Buscar

breves comentarios nova sistemas processual civil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 202 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Luiz Houri~ues Wamuier .. Teresa ~rruua Mvim WamlJier 
Jose Mi~uel Garcia Metlina 
Breves ~omentarios a 
Nova ~istematica Processual ~ivil 
• Emenda Constitucional n. 45/2004 (Relorma do Judiciario) 
• Leis 10.444/2002; 10.358/2001 e 10.352/2001 
• 
3.0 edi!UO revista, otualizoda e ampliada da 
2.0 edi!ao dn obru Breves Comentarios a 2.0 fase da Reforma do Coaigo de Processo Civil 
"Trato-se, no verdode, do 3.' edi)nO, revisto, otuolizodo e ompliodo, dos Breves Comentarios 
a 2.' Fuse da Reforma do C6digo de Processo Civil, que, em duos edi)oes, comentoram os olte-
ra)oes sofridos pelo CPC,em razno dos Leis 10.352, de 26.12.2001, 10.358, de 27.12.2001 
e 10.444, de 07.05.2002. · 
A ohra loi profundomenfe modilicodo. Ao trabolho dos outores dos duos primeiras edi)oes, 
Luiz Rodrigues Wombier e Teresa Arruda Alvim Wombier, se soma, agora, o trabolho de urn 
terceiro oufor, Jose Miguel Gordo Medina. 
Alem disso; a partir desta edi)no, os Breves Comentarios dizem respeito nno so ii dispositivos 
do Codigo de Processo Civil, mos tambem aos preceitos inseridos no Consfifui)no Federal, pelo 
Emendo Consfitucionol n. 45/2004, alguns que tern reflexos evidentes no direito processuol 
civil e 'outros que se consubstanciam em materia processual." 
(Oa Apresenla}iio a3.' edi}iio.) 
---
~-~$ 
c::=E S g~~ 
-~.§-~ 
-~-== 
-E;;=:o.....:r5 ~E~ 
'E::; ..!';;":-= 
--" ~-~ 
~-? 
="" c-::s 
c= 
= 
"""" e;:, 
= 
= :::= 
0:::: 
c= 
-= 
-· ... ~:; E 
= _,.__, 
cr.> 
c;:;5 
c= 
;;=-
= 
= 
·-= 
c.<:> 
-= ~~ 
..-,..:; 
=:: 
= 
= = <:::.-"> 
cr.> 
= 
==-
= ::o-
= 
luiz Ron1Ji~ues Wamnier 
Teresa irrmla Alvim Wambier 
Jose Mi~uel Garcia Medina 
Breves Comentarios a 
Nova ~istemauca 
· ProcessualllivH 
• Emenda Constitucionul n. 45/2004 (Relorma doJudiciario) 
·Leis 10.444/2002; 10.358/2001 e 10.352/200.1 
:i47;•ii1-;J\s .io1.. 73 (81) (091 .4 :o. o 
((((((( ( ( ( ( ( c ( (((((( r r c~·· c· ( 
" ' ' ' 
tulz nouriuues Wamllier 
SUMAIUO 
APRESENTA<;:Ji.O A 3.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 7 
NOTA DOS AUTO RES DAS EDI<;:OES ANTERIORES ....... ~.............. 9 
APRESENTA<;:Ji.O A 2.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 11 
APRESENTA<;:Ji.O A 1.' EDI<;:Ji.O ......................................................... 13 
PARTE! 
REFLEXOS DA REFORMA CONSTITUCIONAL 
NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO 
Art. 5. •, LXXVIII 
Dura91io razoavel do processo . .................................. ............... ... ... . .. 25 
Art. 93, IX 
Motiva91io das decis5es judiciais- Publicidade dos atos processuais . 32 
Art. 93, XII 
Elimina91io das ferias coletivas nos jufzos de primeiro grau enos tri-
bunais de segundo grau ...... :'···············"··:: .. :::~ .. ~.:............................... 47 
Art. 93,XIII 
Quantidade de jufzes-, lllJmeLQ_pSQ!lOfciOnaJ a efetiva demat~da e a po-
pulaviio ............................................................................................... 49 
Art.93,XIV 
Atos de administra91io - atos meramente-ordinat6rios - pnitica por 
servidores, e nao por jufzes •. -.. -.... -.-...... -.-.-.• y,yo7•:--:0::.:•7•::"..:c~ ... x·:•o:•:~·:.-.-.-..................... 51 
Art.93,XV 
Distribuiviio imediata -dos.processos::_~;:::~:S~,~-~~~~:.,~.::,:.~:,.,......... 55 
-: 2(f - . B~\iES_~OMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
--ArCio~-;J!I;alinea<(::::.~:::=-: -
___ Re9urso _!'Xtr_aordi_n_at:iQ _,-amplia9ao das hip6teses de cabimento -
questao constitucional sobre a va!idade de lei local contestada em 
face de lei federal .............................................................................. . 
Art.102, § 2. 0 
A<;ao declarat6ria de constitucionalidade- a<;ao direta de inconsti-
tucionalidade- eficacia erg a omnes- efeito vinculante- Poder Ju-
diciario eAdministra<;ao Publica direta e indireta- esferas federal, 
estadual e municipal- efeitos ex nunc e ex tunc- senten<;as transita-
das em julgado- a<;ao rescis6ria e a<;ao declarat6ria de inexistencia 
(querela nullitatis insanabilis) .......................................................... . 
Art. 102, § 3." 
Recurso extraordinario - necessidade de demonstra<;lio de repercus-
56 
59 
sao geral - novo requisito de admissibilidade ........... ....... ...... ... . . ...... 97 
Art.103·A 
Sumula vinculante- objeto- criterios para a cria<;ao, revisao e cance-
lamento- cabimento de reclama<;ao ................................................. . 106 
Art. 105, III, aliuea b 
Recurso especial - resrri<;ao das hip6teses de cabimento - questao 
sobre a validade de lei local contestada em face de lei federal .......... 129 
PARTE II 
A REFORMA DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO 
Art.14 
Deveres das partes e de todos OS que participam do processo - nao 
dificultar o atingimento da finalidade do processo- san<;ao ............ . 131 
Art. 253 
Distribui<;ao por dependencia- nova hip6tese................................... !55 
Art. 273 
Tutela antecipada - execu<;ao e efetiva<;ao da providencia - pedido 
incontroverso- medida cautelar- "fungibilidade" ........................... I 65 
SUM ARlO 21 
Art. 275 
Procedimento sumario ~valor da causa ............................................ . 183 
Art. 280 
Proceditnento surriario- contrato de ·seg1iroc.,, ....... ,,; ...................... .. 185 
Art.287 
Extensao do regime do art. 461 ....................................................... ... 197 
Se~lio III do Capitulo V do Titulo VIII do Livro I 
Altera9ao do nome ....................................................................... , ... .. 201 
Art.331 
Audiencia preliminar- hip6tese para designa<;ao- possibilidade de 
representa<;ao das partes por procurador ............................................ 202 
Art. 407 
Testemunhas- deposito do rol- prazo ............................................. . 209 
Art. 431-A 
~ 
Prova pericial- ciencia da data e local do inicio '- intima<;ao ........... 211 
v 
Art. 431-B 
·~ 
Prova pericial- pericia complexa .................................................... ~ 211 
-
Art. 433 
·-
Prova pericial-prazo para apresenta<;ao dos pareceres dos assistentes 
tecnicos- intima<;ao das partes ........................................................ :. 223 
\..__-.' 
~-
Art. 461 -"-.../-
Efetiva<;ao da tutela especffica ........................................................ ; .. · ~ 230 
Art. 461-A '-J 
'-' 
Obriga<;ao de entrega de coisa- unifica<;ao dos regimes de efetiva<;ao 
da decisao ........................................................................................... 238 -~ 
Art.475 ~ 
~ 
Reexame neeessario- supressao de uma hip6tese.,. cria<;ao de exce-
96es .................................................................... :;.............................. 241 
-~ 
22 BREVES COMENTAR!OS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
Art. 498 
Prazos - recursos excepcionais - embargos infringentes .................. 253 
Art. 515, § 3.0 
Apela<;ao - julgamento da !ide pelo tribunal - supressao do duplo 
grau .................................................................................................... 258 
Art. 520, VII 
Apela<;ao- ausencia de efeito suspensive- antecipa<;ao de tutela.... 275 
Art. 523, § 2.0 
• 
Agravo retido- prazo para contra-razoes- reforma da decisao ........ 283 
Art. 523, § 4.0 
Agravo retido- decisoes proferidas na audiencia e depois da senten<;a 
- exce<;oes .......................................................................................... 283 
Art. 526,paragrafo unico 
Agravo de instrumento - onus - juntada da peti<;ao de agravo nos 
autos do processo ............................................................................... 290 
Art.527 
Agravo de instrumento - possibilidade de conversao de agravo de 
instrumento em agravo retido- possibilidade de atribui<;ao de efeito . 
ativo e de antecipa<;ao da tutela recursai ............................................ 296 
Art. 530 
Embargos infringentes- redu<;ao das hip6teses de cabimento .......... 308 
SUMARIO 23 
Art. 542 
Recursos especial e extraordinfirio - protocolo - vista para contra-
raz6es- usa do protocol a integrado .................................................. 320 
Art. 544, § 1.0 
Recursos especial e extraordinario - agravo de instrumento - novas 
pe<;as obrigat6rias- capias dedaradas autenticas pelo advogado ..... 324 
Art. 544, § 2.0 
Recursos especial e extraordimirio- agravo de instrumento- dispen-
sa do pagamento de custas e despesas postais ................................... 324 
Art. 547, paragrafo unico 
Protocolo descentralizado .................................................................. 330 
Art. 555, § 1. • 
Julgamento de apela<;ao ou agravo- quorum.................................... 331 
Art. 555, § 2.0 
Versao abreviada da uniformiza<;ao de jurisprudencia ....................... . 331 
Art. 575, IV 
Senten<;a arbitral- competencia para execu<;ao ................................. 339 
Art. 584, III 
Senten<;a homologat6ria de transa<;ao ou concilia<;ao- tftulo executi-
ve judicial .......................................................................................... 341 
Art. 584, VI 
Art. 531 
.... .. . .. ·-··- .. _______ Senten<;a arbitral - tftulo executive judicial ....................................... 341 
Embargos infringentes- contradit6rio- momenta ........................... 315 Art. 588 
Art. 533 Novo regime da execu<;ao provis6ria- possibilidade de atos de alie-
Embargos infringentes- processamento ...................................... ;;;;;--318-------T- -na<;ao- cau<;ao- dispensabilidade .................................................... 350 
Art.534 Art. 604 
Embargos infringentes- normas regimentais- novo relator .:: .. ;:;:;:::·c-318 :."-'. - +c-:-:c':~ ·:: .. Memoria do calculo- dados nao disponfveis- providencias ............ 364 
-- ~ 
- ~!-
24 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
Art.621 
Obriga~ao de entrega de coisa- execu~ao de entrega de coisa -tftulo 
extrajudicial ....................................................................................... 376 
.Art. 624 
Obriga~ao d~ ~niregade coisa- exci:il~ao de'entrega de coisa- tftulo 
extrajudicial .... , ................................... , ............................................ .. 379 
Art. 627 
Obriga~ao de entrega de coisa- execu~ao de entrega de coisa- tftulo 
extrajudicial ............................... ~....................................................... 380 
Art. 644 
Uniformiza<;ao dos regimes de efetiva<;ao da decisao ........................ 381 
Art. 659 
Penh ora- registro- fun<;ao- realiza<;ao por termo nos autos........... 383 
Art. 744 .. 
Execu<;ao para entrega de coisa- embargos de reten<;ao por benfeitorias . 388 
Art.814 
Arresto- comprova<;ao do fumus bani iuris ...................................... 390 
DIREITO INTERTEMPORAL ............................................................... 395 
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 413 
ANEXOS 
I. Lei 10.352, de 26 de dezembro de 2001 ........................................ 433 
2. Lei 10.358, de 27 de dezembro de 200 I ........................................ 436 
3. Lei 10.444, de 7 de maio de 2002 .................................................. 437 
4. Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004 (artigos 
comentados) ................................................................................... 441 
OBRAS DOS AUTO RES........................................................................ 445 . 
''-, 
'.-· 
. PAKTEI 
,.:._<_;,-, 
CF, art 5.0 , LXXVIII 
Altera~ao por inclusao: 
Art. 5.• [ ... ] LXXVIII- a todos, no 
ambito judicial e administrative, sao 
assegurados a razoavel duravao do 
processo e os meios que garantam a 
· celelidade de .sua trami!avao. 
COMENTARIOS 
Por fon;a da Emenda Constitucional n. 45, promulgada em 
08.12.2004, foi acrescido ao art. 5.0 o inciso LXXVIII, que assegura a 
todos, tanto no ambito do processo judicial quauto do processo adminis-
trativo, o dire ito a razoavel durar:ao do process a, bern como a meios que 
garantam que sua tramitac;:ao se de de modo celere. A Constituic;:ao Fede-
ral italiana contem disposic;:ao semelhante, em seu art. 111.' 
'" "La giurisdizione si attua mediante ii giusto processo regolato dalla Iegge. 
[ ... ] La Iegge ne assicura Ia ragionevole durata." A respeito, cf., dentre 
outros, LUIGI PAOLO COMOGLIO, Garanzie costituzionali e "giusto 
processo", Revista de Processo, v. 90, p. 95-150, abr./jun. 1998; idem, II 
"giusto processo" civile nella dimensione comparatistica, Revista de Pro-
cesso, v. 108, out./dez. 2002 p.133-183; GIUSEPPE TARZIA, II giusto 
processo di esecuzione, Rivista di Diritto Processuale, v. 57, 2002, p. 
329-350; SERGIO CHIARLONI, II nuovo art. 111 Cost. e ii processo 
civile, Rivista di Diritto Processuale, v. 55, 2000, p. 1010-1 034; NICOLO 
TROCKER, II nuovo articolo 111 della costituzione e ii giusto processo 
·r 
·v 
-'J· 
--
v 
'}" 
~· 
' :? 
' 'l---' 
+ 
~-
.t-" 
j 
).J 
26 BREVES COMENTAR!OS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CML 
A respeito, tecemos considera9oes quando comentamos a reforma 
do processo civil brasileiro (cf. infra, em especial comentarios aos arts. 
14, 273 e 461 do CPC). A preocupa9iio com celeridade, tempestividade 
e efetividade da tutelajurisdicionallans;ada naquelas linhas aplica-se ao 
preceito constitucional ora comentado. 
Segundo pensamos, a garantia de razoavel durarao do processo 
constitui desdobramento do princfpio estabelecido no art. 5.0 , XXXV. E 
que, como a lei nao pode excluir da aprecia9ao do Poder Judiciario lesao 
ou ameara a direito, e natural que a tutela a ser realizada pelo Poder Ju-
diciario deve sercapaz de realizar, eficazmente, aquilo que o ordenamen-
to jurfdico material reserva a parte. E eficaz e a tutela jurisdicional pres-
tada tempestivamente, e nao tcirdiamente. 
A presta9ao jurisdicional tardia, deste modo, pode ser considera-
da, no mais das vezes, nma tutela jurisdicional VAZIA, sem conteudo. 
Segundo nossa conceps;ao de Jurisdi9iio, esta e funs;ao do Estado,2 ser-
viyo publico prestado pelo Poder Judiciario.3 Falar-se em Jurisdi9ao 
estatal destitufda de instrumentos que permitam realizar no tempo de-
vida o Direito implicaria rednzir significativamente sua importancia e 
rilzao de ser, especialmente sese considerar que, na sociedade moder-
na, cada vez maior tern sido a preocnpayao com a materializayao dos 
direitos. Diante disso, em urn Estado que se pretende Democratico e de 
Direito, que idealiza e se compromete com objetivos tidos por essen-
dais (CF, arts. J.O e 3.0 , dentre outros), deve a Jnrisdi9ao ser vista e 
estudada sob a 6tica de ser integrante deste esfor9o ou, mais que isso, 
realizadora pratica deste desiderata. 
Pode-se dizer, diante de tais considera96es, que e acertada a concepyao 
de Jurisdis;ao como atividade destinada a identificayao e imposi9ao do 
Direito, solucionando conflitos~a filii de se alcans;ar a pazjuridica.4 Como 
in materia civile: profili generali, Rivista Trimestra/e di Diritto e Procedura 
Civ}le,v. 55,2001, p.38!-410,. ··~··· · 
"' Cf. ANDREA PROTO PISANI, Lezioni di diritto processua/e civile, p. 758. 
"' . Nessese.!1ti(!o,_ARi\.I<:fil':LP!LASsJs;::9Qn(::ul:so especial de credores no 
CPC,p.23. 
"' Cf. OTMAR~JA:BERN!G;:Direito processual civil, p. 35. A expressiio 
-"pazjurfdk-a'~;:utitizada-pelo-processualista-aiemao,pode, segundo pen-
samos, ser substitu~dapof segurtlnfa jurfdica, no .sentido que emprega-
mos n"'t~)(_t()"-~~.~~ .•........•.. 
------~~-=-'---· -
CF, ART! GO 5.0 , LXXVIII 27 
nao basta proclamarem-se direitos, o Poder Judich\rio deve ter como pro-
teger e realizar tais direitos. 
Neste sentido, cresce no mundo modemo a preocupa9ao com a se-
guranra juridica e a estabilidade das instituiroes jurfdicas. Evidente-
mente, a demora da realiza9iio da presta9ao jurisdicional nao apenas e 
algo contraproduceilte, mas, mais que isso, vai contra a pr6pria natureza 
da tutela jurisdicional, de acordo_com afeirao que lhe foi atribufda pe/a 
Constituirao Federal. E que a prestarao jurisdicional tardia e Jatar de 
inseguranra, na inedida em que contribui para a intranqiiilidade do que 
seja, efetivamente, o sentido do Dire ito para as cidaooos. 
Nesse contexto, a reforma constitucional comentada institui prin-
cfpios que constituem aspiraroes poUticas,ja que dispositivos como o 
ora estudado somente terao repercussao na realidade jurfdico-social na 
medida em que aqueles que interagem com a realizayao da tutela juris-
dicional efetivamente cooperarem para a realizayao tempestiva da or-
dem jurfdica. 
0 direito processual civil moderno conhece diversos instrumentos 
que, ao menos no plano legal, realizam a aspirayao express adana Cons-
tituiyao Federal. Os instrumentos a que nosreferimos abaixo, co men tan-
do os arts. 14, 273, 461, 461-A, dentre outros, foram todos criados com 
a preocupayao de se realizar mais rapidamente possfvel o direito subjeti-
vo da parte. 
Por "efetividade", no entanto, nao sedeve compreender necessaria-
mente a tutela rapida, mesmo que insegura e instavel, da situa9ao sub-
metida ao juiz. A cria9ao de mecanismos fundados em cogni9ao sum a-
ria, se, por urn !ado, em muito contribui para a efetividade da tutelajuris-
dicional, por outro, repercute inevitavelmente no plano recursal. E que, 
como a decisao fundada em cogni9ao sumaria tern maior probabilidade 
de erro, se comparada a seiltenya, naturalmente as partes tenderao a in-
surgir-se com mais freqiiencia contra tais decisoes. 
Assim, a constru9ao de urn sistema jurfdico-processual racional 
requer nao apehas instrumentos que possibilitem a realizayao de tutelas 
de urgencia, normalmente fundadas em cogniyaO sumaria, mas instru-
mentos que permitam a realizayao segura dos direitos, sem instabilidade. 
E que a inconstitncia jurfdica das decis6es, normalmente, repercutini em 
"respostas" das partes e da sociedade, que poderao provocar a dilatas;ao 
da litigiosidade, atraves de recursos contra as decisoes judiciais ou do 
ajnizamento de novas a96es. Por exemplo, as reformas processuais rea-
28 BREVES COMENTARIOS A NOVA SiSTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
lizadas na decada de 1990 tiveram;por finalidade melhorar a qualidade 
da tutela jurisdicional,mas reflexamente os Tribunais viram multipli~ 
car-se os recursos, demorandocse ainf!a~mais a resolw;:ao definitiva dos 
conflitos. E que tais reformas recentes aumentaram os poderes de inter-
pret~((ao d()juiz,permiti!ldO que s~re<)!izem de imediatoos diryJ\(\syec 
~ rificaMs corn p~se em merosjiifzos de verossirriilhan~a.~Evideniem~tite; 
como a qtJalidade da decisao judicial fundada em cogni((lio'summa ten-
de a ser inferior aquela realizada combase em cogni((ao exauriente, e 
mais facil encontrarincorre96es e motivos pararecorrerem tais decisoes. 
Como em sede recursal, muitas vezes,, a parte provocara a prola9ao de 
decisao fundada em cognic;:ao summa (cf., p.ex., arts. 527, III, e 558 do 
CPC), tende-se a recorrer mais uma vez, manejando-se todos os recursos 
previstos no ordenamento jurfdico-processual, ate se encontrar uma so-
luc;:ao jurfdicadefinitiva. Consideran<lo que a decisao que esta sendo exe-
cutada e instavel e precma, em razao do grau reduzido de cognic;:ao que 
foi empregado pelo 6rgao judicial, e compreensfvel que a parte nao a 
cumpra, pois confia nao s6 na possibilidade de erro do juiz, mas tambem 
na instabilidade da jurisprudencia e na possibilidade de ver a tese que 
esta a defender sagrar-se vencedora em alguma das instancias recursais. 
Acrescente-se que os entendinientos jurisprudenciais evoluem rapidamen-
te, e a orientac;:ao dominante de algum dos Tribunais Superiores pode 
alterar-se em favor do recorrente.5 
Assim, a tutelajurisdicional tempestiva deve ser vista em sua rela-
r;ao como meio em que deve atuar. Oeste modo, deve ser considerada a 
repercussao da decisao judicial entre as partes eo feedback deste evento 
em relac;:ao a pr6pria atividade jurisdicional, pois o desenvolvimento dos 
atos processuais nao e linear e unidirecional- is toe, nao se esgota com a 
concessao de uma liminar ou a publicac;:ao de uma decisao judicial-mas 
"' Exemplo recente: a Sumula 263 do STJ ("a cobran~a antecipada do valor 
residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, trans-
formando-o em compra e venda a presta,ao") foi enunciada em 08.05.2002 
e publicada no DJU de 20.05.2002, p. 188. Durou pouco mais de urn ano, 
tendo sido cancelada em 10.09.2003 (cf. STJ, 2.' Se~ao, REsp 443143-GO, 
rei. Min. ANT6NIO DEPADUARIBEIRO,j. 10.09,2003, DJU29.09.2003, 
p. 142) e, atualmente, 0 tema e regulado pela sumula n. 293 do mesmo 
Tribunal ("a cobran~a antecipaja do valor residual garantido (VRG) nao 
descaracteriza o contratO de arrend3.ment:o rnercantil"), enuhciada em 
05.05.2004, publicada no DJ de 13.05.2003, p. 183. 
cr:,-1\R.T!G~G~.\;'ikXXVfil'~- 29 
"circular", porquanto~ aos atos,judieiaiSosueedelli.-comportamentos das 
partes que se ajustarao ou reagirao~contra·eles;-exigindo•se novos atos 
judiciais, e assim sucessivamente.De nada adianta criar soluc;:oes palia-
tivas, que apenas iransferiifi() 0 problema para outro~Plano. 
Assim, a criac;:ao de mecanismos_de.tutela;fundados~emcognis:ao 
summa e importante, mas deve ser'dcaiiipaltiiitdiLJe mecdnismos que -
garantam, igualmente, a definir;ao celere e precisa do dire ito executado. 
A durar;ao razoavel do processo, assim; sera aquela em que melhor 
se puder encontrar o meio-termo entre definis:ao segura da existencia do 
direito e realizac;:ao rapid a do direito cuja existencia foi reconhecida pelo 
juiz. A equac;:ao destinada a definir o que e durariio razoavel devera levar 
em considera91io diversos fatores, tais como: 
(a) Importancia do bemjurfdico emjogo:naturalmente, as regras 
processuais e a estrutura do Poder J udicimo devem estar preparadas para 
resolver rapidamente, por exemplo, questoes em que estao no centro da 
discussao a vida e a satide das pessoas, ou outros bens fundamentais. E 
que tais bens podem perecer, se nao se resolver celeremente o litfgio. 
(b) Repercussao da soluc;:ao jurfdica para asociedade: nos casosem 
que da soluc;:ao judicial podera resultar o ajuizamento de novas ac;:oes, 
deve o sistema incentivar o ajuizamento de ac;:oes coletivas, que penni-
tam a unificac;:ao de litfgios etu uma s6 demanda, evitando-se, com isso, 
a existencia devmas e diversificadasdecisoesjudiciais, sobre urn mes-
mo problema de Direito. 
Nestes casos, impoe-se ao juiz um peculiar modo de pf3nsaro Direi-
to, levandoem considerac;:ao nao apenas a soluc;:ao de "urn" litfgio, lnas a 
repercussao que a sua decisao tera para os demais jurisdicionados, que 
poderao ver-se incentivados a ajuizar ac;:oes, porque se teni criado uma 
expectativa, em razao daquela decisao judicial. A massificar;ao dos di-
reitos, assim, e fa tor que nao podeni passar despercebido, seja pelo legis-
lador, seja pelo juiz. 
(c) Aconcessao de Iiminar fundada em cognic;:ao sumaria nao esgota 
a rntelajurisdicional, mas inverte o interesse na solur;iio rap ida do lit{gio, 
que antes era do autor e, ap6s a concessao da liminar, passa a ser do reu. Se 
e certo que deve haver uma "distribuigao racional do tempo do processo", 6 
"' Cf. LUIZ GUILHER.J\1E MARINONI, Tutela antecipat6ria,julgamento 
antecipado e execuriio imediata da sentenra. item I, p. 13 s. 
, _ _, 
'--~ 
~ 
~ 
~~~ 
~ 
~~ 
~ 
~ 
~ 
-
~ 
~ 
~~ 
~ 
:H! '-" 
'~ ,, -'--'/ 
'1· ~~~ ~ 
~ 
'-./ 
~ 
i '~ 
"' ~ 
'-" 
.;~J '-./ 
~ I -~ ~ ~ 
t~ au ! 
£;;; 
"" 
'-./ 
~ 
I ~~ 
""" ;~ 
'Q 
'-._./ i) 
30 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
sen do natural, sob este prisma, que se carregue o reu, ao menos em parte, 
com os "riscos de erro", 7 a concessao de liminar nao deve ser considerada 
· o auge do processo. Nas causas em que foi concedida a liminar, aresolu9lio 
nipida do litfgio imp6e-se, sob pen a de onerar-se excessivamente o reu com 
a demora da prestac;:ao jurisdicional. 
(d) A criac;:ao legislativa de mecanismos que propiciem arealizac;:ao 
mais nipida da tutela jurisdicional, naturalmente, atribui maior poder de 
interpretac;:ao ao juiz, ja que o legislador nao e capaz de regular especifi-
camente todas as situac;:oes carentes de tutela que emergem na sociedade. 
Este fen6meno exige participac;:ao maior do juiz na realizac;:ao dos direi-
tos subjetivos, que somente sera proveitosa se se observarem algumas 
condic;:oes essenciais para tanto. Queremos com isso dizer que a aplica-
c;:ao d'os princfpios jurfdicos que tern sido positivados pelas reformas re-
centes requer terreno fertil, sob pena denao se realizarem os objetivos 
indicados nos arts. 1.0 e 3.0 da Constituic;:ao Federal. Para tanto, pensa-
mos que sao imprescindfveis as seguintes condic;:oes, dentre outras: (a) o 
juiz deve ter sensibilidade social, mostrando-se estar realmente- e nao 
virtualmente- inserido em urn Estado Democratico de Direito; (b) o juiz 
deve fundamentar convincentemente as suas decis6es, de modo que nao 
apenas as partes ou os demais 6rgaos jurisdicionais (recorridos ou para 
os quais se recorrem) sejam persuadidos do acerto da decisao, mas tam-
bern a propria sociedade ou comunidade na qual o juiz se insere;' (c) o 
juiz deve ter tempo para se dedicar ao exame da causa; e (d) o Poder Ju-
diciano deve se preocupar com a estabilidade de suas decisoes e orien-
taroes. Nao sendo assim, estarao fadadas a se frustrar as aspirac;:oes das 
reformas recentes, que, ajustando-se a urn contexto constitucional mais 
amplo, ampliaram os poderes do juiz, como se viu. 
0 princfpio consagrado no art. 5.0 , LXXVIII, da Constituic;:ao Fede-
ral, assim, nao tera aplicac;:ao satisfat6ria, por exemplo, se os jufzes nao 
0
' Cf. CANDIDO RANGEL DINAMARCO, A rejorma da reforma, n. 182, 
p. 255. 
"' Isso e assim porque, enquanto nao se chega a desejavel estabilidade jurfdi-
ca, marcada pelo equilibria entre os fatores que interferem na solu9ao judi-
cial, havera insatisfa9ao das partes ( ou da comunidade, conforme o caso), o 
que provocara urn retorno ao juiz (atraves de recursos cfveis, por exemplo) 
ou de novas a9oes judiciais (relacionadas a temas polemicos, a respeito dos 
_quais ajurisprudencia ainda nao se firmou). 
CF, ARTIGO 5.', LXXV!Il 31 
tiverem tempo para proferir suas decis6es. Ao mesmo tempo em que o 
Estado deve investir no aprimoramento dos jufzes, capacitando-os regu-
Iarmente para enfrentar os novos problemas jurfdicos, deve propiciar a 
existencia de quantidade condizente de jufzes em proporrtio a quantida-
de de litfgios que sur gem na sociedade. 0 art. 93, XIII, inserido na Cons-
tituic;:ao Federal pel a EC n. 45/2004, segundo o qual "o m1mero de jufzes 
na unidade jurisdicional sera proporcional a efetiva demanda judiciale a 
respectiva populac;:ao", ajusta-se a esta aspirac;:ao. 0 mesmo se pode dizer 
do disposto no art. 93, II, e, segundo o qual "nao sera promovido o juiz 
que, injustificadamente, retiver autos em seu poder a! em do prazo legal, 
nao podendo devolve-los ao cart6rio sem o devido despacho ou decisao". 
Outro reflexo do princfpio ora examinado esta presente no art. 93, 
XV, tambem inserido pela EC n. 45/2004, que preve a obrigatoriedade 
de distribuic;:ao imediata dos processos, em todos os graus de jurisdic;:ao 
( certamente visando a evitar o fen6meno do "represamento", verificavel 
em alguns tribunais, e consistente no fato de urn recurso de apelac;:ao, por 
exemplo, aguardar distribuic;:ao durante Iongo perfodo). Ao menos em 
tese, a previsao de "atividade jtirisdicional ininterrupta", contida no inci-
so. XII do art. 93 (igualmente acrescido pela EC n. 45/2004), esta tam-
bern ligada a esse princfpio. 
0 princfpio ora comentado, assim, somente tera aplicac;:ao efetiva 
no direito brasileiro na medida em que a legislac;:ao contiver mecanismos 
processuais capazes de propicia-la eo Poder Judiciario estiverestrutura-
do de modo quantitativa e qualitativamente capaz de absorver as deman-
das judiciais. 
-~--J:_ __ ~~- . ~--.-
-~-r------ -- --- ------
. CF, ARTIGO 93, IX .. _ ... 33 
--1- --1Srilo-s~deve pensar, de antemao, que o "interesse publico a infor-
1 ma'(iio" (CF, art. 5.0 , XIV) esta sempre acima do direito a preserva91io da 
-~--j-------inrirnl'daae;ol.iVicecversa. No caso, nao se esta diante de conflito de re-
I gras jurfdicas que se resolve atraves de criterios tradicionais, como o da,. CE art; 93,·1X · .. ;.. --·-·-·-·· .· .. ··-. :---1 :' -sup~rioridaqe; da especialidade etc. No caso, emborapositivadosem-re> 
·' · ·" · :.. · - · ! • · · ·•gras escritas•;se esta'diimte de verdadeiros princpios jurfdicos que, como 
Como era: 
Art. 93. [. .. ] 
Com a altera'(iio: 
Art. 93. [ ... ]IX-todos os julgamen-
tos dos 6rgaos do Poder Judici?rio 
serao publicos, e fundamentadas to-
_das asdecis6es, sob pena de nulida-
de, podendo a lei limitar a presenga, 
em determinados atos, as pr6prias 
partes e a seus advogados, ou somen· 
te a estes, em casos nos quais a pre-
servagao do dire ito a intimidade do in-
i tais, podem ou nao incidir em urn dado caso concreto, em aten'(iio a par-
!_ - -ticularidades que podem nao se repetir em casos fnturos. 
-- r--
~ · -- A lei referida no art. 93, IX, ja existe. Com efeito, estabelece o art. 
155 do CPC que "os atos processuais sao publicos", dispondo contudo que 
correm "em segredo de justiga os processos" em que o exigir o interesse 
publico e que relacionam-se a questoes inerentes ao direito de farru1ia. 
A exigencia de publicidade e o dever de fundamentac;:ao dos atos 
jurisdicionais freqiientemente andaram juntos, ao Iongo da hist6ria. 
IX- todos os julgamentos dos 6r-
gfios do Poder Judici6rio serfio publi-
cos, e fundamentadas todas as deci-
si5es, sob pena de nulidade, podendo 
a lei, se o interesse publico o exigir, 
limitar a present;:a, em determinados 
atos, as pr6prias parte~ e a seu~ ad-
vogados, ou somente a estes; 
teressado no sigilo nao prejudique o , 
No que conceme ao dever de fundamentar as decisoes judiciais, nao 
se trata de algo novo, ligado necessariamente ao direito modemo. De fa to, 
a hist6ria registra, segundo BARBOSA MOREIRA, "precedentes anti-
gos de decisoes judiciais que precisavam ou costumavam sermotivados" .' 
Comegou a generalizar-se a obrigatoriedade de que constasse das deci-
soes a fundamentac;:ao, nas legislac;:oes ocidentais, a partir da segunda 
metade do seculo XVIII. Em regra, esta obrigatoriedade vinha acompa-
nhada da exigencia da publicidade, como, alias, ocorre presentemente, 
na Constituic;:ao em vigor no direito brasileiro, como se viu acima. 
interesse publico a informagao; . i 
COMENTARIOS 
0 art. 93, IX, da Constitui<(iiO estabelece, de urn !ado, que todas as 
decisoes devem ser fundamentadas e, de outro, que todos os julgamentos 
serao publicos. 
A regra, no direito brasileiro, e a publicidade dos atos processuais. 
Trata-se de garantia constitucional prevista no art. 5.0 , LX, segundo o 
qual "a lei s6 podeni restringir a publicidade dos atos processuais quando 
a defesa da intimidade ou o interesse_ social o exigirem". De certo modo,este co man doe repetido de modo mais detalhado no art. 93, IX, qne, com 
a altera'(iio da Emenda Constitucional n. 45, estabelece que pode "a lei 
limitar a presen9a, em determinados atos, as pr6prias partes e a seus ad- · 
vogados, ou so mente a estes, em casos nos quais a preserva'(ao do direito 
a intimidade do interessado no sigilo nao prejudique o interesse publico 
a informagao". A ressalva constante do final do inciso IX diz respeito aos 
limites do direito de preservagao da intimidade (CF, art. 5.0 , X). Est,:, 
segundo estabelece a Constituigao, podeni ceder quando houver "inte-
resse publico a informa'(ao". 
0 dever de fundamentar as decisoes judiciais e lema que tern 'esta-
do presente nos estudos recentes de urn dos autores dos presentes co-
mentarios, que o examinou sob diversas nuances, com elevada reper-
cussao pnitica. 2 
No curso destes seculos, foram diversas as situac;:oes polfticas, so-
cials e culturais em que a motivagao das decisoes judiciais se foi to man-
'" JOSE CARLOS BARBOSA MOREIRA, A motiva9ao das decisoesjudi-
ciais como garantia inerente ao Estado de Direito, Temas de dire ito proces-
sual civil, 2.a serie, p. 85. . 
"' Cf. TERESA ARRUDA ALVIM W AMBlER, Controle das decisi5es judi-
dais par meio de recurs as de estrito dire ito e de a~do rescis6ria, RT, 2002, 
p. 377 e ss.; Idem, Omissfioe embargos de declarat;:iio, RT, 2005, item 7.2, 
p. 291-373. 
~--
~ 
~ 
~ 
~ 
'---
···,·: .: .. , 'l! ·"--. 
~-e ,_To 
-~ 
-~ 
~ 
~ 
~ ll ~ 
'I ; ~ '-./ 
I ~~ 
t9 '-../ 
l 
u~ 
p~ 
I~ 
!}~ 
i!k 
1!4"'--" 
34 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
do obrigat6ria. Ate o que se tern chamado de "decisao motivada" tern 
variado consideravelmente, de epoca para epoca, de Iugar para Iugar. Por 
isso, fica realrnente diffcil querer encontrar-se urn s6 princfpio que tenha 
inspirado esta necessidade. 0 assunto rnerece, portanto, amUise mais rni-
nuciosa, e 0 unico ponto passive] de afirrna<;ao segura e que 0 dever de 
motivar as decisoes tem preocupado os povos de mane ira acentuada. 3 E 
curioso observar-se que os ordenarnentos jurfdico-positivos conternpo-
raneos aludern a necessidade de rnotiva<;ao da senten<;a, pressupondo que 
se trate de urn conceito unfvoco e que haja urn certo "senso comum", a 
respeito do que seja motiva<;ao.4 
"' •A prop6sito, veja-se interessantfssimo texto de autoria de MICHELE 
TAR UFFO (L' obbligo di motivazione della sentenza civile tra diritto comune 
e illuminismo), sobre a obriga9ao de motivar-se a senten9a civil entre o direi-
to comum eo iluminismo, Rivista di Diritto Processuale, anno XXIX, 1974, 
n. 2, p. 265). Esse autor nos conta, por exemplo, que, na Fran9a, a partir da 
metade do seculo XIV (1350) ate o seculo xvm (1700), a tendencia era 
claramente a de nao se motivarem as senten9as. Nelas nao havia men9iio as 
normas aplicadas esequerasrazoes que teriam Jevado ao decis6rio. Por ()Ulro 
]ado, OS fil6sofos (Montesquieu, Voltaire etc.), que tanto criticavam OS abu-
ses e a degenera,ao na administra,ao dajusti,a da epoca do ancien regime, 
nao se aperceberam do grandioso papel que exerceria a obrigafi:io de moti-
var as sentenfas no que concemia a poss(bilidade do controle das decisoes. 
Isto e compreensfvel,ja que os iluministas concebiam a possibilidade de que 
a lei fosse clara, simples e uniforme, como regra geral, e, entiio, as raz5es que 
teriam levado a decisao apareceriam naturalmente, como niio podendo ser 
outras, pois "le juge est (hait ... ) la bouche de la loi". Estes dizeres 
correspondem a uma concepqiio mecanicista da aplica9iio da lei. Esta con-
cepqiio e incompatfvel como possfvel carater arbitrfuio e bastante em si mes-
ma para garantir a objetivajustiqa da decisiio. 0 reconhecimento da necessi-
dade da motiva9iio das decis6es ocorreu em lei expressa de 1790. Obviamen-
te, as ideias dos fil6sofos haviam preparado urn substrata culturalfavoravel 
a introdurao do principia ora comentado. No direito germanico, anecessida-
de da motiva9iio existiaja no seculo XVill, mas nao ada sua publicidade. Ela 
era comunicada ao juiz hierarquicamente superior, sendo a sentenqa impug-
nada. Niio era, todavia, do conhecimento das partes. Solu96es diferentes fo-
ram engendradas na PrUssia, na Baviera e na Austria. Na Italia (nos varios 
reinos que havia anteriormente a unifica<;ao ), sentiu-se de modo nftido a in-
fluencia do Iluminismo, nao se podendo falar numa resposta unit3.ria, ate em 
funqiio da pluralidade de regi6es e reinos. 
"' Ver MICHELE TARUFFO, La fisionomia della sentenzain Italia, Sentenza 
in Europa, p. 18~----~-------
CF, ARTIGO 93, IX 35 
Podern conceber-se diversas razoes que teriarn levado a esta obri-
gatoriedade.5 
A prirneira destas razoes, familiar ao pensarnento tradicional, e de 
ordern tecnica. Seria, sob este enfoque, necessaria amotiva9ao, para poder 
precisar-se e delimitar-se rninuciosarnente 0 ambito do decisum. 
A impugnabilidade tern como pressuposto afundamentafao do 
objeto impugnado, principalmente porque se tern por admitido que as 
decisoes nao sejarn arbitrarias. Esta, a segunda razao de ordem tecnica. 
Outro enfoque que pode ser concebido, tfpico da nossa epoca, eo 
que vena ideia de garantia a fonte Msica de inspira9ao da obrigatorieda-
de da rnotiva9ao das decisoes judiciais. 
Essa ideia tern uma serie de desdobramentos que se aplicarn nitida-
mente ao processo, ainda que digarn respeito a toda atividade estatal. A 
rnotiva9ao: 
1. oferece elementos concretos para que se possa aferir a irnparcia-
lidade do juiz; 
2. poder-se-a,tambem, por meio do exarne da motiva<;ao dadeci-
sao, verificar da sua legitirnidade; · 
3. por firn, a motiva9ao garante as partes a possibilidade de consta-
tar terem sido ouvidas, ria rnedida ern que o juiz tera levado em conta, 
para decidir, o material probat6rio produzido e as alega96es feitas pelas 
partes. 
Em face do Estado de Direito, nos dias atuais, se pode estabelecer o 
porque desta exigencia num sentido, sob certo aspecto, unfvoco. 
0 Estado de Direito efetivaril.ente caracteriza-se por ser o Estado que 
se justifica, tendo como pautaaordemjuridka a que ele proprio se sub me-
te. Assirn, quando o Estado iiitervem navida·ctas pessoas, deve justificar a 
intrornissao: materia/mente, poisa iritr6inissao tern fundarnento, eformal-
mente, pois 0 fundamento e declarado, exposto, demonstrado. 
Sob este enfoque;ajustifica¢aose-faz'hecessaria tanto ern rela9ao 
as decisoes irnpugnaveisquanto CO!Tire_sp~it()_1l.gue!as que SaO a Ultima 
palavra acerca do 1itfgio~"E-nesse-instante-que-a-necessidade de justi-
fica<;ao se faz particularmente aguda: o pronunciamento final, exata-
rnente; porque se ci~~tffi~:~ prevafecerem definitiyo,e nesse senti do 
(s) Idem, ibidem. --·-- ··-·- ----·-
... ---··-··--- -=~=·-~~~=~-----
--------~--~-
36 BREVES COMENTARIOSANOVA SISTEMATICA PROCESSUALCIVIL 
/ 
representa ( ou deve represenlar);rexpressao·maximada garantia, pre-
cis a, mais do que qualquer outro: ri:iostrar-se apto a:·c-6fresponder a fun-
9iiO delicadfssima que.lhetoca. Nao.~ admissfYeLquea garantia se es-
vazie, se despoje de eficacia; no momenta culminante do processo 
" I!lt;.d,ia.,nte o.qual e chamada a a"'tu.,a"r'c."-6 =---c-=-c~· 
. ··' Surge, mais uma vez, a no<;;iio de "controle". 
A concep<;;ao de controlabilidade das senten<;;as nao se restringe "ao 
quadro das impugna<;;oes previstas nasleis.do processo. Nao e apenas o 
controle endoprocessual que se precisa assegurar: visa-se, ainda, e so-
bretudo, a tamar possfvel urn controle 'generalizado' e 'difuso' sabre o 
modo como o Estado administra a Justi<;;a".7 
A obrigatoriedade e a publicidade de motiva<;;ao e que permitem o 
exercicio eficaz do controle extraprocessual. 
Hoje se entende que a fundamenta<;;ao da senten<;;a tern de abranger 
todas as alega<;;oes feitas pelas partes nocurso do feito, para que sejam 
expressamente acolhidas ou repelidas. 8 
· "' Idem, p. 90 .. 
17
' Idem, ibidem. Hoje, a CF 6 expressa a esse respeito (v. art. 93, IX). 
"' Cf. TJSP, 3.' Cam., Ap 1225484/5, rei. Des. ENIO SANTARELLI ZULIANI, 
j. 26.10.1999,RT774/247. No mesmo sentido: "E nu1a a senten9aem que nao 
se aprecie urn dos fundamentos da defesa e nao se decide urn dos pedidos 
formulados pelo autor" (2.' TACSP, 7.' CC, Ap. c/Rev. 256.104-1, rei. 
GUERRIERI REZENDE,j. 07.03.1989, v.u.). Por outro !ado, decidiu-se que 
o juiz nao esta obrigado a responder a todas as alega96es das partes quando ja 
tiver encontrado motivo suficiente para fundamentar sua decisao (TJMT, 3.' 
Cam., Ap271 18, rei. Des. ORLANDO DEALMEIDAPERRI,j. 07.11.2001, 
RTSO 11300). Pensamos que esta orienta9lio, como regra geral, e corretase os 
motivos nao analisados nao forem capazes de ensejarresultado diverso (p.ex., 
o juiz pode julgar improcedente o pedido pelo motivo X e deixar de analisar 
o fundarnento Y, que determinaria o mesmo resultado ). Observe-se, a prop6-
sito, que esta regra nao se aplica necessariamente aos julgamentos que pode-
rao ser alvo de recurso extraordimlrio ou recurso especial pois, para que estes 
recursos sejam admissfveis, e necessaria que a decisao recorrida manifeste-se 
sobre o tema que sera objeto do recurso extraordin:irio ou especial (nesse 
sentido: STJ, 2.' T., REsp 171209-SP, rei. Min. ADHEMAR MACIEL, j. 
15.1 0. I 998, DJU 30.11.1998 p. 145). Cf., arespeito,JOSEMIGUELGARCIA 
MEDINA, 0 prequestionamento nos recursos extraordindrio e especial, 3. 
ed., RT, 2002, n. 3.2, p. 210 ss. 
CP, ARTIGO 93, IX . 37 
Evideutemente, tendo havido manifesta<;;ao judicial sobreestes pon-
tos durante o processo, nao ha necessidade de que, na senten<;;a, tome o 
juiz a aprecia-los. . .... _ 
Deve entao o magistrado, na senten<;;a, manifestar-se sabre todas as 
alega<;;oes feitas pelasp1l(tes, priucjpalfi1e,nte aquelas cujo exame influi, 
. ou mesmo determini, o teor da plute decisoria. Por isso, e nula a senten<;;a 
em que nao se pronuncia o magistrado acerca da alega<;;ao de prescri9ao, 
feita pelo reu! 
Considera<;;oes sobremaneira interessantes encontram-se najarefe-
rida obra de MICHELE TARUFF0.10 Tal autor aborda o tema da moti-
va<;;ao da senten<;;a de forma completa, enos parece correta a sua postura 
ern face do ass unto. Diz referido autor que "o esquema conceptualfstico 
e abstrato do jufzo como silo gismo tern sido questionado principalmente 
pelas correntes de pensamento que combatem o emprego exclusive de 
instrumentos deste genera, posi<;;ao esta t[pica de uma postura positivis-
ta, em face da interpreta<;;ao da lei". De fato, o que hade co mum nas es-
colas novas, como a "Freirechtslehre" ou a "Interessenjurisprudenz'', eo 
sublinhar da impropriedade da figura do silogismo judicial como "esque-
. ma-esqueleto" da senterr<;;a. 
Este novo tipo de postura, dando origem a varias novas escolas -
que as vezes nada tern em com urn entre si, senao esta "recusa inicial" -, 
pro vern principalmente nao tanto da ideia de que o silo gismo nao corres-
ponda efetivamente a realidade estrutural da senten<;;a, mas principalmente 
de novas propostas de criterios de decisao. Ou seja, recusa-se, ao sistema 
silogfstico, fundamentalmente, o papel de iter do raciocfnio efetuad~pelo 
juiz, ao decidir. 
TERCIO SAMPAIO FERRAZ JUNIOR chega mesmo a mencio-
nar a opiniao segundo a qual o julgador "tende a construir o silogismo 
jurfdico as avessas, criando, intuitivamente, a conclusao a que deve che-
gar e buscando, regressivarnente, para ela, as justifica<;;oes necessarias" .11 
A crftica ao esquema silogfstico, em nosso sentir, deve situar-se quer 
no nfvel ontol6gico, quer no nfvel deontologico. Nesta linha, nos dirfa-
"' V. 2.' TACivSP, 8.' C., Ap. 195.200-7, j. 07.01.1987, JTACivSP-Lex 
105/326. 
"" MICHELE TARUFFO, La motivazione della sentenza Civile, p. 13 e ss. 
'"' A ciencia do direito, Atlas, 1977, p. 92. 
II 
J if: 
~~ 
• !! 
!I 
~' r: 
~ 
: ;"·' 
1": ' -! 
'--' 
~ 
~ 
-
~ 
~ 
~ 
~ 
-....' 
-....' 
~ 
~ 
~ 
~" 
~' 
~ 
~ 
' 
[, ~ 
~~ 
rn 
m~ 
m-
-~ ~ 
a~ '----' 
~"" 
'""" t~-
!_f ~ 
[< 
M 
~~ 
d:t;;, 
~[~ 
r~ 
~ 
iJ,c 
~~ 
lfl 
38 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
mos que a senten9a niio e, nem deve ser urn silogismo. Que a senten9a 
nao e urn silogismotem sido afirmado pelos maiores expoentes da escola 
realista, tanto americana quanto escandinava. 
A escola europeia, a diferen9a das escolas nortecamericanas e es-
candinavas que se inspiram em ideias de fun do pragmatico, embora tam-
bern recuse o esquema silogfstico, enquanto realidade do jufzo decis6rio, 
o faz por raz5es de cunho filos6fico e polftico, que representam a nota 
marcante a partir do fim do seculo passado. 
Cumpre, num segundo momento, diferenciar a motivar;iio concreta-
mente considerada e os caminhos que percorre a mente do julgador para 
chegarate o decis6rio. Sao fenomenos, efetivamente, distintos. TARUFF012 
sub1inha afimr;iio justificativa da motiva9ao da senten9a, no primeiro sen-
lido acima mencionado. Assim, a decisao, em primeiro Iugar, e tomada. 
Em segundo Iugar, ejustificada racionalmente, como setem sustentado. 
De fa to, acreditamos que a motiva9ao da senten9a nao exprima ne-
cessariamente o iter que o juiz percorreu ate a decisao. 13 Do raciocfnio do 
juiz participam fatores multiplos, que nao entram nos "conteudos" ex-
pressos da motivar;iio concretamente considerada, is to e, a motiva9ao 
expressada, qne nao e, em hip6tese alguma, uma "reportagem" dos ine-
canismos psico16gicos do juiz, anteriores a decisao. A defasagem entre 
estes dois fenomenos € significativa. 
E necessario, tam bern, tra9ar a distin9ao entre a fun9ao justificado-
ra, que nos parece sera real fun9ao da motiva9ao da senten9a, da fun9ao 
explicativa. 0 discurso explicativo e aquele que descreve as razoes reais 
de urn fenomeno, eo discurso justificativo apresenta as razoes em virtu-
de das quais umfen8meno e acolhido favoravelmente. De fato, o raciocf-
nio do juiz nao eo objeto a que se refere o conteudo da motiva9ao expresc 
sa, cuja fun9ao e de toma-la racionalmente valida e aceitiivel,l4, .. 
Diz JERZY WROBLEWSKI 15 que e ajustifica9ao da decisaoqtie a 
torna controlavel quanto a sua racionalidade. 
02J La motivaz.ione ... cit., p. 107. 
'"' Idem, p. 121. 
'"' Idem, p. 125 e 126. 
"" Motivation de Ia decisionjudiciaire, em co1etaneaorganizada,por£HAIM=c=· 
PERELMAN, Etudes sur Ia motivation des decisions de justice, Binxe1as, 
SIA d'Editions Juridiqueset Scieniifiques, 1978, p.134. · · · · 
- --------, . -. -------- . _-:_~"-----~-"----
··---- ---·-
CF, ARTIGO 93, IX 39 
Ja se disse que a fundamenta91io, a motiva91io, ajustifica9ao das sen-
ten9as nao precisa ser 16gica. Cabe perguntar como ROBERT LEGROS: 
"Onde vai o direito, em que nada mais hade certo e de estavel?" E res-
ponder com ele tambem se pode: "0 que hii de certo, e ajurisprudencia 
que convence" .16 
Esta orienta9ao ganha relevo a luz dos princfpios do Estado De-
mocn\tico de Direito. E que o juiz, ao fundamentar a sua decisao, nao 
devera ocupar-se apenas de convencer as partes do processo e as ins-
tancias judiciais superiores acerca do acerto de seu julgado. Consoante 
afirma MICHELE TARUFFO, sob uma 6tica democratica, tambem a 
opiniao publica, em maior ou me nor grau, tern interesse no modo como 
o juiz administra a justi9a.17 Seguindo esta Jinha, ja se real9ou na juris-
prudencia a necessidade de que a fundamenta9ao conven9a "nao s6 as 
partes interessadas, mas qualquer urn, do seu acerto".18 · 
Nesta medida, pais, e racional a decisao. Ser ela convincente nao 
significa ser impecavel quanta a seu aspecto !6gico forma1. 19 
Quase todos os autores que tratam da seuten~ano direito brasileiro, 
embora raramente se alonguem sobre o assunto, sustentam, ainda que de 
passagem, que a senten9a nao se confunde com silogismo, e que e a to de 
inteligencia e de vontade.20 
Diz RECASENS SICHES:21 "A 16gica pura nao eo instrumento apto 
nem para a coloca9ao nem para a solu9iio dos problemas humanos prati-
'"' Considerations sur les motifs, em coletilnea organizada por CHAIM 
PERELMAN, cit., p. 18. 
"'' La motivazione della sentenza civile, cit., p. 406-407. No mesmo sentido, SER-
GIO NOJIRI, 0 dever de fundamentar as decisoes judiciais,n. 1.4, p. 62 ss. 
'"' TJRN, 2.• Cam., Ap 99.001746-0, rel. Des. RAIMUNDO NONA TO DA 
COSTA ALENCAR,j. 05.12.2001,RT802/355. Cf. tambem notasegninte. 
09) Nesse sentido: "A senten9a deve convencer os litigantes, e notadamente a 
comunidade onde a /ide eclodiu, de que o Estado aplica o direito e nao 
dita arbitrariamente a decisao" (grifos nossos) (TAMG, Ap. 23.849, rel. 
CLAUDIO COSTA,j. 20.03.1984). 
'"' WELLINGTON M. PIMENTEL, Comentdrios ao CPC, arts. 270 a 331 e 
444 a 475, v. 3, p. 512; MOACYR AMARAL SANTOS, Comentdrios ao 
CPC, arts. 332 a 475, p. 424 a 435; ERNANE FIDELIS DOS SANTOS, 
__ Comentdrios ao CPC, v. 3, p. 233. 
"'' RECASENS SICHES, lntroducci6n al estudio del derecho, p. 251 e ss. 
40 BREVES COMENTARIOS A NOVA S!STEMkTICA PROCESSUAL CIVIL 
_==-:..=:::::.._--:::::;:::-_:::-:~ 
____ _ cos, como, por exemplo, os politicos e juridicos. 0 emprego da 16gica 
formal para 0 tratamento dos problemas jurfdicos, se nao e prejudicial, 
- leva atesultados·insensatos e monstruosos, e in uti!". 
Efetivamente,a 16gica forma1,desde suas origens ate nossos dias, 
- ---n1l6-cesgota, nein iemota!ji.ente; !i:iotlilldade do logos ou da Razao. E uma 
prov{ncia ou um setor do logos;- -·-" -.-.-
Lida-semelhorcom os problemas humanos usando-se o instrumento 
do" logos do razmivel", pois que s6 "com este instrumento podem-se 
compreender sentidos nexos entre significa<;:oes e realizar opera<;:oes de 
valora<;:ao, estabelecer fins ou prop6sitos", tarefa para a qual nao se pres-
ta a 16gica formal, que e neutra no que diz respeito a val ores eticos, polf-
ticos e jurfdicos. 
"E impossfvel construir-se o direito como urn sistema 16gico 
puro", continua SICHES. Inegavelmente, "existe, na realidade social 
concreta, a influencia de alguns esquemas de 16gica, enquanto se fala, 
por exemplo, da adequa<;:ao de certos meios para atingirem-se deter-
minados fins. Mas os valores basicos nao pertencem a este campo. 
Estes, ainda que objetivamente validos, sa() alcah<;:aveis pot nieio de 
uma 'intui<;:ao intelectiva"'. 
Que dizer desta intui<;:ao? 
Dizer-se pode, com BERGSON, que a intui<;:1io e algo sensitivo, 
espiritual. Ela nao tern valor em si mesma, mas, seguramente a percep-
rao plena s6 se da por meio da inteligencia somada com a intuiriio. 
E uma forma direta de ver, de espfrito para espfrito, nada interme-
diando os do is. E uma visao que mal se distingue do objeto vis to, mas se 
confunde com ele. 
Entretanto, a intui<;:ao nao se comunica, senao pela inteligencia, pelo 
racional. Mas ela e mais do que ideia, embora deva travestir-se de ideia 
para transmitir-seY 
Assim, se pode dizer que esta intui<;:ao desempenha papel de peso 
na identifica<;:ao dos val ores a orientar a decisao. Esta, uma vez tomada, 
deve ser expressa de forma racional. Este quid de razao, que ha na mo-
tiva<;:ao da decisao, deve caracterizar-se por torna-la, precipuamente, 
convincente. 
"" Extraits des grands philosophes, p. 186 e ss. 
CF, ARTIGO 93, IX 41 
-Esta ponte entre a intui<;:1io, o aspecto axiol6gico da decisao e sua 
fundamenta<;:ao, propriamente dita, e que faz com que reganhem impor-
tancia os legados que a hist6ria do estudo do direito nos deixou. 
"0 que reston de mais importante do pensamento classico e medie-
val paraodir~it\)-~1} Jecnica depensar so~1.;e problep:1~s:? q}l~ sy,~~sen;; -. 
volve no selo darei'<lrica, ou seja, da arte depersuasao: A ret<lrica diale~ 
tica procede de urn modo radicalmente diverso do metodo sistematico."23 
"0 metoda sistematico toma como ponto de partida uma verdade 
primeira, urn axioma, e procede por meio de uma serie de rigorosas dedu-
<;:oes semelhantes as da matematica. Ao contrario, a ret6rica dialetica 
toma como ponto de partida o sentido comum, tateando o caminho no 
campo da verossimilhan9a, guiando-se pela prudencia humana. Paraisso, 
as circunstancias sao consideradas, sob seus mais diversos aspectos, e e 
ponderada a for<;:a de convic<;:ao de cada urn dos pontos de vista. 
"Procura-se qual das varias opinioes tern maior for9a persuasiva e 
conduz a urn resultado mais plausfvel."24 
"" RECASENS SICHES, ob. cit., p. -260 (grifos nossos); Semelhantemente, 
afirma KARL POPPER que "see possfvel dizer que a ciencia ou o conhe-
cimento 'comeya' por algo, poder-se-ia dizer o seguinte: o conhecimento 
nao come<;a de percep<;6es ou observa<;6es ou cole<;ao de fatos ounumeros, 
porem come<;a, propriamente, de problemas" (A /6gica das cii!ncias socials, 
p. 14). A respeito, consultar tambem excelente trabalho de EDUARDO 
ANGEL RUSSO e CARLOS OSCARLEMER. La 16gica de Ia persuasion, 
Buenos Aires, Coperadora de Derecho Ciencias Sociales, 1975. ~ 
"'' RECASENS SICHES, idem, ibidem (grifos nossos). Esta metodologia, que 
nao e contemporanea, mas encontrou em Arist6teles, Cfcero e Vico, possi-
velmente, os seus maiores expoentes, foi retomada em obra de rnCritos sin-
gulares, tao notaveis que, conquanto escrita para a filosofia do direito, influi 
na pr6priafl/osofia contempordnea. E a obra de THEODORO VIEHWEG, 
escrita em 1953, para oqten<;ao do grau de livre docente na U uiversidade de 
Munique. Na quintaedi<;ao desta obra assim conceitua ele a t6pica, anali-
-san do-a: "Der wichtigste Punkt bei der Betrachtung der Topik ist die 
Feststellung, dass es sich hier urn diejenige denkrische Techne handelt, die 
sich am Problem orientiert" (Topik undjurisprudenz, § 3.", I, p. 31). 
Possivelmente o primeiro texto em que aflora, e ja com clareza e enverga-
duras pr6prias 'de genialidade plena, e em ARISTOTELES, quando distin-
gue, nitidamente, entre o silogismo, propriamente dito, e a dialetica, verbis: 
"Le syllogisme est un discours dans lequel, certaines chases etant posees, 
1: I ~ 
II 
" .• ! 
"---" 
'-..--
~ 
·-
~ 
'.__. 
'.__. 
'.__. 
'---' 
-~ 
~ 
~ 
'-._/ 
'-._/ 
·-·· 
~· 
,~:' 
ill'§ 
~'>f. 
:-!f-'1 
§;.1 
:lfi 
~" '~-!> 
42 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
De fato, o raciocfnio jurfdico nao se pode desenvolver segundo 
urn dedutivismo, em linha reta. Segundo uma analise fundamentalmente 
valorativa dos resultados da solw;:ao do caso, em nfvelconcreto, os prin-
cfpios que hajam sido propostos serao acolhidos ou rejeitados. E im1til 
querer-se ignorar o aspecto axiol6gico do direito no niomento das "to-
madas" de decisao. · 
Efetivamente, esta concepgao, segundo a qual o que torna convin-
centes as argumentagoes eo seu rigor 16gico, ja foi, ha muito, ultrapassa-
da. Parece-nos, por outro !ado, que adotar-se esta posigao implica uma 
postura marcadamente formalista (no sentido de legalista) que tambem 
esta sendo, modernamente, superada. 
• Neste sentido sao as observag6es de ROBERT LEGROS:25 "Nas 
sociedades como a nossa, de evolugao rapida, em que a relatividade, as 
lacunas, as antinomias e os atrasos da lei sao observaveis objetivamente, 
toma-se o habito de considerar a lei mais como urn meio do que como urn 
fim, salvo quando o respeito a lei aparece como urn meio em si". 
Prossegue o mesmo autor dizendo: "Os motivos devem ser con-
vincentes, desgarrados de urn vaoformalismo. A forga convincente das 
decis6es nao e mais fruto de seu legalismo. A lei perdeu o carater sagra-
do e absoluto". 26 
Na verdade, o termo motivagao e polissemico. WROBLEWSKI,no interessante estudo mencionado,27 diz que ha ao menos dois senti-
dos que se podem atribuir ao termo: "Urn, mais abstrato, que concerne 
a filosofia e a teoria do direito; outro, mais concreto, que concerne a 
dogmatica jurfdica". 
Oprimeiro problema que surge e a delimitagao do angulo sob o qual 
sera vis to o·objeto de analise: a motivagao. 0 problema sera tratado em 
nfvel deteoria geral das decis6es. A decisao e uma escolha dentre diver-
sas alternativas. 
··-··'-· une a~tr~ cfioseaifferente d'elles en resulte necessairement, par les chose 
memes:_posees .. : __ Estdialectique le syllogisme qui conclut de premisses 
-- -----probables''-(Organon,-Les topiques, 10. ed., tradugiio de J. Tricot, Paris, 
Libr. Philos.J; Vrin; 1950, v. 5, desta selegao, Livro I, 1, p. 2). 
~ ~ -""-~GJ2-~dt._=Jh!JL.. ~- -•. --
"" )dem, p. ;2J .. 
"" _Oft. cit:;Ji,l 12e ss .. 
CF, ARTIGO 93, IX 43 
Falar da deci~ao do juiz como conclusao implica uma determinada 
construgao da teoria e da ideologia da aplicagao judicial do direito. Para 
empregar-se esta terminologiadeve precisar-se a "16gica" adequada para 
o discurso judiciario e isto traz problemas graves e evoca a discussao entre 
"formalistas" e "nao formalistas". Em nossa opinHio, a decisao judichiria 
deve ser apresentada como justificada e e essa a exigencia da sna racio-
nalidade. A decisao aparece como sen do a unica decisao que poderia ter 
sido tomada, tendo-seem vista as raz6es que a sustentam. Mas esta apre-
sentagao nao coincide necessariamente com o caminho mental que foi 
percorrido para que se tenha chegado ate ela, que e, de regra, o resultado 
de muitas escolhas, e nao a unica decisao que poderia ter sido tomada. 
E neste sentido que a decisao deve ser convincente ou persuasiva. 
Diz CHAIM PERELMAN que motivaruma sentenga e justifica-la. 
"Nao e o mesmo que funda-la de uma maneira impessoal e, por assim 
dizer, demonstrativa. E persuadirum audit6rio ... mostrar queo julgamento 
e oportuno, razoavel".28 
Por isso sernula a sentenga contradit6ria. Como contradigao tem-se 
entendido, pocexemplo, a circunstancia de a sentenga extinguir o pro-
cesso semjulgamento de merito por falta de objeto e estabelecer a inapli-
cabilidade de certo texto legal a situagao. 29 
0 homo medius, lendo a decisao, deve admitir ter podido tambem 
ele chegar ate ela. Ainda que a decisao dada nao seja a "unica". 
Neste senti dose expressa CASTANHEIRA NEVES30 dizendo que 
a fundamentagao jurfdica deve ser "razoavel", "aceitavel", "defensavel". 
Nao fosse isto, "as decisoes seriam unicas, e seria inadmissfvel terem-se 
outras tambem validas". 
"" La motivation des decisions de justice, essai de synthese, em Coletfinea, de 
CHAIM PERELMAN, cit., p. 425. TERCIO SAMP AIO FERRAZ JR. faz 
distingiio interessante entre os termos convencimento ( convic9iio) e persua-
sao. Aquele liga-se, como urn sentimento, a verdade; este, de algum modo, 
a ideia de interesse. No discurso normative, segundo este autor, M persua-
sao, e nao convicc;ao. Temos usado o termo "convincente" talvez numa 
acepgiio mais proxima aquela que o Prof. Tercio atribui a "persuasivo" (Teo-
ria da norma jurfdica, Forense, 1978, p. 27 e 28). 
'"' TRF, 5.' Regiao,Ap. 51018, 2.'T., rel. ARAKEN MARIZ,j. 06.10.1994, 
JSTJe TRF-Lex 711658. · 
"" Questao de facto~ Questao de direito, p. 415. 
44 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
. De forma veemente, critica este autot o esquema subsuntivo: "A 
aplica<;:ao das normas aos casos implicarao .a formula9ao de urn jufzo 
auti'Jnomo de juridicidade" para cada caso decidendo." 
Todoo jurista sabe que em virtude de terem as normas enunciados 
apenas re!a~vc;;s .. as-hip6tesesrnais- frefliientes, C()J11l!!1S,.Q1.f,.tfp~<;as ~if~f; -_-
sensu) dos casbs que se pro poem regular- nem outras e possfvelprever 
- nao fica exclufda a possibilidade de se decidir concretamente da sua 
aplicabilidade em termos diversos daqueles- que imediatamente impo-
ria o sentido significativo e conceitual das normas.'2 
0 esquema subsuntivo (isto e, aquele segundo o qual a identifica-
c;:ao da solu<;:ao jurfdica a ser dada a determinado fato consiste num sim-
ples encaixe de fato e norma, nos moldes do raciocfnio dedutivo does-
quema silogfstico ), "definitivamente, nao se presta a resolver, a elucidar 
o problema da fundamenta9ao das decisoes judiciais" .33 
Parece ser esta a tonica das posi96es assumidas modemamente pe-
los estudiosos da teoria geral do direito, em todo o mundo. 
Integram, a rigor, tambem afundamentm;;iio, ou motivaqiio, da sen-
ten<;:a, tan too inciso lido art. 458 do CPC, quantooinciso I, que dizrespei-
to tambem a este aspecto, ainda que indiretamente, aludindo a "relat6rio". 
Tem-se considerado nulas as sentengas a que falte relat6rio ou aque-
las em que do relatorio falte alusao a contestagao, a declaragao incidental 
e a propria pretensao do autor (relatorio incompleto).34 
De fato, o relat6rio, na sentenga, pode ser visto como uma especie 
de pre-fundamentagao. Trata-se de elementos que tern por escopo situar 
a fundamentayao, circunstancializando-a, em certa medida. A fundamen-
taqiio s6 ganha sentido no contexto do relat6rio. 
Esta retira muitos de seus elementos do relatorio, que se consti-
tuem na base fatico-jurfdica (mas precipuamentefdtica) dos elementos 
propriamente fundantes, isto e, do aspecto propriamente justificativo 
da decisao. 
"" Idem, p. 259. 
"'' Idem, p. 260. 
"'' Idem, p. 422. 
"'' TJSP, 9.' CC, Ap. 220673-2, rei. Des. CELSOBONILHA,j. 10.02.1994, 
JTJ-Lex 1531140. 
CF, ART! GO 93, IX. 
- ~45 
'"-·---·------
Pode dizer-se, que ha, grosso modo, ttes especiei;'de vfci()s intrfnse- ----- -
cos das sentengas, que se reduzem a urn so, em ultima analise: 1. ausen-
cia de fundamentagao; 2. deficiencia de fundamentac;:ao; e3:ausencia·de--
correlac;:ao entre fundamentac;:ao e decisorio. -· -- ---
Todas silo redut(veis a ausencia defurtdam~dt</(tti//g'etam nulida:"~ ·• --
de da sentenqa. Isto porque ''fundamentar:;iio" deficienie, em rigor, niio _ 
e fundamentaqiio, e, por outro lado, ''fundamentar:;iio" que niio tem rela-
qiio com o decis6rio niio e fundamentar:;iio: pelo menos niio o e daquele 
decis6rio. Nesse sentido, segundo pensamos, e que deve sen:otripreeft~ 
dido o comando constitucional ora comentado. 
Exata e precisamente nesse senti do decidiu o TRF da 1.' Regiao, ao 
julgar a Ap. Cfvei95.01.03248-5-DF em 26.03.199.6.35 Daementa cons-
ta que "quando os fundamentos nao justificam a parte dispositiva da sen-
tenc;:a e destoam do relatorio, considera-se imotivada [a sentenc;:a]". Se-
gundo pensamos, os dizeres do acordao vao ao encontro do que temos 
sustentado: fundamenta9ao inadequada e o mesmo que fundamentac;:ao 
inexistente, infringindo-se, nesse caso, o art. 93, IX, da CF. Observe-se, 
ca proposito, que fundamentac;:ao concisa nao equivale a ausencia de fun-
damentayao, ou a fundamentagao deficiente.'"'37 
Estas tres hipoteses podem, a nosso jufzo, dar azo a propositura de 
ac;:ao rescisoria por infrac;:ao a literal disposic;:ao de lei (art. 458 do CPC). 38 
"" Publicado no DJU de 16.05.1996. 
~ 
"" Nao se considera nula a sentenqa que tenha fundamentaqao concisa: STJ, 
4." T., REsp 434489-RN, rei. Min. BARROS MONTEIRO, j. 17.09.2002, 
DIU 25.11.2002, p. 242; TJMT, 2.' Cam., Ap 25595, rei. Des. MARIANO 
ALONSO RIBEIRO TRA V ASSOS,j. 30.04.2002, RT802/318. A decisao 
"pode ser concisa, mas jamais sem fundamentaqao" (TJSC, 2." Cam., Agin 
97.015.956-0, rei. Des. GASPAR RUBIK,j. 19.08.1999, RT778/401). 
"'' Decidiu-se que a sentenqa que acolhe embargos do devedor fundados em 
excesso de execuqao "deve estipular, em sua parte dispositiva, de modo 
claro e preciso, em que consistiu o excesso alegado, o quantum efetiva-
mente devido pelo executado-embargante, sob pena de nulidade. 
Infringencia do art. 458 do CPC" (TJPI, 2." Ciim. Especializada,Ap 
99.000378-7, rei. Des. RAIMONDO NONA TO DA COSTAALENCAR, 
j. 06.09.2000, RT 786/406). 
"" Ja se admitiu aqao rescis6ria de sentenqa a que faltavam fundamentaqao e 
relat6rio: TJSP,AR 250.951, 3."C., rei. COSTALElTE,j. 14.07.1977, v.u. 
..___ 
~ 
~ 
·..___ 
'.,_.c 
46 BREVES COMENTARJOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
Afalta ou o v£cio de motivaf'iiO, como se disse, e de acordo como 
que estabelece o dispositivo constitucional ora comentado, sao causas de 
nulidade da sentenga. TARUFFO inclina-se a considerar ate como ine-
xistente a senten<;a a que falte urn "conteudo mfnimo" ;indispensavel, de 
motivagao, para que nela se reconhega o exercicio Iegftimo do poder ju-
risdicional.39 Trata-se de urn vfcio particularmente grave, e que, por isso, 
deveria ter sido tratado de forma especial pelo legislador, de maneira que 
ficasse c!aro nao se poder aplicar a este tipo de vfcio o principia da sana-
toria geral da coisajulgada. De fato, a regulamentagao legal do tema Ion-
ge esta de fazer jus a importancia jurfdica e polftica deste requisito da 
sentenga. Esta falha gera, ainda segundo TARUFF0,40 alem de evidente 
incgngruencia dogmatica, dois inconvenientes: a possibilidade de haver 
casos em que nao se possa nem mesmo determinar o quantumjudicatum; 
e, por outro !ado, ode que esta sentenga, passando o prazo da agao autO-
noma de impugna<;:ao (que, no direito brasileiro, seria a agao rescis6ria), 
passe a ser inatingfvel- uma sentenga carecedora dos elementos mfni-
mos para que possa ser chamada de ato jurisdicional. 
Tern sido consideradas nulas senten9as sem motiva9ao: TJRS em Adcoas 
44, ano vm, p. 696. 
Nulas tambem sao senten9as sem relat6rio: TFR, Ap. 41.592-DF, rei. 
CARLOS MARIO VELLOSO,j. 06.05.1977; TJRS,Ap. 26.936, Cachoei-
ra do Sui, rei. PERI RODRIGUES CONDESSA,j. 03.11.1976; TJSP, RF 
2521195. 
Nul a e a senten9a praticamente sem relat6rio, e em que a fundamental'ao se 
reduz a uma frase: TJSP, Ap. 262.242, rei. YOUNG DACOSTA MANSO, 
j. 20.10.1977. 
E decreta vel de offcio a nulidade da senten9a carente de relat6rio: I.' 
TACivSP, 5.' C., Ap. 203.421, rei. TOLEDO PIZA,j. 17.07.1974, v.u. 
"Senten9a excessivamente lac6nica, e que desconhece a argumental'ao da 
. defesa, que homologa conta de liquida,ao por calculo do contador, e nula, 
pois afronta o art. 93, IX, da CF' (TRF 3.' R, 3.' T., Ap. 91.03.00952-1-SP, 
· rei. MARCIO MORAES,j. 22.05.1991, v.u.; TJSP e TFR-Lex 29/427; 2.' 
-·~ --~ - -- - TACSP, 7.' CC, Ap 264.521-6, rei. BORIS KAUFFMANN, j. 24.04.1990, 
v.u., JTACSP-RTI25/442; 2.'TACSP, 8.' C., Ap. 261.321-6, rei. MARTINS 
!===·-.... . COSTA,j. 28.06.1990, v.u., JTACSP 126/322. 
0
'' La motivazione della.sentenza civile, p. 464. 
'"' Idem, p. 465. +'·'·--'-'~-.. '·-·······--
_____ , __ _ 
-----------~C~F~,~a~~·~93~,~X~I~I ______ _ 
Altera~;ao por inclusao: 
Art. 93. [ ... ] 
XII- a atividade. jurisdicional se.ra 
ininte.rrupta, se.ndo ve.dado ferias co-
le.tivas nos jufzos e tribunals de segun-
do grau, funcionando, nos dias em que 
nao houver expediente. forense nor-
mal, jufzes em plantae pe.rmane.nte.; 
COMENTARIOS. 
Em atengao a regra segundo a qual o processo deve ter duragao ra-
zoavel (CF, art. 5.0 , LXXVIII), estabeleceu a Emenda Constitucional 
diversas disposi<;:oes que, somadas, podem contribuir para que os atos 
processuais se desenvolvam mais celeremente. 
A regra estabelecida no inciso XII do art. 93, ao eliminar as fe-
rias coletivas nos jufzos e tribunais de segundo grau, no en tanto, ca-
recera de efetividade se, no perfodo tradicional de ferias dos magis-
trados - que, segundo o art. 66 da LOMAN, e de sessenta dias - a 
atividade que seria realizada por aquele que seen contra em ferias nao 
for desenvolvida por outro juiz. A efetividade da nova norma consti-
tucional, assim, dependera da existencia de jufzes em quantidade su-
ficiente para a manuten~;ao regular das atividades daqueles que seen-
contram em ferias. 
De todo o modo, parece que o Iegislador constitucional nao Ievou 
emconsideragao peculiaridades de nosso Pafs, que talvez justificassem a 
manuten~;ao de ferias coletivas, pelo menos no perfodo que envolve as 
festas de final de ano e o mes de janeiro. E duvidoso, a nao ser que haja 
uma verdadeira revolu<;:iio cultural de ambito nacional, que os processos 
traJrlitem no mes de janeiro como se este fosse urn mes "normal". 
48 BREVES COMEt·lTARIOS ANOVA SISTEMATICA PROCESSUALCIVIL 
De todo o modo, ainexistencia de ferias coletivas mitigara a aplica-
9iio do art. 179 do CPC. 0 art. 173 do C6digo, por sua vez, se restringira 
apenas aos feriados. 
.. 
' '' -~ . .-,.· ..-Gf,.a~t-.---93,~XIII- -
_:,;~ ~="""=-~-----~~~~~-.• ---~~-.-----.~--· -~~--~~ 
'.<; 
_ ------~~ 1 ~Itera~iio por inclusiio: 
Art. 93. [ ... ]XIII- o numero de jui-
zes na unidade jurisdicional sera pro-
porcional a efetiva demanda judiciale 
a respectiva populavao; 
COMENTARIOS 
E evidente que, para que a presta9iio jurisdicional se realize em tempo 
razoavel, nao basta a cria9iio de mecanismos processuais diferenciados. 
A existencia de jufzes em quantidade condizente com a quantidade de 
demandas judiciais e a popula9ao local e condi9iio essencial para o de-
senvolvimento celere do processo. 
A aspira9ao contida na norma ora comentada depende, no en tan-
to, da observa91io de alguns fatores para alcan9ar a correspondente 
eficacia. 
Nao M, pelo que se sabe, qualquer estudo cientffico que a~nte, 
com precisao, "o numero de jufzes na unidade jurisdicional" que seja 
"proporcional a efetiva demanda judicial e a respectiva popula9ao" . .E 
precise reconhecer que, em casos como este, a compara9ao com pafses 
diferentes do nosso pode nao conduzir a resultados satisfat6rios. 
Pensamos que e muito diffcil, senao impossfvel, dizer qual a pro-
por9iio ideal de juizes por habitantes, ou por demandas. See certo que, no 
Brasil, a quantidade atual de jufzes por habitantes e pequena, nao haveni 
como se aplicaro.art. 93, XII da Constitui9iio Federal, se nao houver uma 
demonstra9ao clara e justificada de qual seja o numero ideal. 
A amplia9iio dos quadros do Poder Judiciatio importara o aumen-
to de despesas para o Estado. Caso o Estado nao tenha condi96es de 
supottar tal aumento, o preceito constitucional em questao careceni de 
efeti vidade. 
~ 
~ 
~ 
~ 
'~ 
~ 
'-._./ 
\-· 
~ 
~ 
~ 
~ 
'----' 
-~ 
'-./ 
50 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
Assim, como o aumento da propor9ao de juizef. nao e possfvel em 
curto prazo, a solu9ao seria otimizar o aparato judicial hoje existente, 
tornando a atua9ao dos jufzes mais organizada e eficaz. 
• 
. 11.\LIOTECA CENTRAL "DES. GERVASIOPRATA'' 
\IBUNAL DE JUSTK;A DO EST ADO DE SERG!Pf 
·#·~·~~-------,;;;C~F.,k, ;,;;a!t. 93, XIV 
Altera~;ao por inclusao: 
Art. 93. [ ... ] XIV- os servidores 
receberii.o delegayii.o para a pni.tica de 
atos de administrayii.o e atos de mero 
expediente sem carater decis6rio; 
COMENTARIOS 
A Emenda Constitucional n. 45/2004 consagrou definitivamente a 
possibilidade de delega9iio ao servidor judiciario, ao prever, textualmen-
te, no inciso XIV do art. 93 da CF, que: "Os servidores receberiio dele-
gar;iio para a pratica de atos de administrar;iio e atos de mero expediente 
sem cartiter decis6rio". 
No que se refere a pnitica de atos de administrayao, realmente nada 
ha que imponha que tal atividade deva ser, necessariamente, realizada 
por urn juiz. Por exemplo, a dire9ao do forum de uma comarca pode ser 
tao eficiente se realizada por urn escrivao on por urn juiz. 
A possibilidade de pratica de atos processuais sem caniter deciso-
rio, como os despachos de mero expediente, e prevista no art. 162, § 4.0 
do CPC. Trata-se de situa9ao que, a partir da Emenda n. 45, ganha emba-
samento constitucional. 
CANDIDO RANGEL DINAMARCOobserva ser ja antiga a ideia 
de que se deveriam atribuir fun96es ligadas ao impulso processual a au-
xiliares da justi9a, atenuando a sobrecarga de trabalho dosjtifzes;·defor"~---­
ma a que o proprio cartorio realizasse certos atos de rotina pura, efetiva-
mente desprovidos de carater decisorio relevante. Exata e precisamente · 
essa ideia, que CANDIDO DINAMARCO chama com propriedac!e.cle .... 
"automatismo judicial'', 1 e que foi encampada pelo nosso diteito, nano:va . 
I - . -
''' VerA reforma do C6iioi8.9,<Je}r~ces'so <;:ivil, 2. ed.; Malheirosi{i{lO .• 
,_ ~ . . . 
52 BREVES COMENTARIOS A NOVA S[STE!vlt\.TICA PROCESSUALCI\I!t 
CF, ARTIGO 93, XIV. 53 
d ao do art 162, §4 .o, do CPC e, com areformacoii.stitJJ.d2!'lafL!}Q~art; . 1 · Nao se pode, assim, "delegar" aos auxiliares dajustis;a a funs;ao de re a<; · . . _ F d 1 < resolver assuntos dessa natureza, embora se trate de despacho, e.na.o d.e 93 XIV da Const1tm<;ao e era · d · - · 1 • · M d d - • · , . . . . .... . . . . . ........ -· ... ec1sao mter ocutona. as e espacho que nao e de mero expedwnte. 
O.art. 162, § 4.0 e dispositivo de caraterexemphf!catlvo, ~m que se . ' . . ' 
" d' t 'rios" devem ser pratlcado.s ~-"· • ..·· .... ·.·· .. · Ass1m, parece-nos uti! e mteres~ante fazer-se essa d1ferens;a em 
.•. esta,~\f)e<;e que atos mera~ente 0~ 1:~ 0 ual1do-necessario for./Esses:<i'·'~ • • · · relas;~oao grau de coiJWI~Jti(,la,!iedefaci()¢Jnfo exig\go do agente, para se 
· ·o.iffh:/0 pelo ser.vtdor e revistos pe 0 J 12• q
1
.·· d t'· h ) ou·a· ·•· · · classtficar o ato como sendo despacho de mero expediente ( e nesse caso 
· · · Io aJ·untada (de urn ro e tes emun as, v.g. . , . . , atos senam, porexemp • sena tarefa, pelo menos predominantemente, do serventuario que atua 
vista obrigat6ria. no cart6rio) daqueles despachos que nao seriam de mero expediente, cuja 
E importante notar que a norma constitucional refere,s:,expr~ssa- prolas;ao continua sendo do ambito de atividade privativa do juiz. 
· • d · ' · D1ante disso . mente, a atos de mero exped1ente sem carater eczs?rw. . . ' BARBOSAMOREIRA,emtrabalhoeditadodepoisdainclusaodo 
parece serconveniente distinguir, dentre os atos profendo:' pelo JU!Z, entre art. 162, § 4. 0 do CPC,' alude diversas vezes a estes despachos "sobrevi-
aque!es que sao, de fato, de mero expediente e os.q~e. nao chegam a.ser ventes", que certamente nao sao os de mero expediente, pois estes, em 
decisiio interlocut6ria, mas tern algum cunho dectsono e que, no regime principia, hoje ficam a cargo do serventmirio. Veja-se, quando esse autor 
atual niio devem ficar a cargo do serventuario da justiqa. alude, por exemplo, ao despacho liminar no processo com urn de conhe-
' • 1 co 0 despacho por meio do qual o cimento
6 
ou no procedimento sumario. 7 Eo que ocorre, por exemp o, m . juiz recebe a a<;ao e determina que se efetive a citaqao.2 Esse pronuncta- Daleiturado dispositive oracomentado, conclui-se queaquilo que 
men to do juiz nao significa de modo a! gum que se esteja reconhecendo o juiz. fazia, no sistema anterior, por meio de despachos, a que parte da 
estarem presentes as condis;oes da a<;ao, os pressuposto.s process11ais . dout_n?~ cha~avadedesp~chos .de me;~ e:x;pe?ie~te, agora toc~r~ ao 
. . . · cartono. pratlcamente, sera o serventuano da JUStl<;a que profenra os 
posittvos etc. d h s 
.. h'd . - espac os. 
Nao M, assim, decisiio a esse respeito, ate porque nao " ectsoes 
implfcitas no direito brasileiro. 3 Mas o fa to e que o magistrado pode, ao 
receber a inicial, determinar que seja em en dada, se foro caso (art. 28~ do 
CPC), e ate, em certas hip6teses extremas, extinguir o processo comjul-
gamento de merito, constatando a decadencia c:~c, art. 2?9, IV), ?u, 
ainda, extinguir o processo sem julgamento de mento, profenndo, ass1m, 
uma sentens;a processual (CPC, art. 267).4 
"' Em primoroso ac6rdilo do Superior Tribunal de Justi9a, cujo relator foi o 
Ministro SAL VIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, ficou assentado que ci· 
tGfdO ndo e a to decis6rio. Decidiu-se que 0 juiz que se limitou a determinar 
a cita9ilo para a causa em primeiro grau nilo fica impedido de participar do 
julgamento da apela9ao, pais o ato que determina que se realize a cita9ao e 
despacho e nilo decisao interlocut6ria (STJ, 4.' T., REsp 9.031-MG, j. 
18.02.1992, DJ30.03.!992). 
'" A respeito da inexistencia de decis6es implfcitas, cf. TERESA ARRU-
DA AL VIM W AMBIER, Nulidades do processo e da senten~a, cil., n. 
3.1.4. 
''' Cf., a respeito, comentarios aos arts. 162, § 1.", 269 e463, infra. 
'" 0 novo processo civil brasi!eiro, 22. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2002. 
"' BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 22 ss. 
"' BARBOSA MOREIRA, op. cit., p. 307. • 
'" SERGIO BERMUDES foi urn dos comentadores do art. 162, § 4.' do CPC 
que se apercebeu, com a sua habituallucidez, de que os atos que ficam, 
hoje, a cargo do serventuario da justi9a sao os que seriam, a Iuz do sistema 
anterior, despachos de mero expediente (A refonna do CPC, Saraiva, 1996, 
p. 15, n. 2). Assevera, tambem, este autor que nilo cabe recurso do ato do 
cartonirio, mas daresposta que da o juizquanto ao requerimento da parte no 
senti do de que reveja o ato do cartorario. Concordamos integralmente com 
esta posi9iio. S6 nilo estamos de acordo com que este ex-despacho de mero 
expediente, ~ausando prejufzo, se transmudaria em decisiio interlocut6ria, 
pais "causar prejufzo" e efeito, e!emento acidenta], extrfnseco a 1109il0 de 
despacho de mero expediente, nao !he integrand a a essen cia. 
0 au tor, cuja opinHio ora comentamos, niio afirma que haja esta transmu-
da9ilo. Diz, apenas, que, "af, nao ten! ( o juiz) proferido despacho de mero 
expediente, cuja caracteristica e nilo gerar prejufzo de qualquer·ordem" 
(op. cit., p. 16, n. 3). 
~ 
~ 
~ 
·~ 
·~ 
~ 
1~<-­
L ,, 
54 BREVES COMENTARIOS A NOVA SISTEMATICA PROCESSUAL CIVIL 
Esses despachos hoje sao "proferidos" pelo serventmirio da justis;a. 
0 juiz, salvo se for necessaria (como diz o proprio dispositivo co menta-
do) hoje, pelo menos em princ!pio, niio profere mais despachos de mero 
expediente, ja que os despachos de mero expediente eram justamente 
aqueles atos meramente ordinat6rios, cujo objetivo e promover o anda-
mento do feito, levando a efeito e dando rendimento ao prindpio do im-
pulso oficial (art. 262). 
Esses atos meramente ordinat6rios sao, porexemplo, aremessados 
autos ao .contador, a entrega do processo ao perito, cobrans;a de autos 
indevidamente retidos pelo advogado .da parte etc. 
4 
E importante frisar-se, todavia, segundo a nova disciplina, se estes 
atos podem continuar a ser considerados como atos do juiz. Parece-nos 
que sim. 0 que houve foi urn mecanismo analogo a delega9ao, ja que se 
trata de ato praticado no exerdcio de poder "vinculado", see que se pode 
estabelecer esta analogia com esta categoria que, na verdade, e mais afei-
ta ao direito administrativo. Ademais, conforme a dic9ao legal, estes atos 
deverao ser revistos pelo juiz, se necessaria (CPC, art. 162, § 4.0 ). 
Deste modo; apesar da altefa9ao ora comentada, os atos a que se 
refere o art. 93, XIV nao deixam de ser ontologicamente atos do jufzo, 
que em decorrencia de louvaveis inten9oes do legislador e para efeito de 
verdadeira "desburocratiza9ao" dos procedimentos sao, hoje, "delega-
dos" para o serventmirio dajusti9a, e, ademais, quando necessaria o juiz, 
justamente pelo que acima se afirmou, tern o dever de reve-los. 
0 que h:i em comum entre as decisoes interlocut6rias e a natureza 
de seu conteudo, queM de ser decis6ria. 0 mesmo raciodnio pode ser 
feito no que diz respeito aos atos meramente ordinat6rios, pois o que ha 
em comum entre os pronunciamentos desta categoria e a ausencia de 
conteudo relevantemente decis6rio. Donde a impossibilidade de se tra-
s;ar urn perfil que os identifique, que os distinga dos demais pronuncia-
mentos, com as suas caracterfsticas

Outros materiais