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A TELENOVELA ATUAL- TEXTO DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

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NOVELAS EM XEQUE? 
A busca pela qualidade e inovação 
Por Tcharly Magalhães Briglia em 29/07/2014 na edição 809 
 
A telenovela é o produto de maior sucesso e repercussão da televisão brasileira 
desde a década de 1970. Comparada à paixão nacional pelo futebol, a novela 
continua sendo um elemento cultural identificador do nosso povo. A ascensão de 
novas mídias e as mudanças no comportamento do público, no entanto, mostram 
que o nível de abrangência dos folhetins eletrônicos tem diminuído gradativamente. 
As histórias campeãs de audiência não alcançam mais a mesma repercussão. Cada 
ponto da pesquisa Ibope, que equivale a 65 mil telespectadores, é buscado com a 
mesma intensidade, uma vez que as metas idealizadas pela Rede Globo não se 
concretizam há muito tempo. 
Tal situação põe em xeque o espaço da telenovela na vida do brasileiro? Em parte, 
sim. Embora seja evidente que muitos ainda não possuem acesso à televisão por 
assinatura e ainda vejam a Globo como única referência de TV no país, a cada ano 
os números da audiência têm mostrado a migração do público para outras mídias e 
outros canais. 
Desde que assumiu a direção-geral da Globo, Carlos Henrique Schröder anunciou 
que não existem mais metas numéricas, mas sim, a busca pela qualidade e 
inovação. Ementrevista concedida ao jornal O Globo no início do ano, Schröder 
falou sobre a aposta em formatos mais curtos, como as séries semanais com 
episódios continuados (caso de O Caçador) e em novelas e minisséries com tons 
mais inovadores, a exemplo da possibilidade de uma novela inédita entrar no ar na 
faixa das 23h, em 2015. É louvável a iniciativa da inovação se sobrepor à 
audiência, mas a “fuga” do público é digna de estudo e cautela. Em pouco tempo, 
tem se visto um afastamento cada vez mais intenso do telespectador. 
Antes de discutir a situação da Globo, Record e SBT também se mostram como 
painéis importantes para análise. Silvio Santos conquistou o mérito de fazer da sua 
emissora o espaço-mor para as tramas infantis. O sucesso de Carrossel e 
Chiquititas comprova o potencial do público mirim para o consumo de produtos 
midiáticos. Não por acaso, o SBT tem se favorecido com os números da audiência 
na faixa das 20h30. 
A Record, por sua vez, vive uma situação bem diferente e não muito agradável. 
Poucos atores têm renovado os seus contratos e o casting da emissora está cada 
vez mais seleto. Seja por opção da casa ou por escolha do artista, os contratos da 
segunda maior produtora de novelas do Brasil estão sendo encerrados e as 
perspectivas para o futuro da emissora são desanimadoras. Vitória, a atual trama 
no ar, no horário das 21h15, além de ter como difícil missão a concorrência direta 
com a novela das 21h da Globo, estreou em período de Copa e com 
protagonistas, em geral, de pouco carisma, fatores que trouxeram a atmosfera de 
fracasso. Embora seja escrita por uma das mais competentes dramaturgas do 
canal, Cristianne Fridman, Vitória teve a má-sorte de estrear em uma fase 
marcada pelo descaso da Record com a dramaturgia. Não faltam profissionais de 
talento na emissora, mas falta uma política de divulgação dos produtos e 
investimento em novos formatos e em horários que tragam o devido retorno. A 
Record de hoje em nada se assemelha com a emissora que abalou a hegemonia de 
novelas da Globo na década passada. Ainda em 2014, haverá a estreia de Plano 
Alto, do talentoso Marcílio Moraes, autor da bem-sucedida Vidas Opostas (2006) 
Trata-se de uma minissérie de temática política que pode agradar em cheio, caso 
não seja colocada em um horário ingrato e diminuída com a estreia da nova edição 
do reality A Fazenda. As minisséries bíblicas encontram um espaço e um público 
tímidos. No ano que vem, será a vez de estrear a primeira novela com temática 
religiosa, Os Dez Mandamentos. Ultrapassar os dez pontos de audiência, para a 
Record, no quesito novelas, já seria um marco e tanto para o quadro atual. 
Narrativa capaz de convencer 
Na Globo, os ares são de intensa reformulação. As novelas das 18h nunca viveram 
um movimento tão grande de tramas curtas e diferentes, em tese, uma das 
outras. A espinha dorsal do melodrama se mantém em todas elas, mas nota-se 
uma tentativa desenfreada de agradar todo e qualquer público. A “antiga” meta de 
25 pontos não é atingida desdeFlor do Caribe (2013). De lá pra cá, os números 
oscilam de forma preocupante. De 2011 até hoje, tem se visto muitas histórias 
com potencial e popularidade, mas que em nada se comparam com o padrão de 
audiência que o horário já apresentou. A tentativa de inovação é a marca de todas 
elas. Com Cordel Encantado (2011), o universo fantástico nordestino ganhou ares 
de conto de fadas. A Vida da Gente (2011-2012) mostrou-se como uma grande 
crônica de costumes, em um estilo bem próximo dos bons tempos de Manoel 
Carlos. A autora, Lícia Manzo, volta em 2015 com uma nova história. Amor, eterno 
amor (2012) foi mais uma novela de temática espírita que nada trouxe de 
novo.Lado a Lado (2012-2013) ganhou o Emmy, mas não conquistou um grande 
público, apesar da reconhecida qualidade. Flor do Caribe (2013) foi uma versão 
anos 2000 deTropicaliente. Joia Rara muito prometeu e pouco repercutiu. 
Com Meu Pedacinho de Chão, remake da trama de Benedito Ruy Barbosa, Luiz 
Fernando Carvalho trouxe sim, muita inovação. A atual trama das 18h não é um 
sucesso de audiência, mas fez uma revolução no horário, ao rever os limites da 
verossimilhança e exacerbar nas doses de onirismo. A novela é uma fábula 
colorida, leve, moderna e tradicional ao mesmo tempo e movimentou o público fã 
do gênero. Foi uma das grandes inovações já vistas nas novelas globais, nos 
últimos anos. Ao sair de cena no dia 1º de agosto, vai ser lembrada como uma 
trama que cumpriu com seu dever de entreter com qualidade. Para substitui-la, Ruy 
Vilhena chega com seu primeiro voo-solo no Brasil:Boogie Oggie, que chama a 
atenção pelas chamadas criativas e pelo revival das danceterias, algo que pode 
conquistar o público sedento de grandes histórias. Aliás, o departamento de 
publicidade da Globo merece o reconhecimento pelas chamadas de novelas, cada 
vez melhores. 
Às 19h, a emissora tem se dado ao luxo de fazer experiências cada vez mais 
questionáveis e com baixa repercussão. Há muito tempo não se chega à marca 
dos 30 pontos (considerando a Grande São Paulo). Desde o término de Sangue 
Bom (2013), o horário não apresenta uma trama típica das comédias “açucaradas 
do horário”. Inovar é preciso, mas exagerar é um risco. A novela que acabou em 
maio, Além do Horizonte, não convenceu o público, embora a narrativa de 
aventura construída em cima do “mito da felicidade” tenha agradado à crítica. Com 
Geração Brasil, a Globo esperava voltar a sorrir, mas a história de Felipe Miguez e 
Isabel de Oliveira peca exatamente pelo enredo nada atraente e desenvolvido de 
forma confusa. Como destaca o crítico especializado em novelas Nilson Xavier, 
Geração Brasil se perdeu na tentativa de inovar no horário. O roteiro sobre 
tecnologia e informática mostrou-se frágil e confuso, apesar das boas 
interpretações do elenco. Estranho imaginar que a novela foi escrita e dirigida pela 
mesma equipe de Cheias de Charme (2012). Mais estranho ainda é a Globo não 
ter percebido que uma novela sobre informática em níveis exagerados poderia ser 
um risco. Os diálogos são truncados e versam sobre um tema que a população 
não domina. Fala-se em sistema de computação como se estivesse falando de 
algo rotineiro. A Parker TV torna-se um cenário repleto de formatos televisivos, 
mas a tentativa de metalinguagem não convence, haja vista a falta de ganchos 
com potencial para “fisgar” o público. Falta em Geração Brasil aquilo que faz todo 
mundo parar para ver uma novela: uma boa história. Não só de grande elenco ou 
de muito marketing se faz uma trama. O público quer mesmo é se envolver emuma narrativa de qualidade e capaz de convencer dentro dos limites da ficção. 
Transformação de hábitos 
Na faixa das 21h, Império é a aposta do momento. A julgar pelos seis primeiros 
capítulos, Aguinaldo Silva e equipe têm uma super novela nas mãos. A história 
mostrou-se convincente, bem construída e repleta dos elementos clássicos que 
sempre marcaram o gênero: mocinhos e mocinhas bem delineados, vilãs 
carismáticas, personagens de apelo popular e uma trilha repleta de clássicos fazem 
de Império um “novelão” mesmo, como prometeu o autor. Até a abertura lembra 
as novelas mais antigas, mas que tinham uma repercussão muito melhor. A 
direção competente do núcleo de Rogério Gomes deu a novela um ritmo 
cinematográfico sem subverter o gênero. Assiste-se a uma história com potencial 
de agradar ao público e, quem sabe, atingir os sonhados 40 pontos, marca não 
atingida com muita frequência desde o fenômeno Avenida Brasil (2012). O elenco 
deImpério é outro acerto. Trata-se de uma grande promessa, possível de fazer o 
público esquecer o naufrágio de Em Família (2014), os exageros e erros de Amor à 
Vida (2013-2014) e a história desconcertante e repleta de personagens “soltos” 
vista em Salve Jorge(2012-2013). Nas redes sociais, Império repercutiu com uma 
intensidade parecida com os sucessos de outrora. 
No horário das 23h, a busca por novas formas de narrar atinge o ápice com O 
Rebu,remake da trama de Bráulio Pedroso, exibida em 1974. Na nova versão de 
George Moura e Sérgio Goldemberg, a história está mais próxima do seriado 
estadunidense. A edição não-linear alia-se a uma montagem clipada, repleta de 
planos rápidos, que impõe à narrativa uma montagem densa e intensa. Não se 
pode “piscar os olhos” na história. A direção de fotografia do renomado Walter 
Carvalho dá um tom de minissérie e de cinema à novela das onze. O fato de 
concentrar a narrativa em único conflito básico, marcado por muitos e bem 
realizados flashbacks, mostrou-se como uma iniciativa arriscada. A novela não 
atingiu ainda a audiência esperada. Em parte, a situação decorre das oscilações de 
horário (com exibições às segundas às 22h30, terças e quintas às 23h e sextas às 
23h20). De fato, O Rebu é uma novela para poucos, mais cult do que pop. Pode 
não trazer a repercussão que se imaginou, mas valoriza o gênero e a emissora, 
que comprova sua capacidade de inovar sem perder as raízes. A crítica ainda 
duvida se a história pode ser chamada de novela, mas a qualidade da história é 
notável, embora ela atinja apenas alguns nichos. Aliás, a faixa horária tem sido 
marcada por remakes que buscaram “reconstruir” as tramas originais, sem 
copiá-las. Foi assim com O Astro (2011),Gabriela (2012) e Saramandaia (2013). 
Diante de tal cenário, o que se pode esperar do futuro da telenovela? Não se trata 
de um discurso apocalíptico, mas de uma constatação evidente de que os tempos 
são outros. Qual pode ser a saída para o gênero? Uma desvirtuação que a 
aproxime dos seriados? Uma diminuição de capítulos que evite o desgaste e o 
cansaço do público? Por que as histórias não agradam mais como antes? Em 
tempos de pós-modernidade, o que se vê é uma plateia exigente ao extremo. Não 
há perdão para os erros, com internautas que postam a cada segundo críticas 
duras de pouco mais de cem caracteres. O público critica, debocha, questiona e 
muda de canal sem dó. Tal comportamento reverbera na escrita, o que faz com 
que os autores tentem entender como funciona a cabeça do telespectador 
contemporâneo, dividido entre a tela da tevê, do celular e do computador. Vive-se 
uma era de transformação absurda nos hábitos do público. A interatividade só 
tende a aumentar e as chances de ver outras histórias podem afastar a audiência 
das novelas. Os canais a cabo têm se mostrado mais aptos a lidar com as novas 
narrativas, mas ainda há muito que se fazer na TV Aberta. Será uma crise de 
criatividade ou um excesso de exigência do público? É a hora de outra emissora 
investir em séries e formatos tão rápidos e intensos quanto às relações modernas? 
O que esperar de Babilônia, Favela Chique, Lady Marizete e Sete Vidas, as tramas 
que ocuparão os horários principais da Globo em 2015, ano do seu cinquentenário? 
Como o SBT e a Record vão lidar com essa situação? A crise de novelas pode fazer 
com que o número de tramas em exibição diminua? Reprises, como a de Cobras e 
Lagartos, ainda têm espaço na TV? A repercussão das atuais e próximas novelas 
podem trazer respostas a essas perguntas e dimensionar o papel que os folhetins 
eletrônicos ainda ocupam na vida do brasileiro. 
 
­­ 
José Vitor Rack

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