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Resumo 1 prova

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Gomes, P.C.C. Os dois pólos epistemológicos da modernidade. In: Geografia e Modernidade. 8ªed. Rio de Janeiro: Bertrand. Brasil, 2010. PP: 19-47
O texto faz uma discussão sobre a modernidade, a fim de situar o pensamento geográfico enquanto conhecimento científico.
O autor inicia discutindo a questão da modernidade e a emergência das características pós-modernas diante das mudanças ocorridas em diversas áreas do conhecimento como a arquitetura, as ciências e as artes. Onde as características de racionalidade, universalidade e funcionalidade, marcantes dentro do modernismo, são confrontadas por novos elementos que expressam em si “a negação da razão como único principio legitimo da cultura e do saber.” (2010, pp,25)
Assim, o autor constata que a modernidade apesar de ser “... frequentemente apresentada como um período totalmente dominado pela racionalidade”, “... constrói sua identidade mais sob a forma de um duplo caráter: de um lado, o território da razão, das instituições de saber metódico e normativo; de outro, diversas “contracorrentes”, contestando o poder da razão, os modelos e métodos da ciência institucionalizada e o espirito cientifico universalizante. (2010, pp,26)
Esse campo de tensão, é demonstrado por ele como dois pólos que mesmo ao se opor, ainda se apresentam de forma dialógica e construtiva, e podem de certo modo ser tomados como complementares. 
Sendo o primeiro polo epistemológico centrado na universalidade da razão, onde “O pensamento é um julgamento racional lógico sobre a realidade, e a ciência constitui a esfera onde as regras e os princípios deste julgamento são organizados sistematicamente.”, (2010,pp,30), “...afim de estabelecer afirmações universais.(2010,pp,32)
No outro polo epistemológico considera-se que “Em lugar de explicar, a partir da construção de um sistema abstrato e racional, a ciência deveria compreender o sentido das coisas. (2010,pp,33). Tem-se aqui a “ A valorização do sentido, da expressão, do único, do espontâneo, da subjetividade e da multiplicidade de vias analíticas...”(2010,pp,34), ou seja uma distinção na forma de relacionar homem e natureza.
E é justamente nessa contraposição entre os dois polos epistemológicos da modernidade, a racionalidade e a contra racionalidade que, a ciência se mantem em movimento permanente ,fazendo assim, sua renovação.
Partindo dessa dualidade da modernidade, ele passa então a elaborar hipóteses sobre o desenvolvimento da ciência geográfica.
“A primeira é a de que em torno desta confrontação entre estes dois polos surgiu um gênero de debate na geografia, encontrado recorrentemente a cada momento de transformação ou de discussão metodológica. A segunda deriva da primeira e consiste em considerar que esta disciplina constitui uma expressão da modernidade, uma vez que ela apresenta exatamente uma imagem do mundo ou a descrição do mundo correspondente a este período moderno.”(2010,pp,41)
“Na medida em que o sistema de oposição entre as corrente racionalistas e as contracorrentes é o ponto de vista privilegiado, foi necessário recolocar em relevo as discussões ligadas a esta dualidade no discurso geográfico.”
Os questionamentos surgem sobre a legitimidade cientifica da geografia, fomentando debates sobre a natureza do seu conhecimento, seus métodos e finalidade, e estes levaram a “...momentos de mudança na orientação do discurso predominante na geografia.” (2010,pp,46).O que leva a conclusão que a geografia vivenciou em si, toda a dinâmica da dualidade modernista.
Quijano, Aníbal.Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. Em libro: A colonialidade do saber: eurocentrismo e Ciências sociais. Perspectivas latino-americana 
Aníbal Quijano é sociólogo, peruano, é dos principais investigadores sociais da América Latina. Para ele a construção de uma sociedade mais justa no continente passa por uma superação necessária na própria esquerda de uma visão eurocêntrica.
A obra de Aníbal Quijano, intitulada colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina, apresenta a idéia de raça como um dos eixos fundamentais do novo padrão de poder mundial. De acordo com o autor, a raça expressa a experiência básica da dominação colonial que inclui o eurocentrismo como sua racionalidade específica. 
O autor introduz ao longo do texto questões necessárias sobre as implicações da colonialidade do poder relacionada à história da América Latina.
O texto está dividido em três partes. Na primeira parte, a América é apresentada como o novo padrão de poder mundial existe dois eixos fundamentais desse novo padrão de poder: A idéia de raça para diferenciar conquistados de conquistadores. A articulação das formas históricas de controle do trabalho, seus recursos e produtos em torno do capital e do mercado mundial.
Apresenta três elementos centrais que afetam a vida cotidiana da população mundial: A colonialidade do poder, o eurocentrismo e o capitalismo. 
O que é o novo com relação à modernidade?
O que foi produzido na história própria do atual padrão de poder mundial?
Na segunda parte o autor discorre sobre o eurocentrismo como a perspectiva e o modo concreto de produzir conhecimento. O capital e sua existência como eixo central do capitalismo.
Discorre sobre o novo padrão de poder onde os europeus eram a raça dominante, os índios e os negros eram a raça inferior, assim como sua cultura.
Relata que a Europa foi a segunda identidade geo-cultural moderna e mundial, graças ao trabalho gratuito das raças inferiores e da sua tecnologia na mineração e agricultura. 
O novo dualismo que denomina raças inferiores como próximos a natureza por serem considerados objeto de dominação, exploração e conhecimento.
Na terceira parte o autor explica como o eurocentrismo foi aplicado na história latino-americana. Coloca também o processo de formação do estado-nação que é uma sociedade nacionalizada politicamente organizada. A fundação dos Estados Unidos da América do Norte como país independente, onde os índios ficaram excluídos dessa nova sociedade e seus territórios tornaram-se recursos básicos de produção.
Discorre ainda sobre as revoluções democráticas que foram ocorridas na América. Somente através do processo de democratização da sociedade é possível construir um estado moderno.
Em sua obra, Quijano essencialmente critica e denuncia o eurocentrismo, imposto de forma violenta na conquista da América e utilizado como o maior mecanismo de dominação da história. Vale ressaltar que as terras americanas, recém descobertas, se tornariam a primeira “vítima” da modernidade européia e da colonialidade através novo padrão de poder que estava se configurando. 
Nesse contexto, as relações entre colonizador/colonizado, dominados/dominantes tomaram outras proporções no quesito superioridade/inferioridade. O conceito de raça surgiu a partir dessa época, em que os europeus começaram a observar diferenças fenotípicas de cor e associá-las à classificação social/racial. Eles encontraram nessa denominação um instrumento realmente eficaz para dar legitimidade à dominação. Aníbal afirma então que “raça converteu-se no primeiro critério fundamental para a distribuição da população mundial dos níveis, lugares e papéis na estrutura de poder da nova sociedade. (...) no modo básico de classificação social universal da população mundial.” É triste para nós latino-americanos, brasileiros miscigenados, ver as conseqüências hoje do quão efetiva e bem sucedida foi a dominação européia sobre nossos antepassados, que implantou estereótipos num âmbito global e disseminou discriminação e preconceito a respeito de culturas tão singulares. 
Interessante observar como, intrinsecamente ligado à dominação de populações “inferiores”, as formas de explorá-las materialmente falando, por mais distintas que fossem, tinham uma finalidade em comum: produção, apropriação e distribuição de produtos, com o objetivo de dominar o mercado. Reciprocidade, servidão, escravidão e salário não eram formas de trabalho que aconteceram em épocas diferentes, mas sim de forma simultâneaem diferentes colônias e claro, com diferenças para cada população. E essa forma de dominação através da distribuição racista do trabalho foi configurada no ideal eurocêntrico e perpetuada através dos séculos em nossa sociedade. Não é a toa que nitidamente observamos quais os cargos que negros e brancos (em sua maioria) ocupam, bem como seu salário. Os europeus associavam o trabalho não-pago com as raças dominadas, consideradas inferiores. 
Aníbal também comenta que a servidão dos índios na América não poderia ser comparada à servidão feudal, pois eles não recebiam terra para cultivar e tampouco proteção de seu “senhor”. 
Um dos pontos mais interessantes que Quijano aborda sobre a questão da inferioridade racial/social é que os europeus além de se autodenominarem brancos e criarem as categorias de “negro”, “índio” e “mestiço”, eles realmente acreditavam que pela ordem natural, eles eram seres superiores e evoluídos (numa escala espaço-temporal), ao passo que as culturas diferentes da sua eram primitivas e inferiores.
A partir do momento que a Europa e o europeu criaram identidades geográficas do mundo, enquadrando todas as populações abaixo do seu nível de supremacia, eles se constituíram o centro hegemônico capitalista do mundo. Como? Moldando a uma única ordem toda cultura existente, formas de conhecimento, recursos naturais e culturais, principalmente a subjetividade alheia. E tudo isso com um único propósito, já mencionado acima. Não bastava para os colonizadores explorar a terra e o povo, eles reprimiram todas as formas de conhecimento dos colonizados, suas religiões, suas formas de expressão, subjetividade e espiritualidade; além de forçarem os dominados a absorver sua “cultura” caracterizada como útil para produção, e em muitos casos o Cristianismo também, já que eram indivíduos “sem alma” e os europeus lhes fizeram um favor evangelizando-os. 
De acordo com o autor, a categoria de raça é a base para o firmamento do etnocentrismo/eurocentrismo, que em suas palavras expressou-se como uma “operação mental” essencial para a implantação do “sistema-mundo”. 
A pretensão européia era uma doentia alienação coletiva de supremacia; sentiam-se exclusivos, protagonistas, evoluídos, modernos e os únicos aptos a “comandar” o mundo, e tudo aquilo que fosse racional e inteligente vindo de outras culturas, eles admiravam, mas não respeitavam – como os padrões de sociedade dos Astecas, Maias, Egípcios, etc. -. 
É deveras assustadora a hegemonia que o atual poder conseguiu atingir. A partir da conquista da América, o mundo se configurou a maneira de uma minoria de indivíduos que formou uma teia social interconectada, bem estruturada em todos os âmbitos, da qual muitos tentam sair e são devorados pela aranha que não admite a fuga dos padrões, a “desordem” ou a perturbação do sistema. 
Através do padrão burguês e consumista, da empresa capitalista, do Estado, do eurocentrismo, roubaram-nos o controle do que nos é mais íntimo: nossa subjetividade.

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