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Beleza da Gratidão e Saudades

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BELEZA 
A beleza está nos olhos da dona Maria Francisca. Há alguns dias ela não estava 
tão bela. Deitada na maca, com suplemento de oxigênio em suas narinas, sua 
fala ainda cansada e intercortada, buscava me deixar feliz dizendo que estava 
melhorando. Mesmo no seu pior dia, olhava-me com seus marejados e dizia: só 
um pouco de falta de ar. Em pôr preceitos que ultrapassam qualquer lógica 
natural da vida, ela melhorou. Respirava agora por conta própria. Enchia o peito 
e agora dizia com fôlego: estou ótima, graças ao senhor e a Deus! Mais belas 
que sua face agora corada estavam naquele momento as lágrimas que desciam 
de seus olhos. Mais belas estavam sua fé e força de vontade. Minha função foi 
cumprida mas meu esforço foi recompensado. Não há beleza maior que a 
gratidão mais sincera. 
SAUDADES 
 
Do que realmente sentimos quando sentimos saudades? Acabo de assistir um 
filme bem interessante. Em “O Paraiso é logo aqui”, o personagem volta a sua 
casa de infância por uma razão específica, e ao entrar na sala que antes era seu 
quarto, ele diz a seguinte frase: não sinto nada. Entranho porque, apesar de não 
saber o que sentiria, com certeza alguma coisa deveria sentir. Quando retornei 
à uma cidade bem pequena no interior de minas, na qual morei quando bem 
criança, pedi para minha mãe me guiar até a casa que tinha somente recordação 
em fotos e histórias inesquecíveis. Quando cheguei lá, tive a seguinte percepção: 
pensei que fosse bem maior. Bem, ela está do mesmo tamanho, até do mesmo 
jeito por sinal, mas eu era bem menor. Claro que tive uma sensação gostosa, 
confesso; assim como quando sinto aquele cheiro que remete à época de 
infância; como quando encontramos aquele presente antigo dado por alguém 
muito especial. Lugares que um dia visitamos. Não que esse lugar nos dê o 
mesmo prazer que hoje. Não que esse presente hoje me sirva. De forma alguma. 
Pra falar a verdade, esse lugar nem me pertence mais. Não caibo mais nesse 
brinquedo, nessa blusa. Não me entretêm mais essas gravuras coloridas. Mas 
então por que me faz tão bem? Simplesmente, sinto saudades. Não estou 
dizendo que devemos deixar de trazer pra mais perto o que sentimos falta. 
Mesmo porque tem algo de muito positivo nessa busca: sentimos que devemos 
crescer. Se hoje me parece pequeno porque éramos pequenos, é porque temos 
que renovar pra continuar crescendo, e só percebemos isso quando 
reconquistamos o objeto de nossa saudade. Sentir saudades é o prazer sinto ao 
lembrar do prazer que sentia, e isso nunca vai mudar de tamanho. Pode passar 
o tempo, a saudade sempre vai me acompanhar. Não quero deixar de 
sentir saudades.

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