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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Escola Politécnica Saneamento e Saúde Professor José Maurício Fiuza VETORES, CONTROLE (GERAL) E ALIMENTOS I. Introducão 3 II. Como os vetores relacionam-‐se coma nutrição. 7 III. Controle Integrado de Pragas em estabelecimentos de alimentos 8 IV. Legislação 9 V. A dinâmica do ambiente 9 VI. Medidas preventivas 10 VII.Bibliografia 14 I. Introducão No Brasil e no mundo há um sério problema, que envolve pragas e vetores e que muitas vezes é desconhecido pela população. As complicações concernentes a esses seres, vão desde prejuízos na produção de alimentos, bem como contaminações alimentares, até outras doenças causadas por contato direto com os mesmos. Vetor é um ser vivo capaz de transmitir de forma ativa (estando ele mesmo infectado) ou passiva um agente infectante (parasita, protozoário, bactéria ou vírus), ou seja, é um meio em que o agente etiológico utiliza para ser transmitido. Existem vários tipos e famílias de vetores, mas os mais conhecidos por transmitir doenças são o Aedes aegypti, que transmite dengue e febre amarela, Anopheles, responsável pela transmissão da malária, Culex, transmissor de uma doença causada por um verme, chamada filariose e o barbeiro, um percevejo responsável pela transmissão da doença de chagas. Além destes, há as chamadas pragas urbanas que são as baratas, que podem transmitir hanseníase e hepatite, formigas, que carregam vírus e bactérias que causam as infecções hospitalares, cupins, ratos, cigarras, moscas que podem transmitir também várias doenças. Há uma diferença entre vetor biológico e vetor mecânico. Vetor biológico é um agente que ajuda na replicação de um patógeno, eles são geralmente infectados repetidamente pelo agente causador da doença, onde ocorre nele uma fase do desenvolvimento do agente etiológico, como por exemplo, mosquitos, roedores, suínos, moscas, baratas. Já os mecânicos, é o vetor que carrega o patógeno, mas o patógeno não se modifica no vetor, a infecção em vetores mecânicos tende a ser curta e ele é considerado nada mais do que um transportador, por exemplo, uma mosca doméstica transporta microrganismos acidentalmente ao pousar sobre material infectante, como uma lesão ativa em mucosas, causando uma doença chamada tracoma. Baratas, roedores e suínos também são considerados vetores mecânicos. A contaminação provinda de vetores pode vir de contato direto ou até por ingestão acidental de algum alimento que esteja contaminado por ele, como por exemplo, a Doença de Chagas, onde em todos os casos, a penetração do parasito pode ocorrer pela mucosa oral íntegra ou lesada. Em humanos, esse tipo de transmissão acontece de forma esporádica e circunstancial por ingestão de diferentes tipos de alimentos contaminados pelo parasito, tais como, caldo de cana, polpa de açaí, sopas, comida caseira, leite e carne de caça semicrua. Geralmente são encontrados vetores ou reservatórios infectados nas imediações da área de produção, manuseio ou utilização dos alimentos contaminados, e que houve muitos surtos em estados brasileiros como Santa Catarina, Pará, Paraíba e Amazonas e também há registros desse tipo de ocorrência na Colômbia, Argentina e México (Sousa et al, 2011). Os artrópodes também tem uma importância médica, já que transmite doenças. Dentre os artrópodes se encontram os piolhos, que é vetor do tifo exantemático, causado por Rickettsiaprowazekii, Pthiruspubis(chato), ácaros que causam dermatites e podem transmitir vírus e serem transmissores de muitas doenças e carrapatos. Eles são os animais que mais afetam a qualidade de vida dos homens através de sua simples presença, da possibilidade de causar prejuízos à agricultura e no armazenamento de alimentos, de afetar estruturas residenciais, ou pela ameaça que podem causar a saúde pública (COSTA et al, 2006). Outro problema que envolve o ataque de vetores e que vem aumentando são as alterações climáticas, pois as modificações de temperatura e o regime de chuvas podem trazer maior abundância e disseminação de vetores e patógenos, podendo causar até pandemias, além das secas, que também traz as queimadas florestais, onde além de causar doenças respiratórias, espalham os vetores de doenças como o mosquito transmissor da malária para os centros urbanos. A migração dos vetores para áreas quentes que não contavam com tais transmissores será um grave problema de saúde pública, pois os sistemas de saúde, se não tiverem uma visão de longo prazo e proativa, serão pegos de surpresa por doenças que antes não era habitual do local e a economia dos países, principalmente os em desenvolvimento, poderá ser seriamente abalada sob essa condução. Fatores de ordem biológica, geográfica, ecológica, social, cultural e econômica atuam sinergicamente na produção, distribuição e controle das doenças vetoriais, também conhecidas como metaxêmicas. Se, para algumas delas, existe tratamento médico, preventivo ou curativo bastante eficaz e efetivo, como a vacina contra a febre amarela e a oxamniquine e opraziquantel para as esquistossomoses, para a maioria, as medidas de controle são complexas por envolver diferentes elos da cadeia de transmissão. A forma como o setor saúde se organiza para controlar estas doenças tem variado ao longo do tempo, ora centralizando-se em estruturas institucionais de âmbito federal, ora baseando suas ações em esferas estaduais ou municipais. O modelo proposto pelo atual Sistema Único de Saúde (SUS) implica responsabilização de todos os níveis de governo pela prevenção e controle de doenças . O comportamento do indivíduo e da família em relação ao ambiente afeta diretamente a saúde, devendo-se então, o controle das doenças vetoriais não ser feita exclusivamente nas unidades de saúde. O lixo é um fator de contaminação do solo e da água e também tem papel importante na transmissão de doenças, uma vez que os vetores como moscas, mosquitos, baratas e roedores, encontram no lixo alimento e condições ideais para proliferação. Logo, devem ser seguidas práticas relacionadas à higiene pessoal e da habitação, saneamento básico, e controle de insetos e roedores, pois a adoção de práticas conducentes à promoção da saúde é condição para manutenção do ambiente saudável. Muitos talvez não saibam, mas as pragas e vetores custam caro à nação brasileira e até mesmo reflete de maneira negativa na reputação do Brasil no exterior, bem como em diversas áreas, a exemplo na exportação, no custo do SUS e INSS, no turismo entre outros. O Brasil perde cerca de 25% da produção nacional de alimentos por causa das pragas e vetores. estima-se que 50% das contaminações alimentares são causadas por pragas e vetores; calcula-se que 28% dos atendimentos do SUS, em todo Brasil, são causados por problemas gastrointestinais, diarreias, úlceras, problemas alérgicos e dermatológicos. Alguns insetos são inofensivos e úteis ao homem. Na verdade, é a grande maioria dos insetos, uma vez que sem os quais muitas plantas e árvores que fornecem alimento ao homem e aos animais não seriam polinizadas nem dariam frutos. Um grande número se alimenta exclusivamente de plantas, ao passo que alguns comem outros insetos. Por outro lado há também aqueles que danificam plantações. Mas os piores são os que causam doenças e morte. As doenças transmitidas por vetores (insetos) “provocaram mais mortes desde o século 17 até a parte inicial do século 20 do que todas as outras causas somadas”, diz Duane Gubler, dos Centrosde Controle e Prevenção de D o e n ç a s , d o s Estados Unidos. —-> Veja alguns vetores, doenças transmitidas e controle de forma detalhada, no “Manual de Saneamento” aqui no moodle !. II. Como os vetores relacionam-se coma nutrição. A alimentação, como é sabiso, é um processo essencial para a manutenção da vida do ser humano, já que garante o desenvolvimento dos processos naturais do organismo. Nessa perspectiva a produção de alimentos é ponto chave para manutenção da boa saúde, e alimentos seguros têm importância crítica para a qualidade de vida do ser humano, pois garante que a alimentação proporcione a nutrição das células e do organismo e evita o desenvolvimento de doenças. A necessidade de uma alimentação segura propiciou a criação de órgãos competentes para o controle da produção de insumos. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária são os órgãos responsáveis por esse controle, e para tanto instituem legislação específica, portarias, resoluções sobre procedimentos de controle que visam à redução e eliminação dos riscos de contaminações de alimentos, desde seu preparo, processamento, passando pelo transporte, distribuição, armazenamento, até seu consumo. A importância disso está no fato de que alimentos contaminados poderem gerar surtos de doenças de origem alimentar que afetam a saúde dos consumidores (GERMANO & GERMANO, 2003). Existem três tipos de contaminação; de origem física, origem química e de origem biológica, sendo a última a de interesse desse trabalho. A contaminação biológica se subdivide em macrobiológica, que é ocasionada por moscas, caramujos, pulgões, lesmas, formigas e roedores; e microbiológica, causada por parasitas, vírus, fungos e bactérias. O foco do estudo são os contaminantes macrobiológicos, que além de serem contaminantes por si, são vetores dos contaminantes microbiológicos (SILVA JR., 1997). Segundo Heller, 1998 o controle de vetores de doenças transmissíveis, especialmente artrópodes e roedores é uma ferramenta que compõe o saneamento, que constitui o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem estar físico, mental ou social. Esse controle porém é de difícil implementação devido as condições higiênico sanitárias a que a população é exposta e nesse contexto os vetores continuam sendo veículo de doenças para o ser humano. Devido a importância dos vetores dentro do contexto da alimentação e nutrição do ser humano, o presente trabalho se compõe no intuito de investigar as causas dessa contaminação e os meios de se sanar esse problema, assim como compreender os efeitos ocasionados pela contaminação de insumos por esses vetores. III. Controle Integrado de Pragas em estabelecimentos de alimentos O controle de pragas é um tema de grande discussão haja vista que emprego, quando realizado quimicamente, com ajuda dos praguicidas, interesses milionários. O aumento da temperatura global e mesmo a escassez de água tem fortes implicações na ocorrência de pragas como pode ser nesse presente ano (2015) uns dos principais indutores epidemiológicos da dengue em todoBrasil e, particularmente, São Paulo. Assim, não se deve desprezar o controle biológico, a exemplo da liberação de machos infertéis realizada em alguns municípios de São Paulo ao uso de nossa flra nativa em que a citronella afasta os mosquitos ou se tenta a cura da esquissitosomose com chás de carqueja. A nossa cultura popular para controle de moscas a exemplo dos sacos plásticos comágua que se coloca no teto de alguns estabelecimentos é de fato efetivo uma vez que a visão das moscas subdividem o campo de visão em centenas de pequenos mosaicos e o que ela vê refletido num saco com água pode amedrontá-la fazendo que ela evite esses ambientes. Assim, o controle de pragas em restaurantes, lanchonetes, cozinhas industriais, refeitórios de qualquer estabelecimento é um item obrigatório a ser considerado, pois o risco de contaminação dos alimentos em decorrência da presença de pragas é enorme. Algumas pragas podem ser vetores de doenças diversas, como disenteria, difteria, salmonelose, tuberculose, entre outras. IV. Legislação O controle de pragas em estabelecimentos de alimentos é regido pela Resolução de Diretoria Colegiada RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Aplica-se aos serviços de alimentação que realizam as seguintes atividades: cozinhas institucionais, restaurantes, lanchonetes, cantinas, entre outros. Dessa forma, uma empresa, laboratório ou indústria de qualquer ramo de atividade que contenha um restaurante, lanchonete ou similar em seu estabelecimento, deve tomar providências quanto ao controle de pragas urbanas nesses locais. O item 4.3.1 assim define: “A edificação, as instalações, os equipamentos devem ser livres de vetores e pragas urbanas. Deve existir um conjunto de ações eficazes e contínuas… com o objetivo de impedir a atração, acesso ou proliferação dos mesmos”. Para o controle, o item 4.3.2 especifica: “Quando as medidas de prevenção não forem eficazes, o controle químico deve ser executado por empresa especializada…”. Em estabelecimentos produtores ou industrializadores de alimentos, a RDC nº 275 de 21 de outubro de 2003 estabelece o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados (os POPs). Um dos procedimentos se refere ao controle integrado de pragas. No item 4.2.6, a Resolução especifica: “Os POPs referentes ao controle integrado de vetores e pragas urbanas devem contemplar as medidas preventivas… No caso de adoção de controle químico, o estabelecimento deve apresentar comprovante de execução de serviço fornecido pela empresa especializada contratada…”. V. A dinâmica do ambiente O controle de pragas nesses ambientes requer uma análise criteriosa do ambiente físico e das condições de higienização, armazenagem e entrada de mercadorias no local. É sempre bom lembrar que nesses locais o aporte de alimentos é extraordinário, e muitas vezes um controle químico será bastante limitado pelo risco de contágio dos alimentos. Outras vezes, a iscagem para controle de ratos será restrita a alguns pontos, e o uso de gel para controle de baratas ou formigas poderá ser muito prejudicado pela competição com os alimentos disponíveis num determinado local. Algumas vezes o local se apresenta limpo, com uma boa infra-estrutura, mas pode ocorrer a invasão das pragas dentro das caixas de papelão, das embalagens plásticas que envolvem alguns alimentos, em especial os grãos, massas e farelos, nos pallets de madeira. Alguns carunchos (pequenos besouros) ou baratas de cozinha podem invadir estes estabelecimentos dessa forma. Outras vezes alguma reforma é iniciada no local, aumentando os locais de acesso que antes não ocorria. Ou quando a reforma é iniciada na vizinhança, em algum imóvel anexo, disseminando as pragas para outros locais. Pode acontecer com a proliferação de ratos, por exemplo, quando seus ninhos são perturbados por conta de uma limpeza em um terreno baldio. Ocorreram casos em que a importação de pragas, especialmente carunchos e ovos de barata de cozinha, foi em decorrência do armazenamento, pelos funcionários, de pacotes de biscoito ou outro alimento dentro dos armários dos vestiários. Em vários locais desses estabelecimentos a higienização é diária, muita vezes realizadas duas vezes ao dia. Desse modo, a aplicação de inseticidas na forma líquida será efêmera. O controle de pragas deve ser estudado na abrangência desse contexto, sob o risco de subdimensionar o problema, exigindo mais intervenções e desgaste junto ao cliente.VI. Medidas preventivas Mais importantes que o controle químico, as medidas preventivas tem forte impacto na redução da presença e proliferação das pragas em qualquer estabelecimento. Uma análise criteriosa deve ser realizada, sempre com o cuidado de associar alguma falha estrutural com os aspectos comportamentais da praga em questão: onde ela busca abrigo, de que forma pode invadir o ambiente, quais recursos ela busca, quais fontes de água e alimento podem estar disponíveis. Para evitar a entrada de insetos, verificar ralos sem proteção, portas e janelas com vedação insuficiente, sistemas de fechamento automático das portas inoperante, frestas na parede, onde o encanamento ou tubulação adentra em algum ambiente. Para ratos, verificar também se existem grelhas quebradas, ou vãos entre as telhas de fibrocimento, no caso de infestação por ratos de telhado. Nas áreas externas, evitar a presença de entulho, deixar o gramado bem aparado, acondicionar o lixo bem protegido e vedado, não deixar amontoados objetos em desuso, inspecionar os veículos de carga, evitar que caixas de madeira ou de papelão entrem no estabelecimento. Inspecionar também os “pallets”, pois podem abrigar baratas de cozinha em suas frestas. Nas áreas internas, muito cuidadas com as frestas em azulejos e nas paredes, que podem abrigar baratas de cozinha ou ninhos de formigas. Todas essas ações devem ser seguidas de um programa de procedimentos de boas práticas que envolverão os funcionários, para os devidos cuidados com a higienização, manutenção de equipamentos, que impeçam o aparecimento das pragas. O conjunto das medidas preventivas, conscientização dos funcionários da mudança de alguns hábitos, e o controle químico terão o resultado esperado no controle de pragas nesses estabelecimentos. Por possuir grande importância na transmissão de doenças através dos alimentos os vetores veem sendo alvo de diversos estudos, segundo Ianni e Mady (2005) e Dias (2006), foram encontradas evidencias de contaminação por Trypanosoma cruzi em caldo de cana e em suco de açaí, em algumas localidades os vetores (barbeiros) foram identificados e foi comprovado que estavam infectados com o parasita provocando casos de agudos de Doença de Chagas nas pessoas que ingeriram as bebidas contaminadas. Os dois artigos se referem ao conhecimento prévio datado das décadas de vinte e quarenta sobre a contaminação oral por parte do Trypanosoma cruzi, já nessa época estudos realizados demonstravam a presença desse microorganismo no sangue de animais que haviam consumido vetores (moscas) previamente contaminados. Vários experimentos foram feitos na área que comprovavam a existência da contaminação via oral. “Desde 1987 sabe-se que o Trypanosoma cruzi pode permanecer infeccioso por 24 horas no caldo de cana” (IANNI, MADY, 2005). Ainda segundo Ianni, Mady, (2005) na Amazônia, os três primeiros casos foram registrados em 1966, também com contaminação via oral. Até 2001 havia 148 casos informados na Amazônia brasileira, sendo 121 agudos, com cinco mortes. Somente no Pará, 71 casos foram notificados, incluindo dezessete microepidemias familiares, principalmente por ingestão de suco de açaí contaminado. Os estudos de Dias (2006) apontam o relato de Mazza e cols., sobre transmissão por leite materno, outras observações assinalaram casos de transmissão oral em Teutônia (RS), no Pará, na Paraíba, na Colômbia, na Argentina, no México e na Amazônia, registrando-se mais recentemente um surto em Santa Catarina (2005). Um outro episódio parece ter ocorrido no Ceará, em 2006, segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Em acidentes de laboratório, a contaminação oral foi comprovada em técnicos que se infectaram pela ingestão de formas de cultura ou de sangue contaminado, enquanto que pelo menos um caso (na Argentina) deveu-se a ingestão comprovada de carne de caça. A transmissão oral ao homem já foi registrada com linhagens Z1 e Z2 do parasita. Esses estudos demonstram a necessidade de um trabalho de prevenção contra os vetores desse microorganismos e por isso medidas simples como adequado armazenamento de insumos e pré-lavagem do material para que haja retirada de materiais infectantes e diminuição da chance de ocorrência infecções. As formigas também foram estudadas, sendo constatados por Costa (2006) que esses artrópodes são os vetores de microrganismos no serviço de nutrição e dietética do Hospital Escola da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, bem como foi verificado por Schuller (2004) em unidades de alimentação na região de São Paulo. Costa (2006) explana que os artrópodes são os animais que mais afetam aqualidade de vida dos homens através de sua presença, da possibilidade de causar prejuízos à agricultura e no armazenamento de alimentos, de afetar estruturas residenciais, ou pela ameaça que podem causar a saúde pública. Nos últimos anos, a atenção está se voltando para as formigas que quando ocorrem em hospitais, são vetores de patógenos, podendo ser encontradas também em alimentos estocados. Schuller (2004) destaca a presença das formigas nas Unidades de Alimentação e Nutrição, que na atualidade são essenciais para garantia da qualidade de vida do ser humano, pois devido a correria do dia a dia as refeições realizadas nas UANs substituem refeições realizadas em domicílio e dessa forma podem ser veículo importante de contração de doenças. Dessa forma a prevenção de vetores é essencial no serviço para que não haja a contaminação dos alimentos por microrganismos patógenos. Também foi evidenciada em 50% dos estabelecimentos a presença de vetores mecânicos, tendo a mosca doméstica como o principal vetor. Em estudo realizado por Mennucci (2010) com analise de amostras de carne de sol comercializadas em “Casas do Norte” em Diadema, foram identificados matérias estranhas prejudiciais a saúde, sendo em sua maioria de espécimes pertencentes à Ordem Diptera, representados pelas moscas domésticas. As moscas são vetores de organismos patogênicos para o homem, dentre eles estão as bactérias, como Shigella sp. e Vibrio cholerae, além de vírus entéricos, protozoários e helmintos. Mennucci (2010) também encontrou em 6,8% das amostras pelos de roedores. Esta evidência é indicativa da presença e/ou infestação por roedores no estabelecimento, e de que o produto entrou em contato direto com o animal ou com suas fezes, pois, ao lamber-se, o roedor ingere os pelos e os elimina nas fezes. Os roedores são importantes animais portadores da Salmonella spp., eliminando este agente para o ambiente, juntamente com suas fezes, podendo transmitir esse microrganismo para o homem pelos alimentos que entrar em contato. Em pesquisa desenvolvida por Prado (2002) em um Hospital na cidade de Goiânia, foram coletadas 103 baratas nas copas da enfermaria e do centro cirúrgico, 93 baratas estavam contaminadas por algum tipo de microrganismo, sendo a Klebsiella pneumoniae a espécie mais prevalente nas baratas coletadas, seguida por Enterobacter aerogenes, Serratia marcescens, Hafnia alvei, Enterobacter cloacae e Enterobacter gergoviae. Todas essas enterobactérias podem ser associadas a surtos e epidemias hospitalares. Para que isso não ocorra é necessário evitar que esses insetos entrem em contato com os alimentos para que não haja contaminação. Assim, os alimentos devem ser mantidos em recipientes fechados, o ambiente deve ser mantido livre de fragmentos e restos de alimentos ou matéria orgânica, as lixeiras devem ficar fechadas e devem ser esvaziadas com frequência, a estrutura física deve ser continuamente monitorada, e as frestas em paredes, portase rodapés, assim como as rachaduras nos sistemas de distribuição de água, esgoto e eletricidade, devem ser vedadas. Os estudos analisados e o trabalho de Heller (1998) nos mostram a intrínseca relação entre saneamento, saúde e a prevenção de doenças. Um bom planejamento de saneamento prevê a prevenção de vetores por meio de desinssetização, desratização e outras práticas que impedem que os vetores alcancem os alimentos e possa dessa forma contaminá-los com patógenos, dessa forma o planejamento sanitário da cidade e dos locais de produção de alimentos é essencial para a garantia da produção de alimentos seguros para o consumo humano. Além das ações preventivas, as ações corretivas também são importantes no contexto da produção de alimentos, pois a manutenção das práticas de dedetização e a observação do ambiente para repetir a ação quando necessárias são ferramentas utilizadas nas áreas de produções de alimentos como forma de garantir a não contaminação de insumos através de vetores. É possível notar que o Saneamento é fundamental apara a garantia da segurança alimentar e desenvolvimento das ações em promoção e prevenção de saúde, inclusive no tocante a produção de distribuição de alimentos. As questões sanitárias devem ser levadas em consideração no planejamento estrutural de cidades e unidades de produção e fornecimento de alimentos e ações corretivas e preventivas nessa área precisam ser utilizadas corretamente para a existência de uma saúde de qualidade. VII.Bibliografia MANNES, C. Controle de Pragas é Saúde. Revista Vetores e Pragas, Rio de Janeiro, nº 13, p. 22-231. Agosto 2003. MARTINS, J. F. e LUCHESE, R. 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