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( ( ( ( (((((((((((((((((I((((((((((( GABRIEL HABIB Defensor PUblico Federal no Rio de Janeiro. P6s graduado pelo Institute de Direito Penal EconOmico e Europeu da Universidade de Coimbra. Professor e Coordenador do Curse Forurn!RJ. Professor e Coordenador do Curso IDEIA/RJ. Professor do Curso CEJUS- Centro de Estudos Juridicos de Salvador/BA. Professor da EMERJ- Escola da Magistratura do Rio de Janeiro. Professor de FESUDEPERJ- Funda9ao Escola da Defensoria PUblica do Rio de Janeiro. Professor do Curso CEJUSF /RJ. Professor da p6s graduayao da Universidade Estacio de sa. Professor do Curso Juridico!PR. Professor do Curso CEJJUF/MG. LEIS PENAIS ESPECIAIS I TOMOII I LEIS N"' 2.889/1956; 5.553/1968; 7.347/1985; 7.716/1989; 7.853/1989; 8.429/1992; 9.034/1995; 9.609/1998; 9.807/1999; LC 105/2001; 10.741/2003. Dicas para realiza<;:ao de provas de concursos artigo por artigo 2010 I :D~M~ PODIVM EDITORA ]ilsPODIVM www.editorajuspodivm.com.br Capa: Carlos Rio Branco Batalha Diagrama~ao: Cendi Coelho cendicoelho@yahoo.cQm.br Conselho Editorial Dirley da Cunha Jr. Fredie Didier Jr. Gamil Foppel El Hireche Jose Marcelo Vigliar Leonardo de Medeiros Garcia Marcos Ehrhardt Jr. Nestor T8.vora Roberio Nunes Filho Rodolfo Pamplona Filho Rodrigo Reis Mazzei Rogerio Sanches Cunha Todos OS direitos desta edic;:ao reservados a Ediy5es JusPODIVM. Copyright: Edi96es JusPODIVM E terminantemente proibida a reproduyao total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a expressa autorizayao do autor e da Edic;6esJusPODIVM. A violac;ao dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislayao em vigor, sem prejuizo das sanc;:Oes civis cabiveis. IEDr! ~ODNM EDIT ORA JUsPODIVM Rua Mato Grosso, no 17 5 -Pi tuba, CEP: 41830-151-Salvador-Bahia Tel: (71) 3363-8617 I Fax: (71) 3363-5050 E-mail: livros@editorajuspodivm.corn.br Site: www.editorajuspodivm.com.br ·:''1 i AGRADECIMENTOS Aos mens alunos e amigos Bruno Sergio, Marcela Cruz, Renan Gavioli e Renata de Brito, pela valiosa contribui9ao que deram para a forrna9ao da presente obra. A todos os mens alunos e leitores que, com suas perguntas sempre relevantes, pertinentes e tempestivas, contribuem para o meu Cresci- mento como professor e operador do Direito. Nunca se esque9am que os sonhos sao as molas propulsoras da vida; que s6e estudo traz a liberda- de; que as vit6rias sao conquistadas na medida em que nos reerguemos a cada queda; que o esfor9o pessoal e a exata medida das ben9aos que a vida no traz; que na vida, o fato de nao haver resultados imediatos, nao significa que voces nao estejam prosperando nos estudos; que a vida sempre segue o seu curso norrnal e nao para para voce chorar ou ficar olhando para tras, lamentando-se com a reprova9ao, pois se voce ficar olhando para tras nao vera a aprovas:ao que ainda vira pela frente; que as coisas definitivas levam tempo para serem construidas; que ha certos caminhos para os quais nao existem atalhos, devendo ser totalmente percorridos; que s6 o estudo constante conduz ao sucesso; que o tempo, senhor da razao, sempre vai bendizer o fruto do seu esfor<;:o pessoal, e s6 o seu esfor<;:o pessoal os levara a conhecer pessoas e mundos que os acomodados jarnais conhecerao, e isso se chama sucesso. Nao se esque<;:am, ainda, de lutar sempre, veneer talvez e sempre prosperar, pais todo esfor<;:o sera bern recompensado! 5 ~ ~ ~ ~ ., ---=-~ ~ ' ~ ., ,, SUMAruO Agradecimentos........................................................................................ 5 Proposta da Cole~iio Leis Especiais para Concursos............................. 11 Prefacio Abrangencia da obra ., Organizac;Oes criminosas Lei n• 9.034, de 3 de maio de 1995 Crime de genocidio Lei n• 2.889, de 1" de outubro de 1956 <.. Crime previsto na.tei de improbidade administrativa Lei n• 8.429 de 2 junho de 1992 Lei de prote~lio a vitimas e testemunhas amea~adas. 13 15 17 51 65 Dela~lio premiada. Lei n• 9.807, de 13 de julho de 1999....................... 69 Crimes contra os portadores de deftciencia Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989 Crimes de preconceito de ra'Ta ou de cor 95 Lei n• 7.716, de 5 de janeiro de 1989 ...................................................... 117 Crime de viola~lio de sigilo das opera~oes de institui~oes financeiras Lei complementar n• 105, de 10 de janeiro de 2001.. ............................ 147 Contraven~lio de reten~iio de documento Lei n• 5.553, de 6 de dezembro de 1968....................................... .......... 153 Crimes contra a propriedade intelectual de programa de computadot Lei 9.609, de 19 de fevereiro de 1998 ...................................................... 159 Estatuto do idoso Lei 10.741, de 1• de outubro de 2003 167 Crime de desobediencia na lei da a~lio civil publica Lei n• 7.347, de 24 de julho de 1985 ........................................................ 207 ANEXO Decreta n• 30.822, De 6 de maio de 1 209 9 ~. c'-'-._ ~. -. ~· ·~ ~ ~ .~ ~ -. ~ '·· PROPOSTA DA COLE<;:AO LEis EsPECIAIS PARA CoNCURsos A colevao Leis Especiais para Concursos tern como objetivo prepa- rar os candidates para os principais certames do pais. Pela experiencia adquirida ao Iongo dos anos, dando aulas nos prin- cipais cursos preparat6rios do pais, percebi que a grande maioria dos candidates apenas leem as leis especiais, deixando os manuais para as materias mais cobradas, como constitucional, administrative, processo civil, civil, etc .. Isso ocorre pela falta de temp@. do candidato ou porque falta no mercado livros especificos (para concursos) em relayao a tais leis. Nesse sentido, a Coleyao Leis Especiais para Concursos tern a in- tenvao de suprir uma lacuna no mercad.o, preparando os candidates para questoes relacionadas as leis especificas, que vern sendo cada vez mais contempladas nos editais. Em vez de somente ler a lei seca, o candidato ten\. dicas especificas de concursos em cada artigo ( ou capitulo ou titulo da lei), questoes de concursos mostrando o que os examinadores estao exigindo sobre cada lema e, sobretudo, os posicionamentos do STF, STJ e TST (prin- cipalmente aqueles publicados nos inforrnativos de jurisprudencia). As institui9oes que organizam os principais concursos, como o CESPE, utilizam os inforrnativos e noticias (publicados na pagina virtual de ca- da tribunal) para elaborar as questoes de concursos. Por isso, a necessi- dade de se conhecer ( e bern!) a jurisprudencia dos tribunais superiores. Assim, 0 que se pretende com a presente coleyaO e preparar 0 lei tor, de modo rapido, pratico e objetivo, para enfrentar as quest5es de prova envolvendo as leis especificas. Boa sorte! Leonardo de Medeiros Garcia (Coordenador da co!eyao) leonardo@leonardogarcia.com.br leomgarcia@yahoo.com.br www.leonardogarcia. com. br 11 ' PREFACIO E com muita satisfas;ao que fas;o a apresentas;ao do livro sobre Leis Especiais de autoria do amigo, professor e Defensor Publico Federal, Dr. Gabriel Habib. 0 autor e uma daquelas pessoas obstinadas pelo estudo do Direito Penal e suas implicas;oes praticas. Como nao poderia deixar de ser, na presente obra, procura analisar os detalhes mais importantes, as discus- soes mais atuais sobre os temas que se propos a enfrentar no Torno I, vale dizer: A Lei de Abuso de Autoridade, o Esta(tito do Desarmamento, A Lei sobre os Crimes contra a Ordem Tribut:i.ria, a Lei de Lava gem de dinheiro, a Lei de Crimes Hediondos, a Lei de Tortura, a Lei de Cor- rups:ao de Menores, a Lei que preve os Crimes contra as Finans:as Pu- blicas, bern como a Leide Licitas:oes; no Torno II: A lei de Organizas:ao Criminosa, a lei de Crime de Genocidio, o Crime previsto na lei de Im- probidade Administrativa, a lei de Delas;ao Premiada, a lei dos Crimes contra os Portadores de Deficiencia, a lei dos Crimes de Preconceito de Ras;a ou de Cor, a lei dos Crimes de Violas:ao de Sigilo das Operas;oes de Instituis:oes Financeiras, a lei da Contravens;ao de Retens;ao de Do- cumento, a lei dos Crimes contra a Propriedade Intelectual de Programa de Computador, a lei dos Crimes contra o Idoso, bern como a lei que trata do Crime de Desobediencia naAs;ao Civil Publica. Percebe-se, com toda clareza, que o autor trouxe ao conhecimento do publico o que ha de melhor sobre os temas, enfrentando questOes complexas que, ap6s a sua explicas;ao, tornaram-se simples, tendo em vista a clareza, a didatica e a profundidade com que as resolve. Gabriel Habib, sem qualquer duvida, pertence a uma "nova safra" de penalistas, que nao se limita a transcrever pensamentos ja exaustiva- mente discutidos por outros doutrinadores. Trata-se de urn verdadeiro pensador das ciencias penais, urn professor que procura, de acordo com uma 6tica nova, moderna, trazer as solus;oes aos problemas enfrentados no dia a dia do penalista. Para mim, portanto, e uma honra inigualavel poder apresentar esta obra que, certamente, se encontrara entre aquelas de consulta obrigat6- ria para os estudantes e profissionais do direito. 13 r ·- ~. ~ GABRJEL HABIB Ficam aqui registrados os meus agradecirnentos ao grande amigo Gabriel Habib por nos ter brindado com um trabalho digno de sua capa- cidade intelectual. 0 mercado se ressentia de uma obra com esse estilo. Tenho certeza de que todos apreciarao cada linha escrita, cada racioci- nio desenvolvido. Fiquem na paz. 14 Rogerio Greco Procurador de Justh;a Mestre em Ctencias Penais pela UFlv!G Doutorando pela Universidade de Burgos {Espanha) ABRANGENCIA DA OBRA Esta obra tern a finalidade de ser a mais completa e abrangente da literatura especifica brasileira, com aproximadamente 32 Leis Penais Especiais, dividida em !res Tomos. Do Torno I constam as seguintes leis: 1- Abuso de autoridade (lei 4.898/1965); 2- Estatuto do Desarmamento (lei 10.826/2003); 3- Cri- mes Contra a Ordem Tributana (lei 8.137/1990); 4- Crime de Lavagem de Dinheiro (lei 9.613/1998); 5- Crimes Hediondos (lei 8.07211990); 6- Crime de Tortura (lei 9.455/1997); 7- Co{rup9iio de Menores (lei 2.252/54); 8- Crimes Contra as Finan9as Publicas (lei 10.028/2000); 9- Crimes contra as Licita96es (lei 8.66611993). Do Torno II constam as segnintes leis: 1- Organizas;ao Criminosa (lei 9.034/1995); 2- Crime de Genocidio (lei 2.889/1956); 3- Crime na lei de Improbidade Administrativa (lei 8.429/1992); 4- Delayiio Pre- miada (lei 9.807/1999); 5- Crimes contra os Portadores de Deficien- cia (lei 7.853/1989); 6- Crimes de Preconceito de Ras;a ou de Cor (lei 7.716/1989); 7-Crime de Violaviio de Sigilo das Opera96es de Institui- y5es Financeiras (lei complementar 105/2001 ); 8-Contravens:ao de Re- tenviio de Documento (lei 5.553/1968); 9- Crimes contra a Propriedade Intelectual de Programa de Computador (lei 9.609/1998); 10- Estatuto do ldoso (lei 10.741/2003); 11- Crime de Desobediencia na lei daAs:ao Civil Publica (lei 7.347/1985). Do Torno III, que vini em breve, constarao as seguintes leis: 1- Lei de Violencia Domestica e Familiar contra a Mulher (lei 11.340/2006); 2- Crimes de Transito (lei 9.503/1997); 3- Estatuto da Crians:a e do Adolescente (lei 8.069/1990); 4- Crime de Discriminas:ao de Gra- videz (lei 9.029/1995); 5- Crimes relacionados a Atividades Nude- ares (lei 6.453/1977); 6- Crimes contra o Planejamento Familiar (lei 9 .263/1996); 7- Crimes previstos na lei de Transplante de Orgaos e Te- cidos (lei 9.434/1997); 8- Crimes contra as Relas:5es de Consumo (leis 8.078/90 e 8.137/90); 9- Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (lei 7.492/86). 10- Lei de Interceptayiio Telefonica (lei 9.296/96); 11- Crimes Falimentares (lei 11.101/2005); 12- Crimes Previdendtrios (lei 9.983/2000). 15 <'':"' >. 0RGANIZA(:OES CRIMINOSAS LEI N° 9.034, DE 3 DE MAIO DE 1995 1. Objeto da lei. A lei que trata dos delitos praticados por quadrilha ou ban- do, organizar;Des criminosas e associar;Des criminosas de qualquer tipo divide-se topograftcamente em tres capftu!os. No capitulo I a lei trata da defini<;ao de a<;ao praticada por organiza<;ao criminosa, bem como dos meios operacionais para a sua investiga~ao par parte do Poder PUblico. No capitulo II, a lei trata da preserva<;ao do sigilo constitucional. Par fim, no capitulo Ill, a lei trata das disposi<;6es gerais, 2. Meios de prova. Trata-se de qua!quer elemento probat6rio, regulamenta- do pelo C6digo de Processo Penal ou par lei especial, desde que obtido de ~, forma lfcita, que possa servir de e!emento para que o julgador forme o seu ""' convencimento sabre os fates deduzidos no processo criminal. 3. Procedimentos investigat6rios. Na expressao procedimentos investigat6- rios o legislador pretendeu abranger qua!quer especie de processo ou pro- cedimento, por meio do qual sejam apuradas a pratica da infra<;ao penal e a sua respectiva autoria. Abarca, portanto, toda a persecw;:ao penal, seja n_a sua 1.2 fase, que e a do inquerito po!icial, seja na sua 2.2 fase, em que se tem a a<;ao penal. 4. llicitos decorrentes de a~Oes praticadas par quadriJha ou banda ou or- ganiza<;6es ou associa<;6es criminosas de qualquer tipo. 0 legislador uti- lizou a expressao ilfcitos. Por ilfcito entenda-se todo ato que seja contrclrio ~ ao ordenamento jurfdico, inconformado ;3 ordem jurfdica. Trata-se, dessa forma, de expressao generica, que nao tem seu conteudo restrito ao Direi- to Penal. Assim, pela expressao ilicitos entenda infra~ao penal. Como no 17 GABRIEL HABIB Brasil se adotou a teoria bipartida de infra,ao penal, o legislador, no art. 12, ao usar a expressao iifcitos, quis se referir a crimes ou delitos e contra- ven<;Oes penais. 5. Quadrilha ou banda. Consiste na reuniao permanente e duradoura de quatro ou mais pessoas, ajustadas de forma nao eventual a pr;§tica de di- versos crimes. Trata-se de tipo penal autOnomo previsto no art. 288 do C6digo Penal, que disp6e /(Associarem-se mais .de tres pessoas, em qua- drilha ou banda, para o fim de cometer crimes." A quadrilha nao pode ser confundida com a coautoria. Nesta1 basta que haja duas ou mais pessoas, previa mente ajustadas para a prauca, em regra1 da mesma infra<;ao penal (crime ou contraven<;ao penal)~ nao se exigindo a reuniao permanente. Naquela1 se exige a associa<;ao permanente, duradoura e estavel de, no mfnimo quatro pessoas, destin ada a pratica de varies crimes. 6. Associa~ao criminosa. Trata-se da reuni3o de duas ou mais pessoas para a pr<3tica de uma infra<;ao penai:'"A figura da associa<;ao criminosa nao e es- tranha ao ordenamento juridic01 uma vez que j8 e contemp!ada em outras leis, como a associa,ao para o tratico previsto no art. 35 da lei 11.343/2006 ("Art. 35. Associarem-se duos ou mais pessoas para a fim de praticar,. rei- teradamente au ni'io, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 12, e 34 desta Lei: Pena-reclusi'io, de 3 (tres) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mile duzentos) dias-mu/ta. Paragrafo unico. Nos mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a pr6tica reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. 11 ) e a associa<;:ao para a pratica de genoddio, prevista no art. 22, da lei 2.889/56 (Art. 2" As- sociarem-se mm's de 3 {tr€s) pessoas para prtitica dos crimes mencionados no artigo anterior: Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos). 7. Organiza~ao criminosa. Sempre houve grande crftica da doutrina no sentido de que o legislador teriaviolado o prindpio da reserva legal, na vertente da taxatividade, em razao de nao ter conceituado o que seria organiza<;ao criminosa. A celeuma se instalou em razao de a presente lei ter feito men<_;ao a organizar;Oo criminosa na sua ementa e em diversos de seus dispositivos sem ter, entretanto, conceituado tal institute. Na re- da,ao originaria do art. 12 da lei, s6 havia men,ao a banda au quadrilha, com a seguinte reda>ao: "Art. 1" Esta lei define e regula meios de provo e procedimentos investigat6rios que versarem sabre crime resultante de a,:i'ies de quadri/ha au banda'~ Sucede que a lei teve a sua reda,ao al- terada pela lei 10.217, de 11 de abril de 2001, que inseriu, no art. 12, as 18 0RGANIZA<;6ES CRIMINOSAS associafOes cnmmosas e as organizar;Oes cnmmosas. L~ se foram quase dez anos eo legislador, ate hoje, nao conceituou o que vern a ser organiza- <;ao criminosa. Nao seve em nenhum dispositive legal que traga o concei- to, a no<;ao, os elementos tipicos do que venha a ser organiza<;ao crimina- sa. Assim, tal conceitua<;:ao ficou a cargo da doutrina, o que e inaceitclvel, uma vez que, segundo o prindpio da legalidade penal, todo e qualquer elemento tipico deve estar previsto em lei. A doutrina, como fonte de co- nhecimento mediata do direito penal, cabe interpretar a lei, mas nao criar tipos penais, sob pena de se gerar inseguran,a jurfdica. Tal falha legislativa teria o condao de comprometer todos os dispositivos da lei ora estudada, no tocante a aplica<;:ao dos mesmos as organiza<;:6es criminosas. E como sustenta grande parte da doutrina. Entretan~, a jurisprudencia do STJ tern considerado que o conceito de organiza<;:ao criminosa esta positivado no art. 22 da Convenr;fJo das Nar;Oes Unidas contra o Crime Organizado Transnaciona/, adotada em Nova York, em 15 de novembro de 2000, cha- mada de Conven>ao de Palermo, promulgada pelo Decreta 5.015, de 12 de mar>o de 2004, que diz: "Para efeitos do presente Convenri'io, entende- se par: a) NGrupo criminoso organizado"- grupo estruturado de tres au mais pessoas, existente h6 atgum tempo e atuando concertadamente com o prop6sito de cometer uma ou mais infrar;Oes graves au enuncfadas na presente Convenr;Oo, com a intenr;Oo de obter, direta ou indiretamente, urn beneficia econOmico ou outro beneficia material". ~ STJ. "Capitula~ao da conduta no incise VII do art. 1.9 da Lei n.9 9.613/98, que nao requer nenhum crfme antecedente espedfico para efeito da confi- gura~ao do crime de !avagem de dinheiro, bastando que seja praticado por organizat;ao criminosa, sendo esta disciplinada no art. 1.2 da lei n.9 9.034/95, com a redac;ao dada pela Lei n.9 10.217/2001, c.c. o Decreta Legislative n. Q 231, de 29 de maio de 2003, que ratiftcou a Convent;ao das Na~6es Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, prom.u!- gada pelo Decreta n.9 5.015, de 12 de marc;o de 2004. Precedente." (HC 77771/SP. Rei. Min. Laurita Vaz. DJe 22/09/2008). ~ Aplica~ao em concurso. TRF s• Regiiio. Juiz Federal Substituto. 2009. C£SP£. Alnda com rela~ao ao direito penal, julgue os seguintes itens. Ill - Critica-se, na doutrina, a lei que dispOe acerca dos crimes organizados, sob o argumento de que tal norma teria desrespeitado o prindpio da taxa- tividade e da reserva legal_ por nao conter a deftni~ao de crime organizado, 19 GABRiEL HABIB de forma que a lei de combate ao crime organizado somente poderia ser ap!icada aos crimes de quadrilha ou banda e de associa~Yao criminosa, j<l: pre- vistas em lei. A Conven~ao das Na~6es Unidas contra o Crime Organizado Transnadona!, todavia, conceitua grupo criminoso organizado como o grupo estruturado de tres ou mais pessoas, existente· ha algum tempo e atuando concertadamente com o prop6sito de co meter uma au mais infra<;5es graves ou enunciadas na citada conven<;ao, com a intem;ao de obter, direta au indi- retamente, um beneficia econOmico ou outro beneficia materia!. A alternativa est6 correta. 8. Caraderisticas da organiza~ao criminosa. De acordo com o disposto no Decreta 5.015/2004, sao elementos caracterizadores da organiza<;ao cri- minosa: 1. Grupe estruturado de tres ou mais pessoas; 2. Existencia do grupo ha algum tempo; 3. Prop6sito de cometer uma ou mais infrao;:oes graves ou enunciadas na prOpria Conven<;ao de Palermo e 4. lnten<;3o de obter, direta ou indiretamente, urn beneffcio ec~n6mico ou outre benefi- cia material. 9. Resolu~ao n" 517 do Conselho da Justio;:a Federal. Em 30 de junho de 2006, o Conselho da Justio;:a Federal editou a Resoluo;:ao nQ 517, que alte- rou a Resoluo;:ao nQ 314, de 12 de maio de 2003, autorizando a criac;ao, pe- los Tribunais Regionais Federais, de Varas Especializadas para o processo e julgamento os crimes praticados por organiza<;5es criminosas, indepen- dentemente do carater transnacional ou nao das infrat;5es. Alem disso, a Resoluc;ao nQ 314, no paragrafo unico do art. 1Q disp6e que deverao ser adotados os conceitos previstos na Conven<;3o das Nat;Oes Unidas contra o Crime Organizado Transnacional promulgada pelo Decreta nQ 5.015, de 12 de marc;o de 2004. 20 Eis as mencionadas Resoluc;oes: Resolu~ao n'" 517, de 30 de junho de 2006. "Art. 12 0 art. 12 da Resolw;ao n2 314, de 12 de maio de 2003, passa a vigorar com a seguinte reda~ao: "Art. 12 Os Tribunals Regionais Federais, na sua area de jurisdi~ao, poderao especializar varas federais criminals com competencia exc!usiva ou concorrente para processar e ju!gar: I- os crimes contra o sistema financelro nacional e de lavagem ou ocultat;ao de bens, direitos e valores; e II- os crimes praticados par organizac;6es criminosas, independentemente do carclter transnadonal ou nao das in- frac;5es:' Parclgrafo Unico. Deverao ser adotados os conceitos previstos na Convenc;ao das Na~Oes Unidas contra o Crime Organizado Transna- cional promulgada pelo Decreta n9 5.015, de 12 de marc;o de 2004." I I I 0RGANIZAC0ES CRJMINOSAS Resolu~ao n'" 314, de 12 de maio de 2003. "Disp6e sabre a especializafYao de varas federais criminals para proces- sar e julgar, na Justi~a Federal. crimes contra o sistema financeiro nacio- na! e de lavagem ou ocultac;ao de bens, direitos e val ores. 0 PRES!DENTE DO CONSELHO DA JUSTI<;:A FEDERAL, usando de suas atribuil'6es I ega is e tendo em vista o decidido na sessao ordin<l:ria rea!izada em 31 de mar<;o de 2003, resolve: Art. 12 Os Tribuna is Regionais Federals, na sua area de jurisdit;ao, especializarao varas federais criminals com competencia exdusiva au concorrente, no prazo de sessenta dias, para processar e julgar os crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem ou oculta<;ao de bens, direitos e va!ores. Art. 22 Esta Resoluc;ao entrara em vigor na data de sua pub!icac;ao." 10. Diferen~as entre banda ou quadrilha e organik~ao criminosa. Da ancllise dos elementos tipicos previstos no art. 288 do C6digo Penal e no art. 2Q da Conven<;8o de Palermo, extraem-se as seguintes diferen<;as entre ambos: 1. No de!ito de quadrilha exige-se o mfnimo de 4 pessoas. Para a conftgu- ra<;ao da organiza<;ao criminosa, basta a reuniao de, no mfnimo, 3 pessoas; 2. Nao se exige, para a configurao;:ao do del ito de quadrilha a sua existencia ha algum tempo, bastando, para a sua configura~ao, a reuniao de 4 ou mais pessoas de forma estavel e duradoura. Na organiza~ao criminosa, a Conven~ao de Palermo exige a sua existencia hcl algum tempo; 3. 0 delito de quadrilha somente pode estar configurado sea sua destinao;:ao for para a priltica de crimes, uma vez que o legislador utilizou tal expressao crimes no plural, ou seja, jamais ,havera uma quadrilha com destinac;ao a pratica de apenas urn delito. A organiza~ao criminosa pede existir para a pratica de apenas urn del ito, ou mais de urn. 4. Na quadrilha, o legislador nao exi- giu expressamente urn especial fim de agir. A organiza~ao criminosa exigeurn especial fim de agir, isso €, somente existira se houver a inten~ao de obter, direta ou indiretamente, um beneficia econOmico ou outre benefi- cia material. Exige-se o mfnimo de 4 pessoas Nao se exige a existencia ha a!gum tempo, bastando a estabilidade e durabi!idade. Destina-se a priltica de crimes Exige-se a reuniao de, no minima, 3 pessoas Exige~se a sua existE!ncla h<i algum tempo Pode destinar-se a pr<itica de apenas um crime 21 ~ ~ GABRIEL HABIB Nao se exige expressamente um especial fim de agir Exlge-se um especial fim de agir, con- sistente na intenr;ao de obter, direta ou indiretamente, um beneficia eco- n6mico ou outro beneficia materiaL 11. lncidencia da lei na hip6tese de prcltica de contraven~Oes pen a is por ban do ou quadrilha. Questao relevante versa sabre a possibilidade de a presente lei ser aplicada as hip6teses de pratica de contraven<;5es penais, como o jogo do bicho. Vimos acima que a lei fez men<;ao expressa ao delito de ban- do ou quadrilha. Tal delito, previsto no art. 288 do C6digo Penal, somente pode se dar, segundo a sua reda<;ao legal, para a pratica de crimes, excluin- do-se, dessa forma, as contravem;6es penais. E verdade que o art. 12 da lei ora comentada fez menc;ao expressa a ilfcitos, nao exduindo as contraven- <;5es penais. Entretanto, tem-se que se trabalhar com a tipifica<;ao do C6di- go Penal. que, par sua vez, exclui as contraven<;Oes pen a is ao fazer refen2n- cia tao somente a crimes. A_sstm, a solw;ao mais correta, a luz do prindpio da legalidade penal, e pela impossibilidade de aplica<;ao da presente lei as hip6teses de pratica de contraven<;5es penais par banda ou quadrilha. 12.1ncidencia da lei na hip6tese de prcltica de contraven~Oes penais por or- ganiza~ao criminosa. Como afirmado acima, o STJ tern considerado que a conceito de organizac;ao criminosa esta positivado no art. 22 da Conven- riio dos Nariies Unidas contra a Crime Organizado Tronsnociona/, adotada em Nova York, em 15 de novembro de 2000, chamada de Conven<;ao de Palermo, promulgada pelo Decreta 5.015, de 12 de mar<;o de 2004. Des- sa forma, par nao haver restric;ao legal, diversamente do item anterior, parece ser possfvel a aplica<;ao da presente lei as hipoteses de pratica de contravenc;6es penais por organiza<;ao criminosa, uma vez que o art. 12 fez men~ao expressa a ilfcitos, nao excluindo as .contraven~6es penais. 13. Crimes omissivos. Da !eitura do art. 12, verifica-se que o legislador utHizou a expressao a~Oes. Sabe-se que a conduta humana.~ para o Direito Penal, pode ser, a!E~m de do\osa ou culposa, comissiva ou omissiva. Nessa Ulti- ma hip6tese, t€:m-se os delitos omissivos, que se classificam em omissivos pr6prios e omissivos impr6prios. A questao relevante e saber se, ao usar a expressao OfOes, o legislador teria suprimido da lei a sua ap!icac;ao aos delitos omissivos praticados par quadrilha ou banda, organiza<;5es crimi- nosas e associac;Oes criminosas. Parece que nao foi essa a inten~ao do legislador. Realmente faltou-lhe tecnica legislativa, mas, par interpreta<;ao teleologica, buscando-se a mens /egislatoris, parece tambem que ele quis abranger tanto os delitos comissivos, quanta os delitos omissivos. 22 0RGANIZAC,:0ES CRIMINOSAS 1. Procedimentos de investiga~ao e forma~ao de prova. Ver cementa rio ao art. 1Q da lei. 2. Abrangenda. 0 legislador abrangeu todas as fases da persecu<;ao penal, ou seja, a primeira fase, do inquerito policiat e a segunda fase, da ac;ao penal. ~ 3. Incise I. Vetado. 0 incise I previa a figura do agente infiltrado. A reda<;ao era a seguinte: "/- a infiltrariio de agentes da policia especializada em quadrilhas au bandos, vedada qualquer co-participariio delituosa, exce- riio feita ao disposto no art. 288 do Decreta-lei n2 2.848, de 7 de dezem- bro de 1940 - C6digo Penat de cuja a~Oo se preexclui, no coso, a antiju- ridicidade': A figura do agente infiltrado, vetada quando da edi<;ao da lei 9.034/95, foi nova mente introduzida, de forma definitiva na lei (art. 22, V), pelo advento da lei 10.217/2001. 1. A~ao controlada. Tambem conhecida como flagrante retardado, flagran- te diferido ou flagrante postergado, trata-se de permissive legal para que Autoridade Policial deixe de efetuar a prisao em flagrante 'do agente, para concretizar tal prisao no momenta mais eficaz do ponto de vista da forma~ c;ao de provas e fornecimento de informac;Oes. Assim, embora o agente es- teja em flagrante delito, a Autoridade Policial podera esperar o momenta mais oportuno. 2. Aplica~ao restrita do dispositive. 0 artigo ora comentado fez men<;ao ex- pressa a organiza~Oo criminosa, excluindo de sua incid€ncia o banda au quadrilha e a associariio criminosa. 23 GABRIEL HABIB 3. Diferen~a entre a a~ao controlada e o flagrante esperado. Na a10ao con- trolada, o agente ja esta em flagrante da pratica do crime. No flagrante esperado, o agente ainda nao esta em flagrante da pratica do delito, e a Autoridade Policial fica na expectativa da sua ocorrencia para efetivar a prisao. 0 ag~mte jil est3 em flagrante da prcltica I o agente ainda nao estil em flagrante ,do en me. da priltica do delito. A Autoridade Po- !icial fica na expectativa da sua ocor- rencia para efetivar a pris3o. 4. Necessidade de autoriza~ao judicial. N§.o e necessaria autoriza~§.o judicial para a efetiva<;ao da a10ao controlada. 24 ~ Aplica<;ao em concurso. ·, ~ Delegado de Polfcia Civil. Tocantins/2008. CESPE. A lei que disp6e acerca da preven~aa e repressao de- a~Oes praticadas por organiza~6es criminosas estabeleceu a figura da a~§.o controlada, o que sig- nifica que, em determinados casas, a autoridade po!icial podera retardar a prisao em flagrante dos investigados, desde que os mantenha sob estrita e ininterrupta vigi!3ncia. A alternativa est6 correta. PGE/CE. Procurador. 2008c CESPE. Determinada organiza~ao criminosa voltada para a pn:ltica do trafico de ar~ mas de fogo esperava um grande carregamento de armas para dia e local previamente determinados. Durante a investiga~§.o policial dessa organiza- ~ao criminosa, a autoridade policial recebeu informa~6es seguras de que parte do ban do estava reunida em um bare receberia a dinheiro com o qual pagaria a carregamento das arm as, repassando, ainda no local, grande quanH tidade de droga em troca do dinheiro. Mantido o local sob observa~ao, de- cidiu a autoridade policial retardar a prisao dos integrantes que estavam no bar de posse da droga, para que os po!iciais pudessem segui~los, identificar o fornecedor das armas e, enfim, prend€-los em flagrante. Nessa situa~ao, n§.o obstante as regras previstas no C6digo de Processo Penal, sao v<3!idas as di!ig&ndas po!iciais e as eventuais pris6es, em face da denominada a~§.o controlada, prevista na lei do crime organizado. A alternativa est6 correta. 0RGANIZA<;:6ES CRI!vilNOSAS 5. A~ao controlada na lei de drogas. A lei de drogas (lei 11.343/2006) preve no art. 53, II, a a~ao controlada, permitindo a nao-atuac;:ao policial em rela- l'ao aos portadores de drogas, com a seguinte reda10ao: "Art. 53. Em qual- quer jose do persecu~fio criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, sao permitidos, a/em dos previstos em lei, mediante autoriza9iio judiciale ouvido o Ministerio PUblico, os seguintes procedimentos investigat6rios: .. J/- a ndo-atua~do policialsobre os porta dares de drogas, seus precursores qufmicos ou outros produtos utilizados em sua produr;Oo~ que se encon- trem no territ6rio brosileiro, cam a finalidade de identificar e responsabi- Jizar maior nUmero de integrantes de opera~Oes de tr6fico e distribuit;Oo, sem prejuizo do m;:ao penal cabivel. Paragrafo unico. No hip6tese do inciso II deste artigo, a autorizar;:ao sera concedido desrif! que sejam conhecidos o itineraria prov6vel e a identificaraodos agentes do de/ito ou de colabo- radores.': Como se pede deduzir da leitura do dispositive legal citado, a dlferen~a existente entre a a~ao controlada na lei de crime organizado e na lei de drogas reside na necessidade de autoriza~ao judicial, exigida pel a ultima. Questao relevante versa sabre a influencia da lei de drogas na lei de crime organizado, parse tratar de lei posterior. Em outras palavras, sera que a lei de drogas teria alterado a lei de crime organizado, passando, essa, a exigir, tambem, autoriza~ao judicial? A questao se resolve pelo principia da especialidade, au seja, a autoriza~ao judicial somente e exigida na a~ao controlada para a investiga,ao com base no lei de drogas. Entretanto, de acordo como STJ, mesmo que o delito investigado seja o trafico de drogas, se a investigarao for feita com base no lei de organizarao criminosa, e desnecesscl:ria a autoriza~ao judicial para a a<_;:§.o controlada, em razao da falta de exigencia por parte dessa lei. ~ STJ INFORMAT!VO N9 409- Quinta Turma A~AO POLICIAL CONTROLADA. MP. Pretende-se afastar, par fa ita de pr€via manifesta~ao do MP, a decisao que deferiu a busca e a preen sao em sede de investiga~ao requerida pela autoridade policial, bern como reconhecer a ilegalidade do ato praticada pela po!fcia, que "acompanhou" o velcula utilizado para o transporte de quase meia tonelada de cocafna, retardando a abordagem. Quanta ao primeiro tema, v€-se que nao ha dispositive legal a determinar obriga- toriamente que aquela medida seja precedida da anuencia do membra do Parquet. Ademais, a preteri<;§.o de vista ao MP deu-se em raz§o da urgencia da medida, bern como da ause-ncia, naquele momenta, do re- presentante do MP designado para atuar na vara em questa:o. Ja quanto 25 '~ ·~ /·-, /~ ·~ ~c r GABRIEL HABIB a segunda quest3o, a a<;3o policia! controlada (art. 29, 11, da Lei n. 9.034/1995} nao se condiciona a previa permissao da autoridade judici- a ria, o que legitima o po!icial a retardar sua atuar;ao como fim de buscar o momenta mais eficaz para a formar;ao de provas e fornecimento de in- forma,oes. HC 119.205-MS, Rei. Min: Jorge Mussi,julgadoem 29/9/2009. 1. Quebra do sigilo fiscal, bancario, financeiro e eleitoral. A CRFB/88, no art. 5Q, X, disp5e que "sao inviol6veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizafOO pe!o dana material ou moral decorrente de sua violat;Oo'~ Justamente em razao da prote<;ao constitucional que a vida privada e a intimidade recebem, e que se exige autorizac.;:ao judicial para o afastamento do sigilo referente as in- forma~Oes fiscais, banc3rias, financeiras e eleitorais. 2. Quebra do sigilo pelo Ministerio Publico, Questao relevante versa sabre a possibi!idade de o Minist€rio PUblico afastar diretamente tais sigilos, independentemente de autoriza<;ao judicial. A Lei Complementar 75/93, que disp6e sobre a organiza~ao, as atribuf~Oes e o estatuto do Ministerio Publico da Uniao, preve, em seu. art. 82, incisos II, IV e VIII que "para o exercfcio de suas atribuit;Oes, o Ministerio PUblico do Unilio poder6, nos procedimentos de sua compet€ncia: II - requis;tar informafOes; exames; perfcias e documentos de autoridades da Administrat;Oo PUblica direta au indireta; IV- requisitar injormar;6es e documentos a entidades privadas; VIII - ter acesso incondicional a qua/quer banco de dodos de carater pu- blico au relativo a servir;o de releviincia publico". Apesar da reda<;ao do dispositive legal, entende-se que o Ministerio Publico nao pode quebrar o sigilo diretamente, independentemente de autorizac.;:ao judicial, em razao da d3usula de reserva dejurisdic.;:3o, face a prote~ao constitucional da inti- midade e vida privada assegurada no art. so, X, da CRFB/88. ~ STJ. 26 "RECURSO EM HABEAS CORPUS - CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTA- RIA, CONTRA 0 SISTEMA FINANCEIRO E DE LAVAGEM DE DINHEIRO -IN- VESTIGA<;:OES PRELIMINARES- QUE BRA DO SIGILO FISCAL DO INVESTIGA- 00 -INEXISTENCIA DE AUTORIZAc;:Ji.O JUDICIAL- REQUISI<;:AO FE ITA PELO MEMBRO DO MINISTERIO PUBLICO DIRETAMENTE A RECEITA FEDERAL - IUCITUDE DA PROVA- OESENTRANHAMENTO DOS AUTOS- TRANCA- MENTO DO INQUERITO POLICIAL- IMPOSSIBILIDADE- EXISTENCIA DE OUTROS ELEMENTOS DE CONVIC<;:AO NAO CONTAMINADOS PELA PROVA 0RGANIZAY6ES CRIMINOSAS ILfCITA- DADO PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. I. A requisi,ao de c6pias das declara~5es de impasto de renda do investigado, feita de forma unilateral pelo Ministerio PUblico, se constitui em inequfvoca quebra de seu sigi!o fiscal, situa~ao diversa daquela em que a autoridade fazend<§ria, no exerdcio de suas atribuir;Oes, remete c6pias de documentos ao par- quet para a averigua~ao -de possfvel i!fcito penaL II. A quebra do sigilo fis- cal do investigado deve preceder da competente autoriza~ao judicial, pois atenta diretamente contra as direltos e garantias constitucionais da inti- midade e da vida privada dos cidadaos. Ill. As prerrogativas institucionais dos membros do Ministerio PUblico, no exerdcio de suas fun<;Oes, nao compreendem a possibilidade de requisir;ao de documentos fiscais sigi!o- sos diretamente junto ao Fisco. IV, Oevem ser desentranhadas dos autos as provas obtidas par meio ilfcito, bern como as que delas decorreram. V. Haven do outros elementos de convicr;ao nal< afetados pela prova iHcita, a fnquerrto policial deve permanecer intacto, sendo impassive! seu tranca- mento. VI. Dado parcial provlmento ao recurso. (RHC 20329/PR. ReL Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG, OJ 22/10/2007)." 3, Quebra do sigilo par funciom\rios do Banco Centrale autoridades e agen- tes fiscais tributaries. A Lei Complementar 105/2001 possui do is artigos que podem gerar certa dUvida no interprete, se eles estariam a autorizar a quebra do sigilo por funcionarios do Banco Centrale autoridades e agen- tes fiscais tributaries. 0 primeiro dispositive e 0 art. 22, § 12, que disp5e que "a dever de sigilo e extensivo ao Banco Central do Brasil, em rel01;iio ils opera90es que realizar e iis informat;Bes que obtiver no exercicio de suas atribui96es. § 1 Q 0 sigilo, inclusive quanta a cantos de depOsitos, a plica- fOes e investimentos mantidos em institui96es financeiras, niio pode ser oposto ao Banco Central do Brasil: I - no desempenho de suas funfOes de fiscalizafdo, compreendendo a apurQ(;Cio, a qualquer tempo, de ilfcitos praticados par contra/adores, administradores, membros de conselhos es- tatut6rios, gerentes, mandat6rios e pre pastas de institUifOes financeiras,· If- ao proceder a inquerito em instituiflio financeira submetida a regime especial'~ 0 segundo dispositive e o art. 62, que tern a seguinte reda~ao: 'As outoridades e os agentes fiscais tribut6rios da Uniiio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municfpios somente poderiio examinar documentos, Jivros e registros de instituifOes ftnanceiras, inclusive os referentes a con- tas de depositos e oplicar;oes financeiras, quando houver processo admi- nistrativo instaurado au procedimento fiscal em curs a e tais exames sejam considerados indispens6veis pela autoridade administrativa competente. Par6grafo Unico. 0 resultado dos exames, as injorma90es e os documen- tos a que se refere este artigo serfio conservados em sigUo, observada a legis/ar;iio tributaria': Em bora seja possivel concluir que os funcionarios 27 GABRlEL HABIB do Banco Central e autoridades e agentes fiscais tributaries nao poderiam quebrar o sigi!o diretamente sem autoriza~ao judicial, em razao da d3usu- la de reserva de jurisdi~ao, face a protet;ao constitucional da intimidade e vida privada assegurada no art. 52, X, da CRFB/88, a jurisprudencia do STJ se pacificou em seni:ido contrario, ou seja, pela possibilidade. -7 STJ. "AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTARIO. RECURSO ESPECIAL. SIGILO BAN- CARlO. UTILIZAc;:AO DEINFORMAc;:OES DE MOVIMENTAc;:OES FINANCEI- RAS PELAS AUTORIDADES FAZENDARIAS. APLICAc;:il.o DA LC 105/2001 E DA LEI10.174/2001, INDEPENDENTEMENTE DA EPOCA DO FATO GE- RADOR. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROV!DO. 1. 0 entendimento padfico desta Corte Superior € de que a utiliza~§o de informa~5es financeiras pelas autoridades fazend3rias n§o viola o sigilo de dados banc3rios, em face do que disp6e n§o s6 o C6digo Tributario Nacional (art. 144, § 12), mas tamb€:m a Lel 9.311/96 (art. 11, § 32, com a reda~§o introduzida pe!a lei 10.174/2001) e a lei Complementar 105/2001 (arts. 52 e 62), inclusive podendo ser efetuada em re!ac;ao a perfodos anteriores a vigencia das referidas leis. {AgRg no RESP 971102/SP. Rei. Min. Denise Arruda, DJe 04/05/2009)." l, Capta~ao ambiental. Na capta<;ao ambiental, um interlocutor obtem da- dos de outre interlocutor. A conversa se dil entre ambos, havendo o con- tate pessoal entre os interlocutores. Aqui a grava.;ao do teor da conversa e feita pelo proprio interlocutor. 2. lntercepta~ao ambiental. Na intercepta.;ao ambiental, a obten.;ao dos da- dos e feita par uma terceira pessoa, que nao e nenhum dos interlocutores. Essa terceira pessoa grava a conVersa que acontece entre outras duas ou mais pessoas. Fe ita porum dos interlocutores. I Feita por pessoa diversa dos inter!ocu- tores. Ha o contato pessoal entre os interlo- I Nao hi! o contato pessoa! entre o lnter- cutores. ceptador e os interlocutores. 28 0RGANIZA<;:0ES CRIMINOSAS 3. Tempo de dura~ao. Tendo em vista que a lei nao fez ressalva quanta ao tempo de dura.;ao da capta<;ao e da intercepta1=ao ambiental, conclui-se que elas nao possuem prazo maximo de durat;ao. 4. Diferen~as entre o art. 22, IV da lei 9.034/95 e a lei 9.296/96. A lei 9.296/96, que regulamentou o art. 52, XII da CRFB/88, trouxe, em seu texto, a figura jurldica da interceptac;:aote\efOnica. Embora as duas leis tratem de institutes semelhantes, hei diversas diferen~as entre ambos, a seguir elencadas: 1. Na lei 9.034/95, 0 legislador fez men<;ao expressa a intercepta.;ao e a capta<;ao ambiental. Na lei 9.296/96, o legislador fez men,ao somente a intercepta- <;ao (Art. 12 A intercepta<;ao de comunica<;5es telefonicas, de qualquer natu- reza, para prova em investigat;ao criminal e em instrut;ao processual penal, observara o disposto nesta Lei e dependera det,_ordem do juiz competente da a<;ao principal, sob segredo de justi<;a); 2. Na lei 9.034/95, nao ha prazo determinado para a dura1=ao da medida. Na lei 9:296/96, o prazo e de 15 dias, renoveivel par igual tempo, uma vez comprovada a indispensabilidade da medida (Art. 52 A decisao sera fundamentada, sob pena de nulidade, indicando tambem a forma de execut;ao da dilig€ncia, que nao pod era exce- der o prazo de quinze dias, renovavel por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova); 3. A lei 9.034/95 permite a capta- <;ao ou intercepta>ao de sinais eletromagneticos, 6ticos ou acusticos. A lei 9.296/96 permite a interceptat;ao do fluxo de comunicac;:Oes em sistemas de informatica e telematica (Art. 12 ... Paragrafo unico. 0 disposto nesta Lei apli- ca-se a interceptat;ao do fluxo de comunicac;:Oes em sistemas de informatica e telematica); 4. Na lei 9.034/95, a capta.;ao ou intercepta<;ao podeser feita de forma incondicional. Na lei 9.296/96, a intercepta.;ao possui natureza de meio subsidiario de prova, uma vez que o legislador dispos que tal medida somente sera cabivel se nao houver outre meio disponfve! para a formac;:ao da prova (Art. 22 Nao sera admitida a intercepta1=ao de comunica<;oes telef6- nicas quando ocorrer qualquer das seguintes hip6teses .. .l!- a prova puder ser feita por outros meios disponfveis); 5. Na lei 9.034/95, e possfvel a in- tercepta<;ao ou capta<;ao ambiental para a investiga<;ao de qualquer delito. Na lei 9.296/961 a interceptat;ao somente pode ser autorizada para fins de investiga<;ao de delito apenado com reclusao (Art. 22 Nao sera admitida a in- terceptat;3o de comunicat;Oes telefOnicas quando ocorrer qualquer das se- guintes hip6teses ... lll- o fato investigado constituir infra1=ao penal punida, no maximo, com pena de deten<;ao); 6. A lei 9.034/95 nao estabelece prazo para o Juiz decidir sobre o pedido de intercepta1=ao ou capta<;ao ambiental. A lei 9.296/96 estabeleceu o prazo de 24 horas para o Juiz decidir sobre a medida a ele requerida (Art. 42 0 pedido de intercepta<;ao de comunica.;ao 29 "'-', ~ -- ~- GABRIEL HABIB telefOnica contera a demonstrac;ao de que a sua realizac;:ao e necessaria a apurac;:ao de infrac;:ao penal, com indicac;:ao dos meios a serem emprega- dos .... § 2Q 0 juiz, no prazo maximo de vinte e quatro horas, decidira sabre 0 pedido). Ait.'t.i, !X~il.<lj'9: .;; ~~> .. ;:'t.~'ht'' tl".:i ii\g2;~~· .. .••. ····.' • . . ••• •.. •:;•y >" lnterceptac;ao e captac;ao ambiental. lntercepta<;ao telefOnica. N§.o hil prazo determinado para a dura- 0 prazo e de 15 dias, renovave! par <;ao. igual tempo. Captac;ao ou lnterceptac;ao de sinais lnterceptac;ao do fluxo de comunica- eletromagn€ticos, 6ticos ou acUsticos. <;6es em sistemas de informatica e te- lemiltica. A captac;ao ou intercepta<;3o pode ser A intercepta<;ao possui natureza de feita de forma incondicionaL '• meio subsidiilrio de prova. Passive! a interceptac;ao ou capta<;3o A interceptac;ao somente pede ser au- ambiental para a investigac;ao de qual- torizada para fins de investigac;ao de quer delito. delito apenado com redusao Nao ha prazo para o Juiz decidir sobre Prazo de 24 horas para o Juiz decidir so- o pedido de interceptac;ao ou capta<;3o bre a interceptac;ao. ambiental. 5. Direito 3 intimidade. A CRFB/88, no art. 59, X, disp5e que "siio invio- 16veis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indeniza~ao pelo dono material ou moral decor- rente de sua viola~Oo'~ Dessa forma, a intimidade e a vida privada tern prote~ao constitucional. Assim, sea conversa entre os interlocutores se der em um amblente privado, ou de forma reservada, deve haver auto- riza~ao judicial. 6. Autoriza~ao judicial circunstanciada. Em razao da mencionada prote- <;ao constitucional que a CRFB/88 da a intimidade e a vida privada, o inciso IV fez exigencia expressa de autoriza.;:ao judiciaL Autoriza.;:ao judi· cia I circunstanciada e, na verdade, autoriza<;ao detalhada e bern funda· mentada, em consonancia com o art. 93, IX da CRFB/88, que positivou o principia da motiva~ao das decis5es judiciais, cuja reda~ao e a seguinte: "Lei complementafr de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispor6 30 [ ) I l ' I I I 0RGANIZAC0ES CRIMINOSAS sabre o £statuto da Magistratura, observados os seguintes princfpios: IX todos os julgomentos dos 6rgiios do Poder Judiciario sera a publicos, e fundamentodas todos as decisoes, sob pena de nulidade, podendo a lei limitor a presenr;a, em determinados atos, as pr6prias partes e a seus advogados, au somente a estes, em casas nos quais a preservac;Oo do direito a intimidade do interessado no sigilo nQo prejudique 0 interesse pUblico a injormar;Oo'~ 7 STF INFORMATIVO N2 529- PLENARIO. Escuta Ambiental e Explora!1ao de local: Escrit6rio de Advogado e Pe- rlodo Noturno-4. Prosseguinda, rejeitou-se a preliminar de(ilicitude da prova de escuta ambienta!, par ausencia de procedimento previsto em lei. Sustentava a defesa que a Lei 9.034/95 nao teria tra~ado normas procedimentais para a execuc;ao da escuta ambiental, razao pe!a qual a med!da naa poderia ser adotada no curse das investiga~Oes. Entendeu-se nao pro- ceder a alega<;§o, tendo vista que a Lei 10.217/2001 deu nova reda<;§o aos artigos 1!? e 2!? da Lei 9.034/95, definindo e regulando meios de prova e procedimentos investigat6rios que versem sabre ilicitosde- correntes de ac;Oes praticadas par quadrilha ou banda ou organiza<;Oes ou associac;Oes criminosas de qua!quer tipa. Salientou~se o disposto nesse art. 2!?, na redac;ao dada pela Lei 10.217/2001 ("Em qualquer fase de persecuc;ao criminal sao permitidos, sem prejufzo dosjil previs- tos em lei, os seguintes procedimentos de investigac;§o e forma<;§a de provas: ... IV- a captac;ao e a interceptac;ao ambiental de sinais eletro- magn€ticos, 6ticos ou acUsticos, e o seu registra e analise, mediante circunstanciada autorizac;ao judicial;"}, e concluiu-se pela !icitude da escuta realizada, ja que para obten<;ao de dados por meio dessas for- mas excepcionais seria apenas necessaria circunstanciada autorizac;ao judicial, o que se dera no caso. Asseverou-se, ademais, que a escu- ta ambienta! nao se sujeita, par motivos 6bvios, aos mesmos limites de busca domiciliar, sob pena de frustra~ao da medida, e que, nao havendo disposi<;ao legal que imponha disciplina diversa, basta a sua !egalidade a circunstanciada autoriza~ao judiciaL lnq 2424/RJ, rei. Min. Cezar Peluso, 19 e 20.11.2008. 31 GABRlEL HABIB 1. Agente infiltrado. 0 legislador permitiu que o agente publico pudesse se infiltrar na organiza~ao criminosa, na associac;ao criminosa ou no banda ou quadrilha para efetivar a colheita de elementos e informa<;5es que possam servir de base para investiga~ao e repressac ao crime orga- nizado. 2. Obriga<;ao assumida em Tratado lnternacional. 0 Brasil foi signata rio da Convenc;ao das Nat;:5es Unidas contra o Crime Organizado Transnacionat adotada em Nova York, em 15 de novembro de 2000, que trata do tema no seu art. 20. 1, com a seguinte reda<;ao: "Artigo 20. Tecnicas especiais de investigafOo. 1. Se os principios fundamentais do seu ordenamento ju- ridico nacional o permitirem, coda Estado Parte, tendo em canto as suas possibilidades e em conformidade com as condi~Oes prescritas no seu direito interno, adotar6 as medidas necess6rias para permitir o recurso apropriado a entregas vigiadas e,quando o considere adequado1 o recurso a outras tecnicas especiais de investigaf001 como a vigi!Oncia eletrOnica ' ou outras form as de vigiliincia e as opera>oes de inftltra>fio, par parte das autoridades competentes no seu territ6rio, a fim de com bater eftcazmente a criminalidade org_anizadan. 3. Agente da Policia. E o agente da Policia Judicia ria, que tern par fun<;ao apurar a pr8tica da infrayao penal e a sua respectiva autoria. 4. Agente de lnteligEmcia. Trata-se de funcionclrio pUblico que nao pertence aos quadros da Polfcia Judicia ria, mas sim a outre 6rga:o. Eo case da ABIN - Agencia Brasileira de lnteligencia- criada pel a lei 9.883/99, "que integra as af6es de planejamento e execufOO das atividades de inteligencia do Pais, com a ftnalidade de fornecer subsidios ao Presidente da Republica nos assuntos de interesse nacional. 0 Sistema Brasileiro de fnte/igencia tem como fundamentos a preservofOO do soberania nacional, a defesa do Estado Democratico de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demo is dis- positives da Constitui>oo Federal, as tratados, convem;oes, acordas e ajus- tes internacionais em que a Republica Federativa do Brasil seja parte ou signatario, e a legisla>fio ordinaria. Para os efeitos de aplica,ao desta Lei, entende-se como inteligencia a atividade que objetiva a obten,ao, analise e disseminafdO de conhecimentos dentro e fora do territ6rio nacional sa- bre fatos e situa,aes de imediata ou potencial influencia sabre o processo decis6rio e a 0900 governamental e sabre a salvaguarda e a seguran~a do sociedade e do Estado." (art. lQ) 32 0RGANIZA<;6ES CRIMINOSAS 5. Particular. Nao pode ser agente inftltrado, face a inexistencia de previsao legal. 6. Autoriza~ao judicial circunstanciada. Autorizat;:ao judicial circunstanciada e, na verdade, autoriza<;ao detalhada e bern fundamentada, em conso- nancia com o art. 93, IX da CRFB/88, que positivou o principia da motiva- ~ao das decis5es judiciais, conforme coment8rio ao incise anterior. 7. Tempo de dura~ao. Tendo em vista que a lei nao fez ressalva quanta ao tempo de dura<;ao da infiltra<;ao do agente, conclui-se que ela nao possui prazo maximo de durac;ao. 8. Agente infiltrado e lei de drogas. A lei de drag~ (lei 11.343/2006) preve no art. 53, I a figura do agente infiltrado, com a seguinte reda<;ao: ''l\rt. 53. Em qualquer jose da persecuftio criminal re/ativa aos crimes previstos nesta Lei1 sao permitidos, a/em dos previstos em lei, mediante autorizar;fio judiciale ouvido o Ministerio PUblicoJ os seguintes procedimentos investi- gat6rios: .. I- a infi/tra>oo par agentes de po/icia, em tarefas de investiga- t;fiD1 constituida pe/os 6rg0os especializados pertinentes'~ Percebe-se, pel a leitura do dispositive, que ha uma semelhanc;a e uma diferenc;a. A seme- lhante reside em que, em ambas as leis, se exige autoriza<;ao judicial. A diferen~a consiste no fato de que a lei de organiza~ao criminosa exige que seja agente de policia ou de inteligencia e a lei de drogas somente exige que seja agente de polfcia, nao fazendo menyao a agente de inte!igl§ncia. :~~~~c~~.:~;r~;.~l~~~~,~kf~I~Jti~a~ l.t~1 Agente de polfcia ou de intelig€ncia Agente de polfcia 9. Exclusao de responsabilidade penal do agente infiltrado. Evidentemen- te, nao se pode atribuir responsabilidade penal ao agente infiltrado, pe- los delitos que vier a cometer em razao da infi!trac;ao. Questiona-se, em doutrina, qua! seria a natureza jurfdica na exdusao da responsabilidade penal do agente infiltrado. Vimos, acima, que na reda<;ao originaria da lei 9.034/95, o inciso I do art. 2e, que acabou sendo vetado, trazia a figura do agente infiltrado, excluindo a ilicitude de sua conduta. Percebe-se, assim, que a mens legislatoris foi tornar lfcita a conduta do agente infiltrado. Des- sa forma, como o legislador tornou a trazer essa figura na lei 10.217/2001, inserindo-a no incise ora comentado, quer nos parecer que o legislador agiu imbufdo do mesmo espfrito, au seja, de exduir a ilicitude do agente inftltrado, embora nao 0 tenha dito expressamente. 33 ~ ~. "~ ~. GABRIEL HABIB 1. Sigilo da autoriza~ao judicial. Trata-se do sigilo necess3rio a garantia do sucesso das investigac;:iies, da infiltrac;:ao e da seguranc;:a do proprio agente infiltrado. -7 Aplicac;:ao em concurso. "' Jnspetor da Policia Civii/RJ. 2007. FGV. A Lei do Crime Qrganizado (Lei 9.034/95) preve a seguinte medida investi- 34 gativa: A) pris3o temporaria. B) infiltrar;ao de agentes. C) interceptar;3o de comuniEar;6es telef6nicas. D) arresto de bens. E) pris3o preventiva. Alternativa correta: Letra B. 0RGANIZA<;:6ES CRIMINOSAS 1. Diligencias realizadas direta e pessoalmente pelo Juiz. Juiz inquisidor. 0 legislador trouxe a obrigatoriedade de o Juiz re~izar pessoalmente a di- ligencia investigat6ria quando foro caso de violac;:ao de sigilo preservado pela Constituic;:ao da Republica ou pela lei. 2. Aplica~ao restrita. Nos moldes I ega is, tal atividade probat6ria do Juiz esta- ria restrita a colheita de dados, dados, documentos e informa<;iies fiscais, banc<3rias, ftnanceiras e e!eitorais. 3. Sistema acusat6rio. Reconhece-se, ha a!gum tempo, a instrumentalida- de do processo penat como meio de tornar efetivo o direito material, possibilitando as partes as meios pelos quais o juiz formara a sua convic- <;3o acerca da imputa<;ao deduzida pelo 6rg3o acusador. Nao se ve o pro- cesso como um ftm em si mesmo, e sim como uma tecnica desenvolvida para a tutela do direito material. Essa vis3o instrumentalista do processo estabelece uma ponte entre o direito processual eo direito materia!. Com a consci@ncia de que o processo penal constitui verdadeiro instrumento garantidor da democraciaprocessual, o operador do Dire ito precisa enxer- g<3-!o como instrumento a servir;:o da ordem constitucional, refletindo as bases do regime democr<3tico, que encontra respaldo no sistema acusat6- rio, onde estao bem definidas e separadas as fun<;iies de acusar, defender e julgar, dividindo-as em tres pessoas distintas. 4. Viola~ao do sistema acusat6rio. A realizar;:ao de diligt?ncia investigat6ria diretamente pelo Juiz ressuscita a figura doJuiz inquisidor, ja sepultada ha muito tempo, em plena incompatibilidade com o atual e vigente sistema acusat6rio. Como dito no item acima, no sistema acusat6rio, as funr;:Oes de acusar e julgar estao absolutamente separadas. Fazer como que o Juiz busque a prova diretamente implica radical comprometimento de sua im- parcialidade enquanto magistrado. 35 GABRIEL HABIB 5. A inconstitucionalidade do dispositive. Foi proposta uma A,ao Direta de lnconstituciona!idade, na qual se buscou a declara<.;:ao de inconstituciona- lidade do art. 32 ora comentado, que, no STF, ganhou o numero 1.570. 0 pedido foi julgado procedente e o STF declarou a inconstitucionalidade do mencionado artigo. Note-se que, de acordo com a notfcia abaixo, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 32 somente em rela,ao aos dados, documentos e informa,oes fiscais e eleitorais. No que toea aos dados, documentos e lnforma<;6es banc3rias e financeiras, 0 STF disse que a a<;ao teria ficado prejudicada, em razao de o art. 3.2, nesse ponte especifico, estar revogado pela lei complementar 105/2001, logo nao po- deria dedarar a inconstitucionalidade da parte do dispositive que estava revogada. Tal afirma10ao em nada influencia a declara,ao de inconstitu- cionalidade. Uma coisa € certa: 0 STF declarou o art. 3!? inconstitucionat sepu!tando a figura do Juiz inquisidor; s6 nao quis se pronunciar sabre os dados, documentos e informa<.;:Oes banccirias e financeiras par estarem 36 tacitamente revogados. '" -') STF INFORMATIVO N• 336 Coleta de Provas por Juiz: Due Process of law 0 Tribunal, par maioria, julgou procedente em parte o pedido formula- do em ac;:ao direta ajuizada pelo Procurador-Geral da RepUblica contra o art. 32 da Lei 9.034/95, que conferia aa juiz competencia para dlligenciar pessoa!mente nos procedimentos de investigac;:ao e obtenc;:aa de pravas nas persecw;6es penais relativas a atos de organizac;:5es criminosas, nas hip6teses em que houvesse possibilidade de vio!ac;ao de sigilo. Prelimi- narmente, o Tribunal cansiderou prejudicada a ac;ao direta no ponte em que autorizava o acesso a dadas, documentos e informac;Oes bancilrias e ftnanceiras, em razao da superveniencia da LC 105/2001, hierarqui- camente superior, que regulou integralmente a questao, revogando a norma impugnada par lncompatibiHdade. Em seguida, no que se refere aos dados, documentos e informac;Oes fiscais e eleitorais, o Tribunal jul- gou procedente a pedido, par ofensa ao prindpio do devido processo \ega!, par entender que a coleta pessoal de provas desvirtua a func;ao do juiz, de modo a comprometer a imparcialidade deste no exerdcio da prestac;ao jurisdidonaL Vend do o Min. carlos Ve\loso, que juigava improcedente o pedido, par considerar que o carclter pUblico do pro- cesso nao proibiria, em hip6teses excepcionais, a participac;ao ativa do juiz na busca da verdade material (Lei 9.034/95, art. 39: "Nas hipOteses do incise Ill do art. 2Q desta Lei, ocorrendo possibi\idade de violac;ao de sigilo preservado pel a Constituic;ao ou par lei, a diligencia sera rea!izada 0RGANIZAC0ES CRlMfr.iOSAS pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigorosa segredo de justic;a." "art. 2Q- Em qualquer fase de persecuc;ao criminal que verse sabre a<;ao praticada par organizac;:5es criminosas sao permitidos, a!em dos ja previstas na lei, os seguintes procedimentos de investigac;aa e formac;:ao de provas: ... Ill - o acesso a dad as, documentos e informac;6es fiscais, bancarias, financeiras e eleitorais."). ADI 1570/DF, rei. Min. Mauricio Correa, 12.2.2004. 1. 6rgao fracionario especializado. 0 legislador impos as policias judi- ciarias, encarregadas da apura<.;:ao do fato criminoso e de sua respectiva autoria, a setoriza~ao especializada no combate aos delitos praticados por organiza~Oes criminosas. Trata-se de norma programirtica, que visa ao melhor acompanhamento dos de!itos dessa natureza, para uma me- lhor e mais eficaz apura<.;:ao. A Polfcia Judici<3ria e aquela que esta prevista expressamente na CRFB/88, art. 144, §1Q, IV e §4Q: "Art. 144. A seguran10a publica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e exercida para a preserva,ao da ordem publicae da incolumidade das pessoas e do patrim6nio, atraves dos seguintes 6rgaos: § lQ A polfcia federal, institu- fda par lei como 6rgao permanente, organizado e mantido pe!a Uniao e estruturado em carreira, destina-se a: IV- exercer, com exclusividade, as fun,oes de polfcia judiciaria da Uniao. § 42- As polfcias civis, dirigidas por delegados de polfcia de carreira, incumbem, ressalvada a competencia da Uniao, as funr;Oes de polfcia judici<3ria e a apurar;ao de infra<.;:Oes penais, exceto as militares. 1. Aplica,ao restrita do dispositive. 0 artigo ora comentado fez men10ao ex- pressa a organiza~lio criminosa, excluindo de sua incid€ncia o banda ou quadriJha e a associa9Cio criminosa. 37 ~-, ~ ~- -. -- GABRIEL HABIB 2. ldentifica~ao criminal. Consiste na individualizac;:ao da pessoa, para a co- !heita de suas caractedsticas pessoais, podendo ser utilizados processo datilosc6pico e fotografico. 3. Previsao constituciona\. A identifica,ao criminal esta .positivada na CRFB/88, que dispoes no art. 52, LVIII que "o civilmente identificado ni5o ser6 submetido a identifica~Oo criminat salvo nos hip6teses previstas em I ., El. -7 Aplica~ao em concurso. TJ/TO. Juiz de Dire ito. 2007. C£SP£ No que concerne as leis penais especiais, assinale a op~ao correta. A) Na hlp6tese de a<;ao praticada por organiza~ao crlminosa, o acusado envoi~ vida na a~ao sera apenas civil mente ldentificado e nao deve ser submetido a identifica<;ao criminal. de acordo com direito garantido em regra geral da Constituic;ao FederaL -.• A afternativa est6 r:irrada. 4. ldentifica,ao criminal. Lei 12.037/2009. A identifica,ao criminal esta re- gulamentada pela lei 12.037/2009, que tem a seguinte reda1=ao: 38 "Art. 19 0 civil mente identificado niio ser6 submetido a identifica~Oo cri~ min a/, salvo nos casas previstos nesta Lei. Art. 2.fJ: A identiftca~Cio civile atestada por qualquer dos seguintes docu- mentos: 1-carteira de identidade; !1- carteira de trabalho; Ill- carte ira profissional; IV- passaporte; V- carteira de identificafiiO funciona/,· VI- outre documento pUblico que perm ita a identiftcafOO do indiciado. Par6- grafo Unico. Para asftnalidades desta Lei, equiparam-se aas dacumentos de identificat;Cio civis os documentos de identificat;Cio militares. Art. 3.fJ: Embora apresentado documento de identificaftiO, poder6 ocor- rer identificat;Oo criminal quando: I - o documento- apresentar rasura ou tiver indicia de falsificat;tio; II - o documento apresentado for insu~ ficiente para identificar cabo/mente o indiciado; Ill - o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informat;O~s canflitantes entre si; IV- a identificafliO criminal for essencial bs investigat;t5es policiais, segundo despacho da aut_oridade judiciO ria competente, que decidir6 de ojicio ou mediante representar;tio do autoridode policial, do Ministerio PUblico ou da defesa; V- constar de registros po/iciais o usa de outros names ou diferentes qualificar;Oes; VI - o estado de conservat;Cio ou a distdncia temporal ou da localidade da expediftio do documento apre- sentado impossibilite a completa identificafCiO dos caracteres essenciais. 0RGAN!ZA(::6ES CRIMINOSASPar6grafo Unico. As c6pias dos documentos apresentados deveriio ser juntadas aos autos do inqw?rito, ou outra forma de investigar;ao, ainda que consideradas insuftcientes para identiftcar o indiciado. Art. 4f! Quando houver necessidade de identificat;iio criminal, a auto- ridade encarregada tomar6 as pravidencias necess6rias para evitar o constrangimento do identiftcado. Art. 5.fJ: A identiftcOt;Cio criminal incluir6 o processo dati/osc6pico e o fo- togr6ftco, que serOo juntados aos autos do comunicar;Cio da prisiio em flagrante, ou do inquerito policial ou outra forma de investigaftiO. Art. 69 E vedado mencionar a identificafiio criminal do indiciado em atestados de antecedentes ou em informat;Oes niio destinadas ao juizo criminal, antes do triinsito em julgado do sentenr;a condenat6ria. Art. 7.fJ: No coso de niio oferecimento da de~Uncia, ou sua rejeifiiO, ou absolvit;Cio, e facultado ao indiciado ou ao reu, ap6s 0 arquivamento definitivo do inquerito, ou trdnsito em julgado da sentent;a, requerer a retirada da identijicOf;Cio fotogr6fica do inquerito ou processo, desde que apresente provas de sua identiftcaffiO civil. Art. 88 Esta Lei entra em vigor no data de sua publicafOO. Art. 9B Revoga-se a Lei n-B 10.054, de 7 de dezembro de 2000." 5. Compatibilidade entre o art. 52 da lei 9.034/95 eo art. s•, LVIII CRFB/88. Dos dispositivos acima mencionados, retira-se a seguinte norma: De acor- do com a CRFB/88, a regra geral e a de que a pessoa que ja for civilmente identificada, nao podera ser submetido a identifica<_;a:o criminal, ressalva- das as exce1=6es I ega is previstas no art. 32 da lei 12.037/2009. 6. Sumula 568 do STF. Dispoe a sumula 568 do STF: "A identificar;i5o crimi- nal nfio constitui constrangimento ilega!, ainda que o indiciado j6 tenha sido identificado civilmente." Vimos que, ap6s o advento da CRFB/88, bem como da lei 12.037/2009, a regra e a nao identifica,ao criminal se o in- diciado ja for civilmente identiftcado. Assim, tal sUmula ficou esvaziada, nao passu indo mais aplicabilidade. Salvo nas excec;:5es referidas no item anterior. 7. STJ. Revoga,ao do art. 52 da lei 9.034/95 pelo art. 32 da lei 10.054/2000 (atualmente revogada). A identifica1=ao criminal, antes do advento da lei 12.037/2009, era regulamentada pel a lei 10.054/2000, que dispunha em seu art. 12 que a identiftcac;ao criminal poderia se dar em determina- das situa1=6es, desde que o agente nao fosse civilmente identificado. Em seu art. 32, a lei 10.054/2000 trazia as hip6teses excepcionais nas quais poderia haver a identiftca~ao criminat nas quais nao estava abrangida a 39 GABRIEL HABIB hip6tese de organiza<;3o crlminosa. Dessa forma, STJ entendeu que a lei 10.054/2000, por ser posterior a lei 9.034/95, a teria revogado tacitamen- te. No entendimento do STJ, conforme o informative abaixo citado, nao poderia mais ser feita a identificac;8'o criminal das pessoas envolvidas com ac;ao praticada par organizac;5es criminosas, uma vez que o art. 32 da lei 10.054/2000 nao contemplou essa possibilidade no seu rol. 0 mesmo en- tendimento deve ser mantido, agora, na vigencia da lei 12.037/2009. ~ STJ INFORMATIVO N•187- Quinta Turma IDENTIFICA~AO CRIMINAL CIVILMENTE IDENTIFICAOO. 0 art. 32, caput e incises, da Lei n. 10.054/2000, enumerou, de forma incisiva, as casas nos quais o dvi!mente identiftcado deve, necessaria- mente, sujeitar-se a identiftca~ao criminal, nao constando, entre eles, a hip6tese de que o acusado se envolva com a a~ao praticada por orga- nizac;6es criminosas. Com efeito, restou revogado a preceito contido no art. 52 da Lei n. 9.034/1995, a qua! exige que a identifica~ao crimina! de pessoas envolvidas com o crime organizado seja rea!izada independen- temente da existencia de identifica~ao civiL RHC 12.965-DF, Rei. Min. Felix Fischer, ju\gado em 7/10/2003. 1. Dela~ao premiada. Delatar significa apontar o responsavel pela infra,ao penal praticada. Pelo institute da deJa,ao, o acusado aponta outras pes- seas como igualmente responsaveis pe\a prc1tica da infrac;ao penal. Diz-se premiada porque o delator recebe algum beneficia do Estado em troca das informa1=6es prestadas, uteis a elucida1=ao do delito praticado. Na lei ora comentada, o "premia" consiste na reduc;ao da pena de urn a dais ter<;os. 2. Natureza jurfdica. A dela1=ao premiada tern natureza de causa especial de diminui1=ao de pena, que deve ser ap\icada na terceira lase da aplica<;ao da pena. Note-se que nessa lase a pena pode ficar a baixo do minima legal. 3. Beneficiario. 0 Jegislador utilizou a expressao agente. Logo, o beneficia da dela<;ao premiada abrange tanto o coautor quanta o participe da infra<;ao penal. 40 1 0RGANlZA(,":0ES CRIMINOSAS 4. Destinatario da dela~ao. 0 legislador nao estabeleceu o destinatario da dela<;ao. Entende-se que ela pede ser feita aos 6rgaos encarregados de persecu,ao penal (Autoridade Policial e membra do Ministerio Publico), bern como a Autoridade Judiciaria. 5. Requisitos. A delayao deve efetivamente esclarecer as infra~Oes penais praticadas pela organizac;ao criminosa e sua autoria, nao podendo consis- tir em informa<;5es desconexas com essas fina!idades. A/em disso, se exige que a dela<;ao seja espontanea, nao podendo ser voluntaria. ~ STJ. "PENAL. RECURSO ESPECIAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E EXTORSAO MEDIANTE SEQUESTRO. DELA~AO PREMIADA. ART. 6' DA LEI 9.034/95. NJiO-OCORRENCIA. RETRATA~AO EM JUiZO. SUMULA 283/STF. RECUR- SO ESPECIAL NAO-CONHECIDO. 1. A Lei 9.034/95, que dispos sobre os meios de prevenc;ao e repressao de a~6es praticadas por organiza~Oes criminosas, preve, em seu art. 62, a redu~ao da pena de 1/3 a 2/3 para os que, espontaneamente, colaborarem no esdarecimento de infra<;6es penais e sua autoria. 2. A -revelac;ao do indiciado devera ser esponta- nea, ou seja, de livre vontade, sem a instlga~ao ou coac;ao de terceiros e eftcaz, au seja, deve produzir efeitos prc'iticos quanta aos demals inte- grantes da quadri!ha, grupo, organiza~ao ou banda, ou na !ocalizac;ao do produto, substancia ou droga i!icita. (REsp 628048/SP. Rel. Min. Arnalda Esteves Lima. DJe 13/04/2009)" 6. Momento para a dela<;ao. Pode ser rea\izada em qualquer lase da perse- cuc;ao penal, ou seja, tanto na fase do inquerito policial, quanta na fase da a(:ao penal. 7. Oela~ao feita ap6s o transite em julgado. Como o Jegislador nao estabe- leceu marco temporal limite, entende-se que ela pode ser feita mesmo ap6s o transite em julgado da sentenc.;:a condenat6ria. Nessa hip6tese, o instrumento processual adequado e a revisao criminal, com base no art. 621, Ill do C6digo de Processo Penal, que possui a seguinte reda(:ao: ':4 revisoo dos processos findos sera admitida: Ill - quando, ap6s a senten9aJ se descobrirem novas provas de inocencia do condenado ou de circunst6ncia que determine ou autorize diminui9Go especial da pen a;~ 8. Obrigatoriedade da diminui~ao da pena. Preenchidos os requisites dade- la.;ao, torna-se obrigac.;:ao do juiz aplicar a causa de diminuic.;:ao de pena. 41 -~ ~. ' ~~ ·~ GABRIEL HABiB 9. Nao revoga~ao pela lei 9.807/99. A lei 9.807/99 nao revogou o art. 62 da lei 9.034.95, uma vez que, embora os dispositivos legais tratem do mesmo tema - dela~ao premiada da \eitura de ambos, verifica-se que os seus requisites d§o diversos. 1. Aplicac;ao restrita do dispoSitive. 0 artigo ora comentado fez men~3b ex- pressa a organizar;fio criminosa1 excluindo de sua incid€ncia 0 banda ou quadrilha e a associm;Go criminosa. -7 Aplicac;ao em concurso. o MP/AM. Promotor de Justi~a. 2007. CESPE. ·, A respeito de aspectos penais das leis espedais, assina!e a opt;:ao correta. D) Em caso de agente que tenha tido intensa e efetiva participat;:ao em organi- za~ao criminosa, a legis!a~ao aplic3vel a especie somente ad mite a concessao de liberdadeprovis6ria com fiant;:a. A alternativa est6 errada. PGE/CE. Procurodor. 2008. CESPE. Acerca das leis penais especiais, assinale a op~ao correta. B) A Lei n2 9.034/1995, que disp6e a respeito do crime organizado, nao veda a concessao de liberdade provis6ria aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participa~ao na organiz.a~ao criminosa. A a!ternativa est6 errada. 2. Veda~ao de liberdade provis6ria. 0 art. 72 veda a liberdade provis6ria aos agentes que tenham tido intensa e efetiva participa.;:ao na organiza- s:ao criminosa. 0 \egislador quis proibir que o preso em flagrante fosse posto em liberdade, proibindo a liberdade provis6ria. A prisao em fla- grante, como toda e qualquer prisao imposta antes do transito em julga- do da sentens:a condenat6ria constitui uma pris§o provis6ria, e como tal deve ser encarada, sob pena de a mesma ser uti!izada como instrumento de vingan<;a privada do proprio Estado de Direitq, ,bern como antecipa- ~ao do cumprimento de uma pena que ainda nao existe, e que pode nem existir par raz6es diversas. 42 i i 0RGANlZAC0ES CRIMINOSAS Toda e qualquer prisao provis6ria, medida cautelar que e, deve ser re- gida pelos Prindpios da Necessidade e Excepcionalidade. Assim, toda e qua!quer prisao provis6ria somente deve ser decretada ou mantida se for necessaria, e, ainda assim, de forma excepcional. Portanto, nao se decreta a prisao do reu automaticamente s6 porque ele nao e primario e de bons antecedentes e o crime nao e afian~avel. Em qua!quer hip6tese1 e precise que seja demonstrada a necessidade da pri- sao, par meio da presen~a dos requisites da prisao preventiva previstos no art. 312 do C6digo Processual Penal. A jurisprudencia atual utiliza os pressupostos da prisao preventiva para qualquer tipo de prisao provis6ria. E com base nesse raciocfnio que os Tribunais S~eriores so!idificaram suas jurisprudencias no sentido de nao existir prisao provis6ria ex lege, isto e, prlsao que decorra meramente da lei, sem motivas:ao, sem que estejam presentes os requisites da prisao preventiva previstos no art. 312 do C6di- go de Processo Penal, sob pena de viola<;ao dos prindpios da presun.;:ao de inocEmcia, devido processo legal, contradit6rio e ampla defesa. ~ STJ. "HABEAS CORPUS. TRAFICO ILiCITO DE ENTORPECENTE E POSSE IRRE- GUlAR DE ARMA DE FOGO. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISORIA INDEFE- RIDO. SUPERVENIENCIA DE SENTEN~A CONDENATORIA QUE MANTEM, NOS TERMOS DO DECRETO CONSTRITIVO ANTERIOR, 0 cARCERE CAU- TElAR. INEXISTENCIA DE MOTIVA~AO VALIDA. NECESSIDADE DA CUS- TODIA PROVISORIA NAO DEMONSTRADA. PRECEDENTES. 1. A custodia caute\ar do Paciente esta sen do mantida, na hip6tese, pelos fundamen· tos da deds3o que !he negou o beneficia da Hberdade provisO ria, apenas em face da vedat;:ao traz.ida pe!a lei dos Crimes Hediondos e em argu- mentos abstratos, desprovidos de qua!quer suporte f3tico, que nao po- d em respaldar a prisao provis6ria. 2. Mesmo para os crimes em que hi! veda<;:ao expressa a liberdade provis6ria, como e o caso do Estatuto do Oesarmamento, da Lei dos Crimes Hediondos e a das Organiza~Oes Cri- minosas1 prestigia-se a regra constitucional da !iberdade em contraposi- <;::30 ao cilrcere caute!ar, quando nao houver demonstrada a necessidade da segrega~ao. 3. Exige-se concreta fundamenta~ao judicial para se de- cretar ou manter a pris3o cautelar, com demonstra<;:ao dos pressupostos do art. 312 do C6digo de Processo Penal, sob pena de desrespeito ao art. 93, incise IX, da Constitui~ao Federal. 4. Ordem concedida para revogar a prisao provis6ria do ora Paciente, se par outre motive nao estiver preso, sem prejufzo de eventual decretat;:ao de prisao preventiva devidamente fundamentada. (HC 61631/RJ. Rei. Min. Laurita Vaz, DJ 18/12/2006)." 43 . ··~: 44 GABRIEL HABIB Note-se que o art. 72 dessa lei foi objeto da ordem de habeas corpus n2 94.404 MC/SP, publicada no informative n2 516 do STF. -7 STF. INFORMATIVO N• 516 "Crime Organizado- Veda~ao Legal de liberdade Provis6ria -lnconsti- tucionalidade- Conven~3o de Palermo- Pris3o Cautelar- Requisites (Transcri~Oes) EMENTA: "HABEAS CORPUS". ESTRANGEIRO NAO DOMICILIADO NO BRASIL. CONDI<;:AO JURiDICA QUE NAO 0 DESQUALIFICA COMO SUJEITO DE DIREITOS E TITULAR DE GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E LEGAlS. PLENITUDE DE ACESSO, EM CONSEQUENCIA, AOS INSTRUMENTOS PRO- CESSUAIS DE TUTELA DA LIBERDADE. RESPEITO, PELO PODER PUBLICO, AS PRERROGATIVAS JURiDICAS QUE COM POEM 0 PROPRIO ESTATUTO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DE DEFESA. VEDA<;iio LEGAL ABSOLUTA, EM CARATER APRIORiSTICO, DA CONCESSAO DE LIBERDADE PROVISO- RIA. LEI DO CRIME ORGANIZADO (ART. 72). INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA AOS POSTULADOS CONSTITUCIONAIS DA PRESUN<;:AO DE INO- CENCIA, DO "DUE PROCESS OF LAW", DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMA- NA E DA PROPORCIONALIDADE. 0 SIGNIFICADO DO PRINciPIO DA PRO- PORCIONALIDADE, VISTO SOB A PERSPECTIVA DA "PROIBI<;AO DO EXCESSO": FATOR DE CONTEN<;AD E CONFORMA<;AO DA PROPRIAATIVI- DADE NORMATIVA DO ESTADO. ENTENDIMENTO DE AUTORIZADO MA- GISTERIO DOUTRINARIO (LUIZ FlAVIO GOMES, ALBERTO SILVA FRANCO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR, GERALDO PRADO E WILLIAM DOUGLAS, "INTER ALIA"). PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: ADI 3.112/DF (ESTATUTO DO DESARMAMENTO, ART. 21). CONVEN<;:AO DE PALERMO (CONVEN<;:AO DAS NA<;:OES UNIDAS CONTRA 0 CRIME ORGA- NIZADO TRANSNACIONAL). TRATADO MULTILATERAL, DE AMBITO GLO- BAL, REVESTIDO DE ALTiSSIMO SIGNIFICADO, DESTINADO A PROMOVER A COOPERA<;AO PARA PREVENIR E REPRIMIR, DE MODO MAIS EFICAZ, A MACRODELINQUENCIA E AS ORGANIZA<;OES CRIMINOSAS DE CARATER TRANSNACIONAL. CONVEN<;AO INCORPORADAAO ORDENAMENTO PO- SITIVO INTERNO BRASILEIRO (DECRETO N2 5.015/2004). INADMISSIBILI- DADE DA INVOCA<;AO DO ART. 11 DA CONVEN<;AO DE PALERMO COMO SUPORTE DE LEGITIMA<;iiO E REFOR<;O DO ART. 72 DA LEI DO CRIME ORGANIZADO. A SUBORDINA<;iiO HIERARQUICO-NORMATIVA, A AUTO- RIDADE DA CONSTITUI<;:AO DA REPUBLICA, DOS TRATADOS INTERNA- CIONAIS QUE NAO VERSEM MATERIA DE DIREITOS HUMAN OS. JURIS- PRUDENCIA (STF). DOUTRINA. CARATER EXTRAORDINARIO DA PRIVA<;iiO CAUTELAR DA LIBERDADE INDIVIDUAL INVIABILIDADE DE SUA DECRE- TA<;iio, QUANDO FUN DADA NA GRAVIDADE OBJETIVA DO DELITO, NA '" ·-- ----·~-- _-, 0RGANlZAC6ES CRlMINOSAS SUPOSTA OFENSA A CREDIBILIDADE DAS INSTITUI<;OES, NO CLAMOR PUBLICO E NA SUPOSI<;AO DE QUE 0 REU POSSA INTERFERIR NAS PRO- VAS. NAO SE DECRETA PRISAO CAUTELAR, SEM QUE HAJA REAL NECES- SIDADE DE SUA EFETIVA<;AO, SOB PENA DE OFENSA AO "STATUS LIBER- TATIS" DAQUELE QUE A SOFRE. PRECEDENTES. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. DECISAO: Trata-se de "habeas corpus", com pedido de medi- da liminar, impetrado contra decisao emanada da Quinta Turma do E. Superior Tribunal de Justic;a, que, em sede de outra ac_;§.o de "habeas corpus", denegou o "writ" constitucional (HC 100.090/SP). Registro, des- de logo, par necessaria, tal como assinalei na decis§.o par mim proferida no exame de pedido de medida cautelar formulada no HC 94.016/SP, Rei. Min. CELSO DE MELLO, que o fa to de o paciente ostentar a condi~ao jurfdica de estrangeiro e de n§.o possuir dqmidlio no BrasH n§.o lhe inibe, s6 par si, o acessa aos instrumentos proc~ssuais de tutela da liberdade nem lhe subtrai, par tais raz5es, o dire ito de ver respeitadas, pelo Poder PUblico, as prerrogativas de ordem jur!dica e as garantias de Indole cons~ titucianal que o ordenamento positive brasileiro canfere e assegura a qualquer pessoa que sofra persecu~ao penal instaurada pelo Estado. Cabe advertir, ainda, que tamb€m o estrangeiro, inclusive aquele que n3o possui domidlio em territ6rio brasileiro, tern direita pUblico subjeti~ vo, nas hip6teses de persecw;§.o penal, a observancia e ao integral res- peito, por parte do Estado, das prerrogativas que com pOem e d§a signi- ficado a dausula do devida processo legal, pais- como reiteradamente tern proclamado esta
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