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SERVIÇO SOCIAL E FAMILIAS

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Serviço Social e 
Famílias
Serviço Social 
e Famílias
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Ana Patrícia Barbosa
Ângela Maria Pereira da Silva
Arno Vorpagel Scheunemann
Caroline Fernanda Santos da Silva
Juliana de Bittencourt Escobar
Lúcia Cristina Delgado Capitão
Michelle Bertóglio Clos
Rúbia Geane Goetz
Ruthe Correa da Costa
Sylvia Nabinger
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-177-3
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Paula Fernanda Malaszkiewicz
Serviço Social e famílias aborda temáticas relacionadas às famílias e ao trabalho do(a) assistente social com famílias, especialmente, no âm-
bito das políticas sociais. As transformações sociológicas e as mudanças 
geopolíticas mostram como a família vem tendo dificuldade para se or-
ganizar no mundo atual. Os capítulos reúnem subsídios para um trabalho 
profissional qualificado nesse contexto. Cada capítulo apresenta aspectos 
relevantes da temática tratada, porém, a leitura de cada capítulo não ne-
cessariamente deve ser sequencial, pois eles são independentes, como uma 
espécie de zoom sobre cada temática.
O Capítulo 1 apresenta concepções e particularidades da família, da 
Antiguidade ao século XIX. O Capítulo 2 apresenta concepções, particu-
laridades e configurações familiares nos séculos XX e XXI. O Capítulo 3 
aborda a filiação e o poder familiar no Brasil. O Capítulo 4 aborda os 
diferentes estágios do ciclo de vida da família. O Capítulo 5 se ocupa com 
o cuidado para com a família de usuários de droga.
O Capítulo 6, por sua vez, reflete sobre dilemas e desafios familiares 
no atual contexto de civilidade tecnológica. O Capítulo 7 aborda a cen-
tralidade das famílias na política de assistência social. O Capítulo 8 foca 
o atendimento de famílias na política de atenção básica de saúde. Os ca-
pítulos 9 e 10 analisam experiências práticas no trabalho profissional com 
famílias: o nove aborda o trabalho do(a) assistente social com famílias em 
extensão universitária; já o dez se ocupa com o trabalho do(a) assistente 
social com famílias de adolescentes privados de liberdade.
Arno Vorpagel Scheunemann
Apresentação
 1 Concepção e Particularidades da Família: da Antiguidade 
ao Século XIX ........................................................................1
 2 Concepções, Particularidades e Configurações Familiares 
nos Séculos XX e XXI ...........................................................20
 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil .......................................37
 4 Uma Breve Compreensão Sobre a Família e seu Ciclo Vital .... 67
 5 Cuidando da Família de Usuários de Drogas .......................91
 6 Dilemas e Desafios Familiares no Atual Contexto de 
Civilidade Tecnológica ......................................................119
 7 A Centralidade das Famílias na Política de 
Assistência Social ..............................................................155
 8 O Atendimento às Famílias na Política de Atenção 
Básica de Saúde ...............................................................174
 9 O Trabalho do(a) Assistente Social com Famílias 
em Extensão Universitária: Relato de Experiência ..............196
 10 O Trabalho do(a) Assistente Social com Famílias de 
Adolescentes Privados de Liberdade: Relato 
de Experiência ..................................................................216
Sumário
Concepção e 
Particularidades da 
Família: da Antiguidade 
ao Século XIX1
Concepção e Particularidades da 
Família...
1 Assistente Social, Mestre em Serviço Social, Professora Adjunta do curso de 
Serviço Social da ULBRA.
Sylvia Nabinger
Atualização: Caroline Fernanda Santos da Silva1
Capítulo 1
2 Serviço Social e Famílias
Introdução
Pensar sobre a história e a evolução das famílias ao longo da 
história da humanidade não é tarefa fácil nem simples, mas já 
partimos do pressuposto de que elas (as famílias) sempre se 
fizeram presentes, assumindo, contudo, características diferen-
ciadas de acordo com o tempo histórico e o contexto social. 
Considerando tais características, neste capítulo procuraremos 
apresentar alguns elementos importantes no que se refere à 
constituição e particularidades das famílias, compreendendo o 
período da antiguidade até o século XIX.
Esse é um período bem peculiar na história da sociedade 
brasileira, especialmente considerando as fortes marcas dei-
xadas pelo processo de colonização e escravização das popu-
lações indígenas e negras. Acompanhe-nos na leitura, fique 
atento às informações repassadas, faça pesquisas comple-
mentares sobre os temas debatidos e bons estudos!
1 Evolução histórica das famílias
Antes de iniciarmos a discussão sobre a família em si, acredito que 
caiba uma pequena elucidação a respeito de que período histórico 
do qual estamos falando, tendo em vista a importância de uma con-
textualização no tempo e no espaço para uma melhor compreensão 
da temática abordada. Ao pretendermos abordar a evolução da 
família da Antiguidade até o século XIX, estamos compreendendo, 
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 3
além da própria Antiguidade2, também o período conhecido como 
Idade Média3, Idade Moderna4 e Idade Contemporânea5. Assim, 
não pretendemos esgotar a discussão de todo esse período, e sim 
destacar alguns elementos importantes, sobretudo na realidade bra-
sileira, para embasamento de nossa discussão.
Ao retomar a evolução das famílias no percurso histórico da 
humanidade, vemos que, na Europa Medieval, as esferas pública 
e privada se confundiam e as famílias eram balizadas pela figura 
do chefe de família, pouco importando a estrutura e a dimensão 
destas. Somente a partir do fim do século XVI, quando as dimensões 
do público e do privado, ainda imbricadas, começam, contudo, a se 
distinguir, as famílias europeias passam paulatinamente a ser consi-
2 A Antiguidade é o período da história contado a partir do desenvolvimento da 
escrita, pelos Sumérios, mais ou menos em 4.000 a.C., até a queda do Império 
Romano do Ocidente, em 476 da era Cristã. Dentro desse período estão, portanto, 
toda a civilização egípcia, a civilização mesopotâmica, as civilizações hebraica, 
fenícia e persa, além da Grécia Antiga, da Roma Antiga e do Império Romano 
(disponível em: http://www.todamateria.com.br/divisao-da-historia. Acesso em 
14.07.2015). 
3 Idade Média é o período da história que tem início em 476 e vai até a tomada 
de Constantinopla, pelos turcos, em 1453 (disponível em: http://www.todamateria.
com.br/divisao-da-historia. Acesso em 14.07.2015).
4 Idade Moderna é o período da história que tem início em 1453 e vai até o ano de 
1789, data da Revolução Francesa, então este período contempla a Revolução Co-
mercial e o Mercantilismo, a Reforma Protestante, a Contrarreforma e o Iluminismo, 
dentre outros importantes fatos históricos (disponível em: http://www.todamateria.
com.br/divisao-da-historia. Acesso em 14.07.2015).
5 A Idade Contemporânea é estudada de 1789, época da Revolução Francesa, 
até os dias atuais. Dentro desse período, vários acontecimentos políticos, econômi-
cos e sociais foram influenciadospela Revolução Francesa, como a Independência 
do Brasil e a Revolução Industrial (disponível em: http://www.todamateria.com.br/
divisao-da-historia. Acesso em 14.07.2015).
4 Serviço Social e Famílias
deradas a partir de listas nominativas, levando-se em conta critérios 
como forma e composição.
É difícil traçar, de modo preciso, a evolução das formas 
familiares europeias anteriores a esse período. Mas o conjunto 
de estudos de diversos ramos da ciência permite o conheci-
mento exato dos sistemas familiares durante os últimos dois 
séculos do Antigo Regime6. Esses estudos revelam, por exem-
plo, a idade cada vez mais tardia do casamento, a raridade do 
celibato definitivo, as baixas taxas de ilegitimidade, o espaço 
superior a dois anos entre os nascimentos sucessivos e a ele-
vada mortalidade infantil.
As revoluções liberais7 marcam a separação formal do pú-
blico e do privado. No fim do século XIX, na França, uma 
classificação destacava três modelos familiares: um modelo 
nuclear, fundado no casamento de todos os filhos fora da casa 
dos pais e compreendendo uma divisão sucessória igualitária; 
um modelo de família segundo o qual o pai escolhia apenas 
um dos filhos como herdeiro privilegiado (que permanecia na 
casa dos pais depois de casado); e um modelo comunitário, 
6 O Antigo Regime refere-se ao sistema social e político aristocrático estabelecido 
na França a partir do final da Idade Média. Trata-se principalmente de um regime 
centralizado e absolutista em que o poder era concentrado nas mãos do rei (dis-
ponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Antigo_Regime. Acesso em 27.08.2015).
7 As Revoluções Liberais que ocorreram no continente tiveram repercussão também 
no Japão e na América, em particular nos Estados Unidos. Em 1830, diversas revo-
luções varreram o continente europeu e foram responsáveis pela eliminação defini-
tiva do Antigo Regime na França e pela independência da Bélgica. Os dois países 
se tornaram monarquias constitucionais, em que a alta burguesia adquiriu papel 
preponderante no Estado, e deram início ao processo de industrialização (dispo-
nível em: http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/historia-geral/revolu-
coes-liberais-europeias-repercutem-no-mundo.htm. Acesso em 17.08.2015).
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 5
denominado “família patriarcal”, onde todos os filhos casados 
permaneciam na casa paterna.
Com relação à história brasileira, a época colonial foi mar-
cada pela “clivagem intransponível entre as gentes” (NOVAIS, 
1997, p. 27), caracterizada pelo escravismo e pela formação 
de zonas intermediárias, tais como a provocada pela miscige-
nação. Diversos autores brasileiros abordaram a miscigena-
ção de forma romantizada, tal como o fez Gilberto Freire, em 
seu livro “Casa Grande e Senzala”, por exemplo. Mas um fato 
a ser considerado é que a crescente miscigenação que ocorria 
no Brasil àquela época não deixava de manifestar uma forma 
de dominação, já que o fruto da relação entre a mulher negra 
escravizada e o homem branco nascia escravizado.
Segundo Munanga (2004), o racismo no Brasil é inteligen-
te e eficaz, sendo que uma de suas principais características é 
a ambiguidade expressa, por exemplo, pela figura do mestiço, 
de onde decorrem dois aspectos fundamentais:
 Â Em primeiro lugar, está o fato de a sociedade brasileira 
tê-lo constituído (o mestiço) enquanto categoria inter-
mediária, mas não estanque. Ou seja: dependendo dos 
interesses em jogo ele pode transitar ou “se transformar” 
em branco ou negro;
 Â Em segundo lugar, a figura do mestiço contribui para a 
capacidade de a sociedade brasileira manter uma estru-
tura racista sem hostilidades abertas.
Esses fatores tornam o racismo brasileiro particular, diferen-
ciando-se das demais sociedades da América Latina, principal-
6 Serviço Social e Famílias
mente por sua “formação ternária” com forte reapropriação 
do componente negro na formação na identidade nacional 
(MUNANGA, 2004).
A sociedade colonial se caracterizava também pela con-
tradição de ser, ao mesmo tempo, estratificada e submetida a 
uma grande mobilidade (em razão do modelo econômico de 
exploração predatório e expansivo), além de confrontar uma 
sensação constante de instabilidade, precariedade e proviso-
riedade (NOVAIS, 1997).
As características peculiares da colonização portuguesa no 
Brasil se refletiam na multiplicidade, de maneira que as fa-
mílias e os espaços domiciliares coloniais puderam assumir, 
tais como: domicílios reunindo pessoas de uma mesma família 
nuclear e um ou dois negros escravizados, podendo também 
agregar parentes próximos, como mães viúvas ou irmãs soltei-
ras; domicílios compostos de padres com suas negras escra-
vizadas, concubinas e afilhadas, ou de comerciantes solteiros 
com seus caixeiros; domicílios compostos somente de mulhe-
res com seus filhos; casal de cônjuges vivendo com a concubi-
na; filhos naturais e ilegítimos criados com os legítimos.
Apesar dessa multiplicidade de formas, havia a predomi-
nância de um modelo hierarquizado, com a submissão dos 
membros da família à autoridade do pai. A partir da segunda 
metade do século XIX, assiste-se, no mundo ocidental, ao de-
clínio progressivo do modelo de família extensa e patriarcal. 
No século XX, evolui-se a um modelo nuclear de família res-
trita a um número reduzido de pessoas, processo provocado 
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 7
pelos fenômenos de urbanização, industrialização, pelos movi-
mentos femininos emancipatórios, dentre outros fatores. 
2 Famílias: concepções
A noção de família pode ser apreendida de forma ampla, in-
cluindo os avós, tios e primos ou, de forma estrita, restringin-
do-se à ideia de unidade familiar residencial. Os dicionários, 
em geral, costumam trazer diversas acepções para o termo 
família como, por exemplo, a ideia de “parentes que vivem 
sob o mesmo teto”, o significado de “ascendência” ou ainda 
o de “pessoas do mesmo sangue”. Juridicamente, é possível 
perceber uma evolução do conceito de família, extraindo-de 
daí os tipos de vínculos que caracterizam as relações de famí-
lia, conforme exposto abaixo.
Considerando a evolução no tratamento legal da família, 
vislumbramos que no Brasil predominava, no antigo Código 
Civil de 1916, uma visão de família patriarcal, ligada ao ele-
mento da consanguinidade e do casamento formal. Esse mo-
delo encontrava-se, porém, defasado no final do século XX.
A Constituição Federal de 1988 introduziu, então, algu-
mas atualizações, como o conceito de “entidade familiar”, 
que inclui a união estável entre o homem e a mulher e pode 
também representar a comunidade formada por qualquer dos 
pais e seus descendentes (art. 226, §§3° e 4°). Trata-se de um 
rol exemplificativo e não exaustivo das formas que podem ser 
assumidas pela “entidade familiar”, que hoje dispensa a cele-
8 Serviço Social e Famílias
bração de casamento, embora sua instituição continue tendo 
bastante importância.
Pode-se falar hoje, também, em “família substituta”, para 
os casos de adoção (cf. Estatuto da Criança e do Adolescente), 
e em uniões estáveis homoafetivas (cf. jurisprudência e doutri-
na). Quanto a este último caso, o Código Civil de 2002 não 
foi suficientemente avançado para reconhecer, expressamente, 
essa realidade. As uniões estáveis homoafetivas foram aprova-
das recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 05 
de maio de 2011. A ADPF (Arguição de Descumprimento de 
Preceito Fundamental) do STF8 declara que:
(a) é obrigatório o reconhecimento, no Brasil, da união 
entre pessoas do mesmo sexo, como entidade familiar, 
desde que atendidos os requisitos exigidos para a consti-
tuição da união estável entre homem e mulher; e (b) que 
os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uni-
ões estáveis estendam-seaos companheiros nas uniões 
entre pessoas do mesmo sexo (ADPF 178-1/800).
Diferente foi a posição adotada pela adoção da recente Lei 
Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), que cria mecanismos 
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Esse diploma reconhece a família formada por união homoa-
fetiva, ao dispor em seu artigo 5° que a família é compreen-
dida como a “comunidade formada por indivíduos que são 
ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por 
afinidade ou por vontade expressa”.
8 Material disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp?id
=400547&tipo=TP&descricao=ADI%2F4277. Acesso em: 14.09.2015.
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 9
Além disso, essa lei garante sua proteção em “qualquer 
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou te-
nha convivido com a ofendida, independentemente de coa-
bitação” (art. 5°, III). O texto dispõe expressamente que as 
relações pessoais enunciadas no artigo 5° “independem de 
orientação sexual” caracterizar uma relação familiar: o vínculo 
do parentesco, o vínculo conjugal e o vínculo da afinidade.
O parentesco configura-se entre os indivíduos vinculados 
pelo sangue em um mesmo tronco ancestral. Existe o paren-
tesco legítimo, que procede de casamento, e o parentesco ile-
gítimo, que não procede do casamento. Também se distingue 
o parentesco natural, que resulta da consanguinidade, do pa-
rentesco civil, resultante da adoção.
Os graus de parentesco são contados em linha reta pelo 
número de gerações. Na linha colateral, contam-se os graus 
subindo de um dos parentes até o ascendente comum, e des-
cendo depois até encontrar o outro parente (art. 1.594 CC). 
Parentes em linha reta são os pais, avós e bisavós, por exem-
plo. Parentes em linha colateral ou transversal são os que pro-
vêm de um só tronco, até o quarto grau, sem descenderem 
uma da outra, como irmãos, tios ou primos.
O vínculo conjugal é aquele estabelecido entre o marido 
e a mulher, e o vínculo da afinidade é o que relaciona um 
indivíduo aos parentes de seu cônjuge ou companheiro. Cha-
mam-se afins, na linha reta, o sogro, o padrasto, o enteado 
e, na linha colateral, o cunhado. A afinidade só diz respeito 
aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge 
ou companheiro (art. 1.595, §1). A dissolução do casamento 
10 Serviço Social e Famílias
ou da união estável não extingue a afinidade em linha reta 
(art. 1.595, §2).
No próximo item, refletiremos sobre a relação entre as fa-
mílias e as políticas públicas na realidade brasileira.
3 Famílias e políticas públicas
Considerando os aspectos pontuados acima a respeito da 
evolução histórica do conceito de família, podemos considerar 
que ela tem um papel fundamental no que se refere às políticas 
públicas. Seja na concepção ou, principalmente, na execução 
de tais políticas, em diversas áreas a família ocupa um lugar 
central, sendo o principal foco de atenção em algumas delas.
Mesmo entendendo que discutir sobre as políticas públi-
cas não é nosso objetivo central nesta disciplina, considerando 
que você já teve acesso a esse conteúdo, especialmente nas 
disciplinas de Política Social I e II, consideramos ser importante 
refletir brevemente sobre a relação das políticas públicas com 
as famílias, sobretudo a realidade brasileira.
Analisando o atual cenário de desenvolvimento das políti-
cas sociais no Brasil, percebemos que tem havido mudanças 
nas relações entre Estado, sociedade e mercado, evidenciando 
um novo paradigma de política social, ocasionado por im-
portantes deslocamentos na gestão social. A gestão social se 
relaciona com a forma de organização das iniciativas sociais, 
sendo elas de ordem pública ou privada.
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 11
Nesse cenário em que a sociedade civil se organiza de for-
ma cada vez mais autônoma, as ações e projetos desenvolvi-
dos por ela ganham cada vez mais espaço e fontes de finan-
ciamento. Esse aspecto chama atenção para a importância 
das ações de fiscalização e controle social por parte de toda 
a sociedade, no sentido de garantir a qualidade dos serviços 
prestados por tais instituições.
Para Behring (2003), as transformações políticas e econô-
micas em curso sinalizam a adaptação do país aos fluxos do 
capital mundial. Esses fluxos, relacionados às características 
da formação social brasileira, fazem com que, aqui, as causas 
geradoras da pobreza estejam além daquelas ocasionadas pe-
los ajustes neoliberais, merecendo atenção na formulação de 
políticas sociais9.
Nesse contexto, situa-se a discussão das famílias como foco 
das políticas sociais. Segundo a Política Nacional da Assistên-
cia Social – PNAS (2004), na sociedade capitalista, a família 
é fundamental para proteção social, sendo ela mediadora das 
relações entre sujeitos e a coletividade. Então, se a família 
ocupa papel de cuidado sobre seus membros, entende-se que 
ela também precisa ser cuidada e protegida.
Segundo Carloto (2006), em geral, os programas desen-
volvidos na área social têm como eixo o combate à pobreza, 
como preocupação a eficiência das medidas, e como alvo 
9 Diversas legislações brasileiras sinalizam a importância da família como foco 
central de suas ações, tais como: a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da 
Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, a Lei Orgânica da Assistência Social 
e a Política Nacional de Assistência Social.
12 Serviço Social e Famílias
preferencial a família e, dentro delas, as mulheres. A principal 
estratégia é a chamada privatização da família ou a privatiza-
ção da sobrevivência da família, propondo explicitamente a 
transferência de responsabilidades que deveriam ser assumi-
das pelo Estado às unidades familiares.
A autora segue sua análise pontuando que presencia-
mos uma valorização da família como lócus privilegiado de 
superação dos efeitos questão social em um contexto em 
que as mulheres são tratadas como “receptoras passivas” 
(CARLOTO, 2006). Nesse contexto, é nítido o aumento da 
responsabilidade das mulheres nas decisões familiares e no 
próprio sustento da família, sem com isso ser poupada da res-
ponsabilidade na esfera doméstica, já que têm de administrar 
o consumo e a produção em condições de escassez cada vez 
maior (CARLOTO, 2006; SOARES, 2003).
É nesse contexto que se situam as discussões sobre a femi-
nização da pobreza, que atinge um número cada vez maior 
de mulheres em todo o mundo. Para sua configuração, contri-
buem a rigidez das funções sociais exigidas das mulheres, bem 
como seu limitado acesso ao poder (SOARES, 2003).
Sem dúvidas, os aspectos que envolvem a superação des-
sas questões se apresentam ainda como um desafio que sina-
liza para a importância da garantia de oportunidade e partici-
pação das mulheres em todas as esferas da sociedade.
A participação democrática da mulher não deve restrin-
gir-se apenas aos programas contra a pobreza, mas deve 
ser ampliada para se atingirem as mudanças nas estrutu-
ras econômicas com vistas a garantir a todas as mulheres 
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 13
o acesso aos recursos, às oportunidades e aos serviços 
públicos. (SOARES, 2003, p. 76)
Analisando o papel das mulheres nas propostas de políti-
cas públicas brasileiras no contexto da globalização e do neo-
liberalismo, chama-nos atenção para a instrumentalização de 
seu papel, tanto no âmbito da família como no âmbito do cha-
mado Estado de Bem-Estar (CARLOTO, 2006). Para a autora, 
vislumbra-se aí certa concepção de que para o bom desem-
penho desses programas se faz indispensável que as mulheres 
cumpram suas responsabilidades na esfera reprodutiva.
Esse quadro nos chama atenção para a multiplicidade de 
papéis ocupados pelas mulheres dentro de suas famílias na 
execuçãodas políticas públicas. Potencializar a participação 
das famílias e, consequentemente, das mulheres, pressupõe 
superar os entraves que permeiam essa relação, privilegiando 
a adoção de novas metodologias de intervenção por parte do 
Estado, principalmente as que favoreçam a participação e a 
cidadania ativas, garantindo-lhes um sentido emancipatório.
Considerações finais
A partir dos aspectos abordados ao longo deste capítulo, per-
cebemos que família é um conceito importante para o desen-
volvimento do trabalho do assistente social. Refletir sobre suas 
concepções e particularidades se constitui, portanto, em uma 
tarefa fundamental para a construção e consolidação de pro-
postas interventivas bem sucedidas.
Essa reflexão assume importância ainda maior quando con-
sideradas as múltiplas mudanças ocorridas nos últimos anos, 
14 Serviço Social e Famílias
especialmente quando considerados os aspectos legais que 
envolvem a questão. Dessa forma, falar sobre família pressu-
põe o reconhecimento a respeito de sua pluralidade, fazendo 
com que famílias, com s, seja a expressão mais apropriada.
Isso para não corrermos o risco de excluir desse universo 
as famílias que assumem, legitimamente, outras opções de for-
mação. Assim, manter-se atualizado e atento a tais questões 
fazem a diferença na configuração dos diferentes processos de 
trabalho dos assistentes sociais, comprometidos com a garan-
tia dos direitos sociais de todos os integrantes das diferentes 
famílias brasileiras.
Recapitulando
Neste capítulo, vimos alguns dos principais aspectos que en-
volvem a evolução e as particularidades das famílias, especial-
mente considerando a realidade brasileira. Refletimos sobre 
os diferentes conceitos que predominaram nas legislações do 
país, considerando, sobretudo, o período da colonização e 
seus impactos sobre a formação e o desenvolvimento das fa-
mílias no Brasil.
Contextualizando atual cenário das políticas públicas, 
propusemo-nos também a refletir, ao longo deste capítulo, a 
respeito da relação das famílias com tais políticas no cenário 
brasileiro. Isso para evidenciar o papel central das famílias no 
processo de garantia de direitos, refletindo e problematizando 
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 15
os aspectos que envolvem a participação das mulheres neste 
contexto.
Referências
BEHRING, Elaine. Brasil em conta reforma – desestruturação 
do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez Editora, 
2003.
_____. Fundamentos da política social brasileira. Serviço So-
cial e Saúde: Formação e Trabalho Profissional, 2001. 
Acesso em: 20 jun. 2007.
_____ & BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e 
história. São Paulo: Cortez, 2007.
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil – o longo ca-
minho. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
CARLOTO, Cássia Maria. “Gênero, políticas públicas e centra-
lidade na família”. Serviço Social e Sociedade n. 86, ano 
XXVII, 2006. pp. 139-155.
LAURELL, A (org.). Estado e políticas sociais no neolibera-
lismo. São Paulo: Cortez Editora, 1995.
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no 
Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo 
Horizonte: Autêntica, 2004.
NOVAIS, Fernando. “Condições da privacidade na Colônia”. 
In: SOUZA, Laura (org.). História da vida privada no 
16 Serviço Social e Famílias
Brasil. Cotidiano e vida privada na América portuguesa. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
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Atividades
 1) Leia com atenção o conteúdo deste capítulo e responda 
as assertivas abaixo, considerando F para Falso e V para 
Verdadeiro:
( ) As concepções sobre as famílias se tornaram diferentes 
conforme foram evoluindo as diferenciações entre os 
espaços público e privado.
( ) As características peculiares da colonização portugue-
sa no Brasil se refletiam na singularidade de forma que 
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 17
as famílias e os espaços domiciliares coloniais possu-
íam.
( ) Dentre as legislações vigentes no Brasil, destacam-se 
o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e a Lei 
Maria da Penha, que reconhecem como família tam-
bém as uniões formadas por uniões homoafetivas.
Agora, assinale a alternativa que contém a sequência correta:
a) V – F – F
b) V – F – V
c) F – F – F
d) V – V – F
e) V – V – V
 2) Complete a afirmação abaixo e, depois, assinale a alter-
nativa que contém a sequência correta de palavras:
“A partir da segunda metade do século XIX, assiste-se, no 
mundo _________, ao declínio progressivo do modelo de fa-
mília ________ e patriarcal, evoluindo-se, no século XX, para 
um modelo ________”.
a) oriental – mínima - nuclear
b) ocidental – extensa - celular
c) ocidental – extensa - nuclear
d) ocidental – interna - nuclear
e) oriental – extensa - nuclear
18 Serviço Social e Famílias
 3) Assinale a alternativa correta. Considerando a relação das 
famílias com as políticas públicas no Brasil, destaca-se a 
importância:
a) Da garantia de prioridade para os casos de moradores 
de rua.
b) Da garantia de oportunidades de participação às mu-
lheres solteiras e chefes de família, somente.
c) Da garantia de oportunidades de participação aos jo-
vens, com prioridade.
d) Da supremacia de oportunidades às mulheres, em to-
dos os âmbitos.
e) Da garantia de oportunidades de participação às mu-
lheres em todas as esferas da sociedade.
 4) Assinale a alternativa correta. O período da colonização 
portuguesa no Brasil pode ser caracterizado por:
a) Um modelo dualizado, com a aceitação dos membros 
da família à autoridade do pai.
b) Um modelo hierarquizado, com a admissão dos mem-
bros da família à bondade do pai.
c) Um modelo centralizado, com a admiração dos mem-
bros da família à autoridade do pai.
d) Um modelo hierarquizado, com a submissão dos 
membros da família à autoridade do pai.
Capítulo 1 Concepção e Particularidades da Família... 19
e) Um modelo centralizado, com a submissão dos mem-
bros da família à autoridade do pai.
 5) Observe as afirmações abaixo:
I. A época do Brasil Colonial é caracterizada pelo escravis-
mo e pela formação de zonas intermediárias, tais como 
a provocada pela miscigenação.
II. Com relação à história brasileira, a época da coloniza-
ção foi marcada pela integração social entre os povos.
III. É corrente, por parte de alguns autores nacionais, a 
abordagem do processo de miscigenação ocorrido no 
Brasil de forma romantizada.
Dentre essas, estão corretas as alternativas:
a) Apenas a I.
b) I, II e III.
c) I e III.
d) II e III.
e) Apenas a II.
Concepções, 
Particularidades 
e Configurações 
Familiares nos Séculos 
XX e XXI1
Concepções, Particularidades e Configurações...
1 Assistente Social, Especialista na Administração e Planejamento de Projetos e Res-
ponsabilidade Social e Sustentabilidade. Captadora de Recursos junto à Prefeitura 
Municipal de Novo Hamburgo. Docente do Curso de Serviço Social da Universida-
de Luterana do Brasil-ULBRA.
Rúbia Geane Goetz1
Capítulo 2
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 21
Introdução
Inicialmente, é importante dizerque a família é uma institui-
ção dinâmica que vem sendo alterada por diferentes variáveis 
econômicas, sociais, religiosas, políticas, culturais e geográ-
ficas. Dois aspectos vêm fortalecendo a família como institui-
ção social: o papel de acolhimento e o seu caráter nucleador. 
Esse reconhecimento vem ocorrendo tanto no âmbito dos mo-
vimentos sociais, que lutam pelo reconhecimento da família 
independe de sua configuração, quanto no campo das políti-
cas sociais, quem vêm reconhecendo a necessidade de focar 
ações nas famílias e não somente no indivíduo. Tais debates 
estarão presentes ao longo deste capítulo.
1 Família: é possível ter um conceito 
único?
Originalmente, foram as famílias que criaram as comunida-
des para acontecer o Estado; dessa forma, é importante dar 
à Família a sua importância. Assim, se a Família é anterior ao 
Estado, este mesmo Estado e a sociedade deveriam direcionar 
as suas ações em benefício direto e real de todas as famílias.
A perspectiva da família deve estar presente em todas as 
esferas da atividade humana. As tarefas do Estado, em rela-
ção à Família, são o reconhecimento, o apoio, a proteção e 
a promoção. Uma das principais mudanças na concepção de 
família, considerada matrimonializada, tutelada pelo código 
de 1916, ultrapassa a sua formação como elemento principal 
22 Serviço Social e Famílias
de definição; hoje, o que dá a condição de família é o afeto, 
e este passa a ser o pilar de sustentação das famílias contem-
porâneas.
A Constituição Federal de 1988 proporciona uma expres-
siva valorização dos entes da família. A evolução social fo-
menta, assim, legislações que destacam um novo conceito de 
família, denominado eudemonista, que prima pelo afeto entre 
os integrantes da família.
Do ponto de vista legislativo, o advento da Constituição 
de 1988 inaugurou uma diferenciada análise jurídica das 
famílias brasileiras. Outra concepção de família tomou 
corpo no ordenamento. O casamento não é mais a base 
única desta entidade, questionando-se a ideia da família 
restritamente matrimonial. Isto se constata por não mais 
dever a formalidade ser o foco predominante, mas sim 
o afeto recíproco entre os membros que a compõem re-
dimensionando–se a valorização jurídica das famílias ex-
tramatrimoniais (MATOS, 2008, pp. 35-48).
Nessa linha de pensamento, “A família atual está matrizada 
em paradigma que explica sua função atual: a afetividade. 
Assim, enquanto houver affectio haverá família, unida por la-
ços de liberdade e responsabilidade, e desde que consolidada 
na simetria, na colaboração, na comunhão de vida” (LÔBO, 
1989).
Émile Durkheim considerava a família contemporânea 
como relacional, progressivamente construída como um es-
paço privado no interior da qual os membros sentiram uma 
vontade crescente de estar juntos, de partilhar uma intimida-
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 23
de, tendo-se tornado cada vez mais sensíveis à qualidade das 
relações (VAN CUTSEM, 2001).
Thierry Linard de Guertechin (2012, p.19), demógrafo, do 
Centro de Investigação e Ação Social – CIAS/IBRADES (Institu-
to Brasileiro de Desenvolvimento), avalia que “estamos viven-
do cada vez mais em uma sociedade de indivíduos”, portanto, 
é preciso “aprender a viver ou conviver com famílias diferen-
ciadas”.
Essas diferenças no contexto das famílias estão relaciona-
das às mudanças na estrutura econômica e política do nosso 
país, e também às alterações de valores que foram estabele-
cidas ao longo das gerações. No Brasil, podemos identificar 
uma série de mudanças nas configurações e na particularida-
de das famílias. Dessa forma, não há, no presente, como se 
definir precisamente em um único conceito essa importante 
instituição na sociedade, pois como a família não é uma insti-
tuição estática e está sempre em constante mudança, seu con-
ceito se define por períodos e épocas.
2 Diferentes e possíveis configurações 
familiares e suas particularidades
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), liga-
do ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, é 
responsável pela produção, análise, pesquisa e divulgação 
de informações de natureza estatística (demográfica, social e 
econômica), geográfica, cartográfica, geodésica e ambiental, 
24 Serviço Social e Famílias
construindo assim para o conhecimento da realidade física, 
humana, social e econômica do País. Os dados do IBGE são 
de extrema importância na análise de uma determinada reali-
dade, bem como na construção de intervenções profissionais.
Fonte: Adaptado de Diniz Alves e Suzana Cavenaghi, apud Graziela Wolfart e 
Thamiris Magalhães (2002, p. 8).
Tais transformações impactaram sobre a forma de estru-
turação das famílias e sobre a dinâmica dos arranjos domici-
liares. No que se refere aos dados e estudos realizados sobre o 
contexto de família, apresentaremos as principais análises sob 
os dados coletados em 2010.
O censo mostra como a nossa sociedade está organi-
zada. E a família é considerada um dos principais eixos 
da sociedade. Em 2010, o censo feito pelo IBGE con-
siderou que família é o grupo de pessoas ligadas por 
laços de parentesco que vivem numa unidade doméstica. 
Essa unidade doméstica pode ser de três tipos: unipes-
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 25
soal (quando é composta por uma pessoa apenas), de 
duas pessoas ou mais com parentesco ou de duas pes-
soas ou mais sem parentesco entre elas. O Censo 2010 
mostrou que a maioria das unidades domésticas (87,2%) 
são formadas por duas ou mais pessoas com laços de 
parentesco. As pessoas que vivem sozinhas representam 
12,1% do total e as pessoas sem parentesco são 0,7%. 
Na comparação entre 2000 e 2010, houve um cresci-
mento na proporção de pessoas morando sozinhas, que 
passaram de 9,2% para 12,1%. Também houve um au-
mento de famílias tendo a mulher como responsável (de 
22,2% para 37,3%). (IBGE, 2010)
Nesse cenário, passa-se a debater a individualização da fa-
mília:
As ‘novas’ famílias estão cada vez menos preparadas 
para inventar formas de coletivização e vinculação com 
outras famílias, cujo modelo seja distinto do seu. As no-
vas famílias brasileiras compraram o preceito individua-
lista, mantendo o ranço de valores tradicionais ,no que 
tange, a falta de respeito ao outro, e uma pretensão de 
superioridade herdada das classes altas. (NOLASCO, 
2012. p. 5)
Para o autor, os responsáveis pela família encontram-se 
cada vez mais na cena pública, do trabalho, que na domés-
tica, favorecendo a terceirização das funções domésticas, es-
pecialmente relacionadas aos cuidados dos filhos. “[...] filhos 
cada vez mais cedo sendo autorizados a cuidarem de si mes-
mo, mostram-nos o quanto que há uma delegação de tare-
fas por parte dos pais. Maternidade e paternidade se diluem 
26 Serviço Social e Famílias
diante das demandas de trabalho e produção de dinheiro” 
(NOLASCO, 2012, p. 5).
Todos estes fatos evidenciam que a família tem uma admi-
rável capacidade de adaptação e de transformação ao longo 
da história. Essas modificações e a diversidade de estrutura 
e dinâmica das famílias acabam por produzir a falsa impres-
são de que as famílias estão desestruturadas, em crise ou até 
ameaçadas de desaparecer. No entanto, o que se apresenta, 
na sociedade contemporânea, são diferentes configurações de 
família que convivem no mesmo espaço social e ao mesmo 
tempo. Destacamos algumas:
Família nuclear simples: família em que o pai e a mãe 
moram na mesma residência, com seus filhos desse mesmo 
pai e dessa mesma mãe. Não há mais qualquer adulto ou 
criança (que não sejam filhos) morando neste domicílio.
Família nuclear extensa: família onde o pai e a mãe re-
sidem no mesmo domicilio vivendo com seus filhos e outras 
crianças sob sua responsabilidade, além de outros adultos,parentes ou não do pai e/ou da mãe.
Monoparental feminina simples: família em que há pre-
sença apenas da mãe no domicílio vivendo com seus filhos e, 
eventualmente, com outras crianças e adolescentes sob sua 
responsabilidade. Não há mais nenhuma pessoa maior de 18 
anos que não seja filho morando no domicílio. Tal modelo 
tem sido priorizado no acesso de programas sociais, como por 
exemplo: Programa de renda mínima Bolsa Família, Programa 
Habitacional Minha Casa Minha Vida.
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 27
Monoparental masculina simples: família em que ape-
nas o pai está presente no domicílio vivendo com seus filhos 
e, eventualmente, com outras crianças e adolescentes sob sua 
responsabilidade. Não há mais nenhuma pessoa maior de 18 
anos que não seja filho morando no domicílio.
As famílias monoparentais, tanto masculina quanto femini-
na, podem ser configuradas como famílias monoparentais 
extensas: feminina e masculina. Em ambas as configurações, 
destaca-se a presença somente da mãe ou do pai no domicílio 
vivendo com seus filhos e, ainda, com outras crianças e ado-
lescentes sob sua responsabilidade e outros adultos sem filhos 
menores de 18 anos, parentes ou não.
Família convivente: famílias que moram na mesma casa, 
sendo ou não parentes entre si. Cada família pode ser cons-
tituída por “pais-mãe-filhos”, por “pai-filhos”, ou por “mãe-
-filhos”. Outros adultos sem filhos, parentes ou não, também 
podem morar no domicílio. Podem ser incluídas também as 
famílias compostas de duas ou mais gerações, desde que, em 
cada geração, haja pelo menos uma mãe ou um pai com fi-
lhos até 18 anos.
Famílias homoafetivas: Essas famílias são compostas de 
uniões entre pessoas do mesmo sexo. O censo demográfico 
brasileiro realizado em 2010 apresenta diversas inovações, e 
uma das mais importantes está centrada no número de casais 
homossexuais existentes no Brasil. Os resultados demostram 
que existem mais de 60 mil casais homossexuais (IBGE, 2011).
Em 5 de maio de 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) re-
conheceu a união homoafetiva como regime jurídico da união 
28 Serviço Social e Famílias
estável. Esse ato também legitima essa união como entidade 
familiar, garantindo direitos formais aos casais homossexuais 
de todo o país no tocante à herança e à adoção.
Família homoparental: aquela composta por um casal 
formado de pessoas do mesmo sexo, com os filhos nascidos 
de uniões heterossexuais anteriores, de um ou de ambos os 
parceiros, ou com filhos adotados menores de 18 anos.
Família adotiva: No curso das últimas décadas, a adoção 
– tanto a nacional como a internacional – conheceu uma ful-
gurante mudança de perspectiva. No contexto da transforma-
ção da sociedade, a adoção passou de uma visão gerocêntri-
ca (voltada para o adulto) a uma visão pedocêntrica (voltada 
para a criança), passando por um processo de mundialização, 
indo da esfera íntima privada, do casal e da família, para um 
fenômeno característico da sociedade pós-moderna. A adoção 
é um ato jurídico que constitui a mais importante modificação 
do estado das pessoas. A família adotiva de hoje escreve seus 
dias de glória, sendo considerada como qualquer outra fa-
mília, pois a atual legislação brasileira e a internacional lhe 
concedeu os mesmos direitos e deveres da família natural.
Família nuclear reconstituída: família onde o pai e/ou 
a mãe vivem uma nova união, legal ou consensual, poden-
do também a companheira ou o companheiro ter filhos com 
idade até 18 anos, morando ao não na mesma casa. Outros 
adultos também podem morar na residência.
Família de genitores ausentes: família em que nem a 
mãe, nem o pai estão presentes, mas na qual existem outros 
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 29
adultos (tais como avós, tios, irmãos maiores de 18 anos) que 
são responsáveis pelas crianças e adolescentes.
Família nuclear com crianças agregadas: família em 
que o pai e a mãe moram no domicílio com seus filhos e 
também com outras crianças e adolescentes sob sua respon-
sabilidade. Não há outro adulto presente no contexto familiar.
Família colateral: composta por irmãos e irmãs maiores 
e/ou menores de 18 anos, sem a presença dos pais ou de 
qualquer outro parente ou adulto não parente.
A apresentação dessas configurações não é conclusiva, pois, 
como já vimos, as famílias são dinâmicas e vêm se transfor-
mando ao longo da história. Assim, a descrição das diferentes 
configurações familiares ressalta a diversidade da organização 
e dinâmica familiar. Tal heterogeneidade apresenta significati-
vos desafios às políticas sociais e aos profissionais que realizam 
suas práticas profissionais no contexto familiar. Possivelmente, 
o principal desafio seja conviver com e respeitar as diferenças.
Segundo FETTER (informação oral)2 é possível estabelecer 
algumas categorias de saúde e de doença no funcionamento 
das Famílias. A interação familiar que promove a saúde emo-
cional de seus membros é aquela na qual:
 Â a comunicação entre os membros é clara com direção e 
carga emocionais adequadas;
2 Informações fornecidas por Marco Antônio Fetter, Doutor em Família, Presidente 
do Instituto Pró-Familia, em Capacitação sobre o SUAS, em Novo Hamburgo, em 
julho de 2015.
30 Serviço Social e Famílias
 Â as regras são explícitas, coerentes, flexíveis e democrá-
ticas;
 Â os papéis familiares são definidos, diferenciados e fle-
xíveis;
 Â a liderança está presente, sendo diferenciada e demo-
crática;
 Â os conflitos podem ser expressões, sem desvalorização e 
com busca de solução;
 Â a agressividade pode ser manifestada de forma constru-
tiva e sem distorção na sua direção;
 Â a afeição está presente, sendo aceita pelos membros da 
Família e possuindo carga emocional adequada;
 Â a interação conjugal (quando existente) é ao mesmo 
tempo diferenciada e individualizada, sendo capaz de 
gratificar a ambos os membros do casal;
 Â individualização se faz presente, preservando as identi-
dades de cada componente, ao mesmo tempo em que a 
identidade grupal gera a integração familiar, permitindo 
assim a formação e a explicitação de sentimentos de 
alta autoestima nos membros da família e sobretudo, 
em todos eles.
A observação de tais elementos deve estar sempre presente 
na construção de intervenções junto às famílias. É necessá-
rio rigor na análise desses núcleos, reconhecimento de suas 
particularidades, configurações, papéis, funções, percursos de 
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 31
vida, compreendendo essa família para além do tempo pre-
sente e das demandas que hora apresentam.
A família é uma instituição Social historicamente condi-
cionada e dialeticamente articulada com a sociedade 
na qual está inserida. Isto pressupõe compreender as 
diferentes formas de famílias em diferentes espaços de 
tempo, em diferentes lugares, além de percebê-las como 
diferentes dentro de um mesmo espaço social e num 
mesmo espaço de tempo. Esta percepção leva a pensar 
as famílias sempre numa perspectiva de mudança, den-
tro da qual se descarta a ideia dos modelos cristalizados 
para se refletir as possibilidades em relação ao futuro. 
(MIOTO, 1997, p.128).
Contudo, mesmo que o profissional domine as competên-
cias do fazer profissional e perceba a necessidade de mudan-
ças nos contextos familiares nos quais realiza intervenções, 
este não está autorizado a tomar decisões ou escolher distintas 
condutas, pois essas posições cabem única e exclusivamente 
às próprias famílias.
Recapitulando
Nesse capítulo, apresentamos as diferentes concepções e con-
figurações da família no sec. XX e XXI. Foi possível perceber 
que a família é uma instituição dinâmica que apresenta de 
diferentes formas, “moldando-se” aos períodos e épocas da 
história. Reconhecere considerar suas particularidades são 
32 Serviço Social e Famílias
processos importantes e essenciais na construção de novas 
políticas sociais, bem como na organização dos processos de 
intervenções sociais realizados por diferentes profissões.
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Atividades
 1) Assinalar (V) para as assertivas Verdadeiras e (F) para as 
Falsas:
( ) Família colateral é composta por irmãos e irmãs maio-
res e/ou menores de 18 anos, sem a presença dos pais 
ou de qualquer outro parente ou adulto não parente.
( ) A Constituição de 1988 inaugurou uma diferenciada 
análise jurídica das famílias brasileiras.
34 Serviço Social e Famílias
( ) A família é considerada um dos principais eixos da 
sociedade.
( ) A família é núcleo responsável pela regulação do Es-
tado e para tanto, deve ser ouvida na construção das 
políticas sociais.
 2) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque 
(X) somente nas assertivas verdadeiras.
a) As famílias que criaram as comunidades para acontecer 
o Estado, assim sendo, as famílias antecederam a cria-
ção do Estado.
b) As modificações e a diversidade de estrutura e dinâmica 
das famílias resultam em famílias desestruturadas, em 
crise ou até ameaçadas de desaparecimento.
c) As ‘novas’ famílias estão cada vez menos preparadas 
para inventar formas de coletivização e vinculação com 
outras famílias, potencializando os processos de indivi-
dualização.
 3) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque 
(X) somente nas assertivas verdadeiras.
A interação familiar que promove a saúde emocional de 
seus membros é aquele onde:
a) A comunicação entre os membros é clara com direção 
e carga emocionais adequadas.
b) As combinações são explícitas, coerentes, flexíveis e 
democráticas.
Capítulo 2 Concepções, Particularidades e Configurações... 35
c) Os ajustes familiares são definidos, diferenciados e fle-
xíveis.
d) A liderança está presente, sendo diferenciada e demo-
crática.
 4) Assinalar (V) para as assertivas Verdadeiras e (F) para as 
Falsas.
( ) Algumas das principais transformações da sociedade 
contemporânea estão na redução das taxas de mor-
talidade infantil, aumento da esperança de vida e re-
dução das taxas de fecundidade, e estas, por sua vez, 
afetam a estruturação e dinâmica das famílias.
( ) Uma das constatações do IBGE no estudo sobre famí-
lias consiste na mudança das relações de gênero com 
manutenção do poder masculino.
( ) Segundo NOLASCO (2012), os responsáveis pela fa-
mília encontram-se cada vez mais na cena pública, do 
trabalho, que na doméstica, favorecendo a terceiriza-
ção das funções domésticas, especialmente relaciona-
das aos cuidados dos filhos.
 5) Leia com atenção o que se pede e marque apenas uma 
alternativa verdadeira.
O Serviço Social é uma das profissões que atua diretamen-
te na intervenção da realidade social e, sobretudo no contexto 
das famílias. Para tanto, é de suma importância que o profis-
sional esteja capacitado para os desafios colocados por esta 
dinâmica instituição. Nesse cenário, o profissional não deve:
36 Serviço Social e Famílias
a) Tomar decisões ou escolher distintas condutas para as 
famílias, pois estes atos cabem apenas às próprias fa-
mílias.
b) Ter domínio das competências teórico-metodológicas, 
ético-políticas e técnico-operativas.
c) Pensar as famílias sempre em uma perspectiva de mu-
dança, respeitando suas particularidades.
d) Analisar e considerar elementos sociais, culturais e 
econômicos que envolvem a dinâmica da família na 
construção da intervenção profissional.
e) Respeitar e conviver com as diferenças.
Filiação e Poder Familiar 
no Brasil1
1 Possui graduação em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio 
Grande do Sul (1994). Especialização em Gerontologia Social pela Pontifícia Uni-
versidade Católica do Rio Grande do Sul (1996), Mestrado em Serviço Social pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1998) e Doutorado em 
Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2005). 
Graduada em Direito pela Universidade Luterana do Brasil, Campus Canoas-RS 
(2014). Atualmente é professora titular da Universidade Luterana do Brasil. Tem 
experiência na área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social do Trabalho e 
Gerontologia Social, atuando principalmente nos seguintes temas: envelhecimento 
humano, direitos, cotidiano, família, criança e assistência social.
Capítulo 3
Sylvia Nabinger
Atualização: Ruthe Correa da Costa1
38 Serviço Social e Famílias
Introdução
A história da evolução da humanidade demonstra que a for-
mação da família surge, primeiramente, como forma de perpe-
tuar a espécie, por meio da filiação biológica. Por outro lado, 
diversas culturas, nas mais diferentes épocas, guerrearam em 
busca de riquezas e pelo poder, o qual deveria ser destina-
do àqueles que possuíssem relação consanguínea entre si. De 
outro viés, a filiação é psíquica e emocional e, a partir desse 
enfoque, aqueles que não possuíam o “seu filho” biológico 
foram em busca do “filho abandonado por outra pessoa”, aí 
surgindo o processo de adoção, no qual a filiação se dá por 
caminho jurídico.
A modernidade trouxe avanços tecnológicos e outras for-
mas foram conquistadas pela Ciência. Assim, através dos 
meios de inseminação artificial, proveta e outros, os pais que 
não conseguem facilmente ter seus filhos da forma biológica 
passaram a optar por esses meios.
Como toda relação pessoal, a relação entre pais e filhos 
traz como consequência direitos e deveres. Afinal, os pais po-
derão realizar seus projetos parentais, tendo naquele ser, que 
acabam de receber pelo nascimento ou pelo processo judicial 
de adoção, a possibilidade de realizar seus sonhos e vivenciar 
o prazer desta relação filial. Por outro lado, também terão de 
cumprir com os deveres atinentes à sua responsabilidade pa-
rental, denominado poder familiar.
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 39
1 Família e filiação: autoridade parental 
conceituação
Entende-se por família um organismo social, pulsante como 
uma célula quedá vida a esse organismo, que na realidade é 
o que fundamenta uma sociedade. Segundo Acosta:
[...] lugar de pertencimento, de questionamentos; insti-
tuição responsável pela socialização, pela introjeção de 
valores e pela formação da identidade; espaço privado 
que se relaciona com o espaço público. (2008, p. 64).
No entanto, hoje, essa instituição se modifica constante-
mente, formando novos arranjos familiares que, independen-
te da nova configuração, mantêm-se como o “porto seguro” 
para crianças e jovens. Assim, apresenta-se como organismo 
indispensável para o convívio em sociedade. Independente-
mente dos arranjos familiares, a concepção é de que a organi-
zação que se têm da família, hoje, é que se constitui a partir da 
dinâmica sócio histórica. Nesse sentido, as dimensões sociais 
e econômicas interferem de maneira a impactar no seio da fa-
mília. Assim, promovem-se verdadeiros impactos que resultam 
nas constantes alterações na sua organização.
Essas alterações incidem sobre a qualidade da apreensão, 
da função e do desempenho dos papéis intra e extranúcleo 
familiar, uma vez que a complexidade da teia de relações da 
família se mostra em relacionamentos diversos e, assim, im-
põe na sociedade a necessidade de se desenvolver a cultura 
de aceitação dos mais diferentes arranjos familiares (ACOSTA, 
2008). Todavia, a família, com suas diferentes configurações, 
40 Serviço Social e Famílias
é reconhecida tanto nas políticas públicas como em termos 
jurídicos. Esse viés é explicitado e positivado na legislação bra-
sileira.
O empobrecimento da família impõe mudanças significa-
tivas na organização familiar e, com esse contexto, são cria-
dos desafios e dificuldades para o exercício de suas funções 
primordiais de proteção, de pertencimento, de construção de 
afetos, de educação, de socialização (BAPTISTA, 2001, v.1). 
Com essa situação, frequentemente, essas funções estão en-
raizadas na sua cultura, principalmente nas mães de família, 
que as receberam por um processo de qualificação informal e 
contínuo, no qual as representações e as práticas vão se cons-
truindo naturalmente.
É relevante apontar sobre crianças e adolescentes que vi-
vem fora do âmbito familiar por diversas situações de vulnera-
bilidades, podendo viver em abrigos de acolhimento. E nessa 
conjuntura, ainda assim, não estão desprovidos da família.
Cabe lembrar que crianças e/ou adolescentes institucio-
nalizados também têm família. Não são filhos de choca-
deira! São frutos de uma relação união homem/mulher. 
Sua gênese é produto de uma determinada configuração 
familiar, portanto, possuem laços a serem pesquisados e 
desvelados. (ACOSTA, 2008, p. 65)
Nessa contextualização é que se debate o termo poder fa-
miliar que, por si só, já causa desconforto quando, a partir 
de uma leitura hermenêutica e sistêmica da legislação cons-
titucional e especial acerca da família e da criança, verifica-
mos que até a Constituição Federal de 1988 a criança não 
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 41
era sujeito de direitos. Hoje, existe a prevalência dela, fazendo 
com que os pais tenham o dever de zelar e vigiar o filho em 
relação a todos os aspectos da sua vida. Salienta-se que o 
termo “poder” nos dá a impressão de subordinação quando, 
na verdade, o que deve existir são trocas, tendo como norte o 
filho. De igual forma, poder familiar deveria se referir aos pais 
e não à família.
Conforme veremos, essa autoridade, que surge a partir da 
parentalidade, já sofreu diversas mudanças e deverá ter a in-
cidência de tantas outras, pois a família, como já vimos, vai 
sempre evoluir e sua conceituação dependerá da época, do 
lugar e da cultura que estiver sendo focada. Estamos diante 
de pais sem autoridade e crianças com falta de limites: “os 
filhos sabem que os seus pais são seus “responsáveis” e, sendo 
assim, há a utilização da expressão “responsabilidade paren-
tal” (DOLTO, 2003, p.65). Com base no artigo 5º, inciso I 
da Constituição Federal de 1988 e o artigo 21º do Estatu-
to da Criança e do Adolescente, temos que esse poder fami-
liar é compartilhado entre ambos os pais e sua prática deve 
ser igualitária entre eles. Salienta-se que os efeitos do poder 
parental para os filhos que tiverem capacidade civil cessam 
quando completada a maioridade que, no Brasil, é aos 18 
(dezoito) anos.
No direito português, a evolução do pátrio poder deu-se 
em dois sentidos, que correm paralelos: de poder (direito) pas-
sou a função (dever), e de poder exclusivo do pai passou à au-
toridade conjunta do pai e da mãe (SANTOS, 1999, p. 511). 
De forma semelhante, a autoridade parental é o veículo instru-
mentalizador de direitos fundamentais dos filhos, de modo a 
42 Serviço Social e Famílias
conduzi-los à autonomia responsável (TEIXEIRA, 2006. p. 65). 
Assim, poder familiar ou autoridade parental é a possibilidade 
dos pais na execução de direitos e deveres em relação aos fi-
lhos, menores de idade, até sua capacidade civil, no intuito de 
garantir-lhes autonomia nos mais diversos segmentos da sua 
vida pessoal, garantindo-lhes seus direitos e garantias funda-
mentais.
Em relação à conceituação do que seja poder familiar, 
interessa-nos entender quem é a criança e quem é o adoles-
cente no que tange ao aspecto jurídico. Assim, criança é toda 
a pessoa até a idade de 12 (doze) anos incompletos, conforme 
dispõe o artigo 2º do ECA, sendo que adolescente é toda a 
pessoa dos 12 (doze) aos 18 (dezoito) anos de idade. Pelo 
Código Civil, artigo 3º, inciso I, absolutamente incapazes são 
os menores de 16 anos e relativamente incapazes são os que 
possuem de 16 aos 18 anos, conforme o artigo 4º, inciso I, 
do Código Civil. No que tange à maioridade, o artigo 5º do 
Código Civil e o artigo 2º do ECA definem como maioridade 
aqueles que implementaram a idade de 18 anos.
Quanto às características, devemos entender que o Poder 
Familiar é um dever dos pais para com os filhos que possuem 
a menoridade civil. Porém, analisamos que, por meio do con-
teúdo desse dever parental, os pais devem ter ciência do seu 
papel no contexto. Dentre as características do conteúdo do 
poder familiar, temos:
a) Indisponibilidade/irrenunciabilidade – O poder fa-
miliar é um dever indisponível, pois não cabe aos pais, 
sejam consanguíneos ou adotivos, transferir este poder 
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 43
em que possam renunciar ao mesmo. Salienta-se que 
este poder é concomitante aos dois pais. No entanto, 
quando existem acordos ou decisões judiciais versando 
sobre um aspecto ou outro em relação ao guardião, o 
poder parental pode ser atribuído, de forma exclusiva ou 
não, ao guardião.
No entanto, são exceções, sendo então possível a renúncia 
nos casos de emancipação e adoção. Salienta-se que parte 
da doutrina acredita se tratar de transferência e não renúncia 
no caso do consentimento para adoção, tendo em vista que 
extingue o poder familiar dos pais biológicos, transferindo-os 
aos adotantes. No que tange à emancipação, é importante 
salientar que será anulável por dolo quando realizada para 
fugir aos deveres do poder familiar.
Há também aqueles que entendem que ele é irrenunciável, 
e só quando se tratar de adoção poderemos falar em renún-
cia. Só quando se trata de adoção é que pode falar de renún-
cia do pátrio poder [poder familiar]. Mas aqui estão em jogo 
outros princípios.
Acolhendo o Direito Brasileiro, o instituto da adoção não 
poderia deixar de conceder ao pai adotivo a autoridade pa-
ternal. Com a adoção, há uma transferência do pátrio poder 
[poder familiar]. Perde-o realmente o pai natural; adquire-se, 
para todos os seus efeitos, o pai adotivo. A renúncia ao pátrio 
poder [poder familiar], que neste caso é uma exceção, resulta 
em benefício de outro instituto, admitindo em nosso direito 
positivo (ROCHA, 1978, p. 40).44 Serviço Social e Famílias
b) Indivisível – A maioria da doutrina se posiciona susten-
tando que o poder familiar é indivisível no que tange à 
sua titularidade; mas no tocante ao exercício dos direitos 
e deveres, como, por exemplo, no caso de pais separa-
dos ou mesmo juntos, ele seria divisível. Entretanto, o 
antigo Código de menores admitia a transferência do 
pátrio poder (poder familiar).
c) Imprescritibilidade/decadencialidade – Não há pres-
critibilidade em relação ao instituto do poder familiar.
d) Tangível – A regra é que o juiz não interfira no exercício 
do poder familiar, salvo nos casos em que houver abu-
so, colocando em perigo os interesses do incapaz ou 
afrontando os princípios legais regradores da matéria. E 
por tudo isso se diz que o poder familiar não é intangí-
vel, ou seja, um direito absoluto, mas, sim, relativo.
e) Personalíssimo – Uma vez que somente os pais estão 
legitimados para exercer o poder familiar.
f) Múnus Público – Como é um instituto que interessa à 
ordem social e ao desenvolvimento sadio de todos os 
seus cidadãos, interessa ao Estado. Logo, é um exercício 
obrigatório, devendo os pais garantir os direitos dos fi-
lhos a partir das orientações legislativas.
Com efeito, o poder familiar está atrelado a deveres e di-
reitos que dizem respeito à pessoa do filho assim como à ad-
ministração material da sua vida.
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 45
2 Aspectos pessoais do poder familiar
Em relação aos direitos e deveres oriundos do Exercício do Po-
der Familiar, cabe-nos uma leitura sistêmica do artigo 1.634 
do Código Civil/2002 juntamente com o capítulo III do Direi-
to à Convivência Familiar e Comunitária em seu artigo 22 do 
ECA. Entretanto, referidos artigos devem ser cotejados com os 
direitos fundamentais expressos no art. 227 da Constituição 
Federal/1988, assim como aqueles que não estão expressos, 
mas implícitos, a partir da leitura dos Princípios Constitucionais.
Sobre o dever de registrar o(a) filho(a) e do Direito ao Es-
tado de Filiação, tendo em vista que a partir da Constituição 
Federal de 1988 iniciou processo de rompimento entre as di-
ferenciações dos filhos a partir do casamento e dos que não 
o foram, a partir da consagração do princípio da isonomia 
entre os filhos, disposto no artigo 227, parágrafo 6º, o dever 
de registrar o filho, em que pese não esteja expresso no ECA 
e sequer no Código Civil, teve a atenção do legislador consti-
tuinte, tendo em vista a importância do nome na vida das pes-
soas e o dever dos pais em fazê-lo. Afinal, durante vários anos, 
muitas crianças tiveram de silenciar sobre os seus registros de 
nascimento, seja por vergonha ou por tristeza, pelo fato de 
que aquele(a) que lhe colocou no mundo ou não lhe assumiu 
registradamente ou foi forçado a fazê-lo.
A partir do momento em que os pais receberem as certi-
dões de nascidos vivos, nos estabelecimentos de saúde, devem 
providenciar o registro de nascimento do recém-nascido junto 
ao Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais. Com efeito, 
em que pese o ato formal da certidão de nascimento seja um 
46 Serviço Social e Famílias
ato registral de cunho material, é por meio da inserção do 
nome e prenome do pai ou da mãe que faz com que, emocio-
nalmente, as crianças e futuros adultos se sintam lesados.
Antes da Constituição de 1988, havia a distinção, injusta, 
entre filhos legítimos e filhos adulterinos ou adotivos. Ocorria 
também discriminação em relação aos direitos oriundos da fi-
liação ilegítima. Logo, o registro de nascimento, com os dados 
completos acerca da filiação, é dever parental dos pais, pois é 
dignidade para com a criança.
Da regularização dos dados parentais na Certidão de Nas-
cimento do filho(a), para as pessoas que possuem filhos, mas 
por algum motivo não realizaram o registro do prenome na 
Certidão de Nascimento, podem fazê-lo de forma espontâ-
nea, junto ao registro de nascimento, por escritura pública, 
testamento, escrito particular arquivado em cartório, manifesta 
expressão perante o magistrado e por instrumento público.
De igual forma, os pais podem ingressar com ação de in-
vestigação de maternidade ou paternidade cumulada com re-
tificação ou inclusão de prenome em registro civil para que, 
após comprovada a paternidade biológica, seja oportunizada 
a inclusão no registro civil da criança.
Salienta-se que, nos últimos anos, os familiaristas têm se 
preocupado com a pessoa que, já tendo sido registrada por 
terceira pessoa, é levada por motivo de foro íntimo a ser ex-
cluída da certidão por haver outro pai ou mãe biológicos. 
Contudo, várias decisões têm ido ao encontro da tese de que 
o que vai se sobrepor será a relação continuada de vínculo 
afetivo, que deu causa ao registro de nascimento, mesmo que 
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 47
a pessoa que tenha efetivado o registro não seja pai ou mãe 
biológico.
De outra forma, a Lei nº 8.560/92, que versa sobre a In-
vestigação de Paternidade, referiu-se ao procedimento de ave-
riguação oficiosa de natureza jurídica administrativa, que é 
utilizado para aqueles registros nos quais constem somente os 
dados maternos, sendo remetido pelo oficial do registro civil 
com os dados do suposto pai ao magistrado. Assim, após a 
mãe biológica ser ouvida sobre a suposta paternidade, lavra-
-se e averba-se o termo de reconhecimento, dando-se o prazo 
de 30 (trinta) dias, por intermédio de notificação ao pai, para 
que ele efetive o registro. Caso o mesmo não o faça, o proce-
dimento será encaminhado ao Ministério Público.
3 Do dever de guarda ou do direito 
fundamental do filho de ser cuidado
A guarda e a companhia do filho como atributo do poder fa-
miliar constituem um direito e um dever. Não é só o direito de 
manter o filho diante de si, disciplinando-lhe as relações, mas 
também representa o dever de resguardar a vida do filho e 
exercer vigilância sobre ele. Engloba também o dever de assis-
tência e representação (MACIEL, 2006, p. 85).
Cabe aos pais os cuidados e o zelo em relação à educa-
ção, saúde, instrução e todos os aspectos da vida do mesmo. 
Por isso, o pai que não atua de forma responsável em relação 
aos cuidados com seus filhos terá de ser responsabilizado civil 
48 Serviço Social e Famílias
e até criminalmente, conforme for a origem do dano, mesmo 
que seja contra terceiro e executado pelo filho menor de ida-
de, que está sob a responsabilidade dos pais. Entretanto, o 
dever de vigilância dos pais de filho adolescente é relevante, 
pois conforme o artigo 933 do Código Civil/2002, a culpa 
dos pais não precisa ser demonstrada (FILHO, 2002, p. 137).
Em suma, o princípio essencial da responsabilidade dos 
pais pelos filhos menores é uma presunção juris tantum (tão 
certa) de culpa. A vítima não necessita provar que o fato ocor-
reu por culpa in vigilando dos pais; deve apenas provar o dano 
e que o mesmo foi causado por fato culposo do filho. Essa 
prova é indispensável, porque presumida é apenas a culpa 
dos pais, e não do filho. Sem culpa do filho, não haverá que 
se falar de indenização.
Provada a culpa do filho, presume-se a culpa dos pais, que 
só poderão se exonerar do dever de indenizar demonstrando 
in concreto que não mais tinham o poder de direção sobre 
o menor e o correspondente dever de vigilância, afastando, 
assim, a presunção da culpa. O Código Penal, por sua vez, 
se refere aos casos em que os pais, em função da omissão 
quanto ao poder familiar, poderão ser acionados penalmente.
Sobre a guarda dos pais separados, se a vida dos filhos, 
enquanto os pais vivem juntos, mostra-se de maneira com-
plicada, com os pais separados, as dificuldades podem ser 
superiores. No entanto, se não há possibilidade de um equilí-
brio emocional que possibilite que o filho possa se desenvolver 
como ser humano saudável, nãocarecendo de sua integração 
em lar substituto.
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 49
Não é mais possível desvincular, diante da sistemática atu-
al, o Direito de Família do Direito da Criança e do Adolescen-
te. Ambos formam uma teia, um emaranhado de conexões 
que não podem ser desmembradas na atuação dos profissio-
nais do Direito, em especial nos casos que são submetidos à 
apreciação do juízo de Família. Dentre os requisitos principais 
para deter a guarda, devem estar presentes: o respeito à in-
tegridade e ao desenvolvimento do filho; a possibilidade de 
lhe manter e de lhe sustentar; de zelo e de vigilância da sua 
vida; os vínculos de afeto, cumplicidade, segurança e respeito 
e, no caso de pais separados, principalmente, o respeito ao 
cônjuge não guardião, fortalecendo o vínculo do filho para 
com aquele.
Ainda, sobre a guarda e a Companhia Consensual, o me-
lhor para um(a) filho(a) de pais separados seria que estes pu-
dessem vê-los como ser humano em crescimento, e não um 
objeto no meio de uma disputa. No entanto, não é o que 
ocorre na maior parte dos processos de separação. Porém, 
aqueles casais que conseguem levar seu processo pelo rito da 
consensualidade e possibilitam o diálogo acerca dos interesses 
do filho dão início, pelo menos, a uma melhor possibilidade 
de vida para este e, por que não dizer, para os respectivos 
genitores. Gize-se que o acordo de separação deve respei-
tar sobremaneira o interesse do(a) filho(a) e caso o acordo 
não demonstre estar resguardando os interesses deste, o Juiz 
poderá se recusar a homologar o acordo, conforme o esta-
tuído no parágrafo único, do artigo 1.574 do Código Civil 
(AZAMBUJA, 2004, p. 288).
50 Serviço Social e Famílias
O Código de Processo Civil, em seu artigo 1.121, II e III, 
dispõe que: a petição de Separação Consensual, instruída com 
a certidão de casamento e o contrato antenupcial, se houver, 
conterá com o acordo relativo à guarda dos filhos menores e 
ao regime de visitas e o valor da contribuição para criar e edu-
car os filhos. Sendo assim, aqui se mostra o quanto à questão 
da definição das regras em relação ao poder familiar são fun-
damentais, inclusive, para a homologação do acordo, quanto 
à separação consensual, que não será homologado pelo juiz, 
caso não contemple os requisitos escritos acima. Mesmo com 
o acordo homologado, as dificuldades em relação à sepa-
ração e ao modo como cuidar e zelar por este filho gerará, 
por vezes, discordâncias, mas cabe aos pais se permitirem ao 
diálogo, que é a melhor forma para organizar a vida de uma 
família, em que pese de pais separados.
É relevante abordar sobre a Guarda Compartilhada: se de 
um lado existe a possibilidade da guarda ser outorgada a um 
dos genitores, denominada de guarda unilateral ou exclusiva, 
de outro, tem sido cada vez mais difundida na sociedade bra-
sileira a possibilidade dos pais optarem pela guarda compar-
tilhada. Verifica-se, na prática jurídica, que muitos dos casais 
que pensam estarem aptos para a guarda compartilhada não 
sabem sequer sua distinção dentre outros tipos de guarda se-
melhantes, tais como alternada ou aninhada, modelos que já 
existem em outros países.
A guarda compartilhada é baseada no princípio de que 
toda a criança e adolescente tem direito a uma convivência 
familiar plena, conforme o artigo 227 da Constituição Federal. 
A partir dessa guarda, os genitores tomarão decisões de forma 
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 51
conjunta, embora a criança resida com apenas um dos pais e 
fique sob a custódia do outro, conforme o disposto no artigo 
1.634, II do Código Civil. Já a guarda alternada é aquela em 
que será compartilhada também a custódia e, por essa razão, 
grande parte dos estudiosos entende ser esta espécie de guar-
da danosa para o desenvolvimento da criança.
Majoritário é o entendimento da jurisprudência e da doutri-
na no sentido de que a guarda compartilhada deve se dar com 
a consensualidade dos pais, mas não quando estes estiverem 
litigando por meio de processo litigioso. Porém, a legislação 
permite que o juiz possa entender pela incidência do instituto, 
mesmo em casos litigiosos. Entendemos que a guarda com-
partilhada pode acontecer mesmo quando não há a consensu-
alidade entre os pais, uma vez que a divergência é corriqueira 
quando o assunto versado é a educação de filhos, mesmo 
em casais que vivem harmoniosamente. Contudo, o que deve 
interessar é se o filho e os pais vão ter de se reformular por 
intermédio do diálogo para poder dar o suporte necessário ao 
menor em crescimento.
A guarda aninhada, por sua vez, é aquela onde a criança 
permanece no seu local de moradia e o revezamento se dá 
entre os genitores. Contudo, referida guarda não possui fortes 
iniciativas no Brasil, tendo em vista nossos costumes e nossa 
falta de condição econômica para termos três residências.
A guarda consensual é a mais interessante para todo o 
núcleo familiar e para o filho, que não pode e não deve optar 
em relação a sua preferência pelos pais, visto que o filho ama 
de maneira diferente seus pais, assim como os pais amam seus 
52 Serviço Social e Famílias
filhos. Isso diz é respeito a sua integridade e deve ser preserva-
do, mesmo que a opção seja uma disputa judicial, por conta 
do rito litigioso. Se após a oportunização da consensualidade 
esta não foi exitosa, os pais poderão optar pelo rito litigioso.
Na Guarda Litigiosa, o processo ocorrerá no rito de litígio 
e a guarda será concedida ao final do processo, no caso de 
não haver consenso dentre os mesmos. Nesse sentido, a desti-
nação da guarda será para aquele genitor que possuir melho-
res condições de exercê-la, respeitando o interesse superior da 
criança, conforme preceitua o artigo 1.584 do Código Civil. 
Diante da realidade processual brasileira, os operadores do 
Direito têm se valido de processo autônomo quando o litígio 
se faz presente nas Separações, mas há concordância em re-
lação à guarda ou vice-versa para que se busque uma mínima 
separação entre os dois processos.
Comumente, as Varas de Família de nosso país têm ofer-
tado o trabalho de equipes técnicas de apoio formadas por 
psicólogos, assistentes sociais, psiquiatra, sociólogos, antro-
pólogos e mediadores para que os resultados sejam melhores 
do que os já ocorridos em outros tempos, buscando a conci-
liação verdadeira.
Sobre o dever de visitação e do direito do(a) filho(a) à con-
vivência familiar plena assim, aquele genitor que não ficou 
com a guarda terá o direito à visitas e à convivência plena, co-
meçando, então, os problemas, pois os genitores querem exer-
cer seu poder familiar todos os dias, em diversos momentos da 
vida daquele ser que colocaram no mundo, mas é muito mais 
fácil para o sistema jurídico delimitar apenas algumas datas e 
Capítulo 3 Filiação e Poder Familiar no Brasil 53
horas para a efetivação desse poder por aquele genitor que 
não possui a guarda.
3.1 Da fiscalização da educação e manutenção 
do filho pelo não guardião
A fiscalização em relação aos aspectos educacionais e ao de-
senvolvimento do filho menor de idade não é restrita aos de-
tentores do poder familiar, visto que, conforme o artigo 18º do 
ECA, é dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desu-
mano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
O artigo 1.589 do Código Civil dispõe que o pai ou a 
mãe1, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-
-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com 
o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar 
sua manutenção e educação. Esses dois artigos nos parecem 
inócuos para os casos concretos, em que ocorrem litígio e dis-
cordância acerca da educação e outras situações da vida do 
filho, pois caberá aos dois uma uniformidade

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