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Luiz Houri~ues Wamuier .. Teresa ~rruua Mvim WamlJier Jose Mi~uel Garcia Metlina Breves ~omentarios a Nova ~istematica Processual ~ivil • Emenda Constitucional n. 45/2004 (Relorma do Judiciario) • Leis 10.444/2002; 10.358/2001 e 10.352/2001 • 3.0 edi!UO revista, otualizoda e ampliada da 2.0 edi!ao dn obru Breves Comentarios a 2.0 fase da Reforma do Coaigo de Processo Civil "Trato-se, no verdode, do 3.' edi)nO, revisto, otuolizodo e ompliodo, dos Breves Comentarios a 2.' Fuse da Reforma do C6digo de Processo Civil, que, em duos edi)oes, comentoram os olte- ra)oes sofridos pelo CPC,em razno dos Leis 10.352, de 26.12.2001, 10.358, de 27.12.2001 e 10.444, de 07.05.2002. · A ohra loi profundomenfe modilicodo. Ao trabolho dos outores dos duos primeiras edi)oes, Luiz Rodrigues Wombier e Teresa Arruda Alvim Wombier, se soma, agora, o trabolho de urn terceiro oufor, Jose Miguel Gordo Medina. Alem disso; a partir desta edi)no, os Breves Comentarios dizem respeito nno so ii dispositivos do Codigo de Processo Civil, mos tambem aos preceitos inseridos no Consfifui)no Federal, pelo Emendo Consfitucionol n. 45/2004, alguns que tern reflexos evidentes no direito processuol civil e 'outros que se consubstanciam em materia processual." (Oa Apresenla}iio a3.' edi}iio.) --- ~-~$ c::=E S g~~ -~.§-~ -~-== -E;;=:o.....:r5 ~E~ 'E::; ..!';;":-= --" ~-~ ~-? ="" c-::s c= = """" e;:, = = :::= 0:::: c= -= -· ... ~:; E = _,.__, cr.> c;:;5 c= ;;=- = = ·-= c.<:> -= ~~ ..-,..:; =:: = = = <:::.-"> cr.> = ==- = ::o- = luiz Ron1Ji~ues Wamnier Teresa irrmla Alvim Wambier Jose Mi~uel Garcia Medina Breves Comentarios a Nova ~istemauca · ProcessualllivH • Emenda Constitucionul n. 45/2004 (Relorma doJudiciario) ·Leis 10.444/2002; 10.358/2001 e 10.352/200.1 :i47;•ii1-;J\s .io1.. 73 (81) (091 .4 :o. o ((((((( ( ( ( ( ( c ( (((((( r r c~·· c· ( " ' ' ' tulz nouriuues Wamllier SUMAIUO APRESENTA<;:Ji.O A 3.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 7 NOTA DOS AUTO RES DAS EDI<;:OES ANTERIORES ....... ~.............. 9 APRESENTA<;:Ji.O A 2.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 11 APRESENTA<;:Ji.O A 1.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 13 PARTE! REFLEXOS DA REFORMA CONSTITUCIONAL NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO Art. 5. •, LXXVIII Dura91io razoavel do processo . .................................. ............... ... ... . .. 25 Art. 93, IX Motiva91io das decis5es judiciais- Publicidade dos atos processuais . 32 Art. 93, XII Elimina91io das ferias coletivas nos jufzos de primeiro grau enos tri- bunais de segundo grau ...... :'···············"··:: .. :::~ .. ~.:............................... 47 Art. 93,XIII Quantidade de jufzes-, lllJmeLQ_pSQ!lOfciOnaJ a efetiva demat~da e a po- pulaviio ............................................................................................... 49 Art.93,XIV Atos de administra91io - atos meramente-ordinat6rios - pnitica por servidores, e nao por jufzes •. -.. -.... -.-...... -.-.-.• y,yo7•:--:0::.:•7•::"..:c~ ... x·:•o:•:~·:.-.-.-..................... 51 Art.93,XV Distribuiviio imediata -dos.processos::_~;:::~:S~,~-~~~~:.,~.::,:.~:,.,......... 55 -: 2(f - . B~\iES_~OMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL --ArCio~-;J!I;alinea<(::::.~:::=-: - ___ Re9urso _!'Xtr_aordi_n_at:iQ _,-amplia9ao das hip6teses de cabimento - questao constitucional sobre a va!idade de lei local contestada em face de lei federal .............................................................................. . Art.102, § 2. 0 A<;ao declarat6ria de constitucionalidade- a<;ao direta de inconsti- tucionalidade- eficacia erg a omnes- efeito vinculante- Poder Ju- diciario eAdministra<;ao Publica direta e indireta- esferas federal, estadual e municipal- efeitos ex nunc e ex tunc- senten<;as transita- das em julgado- a<;ao rescis6ria e a<;ao declarat6ria de inexistencia (querela nullitatis insanabilis) .......................................................... . Art. 102, § 3." Recurso extraordinario - necessidade de demonstra<;lio de repercus- 56 59 sao geral - novo requisito de admissibilidade ........... ....... ...... ... . . ...... 97 Art.103·A Sumula vinculante- objeto- criterios para a cria<;ao, revisao e cance- lamento- cabimento de reclama<;ao ................................................. . 106 Art. 105, III, aliuea b Recurso especial - resrri<;ao das hip6teses de cabimento - questao sobre a validade de lei local contestada em face de lei federal .......... 129 PARTE II A REFORMA DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO Art.14 Deveres das partes e de todos OS que participam do processo - nao dificultar o atingimento da finalidade do processo- san<;ao ............ . 131 Art. 253 Distribui<;ao por dependencia- nova hip6tese................................... !55 Art. 273 Tutela antecipada - execu<;ao e efetiva<;ao da providencia - pedido incontroverso- medida cautelar- "fungibilidade" ........................... I 65 SUM ARlO 21 Art. 275 Procedimento sumario ~valor da causa ............................................ . 183 Art. 280 Proceditnento surriario- contrato de ·seg1iroc.,, ....... ,,; ...................... .. 185 Art.287 Extensao do regime do art. 461 ....................................................... ... 197 Se~lio III do Capitulo V do Titulo VIII do Livro I Altera9ao do nome ....................................................................... , ... .. 201 Art.331 Audiencia preliminar- hip6tese para designa<;ao- possibilidade de representa<;ao das partes por procurador ............................................ 202 Art. 407 Testemunhas- deposito do rol- prazo ............................................. . 209 Art. 431-A ~ Prova pericial- ciencia da data e local do inicio '- intima<;ao ........... 211 v Art. 431-B ·~ Prova pericial- pericia complexa .................................................... ~ 211 - Art. 433 ·- Prova pericial-prazo para apresenta<;ao dos pareceres dos assistentes tecnicos- intima<;ao das partes ........................................................ :. 223 \..__-.' ~- Art. 461 -"-.../- Efetiva<;ao da tutela especffica ........................................................ ; .. · ~ 230 Art. 461-A '-J '-' Obriga<;ao de entrega de coisa- unifica<;ao dos regimes de efetiva<;ao da decisao ........................................................................................... 238 -~ Art.475 ~ ~ Reexame neeessario- supressao de uma hip6tese.,. cria<;ao de exce- 96es .................................................................... :;.............................. 241 -~ 22 BREVES COMENTAR!OS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL Art. 498 Prazos - recursos excepcionais - embargos infringentes .................. 253 Art. 515, § 3.0 Apela<;ao - julgamento da !ide pelo tribunal - supressao do duplo grau .................................................................................................... 258 Art. 520, VII Apela<;ao- ausencia de efeito suspensive- antecipa<;ao de tutela.... 275 Art. 523, § 2.0 • Agravo retido- prazo para contra-razoes- reforma da decisao ........ 283 Art. 523, § 4.0 Agravo retido- decisoes proferidas na audiencia e depois da senten<;a - exce<;oes .......................................................................................... 283 Art. 526,paragrafo unico Agravo de instrumento - onus - juntada da peti<;ao de agravo nos autos do processo ............................................................................... 290 Art.527 Agravo de instrumento - possibilidade de conversao de agravo de instrumento em agravo retido- possibilidade de atribui<;ao de efeito . ativo e de antecipa<;ao da tutela recursai ............................................ 296 Art. 530 Embargos infringentes- redu<;ao das hip6teses de cabimento .......... 308 SUMARIO 23 Art. 542 Recursos especial e extraordinfirio - protocolo - vista para contra- raz6es- usa do protocol a integrado .................................................. 320 Art. 544, § 1.0 Recursos especial e extraordinario - agravo de instrumento - novas pe<;as obrigat6rias- capias dedaradas autenticas pelo advogado ..... 324 Art. 544, § 2.0 Recursos especial e extraordimirio- agravo de instrumento- dispen- sa do pagamento de custas e despesas postais ................................... 324 Art. 547, paragrafo unico Protocolo descentralizado .................................................................. 330 Art. 555, § 1. • Julgamento de apela<;ao ou agravo- quorum.................................... 331 Art. 555, § 2.0 Versao abreviada da uniformiza<;ao de jurisprudencia ....................... . 331 Art. 575, IV Senten<;a arbitral- competencia para execu<;ao ................................. 339 Art. 584, III Senten<;a homologat6ria de transa<;ao ou concilia<;ao- tftulo executi- ve judicial .......................................................................................... 341 Art. 584, VI Art. 531 .... .. . .. ·-··- .. _______ Senten<;a arbitral - tftulo executive judicial ....................................... 341 Embargos infringentes- contradit6rio- momenta ........................... 315 Art. 588 Art. 533 Novo regime da execu<;ao provis6ria- possibilidade de atos de alie- Embargos infringentes- processamento ...................................... ;;;;;--318-------T- -na<;ao- cau<;ao- dispensabilidade .................................................... 350 Art.534 Art. 604 Embargos infringentes- normas regimentais- novo relator .:: .. ;:;:;:::·c-318 :."-'. - +c-:-:c':~ ·:: .. Memoria do calculo- dados nao disponfveis- providencias ............ 364 -- ~ - ~!- 24 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL Art.621 Obriga~ao de entrega de coisa- execu~ao de entrega de coisa -tftulo extrajudicial ....................................................................................... 376 .Art. 624 Obriga~ao d~ ~niregade coisa- exci:il~ao de'entrega de coisa- tftulo extrajudicial .... , ................................... , ............................................ .. 379 Art. 627 Obriga~ao de entrega de coisa- execu~ao de entrega de coisa- tftulo extrajudicial ............................... ~....................................................... 380 Art. 644 Uniformiza<;ao dos regimes de efetiva<;ao da decisao ........................ 381 Art. 659 Penh ora- registro- fun<;ao- realiza<;ao por termo nos autos........... 383 Art. 744 .. Execu<;ao para entrega de coisa- embargos de reten<;ao por benfeitorias . 388 Art.814 Arresto- comprova<;ao do fumus bani iuris ...................................... 390 DIREITO INTERTEMPORAL ............................................................... 395 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 413 ANEXOS I. Lei 10.352, de 26 de dezembro de 2001 ........................................ 433 2. Lei 10.358, de 27 de dezembro de 200 I ........................................ 436 3. Lei 10.444, de 7 de maio de 2002 .................................................. 437 4. Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004 (artigos comentados) ................................................................................... 441 OBRAS DOS AUTO RES........................................................................ 445 . ''-, '.-· . PAKTEI ,.:._<_;,-, CF, art 5.0 , LXXVIII Altera~ao por inclusao: Art. 5.• [ ... ] LXXVIII- a todos, no ambito judicial e administrative, sao assegurados a razoavel duravao do processo e os meios que garantam a · celelidade de .sua trami!avao. COMENTARIOS Por fon;a da Emenda Constitucional n. 45, promulgada em 08.12.2004, foi acrescido ao art. 5.0 o inciso LXXVIII, que assegura a todos, tanto no ambito do processo judicial quauto do processo adminis- trativo, o dire ito a razoavel durar:ao do process a, bern como a meios que garantam que sua tramitac;:ao se de de modo celere. A Constituic;:ao Fede- ral italiana contem disposic;:ao semelhante, em seu art. 111.' '" "La giurisdizione si attua mediante ii giusto processo regolato dalla Iegge. [ ... ] La Iegge ne assicura Ia ragionevole durata." A respeito, cf., dentre outros, LUIGI PAOLO COMOGLIO, Garanzie costituzionali e "giusto processo", Revista de Processo, v. 90, p. 95-150, abr./jun. 1998; idem, II "giusto processo" civile nella dimensione comparatistica, Revista de Pro- cesso, v. 108, out./dez. 2002 p.133-183; GIUSEPPE TARZIA, II giusto processo di esecuzione, Rivista di Diritto Processuale, v. 57, 2002, p. 329-350; SERGIO CHIARLONI, II nuovo art. 111 Cost. e ii processo civile, Rivista di Diritto Processuale, v. 55, 2000, p. 1010-1 034; NICOLO TROCKER, II nuovo articolo 111 della costituzione e ii giusto processo ·r ·v -'J· -- v '}" ~· ' :? ' 'l---' + ~- .t-" j ).J 26 BREVES COMENTAR!OS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CML A respeito, tecemos considera9oes quando comentamos a reforma do processo civil brasileiro (cf. infra, em especial comentarios aos arts. 14, 273 e 461 do CPC). A preocupa9iio com celeridade, tempestividade e efetividade da tutelajurisdicionallans;ada naquelas linhas aplica-se ao preceito constitucional ora comentado. Segundo pensamos, a garantia de razoavel durarao do processo constitui desdobramento do princfpio estabelecido no art. 5.0 , XXXV. E que, como a lei nao pode excluir da aprecia9ao do Poder Judiciario lesao ou ameara a direito, e natural que a tutela a ser realizada pelo Poder Ju- diciario deve sercapaz de realizar, eficazmente, aquilo que o ordenamen- to jurfdico material reserva a parte. E eficaz e a tutela jurisdicional pres- tada tempestivamente, e nao tcirdiamente. A presta9ao jurisdicional tardia, deste modo, pode ser considera- da, no mais das vezes, nma tutela jurisdicional VAZIA, sem conteudo. Segundo nossa conceps;ao de Jurisdi9iio, esta e funs;ao do Estado,2 ser- viyo publico prestado pelo Poder Judiciario.3 Falar-se em Jurisdi9ao estatal destitufda de instrumentos que permitam realizar no tempo de- vida o Direito implicaria rednzir significativamente sua importancia e rilzao de ser, especialmente sese considerar que, na sociedade moder- na, cada vez maior tern sido a preocnpayao com a materializayao dos direitos. Diante disso, em urn Estado que se pretende Democratico e de Direito, que idealiza e se compromete com objetivos tidos por essen- dais (CF, arts. J.O e 3.0 , dentre outros), deve a Jnrisdi9ao ser vista e estudada sob a 6tica de ser integrante deste esfor9o ou, mais que isso, realizadora pratica deste desiderata. Pode-se dizer, diante de tais considera96es, que e acertada a concepyao de Jurisdis;ao como atividade destinada a identificayao e imposi9ao do Direito, solucionando conflitos~a filii de se alcans;ar a pazjuridica.4 Como in materia civile: profili generali, Rivista Trimestra/e di Diritto e Procedura Civ}le,v. 55,2001, p.38!-410,. ··~··· · "' Cf. ANDREA PROTO PISANI, Lezioni di diritto processua/e civile, p. 758. "' . Nessese.!1ti(!o,_ARi\.I<:fil':LP!LASsJs;::9Qn(::ul:so especial de credores no CPC,p.23. "' Cf. OTMAR~JA:BERN!G;:Direito processual civil, p. 35. A expressiio -"pazjurfdk-a'~;:utitizada-pelo-processualista-aiemao,pode, segundo pen- samos, ser substitu~dapof segurtlnfa jurfdica, no .sentido que emprega- mos n"'t~)(_t()"-~~.~~ .•........•.. ------~~-=-'---· - CF, ART! GO 5.0 , LXXVIII 27 nao basta proclamarem-se direitos, o Poder Judich\rio deve ter como pro- teger e realizar tais direitos. Neste sentido, cresce no mundo modemo a preocupa9ao com a se- guranra juridica e a estabilidade das instituiroes jurfdicas. Evidente- mente, a demora da realiza9iio da presta9ao jurisdicional nao apenas e algo contraproduceilte, mas, mais que isso, vai contra a pr6pria natureza da tutela jurisdicional, de acordo_com afeirao que lhe foi atribufda pe/a Constituirao Federal. E que a prestarao jurisdicional tardia e Jatar de inseguranra, na inedida em que contribui para a intranqiiilidade do que seja, efetivamente, o sentido do Dire ito para as cidaooos. Nesse contexto, a reforma constitucional comentada institui prin- cfpios que constituem aspiraroes poUticas,ja que dispositivos como o ora estudado somente terao repercussao na realidade jurfdico-social na medida em que aqueles que interagem com a realizayao da tutela juris- dicional efetivamente cooperarem para a realizayao tempestiva da or- dem jurfdica. 0 direito processual civil moderno conhece diversos instrumentos que, ao menos no plano legal, realizam a aspirayao express adana Cons- tituiyao Federal. Os instrumentos a que nosreferimos abaixo, co men tan- do os arts. 14, 273, 461, 461-A, dentre outros, foram todos criados com a preocupayao de se realizar mais rapidamente possfvel o direito subjeti- vo da parte. Por "efetividade", no entanto, nao sedeve compreender necessaria- mente a tutela rapida, mesmo que insegura e instavel, da situa9ao sub- metida ao juiz. A cria9ao de mecanismos fundados em cogni9ao sum a- ria, se, por urn !ado, em muito contribui para a efetividade da tutelajuris- dicional, por outro, repercute inevitavelmente no plano recursal. E que, como a decisao fundada em cogni9ao sumaria tern maior probabilidade de erro, se comparada a seiltenya, naturalmente as partes tenderao a in- surgir-se com mais freqiiencia contra tais decisoes. Assim, a constru9ao de urn sistema jurfdico-processual racional requer nao apehas instrumentos que possibilitem a realizayao de tutelas de urgencia, normalmente fundadas em cogniyaO sumaria, mas instru- mentos que permitam a realizayao segura dos direitos, sem instabilidade. E que a inconstitncia jurfdica das decis6es, normalmente, repercutini em "respostas" das partes e da sociedade, que poderao provocar a dilatas;ao da litigiosidade, atraves de recursos contra as decisoes judiciais ou do ajnizamento de novas a96es. Por exemplo, as reformas processuais rea- 28 BREVES COMENTARIOS A NOVA SiSTEMATICA PROCESSUAL CIVIL lizadas na decada de 1990 tiveram;por finalidade melhorar a qualidade da tutela jurisdicional,mas reflexamente os Tribunais viram multipli~ car-se os recursos, demorandocse ainf!a~mais a resolw;:ao definitiva dos conflitos. E que tais reformas recentes aumentaram os poderes de inter- pret~((ao d()juiz,permiti!ldO que s~re<)!izem de imediatoos diryJ\(\syec ~ rificaMs corn p~se em merosjiifzos de verossirriilhan~a.~Evideniem~tite; como a qtJalidade da decisao judicial fundada em cogni((lio'summa ten- de a ser inferior aquela realizada combase em cogni((ao exauriente, e mais facil encontrarincorre96es e motivos pararecorrerem tais decisoes. Como em sede recursal, muitas vezes,, a parte provocara a prola9ao de decisao fundada em cognic;:ao summa (cf., p.ex., arts. 527, III, e 558 do CPC), tende-se a recorrer mais uma vez, manejando-se todos os recursos previstos no ordenamento jurfdico-processual, ate se encontrar uma so- luc;:ao jurfdicadefinitiva. Consideran<lo que a decisao que esta sendo exe- cutada e instavel e precma, em razao do grau reduzido de cognic;:ao que foi empregado pelo 6rgao judicial, e compreensfvel que a parte nao a cumpra, pois confia nao s6 na possibilidade de erro do juiz, mas tambem na instabilidade da jurisprudencia e na possibilidade de ver a tese que esta a defender sagrar-se vencedora em alguma das instancias recursais. Acrescente-se que os entendinientos jurisprudenciais evoluem rapidamen- te, e a orientac;:ao dominante de algum dos Tribunais Superiores pode alterar-se em favor do recorrente.5 Assim, a tutelajurisdicional tempestiva deve ser vista em sua rela- r;ao como meio em que deve atuar. Oeste modo, deve ser considerada a repercussao da decisao judicial entre as partes eo feedback deste evento em relac;:ao a pr6pria atividade jurisdicional, pois o desenvolvimento dos atos processuais nao e linear e unidirecional- is toe, nao se esgota com a concessao de uma liminar ou a publicac;:ao de uma decisao judicial-mas "' Exemplo recente: a Sumula 263 do STJ ("a cobran~a antecipada do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, trans- formando-o em compra e venda a presta,ao") foi enunciada em 08.05.2002 e publicada no DJU de 20.05.2002, p. 188. Durou pouco mais de urn ano, tendo sido cancelada em 10.09.2003 (cf. STJ, 2.' Se~ao, REsp 443143-GO, rei. Min. ANT6NIO DEPADUARIBEIRO,j. 10.09,2003, DJU29.09.2003, p. 142) e, atualmente, 0 tema e regulado pela sumula n. 293 do mesmo Tribunal ("a cobran~a antecipaja do valor residual garantido (VRG) nao descaracteriza o contratO de arrend3.ment:o rnercantil"), enuhciada em 05.05.2004, publicada no DJ de 13.05.2003, p. 183. cr:,-1\R.T!G~G~.\;'ikXXVfil'~- 29 "circular", porquanto~ aos atos,judieiaiSosueedelli.-comportamentos das partes que se ajustarao ou reagirao~contra·eles;-exigindo•se novos atos judiciais, e assim sucessivamente.De nada adianta criar soluc;:oes palia- tivas, que apenas iransferiifi() 0 problema para outro~Plano. Assim, a criac;:ao de mecanismos_de.tutela;fundados~emcognis:ao summa e importante, mas deve ser'dcaiiipaltiiitdiLJe mecdnismos que - garantam, igualmente, a definir;ao celere e precisa do dire ito executado. A durar;ao razoavel do processo, assim; sera aquela em que melhor se puder encontrar o meio-termo entre definis:ao segura da existencia do direito e realizac;:ao rapid a do direito cuja existencia foi reconhecida pelo juiz. A equac;:ao destinada a definir o que e durariio razoavel devera levar em considera91io diversos fatores, tais como: (a) Importancia do bemjurfdico emjogo:naturalmente, as regras processuais e a estrutura do Poder J udicimo devem estar preparadas para resolver rapidamente, por exemplo, questoes em que estao no centro da discussao a vida e a satide das pessoas, ou outros bens fundamentais. E que tais bens podem perecer, se nao se resolver celeremente o litfgio. (b) Repercussao da soluc;:ao jurfdica para asociedade: nos casosem que da soluc;:ao judicial podera resultar o ajuizamento de novas ac;:oes, deve o sistema incentivar o ajuizamento de ac;:oes coletivas, que penni- tam a unificac;:ao de litfgios etu uma s6 demanda, evitando-se, com isso, a existencia devmas e diversificadasdecisoesjudiciais, sobre urn mes- mo problema de Direito. Nestes casos, impoe-se ao juiz um peculiar modo de pf3nsaro Direi- to, levandoem considerac;:ao nao apenas a soluc;:ao de "urn" litfgio, lnas a repercussao que a sua decisao tera para os demais jurisdicionados, que poderao ver-se incentivados a ajuizar ac;:oes, porque se teni criado uma expectativa, em razao daquela decisao judicial. A massificar;ao dos di- reitos, assim, e fa tor que nao podeni passar despercebido, seja pelo legis- lador, seja pelo juiz. (c) Aconcessao de Iiminar fundada em cognic;:ao sumaria nao esgota a rntelajurisdicional, mas inverte o interesse na solur;iio rap ida do lit{gio, que antes era do autor e, ap6s a concessao da liminar, passa a ser do reu. Se e certo que deve haver uma "distribuigao racional do tempo do processo", 6 "' Cf. LUIZ GUILHER.J\1E MARINONI, Tutela antecipat6ria,julgamento antecipado e execuriio imediata da sentenra. item I, p. 13 s. , _ _, '--~ ~ ~ ~~~ ~ ~~ ~ ~ ~ - ~ ~ ~~ ~ :H! '-" '~ ,, -'--'/ '1· ~~~ ~ ~ '-./ ~ i '~ "' ~ '-" .;~J '-./ ~ I -~ ~ ~ t~ au ! £;;; "" '-./ ~ I ~~ """ ;~ 'Q '-._./ i) 30 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL sen do natural, sob este prisma, que se carregue o reu, ao menos em parte, com os "riscos de erro", 7 a concessao de liminar nao deve ser considerada · o auge do processo. Nas causas em que foi concedida a liminar, aresolu9lio nipida do litfgio imp6e-se, sob pen a de onerar-se excessivamente o reu com a demora da prestac;:ao jurisdicional. (d) A criac;:ao legislativa de mecanismos que propiciem arealizac;:ao mais nipida da tutela jurisdicional, naturalmente, atribui maior poder de interpretac;:ao ao juiz, ja que o legislador nao e capaz de regular especifi- camente todas as situac;:oes carentes de tutela que emergem na sociedade. Este fen6meno exige participac;:ao maior do juiz na realizac;:ao dos direi- tos subjetivos, que somente sera proveitosa se se observarem algumas condic;:oes essenciais para tanto. Queremos com isso dizer que a aplica- c;:ao d'os princfpios jurfdicos que tern sido positivados pelas reformas re- centes requer terreno fertil, sob pena denao se realizarem os objetivos indicados nos arts. 1.0 e 3.0 da Constituic;:ao Federal. Para tanto, pensa- mos que sao imprescindfveis as seguintes condic;:oes, dentre outras: (a) o juiz deve ter sensibilidade social, mostrando-se estar realmente- e nao virtualmente- inserido em urn Estado Democratico de Direito; (b) o juiz deve fundamentar convincentemente as suas decis6es, de modo que nao apenas as partes ou os demais 6rgaos jurisdicionais (recorridos ou para os quais se recorrem) sejam persuadidos do acerto da decisao, mas tam- bern a propria sociedade ou comunidade na qual o juiz se insere;' (c) o juiz deve ter tempo para se dedicar ao exame da causa; e (d) o Poder Ju- diciano deve se preocupar com a estabilidade de suas decisoes e orien- taroes. Nao sendo assim, estarao fadadas a se frustrar as aspirac;:oes das reformas recentes, que, ajustando-se a urn contexto constitucional mais amplo, ampliaram os poderes do juiz, como se viu. 0 princfpio consagrado no art. 5.0 , LXXVIII, da Constituic;:ao Fede- ral, assim, nao tera aplicac;:ao satisfat6ria, por exemplo, se os jufzes nao 0 ' Cf. CANDIDO RANGEL DINAMARCO, A rejorma da reforma, n. 182, p. 255. "' Isso e assim porque, enquanto nao se chega a desejavel estabilidade jurfdi- ca, marcada pelo equilibria entre os fatores que interferem na solu9ao judi- cial, havera insatisfa9ao das partes ( ou da comunidade, conforme o caso), o que provocara urn retorno ao juiz (atraves de recursos cfveis, por exemplo) ou de novas a9oes judiciais (relacionadas a temas polemicos, a respeito dos _quais ajurisprudencia ainda nao se firmou). CF, ARTIGO 5.', LXXV!Il 31 tiverem tempo para proferir suas decis6es. Ao mesmo tempo em que o Estado deve investir no aprimoramento dos jufzes, capacitando-os regu- Iarmente para enfrentar os novos problemas jurfdicos, deve propiciar a existencia de quantidade condizente de jufzes em proporrtio a quantida- de de litfgios que sur gem na sociedade. 0 art. 93, XIII, inserido na Cons- tituic;:ao Federal pel a EC n. 45/2004, segundo o qual "o m1mero de jufzes na unidade jurisdicional sera proporcional a efetiva demanda judiciale a respectiva populac;:ao", ajusta-se a esta aspirac;:ao. 0 mesmo se pode dizer do disposto no art. 93, II, e, segundo o qual "nao sera promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder a! em do prazo legal, nao podendo devolve-los ao cart6rio sem o devido despacho ou decisao". Outro reflexo do princfpio ora examinado esta presente no art. 93, XV, tambem inserido pela EC n. 45/2004, que preve a obrigatoriedade de distribuic;:ao imediata dos processos, em todos os graus de jurisdic;:ao ( certamente visando a evitar o fen6meno do "represamento", verificavel em alguns tribunais, e consistente no fato de urn recurso de apelac;:ao, por exemplo, aguardar distribuic;:ao durante Iongo perfodo). Ao menos em tese, a previsao de "atividade jtirisdicional ininterrupta", contida no inci- so. XII do art. 93 (igualmente acrescido pela EC n. 45/2004), esta tam- bern ligada a esse princfpio. 0 princfpio ora comentado, assim, somente tera aplicac;:ao efetiva no direito brasileiro na medida em que a legislac;:ao contiver mecanismos processuais capazes de propicia-la eo Poder Judiciario estiverestrutura- do de modo quantitativa e qualitativamente capaz de absorver as deman- das judiciais. -~--J:_ __ ~~- . ~--.- -~-r------ -- --- ------ . CF, ARTIGO 93, IX .. _ ... 33 --1- --1Srilo-s~deve pensar, de antemao, que o "interesse publico a infor- 1 ma'(iio" (CF, art. 5.0 , XIV) esta sempre acima do direito a preserva91io da -~--j-------inrirnl'daae;ol.iVicecversa. No caso, nao se esta diante de conflito de re- I gras jurfdicas que se resolve atraves de criterios tradicionais, como o da,. CE art; 93,·1X · .. ;.. --·-·-·-·· .· .. ··-. :---1 :' -sup~rioridaqe; da especialidade etc. No caso, emborapositivadosem-re> ·' · ·" · :.. · - · ! • · · ·•gras escritas•;se esta'diimte de verdadeiros princpios jurfdicos que, como Como era: Art. 93. [. .. ] Com a altera'(iio: Art. 93. [ ... ]IX-todos os julgamen- tos dos 6rgaos do Poder Judici?rio serao publicos, e fundamentadas to- _das asdecis6es, sob pena de nulida- de, podendo a lei limitar a presenga, em determinados atos, as pr6prias partes e a seus advogados, ou somen· te a estes, em casos nos quais a pre- servagao do dire ito a intimidade do in- i tais, podem ou nao incidir em urn dado caso concreto, em aten'(iio a par- !_ - -ticularidades que podem nao se repetir em casos fnturos. -- r-- ~ · -- A lei referida no art. 93, IX, ja existe. Com efeito, estabelece o art. 155 do CPC que "os atos processuais sao publicos", dispondo contudo que correm "em segredo de justiga os processos" em que o exigir o interesse publico e que relacionam-se a questoes inerentes ao direito de farru1ia. A exigencia de publicidade e o dever de fundamentac;:ao dos atos jurisdicionais freqiientemente andaram juntos, ao Iongo da hist6ria. IX- todos os julgamentos dos 6r- gfios do Poder Judici6rio serfio publi- cos, e fundamentadas todas as deci- si5es, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse publico o exigir, limitar a present;:a, em determinados atos, as pr6prias parte~ e a seu~ ad- vogados, ou somente a estes; teressado no sigilo nao prejudique o , No que conceme ao dever de fundamentar as decisoes judiciais, nao se trata de algo novo, ligado necessariamente ao direito modemo. De fa to, a hist6ria registra, segundo BARBOSA MOREIRA, "precedentes anti- gos de decisoes judiciais que precisavam ou costumavam sermotivados" .' Comegou a generalizar-se a obrigatoriedade de que constasse das deci- soes a fundamentac;:ao, nas legislac;:oes ocidentais, a partir da segunda metade do seculo XVIII. Em regra, esta obrigatoriedade vinha acompa- nhada da exigencia da publicidade, como, alias, ocorre presentemente, na Constituic;:ao em vigor no direito brasileiro, como se viu acima. interesse publico a informagao; . i COMENTARIOS 0 art. 93, IX, da Constitui<(iiO estabelece, de urn !ado, que todas as decisoes devem ser fundamentadas e, de outro, que todos os julgamentos serao publicos. A regra, no direito brasileiro, e a publicidade dos atos processuais. Trata-se de garantia constitucional prevista no art. 5.0 , LX, segundo o qual "a lei s6 podeni restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse_ social o exigirem". De certo modo,este co man doe repetido de modo mais detalhado no art. 93, IX, qne, com a altera'(iio da Emenda Constitucional n. 45, estabelece que pode "a lei limitar a presen9a, em determinados atos, as pr6prias partes e a seus ad- · vogados, ou so mente a estes, em casos nos quais a preserva'(ao do direito a intimidade do interessado no sigilo nao prejudique o interesse publico a informagao". A ressalva constante do final do inciso IX diz respeito aos limites do direito de preservagao da intimidade (CF, art. 5.0 , X). Est,:, segundo estabelece a Constituigao, podeni ceder quando houver "inte- resse publico a informa'(ao". 0 dever de fundamentar as decisoes judiciais e lema que tern 'esta- do presente nos estudos recentes de urn dos autores dos presentes co- mentarios, que o examinou sob diversas nuances, com elevada reper- cussao pnitica. 2 No curso destes seculos, foram diversas as situac;:oes polfticas, so- cials e culturais em que a motivagao das decisoes judiciais se foi to man- '" JOSE CARLOS BARBOSA MOREIRA, A motiva9ao das decisoesjudi- ciais como garantia inerente ao Estado de Direito, Temas de dire ito proces- sual civil, 2.a serie, p. 85. . "' Cf. TERESA ARRUDA ALVIM W AMBlER, Controle das decisi5es judi- dais par meio de recurs as de estrito dire ito e de a~do rescis6ria, RT, 2002, p. 377 e ss.; Idem, Omissfioe embargos de declarat;:iio, RT, 2005, item 7.2, p. 291-373. ~-- ~ ~ ~ ~ '--- ···,·: .: .. , 'l! ·"--. ~-e ,_To -~ -~ ~ ~ ~ ll ~ 'I ; ~ '-./ I ~~ t9 '-../ l u~ p~ I~ !}~ i!k 1!4"'--" 34 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL do obrigat6ria. Ate o que se tern chamado de "decisao motivada" tern variado consideravelmente, de epoca para epoca, de Iugar para Iugar. Por isso, fica realrnente diffcil querer encontrar-se urn s6 princfpio que tenha inspirado esta necessidade. 0 assunto rnerece, portanto, amUise mais rni- nuciosa, e 0 unico ponto passive] de afirrna<;ao segura e que 0 dever de motivar as decisoes tem preocupado os povos de mane ira acentuada. 3 E curioso observar-se que os ordenarnentos jurfdico-positivos conternpo- raneos aludern a necessidade de rnotiva<;ao da senten<;a, pressupondo que se trate de urn conceito unfvoco e que haja urn certo "senso comum", a respeito do que seja motiva<;ao.4 "' •A prop6sito, veja-se interessantfssimo texto de autoria de MICHELE TAR UFFO (L' obbligo di motivazione della sentenza civile tra diritto comune e illuminismo), sobre a obriga9ao de motivar-se a senten9a civil entre o direi- to comum eo iluminismo, Rivista di Diritto Processuale, anno XXIX, 1974, n. 2, p. 265). Esse autor nos conta, por exemplo, que, na Fran9a, a partir da metade do seculo XIV (1350) ate o seculo xvm (1700), a tendencia era claramente a de nao se motivarem as senten9as. Nelas nao havia men9iio as normas aplicadas esequerasrazoes que teriam Jevado ao decis6rio. Por ()Ulro ]ado, OS fil6sofos (Montesquieu, Voltaire etc.), que tanto criticavam OS abu- ses e a degenera,ao na administra,ao dajusti,a da epoca do ancien regime, nao se aperceberam do grandioso papel que exerceria a obrigafi:io de moti- var as sentenfas no que concemia a poss(bilidade do controle das decisoes. Isto e compreensfvel,ja que os iluministas concebiam a possibilidade de que a lei fosse clara, simples e uniforme, como regra geral, e, entiio, as raz5es que teriam levado a decisao apareceriam naturalmente, como niio podendo ser outras, pois "le juge est (hait ... ) la bouche de la loi". Estes dizeres correspondem a uma concepqiio mecanicista da aplica9iio da lei. Esta con- cepqiio e incompatfvel como possfvel carater arbitrfuio e bastante em si mes- ma para garantir a objetivajustiqa da decisiio. 0 reconhecimento da necessi- dade da motiva9iio das decis6es ocorreu em lei expressa de 1790. Obviamen- te, as ideias dos fil6sofos haviam preparado urn substrata culturalfavoravel a introdurao do principia ora comentado. No direito germanico, anecessida- de da motiva9iio existiaja no seculo XVill, mas nao ada sua publicidade. Ela era comunicada ao juiz hierarquicamente superior, sendo a sentenqa impug- nada. Niio era, todavia, do conhecimento das partes. Solu96es diferentes fo- ram engendradas na PrUssia, na Baviera e na Austria. Na Italia (nos varios reinos que havia anteriormente a unifica<;ao ), sentiu-se de modo nftido a in- fluencia do Iluminismo, nao se podendo falar numa resposta unit3.ria, ate em funqiio da pluralidade de regi6es e reinos. "' Ver MICHELE TARUFFO, La fisionomia della sentenzain Italia, Sentenza in Europa, p. 18~----~------- CF, ARTIGO 93, IX 35 Podern conceber-se diversas razoes que teriarn levado a esta obri- gatoriedade.5 A prirneira destas razoes, familiar ao pensarnento tradicional, e de ordern tecnica. Seria, sob este enfoque, necessaria amotiva9ao, para poder precisar-se e delimitar-se rninuciosarnente 0 ambito do decisum. A impugnabilidade tern como pressuposto afundamentafao do objeto impugnado, principalmente porque se tern por admitido que as decisoes nao sejarn arbitrarias. Esta, a segunda razao de ordem tecnica. Outro enfoque que pode ser concebido, tfpico da nossa epoca, eo que vena ideia de garantia a fonte Msica de inspira9ao da obrigatorieda- de da rnotiva9ao das decisoes judiciais. Essa ideia tern uma serie de desdobramentos que se aplicarn nitida- mente ao processo, ainda que digarn respeito a toda atividade estatal. A rnotiva9ao: 1. oferece elementos concretos para que se possa aferir a irnparcia- lidade do juiz; 2. poder-se-a,tambem, por meio do exarne da motiva<;ao dadeci- sao, verificar da sua legitirnidade; · 3. por firn, a motiva9ao garante as partes a possibilidade de consta- tar terem sido ouvidas, ria rnedida ern que o juiz tera levado em conta, para decidir, o material probat6rio produzido e as alega96es feitas pelas partes. Em face do Estado de Direito, nos dias atuais, se pode estabelecer o porque desta exigencia num sentido, sob certo aspecto, unfvoco. 0 Estado de Direito efetivaril.ente caracteriza-se por ser o Estado que se justifica, tendo como pautaaordemjuridka a que ele proprio se sub me- te. Assirn, quando o Estado iiitervem navida·ctas pessoas, deve justificar a intrornissao: materia/mente, poisa iritr6inissao tern fundarnento, eformal- mente, pois 0 fundamento e declarado, exposto, demonstrado. Sob este enfoque;ajustifica¢aose-faz'hecessaria tanto ern rela9ao as decisoes irnpugnaveisquanto CO!Tire_sp~it()_1l.gue!as que SaO a Ultima palavra acerca do 1itfgio~"E-nesse-instante-que-a-necessidade de justi- fica<;ao se faz particularmente aguda: o pronunciamento final, exata- rnente; porque se ci~~tffi~:~ prevafecerem definitiyo,e nesse senti do (s) Idem, ibidem. --·-- ··-·- ----·- ... ---··-··--- -=~=·-~~~=~----- --------~--~- 36 BREVES COMENTARIOSANOVA SISTEMATICA PROCESSUALCIVIL / representa ( ou deve represenlar);rexpressao·maximada garantia, pre- cis a, mais do que qualquer outro: ri:iostrar-se apto a:·c-6fresponder a fun- 9iiO delicadfssima que.lhetoca. Nao.~ admissfYeLquea garantia se es- vazie, se despoje de eficacia; no momenta culminante do processo " I!lt;.d,ia.,nte o.qual e chamada a a"'tu.,a"r'c."-6 =---c-=-c~· . ··' Surge, mais uma vez, a no<;;iio de "controle". A concep<;;ao de controlabilidade das senten<;;as nao se restringe "ao quadro das impugna<;;oes previstas nasleis.do processo. Nao e apenas o controle endoprocessual que se precisa assegurar: visa-se, ainda, e so- bretudo, a tamar possfvel urn controle 'generalizado' e 'difuso' sabre o modo como o Estado administra a Justi<;;a".7 A obrigatoriedade e a publicidade de motiva<;;ao e que permitem o exercicio eficaz do controle extraprocessual. Hoje se entende que a fundamenta<;;ao da senten<;;a tern de abranger todas as alega<;;oes feitas pelas partes nocurso do feito, para que sejam expressamente acolhidas ou repelidas. 8 · "' Idem, p. 90 .. 17 ' Idem, ibidem. Hoje, a CF 6 expressa a esse respeito (v. art. 93, IX). "' Cf. TJSP, 3.' Cam., Ap 1225484/5, rei. Des. ENIO SANTARELLI ZULIANI, j. 26.10.1999,RT774/247. No mesmo sentido: "E nu1a a senten9aem que nao se aprecie urn dos fundamentos da defesa e nao se decide urn dos pedidos formulados pelo autor" (2.' TACSP, 7.' CC, Ap. c/Rev. 256.104-1, rei. GUERRIERI REZENDE,j. 07.03.1989, v.u.). Por outro !ado, decidiu-se que o juiz nao esta obrigado a responder a todas as alega96es das partes quando ja tiver encontrado motivo suficiente para fundamentar sua decisao (TJMT, 3.' Cam., Ap271 18, rei. Des. ORLANDO DEALMEIDAPERRI,j. 07.11.2001, RTSO 11300). Pensamos que esta orienta9lio, como regra geral, e corretase os motivos nao analisados nao forem capazes de ensejarresultado diverso (p.ex., o juiz pode julgar improcedente o pedido pelo motivo X e deixar de analisar o fundarnento Y, que determinaria o mesmo resultado ). Observe-se, a prop6- sito, que esta regra nao se aplica necessariamente aos julgamentos que pode- rao ser alvo de recurso extraordimlrio ou recurso especial pois, para que estes recursos sejam admissfveis, e necessaria que a decisao recorrida manifeste-se sobre o tema que sera objeto do recurso extraordin:irio ou especial (nesse sentido: STJ, 2.' T., REsp 171209-SP, rei. Min. ADHEMAR MACIEL, j. 15.1 0. I 998, DJU 30.11.1998 p. 145). Cf., arespeito,JOSEMIGUELGARCIA MEDINA, 0 prequestionamento nos recursos extraordindrio e especial, 3. ed., RT, 2002, n. 3.2, p. 210 ss. CP, ARTIGO 93, IX . 37 Evideutemente, tendo havido manifesta<;;ao judicial sobreestes pon- tos durante o processo, nao ha necessidade de que, na senten<;;a, tome o juiz a aprecia-los. . .... _ Deve entao o magistrado, na senten<;;a, manifestar-se sabre todas as alega<;;oes feitas pelasp1l(tes, priucjpalfi1e,nte aquelas cujo exame influi, . ou mesmo determini, o teor da plute decisoria. Por isso, e nula a senten<;;a em que nao se pronuncia o magistrado acerca da alega<;;ao de prescri9ao, feita pelo reu! Considera<;;oes sobremaneira interessantes encontram-se najarefe- rida obra de MICHELE TARUFF0.10 Tal autor aborda o tema da moti- va<;;ao da senten<;;a de forma completa, enos parece correta a sua postura ern face do ass unto. Diz referido autor que "o esquema conceptualfstico e abstrato do jufzo como silo gismo tern sido questionado principalmente pelas correntes de pensamento que combatem o emprego exclusive de instrumentos deste genera, posi<;;ao esta t[pica de uma postura positivis- ta, em face da interpreta<;;ao da lei". De fato, o que hade co mum nas es- colas novas, como a "Freirechtslehre" ou a "Interessenjurisprudenz'', eo sublinhar da impropriedade da figura do silogismo judicial como "esque- . ma-esqueleto" da senterr<;;a. Este novo tipo de postura, dando origem a varias novas escolas - que as vezes nada tern em com urn entre si, senao esta "recusa inicial" -, pro vern principalmente nao tanto da ideia de que o silo gismo nao corres- ponda efetivamente a realidade estrutural da senten<;;a, mas principalmente de novas propostas de criterios de decisao. Ou seja, recusa-se, ao sistema silogfstico, fundamentalmente, o papel de iter do raciocfnio efetuad~pelo juiz, ao decidir. TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR chega mesmo a mencio- nar a opiniao segundo a qual o julgador "tende a construir o silogismo jurfdico as avessas, criando, intuitivamente, a conclusao a que deve che- gar e buscando, regressivarnente, para ela, as justifica<;;oes necessarias" .11 A crftica ao esquema silogfstico, em nosso sentir, deve situar-se quer no nfvel ontol6gico, quer no nfvel deontologico. Nesta linha, nos dirfa- "' V. 2.' TACivSP, 8.' C., Ap. 195.200-7, j. 07.01.1987, JTACivSP-Lex 105/326. "" MICHELE TARUFFO, La motivazione della sentenza Civile, p. 13 e ss. '"' A ciencia do direito, Atlas, 1977, p. 92. II J if: ~~ • !! !I ~' r: ~ : ;"·' 1": ' -! '--' ~ ~ - ~ ~ ~ ~ -....' -....' ~ ~ ~ ~" ~' ~ ~ ' [, ~ ~~ rn m~ m- -~ ~ a~ '----' ~"" '""" t~- !_f ~ [< M ~~ d:t;;, ~[~ r~ ~ iJ,c ~~ lfl 38 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL mos que a senten9a niio e, nem deve ser urn silogismo. Que a senten9a nao e urn silogismotem sido afirmado pelos maiores expoentes da escola realista, tanto americana quanto escandinava. A escola europeia, a diferen9a das escolas nortecamericanas e es- candinavas que se inspiram em ideias de fun do pragmatico, embora tam- bern recuse o esquema silogfstico, enquanto realidade do jufzo decis6rio, o faz por raz5es de cunho filos6fico e polftico, que representam a nota marcante a partir do fim do seculo passado. Cumpre, num segundo momento, diferenciar a motivar;iio concreta- mente considerada e os caminhos que percorre a mente do julgador para chegarate o decis6rio. Sao fenomenos, efetivamente, distintos. TARUFF012 sub1inha afimr;iio justificativa da motiva9ao da senten9a, no primeiro sen- lido acima mencionado. Assim, a decisao, em primeiro Iugar, e tomada. Em segundo Iugar, ejustificada racionalmente, como setem sustentado. De fa to, acreditamos que a motiva9ao da senten9a nao exprima ne- cessariamente o iter que o juiz percorreu ate a decisao. 13 Do raciocfnio do juiz participam fatores multiplos, que nao entram nos "conteudos" ex- pressos da motivar;iio concretamente considerada, is to e, a motiva9ao expressada, qne nao e, em hip6tese alguma, uma "reportagem" dos ine- canismos psico16gicos do juiz, anteriores a decisao. A defasagem entre estes dois fenomenos € significativa. E necessario, tam bern, tra9ar a distin9ao entre a fun9ao justificado- ra, que nos parece sera real fun9ao da motiva9ao da senten9a, da fun9ao explicativa. 0 discurso explicativo e aquele que descreve as razoes reais de urn fenomeno, eo discurso justificativo apresenta as razoes em virtu- de das quais umfen8meno e acolhido favoravelmente. De fato, o raciocf- nio do juiz nao eo objeto a que se refere o conteudo da motiva9ao expresc sa, cuja fun9ao e de toma-la racionalmente valida e aceitiivel,l4, .. Diz JERZY WROBLEWSKI 15 que e ajustifica9ao da decisaoqtie a torna controlavel quanto a sua racionalidade. 02J La motivaz.ione ... cit., p. 107. '"' Idem, p. 121. '"' Idem, p. 125 e 126. "" Motivation de Ia decisionjudiciaire, em co1etaneaorganizada,por£HAIM=c=· PERELMAN, Etudes sur Ia motivation des decisions de justice, Binxe1as, SIA d'Editions Juridiqueset Scieniifiques, 1978, p.134. · · · · - --------, . -. -------- . _-:_~"-----~-"---- ··---- ---·- CF, ARTIGO 93, IX 39 Ja se disse que a fundamenta91io, a motiva91io, ajustifica9ao das sen- ten9as nao precisa ser 16gica. Cabe perguntar como ROBERT LEGROS: "Onde vai o direito, em que nada mais hade certo e de estavel?" E res- ponder com ele tambem se pode: "0 que hii de certo, e ajurisprudencia que convence" .16 Esta orienta9ao ganha relevo a luz dos princfpios do Estado De- mocn\tico de Direito. E que o juiz, ao fundamentar a sua decisao, nao devera ocupar-se apenas de convencer as partes do processo e as ins- tancias judiciais superiores acerca do acerto de seu julgado. Consoante afirma MICHELE TARUFFO, sob uma 6tica democratica, tambem a opiniao publica, em maior ou me nor grau, tern interesse no modo como o juiz administra a justi9a.17 Seguindo esta Jinha, ja se real9ou na juris- prudencia a necessidade de que a fundamenta9ao conven9a "nao s6 as partes interessadas, mas qualquer urn, do seu acerto".18 · Nesta medida, pais, e racional a decisao. Ser ela convincente nao significa ser impecavel quanta a seu aspecto !6gico forma1. 19 Quase todos os autores que tratam da seuten~ano direito brasileiro, embora raramente se alonguem sobre o assunto, sustentam, ainda que de passagem, que a senten9a nao se confunde com silogismo, e que e a to de inteligencia e de vontade.20 Diz RECASENS SICHES:21 "A 16gica pura nao eo instrumento apto nem para a coloca9ao nem para a solu9iio dos problemas humanos prati- '"' Considerations sur les motifs, em coletilnea organizada por CHAIM PERELMAN, cit., p. 18. "'' La motivazione della sentenza civile, cit., p. 406-407. No mesmo sentido, SER- GIO NOJIRI, 0 dever de fundamentar as decisoes judiciais,n. 1.4, p. 62 ss. '"' TJRN, 2.• Cam., Ap 99.001746-0, rel. Des. RAIMUNDO NONA TO DA COSTA ALENCAR,j. 05.12.2001,RT802/355. Cf. tambem notasegninte. 09) Nesse sentido: "A senten9a deve convencer os litigantes, e notadamente a comunidade onde a /ide eclodiu, de que o Estado aplica o direito e nao dita arbitrariamente a decisao" (grifos nossos) (TAMG, Ap. 23.849, rel. CLAUDIO COSTA,j. 20.03.1984). '"' WELLINGTON M. PIMENTEL, Comentdrios ao CPC, arts. 270 a 331 e 444 a 475, v. 3, p. 512; MOACYR AMARAL SANTOS, Comentdrios ao CPC, arts. 332 a 475, p. 424 a 435; ERNANE FIDELIS DOS SANTOS, __ Comentdrios ao CPC, v. 3, p. 233. "'' RECASENS SICHES, lntroducci6n al estudio del derecho, p. 251 e ss. 40 BREVES COMENTARIOS A NOVA S!STEMkTICA PROCESSUAL CIVIL _==-:..=:::::.._--:::::;:::-_:::-:~ ____ _ cos, como, por exemplo, os politicos e juridicos. 0 emprego da 16gica formal para 0 tratamento dos problemas jurfdicos, se nao e prejudicial, - leva atesultados·insensatos e monstruosos, e in uti!". Efetivamente,a 16gica forma1,desde suas origens ate nossos dias, - ---n1l6-cesgota, nein iemota!ji.ente; !i:iotlilldade do logos ou da Razao. E uma prov{ncia ou um setor do logos;- -·-" -.-.- Lida-semelhorcom os problemas humanos usando-se o instrumento do" logos do razmivel", pois que s6 "com este instrumento podem-se compreender sentidos nexos entre significa<;:oes e realizar opera<;:oes de valora<;:ao, estabelecer fins ou prop6sitos", tarefa para a qual nao se pres- ta a 16gica formal, que e neutra no que diz respeito a val ores eticos, polf- ticos e jurfdicos. "E impossfvel construir-se o direito como urn sistema 16gico puro", continua SICHES. Inegavelmente, "existe, na realidade social concreta, a influencia de alguns esquemas de 16gica, enquanto se fala, por exemplo, da adequa<;:ao de certos meios para atingirem-se deter- minados fins. Mas os valores basicos nao pertencem a este campo. Estes, ainda que objetivamente validos, sa() alcah<;:aveis pot nieio de uma 'intui<;:ao intelectiva"'. Que dizer desta intui<;:ao? Dizer-se pode, com BERGSON, que a intui<;:1io e algo sensitivo, espiritual. Ela nao tern valor em si mesma, mas, seguramente a percep- rao plena s6 se da por meio da inteligencia somada com a intuiriio. E uma forma direta de ver, de espfrito para espfrito, nada interme- diando os do is. E uma visao que mal se distingue do objeto vis to, mas se confunde com ele. Entretanto, a intui<;:ao nao se comunica, senao pela inteligencia, pelo racional. Mas ela e mais do que ideia, embora deva travestir-se de ideia para transmitir-seY Assim, se pode dizer que esta intui<;:ao desempenha papel de peso na identifica<;:ao dos val ores a orientar a decisao. Esta, uma vez tomada, deve ser expressa de forma racional. Este quid de razao, que ha na mo- tiva<;:ao da decisao, deve caracterizar-se por torna-la, precipuamente, convincente. "" Extraits des grands philosophes, p. 186 e ss. CF, ARTIGO 93, IX 41 -Esta ponte entre a intui<;:1io, o aspecto axiol6gico da decisao e sua fundamenta<;:ao, propriamente dita, e que faz com que reganhem impor- tancia os legados que a hist6ria do estudo do direito nos deixou. "0 que reston de mais importante do pensamento classico e medie- val paraodir~it\)-~1} Jecnica depensar so~1.;e problep:1~s:? q}l~ sy,~~sen;; -. volve no selo darei'<lrica, ou seja, da arte depersuasao: A ret<lrica diale~ tica procede de urn modo radicalmente diverso do metodo sistematico."23 "0 metoda sistematico toma como ponto de partida uma verdade primeira, urn axioma, e procede por meio de uma serie de rigorosas dedu- <;:oes semelhantes as da matematica. Ao contrario, a ret6rica dialetica toma como ponto de partida o sentido comum, tateando o caminho no campo da verossimilhan9a, guiando-se pela prudencia humana. Paraisso, as circunstancias sao consideradas, sob seus mais diversos aspectos, e e ponderada a for<;:a de convic<;:ao de cada urn dos pontos de vista. "Procura-se qual das varias opinioes tern maior for9a persuasiva e conduz a urn resultado mais plausfvel."24 "" RECASENS SICHES, ob. cit., p. -260 (grifos nossos); Semelhantemente, afirma KARL POPPER que "see possfvel dizer que a ciencia ou o conhe- cimento 'comeya' por algo, poder-se-ia dizer o seguinte: o conhecimento nao come<;a de percep<;6es ou observa<;6es ou cole<;ao de fatos ounumeros, porem come<;a, propriamente, de problemas" (A /6gica das cii!ncias socials, p. 14). A respeito, consultar tambem excelente trabalho de EDUARDO ANGEL RUSSO e CARLOS OSCARLEMER. La 16gica de Ia persuasion, Buenos Aires, Coperadora de Derecho Ciencias Sociales, 1975. ~ "'' RECASENS SICHES, idem, ibidem (grifos nossos). Esta metodologia, que nao e contemporanea, mas encontrou em Arist6teles, Cfcero e Vico, possi- velmente, os seus maiores expoentes, foi retomada em obra de rnCritos sin- gulares, tao notaveis que, conquanto escrita para a filosofia do direito, influi na pr6priafl/osofia contempordnea. E a obra de THEODORO VIEHWEG, escrita em 1953, para oqten<;ao do grau de livre docente na U uiversidade de Munique. Na quintaedi<;ao desta obra assim conceitua ele a t6pica, anali- -san do-a: "Der wichtigste Punkt bei der Betrachtung der Topik ist die Feststellung, dass es sich hier urn diejenige denkrische Techne handelt, die sich am Problem orientiert" (Topik undjurisprudenz, § 3.", I, p. 31). Possivelmente o primeiro texto em que aflora, e ja com clareza e enverga- duras pr6prias 'de genialidade plena, e em ARISTOTELES, quando distin- gue, nitidamente, entre o silogismo, propriamente dito, e a dialetica, verbis: "Le syllogisme est un discours dans lequel, certaines chases etant posees, 1: I ~ II " .• ! "---" '-..-- ~ ·- ~ '.__. '.__. '.__. '---' -~ ~ ~ '-._/ '-._/ ·-·· ~· ,~:' ill'§ ~'>f. :-!f-'1 §;.1 :lfi ~" '~-!> 42 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL De fato, o raciocfnio jurfdico nao se pode desenvolver segundo urn dedutivismo, em linha reta. Segundo uma analise fundamentalmente valorativa dos resultados da solw;:ao do caso, em nfvelconcreto, os prin- cfpios que hajam sido propostos serao acolhidos ou rejeitados. E im1til querer-se ignorar o aspecto axiol6gico do direito no niomento das "to- madas" de decisao. · Efetivamente, esta concepgao, segundo a qual o que torna convin- centes as argumentagoes eo seu rigor 16gico, ja foi, ha muito, ultrapassa- da. Parece-nos, por outro !ado, que adotar-se esta posigao implica uma postura marcadamente formalista (no sentido de legalista) que tambem esta sendo, modernamente, superada. • Neste sentido sao as observag6es de ROBERT LEGROS:25 "Nas sociedades como a nossa, de evolugao rapida, em que a relatividade, as lacunas, as antinomias e os atrasos da lei sao observaveis objetivamente, toma-se o habito de considerar a lei mais como urn meio do que como urn fim, salvo quando o respeito a lei aparece como urn meio em si". Prossegue o mesmo autor dizendo: "Os motivos devem ser con- vincentes, desgarrados de urn vaoformalismo. A forga convincente das decis6es nao e mais fruto de seu legalismo. A lei perdeu o carater sagra- do e absoluto". 26 Na verdade, o termo motivagao e polissemico. WROBLEWSKI,no interessante estudo mencionado,27 diz que ha ao menos dois senti- dos que se podem atribuir ao termo: "Urn, mais abstrato, que concerne a filosofia e a teoria do direito; outro, mais concreto, que concerne a dogmatica jurfdica". Oprimeiro problema que surge e a delimitagao do angulo sob o qual sera vis to o·objeto de analise: a motivagao. 0 problema sera tratado em nfvel deteoria geral das decis6es. A decisao e uma escolha dentre diver- sas alternativas. ··-··'-· une a~tr~ cfioseaifferente d'elles en resulte necessairement, par les chose memes:_posees .. : __ Estdialectique le syllogisme qui conclut de premisses -- -----probables''-(Organon,-Les topiques, 10. ed., tradugiio de J. Tricot, Paris, Libr. Philos.J; Vrin; 1950, v. 5, desta selegao, Livro I, 1, p. 2). ~ ~ -""-~GJ2-~dt._=Jh!JL.. ~- -•. -- "" )dem, p. ;2J .. "" _Oft. cit:;Ji,l 12e ss .. CF, ARTIGO 93, IX 43 Falar da deci~ao do juiz como conclusao implica uma determinada construgao da teoria e da ideologia da aplicagao judicial do direito. Para empregar-se esta terminologiadeve precisar-se a "16gica" adequada para o discurso judiciario e isto traz problemas graves e evoca a discussao entre "formalistas" e "nao formalistas". Em nossa opinHio, a decisao judichiria deve ser apresentada como justificada e e essa a exigencia da sna racio- nalidade. A decisao aparece como sen do a unica decisao que poderia ter sido tomada, tendo-seem vista as raz6es que a sustentam. Mas esta apre- sentagao nao coincide necessariamente com o caminho mental que foi percorrido para que se tenha chegado ate ela, que e, de regra, o resultado de muitas escolhas, e nao a unica decisao que poderia ter sido tomada. E neste sentido que a decisao deve ser convincente ou persuasiva. Diz CHAIM PERELMAN que motivaruma sentenga e justifica-la. "Nao e o mesmo que funda-la de uma maneira impessoal e, por assim dizer, demonstrativa. E persuadirum audit6rio ... mostrar queo julgamento e oportuno, razoavel".28 Por isso sernula a sentenga contradit6ria. Como contradigao tem-se entendido, pocexemplo, a circunstancia de a sentenga extinguir o pro- cesso semjulgamento de merito por falta de objeto e estabelecer a inapli- cabilidade de certo texto legal a situagao. 29 0 homo medius, lendo a decisao, deve admitir ter podido tambem ele chegar ate ela. Ainda que a decisao dada nao seja a "unica". Neste senti dose expressa CASTANHEIRA NEVES30 dizendo que a fundamentagao jurfdica deve ser "razoavel", "aceitavel", "defensavel". Nao fosse isto, "as decisoes seriam unicas, e seria inadmissfvel terem-se outras tambem validas". "" La motivation des decisions de justice, essai de synthese, em Coletfinea, de CHAIM PERELMAN, cit., p. 425. TERCIO SAMP AIO FERRAZ JR. faz distingiio interessante entre os termos convencimento ( convic9iio) e persua- sao. Aquele liga-se, como urn sentimento, a verdade; este, de algum modo, a ideia de interesse. No discurso normative, segundo este autor, M persua- sao, e nao convicc;ao. Temos usado o termo "convincente" talvez numa acepgiio mais proxima aquela que o Prof. Tercio atribui a "persuasivo" (Teo- ria da norma jurfdica, Forense, 1978, p. 27 e 28). '"' TRF, 5.' Regiao,Ap. 51018, 2.'T., rel. ARAKEN MARIZ,j. 06.10.1994, JSTJe TRF-Lex 711658. · "" Questao de facto~ Questao de direito, p. 415. 44 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL . De forma veemente, critica este autot o esquema subsuntivo: "A aplica<;:ao das normas aos casos implicarao .a formula9ao de urn jufzo auti'Jnomo de juridicidade" para cada caso decidendo." Todoo jurista sabe que em virtude de terem as normas enunciados apenas re!a~vc;;s .. as-hip6tesesrnais- frefliientes, C()J11l!!1S,.Q1.f,.tfp~<;as ~if~f; -_- sensu) dos casbs que se pro poem regular- nem outras e possfvelprever - nao fica exclufda a possibilidade de se decidir concretamente da sua aplicabilidade em termos diversos daqueles- que imediatamente impo- ria o sentido significativo e conceitual das normas.'2 0 esquema subsuntivo (isto e, aquele segundo o qual a identifica- c;:ao da solu<;:ao jurfdica a ser dada a determinado fato consiste num sim- ples encaixe de fato e norma, nos moldes do raciocfnio dedutivo does- quema silogfstico ), "definitivamente, nao se presta a resolver, a elucidar o problema da fundamenta9ao das decisoes judiciais" .33 Parece ser esta a tonica das posi96es assumidas modemamente pe- los estudiosos da teoria geral do direito, em todo o mundo. Integram, a rigor, tambem afundamentm;;iio, ou motivaqiio, da sen- ten<;:a, tan too inciso lido art. 458 do CPC, quantooinciso I, que dizrespei- to tambem a este aspecto, ainda que indiretamente, aludindo a "relat6rio". Tem-se considerado nulas as sentengas a que falte relat6rio ou aque- las em que do relatorio falte alusao a contestagao, a declaragao incidental e a propria pretensao do autor (relatorio incompleto).34 De fato, o relat6rio, na sentenga, pode ser visto como uma especie de pre-fundamentagao. Trata-se de elementos que tern por escopo situar a fundamentayao, circunstancializando-a, em certa medida. A fundamen- taqiio s6 ganha sentido no contexto do relat6rio. Esta retira muitos de seus elementos do relatorio, que se consti- tuem na base fatico-jurfdica (mas precipuamentefdtica) dos elementos propriamente fundantes, isto e, do aspecto propriamente justificativo da decisao. "" Idem, p. 259. "'' Idem, p. 260. "'' Idem, p. 422. "'' TJSP, 9.' CC, Ap. 220673-2, rei. Des. CELSOBONILHA,j. 10.02.1994, JTJ-Lex 1531140. CF, ART! GO 93, IX. - ~45 '"-·---·------ Pode dizer-se, que ha, grosso modo, ttes especiei;'de vfci()s intrfnse- ----- - cos das sentengas, que se reduzem a urn so, em ultima analise: 1. ausen- cia de fundamentagao; 2. deficiencia de fundamentac;:ao; e3:ausencia·de-- correlac;:ao entre fundamentac;:ao e decisorio. -· -- --- Todas silo redut(veis a ausencia defurtdam~dt</(tti//g'etam nulida:"~ ·• -- de da sentenqa. Isto porque ''fundamentar:;iio" deficienie, em rigor, niio _ e fundamentaqiio, e, por outro lado, ''fundamentar:;iio" que niio tem rela- qiio com o decis6rio niio e fundamentar:;iio: pelo menos niio o e daquele decis6rio. Nesse sentido, segundo pensamos, e que deve sen:otripreeft~ dido o comando constitucional ora comentado. Exata e precisamente nesse senti do decidiu o TRF da 1.' Regiao, ao julgar a Ap. Cfvei95.01.03248-5-DF em 26.03.199.6.35 Daementa cons- ta que "quando os fundamentos nao justificam a parte dispositiva da sen- tenc;:a e destoam do relatorio, considera-se imotivada [a sentenc;:a]". Se- gundo pensamos, os dizeres do acordao vao ao encontro do que temos sustentado: fundamenta9ao inadequada e o mesmo que fundamentac;:ao inexistente, infringindo-se, nesse caso, o art. 93, IX, da CF. Observe-se, ca proposito, que fundamentac;:ao concisa nao equivale a ausencia de fun- damentayao, ou a fundamentagao deficiente.'"'37 Estas tres hipoteses podem, a nosso jufzo, dar azo a propositura de ac;:ao rescisoria por infrac;:ao a literal disposic;:ao de lei (art. 458 do CPC). 38 "" Publicado no DJU de 16.05.1996. ~ "" Nao se considera nula a sentenqa que tenha fundamentaqao concisa: STJ, 4." T., REsp 434489-RN, rei. Min. BARROS MONTEIRO, j. 17.09.2002, DIU 25.11.2002, p. 242; TJMT, 2.' Cam., Ap 25595, rei. Des. MARIANO ALONSO RIBEIRO TRA V ASSOS,j. 30.04.2002, RT802/318. A decisao "pode ser concisa, mas jamais sem fundamentaqao" (TJSC, 2." Cam., Agin 97.015.956-0, rei. Des. GASPAR RUBIK,j. 19.08.1999, RT778/401). "'' Decidiu-se que a sentenqa que acolhe embargos do devedor fundados em excesso de execuqao "deve estipular, em sua parte dispositiva, de modo claro e preciso, em que consistiu o excesso alegado, o quantum efetiva- mente devido pelo executado-embargante, sob pena de nulidade. Infringencia do art. 458 do CPC" (TJPI, 2." Ciim. Especializada,Ap 99.000378-7, rei. Des. RAIMONDO NONA TO DA COSTAALENCAR, j. 06.09.2000, RT 786/406). "" Ja se admitiu aqao rescis6ria de sentenqa a que faltavam fundamentaqao e relat6rio: TJSP,AR 250.951, 3."C., rei. COSTALElTE,j. 14.07.1977, v.u. ..___ ~ ~ ·..___ '.,_.c 46 BREVES COMENTARJOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL Afalta ou o v£cio de motivaf'iiO, como se disse, e de acordo como que estabelece o dispositivo constitucional ora comentado, sao causas de nulidade da sentenga. TARUFFO inclina-se a considerar ate como ine- xistente a senten<;a a que falte urn "conteudo mfnimo" ;indispensavel, de motivagao, para que nela se reconhega o exercicio Iegftimo do poder ju- risdicional.39 Trata-se de urn vfcio particularmente grave, e que, por isso, deveria ter sido tratado de forma especial pelo legislador, de maneira que ficasse c!aro nao se poder aplicar a este tipo de vfcio o principia da sana- toria geral da coisajulgada. De fato, a regulamentagao legal do tema Ion- ge esta de fazer jus a importancia jurfdica e polftica deste requisito da sentenga. Esta falha gera, ainda segundo TARUFF0,40 alem de evidente incgngruencia dogmatica, dois inconvenientes: a possibilidade de haver casos em que nao se possa nem mesmo determinar o quantumjudicatum; e, por outro !ado, ode que esta sentenga, passando o prazo da agao autO- noma de impugna<;:ao (que, no direito brasileiro, seria a agao rescis6ria), passe a ser inatingfvel- uma sentenga carecedora dos elementos mfni- mos para que possa ser chamada de ato jurisdicional. Tern sido consideradas nulas senten9as sem motiva9ao: TJRS em Adcoas 44, ano vm, p. 696. Nulas tambem sao senten9as sem relat6rio: TFR, Ap. 41.592-DF, rei. CARLOS MARIO VELLOSO,j. 06.05.1977; TJRS,Ap. 26.936, Cachoei- ra do Sui, rei. PERI RODRIGUES CONDESSA,j. 03.11.1976; TJSP, RF 2521195. Nul a e a senten9a praticamente sem relat6rio, e em que a fundamental'ao se reduz a uma frase: TJSP, Ap. 262.242, rei. YOUNG DACOSTA MANSO, j. 20.10.1977. E decreta vel de offcio a nulidade da senten9a carente de relat6rio: I.' TACivSP, 5.' C., Ap. 203.421, rei. TOLEDO PIZA,j. 17.07.1974, v.u. "Senten9a excessivamente lac6nica, e que desconhece a argumental'ao da . defesa, que homologa conta de liquida,ao por calculo do contador, e nula, pois afronta o art. 93, IX, da CF' (TRF 3.' R, 3.' T., Ap. 91.03.00952-1-SP, · rei. MARCIO MORAES,j. 22.05.1991, v.u.; TJSP e TFR-Lex 29/427; 2.' -·~ --~ - -- - TACSP, 7.' CC, Ap 264.521-6, rei. BORIS KAUFFMANN, j. 24.04.1990, v.u., JTACSP-RTI25/442; 2.'TACSP, 8.' C., Ap. 261.321-6, rei. MARTINS !===·-.... . COSTA,j. 28.06.1990, v.u., JTACSP 126/322. 0 '' La motivazione della.sentenza civile, p. 464. '"' Idem, p. 465. +'·'·--'-'~-.. '·-·······-- _____ , __ _ -----------~C~F~,~a~~·~93~,~X~I~I ______ _ Altera~;ao por inclusao: Art. 93. [ ... ] XII- a atividade. jurisdicional se.ra ininte.rrupta, se.ndo ve.dado ferias co- le.tivas nos jufzos e tribunals de segun- do grau, funcionando, nos dias em que nao houver expediente. forense nor- mal, jufzes em plantae pe.rmane.nte.; COMENTARIOS. Em atengao a regra segundo a qual o processo deve ter duragao ra- zoavel (CF, art. 5.0 , LXXVIII), estabeleceu a Emenda Constitucional diversas disposi<;:oes que, somadas, podem contribuir para que os atos processuais se desenvolvam mais celeremente. A regra estabelecida no inciso XII do art. 93, ao eliminar as fe- rias coletivas nos jufzos e tribunais de segundo grau, no en tanto, ca- recera de efetividade se, no perfodo tradicional de ferias dos magis- trados - que, segundo o art. 66 da LOMAN, e de sessenta dias - a atividade que seria realizada por aquele que seen contra em ferias nao for desenvolvida por outro juiz. A efetividade da nova norma consti- tucional, assim, dependera da existencia de jufzes em quantidade su- ficiente para a manuten~;ao regular das atividades daqueles que seen- contram em ferias. De todo o modo, parece que o Iegislador constitucional nao Ievou emconsideragao peculiaridades de nosso Pafs, que talvez justificassem a manuten~;ao de ferias coletivas, pelo menos no perfodo que envolve as festas de final de ano e o mes de janeiro. E duvidoso, a nao ser que haja uma verdadeira revolu<;:iio cultural de ambito nacional, que os processos traJrlitem no mes de janeiro como se este fosse urn mes "normal". 48 BREVES COMEt·lTARIOS ANOVA SISTEMATICA PROCESSUALCIVIL De todo o modo, ainexistencia de ferias coletivas mitigara a aplica- 9iio do art. 179 do CPC. 0 art. 173 do C6digo, por sua vez, se restringira apenas aos feriados. .. ' '' -~ . .-,.· ..-Gf,.a~t-.---93,~XIII- - _:,;~ ~="""=-~-----~~~~~-.• ---~~-.-----.~--· -~~--~~ '.<; _ ------~~ 1 ~Itera~iio por inclusiio: Art. 93. [ ... ]XIII- o numero de jui- zes na unidade jurisdicional sera pro- porcional a efetiva demanda judiciale a respectiva populavao; COMENTARIOS E evidente que, para que a presta9iio jurisdicional se realize em tempo razoavel, nao basta a cria9iio de mecanismos processuais diferenciados. A existencia de jufzes em quantidade condizente com a quantidade de demandas judiciais e a popula9ao local e condi9iio essencial para o de- senvolvimento celere do processo. A aspira9ao contida na norma ora comentada depende, no en tan- to, da observa91io de alguns fatores para alcan9ar a correspondente eficacia. Nao M, pelo que se sabe, qualquer estudo cientffico que a~nte, com precisao, "o numero de jufzes na unidade jurisdicional" que seja "proporcional a efetiva demanda judicial e a respectiva popula9ao" . .E precise reconhecer que, em casos como este, a compara9ao com pafses diferentes do nosso pode nao conduzir a resultados satisfat6rios. Pensamos que e muito diffcil, senao impossfvel, dizer qual a pro- por9iio ideal de juizes por habitantes, ou por demandas. See certo que, no Brasil, a quantidade atual de jufzes por habitantes e pequena, nao haveni como se aplicaro.art. 93, XII da Constitui9iio Federal, se nao houver uma demonstra9ao clara e justificada de qual seja o numero ideal. A amplia9iio dos quadros do Poder Judiciatio importara o aumen- to de despesas para o Estado. Caso o Estado nao tenha condi96es de supottar tal aumento, o preceito constitucional em questao careceni de efeti vidade. ~ ~ ~ ~ '~ ~ '-._./ \-· ~ ~ ~ ~ '----' -~ '-./ 50 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL Assim, como o aumento da propor9ao de juizef. nao e possfvel em curto prazo, a solu9ao seria otimizar o aparato judicial hoje existente, tornando a atua9ao dos jufzes mais organizada e eficaz. • . 11.\LIOTECA CENTRAL "DES. GERVASIOPRATA'' \IBUNAL DE JUSTK;A DO EST ADO DE SERG!Pf ·#·~·~~-------,;;;C~F.,k, ;,;;a!t. 93, XIV Altera~;ao por inclusao: Art. 93. [ ... ] XIV- os servidores receberii.o delegayii.o para a pni.tica de atos de administrayii.o e atos de mero expediente sem carater decis6rio; COMENTARIOS A Emenda Constitucional n. 45/2004 consagrou definitivamente a possibilidade de delega9iio ao servidor judiciario, ao prever, textualmen- te, no inciso XIV do art. 93 da CF, que: "Os servidores receberiio dele- gar;iio para a pratica de atos de administrar;iio e atos de mero expediente sem cartiter decis6rio". No que se refere a pnitica de atos de administrayao, realmente nada ha que imponha que tal atividade deva ser, necessariamente, realizada por urn juiz. Por exemplo, a dire9ao do forum de uma comarca pode ser tao eficiente se realizada por urn escrivao on por urn juiz. A possibilidade de pratica de atos processuais sem caniter deciso- rio, como os despachos de mero expediente, e prevista no art. 162, § 4.0 do CPC. Trata-se de situa9ao que, a partir da Emenda n. 45, ganha emba- samento constitucional. CANDIDO RANGEL DINAMARCOobserva ser ja antiga a ideia de que se deveriam atribuir fun96es ligadas ao impulso processual a au- xiliares da justi9a, atenuando a sobrecarga de trabalho dosjtifzes;·defor"~--- ma a que o proprio cartorio realizasse certos atos de rotina pura, efetiva- mente desprovidos de carater decisorio relevante. Exata e precisamente · essa ideia, que CANDIDO DINAMARCO chama com propriedac!e.cle .... "automatismo judicial'', 1 e que foi encampada pelo nosso diteito, nano:va . I - . - ''' VerA reforma do C6iioi8.9,<Je}r~ces'so <;:ivil, 2. ed.; Malheirosi{i{lO .• ,_ ~ . . . 52 BREVES COMENTARIOS A NOVA S[STE!vlt\.TICA PROCESSUALCI\I!t CF, ARTIGO 93, XIV. 53 d ao do art 162, §4 .o, do CPC e, com areformacoii.stitJJ.d2!'lafL!}Q~art; . 1 · Nao se pode, assim, "delegar" aos auxiliares dajustis;a a funs;ao de re a<; · . . _ F d 1 < resolver assuntos dessa natureza, embora se trate de despacho, e.na.o d.e 93 XIV da Const1tm<;ao e era · d · - · 1 • · M d d - • · , . . . . .... . . . . . ........ -· ... ec1sao mter ocutona. as e espacho que nao e de mero expedwnte. O.art. 162, § 4.0 e dispositivo de caraterexemphf!catlvo, ~m que se . ' . . ' " d' t 'rios" devem ser pratlcado.s ~-"· • ..·· .... ·.·· .. · Ass1m, parece-nos uti! e mteres~ante fazer-se essa d1ferens;a em .•. esta,~\f)e<;e que atos mera~ente 0~ 1:~ 0 ual1do-necessario for./Esses:<i'·'~ • • · · relas;~oao grau de coiJWI~Jti(,la,!iedefaci()¢Jnfo exig\go do agente, para se · ·o.iffh:/0 pelo ser.vtdor e revistos pe 0 J 12• q 1 .·· d t'· h ) ou·a· ·•· · · classtficar o ato como sendo despacho de mero expediente ( e nesse caso · · · Io aJ·untada (de urn ro e tes emun as, v.g. . , . . , atos senam, porexemp • sena tarefa, pelo menos predominantemente, do serventuario que atua vista obrigat6ria. no cart6rio) daqueles despachos que nao seriam de mero expediente, cuja E importante notar que a norma constitucional refere,s:,expr~ssa- prolas;ao continua sendo do ambito de atividade privativa do juiz. · • d · ' · D1ante disso . mente, a atos de mero exped1ente sem carater eczs?rw. . . ' BARBOSAMOREIRA,emtrabalhoeditadodepoisdainclusaodo parece serconveniente distinguir, dentre os atos profendo:' pelo JU!Z, entre art. 162, § 4. 0 do CPC,' alude diversas vezes a estes despachos "sobrevi- aque!es que sao, de fato, de mero expediente e os.q~e. nao chegam a.ser ventes", que certamente nao sao os de mero expediente, pois estes, em decisiio interlocut6ria, mas tern algum cunho dectsono e que, no regime principia, hoje ficam a cargo do serventmirio. Veja-se, quando esse autor atual niio devem ficar a cargo do serventuario da justiqa. alude, por exemplo, ao despacho liminar no processo com urn de conhe- ' • 1 co 0 despacho por meio do qual o cimento 6 ou no procedimento sumario. 7 Eo que ocorre, por exemp o, m . juiz recebe a a<;ao e determina que se efetive a citaqao.2 Esse pronuncta- Daleiturado dispositive oracomentado, conclui-se queaquilo que men to do juiz nao significa de modo a! gum que se esteja reconhecendo o juiz. fazia, no sistema anterior, por meio de despachos, a que parte da estarem presentes as condis;oes da a<;ao, os pressuposto.s process11ais . dout_n?~ cha~avadedesp~chos .de me;~ e:x;pe?ie~te, agora toc~r~ ao . . . · cartono. pratlcamente, sera o serventuano da JUStl<;a que profenra os posittvos etc. d h s .. h'd . - espac os. Nao M, assim, decisiio a esse respeito, ate porque nao " ectsoes implfcitas no direito brasileiro. 3 Mas o fa to e que o magistrado pode, ao receber a inicial, determinar que seja em en dada, se foro caso (art. 28~ do CPC), e ate, em certas hip6teses extremas, extinguir o processo comjul- gamento de merito, constatando a decadencia c:~c, art. 2?9, IV), ?u, ainda, extinguir o processo sem julgamento de mento, profenndo, ass1m, uma sentens;a processual (CPC, art. 267).4 "' Em primoroso ac6rdilo do Superior Tribunal de Justi9a, cujo relator foi o Ministro SAL VIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, ficou assentado que ci· tGfdO ndo e a to decis6rio. Decidiu-se que 0 juiz que se limitou a determinar a cita9ilo para a causa em primeiro grau nilo fica impedido de participar do julgamento da apela9ao, pais o ato que determina que se realize a cita9ao e despacho e nilo decisao interlocut6ria (STJ, 4.' T., REsp 9.031-MG, j. 18.02.1992, DJ30.03.!992). '" A respeito da inexistencia de decis6es implfcitas, cf. TERESA ARRU- DA AL VIM W AMBIER, Nulidades do processo e da senten~a, cil., n. 3.1.4. ''' Cf., a respeito, comentarios aos arts. 162, § 1.", 269 e463, infra. '" 0 novo processo civil brasi!eiro, 22. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2002. "' BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 22 ss. "' BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 307. • '" SERGIO BERMUDES foi urn dos comentadores do art. 162, § 4.' do CPC que se apercebeu, com a sua habituallucidez, de que os atos que ficam, hoje, a cargo do serventuario da justi9a sao os que seriam, a Iuz do sistema anterior, despachos de mero expediente (A refonna do CPC, Saraiva, 1996, p. 15, n. 2). Assevera, tambem, este autor que nilo cabe recurso do ato do cartonirio, mas daresposta que da o juizquanto ao requerimento da parte no senti do de que reveja o ato do cartorario. Concordamos integralmente com esta posi9iio. S6 nilo estamos de acordo com que este ex-despacho de mero expediente, ~ausando prejufzo, se transmudaria em decisiio interlocut6ria, pais "causar prejufzo" e efeito, e!emento acidenta], extrfnseco a 1109il0 de despacho de mero expediente, nao !he integrand a a essen cia. 0 au tor, cuja opinHio ora comentamos, niio afirma que haja esta transmu- da9ilo. Diz, apenas, que, "af, nao ten! ( o juiz) proferido despacho de mero expediente, cuja caracteristica e nilo gerar prejufzo de qualquer·ordem" (op. cit., p. 16, n. 3). ~ ~ ~ ·~ ·~ ~ 1~<- L ,, 54 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL Esses despachos hoje sao "proferidos" pelo serventmirio da justis;a. 0 juiz, salvo se for necessaria (como diz o proprio dispositivo co menta- do) hoje, pelo menos em princ!pio, niio profere mais despachos de mero expediente, ja que os despachos de mero expediente eram justamente aqueles atos meramente ordinat6rios, cujo objetivo e promover o anda- mento do feito, levando a efeito e dando rendimento ao prindpio do im- pulso oficial (art. 262). Esses atos meramente ordinat6rios sao, porexemplo, aremessados autos ao .contador, a entrega do processo ao perito, cobrans;a de autos indevidamente retidos pelo advogado .da parte etc. 4 E importante frisar-se, todavia, segundo a nova disciplina, se estes atos podem continuar a ser considerados como atos do juiz. Parece-nos que sim. 0 que houve foi urn mecanismo analogo a delega9ao, ja que se trata de ato praticado no exerdcio de poder "vinculado", see que se pode estabelecer esta analogia com esta categoria que, na verdade, e mais afei- ta ao direito administrativo. Ademais, conforme a dic9ao legal, estes atos deverao ser revistos pelo juiz, se necessaria (CPC, art. 162, § 4.0 ). Deste modo; apesar da altefa9ao ora comentada, os atos a que se refere o art. 93, XIV nao deixam de ser ontologicamente atos do jufzo, que em decorrencia de louvaveis inten9oes do legislador e para efeito de verdadeira "desburocratiza9ao" dos procedimentos sao, hoje, "delega- dos" para o serventmirio dajusti9a, e, ademais, quando necessaria o juiz, justamente pelo que acima se afirmou, tern o dever de reve-los. 0 que h:i em comum entre as decisoes interlocut6rias e a natureza de seu conteudo, queM de ser decis6ria. 0 mesmo raciodnio pode ser feito no que diz respeito aos atos meramente ordinat6rios, pois o que ha em comum entre os pronunciamentos desta categoria e a ausencia de conteudo relevantemente decis6rio. Donde a impossibilidade de se tra- s;ar urn perfil que os identifique, que os distinga dos demais pronuncia- mentos, com as suas caracterfsticas
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