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;i Jntrodu,·ao SUMARlO Capitulo 1 DENUNCIA(::AO CALUNIOSA L Bern juridico tutelado 2. Sujeitos do crime ...... XVII 3. Direito de petiqao: exerdcio regular de direito .............. 2 4. Tipo objetivo: adequa~ao tfpica. . ...... ......... ........ 5 4.1. Novidades cia Lei n. 10.028/2000: investiga~ao admi- nistrativa. inquerito civil ou a~ao de improbidade acimi- nistratiYa ... ..... .................. . . . .. ... .... . .......... 7 5. Tipo subjetivo: adequa9iio tipica ... .................. ........... 9 5.1. Admissibiliciade de dolo eventuaL... .............. 10 5.2. Especies de dolo: direto e eventuaL ..... ........ 14 5.3. Elemento normarivo: de que o sabe inocente . 18 6. Consuma<;:ao e tentati\'a . ............... .. ........ ,. ..... ,......... 19 7. Classifica~ao cloutrimiria . ........ . ......... ....... ...... .... 19 8. Figura majorada (§ 12 ).. ............. ...... ............ 20 9. Forma privilegiada ou minorada (§ 22).. ... ....... ........... 20 10. Concurso de crimes e conflito aparente de nonnas . 20 11. Penn e at;:ao penal ..................... ,. .. ,. ... .. .. . .... .. .. .. .. .. .. .. 22 12. Jurisprudencia sdecionada. ;; Capitulo 2 DOS CRIMES CONTRA AS FINANQAS PUBLICAS 1' Se<;ao Aspectos Preliminares 1. Pressuposto dos crimes contra as finanqas. 25 VI! ( 2. Fundamentos constitucionais 3. Criminaliza.;:ao de infra<;6es administrati,·as 4. Bemjurfdico e injusto penal 5. Responsabilidade fiscal e improbidade administrat!va: crimes 6. San<;6es decorrentes de improbidade administrativa ....... . 7. Cumula<;iio de sanqoes e bis in idem: inconstituciona1idade 8. Abrangencia do disposto no m1. 63 do CPP 9. Penas a1temativas na Lei n. 10.028/2000 ............ . 10. Pena de multa 11. Efeitos da condena<;iio (m1. 92, I, a, do CP) 12. Efeitos da condenaqao (art. 92, I. b, do CP) 13. Coisa ju1gada: extensao ............... . 14. Efeitos extrapenais da condena<;iio 15. Excessiva puni<;iio dos agentes plib1icos 16. Ausencia de modalidade cu1posa ............................. . 17. Leis penais em branco ........... . 18. Novatio legis criminalizadora: in·etroatividade 19. Suspensao condicional do processo .......................... . 2' Segao Crimes em Especie Contrata<;:ao de opera9ao de credito l. Bern juridico tutelado 2. Sujeitos do crime ............... . 2.1. Sujeito ativo 2.2. Sujeito passivo ............ . 3. Tipo objetivo: adeguaqao tipica ..................................... k ••. 3.1. Sem previa autoriza<;iio 1egislativa ................. . 3.2. Autorizaqao legislativa e autoriza<;ao legal 3.3. Operaqao de credito ..................... . 3.4. lntemo ou extemo: eJementar tipica 4. Tipo subjetivo: adeguaqiio tfpica S. Consum.acJio e tentatiYa 5 .1. Consuma<;iio .......... . 5.2. Tentativa Vlll .- ~~-~~eo~~~-.no.--=.----------- 25 25 26 27 27 27 28 28 28 28 28 28 29 29 29 29 30 30 31 32 32 33 33 33 33 34 34 34 34 34 r _) 6. Modalidades de opera<;iio de credito ................................. . 6.1. 1nobservancia do limite. condi<;ao ou montante ... _ .... . 6.2. 1nobservancia do limite da divida consolidada ......... . 6.3. Defini<;iio legal de ·'divida conso!idada" lnscri(fao de despesas nao empenhadas em restos a pagar !. Bern juridico tutelado 2. Sujeitos do crime .......... . 2.1. Sujeito ativo .......... . 2.2. Sujeito passivo 3. Tipo objetivo: adequaqiio tipica ........................... . 3 .l. Inscri<;iio em restos a pagar ...................... . 3.2. Despesa nao empenhada previamente .......... . 3.3. Que exceda limite estabelecido em lei 4. Tipo subjetivo: adegua~ao tipica .................... . 5. Consuma9ao e tentativa 5 .1. Consuma9ao 5.2. Tentativa ............... . 6. Distin9ao do crime anterior 6.1. lnterpreta(:ao garantista 7. Desistencia voluntaria 8. Conflito aparente de nonnas 8.1. Exce9ao a teoria monistica ........................................ . 9. Pena e a9ao penal Assun9ao de obriga<;:ao no ultimo ano do mandato ou legislatura l. Bern juridico tutelado 2. Sujehos do crime .......... . 2.1. Sujeito ativo 2.2. Sujeito passivo 3. Tipo objetivo: adegua<;iio tipica ....................... . 3.1. Despesa nao paga no mesmo cxercicio financeiro .. : .. 3.2. Indisponibilidade de caixa para o exercicio seguinte. 3.3. Contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa ,~- • 35 36 36 37 38 38 38 38 38 39 40 40 40 41 41 41 41 41 42 42 42 42 43 43 43 44 44 45 45 46 ' ~ IX ~. ~ 4. Assun~ao de obriga~ao antes dos dais iiltimos quadrimes- 3.7. Ausencia de garantia dispensa contragarantia ........... 60 tres ...................................................................................... 46 4. Garantia nao condicionada a adimplencia: atipicidade ...... 61 /''• 4.1. Mandato ou legislatura ............................................... 4'7 5. Tipo subjetivo: adequa~ao tfpica ........................................ 61 5. Tipo subjetivo: adequa~ao tipica ....................................... 4'7 6 Consumadio e tentativa ...................................................... 61 . . 5.1. Erro de tipo: irrelevancia da e,·itabilidade ................. 48 6.1. Consuma~ao ...................... : ........................................ 61 6. Consuma9iio e tentativa ...................................................... 48 6.2. Tentativa ..................................................................... 61 6.1. Consuma9iio ............................................................... 48 7. Pena e a9ao penal . ··················· 62 6.2. Tentativa ............................... : ..................................... 48 7. Pen a e a9ao penal ............................................................... 49 Niio cancelamento de restos a pagar Ordenac;:ao de despesa nao autorizada 1. Bern jurfdico tutelado ......................................................... 62 2. Sujeitos do crime ................................................................ 62 1. Bern juridico tutelado ......................................................... 49 2.1. Sujeito ativo ............................................................... 62 2. Sujeitos do crime ................................................................ 49 2.2. Sujeito passivo ........................................................... 63 2.1. Sujeito ativo ............................................................... 49 3. Tipo objetivo: adequa9ao tipica .......................................... 63 2.2. Sujeito passivo ........................................................... 50 3.1. Deixar de ordenar ....................................................... 63 3. Tipo objetivo: adequa9iio tfpica ...........•..•........................... 50 ---------- 3.2. Deixar de autorizar ..................................... : ............... 64 .. ····--··---- 3.1. Despesa nao autorizada por lei .................................. 51 3.3. Deixar de promover .................................................... 64 3.2. Despesa "justificada" (embora nao autorizada por lei) 53 ----- 4. Inscri9iio nao superior ao limite perrnitido: atipicidade ..... 65 4. Tipo subjetivo: adequa9ao tipica ........................................ 54 5. Tipo subjetivo: adequa9ao t!pica ........................................ 65 5. Consuma9iio e tentativa ...................................................... 54 5.1. Erro de tipo e erro de proibi9ao ................................. 65 54 6. Consuma9ao e tentativa ...................................................... 66 ~. 5.1. Consuma9ao ...............................................................5 .2. Tentativa ..................................................................... 54 7. Conflito aparente de normas: arts. 359-F e 359-B ............. 67 6. Pena e a9ao penal ............................................................... 55 7 .1. Exce9iiO a teo ria monistic a······.········ .......................... 67 8. Pena e a9iio penal ................... 68 Prestac;:ao de garantia graciosa 1. Bern juridico tutelado ......................................................... 55 Aumento de despesa total com pessoal no ultimo ano do mandate ou legislatura 2. Sujeitos do crime ................................................................ 56 2.1. Sujeito ativo ............................................................... 56 1. Bern juridico tutelado ......................................................... 68 2.2. Sujeito passivo ........................................................... 56 2. Sujeitos do crime .............................................................. 68 -~ 3. Tipo objetivo: adequa9iio tipica ......................................... 56 2.1. Sujeito ativo ............................................................. 68 3.1. Concessao de garantia de opera9iiO de credito ··········· 57 2.2. Sujeito passivo ......................................................... 69 ~. 3.2. Reten9ao de receita tributaria ..................................... 57 3. Tipo objetivo: adequa9ao tfpica ....................................... 69 3.3. Contragarantia de opera~ao de credito ....................... 58 3.1. Despesa total com pessoal ......................................... 70 3.4. De valor igual ou superior .......................................... 58 3.2. Elementar temporal: iiltimos cento e oitenta dias de 3.5. Na forma da lei .......................................................... 59 mandata ou legislatura .............................................. 70 3.6. Contragarantia exigida por ente federativo superior .. 60 3.3. Executar: obediencia hierarquica ............. 71 X XI ~- 4. Tipo subjetivo: adequa~ao tfpica 4.1. Erro de tipo 5. Consuma~ao e tentativa ............. . 5 .1. Consuma<;ao ................ . 5.2. Tentativa 6. Semelhan<;as e diferenqas como disposto no art. 359-C ... 7. Pen a e aqiio penal 71 71 72 72 72 72 73 Oferta publica ou colocagao de tftulos no mercado 1. Bern jurfdico tutelado ......................................................... 2. Sujeitos do crime ................................................................ 2.1. Sujeito ativo .................... , .......................................... 2.2. Sujeito passivo .. : ........................................................ 3. Tipo objetivo: adequa~ao tfpica .......................................... 4. Controle jurfdico ou legislativo .......................................... 5. Tipo subjetiv6: adequa~ao tfpica ........................................ 5 .1. Erro de tipo ................................................................. 5 .2. Erro de proibi<;iio ........................................................ 6. Ccinsuma<;iio e tentativa ...................................................... 6.1. Consumaqao ........................................................ , ...... 6.2. Tentativa ..................................................................... 7. Pena e a<;iio penal ...................... Capitulo 3 NOVOS CRIMES PRATICADOS POR PREFEITOS - DECRETO-LEI N. 201/67 1g Se<;:ao Aspectos Comuns as Novas lnfrar;oes Penais do Decreta-Lei n. 201/67 1. Bern juridico tutelado 2. Sujeitos dos crimes 2.1. Sujeito ativo ............... .. 2.2. Sujeito passi\'0 . 3. Concurso de pessoas ............. .. 3.1. Co-autoria ern crime ornissivo: possibilidade XII : p 74 74 74 74 74 75 75 76 76 76 76 77 77 79 79 79 81 81 82 4. Cornpetencia por prerrogativa de fun<;ao ..................... 84 5. Suspensao coudicional do processo ................................ 85 6. Penas restritivas de direitos e pena de rnulta ...................... 85 7. Penas e a<;iio penal ......................................... : .................... 86 2g Se<;:ao Novas Crimes em Especif?-. lncluidos no Decreta-Lei n. 201/67 pela Lei n. 10.028/2000 Deixar de ordenar, no prazo, redugao do montante da dfvida consolidada 1. Tipo objetivo: adequa<;iio tfpica .......................................... 87 2. Montante da dfvida consolidada e sua redu<;ao no prazo legal .................................................................................... 88 2.1. Prazos estabelecidos ern lei ........................................ 88 2.1.1. Pressupostos fundarnentais do crime ornissivo 90 2.2. Limite maximo fixado pelo Senado Federal .............. 92 3. Tipo subjetivo: adequa<;iio tfpica ........................................ 93 3.1. Erro de tipo e erro de proibi<;iio ................................. 93 4. Consuma<;iio e tentativa ...................................................... 93 5. Concurso corn o art. 359-A do C6digo Penal: opera<;iio de credito ................................................................................. 95 5 .I. Princfpio da especialidade .......................................... 97 Ordenar ou autorizar a abertura de credito em desacordo com os limites . 1. Tipo objetivo: adequa<;ao tfpica ................... , ...................... 99 1.1. Abertura de operaqao de credito ................................ 99 1.2. Em desacordo com os lirnites estabelecidos pelo Se- nado Federal ............................................................... 100 2. Elementos normativo-negativos do tipo ............................. 101 3. Tipo subjetivo: adequa~ao tfpica ........................................ 102 4. Consuma<;ao e tentativa ............................................. i03 4.1. Consurna<;iio ............................................................... 103 4.2. Tentativa ............................................................... : ..... 103 XIII :l~ Nao anular os efeitos de opera9ao de cn§dito irregular 1. Tipo objetivo: adequa<;ao tfpica L 1. Elementar normativa: na forma da lei 1.2. Elementares contradit6rias: cancelamento. amortiza- <;iio ou constituiqao de reserva 1.2.1. Para anular os efeitos de operaqao de credito . 1.3. Formas irregulares de operaqao de credito: com inob- servancia de limite, condiqao ou montante estabele- cido em lei ............ . 2. Tipo subjetivo: adequaqao tfpica 3. Consumaqao e tentativa Nao liquida9ao de opera9ao de credito por antecipa9ao de receita 1. Tipo objetivo: adequa<;ao tipica ......................................... . 1.1. Opera<;ao de credito por antecipa<;ao de receita or<;a- mentaria ....................................... . 1.2. Encerramento do exercfcio financeiro 1.3. Liquida<;ao integral 2. Exc!udente de criminalidade e dirimente de culpabilidade 3. Tipo subjetivo: adequa<;ao tipica ........... . 4. Consumaqao e tentativa Refinanciamento ou posterga9ao de dfvida contrafda anteriormente 1. Tipo objetivo: adequaqao tfpica 1.1. Realiza<;ao de opera<;ao de credito em desacordo com a lei 2. Tipo subjetivo: adequa<;ao tfpica 3. Consumaqao e tentativa Captar recursos antecipando receita tributaria por fato gerador futuro 1. Tipo objetivo: adequa<;iio tfpica XIV 104 106 106 l07 108 108 108 109 109 111 111 112 112 112 113 113 114 114 115 2. Tipo subjetivo: adequa<;ao tipica 3. Consuma<;ao e tentativa Destinayao de recur!'os provenientes da emissao de titulo para finalidade diversa da prevista em lei 1. Tipo objetivo: adequa<;ao tipica ......................................... .2. Tipo subjetivo: adequa<;ao tipica 3. Consuma<;ao e tentativa Transferencia voluntaria em desacordo com a lei 1. Tipo objetivo: adequa<;ao tipica ......................................... . 2. Transferencia voluntaria em desacordo com a lei Bibliografia APENDICE ANEXO 1-Exposi<;ao de Motivos da Lei n. 10.028/2000 .. ANEXO 2-Lei n. 10.028, de 19 de outubro de 2000 (Altera o Decreta-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940- C6- digo Penal, a Lei n. 1.079, de 10 de abril de 1950, e o Decreta-Lei n. 201, de 27 de fevereiro de 1967) Al'ffiXO 3-Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000 (Estabelece normas de finan<;as piiblicas voltadas para a responsabilidade na gestao fiscal e da outras providencias) ~- - £312 J mH~ R ·- £_ ~~~w«l&.mu;;; __jcl;_"'§f -w!t-,;,;,;&; ff'BEfi(~: --~"'"'"'-'· .&!QPi>IJ; z_ &_ L 117 117 118 119 119 120 121 123 129 131 139 XV ~-. ~ ~ -·· ~- -~ -~ ~, ~, -~ ,, ~, ,-, ~ ~ " ~, -~ ·" c' ~. '~ .~ ~ INTRODUQAO A partir da sua entrada em vigor (20 de outubro de 2000), a Lei n. 10.028/2000 tern sido objeto de grande apreensao, quer pelos seus destinatanos, quer pela grande rnidia nacional, quer pela populaqao brasileira. Desnecessario, para os iniciados, insistir no principio da reserva legal e na irretroatividade da lei criminalizadora - "nao ha crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem previa cominac;ao legal" (art. 52, XXXIX, da CF e art. I 2 do CP). Essa obviedade, contu- · do, nao impediu que a grande rnidia fizesse a tradicional confusao afmnando a retroatividade da lei, num primeiro momento, para, poste- riormente, mostrar-se inconformada ante a impossibilidade de a lei criminal alcan<;ar os fatos anteriores praticados pelos prefeitos muni- cipais, repetindo, como gosta de fazer, que nao passa de uma firula jurfdica para assegurar a velha impunidade. Convenhamos, nao preci- samos perder tempo para rebater esses "judiciosos" argumentos. Faz-se necessano, por uma questao de justi<;a, a despeito do alarde dos saos prop6sitos das leis moralizadoras (LC n. 10112000 e Lei n. 10.028/2000), afirmar que sao tendenciosas e demag6gicas, afora suas flagrantes deficiencias tecnicas e graves inconstitucio- nalidades. Como destacam, com muita propriedade, Luiz Flavio Gomes e Alice Bianchini, "A quantidade de equivocos cometidos pelo legislador, faz com que a eficacia da Lei reste subordinada a transposic;ao de muitos obstac~los. Alem das ja conhecidas dificul- dades de se dar aplica<;ao aos dispositivos repressivos quando se tra- ta de buscar a puni<;ao de agentes com elevado poder economico e politico, o legislador acaba por contribuir com esta situa<;ao ao ela- borar Lei sem a devida preocupaqao com a tecnica legislativa e con- tendo flagrantes vicios de constitucionalidade". Na verdade, o "sabio legislador" dispensa tratamento diferen- ciado aos administradores piiblicos que pratiquem as mesmas con- ~I~ ._.., l D • • dutas: para os prd'citos municipais. com ina penu de prislln. alt:~m da perch do cargo. com inabilita~·J.~ da fun<;3o f:)llbli,:a: para os dctc-nto- rc, de podcr nas e,feras federal e estadual (Prcsidentc da Republica. Go\·ern:tdorcs dos E,_.,t~tdos etc.). ao contrririo, comina-lhcs. t8.o-:-;o- mcntc. as chamadas saw;Oes polftico-administrati,·as. Esse odloso ardil politico-juridico. contudo. n5o mereceu o destaque de,·ido. dei- xando a populaqiio acreclitar que a cruzacla pel a moralidade publicae cfetiYa e seria. Para concretizar essa armadilha aos prefeitos munici- pais. utiliza-se habilmente da Lei n. 1.079/50. que. para os incautos. trata dos "crimes de responsabilidade". mas que, ardilosamente. niio lhes comina qualquer sanqao penal. Nesse sentido. re,·o!tam-se tam- bem Luiz FlaYio Gomes e Alice Bianchini. afirmando: "Ha ofensa t1agrante ao principia da igualdade. por meio do qual. qualquer descrinien praticado pelo legislador deYe estar fundamentado em cri- teria de necessidade e de razoabilidade. atributos que nao se fazem presentes. Deixa de existir qualquer raziio para que se imputem con- segliencias juridicas diferenciadas para condutas idi'nticas pratica- clas por entes politicos, sejam eles da esfera municipal (que no caso e mais grm·emente punido). ou estadual, ou federal (para estes niveis, hti previsiio de identic a pena)''. Todos queremos. com urgencia, a moraliza,ao da administra9iio publica, mas niio podemos esguecer que vivemos em urn Estado De- mocratico de Direito. Constata-se, na verdade, o aqodamento dos govemantes brasileiros. mais uma vez preocupados em uti/izar o di- reito penal simbolicamente, enganando uma populaqao carente. igno- rante e mal informada. fazendo crer que "paladinos da moralidade publica" estiio no poder e decidii·am fazer "ca9a its bruxas" a gualquer pre<;o.A propria midia nacional esta sendo enganada pelos detentores do poder. e. convencida do seu papel de levar a "boa nO\·a aos homens de boa ,·ontade", passou a incutir na opiniao publica a legitimidade e suficiencia des sa satisfac;ao basica aos seus anseios de Justic;a. mora- lizadores. definitiYamente. das tlnan~as pl1blicas e da administnu;ao publica em geraL Contudo. tudo isso niio passa de uma farsa: para os prefcitos. a praticamente im·iabilidade de conduir seus mandatos. mesmo con1 a mais ab;-;;ol uta honestidade. sem ;.;ofrer condena~fto cri- minal e ser expostos it execraqiio publica. enquanto os demais manda- XVlll ~-~~~ • .. .: . t~irios - os superiores legisladores e outros destinatiirios da Lei n. 1.079/50 - Jamais seriio alcam;ados pela lei penaL Na ,·erdade, agueles que exercem fun<;iio execuriva em nivel federal e estadual somente teriio possibilidade de ser aican<;ados pe- los crimes constantes do novo capitulo acrescentado ao C6digo PenaL Enfim, com a conjuga<;iio da Lei n. 10.028/2000 com a Lei Com- plementar n. 10112000, nenhum dos novas prefeitos concluin\ seu mandato sem responder criminalmente. nos termos do Decreta-Lei n. 201167 e do proprio C6digo Penal. Dessa forma. a Lei n. 10.02812000 introduziu no sistemajuridi- co-penal brasileiro novas figuras penais. guer no C6digo PenaL quer no Decreta-Lei n. 201/67. No C6digo Penal foi acrescentado um ca- pitulo ao Titulo XI. que trata Dos crimes contra a Adminisrrarc7o P1iblica. sob a rubrica de Crimes contra asfinanras piib!icas. alem de redefinir o crime de denullciarc7o ca!uniosa (art. 339). No deere- to-lei referido. foram incluidos oito no\·as figuras delitivas em seu art. 19 , que tipifica os crimes de respo11sabilidade de prefeiros. Neste opusculo, que niio tern a pretensiio sequer de apresentar- se como livro, limitamo-nos a fazer concisas anota,oes a parte cri- minal da Lei n. 10.028/2000, abordando, mais especificamente, a denuncia9ao caluniosa, o capitulo dos crimes contra as finan9as pu- b!icas e as novas infrac;oes penais incluidas no Decreta-Lei n. 20 II 67. Essas considera96es representam nossas primeiras e apressadas ret1ex6es, que tem a pretensao unica de contribuir e tranqUilizar a sofrida c!asse de prefeitos, a despeito da existencia, como em toda classe de pessoas, de alguns cuja conduta nao lhes recomenc!a. .·. p· XIX /~ /-, /~ ·~ /' ·~ _··~- -·,::--:: Capitulo 1 DENUNCIAQAO CALUNIOSA Denunciayao caluniosa Art. 339. Dar causa a instauragao de investigagao policial, de processo judicial, instauragao de investigagao administrati- va, inquerito civil ou agao de improbidade administrativa contra , alguem, imputando-lhe crime de que o sabe inocente (Caput com.redaqao determinada pe!a Lei n. 10.028, de 19-10-2000.): Pena- reclusao, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. § 1 Q A pen a e aumentada de sexta parte, se o agente se serve deanonimato ou de nome suposto. § 2Q A pena e diminufda de metade, se a imputagao e de pratica de contravengao. lnovariio legislativa: esta Lei n. 10.028/2000, ao dar nova re- dagao ao art. 339 do C6digo Penal, inc!uiu as condutas de " ... dar causa ii instauragao de investigagao administrativa, inquerito civil ou agao de improbidade administrativa". 1. Bern jurfdico tutelado Bem juridic a protegido e a boa e regular Administragao da Jus- tip, que, necessariamente, e atingida por eventua~s falsas imputa- g6es que fundamentem a instaura9iio de qualquer das investiga96es mencionadas no tipo penal. 2. Sujeitos do crime Sujeito ativo e qualquer pessoa. Nada impede que qualquer auto- ridade publica tambem possa sequjeito ativo deste tipo penal. esp>'- cialmente aquelas que. de modo geral.lntegram a persecuqao crimi- ·~ 1 . nal. tais como magistrados. membros do J\linist<'rio Pl1blicu e clele- gados de policia'. • Em se trarando. porem, de imputa<;ao da pratica de crime de exclusi\·a iniciatira priFada e a~'do pllb!ica condiciona(hi. sujeito ati,·o somente pode ser o titular do direito de queixa ou de represen- ta<;iio. uma yez que, segundo o C6digo de Processo Penal (art. SQ. §§ 4Q e 5°). a autoridade policial depende cia autorizaqao daquele para iniciar suas investiga<;Oes. Sujeitos passivos sao o Estado e a pessoa atingida em sua honra pela denunciaqao caluniosa. 3. Direito de peti~ao: exercicio regular de direito 0 direito de peti~ao, como garantia const\tucional, surgiu na Car1aMagna inglesade 1689 (Bill ofRighrs). Couture afirmava que o direito de petir;·ao foi, originariamente, om direito privado, logo adquirindo cararer publico de garantias, inse11o nas Constitui<;6es. Quem de lata (apresenta notiria criminis) e pede aber1ura de in- querito policial ou sindicancia exerce urn direito (art. 5Q, II e §§ IQ e 5°, do CPPJ, e se exerce dire ito nao pode praticar crime; pode, even- tualmente, ate cometer errode avaliac;ao ou equivoco, mas a ocor- rencia de qualquer destes, se demonstrada, afasta o e/emento subjeti- vo, configurando a chamada verdade subjeriva. ou a conhecida boa- fe. Em sentido semelhante decidiu o 6Q Grupo de Ci\maras Criminais do TACrim de Sao Paulo, cujo ac6rdao tem a seguinte ementa, in verbis: "Inexiste animus diffamandi na conduta de quem da noticia de conduta que reputa delituosa, bem como indica os autores, a auto- ridade competente para investigar os possiveis delitos e instaurar a persecuqao penal"'. Com efeito, quem ousaria represenrar a au tori- dade competente ou noticiar simplesmente a pnitica de crimes se. quando a investigaqao redundasse em nada. o denunciante ou of en- dido corresse o risco de responder por algum crime, quer contra a ! . No mesmo senti do~ o entendimenro de Luiz fljvil) Gomes e Alice Bianchini. ('; -;;,, ·, tf1· i"c,fJt!i!S€1/)ifidatf(' ji\"Oif. 2. TACrimSP. 62 Grupo de Cfunar<.tS. Revi:\fto n. 31-I-J04/I. j. 18-5-1998. RT. n. 7':-A. out. 1998. p. 575. ~ ... ·~ -: ~ . -~- -.· ... ~_ ... __ ... ~::;-":_ c• honra. quer contra<.! Administr<.t<;:1o cb 1Lh1i<;a (art. 339 )? Seria a dcs- moralizas·Uo completa cia Administra<;<lO PUblica e a ~·onsagrac;Jo absoluta da impunidade. Com efeito. a exlstenci~; de H'niade su/;jeth·a e suficiente para afastar o dolo no crime de denunciac5o caluniosa: quando o azente. . ' c por exemplo. acreclita sinceramente na ,·erdade dos fatos. na licitude dos fins. ha uma oposi<;lio ao dolo. Em outros termos: a rerdade subjetira do agente e/imino o dolo da imputar:;i'io. Conseqi.ientemen- te. se holl\·er errO eSCUSaYeJ OU invencfveJ de parte do agente, nao existira denunciaqlio caluniosa. Na verdade. o elemento subjetil·o que comp6e a estrutura do tipo penal assume impm1tincia transcendental na defini\5.0 da conduta tfpica. E por meio do animus agendi que se consegue identificar e qualificar a ati\·idade comportamental do agen- te. Somente conhecendo e identificando a inten~ao -J•ontade e cons- ciencia- do agente se podera classificar um comportamento como tipico. Sintetizando. quando, por exemplo. o denunciante ''relata os fatos" perante a autoridade compere me e someme perame esta, con- figura circunstiincia que, por si s6, afasta o animus offendendi. 0 exercfcio do dire ito de petit;ao, e 6bvio. nao constitui infraqao penaL Efetivamente, o crime de denuncia<;ao caluniosa nao se confunde com a conduta de quem solicita a policia que apure e investigue de- terminado del ito. fornecendo-lhe os elementos de que dispoe'. Por outro lado. nao se pode perder de vista que o Direito tem como uma de suas garantias o tecnicismo, ou seja, os termos jurfdi- cos rem sentido tecnico preciso e muito bem delimitado. sendo veda- do dar-se-lhes sentido diverso. especialmente quando for para criminalizar alguma conduta. Assim, por exemplo, quando se afirma que determinada autoridade publica cometeu obuso de auroridade nao significa. necessariamente. que se lhe esteja imputando a pratica do crime de abuso de autoridade ou de abuso de poder. Antonio Cezar Lima da Fonseca destaca a imprecisiio da Jocu- <,·U.o ··abu-.;o de autoridacle". nos seguintes termos: "Na verdade. a ex- _1,_ TJSP. HC. rcl Humhcrtn tb :\t,\·~~. !<.JTJSP. 13:.~P. i-~~-~.i. _ _:r:··~- --~. ~,;-·· ., .... ~ . -~ fi!B' 3 r· r· r· /'• .~ ~. ~' pressiio almso de autoridade. utilizada pel a Lei. no plano penal. niio tern muita precisiio tecnica. Ocone que a lei penal comum, quando se refere ao abuso praticado por aquele que desempenha atividades na area publica (como esta na lei especial), chama-o de abuso de poder. Entiio, a lei penal comum denomina abuso de poder (art. 61, inc. II, letra 'g'; art. 150, § 22 ; art. 350, caput, todos do C6digo Pe- nal). o que a lei chama de abuso de autoridade. Ha certa imprecisiio nisso"4 • Nesse sentido, Damasio de Jesus, analisando o art. 61, III,f afirma que "a expressiio 'abuso de au tori dade, indica 0 exercicio ile- gitimo de autoridade no campo privado, como rela96es de tutela, curate Ia, de oficio, de hierarquia eclesiastica etc."'. Examinando o disposto na letra g do mesmo inciso III, tivemos a oportunidade de afirmar que: "a acepso~o de abuso de poder aqui, ao contrario da ali- nea anterior, refere-se ao exercfcio abusivo de autoridade publica. Abuso e o uso do poder aJem dos limites legais, e violaqiio de dever e o desrespeito as normas que nm1eiam cargo, offcio, ministerio ou profissiio"". Efetivamente, usam-se, em gera], as express6es "abuso de po- der" e "abuso de autoridade" como sentido ambivalente de descum- primento de normas administrativas, disciplinares, penais e civis. Autoridades e Poderes constituidos, com freqiiencia, incouem nes- ses abusos, tanto que os Tribunais Superiores encontram-se abauo- tados de asooes judiciais contra o Poder Publico. Niio significa, con- tudo, que na maioria desses casas tenha havido crime de abuso de autoridade, ainda que o abuso de poder ou de autoridade, lato sensu, tenha existido. Niio se pode esquecer o principia da tipicidade, pais s6 e crime aquele fato que a lei define como tal. Assim, somente aquele fato ou aquela conduta adequada a alguma moldura descrita na lei apresentara a indispensavel adequas;ao tfpica. Nao e, logica- me,nte, o caso de ·'amea9ar requisitar instaura9iio de inquerito poli- cial" ou delatar a autoridade competente fato que, na avalia9iio do agente, ainda que tecnicamente equivocada, constitua crime. 4. Antonio Ca~lf Lima da Fonseca, Abuso de amoridade, p. 26. 5. Dam<isio E. de Jesus, C6digo Penal anotado, 1995, p. 169. 6. Luiz Regie' Prado e Cezar Roberto Bitencourt, C6digo Penal anot:3do, p. 322. .4 ._.- ·c'<· Por isso. quem. na sua ,·enlade suhje1im. acredita que esta sen- do objeto, indeYidamente. de constrangimento ilegal e. achando-seinjusti<;ado ou ameaqado, procm·a, sob sua 6tica, o respaldo legal, encaminhando a autoridade competente - policia, Ministerio Pt.i· blico ou Poder Judiciiirio -notitia criminis, a evidencia, nao come- te crime de denunciariio caluniosa; niio divulga. nao comenta e nao afirma nada a ninguem, limitando-se a buscar aquila que julga ser o seu direito de cidadiio ofendido; falta-lhe o animus offendendi, logo, nao comete crime. ·· 4. Tipo objetivo: adequa<;ao tipica A conduta incriminada consiste em dar causa (motivar, origi- nar, fazer nascer) a inslauraqiio de inFestiga~·iio po/icial, de proces- so judicial, de inl'estigaqiio administrath·a, inquil:ito civil 011 arao . de improbidade administratil'a (Lei n. 10.028/2000) contra algw'm, imputando·lhe crime de que o sa be inocente. Sao tres, portanto, os requisites necessiirios para a caracterizaqiio do delito: a) sujeito pas- siva detemzinado; b) imputm;iio de crime; c) conhecimento da ino- cbzcia do acusado. Para a ocorrencia do crime de denuncia9ao caluniosa nao basta a "imputa9ao de crime", mas e indispensiivel que em decorrencia de tal a9ao seja instaurada investigm;ao policial, judicial, cfvel, admi· nistrativa ou de improbidade administrativa. Antes do advento da Lei n. 10.028/2000, que deu nova reda9ao ao art. 339, simples "sindicancia" ou mero "expediente administrativo" nao se equipara- vam a elementar objetiva do tipo, que se limitava a "investigaqao . policial" e "processo judicial". Assim, ainda que a eventual sindi- ci\ncia ou inquerito administrativo decorresse de denuncia ilicita, o princfpio da reserva legal impede a extensao anal6gica da norma a esses casos. Para se configurar o crim'e cumpre, no entanto, destacar a indispensabilidade de que a imputac;ao se refira a um jato definido C0/110 crime, sendo penalmente irrelevante a imputac;iio de ilfcito de qualguer outra natureza, civil. administratiYo constitucional etc. Mas para o inido da a\-ao pemli por crime de denunciar;fto caluniosa tor- na-se imprescindf\·eJ. pelo menos. o arqui,·amento do inquerito ob- jcto do nwo in_1pti.tado a Outrcm._ ~ 5 ,., .... A instaurafiio de im·estigarao constitui apenas um e/emento objeih·o do crime, importante, necessaria, mas insuficie!lte para consuma-lo. Essa infra~ao penal exige tambem, e ao mesmo tempo. a presen~a de um e/emento not'IJzafh·o, representado pela expressao "de que o sabe inocente". E, em outros termos, a consciencia atual da inocencia do imputado, quer por nao ter sido o autor do fato, quer porque o crime nao existiu. E necessaria que o sujeiro pass iva seja realmente inocente, re- sultando efetivamente prejudicado, isto e, acabe sendo investigado ou processado, sem justa causa, resultando, afinal, arquivado o pro- cedimento ou absolvido, com fundamento nos incisos I (estar prova- da a inexistihzcia do fa to) ou IV (niio existir prova deter o reu con- corrido para a infraqiio pena[) e, excepcionalmente, no inciso V (exis- tir circunstancia que exclua o crime ou isente o reu de pena- como, porexemplo, naquelas hip6teses dos arts. 142 do CP e 7°, § 2°, da Lei n. 8.906/94), todos do art. 386 do C6digo de Processo Penal. A hip6- tese do inciso II do mesmo dispositivo, em bora nao exclua por com- pleto, demanda maior exame de prova, enquanto pressuposto daque- 1e crime. So mente a partir desses pressupostos se podera come<;:ar a pensar na possibi1idade de denuncia<;:iio caluniosa, devendo reunir seus demais requisitos legais. Porem, se hoover sido extinta a punibi- lidade, por qualquer de suas causas, se a absolvi<;:iio tiver decorrido de alguma excludente de criminalidade ou dirimente de culpabilida- de, nao se podera falar em denuncia<;:iio caluniosa. E indispensavel que o arquivamento ou absolvi<;:ao tenha como fundamento a falsida- de da imputa<;ao com o conhecimento do imputante. Mas para se iniciar a a<;:iio ou investiga<;:iio pelo crime de denun- cia<;iio criminosa e indispensavel a conclusao definitiva da investiga- <;iio ou absolvis;iio trilnsita emjulgado, como um minimo de garantia da Administras;iio da J ustis;a. A denunciar;iio caluniosa, feita de forma direta ou indireta, tem como carater essencial "a espontaneidade, isto e, deve ser da exclu- siva iniciativa do denunciante"7• Cumpre destacar que o sujeito ativo 7. Nelson Hungria. Comentdrios ao C6digo Penal. !959. v. 9. p. 460. ·<:·6 ... _, .. . ·• ·•' .-•< ~-.... . · • ··-· ... - ... :· ' -· --;·; ... ..._ ... :-~ -"- . r pode causar a instauraqao de qualquer dos procedimentos referidos diretamente ou por interposta pessoa, al<''m de poder utilizar qual- quer meio'. sem qualquer formalidade, podendo faze-lo por escrito ou oralmente. 4.1. Novidades da Lein. 10;0?8f2QQO: investigaqiio administrativa. inquerito civi((}[/a{ao de improbidade administrativa Essa lei, de 19 de outubro de 2000, _acrescentOUJ)O.caput as eleJ1lentares de ·dar causa a ''instauradio de investigacao administra- tiva, !IJ:ql.l6i'lto dvi! Ql! a~ilo de imp(obidade .. adl1lini;trativa". f\.ntes d~ssalei, sgmente darqms'! Ainsta~ra£~0 _de illl'estigaqiio policia! o~ d~p~;~~ss;judiciq!}ipificava e~se;::rime. Assim, ficou extrema- ~~~te abr~~g~nte~-~~v~ tlpifica~ao da d~nimciaqiio caluniosa. EJ;>.,tm .. Y<O~d,ad~ que, ql!,al}clQ da edj~}io do. atu.al C6di1;o Penal (1940), as duas formas tradicionais de persecutio criminis eram as constantes .. da.reda¥iio original do caput do_dispositivoem exame. Tambem e verdade que, se desejasse, o legislador poderia ter inclui- do nesse tipo as condutas que dessem causa a instaurat;:iio de inqueri- to judicial e investiga~ao administrativa. Assim, a rigor, produto da moc!~midadejuridica ~a_Q sQtl),.l.lt!' () inqz!erliocivii ea aqiio de impro- lzf..c/ade adn:zil:zistrativa, pois a inclusiio da investiga~;iio administrati- va faz parte da politica criminalizadora exacerbada que dominou a ultima decada do seculo XX. A Lei de lmprobidade Administrativa (Lei n. 8.429/92) ja crimi- nalizava o ato de representar, por improbidade administrativa, con- tra agente publico ou terceiro beneficiario sabidamente inoc~nte (art. 19). Agora, com.'l .. .!JJ>VU .. '"JJ .. i)S .. ii.Q .. .cJo ... art ... 3,39,jnciuindo''dar causa a i .. n§!'!l!,~~S:A<;~d~ .. -<!S.iio .. deimprqbic!ad!' ~c!mil1istratiya'', pode:se ques,ti- 'Wilf se, 'lfi.tlal, teria sidorevogadaaquela .. previsiio do art. 19 'Cia Lei n. 8.429/92. ;'\tl.Qss_gjuizo, diversos asp~s~o .. s<Ji§tingyeip pr()fundamente as cJV_f\:;previso.esJegais, que t~m.fina!idades .e .. ab.rangencias diferenci- 8. Guilhenne de Souza Nucci. C6digo P~naJ COI!lent~do. p. 8?3. 7 .. ~.. "" <' ~- ~· ~·· ..~. ~ /~-- • c'~• ( r adas. lnicialmente, convern registrar que a previsao, muito mais restri- ta .. clo .art 19 da.Lei'd~ impr;b,dacle Acl1ninistrati,a tipifica tiio-so-~eJ1t~repr,ese!1tilr:·pg~<H() de TnmfoBi<:l'!tlt'( ~d!llinistn{iiy~'; :S)u;11em sequer tem naturezacriminal (~em a representaqao, nem o atode i~probi~~~e.ict~nistr~tiva);. ap~~<ls~Ssi~tor.i~.ft=Presentar. nas. cir-cunst~n~T~s: fi J;rinli.iiahzado. • ··· · · · ··· ,_ ..... _ - - Por outro ]ado, a conduta cri!llinalizadano. ar!·}39e rnuito mais l!Pf!l!lg<'nte, n~rn~9i<:l~-~mqu~ "i!ar c~u~aa:')nsta,,ra£iillde a£iio de (nzprobfdqde Qdmini~l!X!!i\'11(/0in UIJ1 al\:an~ejmpossfvel_de .ser atin- gigg p(!l () atq <:le. ~·represe!)t<~('; f.'()~e! -s~~i<l dtz~; . q~e "=epresentArt n~() .. deixa de ser uma especie d() gel}~l:ii."c:!irr cau~n)n§taur~<;ao", quepode assu!llira~· maisdi~~;;~~fonP:isdeiJ1inifestar=~"-tais como c9!nur)j'Ca,~ooral da 0correnciado fat(),telefonerna,fonograma, te~ l~gmri1a, fax ou bilhetecomunicando a.<Moridade competente a exis- !~.!Jcia <:l.e crime etc. A se&undagrande diferen9a, e a mais importante, refere-se a nat~re~a· da finalidacfe da co!llupica9ao. our~presentaqa(): aLei· de Iffiprobld~d~_Adnlinis~atiy~_-()bJstiva.some~ter~preseJ1tal-contra ato denat!lreza Pl!ramenf(fa(lffiinistrativa~-~~gti~Pto.nanova previsao do C6~igoPenal o fatoobjeto da investigaqaodever~, necessariamente, ter !l~i'f.rt:z<l £[i~nal(crlme ou col1iravenc;ao penal). 0 art. 19 da- quda lei nao fazia essa exigencia de que a imputa<.;iio fosse de crime, como exige o C6digo Penal. Com efeito, nem todo ato de improbidade administrativa cons- titui crime, em razao do carater fragmentano do Direito Penal, que exige tipicidade estrita. Assim, nada impede que alguematribua, fal- samente, a algum agente publico a pratica de ato de improbidade administrativa que, no entanto, nao seja tipificado como crime. Ne~ se caso, esse alguem incorre na previsao do art. 19 da Lei n. 8.429/ 92; contudo, qH?.Qg!:;.,<'lStPr:~$ent<W~!,J,.deccu.ulk!).l~.r-.fo!JX,l<J., ... imp!l,tar, fa1swn.eJ1t~.,HPratic,?. clY.iUo ... d.~il11pro£ici?.cl~ ?.d!llil1i~!.r~tiY<l qu(O ... ao ·l1JYSIJ1() tempo, seja defil1i<:lo como crime., .. int:.Qrr~r~ 11a preyisao do art. 339 do C:6dig()Penal, com a reda<.;iio determinada pela Lei n. 10.028/2000. Em scntido semelbantc e a orientac;ao dejDmm\siopc Jesus, ao ;nanifestar-se c.ontra a. revogac;ii() .do. art, 19, ill verbis: ''C:re-l11()$CJl!SJl*Q,j;p'j~~s~d~;s .. dispQsi,c\~spgde;]1.cO.<:;i~tif.P<l~ificame'u- .s ---. ">. /') ~ _tedeacordo com d1:as re!-pas: !")quando odenuncianteatribui falsa- lll~rite)\1t!rna <ltpdeimp;obidade que .contigulair1f,:ac;ao adminis- tratiya,poremniio configuracril11e, aplica,se o art . .l9da Le.i n. 8.4291 92. Ex.:. atopraticadocom desvio de finalidade (art. I I, 1, da Lei n. 'f:, 8.429/92); 2") q~!nq~ade~uncia~aoincide so~reato que,alem de ~a.t~pt<ll'5()ntr~ ~ probidade. administrativa, constitui tambem deljto. ~plica,seo art. 319 doCP. Ex.: art. !0, Vlll, da Lei n. 8.429/92, em que afraude em arremata9iio judicial. alem de configurar ato de improbi- dade, encontra-se definida como crime (art. 358, cP). De observar-se que a denunciac;ao e atipica quando seu objeto configura ato mera- mente infracional, nao possuindo natureza improba nem criminosa"'- Por fim, dar causa a instauraqao de Comissao Parlamentar de Inquerito (CPI), mesmo imputando falsamente a pnitica de crime. nao tipifica a denuncia<.;iio caluniosa, por falta de previsao legal. 5. Tipo subjetivo: adequa~ao tipica 0 elemento subjetivo geral e o dolo, representado pela J'Ontade consciente de provocar a investiga<.;iio policial, judicial, administrati- va, civil ou de improbidade. E absolutamente indispensavel que o su- jeito ativo saiba que o imputado e inocente. Segundo a doutrina majo- ritaria, este tipo penal somente admite dolo direto, em razao de exigir que o sujeito ativo tenha conhecimento de que a vitima e inocente. Se afalsidade da imputiu;ao, isto e, a inocencia do imputado, e elemento integrante ou condi9ao essencial da denuncia9ao calunio- sa, impoe-se que o dolo, no caso, abranja, necessariamente, a cons- ciencia dessa falsidade, ou seja, a consciencia efetiva da ir.ocencia do imputado. E, inclusive, insuficiente a dzivida sobre a veracidade ou inveracidade do fato imputado, e quem agir nessa circunstancia, ainda que pratique uma conduta temeraria, nao recomendavel, mo- ralmente censuravel, nao configura o crime de denuncia9ao calunio- sa (que exige consciencia atual da inocencia do acusado) pela falta de dolo direto. Estani igualmente afastado o dolo quando o agente incorrer em erro invencivel sobre a correspondencia entre o conteu- 9. Dam_3sio de Jesus. C6digo Penal anowdo. 11. e.d .. 2001. " 9 ' ;j 1:1 ,. ·!!' do da imputa<;ao e a realidade fatica. A verdade subjetiva (putativa) do fato imputado afasta o dolo, sem o qual nao se pode falar em aqao tipificada como crime"'. 5.1. Admissibiiidade de dolo evenlllai E necessario que a imputaqao seja objetiva e subjetivamente fal- sa (de que o sa be inocente). Em outros termos, e indispensavel que a imputaqao do sujeito ativo nao encontre nenhum respaldo na verdade dos fatos e que, ademais, o sujeito ativo tenha certeza da inocencia do imputado, isto e, daquele a quem atribui a pratica de crime. A simples dtivida (a falta de certeza) sobre a inod~ncia do im- putado, ao contrario do que afirmava a doutrina nacional ( ver Fragoso ... ), nao exclui a culpabilidade, mas impede a propria confi- guraqao·da denunciaqao caluniosa, ou seja, afasta a propria tipicidade da imputa<;iio. A natureza imperativa do verbo "imputar" afasta a possibilidade de dolo eventual. Contudo, a despeito de o agente "saber que o imputado e ino- cente", mesmo sem querer efetivarnente, pode assumir o risco de dar causa a instaurar;ao de quaJquer dos procedimentos referidos do tipo penal em exame. A eventualidade do dolo nao esta na ciencia da inocencia do imputado, que existe, mas no "dar causa a instaura<;iio do procedimento" contido na lei. Assim, por exemplo, agiria com dolo eventual quem, sabendo que o sujeito passivo e inocente, nao coinunica a autoridade competente, mas segreda a terceiros, divulga, propaga na co!etividade que o indigitado praticou determinado cri- me de aqiio publica; tomando ciencia dessa divulgaqiio, a au tori dade competente instaura o procedimento devido, comprovando ao final que o imputado e inocente. Nao se pode negar que, nessa hipotese, sabendo da inocencia de outrem, e mesmo sem desejar a efetiva ins- tauraqao da investigaqao oficial, com a sua aqao deu causa a instau- raqao da investigaqao referida no tipo do art. 339. Nao se trata, con- venbarnos, de dolo dire to; contudo, niio se pode afirmar que dolo nao bouve e que a conduta e atfpica, ou restaria apenas, residualmente, o 10. Para aprofundar o exame deste tema, veja-se Nilo Batista. 0 e/emento subjetit·o da demmciarfio caluniosa. 10 • ·. . ....... " . •. ·-: .. #'-~. crime contra a bonia. Na realidade. esse comportamento, nas crr- cunstancias ·;maginadas. configura dolo er·entual. e tipificada esta a infracao do art. 339. contra a Administraqao da Justiqa. No entanto, em razao de nosso entendimento isolado e para fa- cilitar a compreensao de nossa posi<;ao, pedimos venia para trans- crever parte do que sustentamos em nosso Manual de Direito Penal. parte Especial (v. 2), a respeito do tema crime de perigo de contagia venireo, nos seguintes termos: "5.1.2. Sentido e funqao das elementares 'sabe' e 'deve saber'. na definiqao do crime de perigo de contagio venereo Dolo eo conhecimento e a vontade da realizar;iio do tipo penal. Todo dolo tem um aspecto intelectivo e um aspecto volitivo. 0 aspec- to intelectivo abrange o conhecimento atual de todas as circunstfin-.· cias objetivas que constituem o tipo penal". Para a configuraqiio do dolo exige-se a consciencia daquilo que se pretende praticar. Essa consciencia, no entanto, deve ser atu- al, isto e, deve estar presente no momenta da ar;iio, quando ela estii sendo realizada. E insLificiente, segundo Welzel, a potencial consci- encia das circunstancias objetivas do tipo, uma vez que prescindir da consciencia atual equivale a destruir a linha divis6ria entre dolo e culpa, convertendo aquele em meraficqiion Na verdade, a previsiio, isto e, a represent01;iio ou conscibzcia deve abranger correta e completamente todos os elementos essenci- ais do tipo, sejam eles descritivos ou nonnativos. Mas essa previsiio constitui somente a consciencia dos elementos integradores do tipo penal,ficando fora dela a consciencia da ilicitude, que, como ja aftr- mamos, estii deslocada para o interior da culpabilidade13• E desne- cessario o conhecimento da proibiqiio da conduta, sendo sLificiente 11. Welzel. Derecho Penal alemtin, p. 96. 12. Welzel, Derecho Penal a/em tin. p. 96. No mesmo senti do, Gomez Benitez: "o momento cognoscitivo compreendl?" o conhecimento real ouatual (nao somente potencial) da reaiiza~ao dos dementos descrilivos e nonnativos do tipb .. .'_· (1f:or(a juridica del deli to -Derecho Penal: Pane General. Madrid, Civitas, 1988, p. 20~).- j 3, Ct:Z::!r Roberto Bitencourt. Manual di Direito ?!JJlai. p_.•2}5·. p .,_o:: .. ,_ 11 ~--"' /'/ ~, _, ,, ~-"-, -, ' -·--..._ -,, -, C''-., ' •· o conhecimento da.<.; circzmsrtmcias de fa to necessdrias il composi-~'<lo do !ljJo. .4 n!l/za doutrina, ao ana!isar as e.lpressiies 'sabe' e 'del'e sa- ber'. 1•ia em ambas a idemificar;rio do e!emento.subjetil'O da conduta punh·ef: o dolo direto era idemificado pel a e!ementar 'sabe' eo dolo el'entual pel a elememar 'deve saber' (alguns autores idemificamm. neste caso, a culpa)"- A lids, foi provavelmente com esse sentido que se t·oltou a lllili::.ar essas expressi5es, jd superadas, na Lei n. 9.4261 9{5. ao dar nova tipific{[(;clo ao crime de receptar;ao. Na hip6tese do 'sa be'- afinnavam os doutrinadores- hd ple- IW certeza do ageme de que estd comaminado. Neste caso, ndo se trara de mera suspeita, que pode oscilar emre a duvida e a certeza. mas hd, na realidade, a plena convicr;ao de encomrar-se comamina- do. Assim, a suspeita e a dzit·ida ndo servem para caracterizaro senti- do da elememar 'sa be'. Logo- conclufam -trata-se de dolo direto. Na hip6tese do 'deve saber' estar comciminado- ajirmm·cmz -. significa someme a possibilidade de tal co11hecimento, isto e, a potencial consciencia de uma elementar /[pica. Nas circunstrincias, 0 agente deve saber que e portador de mo!estia venerea, sendo des- necessaria a ciencia efetiva: basta a possibilidade de tal conheci- mento. Dessaforma, na mesma linha de raciocfnio, conc/ufam, Ira- ra-se de dolo eventual15 No entanto, essa interpretar;ao indicadora do dolo, atrm·es do 'sa be' ou 'deve saber', justificava-se quando vigia, incontestavel- meme, a teoria psicol6gico-normatil'(l da cu!pabilidade, que mami- nha o dolo como elemento da culpabilidade, situando a conscibzcia da ilicitude IZO proprio dolo. Contudo, a sistematica hoje e Olllra: {/ elementar 'sabe' que estd comaminado significa ter conscifhzcia de 14. Heleno CI<ludio Fragoso. Liri5es de Direiio Penal; Pane EspeciaL 1 I. eel.. Rio de Janeiro, Forense. l995. v. I: Nelson Hungria, Comemririos ao C6digo Penal. 5. ed .. 1979. Rio de Janeiro, Forense, 1979, v. 5, p. 405: Damtisio de Jesus, Direi1o Penal. Sao Paulo. Saraiva. 1979. v. 2. p. I48. todos ana]i!;ando o art. 130 do C6digo Pen a!. 15. Dam<isio de Jesus. em recente artigo pubJicado no Boler.im do IBCCrim. n. 52. de man;o de 1997. p. 5-7. 12 ~~ que i Ulll a genie transmiSSOJ: isto f. fer consciencia de Ulll efenzento do ripo. e a e/ementar 'det·e saber·. por sua vez. significa a possibi- lidade de ter essa conscibzcia. A consciencia do dolo, seu elemenro intelectual, a/em de nao se linzitar a detenninadas elementares do tipo, como 'sabe' ou 'del'e saber', nao se ref ere a ilicitude do jato, mas a sua conjigurar;ao tfpi- ca, devendo abranger todos os elementos objetivos, descritivos e normativos da figura tfpica, e nao simplesnzente um elenzento nornzativo, 'est{z contanzinado'. Ademais, o conhecimento dos ele- mentos objetivos do tipo, ao contrario da consciencia da ilicitude, tem de ser sempre atual, sendo insujiciente que seja potencial - deve saber - sob pena de destruir a linha divis6ria entre dolo e culpa, como referia, Wetzel. Em sentido semelhante manifesta-se Mufioz Conde 16, afirmando que: '0 conhecimento que exige o dolo e o conhecimento atual, nao bastando um meramente potencial. Quer dizer, o sujeito deve saber o que faz, e nao, haver devido ou podido saber'. Na verdade, a admissao da elenzentar 'deve saber' como identificadora de dolo eventual impede que se demonstre in concreto a impossibilidade de o agente ter ou adquirir o conhecimento do seu estado de contagiado, na nzedida em que tal conhecimento e presu- mido. E essa presunr;ao legalnao e outra coisa que autentica res- ponsabilidade objetiva: presumir o dolo onde este nao existe! A expressao 'deve saber', como elenzentar tfpica, e pura pre- sunt;ao, incompatfvel com o Direito Penal da culpabilidade. Preci- sa-se, enfim, ter sempre presente que nao se admitem mais presun- t;i5es irracionais, infquas e absurdas, pois, a despeito de exigir-se uma conscibzcia profana do injusto, constitufda dos conhecimentos hauridos em sociedade, provindos das normas de cultura, dos prin- dpios marais e eticos, nao se pode ignorar a hip6tese, sempre possf- vel, de nao se ter ou nao se poder adquirir essa conscibzcia. Com efeito, nem sempre o dever jurfdico coincide com a lei moral. Nao 16. Munoz Conde e Mercedes Garcia Ar<'in, Derecfw Penal; Parte General. 2. ed .. Valencia, Tirant Jo blanch, 1996. p. 285: .. ~- . 13 poucas re.:::es o direito protege si!lw~·Oes a mora is e ati inwrais. con~ trastando com a lei moral. por ra~oes de po/(tica criminal. de segu- ranc;a social etc. Assim, nem sempre e possfvel estabelece~; a priori. que seja o crime uma ar;ao imorafl'. A a,·ao criminosa pode se1; even- tua/mente. ate moralmente louvcivel. A norma penal. pel a sua parti- cular forc;a e eficcicia, induz os detentores do poder po/[tico a avcJs- salar a tutela de certos interesses e finalidades. ainda que contras- tantes com os interesses gerais do grupo social. Por derradeiro, constar de texto legal a atualidade ou potencia- !idade da consciencia de elementares, norma/mente representadas pelas expressoes 'sabe' ou 'deve saber', e uma erronia intolercivel, jci que a Ciencia Penal encarregou-se de sua elaborac;ao interpre- tativo-dogmcitica. A mera possibilidade de conhecimento de qual- quer elemento do tipo if insuficiente para configurar o dolo, direto ou eventual. Concluindo, a previsiio. isto e, o conhecimento, deve abranger todos os elementos objetivos e normativos da descrit;iio tfpica. E esse conhecimento deve ser atual, real, concreto e niio meramente presumido. Agora, a consciencia do ilfcito, esta sim pode ser poten- cial, mas serci objeto de analise somente no exame da culpabilidade, que· tambem e predicado do crime18• Enfim, ignoramos completamente a existencia das elementares 'sabe' e 'deve saber', para efeitos de classificar;ao das especies de dolo, possfveis no crime de peri go de contcigio venereo. ate porque o dolo eventual niio se compoe da simples possibilidade de conscien- cia ( deve saber), como sustentava a teo ria da probabilidade. 5.2. Especies de dolo: direto e eventual Este tipo penal, segundo a doutrina tradicional. contem tres figuras distintas: a) o agente sabe que estci contaminado; b) niio sa be, lnas devia saber que estci contaminado; c) sabe que estci conta- 17. Cezar Roberto Bitencourt, Manual de Direito Penal. p. 350; Teoria gera/ do d('lifo, p. 2()5. 18. Cezar Roberto Bitencourt, Manual de Direito Penal, p. 294; Teoria geral do de/ito. p. 152. ~4 < • . .. ~ _, -'-" ·- "l -~-· minado e rem a intenr;iio de transmitir a molestia ( § F). Dessa dis- tinqiio origina-se a dil'ersid'crde de elementos subjetivos: 1") 1 de que sabe) dolo de perigo, direto ou eventual; 2") (deve saber) dolo el·en- tual de peri go I alguns sustentam ate a existencia de culpa, que e inconcebfvel); 3") (see intent;lio ... transmitir) dolo de dano direto, nafigura do§ 1", mais o elemento subjetivo especial do tipo, repre- sentado pelo fim especial de transmitir a mo!estia. Enfim, dolo de perigo, nas hipoteses do caput, e de dano, na hipotese do§ 1". Vamos examinar essas questoes a luz da nossa interpretat;lio. Nao vemos nenhuma possibilidade de punir-se a modalidade do crime culposo, em razlio do principia de sua excepcionalidade, e, por isso mesmo, seria paradoxa! admitir sua equiparar;ao como dolo. Relativamente a previscio do caput do art.130. sustentafllOS a viabi- lidade de dolo direto e dolo eventual, pais, como o proprio Hungria- reconhecia, 'o elemento subjetivo limita-se a consciencia ou possi- bilidade de consciencia de quem como voluntcirio contato sexual, se cria o perigo de contcigio' 19, embora, na epoca, Hung ria desse outro sentido dogmcitico as expressoes 'consciencia' e 'possibilidade de consciencia'. E compreensfvel, pais, em seu tempo, vigia a teoria psicologico-normativa da culpabi!idade, e a 'consciencia da ilicitude integrava o proprio dolo', que, por sua vez, era um dos elementos da culpabilidade. E em relar;lio ao § 1•. onde um elemento subjetivo especial do injusto, exerce umafunqcio sui generis- qualificadora -, o dolo de dana so pode ser direto. 5.2,1. Dolo direto e eventual- 'sabe' que esta contaminado Quando o agente 'sabe' que est6 contaminado, isto e, quando tem plena consciencia de seu estado, de que e portador de motestia venerea, podem ocorrer as duas espesies de dolo- direto e eventu- al. 0 dolo sera sempre de perigo e consistirci na vontade livre e cons- ciente de criar a situar;lio de peri go de contcigio venereo (dolo dire- to) ou na aceitar;ao do risco de crici-la (dolo eventual). 19. Nelson Hungria. Coritentdrios -ac C6digo Penal, v. 9, _p. 40_2. 'tJ 15 ·-··.-·:, ~ ,·~ ~ ~- ~~', /-~ /""' ~ "~ -~- /-·-- "' . ' ':..... l l ' l l .\__ ' " l \ .. < ' ( ', \ \. ( '-· f~ Na primeira hipotese- dolo direto- o ageme 'sa be' que estd containinwlo, tem conscii!ncia de seu est ado e de que cria. com a sua aqiio, uma siwar;iio de risco para a v[tima, mas niio dei.<a de prati- car o a to libidinoso, seja conjwir;iio carnal, seja qualquer ozaro ato de libidinagem. Niio quer transmitir a molestia venerea, mas tem plena consciencia e vontade de expor a vftima a perigo de contagi- ar-se. Em outros termos, consciente e voluntariamente expoe a v[ti- ma a perigo de contagia venereo . Age, nessa hip6tese, com dolo direto, pois a vontade do agente e dirigida a realizat;iio do Jato t[pico. 0 objeto do dolo dire toe 0 jim proposto ( satisfar;iio da libido), os meios escolhidos (prdticas libidi- nosas) e os efeitos colaterais ou secunddrios (exposit;iio a contagio de molestia venerea) representados como necessdrios a rea/izar;iio do jim pretendido. Em relar;iio ao jim proposto e aos meios escolhi- dos, o dolo direto e de primeiro grau, e, em relar;iio aos efeitos cola- terais, representados como necessarios, o dolo direto e de segundo grau. Esse efeito colateral ou secundario- exposir;iio a perigo de contdgio - e abrangido mediatamente pela vontade consciente do agente - que sabe do risco -, mas e a sua produr;iio ou existencia necessaria que o situa, tambem, como objeto do dolo direto: niio e a sua relaqiio de imediatidade, mas a rel{l(;iio de necessidade, que o inclui no dolo direto20• Mas, mesmo na hip6tese em que 'sabe' que esta contaminado, o agente pode agir com dolo eventual e niio so mente com dolo dire- to. Quando, por exemplo, o agente 'sa be' que e portador de mo!estia venerea, preve a possibilidade de dar-se o contagia, mas niio tem certeza de que a mo!estia que tem e contagiosa. Na duvida sobre a natureza contagiosa, em vez de abster-se, mantem contato sexual com a vftima e a expoe a perigo. Quando o agente niio tem certeza de alguns dos elementos da conjigurar;iio tfpica niio deve agir; se, 20. Cezar Roberto Bitencourt, Manual de Direito Penal, p. 249. "Enfim, quando se trata do jim diretarnente des~jado pelo agenre. denominn-se dolo cNreto de primei- ro grau, e, quando o resultado e desejado como consequencia necessaria do meio escolhido ou da natureza do fim proposto, denomina-se dolo direto de segundo grau ou dolo de conseqiii?ncias necessdrias" (p. 249-50}. 16" ~ no en/iln/0, apesar da d1il'ida. age. assume o risco. nclo da pmdur;clo do resultado como tal, mas da aceiwriio da possibilidade de sua verificar;iio. Niio se pode esquecer que a elementar 'sabe' niio se corifunde com dolo, pois este se compoe de dois elementos- inte- lectivo (consciencia ou previsiio) e volitivo (vontade) -, e a ausen- cia de qualquer deles e sujiciente para impedir a conjigurar;iio dolo sa, tanto na forma direta quanto na e\·entual. Niio ha, em f)enhuma das hip6teses. qualquer intenr;iio de trans- mitir a molestia, tampouco a assum;iio do risco de transmiti-la, pois o dolo e de perigo. Mas o agente tem conscii!ncia do perigo de contagio, da possibilidade de que este ocorra. mas, a despeito disso, niio desis- te, mantem o contato libidinoso com a vitima, expondo-a a perigo. 5.2.2. Dolo eventual- 'deve saber' que esta contaminado 0 agente percebe alguns sinais de doenr;a venerea, mas niio tem certeza de sua infecr;iio e, quiqa, contaminar;iio; no entanto, mantem relar;iio sexual sem tomar qualquer precaur;iio, expondo al- guem a perigo. Na verdade, 'devia saber', havia a possibilidade de ter essa consciencia de seu estado, esse elemeiuo normativo esta presente, mas assume o risco de criar uma situar;iio de perigo para terceiro, de criar uma situar;iio de amear;a concreta de transmissiio da mo!estia. N esse caso, na duvida sobre a possibilidade de estar contaminado niio podia agir, expondo alguem a perigo concreto. Como destaca Wessels'1, havera dolo eventual quando o autor niio se deixar dissuadir da realizar;iio do Jato pela possibilidade proxima da ocorrencia do resultado (na hip6tese, da exposir;iio a perigo) e sua conduta justificar a assertiva de que, em raziio do jim pretendi' do, ele se tenha conformado como risco da exposiqiio ou are concor- dado com a sua ocorrencia, em ve;; de renunciar a pratica da 'ar;iio. Convem destacar que a dzlvida do agente pode ser em relar;iio a circunstancia de estar contaminado ( deve saber) ou, entiio, quanta a se tratar de mo!estia contagiosa ou niio (sa be que est a contamina- do ). Na prime ira hipotese, o dolo el'entual que orienta a conduta do 21. w·essel_s,_Direito Pe1ial, p. 53.: 17 age11le refere-se a elementar 'del'e saber', e a segunda refere-se a elementar ;sabe'. Enfim, pode-se Conc/uir, o dolo eventual pode configurar-se diame de qualquer das duas elementares- 'sa be· e 'deve saber'; o dolo direto e que nao e admiss{vel na hip6tese do 'deve saber"'. Por tudo isso, sustentamos a admissibilidade de dolo eventual no crime de denuncia9ao caluniosa, ainda que infreqtiente. 5.3. E!emento normativo: de que o sabe inocente A mera possibilidade de conhecimento de qualquer elemento do tipo e insuficiente para configurar o dolo, direto ou eventual. Na realidade, a previsao, is toe, o conhecimento, deve abranger todos os elementos objetivos e normativos da de~cri9iio tfpica. E esse conhe- cimento deve ser atual, real, concreto e nao meramente presumido. Agora, a conscii!ncia do ilfcito, essa sim pode ser potencial, mas ja sera objeto de analise somente da culpabilidade, que tambem e predicado do crime". Constar do texto legal a atualidade ou potencia- lidade do conhecimento de elementares, normalmente representadas pelas expressoes "sabe" ou "deve saber", ou, como neste caso, "de que o sabe inocente", e uma erronia intoleravel, visto que a Ciencia Penal encarregou-se de sua elabora9iio interpretativo-dogmatica. Na verdade, o conteudo da culpabilidade finalista exibe subs- tanciais diferen9as em rela9iio ao modelo normativo neokantiano, que manteve dolo e culpa como seus elementos. Diga-se, mais uma vez, que, enquanto na concepr;iio causalista o dolo e a culpa eram partes integrantes da culpabilidade, na finalista passam a ser elementos nao desta, mas do injusto. Tambem, na Corrente finalista, inclui-se o conhecimento da proibir;ao na culpabilidade, de modo que o dolo e entendido somente como dolo natural (puramentepsicol6gico), e nao como no causalismo, que era considerado como o dolus malus dos romanos, constitu1do de vontade, previsiio e conhecimento da realizar;iio de uma conduta proibida. 22. Cezar Roberto Bitencourt, t\1anual de Direiro Penal; Parte Geral, v. 1. p. 294. 18 h -~--- . . · .. ,_. .. . ·. -.~. •·. - i • Enfim. concluindo. a expressao "de que o sabe inocente" nao e indicativa de dolo e tampouco de culpa. mas constitui tao-somente uma e/ementar normatim que, a nosso juizo. ante o atual estagio dogmatico de dolo e da culpabilidade, e absolutamente desnecessa- ria'·'. Com efeito, a elementar "de que o sabe inocente" representa somente a exigencia de que o sujeito ativo tenha consciencia atual, efetiva, real do estado de inocencia do imputado, nao satisfazendo esse tipo penal a mera potencial consciencia dessa condi9iio do su- jeito passivo. 6. Consumat;iio e tentativa Consuma-se o crime de denunciaqiio ca/uniosa com a instaura- 9ao da investiga9iio policial, administrativa, civil publica, de improbi- dade administrativa ou com a propositura da competente a9ao penaL A tentativa e, teoricamente, admissivel. Alias, o proprio Supremo Tribunal Federalja se manifestou aflrmando que "o delito de denun- cia9iio caluniosa niio se consuma enquanto nao tenha sido, pelo me- nos, formalizado o inquerito policial""- Consuma-se, enfim, no Iu- gar e no momento em que qualquer dos procedimentos referidos no tipo penal for instaurado. A tentativa, em bora de diffcil conflgura9iio, e teoricamente pos- sivel. Assim, por exemplo, quando o sujeito ativo denuncia o fato a autoridade competente, que, em razao da pronta comprova9ao da inocencia do acusado, nao toma qualquer iniciativa, nao realiza qual- quer diligencia, enflm, nao instaura o procedimento devido; ou seja, o sujeito ativo fez tudo o que !he competia para concretizar uma denuncia9ao caluniosa que, no entanto, por circunstancias alheias a sua vontade, nao se consuma. 7. Classifica~~o doutrinaria Trata-se de crime co mum (pode ser praticado por 'qualquer pes- soa), comissivo (somente pode ser praticado por a9iio ), material (pro- 23. Cezar Robe-no Bite.n;::oun, A1amwf de DireiiO Penaf; Pane Especial. v. 2. p. 202-14. 24. STF. HC. DJU. 26 mar. 1982. p. 2562. .. p 19 ~ ----. ~--, /"-.... ~ ~. ~. ,., r . I ~ F· duz resultado naturalistico. consistente na t~fetiva iJl\·estiga~ao ou processo judicial). instantdneo (que se esgota com a ocorrencia do resultado, que se completa em urn instante determinado ), unissubje- tivo (por ser praticado por urn sujeito) e plurissubsistente (crime cuja ac;ao permite seu fracionamento em mais de urn a to). 8. Figura majorada (§ 1") Quando, para a realizac;ao da conduta tipica, o agente serve-se de anonimato ou de nome suposto, a pena e majorada de urn sexto. Essa majorac;ao se justifica pela maior dificuldade que tal circuns- tancia cria para a identificac;ao do autor da imputac;ao falsa. Destaca- mos a distinc;ao que fazemos entre majorantes e qualificadoras quan- do examinamos as figuras majoradas do crime de aborto25 • 9. Forma privilegiada ou minorada (§ 22) Verifica-se quando ao sujeito passivo e imputada a pnitica de contravenc;ao. A rigor, a nosso juizo, a imputac;ao de simples pnitica de contravenc;ao deveria ser descriminalizada para, pelo menos, manter a sirnetria com o crime de calunia, que s6 criminaliza a imputac;ao falsa de crime, sendo atipica a mera irnputac;iio de contravenc;iio penal. Em todo o caso, pelo menos se determina a reduc;ao obrigat6ria de metade da pena aplicada. 10. Concurso de crimes e conflito aparente de normas 0 saudoso Desembargador paranaense Luiz Vie! estabeleceu com precisao e cientificidade a distinc;ao entre calunia, denunciaqiio ca/uniosa e falso testemunho, nos seguintes termos: "0 tipo d~cahinia exige uma rica composir;iio subjetiva: a cien- cia direta, certa, de que a imputaqiio (da rea/izaqiio de crime) seja fa/sa. 0 agente sabe que e mentira, e assim dolosameiue calunia. Masse alguem representa para que a autoridade policial ins- taure inquerito policial contra certa pessoa, imputando-lhe a auto- 25. Cezar Roberto Bitencoun,lv!anua! de Direiw Pena!: Parte Especial, v. 2, P• 166. oC ,:, C" ··:.~ ... ~20. --, . . -~--t;· -;_* ria de crime de que 0 .sa be inoceme. 0 crime cometido e 0 de denun- ciaqiio caluniosa (CP, art. 339). E se a/guem. inquirido em inquerito policia/, depoe atribuindo a certa pessoa, falsamente, o prdtica de crime. cometefalso testemunho (CP, art. 342). 0 bem juridico tutelado, nos dois casas, e a correta adminis- trQI;Cio da Justit;a, cujos 6rgiios silo dolosamente informados mal, como prop6sito de induzi-los a processar (condenar) algwim par crime niio cometido. Eo uso dos 6rgiios estatais (investigQI;iio, judi- ciarios) niio simplesmente para ofendera hom·a, mas para privarda liberdade: a grosso modo, uma especie de cdrcere privado qualifica- do com auto ria mediata. Niio fica, por conseguinte, a ofensa a honra como expressao delitiva autonoma ou autonomi:avel. Ou ha a delatio criminis fa/sa, ou depoimentofalso, ou nada"'•. A denunciaqiio caluniosa absorve a calunia, pelo principia da consum;iio, e dela se distingue. porque naquela a imputa<;:ao falsa de fato definido como crime e levada ao conhecimento da autoridade, motivando a instaurac;iio de investigac;ao policial ou de processo ju- diciaL Alias, essa distin<;:iio foi muito bern destacada pelo Ministro Francisco de Assis Toledo, nos seguintes termos: "Expressi'ies conti- das em requerimento para instaurac;ao de inquerito policial reputa- das caluniosas. Nao se pode pretender que, ao noticiar fato crimina- so, a vitima cometa crime contra honra, se nao extra vasa da narrativa (art. 52, § ! 2 , 'a', do CPP). Havendo imputac;ao falsa, o crime sera, em tese, ode denunciac;iio caluniosa, de ac;ao penal publica, nao ode calunia, de ac;ao penal privada''". A diferen<;:a fundamental, enf!Ill, esta na natureza do bern juridico tutelado: nos crimes contra a homa o bem juridico e a homa do indivi- duo, e na denuncia<;ao caluniosa e a boa ad~stra<;iio dajustic;a\ A denunciaqao caiuniosa diferencia-se, igualmente, "da comu- nicac;ao falsa de crime ou contraven<;ao", precisamente porque nesta 26. Luiz Viel. Temas polimicos- es·wdos e ac6rdtlos em nw1iriu crimina!, p. 151. ..• .,-. 27. STJ: RHC. re{Assti'T~kdo'. RT. 69?:326 ·-Y' . . c: 21 ~· · ... "niio ha acusaqiio contra pessoa alguma". e tambem no deli to de auto- acusa,-clo fa/sa. "porque elll, tal crime o denunciado niio e pessoa diversa do denunciante. mas este proprio""''· 11. Pena e as;ao penal As penas cominadas, cumulativamente, sao reclusao, de dois a oito anos, e multa. Na forma majorada, a pena e aumentada de sexta parte, e, na forma privilegiada, diminufda de metade. A natureza da as;ao penal e publica incondicionada. 12. Jurisprudencia selecionada "Na hip6tese de concurso formal de delitos, ensejadores de a9ao penal publica (denuncias;ao caluniosa) e as;ao penal privad(l (injuria), a extins;ao da punibilidade do crime de injuria pela ocorrencia da peremp9ao nao produz qualquer reflexao no curso da a~ao penal pu- blica, que deve prosseguir em sua regular tramita~ao" (STJ, RHC 9.425/RJ, rei. Min. Vicente Leal,j. 29-6-2000). "A autoridade policial, escudada em suas prerrogativas de res- ponsavel pela condu~ao do inquerito policial, deve buscar elementos que sirvam de base a instaurayao da a~;ao penal, podendo juntar, de conseqiiencia, os documentos que entenda pertinentes aos fatos em investiga9ao, nao se podendo falar, nessa hip6tese, de pratica do cri- me de prevarica('iio. Para configurar o crime de denuncias;ao calu- niosa e necessaria que o agente saiba da inocencia de seudesafeto, de modo a demonstrar a vontade livre e consciente de provocar a instaura9iio de investiga,ao policial ou de processo judicial. E des- provida de justa causa a a9ao penal proposta contra de]egado que, no estrito cumpiimento de suas atribuis;oes funcionais, sabendo do epvolvimento de delegado no retardamento da conclusao de investi- ga,ao que se encontrava sob a sua con(lu9ao, ja que afastado por determina~ao do Delegado Chefe da Polfcia Civil, atribui-Jhe a par- ticipas;ao no fato delituoso apurado" (STJ, RHC 9.677!ES, rel. Min. Vicente Leal, j. 13-6-2000). 28. Nelson Hung:ria. Comentcirios ao C6digo Penal, v. 9, p. 459. 22 ~-· "Para configurar o crime de denuncia9ao caluniosa e necessa- rio.cque 0 fato descrito na falsa denuncia9ao constitua tipico 1licito penaL Mera querela desenvolvida nos autos de processo entre Juiz e advogado, da qual resultou pedido de investiga~ao para apurar fatos atipicos nao autoriza a promo~;ao de a9ao penal por denuncia9ao ca- !uniosa" (STJ, HC 8.341/SP, rei. Min. Vicente Leal, DJ, 19 abr. 1999). "No clime de denuncia9ao caluniosa imprescindivel para a sua caracteriza9ao que a imputa9ao seja objetiva e subjetivamente falsa. faz-se necessaria a certeza moral da inocencia do imputado" (TJRS, ACR 70000371005, rei. Des. Marcel Esquivel Hoppe,j. 15-3-2000). "Prefeito municipal. Queixa-crime. Crime contra a honra. Ca- lunia e difama9ao. A calunia e absorvida pela denuncia9ao caluniosa quando ambas se refeiirem ao mesmo acontecimento, ao passo que, mesmo presente alguma afrrma9ao difamat6ria no contexto, o animus diffamandi nao se configura se houver evidente ligas;ao entre os fa- tos. Queixa rejeitada" (TJRS, QCR 70000898874, rei. Des. Constantino Lisboa de Azevedo, j. 10-8-2000). "Denuncia9ao caluniosa. No crime de denuncia9ao imprescin- dfvel para a sua caracterizas;ao que a imputa9ao seja objetiva e subje- tivamente falsa. Faz-se necessaria a certeza moral da incoerencia do imputado" (TJRS, ACR 70000257022, rei. Des. Marcel Esquivel Hoppe, j. 23-2-2000). "0 crime de denuncia9ao caluniosa consiste em dar causa a instaura9ao de investiga9ao policial ou processo judicial contra pes· soa a quem e imputada falsamente a pratica de infra9ao penal. Pres· supoe a acusa9ao contra alguem, mas sabendo o denunciante que . aquele e inocente. A figura tipica cariega, portanto, elemento de na· tureza subjetiva- 'de que o sabe inocente' -, exigindo que o acu- sador esteja imbufdo de ma-fe, c"onsciente de que o fato nao existiu. Em suma, e necessaiia a certeza moral da inocencia do imputado, de modo que o simples estado de duvida ja afasta a tipicidade do deli to" (TRF- 4' Reg., AC 1999.04.01.055947-0/RS, rei. Juiz Eloy Bernst Junior,j. 8-8-2000). ·. • .,3 ~ ~~ ~ /'" ",--""<· . .: ~ . /--, ~. .., ..• ~· Capitulo 2 DOS CRIMES CONTRA AS FINANQAS PUBLICAS (Capitulo IV do Titulo XI da Parte Especial do C6digo Penal acrescentado pela Lei n. 10.028, de 19-10-2000.} 1• Segao Aspectos Preliminares 1. Pressuposto dos crimes contra as finan~as 0 art. 37 da CF estabelece que: "a administra9iio publica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniiio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municipios obedeceni aos principios da legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiencia". Enfim, a improbidade administrativa, disciplinada pela Lei n. 8.429/92, ampliada e refor- 9ada pela Lei Complementar n. 10112000 (responsabilidade fiscal), constitui pressuposto dos crimes contra as finan9as publicas. 2. Fundamentos constitucionais Alem do citado art. 37 da CF, os seguintes: art. 165 -- dispoe que leis estabelecerao o plano plurianual, as diretrizes orqamentdrias e o orqamento anual; art. 167 - fixa as veda96es e proibi~oes refe- rentes a gestfio pzlblica das receitas e despesas; a Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000, complementa o arcabou9o constituci- onal disciplinando a responsabilidade fiscal. 3. Criminaliza~iio de infra~oes administrativas Harmonizando e con1pkmentando o sistema jurlclico, a Lei n. 10.028/2000 acrescentou ao C6digo Penal urn novo capitulo ao ulti- moTitulo da Parte. EspeciaL .com os arts: 359-A a 359-H, criando .. ~ 25 'I. Fl • novos tipos penais, objetivando proteger a Administraqiio Publica, particularmente em rela~iio as suas finan('as '. ~ 4. Bern juridico ~ injusto penal 0 bem jur[dico constitui a base da estrutura e interpreta9ao dos tipos penais; no entanto, nao pode identificar-se simplesmente com a ratio legis, mas deve possuir urn sentido social proprio, anterior a norma penal e em si mesmo decidido, caso contnirio niio seria capaz de servir a sua fun9ao sistematica, de parametro e limite do preceito penal e de contrapartida das causas de justificar;ao na hip6tese de conflito de valoras:oes. A prote9ao de bern jurfdico, como fundamento de urn Dire ito Penal liberal, oferece urn criterio material extremamente impor- tante e seguro na constru9ao dos tipos penais, porque, assim, "sera possfvel distinguir o crime das simples atitudes interiores, de urn !ado, e, de outro !ado, dos fatos materiais nao lesivos de bern al- gum. No atual estagio da teoria do delito, deve-se partir do ponto de vista de que no tipo so mente se adnlitem aqueles elementos que fun- damentam o conteudo material do injusto. 0 tipo tern a finalidade precipua de identificar o bern juridico protegido pelo legislador. Se uma concepr;ao liberal concede ao Direito Penal uma fun- r;ao protetora de bens e interesses, uma concepr;ao social, em senti- do amplo, pode, por sua vez, adotar uma concepr;ao predominante- mente imperialista e, portanto, regulador de vontades e atitudes in- ternas, como ocorreu, por exemplo, com o nacional-socialismo ale- mao. A primeira concep~ao destaca a importancia do bemjurfdico; a segunda ap6ia-se na infrar;ao de dever, na desobediencia, na rebeldia da vontade individual contra a vontade coletiva. Agora, se urn Esta- do Social pretende ser tambem urn Estado de Direito, teni de outor- gar prote9ao penal a ordem de valores constitucionalmente assegu- rados, rechas;ando os postulados fimcionalistas protetores de deter- nlinado status quo. Ver Dam<lsio de Jesus.C6digo Penal ano:ado. 11. ed. 26. ~ s. Responsabilidade fiscal e improbidade administrativa: crimes A partir da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n. 8.429/ 92), com a edi9iio da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 1011 2000), complementada pela Lei n. 10.028/2000, que criou novos ti- pos penais- crimes contra as finan9as publicas -, tornam-se efeti- vos os princfpios constitucionais da Administra9iio Publica (art. 37 da. CF). Princfpios constitucionais, disciplinados em lei ordinaria e lei complementar, acabam sendo tipificados como crimes ( ver Rui Stoco, Improbidade adnlinistrativa e os crimes de responsabilidade fiscal, Bol. IBCCrim, n. 99, fev. 2001, p. 2-5). 6. San~oes decorrentes de improbidade administrativa A legisla9iio especifica preve san96es de natureza polftica (sus- pensiio de direitos polfticos- art. 37, § 4Q, da CF e art. 12, I, da Lei n. 8.429/92), administrativa (perda de cargo e funs;ao publica, proibis;ao de contratar como Poder Publico etc.- art. 12, I, da Lei n. 8.429/92), civil (ressarcimento de dano e multa civil- art. 12, I, da Lei n. 8.429/92), pecuniaria (multa aplicavel por Tribunal de Contas a chefes de Poderes e ocupantes de cargos de dires:ao- art. 5Q da Lei n. 10.028/2000) e penal (prisao, multa e penas restritivas de direitos -Lei n. 10.028/2000, que criou o Ultimo capitulo do CP e deu nova redas;ao a Lei n. 1.079/50 e ao Decreto-Lei n. 201/ 67). Por tudo isso, eventual sentens:a penal condenat6ria por cri- mes da Lei n. 10.028/2000, embora constitua tftulo executivo no cfvel (art. 63 do CPP), nao abrange as demais sans:oes aqui refe-
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