a garantia da aplicação dos princípios constitucionais àquele processo. A lei não mais seria o centro do conceito de jurisdição. A partir dessa mudança, surge a expressão do juiz garantista – muito usada no processo penal – como sendo aquele que está preocupado em aplicar os princípios e garantias constitucionais. As principais características da jurisdição, capazes de distingui-la das demais funções estatais e que, em regra, estão presentes em todas as suas manifestações, são: a inércia, a substitutividade e a natureza declaratória.4 Princípios da jurisdição A jurisdição se caracteriza, ainda, pelos princípios abaixo: Investidura O princípio da investidura está ligado à forma de ingresso dos legitimados a exercer o poder. O juiz precisa estar investido na função jurisdicional para exercer a jurisdição, ou seja, ele precisa ter sido aprovado em um concurso de provas e títulos, como estabelece o artigo 37, II, CF. De acordo com o artigo 132, CPC, no caso de o juiz estar licenciado, afastado, aposentado ou 4 Tal classificação não goza de unanimidade na doutrina, havendo quem sustente serem características a lide (partidários da doutrina de Carnelutti), a secundariedade e a definitividade. Assim, conforme Michel Temer, a definitividade seria a característica primordial da jurisdição. TEMER, Michel. Elementos de direito constitucional. 11. Ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 161. O NOVO CÓDIGO E O PROCESSO DE CONHECIMENTO 13 convocado, ele não estará mais investido de jurisdição, não podendo mais prestá-la. Nesses casos, será incabível a aplicação da teoria da aparência, já que não existe investidura na jurisdição. Territorialidade Pelo princípio da territorialidade, o juiz só pode exercer a jurisdição dentro de um limite territorial fixado na lei. A exceção a esse limite está prevista apenas no artigo 107, CPC, segundo o qual a competência do juiz prevento prorroga-se para a parte do imóvel que esteja localizado em Estado ou comarca diversa, e no artigo 230, CPC, que prevê que atos de citação poderão ser cumpridos pelos oficiais de Justiça em comarcas contíguas, que não aquela da competência do juízo. Indeclinabilidade O princípio da indeclinabilidade consiste no fato de que o juiz não se pode furtar a julgar a causa que lhe é apresentada pelas partes. Trata-se da chamada proibição de o juiz proferir o non liquet, ou seja, afirmar a impossibilidade de julgar a causa por inexistir dispositivo legal que regula a matéria. Esse princípio está previsto no artigo 126, CPC. Ademais, em um desdobramento lógico do princípio do juiz natural e da improrrogabilidade, é vedado o exercício da jurisdição a quem dela não esteja previamente investido, segundo a lei e a Constituição. Indelegabilidade A indelegabilidade é a vedação que se aplica integralmente no caso do poder decisório, pois violaria a garantia do juiz natural. Há, porém, hipóteses em que se autoriza a delegação de outros poderes judiciais, como o poder instrutório, poder diretivo do processo e poder de execução das decisões. São exemplos os casos previstos no artigo 102, I, m, e no artigo 93, XI, ambos da CF. O NOVO CÓDIGO E O PROCESSO DE CONHECIMENTO 14 Inafastabilidade Um dos mais importantes princípios para o presente estudo é o da inafastabilidade da apreciação pelo Poder Judiciário (artigo 5º, XXXV, CF), que se fundamenta na ideia de que o direito de ação é abstrato e não se vincula à procedência do que é alegado. Não há matéria que possa ser excluída da apreciação do Judiciário, salvo raríssimas exceções previstas pela própria Constituição, vide artigo 52, I e II. Juiz natural O princípio do juiz natural consiste na exigência da imparcialidade e da independência dos magistrados. Essa garantia deve alcançar, inclusive, o âmbito administrativo, tanto em relação aos juízes dos tribunais administrativos quanto às autoridades responsáveis pela decisão de requerimentos nas repartições administrativas. Atividade proposta (MP/RJ – XXXI CONCURSO 2009). O Ministério Público ajuizou ação civil pública visando a obrigar determinado Município a fornecer medicamentos necessários à manutenção da vida de pessoas idosas enfermas e com deficiência física, mas com o necessário discernimento para os atos da vida civil. Em contestação, alegou-se ilegitimidade ativa por se tratar de direitos individuais de pessoas com plena capacidade para seus atos, bem como impossibilidade jurídica do pedido por ausência de determinação da fonte de custeio e por se tratar de tema afeto à discricionariedade administrativa. Acolhendo tais argumentos, o juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito e remeteu os autos ao Tribunal para reexame necessário, não tendo havido recurso do Ministério Público. Por não haver necessidade de provas, o Tribunal reformou a sentença e julgou o mérito do processo favoravelmente ao Ministério Público, excluindo a condenação em honorários advocatícios em razão da natureza da parte autora. Manifeste-se objetivamente sobre as decisões judiciais. O NOVO CÓDIGO E O PROCESSO DE CONHECIMENTO 15 Chave de resposta: A questão trata das chamadas prestações sociais positivas, ou seja, hipóteses nas quais o Poder Judiciário é chamado a sanar uma omissão do Poder Executivo no que se refere à implementação de uma garantia constitucional. O candidato deve abordar questões, como: a legitimidade do M. P., o uso da ação civil pública para proteger o direito à saúde (previsto em sede constitucional), a figura do recurso ex officio e a teoria da causa madura, prevista nos parágrafos 3º e 4º do artigo 515 do CPC. A criação do Código de Processo Civil O atual Código de Processo Civil, introduzido em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, foi baseado no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid. Inaugurou‑se a fase instrumental, pela qual o processo não seria um fim em si mesmo, mas um instrumento para assegurar direitos. Com isso, surgiu a relativização das nulidades e a liberdade das formas para maior efetividade da decisão judicial. Para Buzaid, mais fácil se afigurava a criação de um novo Código Processual Civil que a correção do já existente, devido não só à pluralidade e diversidade de leis processuais então vigentes, mas também à necessidade de serem supridas diversas lacunas e falhas do Código de 1939, que o impediam de funcionar como instrumento de fácil manejo no auxílio à administração da Justiça. O CPC de 1973 permanece em vigor até hoje. Contudo, sofreu inúmeras alterações, sobretudo a partir do início da década de 1990, quando iniciou-se a chamada Reforma Processual, processo fragmentado em dezenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudanças pontuais e ajustes “cirúrgicos”. Nas telas seguintes, você analisará o movimento do legislador brasileiro em prol das reformas processuais, sobretudo a partir da Emenda nº 45/04. O NOVO CÓDIGO E O PROCESSO DE CONHECIMENTO 16 Histórico do Código de Processo Civil 2004 Em dezembro de 2004, depois de intensos debates, foi finalmente aprovada e editada a Emenda Constitucional nº 45, que traz em seu bojo a chamada “Reforma do Poder Judiciário”. Tal diploma inclui no Texto Constitucional temas relevantes, tais como: a garantia da duração razoável do processo, a federalização das violações aos direitos humanos, a súmula vinculante, a repercussão geral da questão constitucional como pressuposto para a admissibilidade do recurso extraordinário e os Conselhos Nacionais