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As politicas de saúde mental do Brasil

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AS POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL NO BRASIL 
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Brasil-Colônia: doente mental era livre nas cidades, aldeias e campos. A assistência médica e hospitalar dependia, sobretudo, das irmandades religiosas. As Santas Casas de Misericórdia funcionavam como albergues para os pobres, órfãos, inválidos e, obviamente, loucos. No Rio de Janeiro, o Hospital da Santa Casa de Misericórdia foi fundado em 1567.
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Séculos XVI e XVII – famílias mais abastadas escondiam seus doentes em casa, em quartos próprios ou em construções anexas. 
Século XVIII – as grandes propriedades rurais utilizavam apenas mão-de-obra escrava. Este trabalho para o homem livre passou a ser considerada indigna
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Século XIX - Chegada da Família Real: acaba a tolerância social ao doente mental. Era necessário “limpar” a loucura das ruas da Cidade. 
Economia passa a ser de urbanização/ industrialização: os “doentes” são amontoados nos porões insalubres das Santas Casas.
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Sem assistência médica, os loucos como os demais marginais são entregues a guardas e carcereiros, seus delírios e agitações reprimidos por espancamentos ou contenção. 
Escravos e voluntários, sob orientação das Irmãs de Caridade, cuidavam destas pessoas nas Santas Casas - eram os chamados práticos de enfermagem
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A partir de 1830 começa a haver protestos contra o encarceramento do louco nas Santas Casas.
As denúncias dos médicos da Academia Nacional de Medicina sobre as péssimas condições de atendimento que os doentes recebiam fez surgir o discurso da necessidade de profissionais e de um local de tratamento. 
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1852- marco institucional da assistência psiquiátrica: inaugurado o Hospício D. Pedro II, no Rio de Janeiro. 
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Outros hospícios são criados no Brasil (Hospício de Juqueri –SP- 1858). 
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As irmãs de caridade foram substituídas pelas enfermeiras leigas francesas. 
O Governo da República cria, em 27 de setembro de 1890, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, primeira Escola de Enfermagem do país, visando preparar profissionais para atuarem nos hospícios e nos hospitais civis e militares
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A enfermagem psiquiátrica brasileira surgiu no hospício, para vigiar, controlar e reprimir.
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Proclamação da República: estabelecimento da psiquiatria científica brasileira. A saúde passou a ser atribuição do Estado e a classe médica controla as instituições de saúde. O antigo Hospício D. Pedro II, (agora Hospício Nacional de Alienados), teve seu primeiro diretor médico: TEIXEIRA BRANDÃO.
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Início do século XX, o médico JULIANO RODRIGUES dirige o Hospício Nacional: quer recuperar os alienados nos asilos.
De 1841 a 1954 proliferam as colônias agrícolas para tratamento de doentes mentais em diversos estados brasileiros, mas os hospícios-colônias não cumprem um papel terapêutico (excluíam o doente mental do convívio social).
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Praticavam a laborterapia como técnica terapêutica – sinônimo da garantia de disciplina e ordem, de forma a docilizar os incuráveis. Utilizavam modernas técnicas da medicina mental do período:
a) Hidroterapia - aplicação externa de água – quente ou fria, por meio de longos banhos, de imersão ou duchas;
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b) Malarioterapia - inoculação do plasmodium no organismo do doente, para tratar paresia neurosifilítica, e para que a febre e os tremores “curassem” a doença mental. Jauregg, 1917- Viena;
c) Insulinoterapia – aplicação de insulina, em doses crescentes, que provocava convulsões, coma e um sofrimento físico intenso, para tratar esquizofrenia. Sakel, em 1927 – Berlim.
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O hospício se estrutura a partir do poder disciplinar, com atendimento voltado para: o isolamento com vigilância constante, a organização do espaço e a distribuição dos doentes no espaço hospitalar. 
A função de vigilância era, sobretudo, do enfermeiro que devia acompanhar os doentes por todos os lugares e em todos os momentos. 
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Como consequência, toda violência e agressividade presentes no hospício eram decorrentes do desempenho violento e agressivo do “enfermeiro”, a quem cabia por herança secular o serviço sujo das pequenas e cotidianas atrocidades do espaço asilar: amarrar, conter, gritar, ofender, impor-se pela robustez física, proibir, aplicar as medidas terapêuticas psiquiátricas prescritas, tudo em nome da pseudo ordem do hospital.
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O profissional da enfermagem não era formado para atender melhor ao doente mental, mas para viabilizar as possibilidades do discurso psiquiátrico brasileiro tornar-se científico. A enfermagem psiquiátrica foi criada especificamente para vigiar e disciplinar o louco, e não para cuidar dele.
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Em 1950, a OMS recomendava que os governos invistam em ações de saúde mental. Alguns Institutos de Aposentadorias e Pensões no Brasil incorporam parcialmente a assistência psiquiátrica entre seus benefícios.
Em 1955, a introdução das drogas antipsicóticas abriu novas perspectivas no tratamento dos doentes mentais.
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Final da década de 50 - saúde mental caótica: só no Juqueri havia mais de 15 mil pessoas internadas. A assistência psiquiátrica brasileira não acompanhava as atualizações terapêuticas que ocorriam no exterior. 
Década de 60: criado o INPS. O doente mental é o objeto de lucro. Proliferam entidades privadas de assistência psiquiátrica. As internações triplicaram e, pacientes sem necessidade clínica eram internados. 
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A rede ambulatorial pública era subdimensionada
Início da década de 70 - o período de “milagre econômico”: as jornadas de trabalho mais extensas aumentam o índice de acidentes de trabalho, a massa trabalhadora tem diminuição de seu poder de compra, com reflexos em suas condições de saúde, principalmente nas grandes cidades. 
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A assistência em saúde mental é negligenciada pelo Estado.
Fim da década de 70 - surgem os primeiros movimentos da Reforma Psiquiátrica, com o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) – debate e encaminhamento de propostas de transformação da assistência psiquiátrica.
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Fim da década de 80 - o movimento atinge seu ápice, com contribuições das experiências italianas, começam as propostas de uma psiquiatria menos repressora, seja através de processo de desospitalização, ou de um trabalho mais voltado para os interesses e necessidades da comunidade.
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A década de 90 tem como marco principal a Lei de deputado Paulo Delgado. REFORMA PSIQUIÁTRICA ou Política de Desinstitucionalização, que prescreve a extinção dos hospitais psiquiátricos, e sua substituição por outras modalidades e práticas assistenciais.
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A Conferência Regional para a Atenção Psiquiátrica, organizada pela Organização Pan-Americana de Saúde em Caracas em 1990 e a II Conferência Nacional de Saúde Mental realizada em Brasília em 1992 são os marcos da década de 90 ressaltando sempre os direitos humanos e civis dos pacientes psiquiátricos.
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Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado - após mais de 10 anos – aprovada - Lei Federal da Reforma Psiquiátrica – Lei nº 10.216 de 06/04/2001- implantação de serviços substitutivos ao modelo tradicional: 
Leitos psiquiátricos em hospitais gerais; 
Serviços de atenção diária, de base comunitária; 
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Emergências psiquiátricas em pronto-socorros gerais; 
Unidades de atenção intensiva em saúde mental em regime de hospital-dia; 
Pensões protegidas; 
Centros de convivência. 
Tipos de Internação: voluntária, involuntária, compulsória.
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Redução de leitos de hospitais psiquiátricos em todo o País, abertura de leitos de psiquiatria nos hospitais gerais e o crescimento dos recursos comunitários alternativos voltados para a reinserção social. Melhoria na qualidade assistencial pelos decretos e normas ministeriais proporcionados pela Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde. (Portaria Ministerial /2002). 
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Processo de Reforma Psiquiátrica: reestruturação da assistência, superando o modelo asilar
e construindo novas possibilidades de assistência substitutivas.
Reforma Psiquiátrica ou Política de Desinstitucionalização: extinção dos hospitais psiquiátricos, e criação de outras modalidades e práticas assistenciais. Não só um processo de desospitalização, mas invenção de práticas assistenciais territoriais; processo de desconstrução dos conceitos e das práticas psiquiátricas”. (AMARANTE, 1994, p. 81).
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Trata-se, na verdade, de dar ao doente o direito a um cuidado real, concreto, “não de ser excluído, mas de receber ajuda no seu sofrimento, na sua positividade e na sua possibilidade de ser sujeito (...) de não ser despossuído de seus direitos não apenas sociais, civis e políticos, mas de ser uma pessoa, de ter seus desejos e projetos” (AMARANTE, 1996). 
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O QUE É A REFORMA PSIQUIÁTRICA?
É a ampla mudança do atendimento público em Saúde Mental, garantindo o acesso da população aos serviços e o respeito aos seus direitos e liberdade.
É amparada pela Lei 10.216/2001, conquista de uma luta social que durou 12 anos.
Significa a mudança no modelo de tratamento: no lugar do isolamento, o convívio com a família e na comunidade.
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O atendimento é feito em CAPS, Residências Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência;
As internações, quando necessárias, são feitas em hospitais gerais e CAPS 24 hs.
Os hospitais psiquiátricos de grande porte vão sendo progressivamente substituídos.
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Política de Saúde Mental
O Governo brasileiro tem como objetivos: 
Reduzir progressivamente os leitos psiquiátricos 
Qualificar, expandir e fortalecer a rede extra-hospitalar - Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG) 
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Incluir as ações da saúde mental na atenção básica, 
Implementar uma política de atenção integral a usuários de álcool e drogas, 
Implantar o programa "De Volta Para Casa" 
Manter um programa permanente de formação de recursos humanos para reforma psiquiátrica, 
Promover direitos de usuários e familiares incentivando a participação no cuidado, 
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Garantir tratamento digno e de qualidade ao louco infrator (superando o modelo de assistência centrado no Manicômio Judiciário) 
Avaliar continuamente todos os hospitais psiquiátricos por meio do Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares - PNASH/ Psiquiatria.
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Cenário atual
Tendência de reversão do modelo hospitalar para uma ampliação significativa da rede extra-hospitalar, de base comunitária;
Entendimento das questões de álcool e outras drogas como problema de saúde pública e como prioridade no atual governo;
Ratificação das diretrizes do SUS pela Lei Federal 10.216/01 e III Conferência Nacional de Saúde Mental
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Dados importantes
3% da população geral sofre com transtornos mentais severos e persistentes;
6% da população apresenta transtornos psiquiátricos graves decorrentes do uso de álcool e outras drogas;
12% da população necessita de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual;
2,3% do orçamento anual do SUS para a Saúde Mental.
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Desafios
Fortalecer políticas de saúde voltadas para grupos de pessoas com transtornos mentais de alta prevalência e baixa cobertura assistencial;
Consolidar e ampliar uma rede de atenção de base comunitária e territorial, promotora da reintegração social e da cidadania;
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Implementar uma política de saúde mental eficaz no atendimento às pessoas que sofrem com a crise social, a violência e desemprego;
Aumentar recursos do orçamento anual do SUS para a Saúde Mental.
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CAPS- Centro de Atenção Psicossocial
Serviço comunitário para o cuidado de pessoas com transtornos mentais, em especial os transtornos severos e persistentes, no seu território de abrangência, com acolhimento de 100% da demanda dos portadores destes transtornos. 
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A atenção deve personalizar o projeto terapêutico de cada paciente nas atividades durante a permanência no serviço. O cuidado inclui recursos de natureza clínica, medicamentos, moradia, trabalho, lazer, previdência e outros, através do cuidado clínico oportuno e programas de reabilitação psicossocial.
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Os pacientes podem ser acompanhados de forma intensiva, semi-intensiva e não-intensiva, com a execução das seguintes atividades: 
a- atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação...);
b- atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social);
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c- atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio;
d- visitas domiciliares;
e - atendimento à família;
f - atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social.
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Os CAPS são organizados nas modalidades:
CAPS I - Em municípios com população entre 20.000 e 70.000 habitantes. Funciona das 8 às 18 horas, de 2ª. a 6ª. Feira. 
CAPS II - Em municípios com população entre 70.000 e 200.000 habitantes. Funciona das 8 às 18 horas, de 2ª. a 6ª. feira e pode ter um terceiro período, funcionando até 21 horas.
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CAPS III - Municípios com população acima de 200.000 habitantes. Funciona 24 horas, diariamente, também nos feriados e fins de semana.
CAPS i (para a infância e adolescência) - Em municípios com população acima de 200.000 habitantes. Funciona das 8 às 18 horas, de 2ª. a 6ª. feira e pode ter um terceiro período, funcionando até 21 horas.
CAPS ad- Municípios com população acima de 70.000 habitantes. Funciona das 8 às 18 horas, de 2ª. a 6ª. feira e pode ter um terceiro período, até 21hs.
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Objetivos dos CAPS
Prestar atendimento em regime de atenção diária;
Gerenciar os projetos terapêuticos, oferecendo cuidados clínicos, eficientes e personalizados;
Promover a inserção social dos usuários por meio de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas;
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Organizar a rede de serviços de saúde mental de seu território;
Dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica, ESF (Estratégia de Saúde da Família), PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde); Clínicas de Família (matriciamento) 
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Regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental de sua área;
Coordenar, junto com o gestor local, as atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no seu território;
Manter atualizada a listagem dos pacientes de sua região que utilizam medicamentos para a saúde mental. Fonte: MS (Brasil, 2004b)
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RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS:
Os pacientes dividem uma residência, alugada com os recursos públicos, ou vivem sob tutela de suas famílias. Eles recebem cuidados de saúde mental na rede existente no município. Nas residências, estimula-se a participação em atividades sociais, como a inserção no mercado profissional. 
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O Programa De Volta Para Casa, instituído pela Lei 10.708, de 31 de julho de 2003, dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial. Atende ao Art. 5º da Lei 10.216, de 06.04.2001, que determina que os pacientes há longo tempo hospitalizados, ou para os quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida. O principal objetivo é ajudar a ressocialização deles. 
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É parte do Programa o auxílio-reabilitação, pago ao próprio beneficiário durante um ano, podendo ser renovado, caso a pessoa ainda não esteja em condições de se reintegrar completamente à sociedade.
As RTs são mantidas com recursos antes destinados aos leitos psiquiátricos. 
No Brasil existem mais de 470 residências terapêuticas.
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Podem ser beneficiários do Programa "De Volta para Casa" 
Pessoas acometidas de transtornos mentais egressas de internação
psiquiátrica em hospitais cadastrados no SIH-SUS, por um período ininterrupto igual ou superior a dois anos, quando a situação clínica e social não justifique a permanência em ambiente hospitalar e indique a possibilidade de inclusão em programa de reintegração social;  
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Pessoas residentes em moradias caracterizadas como serviços residenciais terapêuticos;   
Pessoas egressas de Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, em conformidade com a decisão judicial (Juízo de Execução Penal). 
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Em 2004, cerca de mil pacientes ingressaram no De Volta para Casa.
Os resultados desse trabalho pela atenção extra-hospitalar vêm rendendo frutos, em 10 anos foram fechados cerca de 84.000 leitos psiquiátricos no país. 
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 Sebastiana foi internada 
 aos 23 anos porque 
 tinha dores psicológicas
 nas pernas. Aos 62 anos 
 foi morar em RT. 
 Conseguiu terminar os 
 estudos e foi 
 contratada por uma 
 ONG.
 
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João ficou 30 anos
 internado. Depois 
que foi morar em RT, 
fez curso para 
garçom 
e trabalha em festas 
no bairro.

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