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As Dimensões da Globalização

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL
UNIDADE DE PENEDO
Sociedade, Natureza e Desenvolvimento: da Realidade Local à Global.
Geraldo Inácio Martins
as dimensões do processo de globalização no mundo contemporâneo: Meio ambiente, pobreza, exclusão e a formação de um mundo global
O tema globalização é recorrente em jornais e revistas de política e economia, em publicações especializadas, em alguns campos das ciências sociais e humanas, etc.
Enfim, todos tem algo a dizer a respeito deste processo, às vezes, tais explicações confunde mais do que esclarece.
Então é preciso indagar: afinal de contas do que se fala quando remete ao termo globalização?
De que modo esta noção consegue explicar as transformações do mundo contemporâneo?
Afinal contas, o que é globalização?
E mais: a quem serve e de que modo a globalização?
Existe apenas uma globalização ou muitas? Como diferenciá-las?
A globalização é a mesma para ricos e pobres (hegemônicos e hegemonizados?)
A intenção da aula:
Construir um quadro teórico e analítico a respeito do conceito de globalização e suas ambiguidades;
A aula é divida em 4 momentos:
I – Conceito de globalização e suas implicações na leitura do mundo contemporâneo;
III- Milton Santos e a globalização;
II- Globalização e a problemática ambiental global;
III- Globalização, exclusão social e pobreza (ou a outra globalização).
GLOBALIZAÇÃO, UM CONCEITO MULTIDIMENSIONAL
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O que é globalização?
Em primeiro lugar, a globalização designa a crescente integração das diferentes partes do mundo, sob o efeito da aceleração das trocas, do impulso das novas tecnologias da informação e da comunicação, dos meios de transporte etc.
Refere-se, também, a processos muito específicos que, para uns, são um prolongamento de tendências antigas e, para outros, marcam um novo período.
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Georges Benko sublinha a multiplicidade do conceito de globalização (ou mundialização para os cientistas franceses).
A Globalização e o economista: É a globalização financeira ou, em outras palavras, a integração dos mercados e das bolsas como consequência das políticas de liberalização do desenvolvimento das novas tecnologias de informação.
A globalização e as políticas: para as relações internacionais, é o fim da bipolaridade. No tempo da Guerra Fria, o mundo era apreendido em termos de relações Leste-Oeste, Norte-Sul.
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A globalização e o historiador: Para o historiador: é uma nova etapa no desenvolvimento de um processo plurissecular: o capitalismo...
A globalização e o geógrafo: É a articulação ampliada dos territórios locais com a economia mundial. 
Estes pontos observados sugerem que a globalização é um conceito multidimensional. 
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Conforme Giddens, Citado por Boa Ventura de Souza Santos (2002, p. 26) a globalização pode ser definida como:
“a intensificação das relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância”.
Isto conduz à:
Sensação de co-presença;
Unificação dos modos de consumir e produzir;
A flexibilização da produção e do mercado de trabalho.
Para o autor os processos de globalização são multifacetados e com dimensões econômicas, sociais, políticas, religiosas e jurídicas, todas, integradas de modo complexo. 
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É devido a complexidade da globalização que explicações monocausais e monolíticas são insuficientes. 
Ex.: A globalização não se explica apenas pela dimensão econômica. 
Além disso, o próprio desenvolvimento da globalização demonstrou a dificuldade de se encaixá-la em padrões teóricos.
Padrões ora sustentado pelas teorias de modernização – a globalização como homogeneização;
Ora sustentado pelas teorias do desenvolvimento dependente – globalização como uniformização. 
No lugar disso, Santos (2002) comenta que:
Combina-se os processos de universalização e eliminação das fronteiras nacionais;
Mas também há o surgimento de particularismos, diversidade local, identidade étnicas e o regresso aos comunitarismo. 
Não podemos esquecer também que na globalização há processos paralelos, às vezes contraditórios, tais como:
Aumento dramático entre países ricos e pobres;
Entre 1985 e 2001, os investimentos direito no estrangeiro cresceram a um ritmo de 20%.
Em 1985 estes valores era de 50 bilhões; em 2001 chegaram à casa 1400 bilhões de dólares. 
Atualmente, 30 % das riquezas mundiais são investimentos no estrangeiro.
Mas, destes 30 % apenas 10 % são aplicados em países pobres ou desenvolvimento.
Destes 10 % boa parte é aplicado na China. E menos de 1% é aplicado no continente africano. (VELTZ, 2004).
Quadro 1: Estoques de investimentos no estrangeiro (em bilhões de dólares)
Fonte: Veltz (2004, p. 108)
Investemno estrangeiro
Recebeminvestimentos estrangeiros
1973
1992
2001
1973
1992
2001
EstadosUnidos
101
489
1381
21
420
1321
Japão
10
248
300
2
16
50
Alemanha
12
189
513
13
126
480
França
9
157
515
6
101
310
Mundo
211
1937
6552
210
1980
6845
De acordo com o Banco Mundial em 1995:
Os países pobres, onde vivem 85, 2 % da população mundial, detém apenas 21,5 % dos rendimentos mundiais.
Os países ricos, no qual vivem 14,2% da população mundial, detém 78,5 % dos rendimentos mundiais.
Uma família africana, em 2000, consumia em 25% a menos do que 30 anos atrás.
20 % da população que vive nos países mais ricos detém 86 % do PIB Mundial.
Os 20 % mais pobres detém apenas 1 % do PIB mundial;
No extrato de 1/5 dos mais ricos concentram-se 93,3 % dos utilizadores da internet. 
A diferença de rendimento entre o quinto país mais rico e o mais pobre era: 1960 - 30 para 1; 1990 – 60 para 1; 1997 – 74 para 1;
Além disso, na globalização outros processos ocorrem paralelamente
No interior dos países, as diferenças entre pobres e ricos aumentam de forma gritante.
Há também o problema da superpopulação
Da crise ambiental
Dos conflitos étnicos e religiosos
Migração massiva
Guerra civil
Considerando a globalização como fenômeno histórico de longa duração Robertson (1994) propõe uma periodização:
Fase I ou embrionária: (do começo do século XV até a metade do século XVIII) – decadência do feudalismo, avanço das explorações geográficas e conquistas territoriais;
Fase II ou incipiente: (da metade do século XVII à década de 1870) – estados unitários se fortalecem, formalização dos conceitos de relações internacionais;
Fase III ou da decolagem: (da década de 1870 até a metade da década de 1920) – aceleração das comunicações, implantação dos calendários universais.
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Fase IV ou da luta-pela-hegemonia: (do começo da década de 1920 até a primeira metade da década de 1960): disputas e guerras em torno dos frágeis termos do processo de globalização; criação das Nações Unidades, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial.
Fase V ou da incerteza: (início de 1960 até o início da dos anos de 1990): inclusão do terceiro mundo nas redes do sistema industrial e do capital; inflação, dívidas, consenso de Washington. 
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O que é globalização?
Com esta periodização podemos observar que a globalização se amplia a partir das década de 1970.
É o momento em que a mobilidade do capital é facilitada pela técnica.
Segundo Boaventura de Souza Santos (2002, p. 25) no período auge “as interações transnacionais conheceram uma intensificação dramática, desde a globalização dos sistemas de produção e das transferências financeiras, à disseminação, a uma escala mundial, das informações, imagens” etc.
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Antes de aprofundarmos nas análises de Boaventura de Souza Santos (2002) é preciso destacar uma distinção elaborada por Ulrich Beck (1999): globalidade e globalismo.
Globalismo: “designa a concepção de que o mercado mundial bane ou substitui, ele mesmo, a ação política; trata-se portanto da ideologia do império do mercado”.
O globalismo restringe a globalização ao fator econômico, é, portanto, um movimento
monocausal, isto é, “pensada de forma linear e deixa de fora todas as outras dimensões – relativas à ecologia, à cultura, à política e à sociedade civil” (BECK, 1999, p. 27).
Segundo o autor “o globalismo é subordinador” dado o fato de que estruturas complexas são reduzidas à lógica da empresa e do mercado.
É, neste sentido, o “imperialismo da economia” sobre as demais esferas da vida.
Imperialismo no qual as empresas impõem as condições sob quais ela poderá otimizar as suas metas.
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Mapa 1: Locais produção e mercados Toyota. 
Fonte: Atlas da Mundialização (2012).
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Mapa 2: Comércio da tríade: Japão, Estados Unidos e União Europeia. 
Fonte: Atlas da Mundialização (2012).
Mas, segundo Ulrich Beck (1999, p. 28) há também a “globalidade”.
Globalidade: significa que “já vivemos há tempos em uma sociedade mundial, o menos no sentido de que a ideia de espaços isolados se tornou fictícia”.
Nenhum país, nenhum grupo consegue se isolar do outro. Para isto contribui as novas tecnologia de informação e comunicação.
Assim, entrechocam-se as diversas formas econômicas, culturais e políticas. Trata-se, portanto, do movimento de construção de uma sociedade “mundial”.
O globalismo é face negativa da globalização e a globalidade a face positiva.
Apesar desta distinção ser importante, é preciso fugir do maniqueísmo.
Para isto, é preciso destacar as múltiplas direções da globalização. A proposta de Boaventura de Souza Santos (2002) ajuda-nos neste processo.
Segundo o autor a globalização se manifesta em pelo menos duas direções: econômica e política, cultural.
O autor parte da seguinte constatação:
No período coevo “a intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionadas por eventos que acontecem a muitas milhas de distância”.
Ou, ao contrário, um evento local torna-se um evento global.
Diante deste quadro de complexidade “as explicações monocausais e interpretações monolíticas desse fenômeno parece inadequada” ( SANTOS, 2002, p.26) . 
A partir disso indaga:
A globalização é fenômeno velho ou novo?
A globalização é monolítica, ou tem aspectos positivos e negativos?
Aonde conduz a crescente intensificação da globalização?
A partir destas questões, ele chega a uma primeira conclusão:
É preciso pensar a globalização como fenômeno processual e de múltiplas escalas; um campo aberto de conflito entre grupos sociais, Estados e interesses hegemônicos, etc..
Globalização econômica
A globalização é um fenômeno antigo, mas no período contemporâneo ritmo é mais acelerado.
Este ritmo acelerado atinge, sobretudo, o papel de regulação do Estado. Isto por dois motivos:
A globalização é um fenômeno muito amplo e vasto que requer mudanças na postura do estado em relação a regulação do Estado.
A diferença da globalização coeva para as pretéritas (que serviram para fortalecer o papel do Estado) a atual produz o seu enfraquecimento.
Uma análise mais rigorosa permite dizer que a globalização econômica tem como base três princípios do Consenso de Washington: 
Estado fraco;
Consenso da democracia liberal de mercado;
Consenso do primado do direito e do sistema judicial ( convenções da OMC – Organização Mundial do Comércio, por exemplo.)
O consenso Estado fraco é, sem sombra de dúvida, o mais central.
Na sua base está a ideia de que o Estado é o oposto da sociedade civil e potencialmente o seu inimigo.
O Estado é inerentemente opressivo e somente reduzindo seu tamanho é possível uma sociedade (de mercado) livre.
Leia: Estado fraco – Estado mínimo.
No entanto, o consenso do estado fraco é o mais frágil de todos.
Isto porque para que haja a desregulação do Estado implica uma intensiva atividade de regulação por parte do Estado.
Os períodos de crises é um dos mais interessantes para se analisar a falácia do Estado fraco.
Consenso da democracia liberal visa dá forma política ao Estado fraco. Segundo o qual a liberdade política caminha juntamente com as liberdades econômicas. 
Consenso sobre o primado direito e do sistema judicial é o quadro legal e jurídico construído para atender o mercado e dar forma ao do período de globalização.
Trata-se da formação do quadro legal para o livre mercado.
Globalização cultural
A globalização enquanto viragem cultural. 
Trata-se de um amplo movimento envolvendo todos âmbitos da cultura, segundo o qual não há mais fronteiras entre povos e nações.
Globalização: padronização cultural – homogeneização.
A globalização se produz pelo encadeamento do global-local, local-global.
 Estes encadeamentos ajuda-nos a compreender a sua natureza. Isto é, compreender:
Os globalismo localizados;
Localismos globalizados;
O global e o local são socialmente produzidos no interior dos processos de globalização.
Não existe globalização genuína, mas sempre a globalização bem sucedida de um localismo. Em outras palavras, “não existe condição global para o qual não consigamos encontrar uma raiz local, real ou imaginada” (SANTOS, 2002, p.63).
Com isto, globalização pressupõem também localização.
O elemento que cria o global é o mesmo que atua na produção do local.
Exemplo de elemento global que pressupõem o local: a língua inglesa.
Mas, existe fenômenos que embora estejam intimamente ligados ao global vivem prisioneiros do local. Um favela carioca com suas músicas, por exemplo. 
Nesse sentido, o local participa da globalização tanto pela inclusão como pela exclusão ou inclusão subalterna.
Daí surge as dinâmicas do local globalizado e da globalização localizada. 
Local globalizado: quando determinado fenômeno local é globalizado com sucesso.
Trata-se do local vitorioso na ampla luta de simbolização do período atual.
A globalização (ou globalismo) localizado é quando os imperativos da globalização se materializam, ganham formas concretas no lugar.
Neste caso, as condições do local são desintegradas para dar lugar a cultura global, a economia global, ao modo de produção global, etc.
O turismo é um grande produtor de globalização localizada. 
O local é incorporado passivamente na ordem global.
Referências
BECK, Ulrich. O que é globalização? Equívocos do globalismo, resposta à globalização. Tradução de André Carone. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
BENKO, Georges. Mundialização da econômica, metropolização do mundo. Revista de Geografia, São Paulo, nº. 15, p. 45-64, 2002. 
ROBERTSON, R. Mapeamento da condição global: globalização como conceito central. In: EATHERSTONE, M (Dir.). Cultura global. Petrópolis: Vozes, 1994.
SANTOS, Boaventura de Souza. Os processos de globalização. In: ______(Org.). Globalização e as ciências sociais. 2ª ed. Cortez: São Paulo, 2002. p. 25-101.
 
MILTON SANTOS E A GLOBALIZAÇÃO
Documentário:
https://archive.org/details/Milton_Santos_-_O_mundo_global_visto_pelo_lado_de_ca

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