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1 FUNDAMENTOS DE ECONOMIA– Prof. Érik Dominik BARBOSA, Fernando de Holanda. A estabilização inacabada. Revista de Economia Mackenzie, 2012, n.1, p. 11-26. DOMINIK, Érik Campos. O déficit público e a inflação nos anos 70, 80 e 90. Belo Horizonte: UFMG, 1995. DOMINIK, Érik Campos. Padrão de Consumo Familiar em diferentes estágios de ciclo de vida e níveis de renda no município de Bambuí-MG. Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 23, n.1, p. 201-225, 2012. FERREIRA, Vera Rita de Mello Ferreira. Psicologia econômica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. LIMA, Lucas Silvério de. Regimes cambiais adotados no Brasil: 1968-1999. SOArtigos, 2009. OLIVEIRA, Gilson; PACHECO, Marcelo. Mercado financeiro. São Paulo: Fundamento, 2005. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1989. SOUZA, Nali de Jesus de Souza. Economia básica. São Paulo: Atlas, 2007. TROSTER, Roberto Luís; MOCHÓN, Francisco. Introdução à economia. São Paulo: Makron Books, 2002. VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Economia: micro e macro. São Paulo: Atlas, 2002. VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2000. VARIAN, Hal R. Microeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 1994. VICECONTI, Paulo E. V.; NEVES, Silvério das. Introdução à economia. 6 ed. São Paulo: Frase, 2003. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS................................................................................. 2 1.1 CONCEITO DE ECONOMIA E FLUXO CIRCULAR BÁSICO.................................................. 2 1.2 HISTÓRIA DA MOEDA..................................................................................................................... 2 1.3 PRODUTO E RENDA......................................................................................................................... 4 1.4 INFLAÇÃO........................................................................................................................................... 7 2 MACROECONOMIA: METAS, POLÍTICAS E MERCADOS........................................... 8 2.1 METAS MACROECONÔMICAS..................................................................................................... 8 2.2 POLÍTICA FISCAL............................................................................................................................ 9 2.3 POLÍTICA MONETÁRIA................................................................................................................. 14 2.4 POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL......................................................................................... 18 2.5 POLÍTICA DE RENDAS.................................................................................................................... 24 2.6 MERCADOS MACROECONÔMICOS (bens e serviços, trabalho, monetário, títulos, divisas) 24 3 ESTRUTURA DE MERCADO (conc. perf. e imperfeita, monopólio, oligopólio, particulares).. 28 4 TEORIA DO CONSUMIDOR (premissas, valor de uso, utilidade, maximização do consumo).. 30 5 ANÁLISE DE DEMANDA E ELASTICIDADES....................................................................... 33 5.1 ANÁLISE DE DEMANDA (relação preço e quantidade, relação renda e quantidade)............... 33 5.2 ELASTICIDADES (preço-demanda, preço-cruzada demanda, renda-demanda, preço-oferta) 36 6 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO...................................................... 40 6.1 LEI DE DEMANDA E LEI DE OFERTA........................................................................................ 40 6.2 EQUILÍBRIO DE MERCADO (condições de endogeneidade, condições de exogeneidade)........ 41 7 TEORIA DA PRODUÇÃO................................................................................................................... 44 7.1 MINIMIZAÇÃO DO CUSTO (isoquanta, isocusto, escolha ótima)............................................... 44 7.2 PRODUTIVIDADE (função de produção, produtividade, rend. decrescentes, estágios prod.)... 45 7.3 MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO (isolucro, escolha ótima)................................................................ 51 7.4 CUSTOS DE PRODUÇÃO (conceitos básicos, equilíbrio geral da produção).............................. 52 A TRABALHO DE VARIAÇÃO DA CESTA BÁSICA................................................................................. 55 2 1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS 1.1 CONCEITO DE ECONOMIA E FLUXO CIRCULAR BÁSICO Economia vem das palavras gregas “oikos” (casa) e “nomos” (lei, normas), derivando, daí, as “regras da casa” ou a “administração da casa”. Muitos são os conceitos atribuídos à ciência econômica, entre eles: “Economia é a ciência social que estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços que são utilizados para satisfazer as necessidades humanas” (VICECONTI; NEVES, 2003). “A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade” (TROSTER; MOCHÓN, 2002). “Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2000). Simplificadamente, pode-se dizer que a economia é a ciência que gerencia recursos e administra a escassez. O fluxo circular básico da economia pode ser assim considerado: A Economia pode ser dividida em duas grandes áreas: a Macroeconomia e a Microeconomia. A Macroeconomia é a área da economia que estuda a economia agregada, abrangendo todos os setores e unidades econômicas. A Macroeconomia possui várias subáreas, como Economia Internacional, Economia Monetária, Economia do Setor Público, Política Econômica etc. A Microeconomia é a área da economia que estuda setores específicos e/ou unidades econômicas individualmente. É dividida, basicamente, em Teoria do Consumidor (ou Teoria dos Preços) e Teoria da Produção (ou Teoria da Firma), sendo as demais subáreas, como Equilíbrio de Mercado e Estrutura de Mercado. Além disso, existem outras áreas que não estão classificadas como micro ou macro, que são: História do Pensamento Econômico, Economia Brasileira, Economia Política, entre outras. 1.2 HISTÓRIA DA MOEDA Inicialmente, não existia a moeda como existe hoje. Fazia-se a troca direta ou o escambo, ou seja, trocava-se mercadoria por mercadoria. O excedente da produção ou do extrativismo era trocado por outros bens que se faziam necessários. Com o tempo, algumas mercadorias se destacaram como bens que eram utilizados como meio de troca, dando origem às primeiras moedas (mercadorias-moeda ou moedas-mercadoria). Fazia-se uma troca indireta: mercadoria x mercadoria-moeda x mercadoria. As mercadorias-moeda mais FAMÍLIAS EMPRESAS GOVERNO Consumo e mão-de-obra Salário e produtos Subsídios e compras Impostos e produtos Impostos e mão- de-obra Transf. sociais e salários 3 comuns eram o boi (pecus = gado, daí se deriva palavras como pecúlio e pecuniário), o peixe, vasos de cerâmica, sal (daí se deriva a palavra salário, com o que era pago parte do “soldo” dos soldados romanos), entre outras. A dificuldade de se carregar as mercadorias-moeda e a indivisibilidade das mesmas geraram a necessidade de se estabelecer uma moeda que servisse como equivalente geral. O metal, por apresentar vantagens como a possibilidade de entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, elegeu-se como principalpadrão de valor, principalmente o ouro e a prata. Era a moeda metálica. Para facilitar a pesagem e evitar fraudes no peso do metal, criou-se a moeda cunhada, com inscrições geralmente em forma de efígies, inicialmente em barras nem sempre bem polidas e, depois, em formas mais geométricas. Com a formação dos Estados, a moeda institucionalizada surgiu para facilitar as trocas e dar maior conotação material ao valor das mercadorias. Por guardar o ouro nos bancos por razões de segurança, os ourives emitiam recibos (os primeiros papéis-moeda) conversíveis em ouro, ou seja, tinham o lastro no metal precioso. Os recibos acabaram virando moeda, pois eram trocados por outras mercadorias, já que possuíam a garantia de quem os cunhava (moeda fiduciária, “fidúcia” vem de confiança). Era a moeda fiduciária com lastro. Acontece que os ourives perceberam que a maioria das pessoas não buscava o ouro nos bancos, isto é, somente trocavam papéis por mercadorias e começaram a emiti-los acima da quantidade de ouro que guardavam nos cofres. Em outras palavras, o problema desse mecanismo é que poucos eram os que reclamavam seus direitos em ouro e se contentavam em ter sua riqueza simplesmente expressa no papel-moeda. Esta percepção levou à emissão do papel acima das reservas auríferas, revelando uma crise de materialização do valor das mercadorias e de insolvência do sistema. Era a moeda fiduciária (fidúcia = confiança) parcialmente lastreada (lastro = garantia, alicerce) em ouro ou a moeda fiduciária sem lastro. Fez-se necessária, então, a constituição de um sistema monetário com uma presença mais ativa do Estado e com o monopólio das emissões por um Banco Central. O novo sistema se tornou importante por várias razões. Em primeiro lugar, a exogeneidade adquirida com um Estado mais ativo impediu as flutuações mais extensas do estoque de ouro, já que a moeda era lastreada no metal e as possíveis descobertas de minas fariam com que esse estoque de ouro variasse. Em segundo lugar, o monopólio das emissões por um Banco Central permitiu certo controle, por parte do Estado, da quantidade de moeda existente na economia, apesar do poder de criação e destruição de moeda pelos bancos comerciais, permitindo determinadas condições mínimas para se fazer política monetária. Além disso, foi criada a reserva compulsória, uma garantia que o banco comercial deve ter disponível para evitar as insolvências do sistema. Logo, começaram a circular novas moedas escriturais (cheques, ordens de pagamento, títulos de crédito), que são papéis que servem como dinheiro sem ser dinheiro vivo. No século XIX, o ouro funcionava como um equivalente geral e todo papel-moeda era conversível ao metal precioso. Tinha aceitação geral e possibilitava estabilidade de preços. Isto porque o ouro constituía o lastro do sistema monetário vigente, cujo estoque de meios de pagamento variava diretamente com a quantidade do metal. Como a sua demanda era ampla e a oferta restrita, seu preço era alto. Como sua quantidade não flutuava em excesso, seu preço era estável. Esse sistema se denominava padrão-ouro. Com o fim do padrão-ouro (início do século XX) com o aumento da demanda por moeda e o descontrole da emissão de moeda, o que causou sua desvalorização e uma consequente inflação, tornou-se necessária a criação de um sistema monetário internacional. Reuniu-se a Conferência de Bretton Woods (EUA, 1944) e foram apreciadas duas propostas, o Plano White e o Plano Keynes. Foi adotado o Plano White, assim chamado por causa do negociador norte-americano Harry Dexter White, que derrotou o Plano Keynes, criado pelo representante inglês e economista John Maynard Keynes, que previa a criação de uma moeda internacional. No Plano White, são indicados o dólar norte-americano e a libra esterlina (moeda do Reino Unido) como padrões de conversão e moedas de reserva. O valor delas é vinculado ao do estoque de ouro daqueles países e é convertido em taxas fixadas pelo Fundo 4 Monetário Internacional (FMI). Na prática, com o fortalecimento da economia norte-americana, o dólar transforma-se na única moeda internacional. Com a evolução da tecnologia, foram criadas ainda as moedas eletrônicas, como o cartão de crédito, que tem a capacidade de “criar moeda” com a utilização do crédito. O pagamento com cartão de débito, embora seja um importante canal de transações eletrônicas, é apenas um avanço tecnológico ao cheque e a outros meios de pagamento da moeda escritural. Fases da História da Moeda 1. Escambo � troca direta � mercadoria x mercadoria 2. Mercadoria-moeda � troca indireta � mercadoria x mercadoria-moeda x mercadoria 3. Moeda metálica � ouro, prata, cobre, níquel etc. 4. Moeda cunhada � cunhagem de valores e efígies 5. Moeda fiduciária com lastro � moeda lastreada em padrões-referência, como o ouro 6. Moeda fiduciária sem lastro � moeda não lastreada 7. Moeda escritural � moeda contábil 8. Moeda eletrônica � moeda “criada” por meio eletrônico 1.3 PRODUTO E RENDA Abaixo, estão relacionados alguns conceitos de produto e renda, importantes para a referência de um país no âmbito internacional. • PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) � valor agregado de todos os bens e serviços produzidos dentro do país, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, soma das riquezas produzidas dentro de um país (SANDRONI, 1989). • PRODUTO NACIONAL BRUTO (PNB) ���� valor agregado de todos os bens e serviços resultante da mobilização de recursos nacionais, independentemente dos território econômico em que esses recursos foram produzidos (SANDRONI, 1989). • RLEE ���� Renda líquida enviada ao exterior, correspondente à diferença entre a renda enviada ao exterior (REE) e a renda recebida do exterior (RRE). RLEE = REE – RRE PNB = PIB – RLEE ou PNB = PIB – (REE – RRE) Exemplo: Suponha, hipoteticamente, que só existam dois países no mundo e que o Brasil possua um PIB de cerca de US$ 1 trilhão e o PIB norte-americano seja de US$ 11 trilhões. Suponha também que a renda líquida enviada do Brasil para os EUA seja de US$ 300 bilhões (0,3 trilhão) e a renda enviada dos EUA para o Brasil seja de US$ 100 bilhões (0,1 trilhão). Quanto seria o PNB do Brasil e dos EUA? Resolução: PNB Brasil = 1 – (0,3 – 0,1) = 1 – 0,2 = US$ 0,8 trilhões ou US$ 800 bilhões. PNB EUA = 11 – (0,1 – 0,3) = 11 + 0,2 = US$ 11,2 trilhões Três óticas do PIB O PIB, em sua análise, possui três óticas: da produção, da renda e do dispêndio (ou gasto). Se fosse possível calcular com exatidão tudo o que é produzido, recebido e gasto, todos os cálculos do PIB dariam o mesmo resultado. • PRODUÇÃO � PIB (Y) = ∑ das riquezas produzidas nos três setores da economia: primário (agropecuária e extrativismo), secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços). Esta ótica representa tudo o que é produzido pelos agentes econômicos (Oferta Agregada). 5 • RENDA � PIB (Y) = S + J + L + A (SALÁRIOS + JUROS + LUCROS + ALUGUÉIS). Esta ótica representa tudo o que foi recebido pelos agentes econômicos (Renda Nacional). • GASTO ou DISPÊNDIO � PIB (Y) = C + I + G + (X – M) (PIB = CONSUMO + INVESTIMENTO + GASTOS DO GOVERNO + EXPORTAÇÕES LÍQUIDAS (EXPORTAÇÕES – IMPORTAÇÕES)). Esta ótica representa tudo o que foi gasto pelos agentes econômicos (Demanda Agregada). Ciclo de crescimento da economia • Crescimento do PIB ���� variação percentual do PIB (positiva ou negativa) em um determinado período de tempo. Estimativa do PIB das maiores economias, 2013 País PIB (US$ trilhões) 1 EUA 16,522 2 China 8,057 3 Japão 6,058 4 Alemanha 3,691 5 França 2,923 6 Reino Unido 2,743 7 Brasil 2,735 8 Rússia 2,403 9 Itália 2,304 10 Índia 1,900 11 Canadá 1,875 Fonte: FMI • Ciclo Econômico (SANDRONI, 1989): •RECESSÃO ���� “Conjuntura de declínio da atividade econômica, caracterizada por queda da produção, aumento do desemprego, diminuição da taxa de lucros e crescimento dos índices de falências e concordatas. Essa situação pode ser superada num período breve ou pode estender-se de forma prolongada, configurando então uma DEPRESSÃO ou CRISE ECONÔMICA”. • DEPRESSÃO ���� “Fase do ciclo econômico em que a produção entra em declínio acentuado, gerando queda nos lucros, perda do poder aquisitivo da população e desemprego”. • PROSPERIDADE ���� “Um dos períodos do ciclo econômico, marcado pelo incremento das atividades econômicas em geral e pelo ambiente de otimismo”. • RECUPERAÇÃO � Um dos períodos do ciclo econômico, marcado pela recuperação da atividade econômica após um período de recessão ou depressão. Possibilidades de produção Problemas econômicos fundamentais: 1. O QUE E QUANTO PRODUZIR: o que é decidido pelo que se avalia em relação aos desejos dos consumidores e quanto pela expectativa do encontro entre oferta e demanda de mercado. 6 2. COMO PRODUZIR: resolvido no âmbito das empresas, é uma questão de eficiência da produção. Que métodos intensivos ou não utilizar? 3. PARA QUEM PRODUZIR: decidido no mercado de fatores de produção (capital, terra, mão- de-obra), é uma questão distributiva: quem será beneficiado pela produção, quais setores, quais regiões, quais nichos de mercado? Curva de possibilidades de produção (CPP) Dados os problemas econômicos fundamentais (o que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir), a curva de possibilidades de produção (CPP), segundo Vasconcellos e Garcia (2000), “é um conceito teórico que ilustra como a questão da ESCASSEZ impõe um LIMITE À CAPACIDADE PRODUTIVA de uma sociedade, que terá de fazer ESCOLHAS entre alternativas de produção” 1. Suponhamos uma economia que produza simplesmente máquinas e alimentos. No ponto A, todos os fatores de produção (capital, trabalho, terra, etc.) seriam alocados para a produção de máquinas. No ponto E, seriam direcionados somente para a produção de alimentos. Nos pontos B, C e D, intermediários, os fatores de produção seriam alocados na produção de um e de outro bem. Curva de possibilidades de produção (CPP) Fonte: Vasconcellos e Garcia (2000). Qualquer ponto sobre a CPP significa que a economia está operando em PLENO EMPREGO e todos os fatores de produção estarão sendo utilizados. Qualquer ponto interno à curva significa que a economia está ociosa ou em DESEMPREGO e qualquer ponto externo significa uma combinação impossível de produção, pois os fatores de produção e a tecnologia não são suficientes para se produzir tais quantidades. Quando se aloca os fatores de produção de um bem x para produzir um bem y, tem-se um CUSTO DE OPORTUNIDADE que é igual ao sacrifício de se deixar de produzir o bem x para se produzir o bem y. Numa economia aberta, é semelhante a análise quando se deixa de produzir e exportar o bem x, que acaba sendo importado, para produzir e exportar o bem y, que, no momento, oferece maiores rendimentos que o bem x. Esta lei denomina-se LEI DAS VANTAGENS COMPARATIVAS. Analogamente, a CAPACIDADE INSTALADA das indústrias é a capacidade potencial de utilização dos fatores de produção disponíveis, é o máximo onde se pode chegar, é o que está instalado nas indústrias. Ex.: Imagine uma empresa com 10 máquinas e 20 empregados disponíveis para operar essas máquinas. Esta é a capacidade instalada de uma indústria. Já a CAPACIDADE UTILIZADA é o percentual de utilização da capacidade instalada das indústrias. Ex.: Se, por ocasião de uma demanda retraída, estiverem sendo utilizadas 8 máquinas e 16 pessoas, a indústria está com capacidade utilizada de 80%. A CAPACIDADE OCIOSA é o percentual não utilizado da capacidade instalada, é a diferença entre a capacidade instalada e a capacidade utilizada. Ex.: Se a empresa está utilizando 80% da capacidade instalada, 20% da capacidade está ociosa, ou seja, se a demanda melhorar, ainda existem 20% da capacidade para serem utilizados. 1 Maiúsculos do autor. 7 1.4 INFLAÇÃO A inflação é o aumento generalizado nos preços, sendo calculada como uma média ponderada de todos os preços da economia. Já a deflação é o inverso da inflação, a inflação negativa, a queda generalizada dos preços. A principal consequência do processo inflacionário, segundo Souza (2007), “são as distorções dos preços relativos, porque variam com taxas diferentes. O preço do cimento pode subir mais do que o preço do ferro para construção; os salários podem crescer menos do que os preços dos produtos alimentares”. Os principais tipos (causas) de inflação são: Demanda: a inflação de demanda é aquela causada pelo aumento do consumo de bens e serviços, sobretudo quando não há capacidade ociosa na economia e a oferta não consegue atender a demanda no curto prazo. Com a demanda agregada maior que a oferta agregada (D>S), a tendência é de os preços subirem. A origem da inflação é no aumento da demanda. Oferta: a inflação de oferta é causada pela diminuição da oferta de bens e serviços, elevando os preços. Neste caso, a oferta agregada será menor que a demanda agregada (S<D) e a origem da inflação é na redução da oferta. No grupo de oferta, há também a inflação de custos, na qual os aumentos dos custos das empresas são repassados aos preços, como: elevação dos preços dos insumos e matérias-primas; choque de petróleo; quebra de safra; aumento de salários, margens de lucro, tributos, tarifas de importância, taxas de câmbio e juros. Inercial: é a inflação psicológica, presente na memória inflacionária dos agentes econômicos, que faz com que haja especulação quanto à expectativa futura, baseada na inflação anterior (indexação). Foi a grande responsável pela hiperinflação dos anos 1980 e início dos anos 1990 e foi atacada pelo Plano Real, a partir de 1994. A inflação também é diretamente relacionada com a oferta de moeda existente. Caso haja uma grande de emissão de moeda sem o correspondente crescimento do Produto Interno Bruto, ou seja, sem mais produtos e serviços para serem comprados com esse incremento de moeda em poder do público, naturalmente os preços dos produtos e serviços existentes terão uma tendência de se tornarem mais altos. Trade-off entre inflação e crescimento econômico O aumento dos agregados macroeconômicos (consumo, investimento, gastos do governo, exportações), além de contribuir para o crescimento econômico, gera inflação. A partir daí, cria-se um trade-off (dilema): como crescer sem gerar inflação? Segurar a inflação e crescer menos ou crescer mais com a inflação? Duas correntes se formam a partir deste dilema: monetaristas x desenvolvimentistas. Os monetaristas privilegiam o controle da inflação para, depois de estabilizada, se pensar em crescimento econômico. Os desenvolvimentistas toleram um pouco de inflação e privilegiam o crescimento econômico. A taxa de juros é um instrumento importante desse controle. Reduzir a taxa de juros significa contribuir para o crescimento econômico na medida em que se consome e se investe mais com uma taxa de juros menor, mas o crescimento da inflação acaba sendo inevitável. Quando se aumenta a taxa de juros com o objetivo de se segurar a inflação, segura-se também o crescimento econômico. Tem-se aí o principal trade-off (dilema) da economia: o aumento da taxa de juros reduz a inflação (ótimo), mas também reduz o PIB (péssimo); a diminuição da taxa de juros gera aumento do PIB (ótimo), mas também da inflação (péssimo). 8 Exercício de fixação: 1) Faça um pequeno texto explicando a história da moeda e as suas etapas. 2) O que significa a CPP? Dê um exemplo, relacionandoos conceitos de emprego e desemprego com os de capacidade instalada, ociosa e utilizada. 3) Quais os principais tipos de inflação? Como a inflação ocorre em cada um dos tipos? 4) Explique o trade-off existente entre inflação e crescimento. Qual o papel da taxa de juros neste dilema? 2 MACROECONOMIA: POLÍTICAS ECONÔMICAS, METAS E MERCADOS As políticas macroeconômicas podem ser definidas como o conjunto de ações ou medidas capitaneadas pelo setor público que visam atingir as metas macroeconômicas. As principais políticas macroeconômicas são: a política fiscal (política tributária + política de gastos), a política monetária (política monetária + política creditícia), a política cambial (política cambial + política comercial) e a política de rendas. As políticas expansionistas são aquelas que fazem o produto expandir, ou seja, aqueles que causam um incremento no consumo, no investimento, nos gastos do governo e nas exportações ou inibem a poupança, as importações e a arrecadação de tributos. As políticas contracionistas são aquelas que fazem o produto contrair, ou seja, inibem o consumo, o investimento, os gastos do governo e as exportações e incentivam a poupança, as importações e a arrecadação de tributos. Antes, porém, de estudar as políticas econômicas em si, é preciso compreender as metas a serem atingidas. 2.1 METAS MACROECONÔMICAS Para Vasconcellos e Garcia (2000), são quatro as grandes metas de política macroeconômica, numa ordem sequencial mais ou menos lógica. São elas: 1) a estabilidade de preços; 2) o crescimento econômico; 3) o pleno emprego de recursos ou alto nível de emprego; e 4) distribuição de renda socialmente justa. Estabilidade de preços A inflação traz muitas distorções sobre, por exemplo, a distribuição de renda e as expectativas dos agentes econômicos. Com uma alta inflação, não se pode planejar o consumo ou o investimento a médio e a longo prazos. O alto consumo a curto prazo provoca a reação dos agentes econômicos sempre no sentido de aceitar e provocar um aumento considerável de inflação. Se o círculo vicioso persistir, pode-se chegar a um processo hiperinflacionário, como já aconteceu no Brasil. A simples estabilização dos preços traz uma expectativa favorável de consumo a médio e longo prazos e de um crescimento econômico consistente. Inflação anual (IPCA/IBGE): 4,46% (2007); 5,90 (2008); 4,31% (2009); 5,91% (2010), 6,5% (2011), 5,84% (2012). Crescimento econômico É importante que a economia esteja em crescimento, para que se favoreça a criação de empregos e a melhora da renda. Uma vez que há novas injeções de recursos na economia, os agentes econômicos irão despender (gastar, consumir, investir) mais, gerando mais emprego e renda, que, por sua vez, propiciarão a injeção de mais recursos e assim por diante. É o círculo virtuoso do crescimento econômico. Produto Interno Bruto (IBGE): 6,1% (2007); 5,1% (2008); -0,2% (2009); 7,5% (2010); 2,7% (2011), 0,9% (2012). 9 Pleno emprego de recursos (capital e mão-de-obra) ou alto nível de emprego Vencidas e mantidas as metas de estabilidade de preços e de crescimento econômico, é hora de alcançar o pleno emprego ou um alto nível de emprego. Após a crise dos anos 30, percebeu-se a necessidade da intervenção do Estado através de políticas econômicas que garantissem o acesso dos trabalhadores ao mercado de trabalho, evitando altas taxas de desemprego. Quanto menor a taxa de desemprego, maiores as possibilidades de haver uma melhor distribuição de renda. Taxa de desocupação dezembro (IBGE): 7,4% (2007); 6,8% (2008 e 2009); 5,3% (2010), 4,7% (2011), 4,7% (2012). Distribuição de renda socialmente justa A distribuição de renda sempre foi um fator crônico na economia brasileira, agravado com o Milagre Econômico, que foi um período de grande crescimento econômico, mas com uma distribuição de renda a favor dos segmentos mais abastados da população. Observa-se, atualmente, uma concentração significativa da renda nas classes mais altas, em detrimento das classes mais baixas, embora a renda per capita do brasileiro e o tamanho relativo da classe média estejam aumentando nas últimas décadas. Segundo o jornal O Globo, de 23/10/2010, o Brasil “tem a terceira pior distribuição de renda do mundo”, medida pelo Coeficiente de Gini: 1º: 0,60 (Bolívia, Camarões e Madagáscar); 2º: 0,59 (África do Sul, Haiti e Tailândia); 3º: 0,56 (Brasil e Equador) (http://outrapolitica.wordpress.com/2010/07/25/brasil-tem- terceira-pior-distribuicao-de-renda-do-mundo/). As metas de crescimento econômico e de pleno emprego devem sempre estar acompanhadas da distribuição justa da renda para evitar distorções ainda maiores na pirâmide socioeconômica. 2.2. POLÍTICA FISCAL A política fiscal visa administrar o crescimento econômico e a inflação, por meio do controle da arrecadação de impostos (política tributária) e das despesas do governo (política de gastos). Orçamento público O governo estabelece uma previsão orçamentária para um determinando exercício, incluindo tanto a arrecadação de tributos quanto os gastos. Porém, em muitos casos, a previsão não corresponde ao que é realizado, porque pode-se gastar e/ou arrecadar mais ou menos que o previsto. Carga tributária O Brasil, em 2009, estava entre os dez países com maior carga tributária do mundo. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil subiu quatro posições de 2008 para 2009, ocupando a 14ª colocação no ranking, com uma carga tributária de 34,5% do PIB (http://ibpt.com.br/img/publicacao/13891/189.pdf). Entretanto, o maior problema não está exatamente na magnitude da carga tributária, mas no retorno que ela traz à sociedade. Neste quesito, o País está numa situação ainda pior. Em estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), retratado em uma entrevista à Folha de São Paulo (http://ibpt.com.br/home/publicacao.view.php?publicacao_id=13992), “entre os 30 países com as maiores cargas tributárias, o Brasil é o que proporciona o pior retorno dos valores arrecadados em bem-estar para seus cidadãos”. Em outras palavras, a carga tributária é alta e o retorno é baixo. Veja duas informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário: 10 Déficit público Quando o governo gasta mais do que arrecada (G > R, gastos maiores que receitas), possui um déficit público2. Quando arrecada mais do que gasta (R > G, receitas maiores que gastos), tem um superávit público. Quando gasta tanto quanto arrecada (G = R, gastos iguais às receitas), possui um orçamento equilibrado. O déficit público não é senão a diferença entre o que o governo gasta (custos diretos de administração, investimentos públicos, juros das dívidas interna e externa e transferências etc.) e o que arrecada (impostos, contribuições, juros a receber etc.) em um determinado período de tempo. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal3 (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000), o governo tem que fechar suas contas, não podendo gerar déficit público sem que o pague. Por outro lado, por pressão popular, o superávit tende a ser revertido para a população ou para pagamento da dívida interna. Portanto, o orçamento equilibrado é a melhor das três alternativas. Quando se retira os juros da dívida pública do conceito de déficit nominal, tem-se o conceito de déficit ou superávit primário. Quando o déficit primário diminui ou o superávit primário aumenta, significa que a proporção dos gastos com a dívida pública diminuiu e a proporção dos gastos com a sociedade aumentou. 2 Principais conceitos de déficit público: déficit nominal é o déficit convencional, como tratado no texto; déficit operacional é o déficit nominaldecrescido das correções monetária e cambial da dívida; e déficit primário é o déficit operacional decrescido dos juros da dívida. 3 Trechos da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2010: Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição. § 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições (...). Art. 31. Se a dívida consolidada de um ente da Federação ultrapassar o respectivo limite ao final de um quadrimestre, deverá ser a ele reconduzida até o término dos três subsequentes, reduzindo o excedente em pelo menos 25% no primeiro. § 2o Vencido o prazo para retorno da dívida ao limite, e enquanto perdurar o excesso, o ente ficará também impedido de receber transferências voluntárias da União ou do Estado. Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. 11 Dívida pública Uma vez que o governo não consegue evitar o déficit público em determinado exercício e que, por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal, tem que cumprir as suas obrigações com os credores e honrar os seus compromissos, deve procurar pagar o déficit público por meio de uma das fontes de financiamento disponíveis, o que se denomina necessidade de financiamento do setor público, como se pode ver nos exemplos a seguir. NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (%PIB) DÉFICIT PÚBLICO4 1991 1992 R$ mi % PIB R$ mi % PIB Nominal Total 31 24,5 691 44,2 Operacional Total -2 -1,4 34 2,2 Governo Central 0 -0,3 12 0,8 Gov. estados e municípios -1,7 -1,2 12 0,8 Empresas estatais 0 0,1 10 0,6 Primário Total -4 -3,0 -38 -2,4 Governo central -1 -0,9 -22 -1,4 Gov. estados e municípios -2 -1,4 -6 -0,4 Empresas estatais -1 -0,7 -10 -0,7 Total juros reais Total 2 1,6 72 4,6 Fonte: Adaptado do Banco Central do Brasil (1995). NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (em R$ mi) 2003 (jan-dez) 2004 (jan-dez) 2005 (ago-jul) Déficit Nominal 79.030 47.142 51.257 Déficit Operacional 44.253 - 24.828 - 452 Déficit Primário - 66.173 -81.112 - 97.061 Juros Reais 110.426 56.284 121.162 PIB 1.556.182 1.776.621 1.880.888 NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (% PIB) 2003 (jan-dez) 2004 (jan-dez) 2005 (ago-jul) Déficit Nominal 5,08 2,67 2,73 Déficit Operacional 2,84 - 1,41 1,28 Déficit Primário - 4,25 - 4,59 -5,16 Juros Reais 7,10 3,19 6,44 Fonte: Banco Central do Brasil. Assim, o governo procura financiar-se da melhor forma possível, fugindo da oneração e das possíveis consequências negativas que o déficit possa trazer para o ajustamento da economia. Segundo Kandir (1989, apud DOMINIK, 1995): A rigor, não há nenhum problema macroeconômico na existência de um déficit público, desde que este seja financiável de maneira apropriada. Um déficit é financiável adequadamente quando há fontes de financiamento em termos de disponibilidade e custos que não impliquem no futuro uma perspectiva de incapacidade ou custos elevados de financiamento. Há duas formas de financiar o déficit público: a emissão de moeda (Tesouro Nacional pede emprestado ao Banco Central) e a dívida pública (externa e interna). Como a emissão de moeda é 4 Na tabela, as necessidades de financiamento do setor público estão relacionadas aos conceitos nominal, operacional e primário de déficit. O total de juros reais refere-se ao déficit financeiro, descontada a correção monetária. A soma desse componente ao déficit primário resulta no déficit operacional. O numeral negativo significa superávit. 12 iminentemente inflacionária e, desde o Plano Real, não se emite mais moeda para este fim, o governo tem apelado para a dívida pública, notadamente a dívida interna. A dívida externa consiste na contratação de empréstimos junto a credores estrangeiros – dependendo de aprovação do governo federal para que aconteça – e nas operações de investidores estrangeiros envolvendo títulos de médio e curto prazo. Nos últimos anos, a dívida externa tem sido fonte segura de financiamento, com juros razoáveis e perfil de médio e de longo prazo. Essa segurança depende da facilidade de crédito e do poder de barganha com os credores, determinados, em parte, pela condição financeira do governo. Atualmente, as reservas internacionais brasileiras são suficientes para pagar a dívida externa, o que motiva especulações de que a dívida foi paga, o que não é verdade. Já a dívida interna se dá basicamente através da venda de títulos pelo governo para credores brasileiros e requer a confiança do público interno na remuneração desses títulos. Do contrário, as taxas de juros se elevarão cada vez mais a fim de atrair os recursos privados e se transformarão em encargos que comprometerão ainda mais o déficit. De acordo com Piscitelli (1990, apud DOMINIK, 1995), “os déficits levam ao endividamento; o processo de endividamento crônico e a falta de saneamento das finanças públicas, com o crescimento dos encargos e a rolagem da própria dívida, acabam por criar um círculo vicioso, podendo tornar crônico o próprio déficit”. Durante muito tempo, quando o financiamento através da dívida, dadas as condições externas e internas, não era suficiente para cobrir o déficit, o governo se valia de uma forma de financiamento tanto evitada e combatida quanto praticada: a emissão de moeda. Esta emissão era uma das principais responsáveis causas da hiperinflação brasileira. O problema da emissão é que ela estava diretamente vinculada ao processo inflacionário e era elemento sancionador tanto da inflação como da fragilidade financeira do setor público. Com a moeda perdendo o lastro de sua emissão, o governo também perdia o controle da política monetária na medida em que não conseguia diminuir o déficit público e os seus mecanismos de controle da oferta monetária só faziam transferir recursos para os devedores do Estado. 13 Uma vez que, após o advento do Plano Real, não mais é utilizada a emissão de moeda para financiar o déficit público, os juros da dívida pública tornaram-se os alimentadores da fragilização financeira do setor público, funcionando como uma bola de neve. “O Plano Real interrompeu o financiamento do déficit público por meio da emissão de moeda. Todavia, ele passou a ser financiado com dívida pública, produzindo um endividamento em bola de neve e uma taxa de juros real que inibe o crescimento econômico” (BARBOSA, 2012). Na figura abaixo, encontram-se o círculo vicioso da economia e o da dívida pública. O déficit público, financiado por títulos públicos, aumenta a dívida pública. Aumentando a dívida pública, há uma desconfiança entre os investidores de que o governo não honrará os compromissos com os pagamentos dos títulos. A desconfiança aumenta o risco país e a fuga dos capitais investidos, o que aumenta a procura por dólares na saída, e o câmbio se desvaloriza. A desvalorização do câmbio eleva a inflação, tanto pelo aumento dos custos dos produtos importados quanto pelo aumento das exportações. Para conter a inflação, os juros são elevados e a dívida pública se eleva ainda mais. O CÍRCULO VICIOSO DA ECONOMIA O CÍRCULO VICIOSO DA DÍVIDA PÚBLICAFigura: O círculo vicioso da dívida pública Fonte: Autor (2012) Figura: O círculo vicioso da Economia Fonte: Oliveira e Pacheco (2005) O ajuste fiscal Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, o governo é movido a realizar um ajuste fiscal, ou seja, controlar o orçamento público dentro dos limites estabelecidos em lei, aumentando a arrecadação de tributos e/ou diminuindo (cortando) gastos. Para tanto, lança mão da política tributária e da política de gastos. A primeira se concentra na arrecadação de tributos e a segunda visa o controle das despesas do governo. Resumidamente, quando o objetivo da política econômica é o crescimento econômico (expansionista), pode-se aumentar os gastos do governo e/ou diminuir a arrecadação de tributos. Se o objetivo é diminuir a inflação (contracionista), faz-se o inverso, cortando gastos e/ou aumentando a carga tributária. Em termos de política tributária, algumas medidas podem ser tomadas para aumentar a arrecadação de tributos (e, assim, reduzir o déficit público ou aumentar o superávit público): 1) Criar tributos. Ex. hipotético: criar um tributo específico que incida sobre a compra de aparelhos celulares. 2) Aumentar a base de incidência. Ex. hipotético: imposto de celulares passar a incidir também sobre os computadores; o limite de isenção de imposto de renda diminuir. DÉFICIT PÚBLICO DÍVIDA PÚBLICA AUMENTO DE ENCARGOS (JUROS) 14 3) Aumentar a alíquota dos tributos. Ex. hipotético: aumentar o percentual do imposto de renda de 15% para 18%, por exemplo. 4) Aumentar o controle e a fiscalização sobre a sonegação, fazendo com que os agentes não deixem de pagar os tributos. O aumento da arrecadação pode diminuir o crescimento econômico, apesar de contribuir também para a diminuição da inflação. Em momentos de crise econômica, uma alternativa interessante é a diminuição da carga de impostos, induzindo o crescimento econômico, o que pode fazer com que, a curto ou a médio prazo, a arrecadação de tributos volte a aumentar (como costumeiramente se faz com o IPI de automóveis e eletrodomésticos, no Brasil). Em termos de política de gastos, para diminuir o déficit ou aumentar o superávit público e/ou utilizar bem os recursos do orçamento, o governo tende a trabalhar no sentido de controlar os seus gastos. Para tanto, se faz necessário: 1) Controlar despesas, evitando as desnecessárias. 2) Cortar gastos não-prioritários, estabelecendo prioridades. 3) Reestruturar os processos, reduzindo o custo das rotinas, seja por meio da desburocratização seja por meio da tecnologia. 4) Reduzir políticas discricionárias, ou seja, aquelas que se baseiam na concessão ou na revogação de privilégios. O corte nos gastos pode diminuir o crescimento no curto prazo, mas a diminuição do déficit público traz benefícios no médio e no longo prazo, como a perspectiva de redução da taxa de juros e da própria dívida pública. 2.3 POLÍTICA MONETÁRIA A política monetária visa a “adequar os meios de pagamentos disponíveis às necessidades da economia do país” (SANDRONI, 1989), além de ser utilizada para administrar o crescimento econômico e a inflação, por meio do controle da relação entre o estoque de moeda e o produto nominal, do crédito e dos juros, zelando pela liquidez global do sistema. Funções da moeda • Meio de troca: capacidade da moeda de ser trocada, de servir como meio de pagamento, de efetuar transações de compra e venda. • Reserva de valor: capacidade da moeda de ser guardada ou entesourada, ou seja, de manter o seu poder aquisitivo com o passar do tempo (ex.: dólar nos anos 80 e 90). • Unidade de conta: capacidade da moeda de servir como referência ou para comparar bens ou serviços (ex.: viagens e produtos importados, indexados por dólar ou euro; expressar preços diferentes para um caminhão e para uma bola). FUNÇÕES DA MOEDA EM ÉPOCAS SELECIONADAS Funções / Épocas 1993 / março1994 Março / junho 1994 Julho/94 em diante Reserva de valor Dólar Dólar / URV Real Meio de troca Cruzeiro Real Cruzeiro Real Real Unidade de conta Dólar URV Real Fonte: Autor (2008) Demanda de moeda As pessoas (físicas ou jurídicas) retêm (demandam) moeda por: 15 ● Transação: para efetuarem transações cotidianas de compra e venda de bens e serviços. ● Precaução: para guardar para alguma eventualidade. Quanto maior a empresa ou mais rica a pessoa física, mais retém moeda para precaução. ● Especulação: para aplicar em investimentos financeiros ou produtivos. Oferta de moeda e instrumentos de política monetária e creditícia A oferta de moeda equivale ao estoque de moeda disponível (meios de pagamento) na economia e é controlada pelo Banco Central através dos bancos comerciais. Há diversos instrumentos de política monetária e creditícia para controle da oferta de moeda. Entre eles: ● Depósito compulsório: para evitar o efeito multiplicador dos depósitos, o Banco Central estipula o depósito compulsório de reservas bancárias, aumentando o nível de reservas em seu poder, de modo que o banco não possa utilizar esses recursos para empréstimos ou outras aplicações. A relação depósitos/reservas cai, diminuindo, assim, o volume de moeda em circulação. Exemplo: sem o depósito compulsório, um valor de R$ 1.000,00 depositado pode ser reemprestado pelo banco integralmente, que, depois, será novamente depositado e reemprestado, infinitamente e a velocidade de circulação desse dinheiro causará inflação. Se o governo impõe 40% de depósito compulsório, acontecerá o seguinte, considerando que o dinheiro reemprestado seja novamente depositado: Valor depositado Valor retido (40%) Valor reemprestado (60%) Valor depositado Valor retido (40%) Valor reemprestado (60%) 1º depósito R$ 1.000,00 R$ 400,00 R$ 600,00 12º depósito R$ 3,63 R$ 1,45 R$ 2,18 2º depósito R$ 600,00 R$ 240,00 R$ 360,00 13º depósito R$ 2,18 R$ 0,87 R$ 1,31 3º depósito R$ 360,00 R$ 144,00 R$ 216,00 14º depósito R$ 1,31 R$ 0,52 R$ 0,79 4º depósito R$ 216,00 R$ 86,40 R$ 129,60 15º depósito R$ 0,79 R$ 0,32 R$ 0,47 5º depósito R$ 129,60 R$ 51,84 R$ 77,76 16º depósito R$ 0,47 R$ 0,19 R$ 0,28 6º depósito R$ 77,76 R$ 31,10 R$ 46,66 17º depósito R$ 0,28 R$ 0,11 R$ 0,17 7º depósito R$ 46,66 R$ 18,66 R$ 28,00 18º depósito R$ 0,17 R$ 0,07 R$ 0,10 8º depósito R$ 28,00 R$ 11,20 R$ 16,80 19º depósito R$ 0,10 R$ 0,04 R$ 0,06 9º depósito R$ 16,80 R$ 6,72 R$ 10,08 20º depósito R$ 0,06 R$ 0,02 R$ 0,04 10º depósito R$ 10,08 R$ 4,03 R$ 6,05 21º depósito R$ 0,04 R$ 0,02 R$ 0,02 11º depósito R$ 6,05 R$ 2,42 R$ 3,63 22º depósito R$ 0,02 R$ 0,01 R$ 0,01 23º depósito R$ 0,01 R$ 0,00 R$ 0,00 Atualmente, os bancos têm que reter: 44% da média diária dos saldos dos depósitos à vista (conta corrente), de forma não remunerada; 20% da média diária dos saldos da caderneta de poupança, remunerados com a mesma taxa paga aos poupadores. e da média diária dos saldos dos recursos a prazo (títulos), remunerados à taxa Selic. ● Redesconto: para assegurar sua posição credora (positiva) ou zerada, o banco recorre, primeiramente, aos clientes (captação com caderneta de poupança, letras de câmbio, Certificado de Depósito Bancário – CDB, Recibo de Depósito Bancário – RDB etc.) ou aos empréstimos interbancários (Certificado de Depósito Interbancário – CDI). Em última instância, recorre ao Banco Central, na forma de redesconto. Antigamente, o redesconto significava realmente o que a palavra representa, pois o Banco Central redescontava, para as instituições financeiras, títulos de crédito que já haviam sido descontados para terceiros como socorro emergencial. Esta modalidade é utilizada hoje na forma de redesconto seletivo para setores produtivos da indústria e do comércio, por exemplo. Atualmente, o redescontoé realizado na modalidade de redesconto de liquidez, um financiamento simples do Banco Central para os bancos comerciais como socorro financeiro em 16 operações de 1 ou 2 dias para resolver problemas na liquidez da instituição financeira5, embora tenha sido usado corriqueiramente. Quando a taxa de redesconto é baixa, o banco é estimulado a tomar emprestado mais recursos, repassando-os ao consumidor de crédito. Em resumo, qualquer empréstimo feito do Banco Central para os bancos comerciais como auxílio de liquidez é chamado de redesconto. Aumentando a taxa de redesconto, ou seja, emprestando fundos a juros mais altos, o Banco Central pode diminuir a oferta de moeda. Hoje, no Brasil, a referência da taxa de redesconto é a Taxa Selic, não podendo ser menor que a Taxa Básica do Banco Central (TBC) e nem superior à Taxa de Assistência do Banco Central (Tban). ● Open Market: outro instrumento é o mercado aberto de títulos ou o Open Market. O governo entra no mercado de títulos, regulando o fluxo de moeda, ao comprar ou vender títulos da dívida pública. Quando há muito dinheiro em circulação, o governo vende títulos, “enxugando” o mercado. Quando ocorre o contrário, o governo compra os títulos. Se a venda é maior que a compra, retirando moeda de circulação, há uma política contracionista e o PIB e a inflação tendem a cair. Se a compra é maior que a venda, colocando mais moeda em circulação, há uma política expansionista e o PIB e a inflação tendem a aumentar. ● Taxa Selic: A taxa Selic, segundo o Banco Central, “é o instrumento primário de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom), é a taxa de juros média que incide sobre os financiamentos diários com prazo de um dia útil (overnight), lastreados por títulos públicos federais registrados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic). O Copom estabelece a meta para a taxa Selic e cabe à mesa de operações do mercado aberto do Banco Central manter a taxa Selic diária próxima à meta”. O cálculo6 é feito diretamente pelo sistema Selic após o encerramento das operações, em processo noturno. Atualmente, a Taxa Selic é a taxa básica da economia, pois além de ser a base da taxa de redesconto (e, por consequência, do custo do crédito em geral), corrige impostos em atraso e reflete a remuneração dos títulos públicos. Captando recursos do Banco Central, as instituições financeiras repassam o custo do crédito (Selic + percentual do redesconto) para os consumidores de crédito (clientes finais). Fala-se de uma tendência de desindexação da dívida pública pela Selic. 5 Esta modalidade difere da operação que tem por finalidade o efetivo saneamento da instituição que se encontra com o patrimônio líquido negativo, estabelecida pelo Bacen através do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER), cujas taxas de juros são muito mais elevadas (Walter D. Stuber e Henrique B. Filizzola, UFSC, http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/28706-28724-1-PB.htm). 6 A taxa média ajustada das operações de financiamento é calculada de acordo com a seguinte equação: onde, Lj: fator diário correspondente à taxa da j-ésima operação; Vj: valor financeiro correspondente à taxa da j-ésima operação; n: número de operações que compõem a amostra. A amostra é constituída excluindo-se do universo as operações atípicas, assim consideradas: - no caso de distribuição simétrica: 2,5% das operações com os maiores fatores diários e 2,5% das operações com os menores fatores diários; - no caso de distribuição assimétrica positiva: 5% das operações com os maiores fatores diários;- no caso de distribuição assimétrica negativa: 5% das operações com os menores fatores diários. 17 FLUXO BÁSICO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O governo pode mudar a Taxa Selic, taxa de juros básica da economia, para causar impacto expansionista ou contracionista na economia. Com a taxa de juros mais alta, atrai o investidor para poupar, diminuindo o papel-moeda em poder do público. Com a taxa de juros mais baixa, além de desincentivar o investidor a poupar, amplia as condições de crédito e há mais papel-moeda em poder do público. Sobre Copom (http://www.bcb.gov.br/?COPOMHIST para ver na íntegra), 13/07/2013. O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão decisório da política monetária do Banco Central do Brasil, responsável por estabelecer a meta para a taxa Selic. O Copom foi instituído em 20 de junho de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros. Desde 1999, as decisões do Copom passaram a ter como objetivo cumprir as metas para a inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Se as metas não forem atingidas, cabe ao presidente do Banco Central divulgar, em Carta Aberta ao Ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. Formalmente, os objetivos do Copom são implementar a política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu eventual viés e analisar o Relatório de Inflação trimestral. A taxa de juros fixada na reunião do Copom é a meta para a Taxa Selic (taxa média dos financiamentos diários, com lastro em títulos federais, apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. Se for o caso, o Copom também pode definir o viés, que é a prerrogativa dada ao presidente do Banco Central para alterar, na direção do viés, a meta para a Taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordinárias. O Copom é composto pelos membros da Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil: o presidente, que tem o voto de qualidade; e os diretores de Política Monetária, Política Econômica, Estudos Especiais, Assuntos Internacionais, Normas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Liquidações e Desestatização, e Administração. Outros membros participam do primeiro dia de reunião. As reuniões ordinárias do Copom são mensais desde 2000 e dividem-se em dois dias: a primeira sessão às terças- feiras e a segunda às quartas-feiras. No primeiro dia, há uma análise da conjuntura doméstica abrangendo inflação, nível de atividade, evolução dos agregados monetários, finanças públicas, balanço de pagamentos, economia internacional, mercado de câmbio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado aberto, avaliação prospectiva das tendências da inflação e expectativas gerais para variáveis macroeconômicas. No segundo dia da reunião, há a decisão sobre a meta para a Taxa Selic e o viés, se houver, que são imediatamente divulgados. ● Controle da emissão de moeda: causadora imediata de inflação coeteris paribus, a emissão é um mecanismo de controle da oferta sempre no sentido expansionista. A emissão de moeda faz com que entre em circulação uma quantidade de moeda medida pela diferença entre o valor de face do dinheiro emitido e o custo da emissão pelo Banco Central, chamada de senhoriagem. ● Política creditícia: qualquer regulamentação acerca do crédito no sentido expansionista ou contracionista. Possui um tripé: disponibilização de crédito, prazo e juros. O governo pode disponibilizar mais verba orçamentária para subsidiar créditos específicos (agrícola, habitacional, micro e pequenas empresas etc.), limitar ou expandir prazos de pagamentos de empréstimos (ex.: limite mínimo de 10 anos e máximo de 30 anos para financiamento de imóveis), aumentar ou diminuir juros e tarifas financeiras cobradas pelas instituições públicas ou, ainda, estipular limites percentuais de financiamento de bens de consumo (ex.: limite máximo de 70% do valor do automóvel para financiamento). $$$ $$$ $$$ + i $$$+ i Credores: PF e PJ (títulos), outros bancos (CDI), Banco Central (redesconto) Tomadores de crédito (devedores) Instituições financeiras (intermediárias) 18 CONSEQUÊNCIAS DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE OFERTA DE MOEDA (M), INFLAÇÃO (π) E PIB (Y) ITEM VARIAÇÃO EFEITO DA VARIAÇÃO DEPÓSITO COMPULSÓRIO ↑ ↓ M, π e Y ↓ ↑ M, π e Y TAXA DE REDESCONTO ↑ ↓ M, π e Y ↓ ↑ M, π e Y TÍTULOS PÚBLICOS VENDA > COMPRA ↓ M, π e Y COMPRA > VENDA ↑ M, π e Y TAXA SELIC ↑ ↓ M, π e Y ↓ ↑ M, π e Y EMISSÃO DE MOEDA ↑ ↑ M, π e Y Fonte: Autor. 2.4 POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL A política cambial visa estabilizar o câmbio e o administrar o balanço de pagamentos, por meio do controle das relações e operações com o mercado externo, sendo também utilizada para favorecer o crescimento econômico e o controle da inflação. A política cambial propriamente dita, na prática, refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo, através do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio (regime de taxas fixas de câmbio) ou permitir que ela seja flexível e determinada pelo mercado de divisas (regime de taxas flutuantes de câmbio), com ou sem a intervenção. Já a política comercial visa, especificamente, controlar o saldo da balança comercial, por meio de ações que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da economia. A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e/ou estímulo e desestímulo às importações, de forma a melhorar a balança comercial ou garantir o abastecimento de bens importados. Taxa de câmbio É o preço da moeda estrangeira em termos de moeda nacional. Quando a demanda por divisas7 está maior que a oferta, a taxa de câmbio sobe. Quando a oferta é maior que a demanda, a taxa de câmbio cai. Quando o câmbio se desvaloriza ou a taxa de câmbio aumenta, é porque a moeda nacional se desvalorizou em relação à estrangeira, que passa a valer mais em relação à moeda local. Quando o câmbio se valoriza, ao contrário, é porque a moeda nacional se valorizou em relação à moeda estrangeira. A moeda estrangeira em disponibilidade destinada a transações ou reservas é denominada no outro país de divisa internacional. Exemplos hipotéticos de taxas de câmbio: US$ 1 = R$ 2,50 � taxa de câmbio do real para com o dólar. € 1 = R$ 3,00 � taxa de câmbio do real para com o euro. Se, por exemplo, o dólar passou a valer R$ 4,00, houve uma desvalorização do câmbio e da moeda nacional ou desvalorização cambial. Se o dólar cair para R$ 2,00, houve uma valorização do câmbio e da moeda nacional ou valorização cambial. A desvalorização cambial enfraquece a moeda local, causando inflação, seja pelo fato de mais moeda local ser colocada em circulação, seja pelo fato de que os produtos importados encarecem. A valorização cambial, ao contrário, diminui a inflação, porque moeda local é retida, além de baratear os produtos importados. As desvalorizações e valorizações cambiais afetam diretamente a balança comercial, por causa do impacto sobre as exportações e importações. Se as exportações são maiores que as importações, há 7 Divisas são moedas estrangeiras em disponibilidade ou papeis e reservas conversíveis em moeda estrangeira. 19 um saldo positivo (superávit) da balança comercial. Se, ao contrário, as importações forem maiores que as importações, há um saldo negativo (déficit) na balança comercial. Saldo da balança comercial brasileira (US$ mi): 46.074 (2006), 40.032 (2007), 24.957 (2008), 25.438 (2009), 20.146 (2010), 29.796 (2011), 19.438 (2012). Suponhamos que uma empresa importadora europeia deseja gastar € 3.000, por encomenda de seus clientes, comprando liquidificadores brasileiros de uma empresa brasileira, cujo produto custa R$ 100,00, supondo que não existam impostos adicionais. Vejamos como as exportações se comportam com três situações cambiais diferentes. IMPACTO DA VARIAÇÃO CAMBIAL SOBRE A EXPORTAÇÃO Situação € Câmbio R$ Preço liquidificador Quantidade vendida Taxa de câmbio inicial 3.000 1 = 2 6.000,00 100,00 60 Desvalorização cambial 3.000 1 = 3 9.000,00 100,00 90 Valorização cambial 3.000 1 = 1 3.000,00 100,00 30 No exemplo acima, com a desvalorização cambial, exportou-se mais liquidificadores que com o câmbio estável, ao passo que, com a valorização cambial, a exportação foi menor. Analisando por outro modo, a expectativa de desvalorização cambial inibe o investimento financeiro externo (assusta os investidores) e a expectativa de valorização o estimula (atrai os investidores). Um exemplo será dado a seguir: Suponhamos que um investidor entre para investir no Brasil, trazendo US$ 1000 e ganhe 20% de juros, em três situações cambiais diferentes: IMPACTO DA VARIAÇÃO CAMBIAL SOBRE O INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DE CURTO PRAZO Situação US$ Câmbio na entrada R$ R$ + juros 20% Câmbio na saída US$ Sem variação cambial 1.000 1 = 2 2.000 2.400 1 = 2 1.200 Desvalorização cambial 1.000 1 = 2 2.000 2.400 1 = 3 800 Valorização cambial 1.000 1 = 2 2.000 2.400 1 = 1 2.400 Na primeira situação, com câmbio estável, um investidor investe US$ 1.000 (R$ 2.000,00) em títulos brasileiros, obtendo 20% de juros. Ao sair, revertendo reais em dólares, fica com US$ 1.200, mantendo os 20% de ganho. Na segunda situação, recebe os 20% de juros, mas, com a desvalorização cambial, perde US$ 400 e fica somente com US$ 800. Na terceira situação, com a valorização cambial, ganha US$ 1.200 e, no final, fica com US$ 2.400. De todo modo, mesmo que haja perspectiva de valorização, se o dólar estiver instável de maneira que o quadro possa se reverter a qualquer instante, há uma inibição dos investidores, que podem se recusar a investir em certo país. Mercado de divisas (ou mercado de câmbio) O mercado de divisas acontece pela atração de duas forças opostas de agentes: 1) demandantes de divisas (pessoas físicas e jurídicas e, ocasionalmente, o próprio Banco Central, através dos bancos comerciais, comprando moeda estrangeira) e 2) ofertantes de divisas (pessoas físicas e jurídicas e, ocasionalmente, o próprio Banco Central, através dos bancos comerciais, vendendo moeda estrangeira). As duas forças participam comprando ou vendendo dólares para realizar transações como exportações e importações, remessa de divisas e viagens internacionais, investimentos e empréstimos, de dentro para fora e de fora para dentro do território nacional. 20 AGENTES ECONÔMICOS DO MERCADO DE DIVISAS PRINCIPAIS DEMANDANTES DE DIVISAS PRINCIPAIS OFERTANTES DE DIVISAS - Importadores de bens e serviços - Exportadores de bens e serviços - Turistas brasileiros que vão para o exterior - Turistas estrangeiros que vêm ao Brasil - Turistas estrangeiros no Brasil que voltam p/ casa - Turistas brasileiros no exterior que voltam p/ casa - Investidores brasileiros que aplicam no exterior - Investidores estrangeiros que aplicam no Brasil - Investidores estrangeiros que resgatam títulos brasileiros - Investidores brasileiros que resgatam títulos no exterior - Estrangeiros residentes no Brasil que remetem divisas - Brasileiros residentes no exterior que remetem divisas - Multinacionais estrangeiras no Brasil que remetem lucros para a sede - Multinacionais brasileiras no exterior que remetem lucros para a sede - Agentes governamentais brasileiros que gastam no exterior - Agentes governamentais estrangeiros que gastam no Brasil - Multinacionais brasileiras que realizam investimentos diretos no exterior - Multinacionais estrangeiras que realizam investimentos diretos no Brasil - Governo, quando compra divisas no mercado - Governo, quando vende divisas no mercado Fonte: Autor Já os principais intermediários do mercado de divisas8, ou seja, quem faza intermediação da compra e venda de divisas entre os demandantes e os ofertantes, são os bancos comerciais, as sociedades de crédito, as sociedades corretoras e distribuidoras de títulos e câmbio, agências de turismo ainda autorizadas. Caso não haja interferência do governo no mercado de divisas, a determinação da taxa se dá pelo livre jogo das forças do mercado, obedecendo à lei de oferta e procura. Política cambial Para evitar que a instabilidade do câmbio afete a economia, o governo pode intervir no mercado de divisas, estabelecendo a política cambial, que, basicamente, trata-se da compra ou venda de divisas (dólares, euros etc.) no mercado de câmbio. Quando o governo deseja diminuir a taxa de câmbio, ele oferta mais dólares, ou seja, coloca mais moeda estrangeira em disponibilidade no mercado de divisas (na prática, vende dólares), tendendo a reduzir o preço da moeda estrangeira em termos da moeda local, o que é o mesmo que diminuir a taxa de câmbio. Quando o governo deseja aumentar a taxa de câmbio, ele entra como demandante (compra dólares), aumentando o preço da moeda estrangeira em termos da moeda local, o que significa aumentar a taxa de câmbio. A compra e venda de dólares pelo Banco Central é realizada por meio de leilões de compra ou venda de câmbio, do qual participam os dealers de câmbio9, bancos autorizados a atuar no mercado de câmbio. Quando tem início o período do leilão, os dealers enviam suas ofertas, com o volume a ser negociado e a taxa, para o Banco Central, através do Sistema de Leilão de Câmbio. Encerrado o leilão, a autoridade monetária acessa uma lista gerada pelo sistema, sem a identificação dos ofertantes, e define uma taxa de corte acima ou abaixo da qual as taxas serão aceitas, total ou parcialmente. Sistemas ou regimes cambiais O grau de intervenção do governo no mercado de divisas depende do sistema ou regime cambial adotado em cada País. 8 Salvo por respaldo documental de viagens ao exterior, é proibido o uso de moeda estrangeira para meio de pagamento e reserva de valor no Brasil. No entanto, marginalmente, o câmbio negro faz com que as divisas sejam comercializadas em um mercado paralelo, realizado por “doleiros”, que negociam o dólar e outras moedas “no paralelo”. 9 Dealer de câmbio: “São os bancos por meio dos quais o Bacen atua no mercado de câmbio, são escolhidos dentre as instituições autorizadas a operar em câmbio, segundo critérios de volume de negócios e qualidade na prestação de informações ao Banco Central” (Carta Circular 3.027). 21 O sistema de taxas de câmbio “perfeitamente” flexível ou flutuante acontece quando a taxa de câmbio se ajusta de acordo com a oferta e a demanda de divisas e as variáveis determinadas são a taxa de câmbio e a quantidade de divisas. O mercado de câmbio é livre ou flutuante e não há intervenção do governo na determinação da taxa de câmbio. O sistema de taxas de câmbio flutuante “pleno” permite que a demanda e a oferta de divisas se equilibre automaticamente, mas prejudica a estabilidade de preços e a expectativa dos agentes. No sistema de taxas de câmbio fixas, o Banco Central se compromete a comprar e vender suas moedas a preço fixo em termos de dólares (ou euros, por exemplo). Deslocamento de oferta e demanda de divisas não alteram a taxa cambial. O governo intervém sistematicamente no mercado de divisas. Na prática, o Banco Central compra e vende dólares em magnitude significativa, de forma a manter a o câmbio fixo. Em meio a uma crise cambial, em que se esgotam as reservas de divisas e o Banco Central não mais consegue vender a moeda estrangeira, pode haver uma desvalorização do câmbio. O sistema de taxas de câmbio fixas possui a vantagem de deixar a economia menos vulnerável a choques externos, mas mais dependente da existência de um nível considerável de reservas internacionais. Quando a taxa não é mantida fixa indefinidamente, tem-se o sistema de câmbio fixo ajustável (fixed but-adjustable ou sistema de Bretton Woods). O sistema de flutuação suja (dirty floating) acontece quando o governo intervém esporadicamente no mercado de divisas, quando acha conveniente, comprando e vendendo como agente econômico potencial. Nesse sistema, há intervenções pontuais, no sentido de diminuir a instabilidade associada ao regime flutuante. Se o mercado estiver estável, funciona como flutuante; se o mercado estiver oscilante ou o patamar da taxa de câmbio estiver atrapalhando o desempenho econômico, as intervenções ocorrem para que a taxa seja direcionada para o patamar desejável. Ainda há o sistema de bandas cambiais (target zone), com limites máximos e mínimos em que a taxa pode variar em determinado período de tempo. Define-se uma taxa central e os limites a partir de um percentual sobre a taxa central, formando a amplitude da banda. Quando o câmbio extrapolar os limites, o governo intervém, comprando ou vendendo dólares. Em alguns casos, pode intervir antes da taxa atingir os limites, sendo estas denominadas intervenções intramargem (GREMAUD et al., 2006). As bandas cambiais podem se desdobrar em duas outras formas, denominadas banda rastejante (crawlling band) e banda deslizante (sliding band). A banda rastejante é determinada por uma evolução, sistemática, ao longo do tempo do ponto central e da amplitude, baseada em uma regra pré- estabelecida. Em geral, expectativas de inflação. A banda deslizante não apresenta uma regra pré- estabelecida, mas é determinada pelo não comprometimento em se manter irreajustáveis o ponto central e amplitude da banda, o que significa dizer que o Banco Central pode alterar sua determinação em magnitudes e unidade temporais indefinidas (LIMA, 2009). O sistema cambial de minidesvalorizações ou minibandas (crawlling peg) permite ao Banco Central estabelecer um reajuste periódico da taxa de câmbio nominal por outro indicador, como a inflação. O objetivo é manter a taxa real de câmbio em níveis constantes, mantendo a competitividade externa da produção doméstica (LIMA, 2009). Existem ainda outros sistemas pouco adotados, como: o conselho da moeda (currency board), em que uma entidade responsável por fixar um valor de moeda doméstica em termos de uma moeda estrangeira, segundo um padrão preestabelecido (ex.: Argentina, entre 1991 e 2000); a dolarização plena (full dolarization), em que a moeda doméstica é substituída por outra tradicionalmente estável (ex.: Equador); e a semidolarização, em que a moeda doméstica convive com outra moeda estrangeira permitida de circular (ex.: Argentina). 22 Perguntas e respostas (adaptadas) sobre câmbio e operações de câmbio, disponíveis no sítio do BANCO CENTRAL DO BRASIL em 13/07/2013. Mercado de câmbio – definições (http://www.bcb.gov.br/?MERCCAMFAQ), 13/07/2013. 1. O que é câmbio? Câmbio é a operação de troca de moeda de um país pela moeda de outro país. Por exemplo, quando um turista brasileiro vai viajar para o exterior e precisa de moeda estrangeira, o agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio recebe do turista brasileiro a moeda nacional e lhe entrega (vende) a moeda estrangeira. Já quando um turista estrangeiro quer converter moeda estrangeira em reais, o agente autorizado a operar no mercado de câmbio compra a moeda estrangeira do turista estrangeiro, entregando- lhe os reais correspondentes. 2. O que é mercado de câmbio? No Brasil, o mercado de câmbio é o ambiente onde se realizam as operações de câmbio entre os agentes autorizados pelo Banco Central e entre estes e seus clientes, diretamente ou por meio de seus correspondentes. O mercado de câmbio é regulamentado e fiscalizado pelo Banco Central e compreende as operações de compra e de venda de moeda estrangeira, as operações em moeda nacional entre residentes, domiciliadosou com sede no País e residentes, domiciliados ou com sede no exterior e as operações com ouro-instrumento cambial, realizadas por intermédio das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central, diretamente ou por meio de seus correspondentes. Incluem-se no mercado de câmbio brasileiro as operações relativas aos recebimentos, pagamentos e transferências do e para o exterior mediante a utilização de cartões de uso internacional, bem como as operações referentes às transferências financeiras postais internacionais, inclusive vales postais e reembolsos postais internacionais. À margem da lei, funciona um segmento denominado mercado paralelo. São ilegais os negócios realizados no mercado paralelo, bem como a posse de moeda estrangeira oriunda de atividades ilícitas. 3. Qualquer pessoa pode comprar e vender moeda estrangeira? Texto em 2008: Sim, desde que a outra parte na operação de câmbio seja agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio e que seja observada a regulamentação em vigor, incluindo a necessidade de respaldo documental para a realização dessas operações. Texto em 2011: Sim, desde que a outra parte na operação de câmbio seja agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio e que seja observada a regulamentação em vigor, incluindo a necessidade de identificação em todas as operações. É dispensado o respaldo documental para as operações de valor até o equivalente a US$ 3 mil. Texto em 2012/2013: Sim, desde que a outra parte na operação de câmbio seja agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio (ou seu correspondente para tais operações) e que seja observada a regulamentação em vigor, incluindo a necessidade de identificação em todas as operações. É dispensado o respaldo documental das operações de valor até o equivalente a US$ 3 mil, preservando-se, no entanto, a necessidade de identificação do cliente. 4. Que instituições podem operar no mercado de câmbio e que operações elas podem realizar? (RESUMO) Podem ser autorizados pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio: bancos múltiplos; bancos comerciais; caixas econômicas; bancos de investimento; bancos de desenvolvimento; bancos de câmbio; agências de fomento; sociedades de crédito, financiamento e investimento; sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários; sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de câmbio. Além desses agentes, o Banco Central também concedia autorização para agências de turismo e meios de hospedagem de turismo para operarem no mercado de câmbio. Atualmente, não se concede mais autorização para esses agentes, permanecendo ainda apenas aquelas agências de turismo cujos proprietários pediram ao Banco Central autorização para constituir instituição autorizada a operar em câmbio. Enquanto o Banco Central está analisando tais pedidos, as agências de turismo ainda autorizadas podem continuar a realizar operações de compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheques e cheques de viagem, relativamente a viagens internacionais. As instituições financeiras autorizadas a operar em câmbio podem contratar correspondentes (pessoas jurídicas em geral) para a realização das seguintes operações de câmbio: a) execução ativa ou passiva de ordem de pagamento relativa a transferência unilateral, até US$ 3 mil por operação; b) compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheque ou cheque de viagem, bem como carga de moeda estrangeira em cartão pré-pago, até US$ 3 mil por operação; e c) recepção e encaminhamento de propostas de operações de câmbio. A ECT também é autorizada pelo Banco Central a realizar operações com vales postais internacionais, emissivos e receptivos, destinadas a atender compromissos diversos. Por meio dos vales postais internacionais, a ECT também pode dar curso a recebimentos ou pagamentos conduzidos sob a sistemática de câmbio simplificado de exportação ou de importação, observado o limite de US$50 mil por operação. 6. Os bancos são obrigados a vender moeda em espécie? Não. Normalmente, os agentes autorizados a operar em câmbio, por questão de administração de caixa e estratégia operacional, procuram operar com o mínimo possível de moeda em espécie. 14. O que é contrato de câmbio? O contrato de câmbio é o documento que formaliza a operação de compra ou de venda de moeda estrangeira. Nele são estabelecidas as características e as condições sob as quais se realiza a operação de câmbio. Dele constam informações relativas à moeda estrangeira que um cliente está comprando ou vendendo, à taxa contratada, ao valor correspondente em moeda nacional e aos nomes do comprador e do vendedor. Os contratos de câmbio devem ser registrados no Sistema Integrado de Registro de Operações de Câmbio (Sistema Câmbio) pelo agente autorizado a operar no mercado de câmbio. Nas operações de compra ou de venda de moeda estrangeira de até US$ 3 mil, ou seu equivalente em outras moedas estrangeiras, não é obrigatória a formalização do contrato de câmbio, mas o agente do mercado de câmbio deve identificar seu cliente e registrar a operação no Sistema Câmbio. 15. O que é política cambial? É o conjunto de ações governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos. 16. Qual é o papel do Banco Central no mercado de câmbio? 23 O Banco Central executa a política cambial definida pelo Conselho Monetário Nacional. Para tanto, regulamenta o mercado de câmbio e autoriza as instituições que nele operam. Também compete ao Banco Central fiscalizar o referido mercado, podendo punir dirigentes e instituições mediante multas, suspensões e outras sanções previstas em lei. Além disso, o Banco Central pode atuar diretamente no mercado, comprando e vendendo moeda estrangeira de forma ocasional e limitada, com o objetivo de conter movimentos desordenados da taxa de câmbio. Taxa de câmbio (http://www.bcb.gov.br/?TAXCAMFAQ), 13/07/2013. 1. O que é taxa de câmbio? Taxa de câmbio é o preço de uma moeda estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional. No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar dos Estados Unidos, fazendo com que a cotação comumente utilizada seja a dessa moeda. Assim, quando dizemos, por exemplo, que a taxa de câmbio é 1,80, significa que um dólar dos Estados Unidos custa R$ 1,80. A taxa de câmbio reflete, assim, o custo de uma moeda em relação à outra. As cotações apresentam taxas para a compra e para a venda da moeda, as quais são referenciadas do ponto de vista do agente autorizado a operar no mercado de câmbio pelo Banco Central. 3. Existe alguma taxa de câmbio fixada pelo Banco Central? Não. As taxas de câmbio são livremente pactuadas entre as partes contratantes, ou seja, entre o comprador ou vendedor da moeda estrangeira e o agente autorizado pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio. O Banco Central coleta e divulga as taxas médias praticadas no mercado interbancário, isto é, a taxa média do dia apurada com base nas operações realizadas naquele mercado, conhecida por "taxa PTAX", a qual serve como referência, e não como taxa obrigatória. 7. O que significam as taxas de "câmbio comercial", "câmbio turismo" e "paralelo"? Inicialmente destacamos que existe um único mercado de câmbio legal no País (unificadas desde 2005 pela Resolução CMN 3.265). A terminologia "câmbio comercial", ou "dólar comercial", e "câmbio turismo", ou "dólar turismo", no entanto, é utilizada pelo mercado para indicar as diferentes taxas praticadas de acordo com a natureza da operação. Assim, as expressões "câmbio turismo" ou "dólar turismo" são utilizadas comumente para classificar as operações relativas a compra e venda de moeda para viagens internacionais, geralmente
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