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STJ - Usucapiao de Carro Roubado - Impossibilidade

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Superior Tribunal de Justiça
 RECURSO ESPECIAL N° 247345 - MG (2000/0010052-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : IARA LÚCIA BRAZ DE SOUZA
ADVOGADO : ALOÍSIO AUGUSTO CORDEIRO DE ÁVILA E 
OUTRO
RECORRIDO : BRADESCO SEGUROS S/A
ADVOGADO : JOSÉ AUGUSTO MOREIRA PIMENTEL
EMENTA
Recurso Especial. Usucapião ordinário de bem móvel. Aquisição 
originária. Automóvel furtado.
- Não se adquire por usucapião ordinário veículo furtado.
- Recurso Especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da 
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e 
das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer 
do recurso especial. Os Srs. Ministros Castro Filho, Ari Pargendler e Carlos 
Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, 
justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.
Brasília (DF), 04 de dezembro de 2001 (Data do Julgamento).
Ministro Ari Pargendler
Presidente
Ministra Nancy Andrighi
Relatora 
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Superior Tribunal de Justiça
 RECURSO ESPECIAL N° 247.345 - MG (2000/0010052-8)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RELATÓRIO
Yara Lúcia Braz de Souza ajuizou ação de usucapião sobre coisas 
móveis contra Anísio Lourenço Bardado, e, Companhia Bradesco de 
Seguros S/A., objetivando que fosse declarado por sentença a propriedade e o 
domínio da autora sobre o veículo automotor que adquiriu de José Roberto de 
Oliveira Pena, no dia 8 de novembro de 1993.
Afirma a autora que o seu antecessor adquiriu o veículo em 23/7/90. 
Há mais de três anos, portanto, a requerente vem dando continuidade à posse 
do antecessor, como adquirente de boa-fé, de forma mansa, pacifica e 
ininterrupta.
O réu não contestou a ação, mas a seguradora o fez, tendo sido o 
pedido julgado procedente em primeiro grau de jurisdição.
Em apelação o Tribunal de Alçada de Minas Gerais, exarando juízo 
substitutivo, por maioria, julgou improcedente o pedido exordial, invertendo-se 
o ônus da sucumbência.
Opostos Embargos Infringentes, por maioria, foram estes rejeitados, 
tendo sido a ementa do julgado das teses enfrentadas no acórdão recorrido 
enunciada nos seguintes termos:
"USUCAPIÃO - VEÍCULO FURTADO
- Não se adquire por usucapião o veículo furtado.
- O simples fato de ser furtado o veícuclo não impede a aquisição por 
usucapião, desde que a posse se tornou pública não apenas pelo trânsito normal do 
mesmo, como por sua regulamentação perante o DETRAN, (votos vencidos - Juiz 
Ernante Fidélis e Juiz Lopes de Albuquerque)"
Foi, então, interposto o presente Recurso Especial, com espeque no 
art. 105, III, letras V e "c", da CF.
Alega a recorrente que, em assim decidindo, o acórdão recorrido, além 
de divergir da jurisprudência de outros Tribunais, violou os seguintes 
dispositivos legais:
a) art. 618 do CC - "Adquirirá o domínio da coisa móvel, o que a possuir 
como sua sem interrupção, nem oposição, durante três anos".
b) art. 552 do CC - "O possuidor pode, para fins de contar o tempo exigido 
pelo artigo antecedente, acrescentar à sua posse a do seu antecessor (art. 496), 
contanto que ambas sejam contínuas e pacíficas".
c) art. 496 do CC - "O sucessor universal continua de direito a posse do seu 
antecessor, e ao sucessor singular é facultado unir a sua posse à do antecessor para 
efeitos legais";
d) art 490 do CC "E de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício ou o 
obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa ou do direito, possuído.
Parágrafo único - o possuidor com justo título tem por si a presunção de 
boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta 
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presunção".
Afirma para tanto que:
a) a posse exercida sobre o veículo foi exclusiva, contínua, mansa e 
pacífica, sendo exercida de boa-fé, com base em justo título, tendo inclusive 
ultrapassado os 3 anos exigidos em lei, com inequívoco "animus domini".
b) o certificado de propriedade de veículo do Detran da Paraíba, dá-nos 
conta que, Francisco de Souza Ramos, antecessor de Daniel José da Silva, que 
vendeu o veículo para o antecessor do autor, adquiriu o referdio veículo em Campina 
Grande/PB, portanto, há mais de cinco anos, tempo suficiente para torná-lo usucapido, 
independentemente de boa-fé.
c) a recorrida não provou que a posse da recorrente não era de boa-fé, 
limitando-se somente a dizer que o título não é justo, e sim falso;
d ) má-fé não se presume, não sendo o caso dos autos em que a autora não 
tinha ciência de estava comprando coisa furtada;
e) não se confunde justo título com título hábil, mesmo porque, se, para 
formação de título justo, quem transmitisse devesse ser dono, desnecessário seria o 
usucapião;
f) se cessa a clandestinidade pela inscrição nas repartições administrativas e 
pelo uso da coisa, há posse, passível de usucapião;
h) o título de aquisição é formalmente justo, pois se fundou na forma própria 
de transmissão de bens móveis, a tradição, e a posse, durante período de mais de 
três anos, foi pública pelo uso e pela documentação na respectiva repartição 
administrativa
i) não se pode levar em conta que a embargante é adquirente posterior à 
consolidação da propriedade no primitivo possuidor, não sendo nem caso de accessio 
possessionis, mas já de aquisição de bem adquirido. Neste caso, se a embargante 
adquiriu um veículo, já de três anos na posse pública e notória do antigo possuidor, 
com documentação administrativa normal, negar-lhe a aquisição legítima é contraria 
frontalmente a lei expressa;
Contra-razões às fls. 231/235
Recurso admitido na origem.
É o relatório. 
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 RECURSO ESPECIAL N° 247.345 - MG (2000/0010052-8)
RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI
VOTO
Prefacialmente, importa observar que a causa de pedir apontada pela 
autora na petição iniciai foi a concretização em sua posse do veículo automotor 
objeto de furto, de forma mansa e pacífica pelo decurso de prazo de três anos, 
razão pela qual, pretende a adquiri-lo de Anísio Lourenço Bardado.
O pedido e a causa de pedir servem de baliza à prestação jurisdicional. 
Seus limites devem ser observados em qualquer grau de jurisdição, à exceção 
de questões de ordem pública que admitem até o segundo grau de jurisdição 
exame de ofício.
Neste diapasão, o tema suscitado a esta Corte se cingirá à 
controvérsia delineada, que afora as questões eminentemente fácticas trazidas 
pela recorrente, pode ser identificada como a análise em tese da viabilidade de 
se usucapir bem móvel (veículo automotor) objeto de furto.
Dispõe o art. 618 do CC:
Adquirirá o domínio da coisa móvel, o que a possuir como sua sem 
interrupção, nem oposição, durante três anos.
Parágrafo único: não gera usucapião a posse, que se não firme em justo 
título, bem como a inquinada, original ou supervenientemente de má-fé.
Portanto, para se usucapir bem móvel é preciso que sejam satisfeitos 
os pressupostos de direito material para a aquisição do domínio; possuir como 
sua sem interrupção, nem oposição, durante três anos coisa móvel, baseada 
em justo título e boa-fé.
Sobreleva em importância dentre os requisitos acima citados que a 
requerente tenha posse.
A posse é acontecimento no mundo fáctico.
Não basta a crença no título, na causa de adquirir se a posse inexiste.
 É o que ocorre com os bens objeto de furto, pois estes não são 
passíveis de serem adquiridos "como próprio".
Como ensina Pontes de Miranda, in Tratado das Ações, Tomo I, pág.:
230:
"Para que haja usucapião, é preciso que tenha havido posse própria, posse 
como de dono. A teoria da posse influi no conceito de posse para usucapir, porém 
apenas no sentido de se poder abstrair do animus, como do corpus, quando as 
circunstâncias permitem que, sem aquele, ou sem esse, exista posse própria. Daí 
serem impertinentes algumas caracterizações do animus domini, que se encontram na 
jurisprudência (e. g, 2a Turma do Supremo Tribunal Federal, 12 de junho de 1942, AJ 
65/300, RD 142/221). É inconfundível com a boa-fé o fato de ser própria a posse, isto 
é, a posse de dono (2a Turma, 25 de abril de 1944, AJ 71/310). O ladrão tem posse 
própria (Juízo de Direito de Sele Lagoas, Minas Gerais, 9 de março de 1938, RF 
74/329). Se a posse ê a título precário, não basta para a usucapião do domínio, não 
porque seja viciosa, (erro da 2a Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo), mas 
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porque seria insuficiente o suporte fático: não se fez "própria".
In casu, Yara Lúcia Braz de Souza adquiriu em 8 de novembro de 1993 
de "José Roberto de Oliveira Pena" o automóvel, cuja propriedade pretende 
adquirir pela forma originária do usucapião.
Seu antecessor adquiriu o veículo de Daniel José da Silva, que portava 
documentos comprobatórios do registro do veículo no Detran-PB em 23 de 
julho de 1990.
A ação foi ajuizada em julho de 1994.
Desta forma, também a posse de seu antecessor não aproveita à 
autora, para fins de contar o tempo exigido para o usucapião, pois sendo o 
bem objeto de furto não se reconhece que sobre ele possa se exercer posse 
pacífica, já que a qualquer momento pode-se perder o bem pela descoberta do 
registro falso apresentado fraudulentamente para fins de alienação.
Ainda que induzida a erro por lhe ter sido apresentada documentação 
falsa ou que ignorasse a origem ilícita do bem, tal fato não transmuda o caráter 
precário da posse que lhe foi transmitida, nem induz boa-fé e justo título.
É que a posse a título precário exclue a intenção de possuir a coisa 
como própria e, por ser vício absoluto, torna impossível a prescrição aquisitiva 
por usucapião ordinário.
Assim, ainda que tenha havido uma cadeia de transmissões do 
automóvel, não tendo o proprietário, segundo a premissa fáctica estabelecida 
no voto vencedor, "negligenciado na posse do bem tanto que, cuidou de fazer 
lavrar a ocorrência policial, quando aconteceu o furto, e em razão disso o bem 
acabou sendo apreendido, quando a autora apelada quis transferi-lo para o seu 
nome" não é possível perdê-lo, por meio de usucapião ordinário quer por titulo 
próprio, quer por accesssio possessionis.
Isto porque, nos termos do art. 492 do CC, mantém a posse, salvo 
prova em contrário, o mesmo caráter com que foi adquirida.
Se o veículo é objeto de furto continua ostentando condição precária, 
pelo que injusta é a posse de quem quer que a detenha no lapso temporal 
necessário ao usucapião ordinário.
Por oportuno, ensina o já citado Pontes de Miranda:
"Para a acessão da posse, é preciso que o que a alega tenha posse: "Ei, qui 
non possidet, auctoris possessio accedere non potest"; "Acessio sine nostro tempore 
nobis prodesse non potest; "Acessio nemini proficit ei, qui non possedit". O que não 
possui não pode aceder à posse de outrem. Se não temos tempo nosso para aceder 
ao de outrem não podemos pensar em acessão. Acessão não aproveita a quem a 
possui. Acede à posse de outrem a posse que se tem, se se sucedeu ao predecessor. 
Se falta posse de outrem a posse que se tem, se se sucedeu ao predecessor. Se falta 
posse, no intervalo, não há cogitar-se de acessão: "si medius aliquis ex auctoribus non 
possederite, praecedentium auctorum possessio non proderit, quia coniuncta non est" 
(Venuleio, L 15, § 1, D, de diversis temporalibus praescriptionibus et de accessionibus 
possessionum, 44, 3).
A acessão ocorre não só pelo tempo em que a coisa esteve em poder 
daquele de que alguém a comprou como também pelo tempo em que esteve em poder 
de quem vendeu à pessoa a quem comprou. Mas, se alguém dentre os predecessores 
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(medius aliquis ex auctoribus) não houver possuído, não aproveitará a posse dos 
autores anteriores, pois que não está conjunta, como também não pode aceder à 
posse do predecessor quem não possui".
Diante destas considerações, inexistem as violações à lei federal 
apontadas pela recorrente como viabilizadoras da admissibilidade do presente 
Recurso Especial.
Forte nestas razões, NÃO CONHEÇO do recurso especial.
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 CERTIDÃO DE JULGAMENTO 
TERCEIRA TURMA 
Número Registro: 2000/0010052-8 RESP 247345 / MG
NÚMEROS ORIGEM: 105940048322 2527622
PAUTA: 09/10/2001 JULGADO: 04/12/2001
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ARI PARGENDLER
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ARMANDA SOARES FIGUEIREDO
Secretária
Bela SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : IARA LÚCIA BRAZ DE SOUZA
ADVOGADO : ALOÍSIO AUGUSTO CORDEIRO DE ÁVILA E OUTRO
RECORRIDO : BRADESCO SEGUROS S/A
ADVOGADO : JOSÉ AUGUSTO MOREIRA PIMENTEL
ASSUNTO : Civil - Direito das Coisas - Propriedade - Usucapião
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA ao apreciar o processo em 
epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso especial."
Os Srs. Ministros Castro Filho, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes 
Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.
O referido é verdade. Dou fé.
Brasília, 04 de dezembro de 2001
SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO
Secretária
Documento: IT21581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/03/2002 Página 7 de 7

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