<;ao, num tlnico processo, contra o mesmo reu, de varios pedidos, ainda que entre eles nilo haja conexilo". Explica Araken de Assis que, dependendo da natureza do cumulo de pedidos, o autor desejani a procedencia de todos eles, ou, entao, de pelo menos urn dentre aqueles que foram formulados. Dai, a tradicionai distinc;ao doutrinaria entre cumulaqiio propria, que encerra as hip6teses nas quais e admitido o acolhimento conjunto dos pedidos, e cumularao impr6pria, em que, por for<;a de fatores pe- culiares ao dire ito material controvertido, a procedencia de uma pre- tensiio exclui a das demais. Naquela primeira categoria, marcada pela simultaneidade ou mul- tiplicidade de pretensoes, incluem-se as especies de cumulac;ao sim- ples e cumula<;ao sucessi va ( o de man dante busca o atendimento, ao mesmo tempo, de mais de um pedido); enquanto, na segunda, delimi- tada pela singularidade de pretensao, insere-se a tipologia de cumula- <;iio alternativa e cumula<;ao subsidiaria (o demandante deseja que o reu cumpra wna das presta<;oes da alternativa; que a senten<;a condene o reu no pedido subsidiario caso nao possa reconhecer a procedencia do pedido antecedente).' t!J V .. acerca das possfveis justificativas da cumula~ao objetiva de demandas, Teresa Armenta Deu. La acumulaci6n de autos (reuniOn de procesos conexos), Madrid. Montecorvo. !983, p. 48 ss., rnostrando que nern sempre aque]as duas exigCncias encontram-se presentes de modo absolutamente simetrico em todas as hip6tcses de climulo de pedidos: v. g., na curnula>;ao simples prepon- dera a economia processual; na cumula<;ao sucessiva e a harmonia de julga- mentos que irrompe mais relevante. '") Cf., em senso praticamente idSntico, Jose Alberto dos Reis, Comentcirio ao C6digode Processo Civil, v. 3, Coimbra, Ed. Coimbra, 1946, p. 144; Carolina Fons Rodriguez, La acumulaci6n objetiva de acciones en el proceso civil, Barcelona, J. M. Bosch, 1998, p. 78-9; Araken de Ass is, Cumuia-;:ao de a-;:oes, cit., p. 230. ., __ :_:_:_y·· -'·-~.:::,.;::," --- -- . ~~ARI..273 -43 .. ··--·--··--- ·---··-- --·-·-· Pais bem, com o prop6sito deiiberado de aperfei~oar o instituto da tutela antecipada, foram introduzidos dois paragrafos no art. 273. Acolhendo-se su'gestao formulada por Luiz Guilherme Marinoni, pelo disposto no novo § 6.0 , havendo cumulaqao simples ou sucessiva de pedidos, a antecipa<;ao pode ser deferida nos limites da materia in- controversa, resultante, por certo, da prova inequfvoca produzida ja com a petiqao inicial, ou, ainda, admitida pelo reu ap6s a contesta9ao. Nessa hip6tese, o grau de probabilidade da procedencia do pedido incontroverso delineia-se tao elevado, que justifica plenamente o defe- rimento da antecipa<;:ao requerida pelo demandante. 3. Fll1ifihi~(ia!lfJP~ A introdu9ao do § 7.0 vern miti'gat'iFex-eges" estritamente formalis- ta que se verifica na pdtica. em detnmento da urgencia de determina- das sttuac;oes. Jamais se aconselha gue a forma sacrifigue o direito do jurisdicionado. Assim, pela nova regra jy:s.r-ap·osta>ao art. 273 (§ 7 .0 ), se porventura o autor formular, na propria peti<;:ao inicial,cacguisit de antecipa<;:ao de tute- la, pedido de natureza cautelar, podera o juiz, quando presentes os res- pectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em carater incidental. Apesar de nossa firme convic<;aono senti do de que os _provimentos sumanos antecipat6rios nao se confundem com aqueles de natureza es- t.!:!_tarnente cautell!L que visam a asseiitili' situa<;5es urgentes, tendendo a resguardar a utilidade futura da tutela junsdicional, o certo e que enfren- tamos enorme ddiculdade para meulcar nos operadores do direito, sob a perspectiva da praxe forense, os desdobramentos da diferen<;a ontol6gi- ca entre as duas primordiais modalidades de @§JU'inapaae:~fll~t~~ E, por essa significativa razao, parece-nos absolutamente acertado 9,££'H!().~"vista sustentado, em inumeras oportunidades, por<\!;1l£1"Et:!'il eb~~~~consistente na afirmaqao de que a estrutura formal Cau- t6noma ou incidental) em nada influi na natureza da tutela. Coerente com a onenta<;ao que adota sabre essa relevante tematica, assevera que: "o pedido de sustacao de protesto, que tem nftido carater antecioa- t6rio de efeitos do futuro rovimento sabre a invar ade de cambial, po e ser p eitea o de forma aut6noma, pais muitas vezes a parte inte- ressada ainda nao possui todos os elementos necessarios para a propo- situra da demanda principal. Ainda que requerida no bojo do processo ' ( ' ' ( (.CCC(((.( ( ( (' (,( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ' ( ) ( ' ( l~> <:':'';';: <•; ,.:· :I. ., ;~ : " ' ,--:. II- ANOTA<;:6ES EM ORDEM §ISTE!>lATICA -~·~------·-------- ----=.·:-~·-=·~-:· cognitivo, caracteriza-se como cautelar incidental. Alem do mais, nao se pode excluir definitivamente seja a antecipacao requerida em proce- dimento aut6nomo. Desde que necessaria a utillzaqao dessa tecnica em determinada situaqao concreta, a fim de assegurar a efetividade da. tu- tela. deve ser admitida. Questoes meramente formais nao podem obs- tar.,::_realiza<;ao de valores constitucionalmente garantrdos".3 - Tal-J:Iomrinaeao veio consa<>rada em ac6rdao uniinime da 12." Ca- . " mara do Lo TACSP, proferido no julgamento do Agravo de Instrumen- to 806.046-6, relatado por Jose Roberto Bedaque, do qual se extrai que: " ... A antecipa<;ao parcial dos efeitos da tutela se mostra possfvel no caso concreto ... Tratando-se de tutela de urgencia e provis6ria, possfvel a incidencia da regra da fungibilidade, cabendo ao julgador adotar a solu<;ao mais adequada a preserva<;iio da utilidade do resultado final, desde que atendidos os limites objetivos da demanda ... ". End!JssandOJesse modo de ver a questiicm;ob·analis(!, enfatiz<{~ t!\oo;':Jliil;)QJ(lg:~que o novo § 7.0 do art. 273, alem de reconhecer a re:1!idade da experiencia do foro, constitui poderosa alavanca destina- d" a remover preconceitos, sendo certo que. tal dispositivo deve ser inter ret o " elo ue dis e elo ue nao disse", uma vez que, tam- bern na hip6tese in versa, na qual pleiteada medida caute ar, esde que prcsentes os respectlvos reqms1tos, devera ser defenda a tutela antecJ- pat6ria cabfveL.4 01 Tutela catttelar e tutela antecipada: tutelas sumdrias e de urgencia (tentativa de sistemati::;a{:do), 2. ed., Slio Paulo, Malheiros, 2001, p. 388. (4-J lnformatiro !ASP, 56(2002):4. V., ainda, Dinamarco, A refonna da reforma, Sao Paulo, Malheiros, 2002, p. 91-2. ----- ~-----·-- ------·---~-- --~ --------- - . ----·- --- ""'"""'"" . --- ~ -- -- -·----· --· ---~- .c.. .... Art. 275. [ .•. ] I- nas causas, cujo valor nao exceda a 60 {sessenta) ve- zes o valor do sal<irio mlnimo; [ ... ] 1. Aumento do valor maximo para o procedimento sumario Havia uma evidente incongruencia no sistema procedimental, uma vez gue, enguanto o art. 3.0 , I, da Lei 9.099/95 estabe!eceu o teto de 40 salanos mfnimos para o interessado se valer @ Iqi?;ado Especial Cfvel, o art. 275, I, do CPC, continuou preso ao valor de 20 vezes o salario rnfnirno! Assim, em boa bora a coerencia do sistema veio resgatada, com o anmento agora introduzido, equivalente a 60 sa!anos mfnimos, como valor maximo pennitido para a causa se subordinar as regras do proce- dimento sumano. !!£je, portanto, ate o valor de 40 salarios, o litigante pode escolher a via do Juizado Especial ou a Justi<;a Comum, na gual se procedeni pclo procedimento sumano. Entre 40 e 60 salarios rnfnimos, somente este e que senl. o adequado. 2. Harmoniza~ao do valor Com essa a!tera<;ao, alem de atender as exigencias da realidade forense e<>islador e ui arou esse valor com aquele fixado no art. 475, que dispensa o reexame necessano da sen ten a rofen a contra a Uniao, o Estado, o JStrito ederal, o Municipio, e as respectivas au- tarquias e fundas;oes de direito publico, quando nao ultra£assado o re- ferido patarnan Ressalte-se, por outro !ado, que 'i?ntinua plenamente emyigoro dis£OSto no inc. II do art. 275, sendo imhrvlaasoo,que, independente- ( ( ' ( ( ( ( ( c ( ' I ((((('((( (((((( . -( ', '' -- . ~- ----~-- '"~ ··-- ~-- 46 11-ANOTAt;:OES EM ORDEM SISTEMATICA - --- ---- ------- ------··---.-.------ -------~----- ··· --------- mente do valor, as causas af elencadas se proce§sam pelo procedimento sumano. - 588, § 2.0 ). ·_--:__ --- ·-~' ,_"'" __ _ 'r.1'-i"/!/;Uo'"" ~ \}ti'J~J,- ol \9._ l·tU \0 •' \;' ~<J:)JJ !j.J.! '; 1 o~~u .~" r.J' Vi -"\) ( cw ~ Art. 280. No procedimento sumario nao sao admissfveis a ~;,.,>1, 0 ~)' L a~ao declarat6ria incidental e a interven9ao de terceiros, sal- y~' .0- vo a assistencia, o recurso de terceiro prejudicado e a inter- ' \J ~,..,..; '" \ ven~ao fun dada em contrato de seguro. 0;J])Y{V!;~~,_tfdJ i)J)JY'l.. Problema advindo da anterior reforma A Lei 9.345/95 alterou a reda~ao original do art. 280, estabelecen- do no inc. I que, no ambito do procedimento sumario: "Nao sen\ ad- missive! a~ao declarat6ria incidental, nem a interven~ao de terceiro, salvo assistencia e recurso de terceiro prejudicado" . Ocorre que ~radical proibicao. cujo eSCOJZO se coaduna com a estrutura do procedimento sum:irio, acabava conspirando contra a eco- ri"omia processual em uma· das situac6es mais freqiie..!!~ gual seja, a acao de ressarcimento por danos causados em acidente de vefculo de via terrestre (art. 275, II, d). E isso porque, obscada a denuncia~ao da !ide a seguradora, torna- va-se necess:irio o ajuizamento de outra a~ao auto noma e sucessiva em face da seguradora, decorrente do dire ito de regresso do segurado, con- denado na primeira Geli:1ailcla. --De outro lado, se porventura o reu procedesse a denuncia~ao a seguradora na contesta~ao apresentada em aud!encm, o JU!Z pooeria en tao, por fon;;a do disposto no art. 277, § 4.6 , converter o procedimen- to sumario em ordinaria. A pratica mostrava entao que esse dilema acarretava enorme pro- blema ao jurisdicionado que se via diante de tal situa~ao. 2. Modifica~iio introduzida Certamente para erradicar tal impasse e que a nova lei, agora no caput do art. 280, restringiu o 6bice a a~ao declarat6ria incidental e a interven9ao de terceiros, autorizando expressamente a assistencia, o ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( . ( s . ~.- <- -. -48 rr -ANCrrA<;:6Es EM 0RDEMSISTE~\At1tA-- .. ·- 'Teen r>o ao· terceiro prejliilicado 'e• a-111 Terv~l~lliiTftzhdada fiiiiconirata-~·~c de seguro. V2-se, de logo, que. c2m essa expressao "intervenyao funda~ em c:;_ntrato de seguro", o Iegislador voltou a £,ermitir que, na referi~ao de md\JllZ;l~ danos causados em acidente de transito, eossa o reu denunciar da !ide a seguradora, nos termos do art. 70, III, do CPC. lmportante ressaltar que somente a denuncia~ao da !ide alicen;ada em contrato de seguro e que passa a ser possfvel no procedimento su- mario, excluindo-se, portanto, quando configuradas, as demais hip6te- ses art. 70. "\dmitida a denunciasao da !ide, dever~s~processada E~undo os arts. 'I e se~. do CPC, com aUte,;gssrit;ias a~~£!S do p_rocedin;_,~nto s':lmario. Feita a d~t..lll.C~Q pelo autor, a [?eti~~ini
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