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39 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Unidade II 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL 3.1 Um “olhar histórico” e uma “visão atual” Para falar em administração pública é necessário entender que a política pública ocupa parte central na vida das pessoas. É o lado visível e de curto prazo que responde se uma administração pública está contribuindo para o bem-estar das sociedades. Isso porque partimos da lógica de que as políticas bem-sucedidas requerem processos eficazes para produzi-las. Existe, em nosso país, um acervo bibliográfico para quem deseja estudar e entender melhor as instituições políticas. Entretanto, para quem quer atuar profissionalmente nessa área, é imprescindível um bom conhecimento de Ciência Política, Economia e Gestão. Esses seriam os lastros teóricos para quem tem disponibilidade e quer adentrar nesse campo específico a que a política se reporta. Por exemplo, é difícil coordenar a política de segurança, ou política educacional, sem entender como se dá a relação entre o Executivo e o Legislativo, entender o processo de priorização política dos governantes e saber calcular os custos de médio e longo prazos associados a cada opção de programa. De certo, sabe-se que os governos produzem política pública. Por trás dessa simples dedução está um mundo de análise, autoridade e organização, que pode parecer um tanto opaco para um observador não capacitado, inexperiente. É comum ouvir nas ruas, nos círculos de amigos ou nas organizações, pessoas comuns, cidadãos brasileiros, indagarem: por que tomar certas decisões políticas em determinadas épocas e não em outras? Por que a defesa de uma decisão política é compatível para um grupo de um regime político e incompatível para outro grupo, na mesma paisagem, na mesma geografia? Qual a melhor forma de examinar as informações de que muitas vezes dispomos sobre a história de determinada política, seus impactos e de que modo ela mantém correlações com o seu legado? As primeiras funções exercidas no Brasil sobre política pública tinham o regime de troca de lealdade ou serviços prestados ao rei. As capitanias hereditárias são um exemplo disso. Também existiam títulos, nomeações nesse regime de troca: capitães, condes, desembargadores, ouvidores da coroa, dentre outros. Em algumas das conceituadas bibliografias sobre a História do Brasil, encontramos menção às estruturas de administração da colônia; algumas mais estruturadas quando do estabelecimento do governo geral. Como bem explica Costin (2010), Portugal estabeleceu para o Brasil o regimento, em 1548, e o cargo de governador e cargos de assessoria, a exemplo o de ouvidor-mor, que assinalava funções jurídicas com 40 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II o poder de nomear juízes, e ainda auxiliares para esse cargo. Como forma de ter um fiscal para arrecadar os tributos para manter a sua política fazendária, criou o cargo de capitão-mor. Esse cargo abrangia a defesa e fiscalização da costa do país. Também nomeou o cargo de alcaide-mor, que desempenhava função de chefe das milícias. Nessa fase, era imperiosa a vontade do rei, o qual fazia existir órgãos políticos compostos por homens bons. Esses eram proprietários que defendiam os caminhos das vilas e cidades. Também as câmaras municipais se faziam atuantes naquela época. Havia funcionários da corte que, mediante contratação, apoiavam os trabalhos aos interesses dos “homens bons”. Conforme Costin (2010, p. 166): “É interessante observar que a função de um juiz, no período colonial, acabava assumindo características dos três poderes”. Os crimes e queixas, bem como atos que eram tidos como marginais ao concurso das regras da corte, ficavam a cargo do Judiciário. Também legislava, assumindo o Legislativo, elaborando leis e fazendo-as cumprir, porque lhe pertencia a alçada de juiz. E não terminaria seu poder, porque, como membro da câmara, administrava as vilas (depois algumas passaram a ser estados) em conjunto com os vereadores, aja vista não existir a figura do prefeito. Instalou-se o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro em meados de 1751 e sua jurisdição pertencente a Minas Gerais e às Capitanias do Sul do Brasil, para “deslanchar” o acúmulo de processos na Bahia. A história conta que outros tribunais de relação iam se instaurando; como exemplo, o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, próximo ao período da chegada de Dom João, era um desembargador nomeado pelo rei. Interessante salientar que a coroa real chegou a ter poderes administrativos por todo o clero. Perdurava-se o padroado – um instrumento jurídico de características medievais que impunha o controle direto da coroa em assuntos religiosos, bem como, nesse contexto, em aspectos administrativos: padres e bispos desempenhavam funções para a coroa portuguesa (Brasil colonial). Como ressalta Costin (2010, p. 168): “a estrutura de cargos e funções no Brasil pouco mudou ao longo do período colonial até a vinda da família real, embora a urbanização e o ciclo do ouro tenham trazido novas tarefas e órgãos ao poder público”. Foram incorporadas ao Brasil as regências e, de forma incipiente, aponta a administração pública brasileira, tendo em vista o único herdeiro da coroa no Brasil, ainda uma criança. Nessa empreitada, foram criadas as Assembleias Legislativas e a pessoa do legislador local, além de centralizarem o poder de justiça e o poder de polícia. Mais tarde, com a Proclamação da República, nasce uma descentralização no Brasil em direção às antigas províncias, que foram designadas de estados. Com isso, as leis da União poderiam ser implantadas por agentes do governo dos estados, o que resultou na contratação de funcionários estaduais. 41 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Evoluindo o retrospecto histórico à Constituição de 1824, a nova carta torna os cargos públicos, civis ou militares acessíveis a todos os brasileiros, desde que observadas as condições de capacidade especial que a lei estatuir, e começam a clarear as regras quando decretam que serão vedadas as acumulações remuneradas. Também a questão da aposentadoria se restringe aos funcionários públicos, em caso de invalidez a serviço da nação. Outro fato que embasa a História do Brasil nas questões públicas foi a consagração da Constituição de 1824, que permitia a todos os cidadãos a admissão em cargos públicos civis, políticos ou militares, apenas por suas “virtudes e talentos”. Também estabelecia a Constituição que o Judiciário apenas seria formado se os membros fossem nomeados somente por meio do Imperador. E mais: vitaliciedade aos deputados e senadores, representantes do Legislativo, também nomeados por D. Pedro II. Um marco registrado na história da administração pública no Brasil foi do período da chamada República Velha: fisiologismo e administração patrimonialista em que “cargos” passaram ao controle dos “coronéis”. Instaura-se o favorecimento eleitoral possibilitando fraudes, compra de votos visando ampliar recursos à disposição de candidatos protegidos pelos coronéis, motivo latente para a Revolução de 1930. Após esse período, quem estava no poder era Getúlio Vargas, que ampliou a gestão de pessoas no setor público com uma nova estrutura de cargos, introduzindo o primeiro plano de cargos e salários da administração pública. Consequentemente, conduziu o Estado à racionalização, que desencadeou as primeiras carreiras que adotavam a seleção de pessoaspor meio de concurso como forma de acesso ao serviço público. Percebe-se que a implantação da administração pública burocrática é uma consequência evidente de um capitalismo moderno, “porta giratória” que capta a entrada do Brasil. Nesse ínterim, houve esforço em valorizar instrumentos para viabilizar a chamada de cidadãos ao concurso público, como exemplo, temos a implantação do Instituto do Concurso Público e do Treinamento. Não se pode dizer que nessa época se consolidou uma política de recursos humanos que respondesse às necessidades de ambas as partes. O Estado estava persuadido pelo patrimonialismo. Houve uma aparente organização do serviço público, iniciada por Vargas e consagrada pelos presidentes seguintes, não só por meio das constituições, mas pelas leis que a regulamentaram. Alguns esforços foram feitos para tornar a máquina pública mais flexível e ajustada com planos de desenvolvimento, no combate ao enrijecimento, herança burocrática. No governo de Juscelino Kubitschek, para que fosse implantado o Programa de Metas, eram necessárias estruturas flexíveis, não burocráticas e capacidade de coordenação. Realizaram-se estudos e projetos de reforma com destaque para o Anteprojeto de Reforma Geral da Administração Federal, no qual o tema descentralização foi mencionado pela primeira vez como programa de governo, após o longo período de centralização iniciado em 1930. 42 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II No governo de João Goulart foi criado um Ministério Extraordinário da Reforma Administrativa, liderado por Amaral Peixoto. Em 1964, ao tomar o poder, o presidente Castello Branco aproveitou o diagnóstico feito por Amaral Peixoto e criou uma Comissão de Reforma Administrativa. Em 1967 a reforma administrativa foi de caráter desburocrático: com ênfase na descentralização administrativa, na delegação de competências e na ampliação da autonomia das entidades da administração indireta, especialmente das estatais. O Decreto-lei de número 200 foi de grande relevância do ponto de vista da administração de recursos humanos. Houve o fortalecimento da administração indireta, com forte autonomia e dotada de condições operacionais superiores às da administração direta. Foram criadas fundações e autarquias e, como consequência, a partir de meados da década de 1970, houve uma proliferação de planos de cargos específicos de autarquias em regime especial e fundações. Isso ocorreu de forma concomitante à expansão das empresas estatais, nas décadas de 1970 e 1980. O resultado foi a existência de mais de 600 empresas no âmbito da administração pública. Até 1985, foram criadas 104 tabelas especiais e emergenciais, envolvendo cerca de 100.000 empregados celetistas contratados sem concurso para atividades em que a remuneração era superior ao Plano de Classificação de Cargos (PCC), estabelecido em 1970 e que abrangeria basicamente a administração direta. Acontece a redemocratização. A preocupação daquele momento estava em assegurar direitos aos funcionários e, ao mesmo tempo, em remover autonomias dadas no regime autoritário às fundações e autarquias. A autonomia era percebida como porta de entrada para contratações clientelistas e para o fisiologismo. Interessante é que, ao mesmo tempo, reforça-se a exigência de concurso público para todos os postos da administração direta e indireta, inclusive fundações e empresas, onde as admissões ocorriam por outras formas de recrutamento e seleção. Estabelece-se o regime jurídico único e os funcionários públicos (administração direta, autarquia e fundacional) passam a ser contratados como estatutários, ou seja, como servidores regidos pelo Estatuto do Servidor Público, com todas as garantias desse regime. Houve um estrangulamento em algumas áreas particularmente difíceis de administrar, como cultura, pesquisa científica, hospitais, e universidades. Em Costin (2010, p.174), encontramos uma afirmação precisa: “[...] em cada área específica a flexibilidade é vital ao desempenho de seu papel público e não há exercício de poder de polícia ou função exclusiva de estado”. Em 1990, as novas disposições da Constituição na área de gestão de pessoas foram consagradas na Lei nº 8.112 de 1990, que institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais. Algumas atualizações foram feitas em 1977, para propor mais flexibilidade e consistência à lei, frente à reforma do Estado, dirigido por Bresser Pereira, responsável pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado. 43 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Lembrete A busca por reformas administrativas foi inserida na plataforma do governo Geisel (1974-1979), denominado “o milagre brasileiro”, do qual o ministro Bresser Pereira foi o principal responsável no setor de recursos humanos. Houve a aprovação dessa lei, que versava sobre a aposentadoria com remuneração integral, o que chamou a atenção da classe de professores de universidades públicas, um número bastante representativo, e que até então estava no regime celetista (CLT) no aguardo de uma aposentadoria com o Regime Geral da Previdência Social, como todos os trabalhadores desse regime. Na época, o executivo contava com o então presidente Fernando Collor de Mello. Figura 11 – Manifestação promovida pelo movimento “caras-pintadas” Em seu plano de governo, medidas drásticas foram tomadas repentinamente sem que os cidadãos pudessem ao menos planejar sua vida privada. O caos estava instaurado em nome de uma chamada ‘‘modernização administrativa”, batizada com seu nome: “Plano Collor I”, que previa, entre outras medidas: o retorno do Cruzeiro como moeda; o congelamento dos preços e dos salários; o bloqueio de contas bancárias, incluindo a poupança; a demissão de servidores públicos e empregados de empresas estatais, junto com a redução do tamanho da máquina pública de forma inegociável (sem a devida apresentação de critérios a serem negociados com os representantes dos servidores); além de extinguir órgãos. A demissão feria os preceitos jurídicos, gerando um clima de perda e renúncia, que desencadeou no impeachment do presidente. Observação Impeachment é uma expressão inglesa usada para designar a cassação de um chefe do Poder Executivo. Significa também impedimento, impugnação de mandato, retirar do cargo uma autoridade pública do Poder Executivo. A execução do impeachment pode ser realizada quando o chefe do Poder Executivo comete 44 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II alguma violação, tal como abuso de poder, crime de responsabilidade, crime comum, violação da constituição, perda de confiança, entre outras. Esse processo pode acontecer na esfera nacional, estadual e municipal, sempre gerenciado pelo Poder Legislativo. Quando alguém é afastado, perde automaticamente o cargo e pode ocorrer ainda a destituição dos direitos políticos em todas as esferas (federal, estadual e municipal) por um período que pode variar de acordo com a legislação do país; no Brasil são oito anos. Em seguida, o Congresso aprovou a concessão da anistia aos servidores dispensados por motivação política ou movimentação grevista, e foram criadas a Comissão Especial de Anistia e as Subcomissões Setoriais para analisar os casos e promover a reintegração dos anistiados. Curioso que a anistia somente gerava efeitos de retroação dos vencimentos a partir do “efetivo” retorno à atividade. O governoItamar Franco foi tímido na gestão de pessoas na administração pública. Realizou poucos concursos, investindo pouco em profissionalização da máquina pública. Aprovou em 1994 o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Foi no governo de Fernando Henrique Cardoso, com a elaboração do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, que se estabelece a grande reforma na “maneira de gerir” funcionários públicos. A abordagem era integrada e a gestão de pessoas dentro da administração pública se relacionava a uma nova forma de entender a máquina estatal. Uma transição da administração burocrática para a administração gerencial. Dessa forma, ficou clara a separação de áreas de atuação do poder público e o desempenho de tarefas distintas na gestão de pessoas. Para o setor de atividades exclusivas do Estado, como o policiamento, fiscalização ou regulação, foi fundamental o recrutamento e posterior seleção de pessoas para a ocupação de “cargos efetivos”, contudo, de forma diferenciada do núcleo estratégico, que sustentava a construção de carreiras horizontais. A ideia aqui para a ocupação desses cargos efetivos de atividades exclusivas do Estado sustentava a luta por “carreiras diferentes” para cada natureza de atividade. Algumas modificações ocorreram no governo de Luís Inácio Lula da Silva. Construiu-se um viés na contramão da administração anterior. Houve a clara renúncia à ideia de fortalecer o núcleo estratégico, com concursos públicos anuais e uma política de remuneração que buscasse aproximar os salários dos praticados pelos mercados, de forma a atrair bons quadros, e a tentativa de diminuir o número de carreiras em prol de maior consistência e simplicidade na gestão de recursos humanos. O governo anterior de Fernando Henrique Cardoso acertou em privilegiar o núcleo estratégico com política de remuneração a cada função; mas, com a renuncia a isso, o governo Lula desarticulou, em boa parte, as políticas de RH. Como consequência, remunerações passaram a ser corrigidas em resposta a pressões corporativistas e sem uma estratégia de atração de bons quadros. Descortina-se um problema a esse respeito. Vejamos: o fato de que determinada carreira já pagava mais que o setor privado era imperativo para a correção salarial. Da mesma forma, a proposta passou a ser a antiga visão de diminuir a diferença entre a maior e a menor remuneração, com vistas a mais 45 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública justiça social dentro do funcionalismo público. Tendo tais evidências, um desajuste de negação a uma proposta do governo anterior e uma continuidade desestabilizada preconizaram uma dualidade: as condições de atrair bons profissionais para o Estado e os gastos relevantes acabaram sendo feitos sem clareza de seu sentido. Um dos exemplos que poderemos citar foi a criação de carreiras novas “verticais” para desempenho em apenas um ministério, tornando mais rígida e fragmentada a gestão de recursos humanos. O plano diretor foi deixado à deriva e o discurso, mudou. Para a surpresa, seria retomado pouco depois, com nomes novos. Concursos anuais passaram a ser realizados para as principais carreiras e os salários receberam correções que impulsionavam a atratividade, embora o reajuste muito acima da inflação – do qual já se tinha o quadro visível de que estariam acima do mercado – agravou a situação fiscal, sem vantagens para a profissionalização. Algum incremento foi executado, apesar de não ter estancado o descontentamento do funcionalismo público, mas para o Executivo tornara-se um avanço de governo, mesmo que anunciasse um posterior agravamento de crise. Trata-se da substituição por funcionários de carreira, terceirizados e pessoas contratadas por organismos internacionais. Aparentemente, isso deu maior estabilidade funcional à máquina pública; de certa forma, a terceirização não foi extinta e houve critérios de construção do processo do plano diretor na gestão de pessoas. Porém, a crise foi agravada, as correções de salário e as contratações em grandes números tornaram-se um problema fiscal. A folha do governo federal cresceu, apesar da importância de “voltar os olhos” para a profissionalização. O que não combinou com o crescimento nacional foi o orçamento comprometido e as despesas de funcionalismo. Historicamente, os servidores públicos sempre foram taxados por boa parte da população como pessoas acomodadas, que se apoiam na estabilidade do cargo sem se importar com a adequada execução das suas atribuições, imagem que vem sendo alterada com o passar dos anos. Mesmo assim, qualquer indivíduo que seja servidor ou que tenha contato com o serviço público é capaz de testemunhar o fato de que muitos funcionários ocupam postos-chave sem ter as competências necessárias para tal, enquanto outros, com formação e competência, atuam em posições pouco estratégicas, por não fazerem parte de um ou outro grupo, o que impossibilita o seu crescimento profissional e priva a sociedade de um serviço mais qualificado. Lembrete Baseado no que vimos, devemos refletir sobre a diferença dos séculos passados para o século XX no Brasil em relação à dificuldade de inserção profissional. Curiosamente, tal fato não decorre somente de incapacidade individual, mas da inadequação real dos talentos individuais. 46 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II É relevante observar no dia a dia as abordagens feitas em publicações (jornais e a mídia de forma geral) sobre denúncias e crises da máquina administrativa do governo atual (2014), que, apesar de contundentes, não podem ser levadas a cabo como informações legítimas, e sim fomentos de ideologias partidárias ou simplesmente insatisfação de uma população nacional. Isso, de certa forma, pode ser atribuído simbolicamente ao chamado “senso comum”. Em outras palavras, historicamente valoriza-se pouco o servidor que apresenta resultados positivos e, ao mesmo tempo, recompensa-se com cargos e benefícios pessoas que ocupam posições estratégicas, por interesses pessoais de seus pares que não se preocupam com a adequada execução de seu trabalho e com os benefícios para a população. Certamente, podemos dizer que, dentro do universo de servidores públicos, a grande maioria é competente e comprometida com suas funções. Entretanto, a minoria incompetente e descompromissada com o bem comum, infelizmente, acaba prejudicando a imagem dos demais. O governo federal acenou recentemente, por meio da presidente Dilma Rousseff, o apoio às práticas de meritocracias como forma de aperfeiçoar a gestão governamental. O que não se pode negar é a urgência em percorrer os caminhos que levam para uma gestão pública de excelência. Isso permite passar pela utilização da meritocracia, e é gratificante perceber que passos em nosso país estão sendo trilhados. Observação O fisiologismo aproxima-se muito do clientelismo. É um tipo de relação de poder político em que as ações políticas e decisões são tomadas em troca de favores, favorecimentos e outros benefícios a interesses individuais. A diferença é que o clientelismo se funda na confiança e na lealdade, enquanto as práticas mais contemporâneas se aproximam de uma relação de negócios (Adaptado de: <dicionarioweb.com.br /fisiologismo/>. Acesso em: 31 mar. 2014. O patrimonialismo é a característica de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado; é uma ideia essencial para a definição do “homem cordial”, conceito idealizado pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil (São Paulo:Cia. das Letras, 1997). 47 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Saiba mais Indicamos a leitura de: LEAL, V. N. Coronelismo: enxada e voto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Nele, o autor trabalha de modo magistral o patrimonialismo no Brasil. Para Leal, à medida que o poder público ia se afirmando sobre o poder privado e o Estado imperial ganhava força, podendo prescindir da “muleta” dada pelos latifundiários e senhores de terras, esse mesmo Estado teria (fora dos parâmetros legais) tolerado que o fazendeiro ou também chamado de “coronel” (saliento sem patente) embarcasse dentro da “canoa” do Estado moderno, em troca da “força moral” advinda dos votos dos coronéis – fazendeiros (idem, sem patente). Já os fazendeiros, “perdendo os anéis para conservar os dedos”, souberam adaptar-se aos novos tempos e embarcaram quase incólumes na “canoa sem remo” da república. O legado do poder privado, mesmo hoje, ainda sobrevive dentro da máquina governamental com o uso e a presença do “jeitinho brasileiro” (expressão do antropólogo Roberto DaMatta), quando ainda a maioria dos políticos veem o cargo público que ocupam como uma “propriedade privada” em detrimento dos interesses da coletividade. 3.2 Liderança nas organizações – modernos processos teóricos de liderança A eficiência de um exército consiste em parte da ordem e em parte do general; mas principalmente do último, porque ele não depende da ordem, ao passo que a ordem depende dele. (Aristóteles, Metafísica) A liderança também é um processo social. As relações se estabelecem por meio das pessoas e das influências que exercem umas nas outras. O núcleo desse processo é composto pelos líderes, liderados, um fato e um momento. A condução de um grupo de pessoas, transformando-o numa equipe que gera resultados é chamada de liderança. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançar os objetivos da equipe e da organização. 48 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Assim, o líder diferencia-se do chefe, que é aquela pessoa encarregada por uma tarefa ou atividade de uma organização e que, para tal, comanda um grupo de pessoas, tendo autoridade de mandar e exigir obediência. Para os gestores atuais, são necessárias não só as competências do chefe, mas principalmente as do líder. A liderança constitui uma das preocupações centrais da atualidade. A condição de seu exercício depende, em grande medida, da eficácia e eficiência dos grupos e organizações em setores tão diversos como o ensino, unidades sociais, em famílias, nas instituições beneficentes, na política, no trabalho – seja qual for a sua natureza –, nos esportes, na igreja, na saúde, na atividade sindical, nas forças armadas, no setor público e, sobretudo, na atividade empresarial. Com o surgimento do enfoque no comportamento organizacional, que estudava o impacto dos indivíduos, grupo e estrutura sobre a eficácia da organização, o fator humano no desempenho do papel dos gerentes começou a ser explorado, dando ênfase às questões relacionadas à liderança. Chiavenato (1999, p. 257) acredita que a liderança é essencial às organizações e: “[...] é necessária em todos os tipos de organização humana, principalmente nas empresas e em todas as demais funções da administração: o administrador precisa conhecer a motivação humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar”. O mesmo autor também se refere à liderança como um “fenômeno social” que ocorre exclusivamente em grupos sociais. Ela é definida como uma influência interpessoal exercida em uma dada situação e dirigida pelo processo de comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos. As organizações precisam de líderes que desenvolvam as habilidades de suas equipes, tornando- as mais eficientes, produtivas, inovadoras e integradas. A partir dessa necessidade, a liderança passou a ser um assunto amplamente discutido. A todo o momento surgem novas abordagens, treinamentos e estratégias para o desenvolvimento dessa habilidade, que é um desafio para os gestores. Dependendo da “estrutura organizacional”, opção de cada organização em escolha e adequação, será representada a sua dinâmica e essa estrutura atuará como facilitadora dos processos organizacionais; a cada estrutura eleita em cada organização emergem possibilidades de atitudes de liderança em seu ambiente interno. Apresentaremos um quadro que facilita a compreensão sobre atitudes de liderança com a intenção de prepará-lo para o entendimento detalhado sobre o tópico “Liderança nas organizações”. Ressalta-se que o quadro a seguir não tem como intenção antecipar os estudos propostos no tópico em referência, pois se trata de um tipo de “fotografia panorâmica” sobre a questão de atitudes voltadas para a liderança na atualidade (focando a escolha da estrutura organizacional – que será objeto de estudo mais adiante) sem o compromisso de relatar as bases teóricas e autorais que serão manifestadas e descritas ao longo deste tópico de forma legítima e contextualizada. 49 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Quadro 3 - Atitudes de liderança em diversos tipos de estrutura organizacional Atitudes de liderança Burocrática Autocrática Diplomática Democrática Referência de autoridade Eles Eu Você Nós Orientação Regras como centro Serviço como centro Indivíduo como centro Grupo como centro Motivação Segurança pessoal Poder e prestígio Reconhecimento pessoal Reconhecimento pessoal e do grupo Objetivos Desenvolvimento do sistema Desenvolvimento do serviço Desenvolvimento individual Desenvolvimento do grupo Controles usados Controles formais Controles técnicos Controles psicológicos Controles sociais Fonte de autoridade Regulamentos Ser Individual Grupal Aprendizado Tentativas e erros Repetição Prêmios e punições Envolvimento do grupo Demandas sobre subordinados Lealdade Obediência Ambição Cooperação Contato com subordinados Não frequente Detalhado Informal Informal, próximo e frequente Relações com subordinados Oficiais Autoritárias Manipulativas Integrativas Identificação com subordinados Nenhuma Negativa Aparente Positiva Comunicação com subordinados Evita De cima para baixo Nos dois sentidos e superficial Nos dois sentidos e sincera Moral dos subordinados Apatia Antagonismo Competição Trabalho em equipe Fonte: Motta (2013, p. 40). Liderança Muitos autores afirmam que a liderança não é inata aos indivíduos, que o conceito da liderança muitas vezes é confundido com um dom que influencia inexplicavelmente as outras pessoas. O que é a liderança? É difícil defini-la. Geralmente, a liderança envolve influenciar as atitudes, crenças, comportamentos e sentimentos de outras pessoas; um líder tem mais influência do que aquele que não é líder. Os líderes nas organizações nem sempre são supervisores. Os supervisores nem sempre influenciam os outros; a liderança pode surgir naturalmente em grupos de trabalho. Fontes de influência e poder Não há nada mais difícil de executar, mais perigoso de conduzir e mais incerto no seu sucesso do que tomar a liderança na introdução de uma nova ordem das coisas. (Machiavelli, Il Principe, séc. XV) 50 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão :N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A liderança traduz uma fonte de influência e, consequentemente, de poder nas organizações, quer sejam públicas ou privadas. Os autores French e Raven, desde o ano de 1959 em suas pesquisas sobre lideranças, fizeram uma ponte sobre os estudos do poder interpessoal. Esses estudos foram legitimados pelos autores com o nome de As Bases de Poder Social – em Ann Arbor, Michigan (USA) –, no Instituto de Pesquisa Social dessa entidade. French e Raven preocupam-se com as influências que as pessoas têm umas sobre as outras em qualquer ambiente. De acordo com eles (apud CHIAVENATO, 2010, p. 346), cinco fatores determinam a influência ou poder que uma pessoa tem sobre outra. São eles: • O poder da experiência: é baseado no conhecimento e na perícia que o supervisor tem. A crença do subordinado nessa perícia é importante. O poder da experiência é particularmente eficaz porque o subordinado tem probabilidade de acreditar que o supervisor está certo. • O poder de referência: é o quanto o subordinado gosta, admira e se identifica com o supervisor. As pessoas têm probabilidade de serem influenciadas por outra que elas admirem ou gostem. O poder de referência pode ser desenvolvido por meio de relacionamentos pessoais – por exemplo, fazer com que as pessoas gostem de você. O poder de referência é aumentado pela elevação do status do referencial; por exemplo, as celebridades têm alto poder de referência. • O poder legítimo: é o poder inerente à posição – título de supervisor. O poder legítimo deriva da crença do subordinado de que o supervisor tem o direito legítimo ou a autoridade para estar no comando, e que a pessoa no comando tem certos direitos, por exemplo, dizer a ele o que fazer. • O poder de recompensa: é a habilidade do supervisor de recompensar subordinados, por exemplo, com atribuições desejadas, bônus ou aumentos de salário. A principal limitação do poder de recompensa é que os funcionários podem chegar ao ponto de não fazer coisa alguma para o supervisor sem uma recompensa. 51 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública • O poder coercitivo: é a habilidade do supervisor de punir os subordinados, por exemplo, com ações disciplinares, reduções de salário etc. O poder coercitivo pode ser prejudicial; por exemplo, subordinados irritados podem assumir um comportamento contraproducente. Os supervisores podem fazer tentativas para exercer influência, no entanto, apenas têm poder quando os subordinados são influenciados; o poder surge da interação entre subordinado e supervisor. Em algumas organizações, o supervisor tem pouco poder de recompensa ou coercitivo; as regras organizacionais ou os gerentes do nível superior controlam as recompensas e as punições. Abordagens para a compreensão da liderança Abordagem das características do líder Quando pesquisamos sobre o tema liderança, autores como Spector (2002), Chanlat (2012), Gil (2008) interpelam em afirmações sobre abordagens de características de líder. Em cada autor, o apelo tangencia modelos de comportamento de liderança. O paralelo nesses autores determina que algumas pessoas são melhores líderes do que outras e que é possível determinar as características de um bom líder. Ela faz a seguinte pergunta: “quem se tornará um bom líder?” Alguns defensores dessa abordagem argumentariam que um bom líder em uma determinada situação seria um bom líder em qualquer outra. É feita uma pesquisa e se utiliza uma amostragem de líderes (supervisores em uma organização), para avaliá-los quanto à sua liderança (geralmente o desempenho no trabalho) e várias medidas para as características pessoais, incluindo as habilidades. Em seguida, as pontuações de liderança são correlacionadas com as pontuações de características. A Abordagem do Comportamento do Líder afirma que determinados comportamentos (líder) são eficientes, independente da situação. Ela faz a seguinte pergunta: “o que bons líderes fazem?” Essa abordagem se concentrou nos estilos de liderança, ou conjuntos de comportamentos relacionados, que representam um enfoque na forma de lidar com os subordinados. Por exemplo: • Um estilo de liderança participativo é aquele no qual o líder envolve os subordinados nas decisões. • Um estilo de liderança autocrático é aquele no qual os subordinados têm pouca participação. O Questionário de Descrição do Comportamento do Líder (QDCL) É a escala mais amplamente utilizada para avaliar as dimensões de liderança. Ele avalia as dimensões de consideração e estrutura de iniciação fazendo perguntas aos funcionários sobre seus supervisores. 52 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Muitos estudos têm utilizado o QDCL para analisar os efeitos do comportamento da liderança nos subordinados. É interessante para as organizações que adotam este modelo de liderança observar nas pontuações do QDCL questões sobre reclamações (medida comportamental de insatisfação) e sobre rotatividade. As pontuações médias dos supervisores no QDCL fazem relação com os índices de reclamações e rotatividade em seus departamentos. Baixas pontuações em consideração e altas pontuações em estrutura de iniciação estavam associadas com altos índices de rotatividade. Teoria de Interação Líder – Membro (ILM) Traduz a liderança como interação entre o supervisor e o subordinado, deve ser estudada no nível de interação entre os pares. Nesse modelo, os supervisores tratam os funcionários de forma diferente, e são utilizados os termos: • In-group: são aqueles que estão no círculo interno do supervisor. • Out-group: são os demais. Os indivíduos que fazem parte do grupo são tratados com diferencial. A competência dos subordinados é uma determinante importante da relação entre os membros do grupo. Liderança carismática e transformacional O modelo liderança carismática e transformacional postula as seguintes premissas: • Há líderes com influência considerável e incomum: os líderes podem convencer seus seguidores a fazer coisas que nunca fariam por sua própria vontade. • Existem líderes bons e ruins. Representa um retorno ao enfoque na personalidade dos líderes. O carisma do líder está relacionado à satisfação no trabalho e geralmente é visto como parte da personalidade básica. • O líder pode ser treinado. Como exemplo, esse modelo de treinamento fez dois laboratórios, com profissionais de áreas distintas: atores e gerentes de bancos; utilizando técnicas de treinamento para verificação das evidências citadas no modelo, foi observado um aumento significativo do carisma em ambos os grupos. • A liderança transformacional se caracteriza por uma situação em que os lideres e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de moralidade e motivação. 53 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública A Teoria dos Traços A Teoria dos Traços assume, como premissa, que os líderes possuem traços de personalidade, os quais os auxiliam no seu papel. Ela não enfatiza outras variáveis que podem interferir na relação líder-liderado, portanto, nesse enfoque a pessoa já precisa nascer líder. Os grandes tipos de traços citados nessa teoria são: os fatores físicos, as habilidades e os aspectos da personalidade. Sobre a questão da personalidade, ela é inseparável da pessoa. Todo ser humano possui expectativas, em cada ciclo de sua vida,encadeando a sua história de vida e, consequentemente, a formação de sua personalidade. Os interesses de cada um em relação à vida pessoal em todos os contextos – profissional, pessoal, espiritual – estão envolvidos nas expectativas, que vão das necessidades básicas às possíveis realizações (Teoria das Necessidades Humanas, de Maslow. Veja o tópico sobre “Comportamento organizacional”). No contexto profissional, o envolvimento das pessoas com o trabalho e o seu desenvolvimento de papéis junto à organização tem como ponto de partida a relação com o estilo de gestão perpassado por seu gestor direto (supervisor, gerente) a que ela está diretamente subordinada. Dessa forma, busca-se consolidar resultados no mínimo satisfatórios para ambas as partes. Faz-se necessário, neste diálogo, estabelecer alguns pontos que facilitarão o entendimento da proposta sobre o modelo de liderança da Teoria dos Traços. Semelhanças e diferenças entre as pessoas: • Semelhantes: porque é próprio da condição e da situação dos seres humanos, isto é, eles têm a capacidade de pensar e de expressar seu pensamento por meio das palavras, gestos e outras expressões; o que faz com que cada indivíduo represente a própria raça humana. • Diferentes: porque, apesar de possuírem uma constituição biológica e, muitas vezes, cultural comum, os seres humanos variam em estilo e amplitude ao expressar seus conhecimentos, sentimentos ou outras reações. O modo de cada um agir e reagir depende de dois fatores: • Fatores hereditários e/ou congênitos: são características físicas e neurológicas que os indivíduos trazem ao nascer. • Fatores ambientais: correspondem ao processo de socialização de cada pessoa. Existe um escrito de Hipócrates (400 a.C) sobre quatro tipos de temperamentos relacionados com secreções glandulares: • Sanguíneo = otimista e esperançoso. 54 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • Melancólico = triste e deprimido. • Colérico = irascível. • Fleumático = apático. Jung (1923) classificou a personalidade nos eixos introversão-extroversão e seus desdobramentos de pensamento, sentimento e julgamento. Spranger (1928 apud KRECH; CRUCHFIELD, 1980) propõe seis tipos de personalidades relacionados a valores: • teórico; • econômico; • estético; • social; • político; • religioso. McGregor (1999) propõe a visão de “homem bom: Y” versus “homem mau: X”. Dentro da perspectiva de McGregor, a liderança era atribuída a competências individuais (como exemplo, pessoas notáveis, em suas palavras), que poderiam ser “identificadas” e “replicadas”, e sustentava que havia outras variáveis envolvidas na liderança, inclusive atitudes e necessidades dos liderados, as condições da organização, do ambiente social, político e econômico. McGregor defendia que a liderança não era propriedade individual, mas um relacionamento complexo entre essas variáveis. Maslow trouxe a Teoria das Necessidades Humanas; e Herzberg, a Teoria dos Dois Fatores: fatores higiênicos e fatores motivacionais (ver tópico sobre “Comportamento organizacional” neste livro). Na atualidade, líderes e liderados ganham, seja qual for o formato de liderança, quando conhecem as expectativas relativas ao trabalho em uma determinada organização; aumentam o número de informações sobre as características recíprocas do trabalho; criam vínculos positivos entre a pessoa e a empresa que os contratam; negociam para alinhar expectativas; delimitam de forma clara os papéis e funções; desenvolvem ações e programas para aperfeiçoar as condições de administração dos conflitos e frustrações. 55 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública 3.3 Relações de poder nas organizações – breve análise sobre essas relações nas organizações públicas O forte rei faz forte a fraca gente. (Luís Vaz de Camões) O poder se inscreve nas regras do jogo contextual que torna possível a ação e ao mesmo tempo a limita. Essas regras podem ser vistas como fundamentos da lógica dos cálculos que as ações produzem em um contexto organizado. As ações podem ser designadas como tal quando refletindo regras que assim a reconheçam. Tais regras nunca são isentas de ambiguidade simbólica, ou seja, elas são sempre estabelecidas em função do contexto daqueles que as interpretam e das interpretações. Onde existem regras, devem existir reinterpretações. Por quê? Porque as regras não podem jamais fornecer sua própria interpretação. As questões de interpretação são sempre ligadas aos processos pelos quais as ações se concretizam e são sinônimos das regras. Portanto, estabelecer regras é em si mesma, uma atividade de poder. Porém, essa atividade só se materializa por ações, processo que constitui a concretização do sentido pelo qual o simbólico se fixa. As regras e os jogos tendem sempre a se transformar em objeto de contestação do sentido, por alguns jogadores que introduzem algumas jogadas pessoais e também atuam como árbitros, recurso supremo do poder. Dessa forma, não é apenas a incorporação da força do trabalho que se transforma em forte resistência, tampouco a distância entre a capacidade de trabalhar e o seu resultado efetivo, no qual o poder e a organização do controle estão concentrados. É também inerente a esse poder a sua regulação simbólica. Como bem observou Anselm Strauss, em Negotiations: Varieties, Contexts, Processes and Social Order (1978), ao discorrer sobre “o equilíbrio de poder entre as partes”: Um paradoxo do poder: o poder é uma ação que aumenta em princípio com a autoridade que a delega; a delegação de autoridade só pode se efetivar através de regras que comportam necessariamente liberdade, e essa liberdade dá potencialmente poder a quem é delegada. Daí decorre o fundamento implícito e geralmente aceito da ordem e, ao mesmo tempo, sua fragilidade, sua instabilidade (STRAUSS, 1978, p. 81, tradução nossa). A fim de garantir a ação organizacional, é importante que existam formas de regulação de práticas que devem ser observadas. Vejamos: a liberdade de escolher exige disciplina, caso queira que esta permaneça confiável. Exemplos: uma supervisão direta, a interiorização de normas profissionais, um esquema padronizado, interesses econômicos comuns ou ainda relações com clientes externos podem também servir de regras práticas. Na sua ausência, no caso de disfunção ou perda total de controle, as organizações seriam ingênuas em confiar em tais ações, como sugere Maquiavel em O príncipe. (4 ed., São Paulo: Martins Fontes, 2010). 56 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Sabe-se que o poder não é uma coisa, afirmam com bastante veemência os autores de livros sobre o assunto. Não se deve conceber o poder como uma capacidade que se exerce ou não, mas, ao contrário, é uma questão fundamental de mobilização de recursos e meios de ação num contexto de luta específica, quando o critério de sucesso, no plano da reprodução e da transformação das coisas, é contestado. O nível em que essa luta está submetida às ações, atuando segundo as interpretações legitimadas das regras, torna-se crucial para esses procedimentos. No plano organizacional, não basta apenas saber quem resiste, como faz habitualmente: as lutas podem prosseguir além dos atores nas organizações, principalmente onde o combate envolve a identidade, condições e direitos de grupos sociais, como lutas de grupos por espaços profissionais, etnia, credos religiosos ou políticos.É contra o que se luta, é contra uma interpretação legitimada das regras como utilização usual dadas as práticas disciplinares. O poder exprime-se nas práticas pelas ações disciplinares, e nas lutas que se opõem ou resistem a elas. Ainda no contexto organizacional, citamos As Fontes do Poder Político, de Yukl (apud SPECTOR, 2012, p. 332), um trabalho voltado às questões do poder, especificamente nas organizações, em seu trabalho denominado “Aprendizagem nas Organizações” nos Estados Unidos, entre os anos de 1975 a 1990. De acordo com Yukl (1989), a ação política é o processo pelo qual as pessoas obtêm e protegem o seu poder nas organizações. Existem três meios de alcançar e manter esse poder político. O primeiro é pelo controle sobre os processos decisórios: envolve controlar e influenciar decisões importantes na organização. O controle é alcançado assumindo as tarefas específicas. Por exemplo, a preparação do orçamento, ou participando em comitês apropriados, como um comitê de busca para o presidente do departamento. O segundo meio, formar coalizões: significa entrar em acordo com os outros para apoiar a sua posição e, em resposta a isso, apoiar a posição deles. Por exemplo: “Você me apoia nisto e eu irei ajudá- lo a conseguir aquela promoção”. O terceiro meio é pela coopção: envolve tentar enfraquecer a oposição de uma facção ao permitir que os seus membros participem da decisão; espera-se que seja difícil que eles continuem na oposição. Por exemplo, a mudança de planejamento dos comitês do governo irá tentar envolver as pessoas que serão afetadas pela mudança; para leis contra a poluição, poluidores. Obter influência em grandes organizações pode ser mais uma questão de poder político do que poder individual. Sobre o abuso do “poder de supervisão”: O uso do poder pode melhorar o funcionamento das organizações; no entanto, também se pode abusar do poder (o que se é abominável). Alguns supervisores maltratam seus subordinados na crença de que os maus tratos podem levar ao melhor desempenho, e outros, porque gostam de exercer seu poder. 57 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública O abuso pode assumir muitas formas. A perseguição ao funcionário pode ocorrer quando os supervisores se sentem na liberdade de exigir que seus subordinados executem exatamente o que eles mandam, mesmo que as exigências não sejam apropriadas, como pedir que eles façam favores pessoais. Alguns supervisores são duros e punitivos, criando um ambiente de trabalho intimidante e desconfortável. Sobre o assédio sexual é ilegal em quase a totalidade dos países. As organizações são responsabilizadas pelo assédio sexual dos funcionários e obrigadas a pagar indenizações. Sobre a perseguição aos funcionários é importante que as organizações controlem essa perseguição. Do contrário, surgem dificuldades legais. E mais, efeitos prejudiciais ao funcionamento da organização. A perseguição aos funcionários pode levar a custos não revelados que podem ter um impacto muito maior, entre eles: estresse no trabalho, desempenho ruim, ausências e rotatividade; e são prejudiciais para o bem-estar dos funcionários como um todo. Relações de poder nas organizações públicas Líder é o que tem capacidade de conseguir que outras pessoas façam o que não querem e, ainda assim, gostem de fazê-lo. (Harry Truman) Até esta fase do livro-texto pode-se chegar à conclusão de que, para se construir boas políticas de forma consistente, os gestores, no campo estratégico das organizações, devem conciliar os interesses de todos os públicos, tanto na esfera privada como na pública. Isso é fato. No tocante às políticas públicas, os governos devem concentrar-se, ainda mais, em esforços para processos eficientes para atender e conciliar as demandas conflitantes enquanto debruçam sobre o núcleo substantivo dos problemas. Muitas vezes, o processo político está repleto de irracionalidades, de inconsistências e de razões para a falta de coordenação. Essas deficiências são todas oriundas de políticas resistentes. Em uma situação particular, se tanto as pessoas que participam quanto as que não participam (de forma indireta) dos governos deixam de ter familiaridade com a natureza e o funcionamento do processo político, elas talvez não consigam imaginar estratégias de sucesso para influenciar seu rumo e assegurar que produzam resultados eficazes. Michael Howllet, em seu livro Política Pública: Seus Ciclos e Subsistemas: Uma Abordagem Integradora (2013), comenta sobre os debates a respeito das “regulações” no início da década de 1980, em que inúmeros críticos atacam a ideia de que as regulações – no âmbito das organizações públicas – foram concebidas e executadas exclusivamente no interesse público. No entanto, foi um desafio para os críticos da “regulamentação” compreenderem por que isso aconteceu. Para o autor citado, há cinco “explicações críticas” (até se pode arriscar em dizer que foram “conjecturas”): 58 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A primeira diz respeito às empresas tradicionais satisfeitas que se associaram a consumidores para fazer lobby em favor da desregulamentação e procuraram captar recursos durante a transição para um ambiente mais competitivo. A segunda, refere-se a acionistas, abalados diante do pobre desempenho empresarial, que pressionaram a administração a livrar-se da regulamentação. A terceira, a administração se agastou com as restrições governamentais. A quarta, os reguladores perderam o entusiasmo pelos controles regulatórios; e, por fim, devido a forças externas, como arranjos mais competitivos. O que fica de saldo ao exposto: as cinco razões estão por trás dos esforços de desregulação. Um item inédito citado pelo autor descrito no parágrafo anterior sobre instrumentos regulatórios é a “regulamentação delegada” (assistida, porém efetivada por terceiros). Ou seja, diferentemente da regulação de comando em controle, os governos permitem que os atores não governamentais regulem a si mesmos. Essa, às vezes, é conhecida como “autorregulação”, embora esse termo tenda a descrever os arranjos regulatórios resultantes como se eles fossem mais “voluntários” do que de fato o são. Isto é, enquanto as entidades não governamentais podem se autorregular a si mesmas, elas tipicamente o fazem apenas com a permissão implícita ou explícita dos governos, que conscientemente se abstêm de regular as atividades de uma maneira mais diretamente coercitiva. No âmbito da gestão pública, o poder continua formatando um fenômeno intrigante, complexo e camuflado, no cotidiano de decisões e ações administrativas presentes em comportamentos e atitudes do conjunto de atores envolvidos no cenário dessa realidade. Isso leva à crença de que as contingências são dotadas de poder antes do poder emanado pelas pessoas. Em outras palavras, são as contingências que são poderosas, não as pessoas. Uma pessoa tem poder quando é instrumento de uma contingência poderosa. É esta que explica a transformação das pessoas no ambiente pesquisado em personagens que articulam um jogo de moralidade organizacional, tendo como sustentáculo as relações estabelecidas. Saber se tais contingências podem ser gerenciadas e qual a sua influência na ação ou estado antagônico do dirigente é uma inquietação ainda sem resposta. O poder é um fenômeno intrigante, complexo. Ao se adentrar nos capilares das sociedades, deduz-se o quanto de metamórfico ele se perfila. O fenômeno do poder se delineia tão dinâmico que parece impossível mapear suas relações. As organizações existem nos setores públicoe privado; com fins lucrativos ou não; em situações de trabalho voluntário e trabalho por dinheiro. Cada um desses tipos de organização difere em termos de objetivo, quadro de pessoal e outras variáveis, mas os problemas de poder organizacional e muitas vezes da própria sobrevivência individual estão presentes em cada uma delas. Poder e sobrevivência são constantes encontradas em todas as organizações onde quer que estejam localizadas. Em todas as situações em que um grupo de pessoas se propõe a conseguir objetivos, por meio de seus esforços organizados, desencadeiam-se disputas por áreas de atuação, por status e, frequentemente, destruição da organização. Gestores e trabalhadores, individualmente, assim como grupos de trabalhos, fazem avanços e retiradas como formas de ação e reação ao contexto que se delineia. 59 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública É tecendo sob a “teia” do poder, onde tange aos agentes públicos, que se travam lutas, ameaças, chantagens, coalizões com seus colegas e afins. A respectiva reação organizacional perfila-se como um processo dinâmico de conflito, expressando-se por meio de ações e reações em que cada participante influencia e é influenciado. Vários fatores manifestam-se intervenientes nessa relação (recursos, conhecimento, cultura, autoridade, entre outros) a fim de que prevaleçam seus interesses. Todo membro de uma organização complexa é apenas um elo em um não menos complexo conjunto de autoridade multidimensionado. Idealmente, na concepção racionalista das elites, de planificadores e, pelo mesmo motivo, de numerosos teóricos, tais elos não deveriam jamais provocar resistências, oferecer qualquer obstáculo ou causar algum problema de obediência. Entretanto, raramente isso acontece na prática. Essa resistência tende a estar presente em toda parte e os níveis hierárquicos são raramente – ou nunca – elos passivos e apontam a incerteza e os conflitos como naturais e inevitáveis, salientando a política como o mecanismo para alcançar o acordo. É notório que, inserido no processo político, representa uma disputa de interesses, opera como um fogo cruzado de pressões. Com qual propósito? O de satisfazer a alguns interesses em detrimento de outros, fazendo com que algumas discussões sejam tomadas e se tornem imperativas. Ou seja, todo processo político corresponde a uma produção, da mesma maneira que ocorre quando se processam matérias-primas. Na entrada, ao invés de insumos físicos, irrompem demandas, pleitos e reivindicações; entram na liça interesses sociais que funcionam como objetos de trabalho imateriais. Na saída, ao invés de produtos físicos, decisões que afetam diretamente os interesses envolvidos, vindo ao encontro de uns e indo ao encontro daqueles outros que serão contrariados. O processo todo se subordina a duas forças opostas: apoios que legitimam a tomada de decisões e resistências que visam a modular ou a impedir certa ação. Nas organizações, os agentes medem forças: proprietários e gestores fornecem a coalizão dominante; gestores integram a equipe diretiva; trabalhadores opõem resistência – a não ser que participem das decisões ou partilhem resultados –; clientes, fornecedores, investidores, autoridades, sindicatos, mídia, comunidade circunvizinha e associações funcionam como lobbies ou como sustentáculos de redes informais de poder (panelinhas, patotas, turminhas) que lançam seus mil tentáculos. A ação organizacional é o resultado indeterminado de lutas importantes entre diferentes atores: entre pessoas que dispõem de recursos diversos; entre pessoas cujas identidades organizacionais serão modeladas pelo modo como as práticas disciplinares pesam sobre elas, ou mesmo pela utilização que fazem de conhecimentos técnicos; entre pessoas que procuram exercer o poder e determinar a natureza da ação organizacional; e demais táticas de que as pessoas se utilizam habitualmente em relação às suas origens, trabalho e lutas. Em consequência, os interesses dos atores nas organizações e as decisões que eles tomam dependem necessariamente das formas variadas de cálculo organizacional. Também a ação organizacional não pode reduzir-se à expressão de algum princípio interno essencial, pois, quando 60 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II se faz apelo a um princípio único e fundamental, negligencia-se necessariamente a complexidade e as condições nas quais as ações organizacionais aparecem. Cabe um alerta, nessa mesma ordem de ideias: não se pode também explicar as políticas de toda a organização segundo uma teoria geral da exploração do trabalho, nem se pode fazê-lo consoante a uma racionalidade interna. Isso por uma razão bem simples: muitos elementos relacionados a outros aspectos da identidade são esquecidos ou pouco explorados nas numerosas teorias da organização. A política, como o poder, é intangível e difícil de medir. Ela se esconde da visão e é difícil observá-la de forma sistemática. No entanto, já ressaltamos que as organizações são locais nos quais a negociação, a contestação e a disputa entre agentes organizacionalmente ligados e divididos são ocorrências rotineiras. Divisões de trabalho são tanto ‘objeto’ quanto o ‘resultado’ de uma disputa. Os atores organizacionais tentam escrever, dirigir e posicionar todos os demais. Daí a fragilidade de grupos unificados de interesses. Como se vê, as ações organizacionais só podem ser designadas como tal a partir de referências a regras que as identificam. No entanto, onde existem regras, devem existir reinterpretações. Elas não podem jamais fornecer sua própria interpretação. As questões de interpretação são sempre ligadas aos processos pelos quais as ações se concretizam e são sinônimos de regras. Nesse caso, estabelecer regras é em si mesma uma atividade de poder. Porém, essa atividade só se concretiza por ações, processo que constitui a concretização de sentido pelo qual o simbólico se fixa. As regras e os jogos tendem sempre a se transformar em objeto de contestações do sentido por alguns jogadores que introduzem algumas jogadas pessoais e também atuam como árbitros, recurso supremo do poder. Aspectos conclusivos aos quais se chega é que o poder é uma ação que aumenta em princípio com a autoridade que a delega; a delegação de autoridade só pode efetivar-se por meio de regras que comportam necessariamente liberdade. Por sua vez, a liberdade dá potencialmente poder a quem é delegada. Daí decorre o fundamento implícito e geralmente aceito da ordem negociada e, ao mesmo tempo, sua fragilidade e sua instabilidade. O que se pretendeu até aqui foi fazer um levantamento de aspectos que requerem da gestão pública maior sensibilidade de manejo na condução, não só da equipe escolhida, mas da gestão pública como um todo. Observação É oportuno deixar registrado que, no plano governamental, a integração da gestão estrategicamente orientada de pessoas com o plano global de longo prazo implica a articulação entre as ações de diversas áreas de inserção do Poder Público, tais como saúde, educação, obras, administração, dentre outros serviços. Sendo assim, essa peça de planejamento associa-se, necessariamente, a instrumentos de gestão tradicionais, como o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias, e a Lei Orçamentária Anual, 61 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública com o propósito de integrar a gestão de pessoas com os objetivos globais e setoriaisdefinidos pelo ente ou órgão, especialmente na definição de programas (administrativos e finalísticos) e as correspondentes metas de gestão pública. Curiosidades Nicolau Maquiavel foi um importante historiador, diplomata, filósofo, estadista e político italiano da época do Renascimento. Nasceu na cidade italiana de Florença, em 1469, e morreu na mesma cidade, em 1527. Era filho de pais pobres e, desde cedo, interessou-se pelos estudos. Em 1513, escreveu sua obra mais importante e famosa, O Príncipe. Nessa obra, Maquiavel aconselha os governantes sobre como governar e manter o poder absoluto. O texto, que tentava resgatar o sentimento cívico do povo italiano, situava-se dentro do contexto do ideal de unificação italiana. Em 1520, foi indicado como o principal historiador de Florença. Defendia a necessidade de uma cultura política sem corrupção, pautada por princípios morais e éticos. 3.4 O gestor público – diferenças entre sistemas de carreiras e sistemas de emprego Em primeiro lugar, faz-se necessário conceituar e elencar o que é serviço público. Serviço público é um conjunto de atividades e serviços ligados à administração estatal por meio de seus agentes e representantes, mas também exercida por outras entidades, mesmo que particulares, sempre visando promover o bem-estar da população. As atividades prestadas pelo Estado para a sociedade são desempenhadas pelos funcionários públicos que estão integrados nas entidades governamentais, tais como entidades político-administrativas, de direito público e de segurança pública. Serviços públicos tendem a ser considerados tão essenciais para a vida moderna que suas provisões universais precisam ser garantidas por razões morais, e algumas estão até mesmo associadas com direitos humanos fundamentais, como o acesso universal à água. Alguns serviços considerados públicos são: • educação; • eletricidade; • bombeiros; • gás; • saúde pública; • militares; 62 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • polícia; • transporte público; • moradia social; • telecomunicações; • planejamento urbano; • tratamento de resíduos sólidos; • rede de água; • limpeza pública; • ruas asfaltadas; • urbanização pública. Sobre serviços públicos essenciais É frequente o Estado considerar um conjunto de serviços públicos como essenciais, sendo por isso regulado por quadros normativos específicos que visam proteger o interesse público. No Brasil, são considerados serviços públicos essenciais: • tratamento e abastecimento de água; • produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; • assistência médica e hospitalar; • distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; • serviços funerários; • transporte coletivo; • captação e tratamento de esgoto e lixo; • telecomunicações; • a guarda, o uso e o controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares. • processamento de dados ligados a serviços essenciais; • controle de tráfego aéreo; • compensação bancária. 63 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Sobre servidor público – conceito É o termo que designa a pessoa que matém vínculo de trabalho (vínculo empregatício) em orgãos ou entidades governamentais. Entende-se por orgãos ou entidades governamentais as autarquias e fundações de direito público, bem como entidades político-administrativas. Os vínculos de emprego obedecem a prerrogativas legais por terem a sua origem no concurso público, o que torna a pessoa revestida da defesa do setor público. A administração pública exerce um papel fundamental para preservação do princípio da dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. É necessária a concretização de direitos sociais fundamentais, como saúde, educação, alimentação, trabalho, habitação, lazer, segurança pública, enfim, direitos essenciais para a própria sobrevivência humana com o mínimo de dignidade. Nesse sentido, tais direitos são incompatíveis com uma administração negligente. Todo agente público, em qualquer que seja a sua posição hierárquica, deve atuar com observância irrestrita aos princípios que regem a administração pública, garantidos no art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988. Podemos definir titulares de cargos públicos e “empregados ocupantes de empregos públicos” como sendo servidores públicos. Mukai traz uma explicação pertinente ao entendimento sobre todos aqueles que, em sentido amplo, fazem parte ou servem o Poder Público: Os agentes administrativos são os servidores públicos, em sua acepção estrita, que prestam serviços profissionais remunerados ao Poder Público ou às entidades de sua administração indireta (autarquias, fundações, empresas públicas ou sociedades de economia mista), em todos os níveis de governo da federação brasileira, integrados em cargos, quando subordinados ao regime jurídico estatutário do chamado funcionalismo público da legislação trabalhista (MUKAI, 1999, p. 163). Saiba mais Entenda mais sobre a Lei n° 8.112/90 por meio da leitura de: NASCIMENTO, E. S. Estatuto dos servidores. 2. ed. São Paulo: Impetus, 2012. A obra recomendada promove um debate com o leitor, além dos comentários pertinentes sobre Direito Administrativo, voltado ao estatuto dos servidores. 64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Observação Estado (do latim, status, us: modo de estar, situação, condição). Segundo o Dicionário Houaiss, é datado do século XIII e designa o “conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e administram uma nação; país soberano, com estrutura própria e politicamente organizada”. Para Kant, o Estado tanto é designado por coisa pública (res publica), quando tem por liame o interesse que todos têm em viver no Estado jurídico, como por potentia, quando se pensa em relação com outros povos, ou ainda por gens, por causa da união que se pretende hereditária. 3.5 O componente ético nas relações de trabalho - possíveis tratados de coesão social O debate em torno da necessidade da reflexão ética permeia todas as esferas da sociedade. Pode-se afirmar que nos últimos 10 anos, o número de publicações em torno desse tema reflete uma especial mudança na cultura e na dinâmica social. Certamente, alguns fatores contribuem na atualidade para expandir tal debate. As transformações do capitalismo, a nova regulamentação internacional e a diminuição do valor atribuído ao trabalho concreto em relação ao trabalho imaterial apontam para um novo espírito do capitalismo e para uma nova configuração da ética do trabalho, muito distintos dos valores que caracterizavam o sentido do trabalho na modernidade. O hiperindividualismo, que é característica de nossos tempos, e a perda do sentido de “dever” para com a sociedade são as marcas da contemporaneidade. É importante observar o problema do comportamento ético-moral, que hoje é tema nos negócios e invade todas as áreas das organizações, em todos os setores econômicos. Da mesma forma, é assunto presente na mídia, com a diversidade de seus meios de comunicação. No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convençõesestabelecidos por cada sociedade. Os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra ética vem do Grego ethos, que significa modo de ser ou caráter. Já a palavra moral tem origem no termo latino morales, que significa relativo aos costumes. 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública Observação Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral. Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau. No sentido “prático”, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. Ambas são responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade. No dicionário de Aurélio (2005, p. 407), conceitua-se ética e moral como “estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Aurélio (2005, p. 604) também descreve moral como um conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. O dicionário de Sérgio Ximenes (2002, p. 409) define ética como ciência que estuda os juízos de moral referentes à conduta humana, virtude caracterizada pela orientação dos atos pessoais segundo os valores do bem e da decência pública, e a moral como o conjunto de regras de conduta baseadas nas noções de bem e de mal. Os estudos de Maximiano (2009) demonstram que a ética tem sido entendida sob vários pontos de vista. Assim, a concepção de ética tratada pelo autor afirma que: A ética é como a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação de pessoas e organização e a disciplina que dispõe sobre o comportamento adequado e os meios de implementá-lo levando-se em consideração os entendimentos presentes na sociedade ou em agrupamentos sociais particulares (MAXIMIANO, 2009, p. 294). Um dos objetivos da ética é a busca de justificativa para as regras propostas pela moral. A moral estabelece regras que são assumidas pelas pessoas como uma forma de garantir o seu bem-viver, independe das fronteiras geográficas, e garante uma identidade entre pessoas que utilizam esse mesmo referencial comum. A ética empresarial nos leva à busca do interesse comum, ou seja, do empresário, do consumidor e do trabalhador. As organizações devem seguir as regras e os princípios morais. Contudo, observa-se a existência, dentro do comportamento organizacional, de algumas empresas que não estão na realidade (voltadas para os clientes), mas, sim, apenas dizendo isso, sem praticar a ética. Afinal, ética é algo que 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II todos precisam ter. Alguns dizem que tem, mas na verdade poucos levam a sério. Na ética profissional as regras devem ser seguidas. Trata-se de normas de conduta. É percebido que valores éticos e sua interpretação podem ser absolutos, porque estão baseados na premissa de que as normas de conduta são válidas em todas as situações, ou relativas a essas, e que as normas dependem da situação. Para melhor entender, fez-se um estudo mais aprofundado, que demonstrou que, no caso da ética relativa, os orientais acreditam que os indivíduos devem dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual pertencem. Já para os ocidentais, o entendimento é de que há diferença entre a vida pessoal e a vida profissional. Assim, encerrado o horário normal do trabalho, o restante do tempo é do trabalhador e não do patrão. Em relação à ética absoluta, parte-se do princípio de que determinadas condutas são intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que seja a situação e, dessa maneira, devem ser apresentadas e difundidas como tal. Ética empresarial e sua importância A empresa tem sido entendida, doutrinariamente, como uma atividade econômica organizada, exercida profissionalmente pelo empresário, através do estabelecimento. Quando falamos de uma empresa, nos referimos a uma organização particular, ou governamental, ou de economia mista, que produz e oferece bens e/ou serviços. Ética empresarial diz respeito a regras, padrões e princípios morais sobre o que é certo ou errado em situações específicas. Existem algumas definições de ética empresarial, que refletem um melhor entendimento sobre sua importância. A sociedade contemporânea apresenta um novo modelo para que a empresa possa progredir e o Estado evolua adequadamente, mediante a mobilização construtiva de todos os participantes, não só no plano político, pelo voto, mas também no campo econômico, mediante várias formas de parcerias, com base na confiança e na lealdade que devem presidir as relações entre as partes. Nesse contexto, a empresa abandona a organização hierárquica e se apodera do mundo empresarial, com os valores que lhes são próprios, como iniciativa com responsabilidade, comunicação, transparência, tranquilidade, inovação, flexibilidade nas lúcidas lições. Em outras palavras, a empresa, abandonando sua estrutura originária, sob o comando dos proprietários da companhia, tem de aceitar novas regras, uma nova forma de governo, com maior poder atribuído aos acionistas e empregados e até à própria sociedade civil, passando a ter verdadeiros deveres, não só com os seus integrantes e acionistas, mas também com os seus consumidores, clientes e até com o meio ambiente. Na questão ambiental também houve uma grande transformação: a organização passa a constituir um valor permanente para a sociedade, de forte conteúdo ético. Proteger o meio ambiente tornou- se um imperativo para todos os habitantes da Terra, exigindo que cada um se conscientize dessa grande necessidade, o que requer esforço comum, em resposta aos desafios do futuro. Com todas essas transformações, hoje é necessário que as empresas promovam o desenvolvimento sustentável, conforme tem insistido a Câmara de Comércio Internacional. Entende-se também que atualmente é preciso pensar, e pensar rápido, com coragem e ousadia, numa nova ética para o desenvolvimento. Em uma ética que transcenda a sociedade de mercadoria, da 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a RecuRsos Humanos na administRação Pública suposta generalização dos padrões de consumo dos países ricos para as sociedades periféricas, promessa irrealizável de certas correntes desenvolvimentistas do passado e dos neoliberais de hoje. Tal promessa não passa de um jogo cheio premissas falsas, devido a obstáculos políticos criados pelos países ricos (que brecam a generalização da riqueza) e as limitações impostas pela base de recursos naturais. Ou seja, as limitações ecológicas inviabilizam (devido ao efeito estufa, destruição da camada de ozônio, dilapidação das florestas tropicais etc.) a homogeneização dos padrões suntuários do consumo para toda a humanidade. Razões para a empresa ser ética Em um estudo feito por vários autores que examinam a ética empresarial, fica estabelecido que o comportamento ético é a única maneira de obtenção de lucro com respaldo moral. A sociedade tem exigido que a empresa sempre
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