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Artigo Original: Elivelton Trindade Cannabis Sativa Considerada por muitos especialistas como ‘porta de entrada’ para outras drogas, a Cannabis Sativa (nome científico dado a maconha), é a substância psicoativa ilegal de maior consumo no mundo e com um início de uso cada vez mais precoce pela população - antes mesmo dos 15 anos de idade. No Brasil, aparece em primeiro lugar entre as drogas ilícitas mais utilizadas (1) . O número de estudantes brasileiros que usam ou usaram drogas chega a 17%. Entre os principais motivos para o uso da droga encontra-se a curiosidade, influência dos amigos, a sensação de prazer e até mesmo não saber o motivo. E a droga mais utilizada na faixa etária de 14 a 16 anos era a maconha(60%). (01) Quanto mais precoce seus uso, maiores serão os seus efeitos no desenvolvimento cognitivo, cerebral, social e familiar dos usuários, questão que provoca preocupação na comunidade científica. As principais substâncias encontradas na maconha responsáveis pelos seus inúmeros efeitos no organismo são o Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o canabidiol e o canabinol. Estes compostos ativam os receptores canabinóides (CB1,CB2 e GPR55) presentes em múltiplos tecidos do organismo. Estes receptores são os alvos sobre os quais atuam tanto os canabinóides exógenos quanto os endocanabinóides, que são os ligadores naturais do sistema endocannabinóide, sistema que participa de diversas respostas fisiológicas do organismo. (2) Existem estudos que demonstram os efeitos psicoativo, ansiolítico e antipsicótico dos componentes THC e Canabidiol, e a legalização do uso da maconha no Brasil e em outros países ao redor do mundo tem-se baseado em alguns desses achados. Os efeitos ansiolíticos do Canabidiol são semelhantes aos medicamentos aprovados atualmente para tratar a ansiedade. (03) No entanto, muitos pesquisadores afirmam que ao mesmo tempo que produzem efeitos relaxantes, o uso agudo, crônico e prolongado de maconha provoca, não raramente, o efeito inverso. Devemos pensar também no real interesse por trás da divulgação de pesquisas que defendem o uso da maconha em escala comercial e recreativa. Os efeitos benéficos do uso terapêutico de uma substância determinada, como no caso dos canabinóides, não podem de maneira alguma se relacionar com o seu uso recreativo. E cabe lembrar que apesar da Morfina ser reconhecida para uso terapêutico, não se questiona o perigo do uso dos opiáceos. Além disso, existem evidências de sobra para esclarecer essa polêmica. (2) A Cannabis produz tolerância, abstinência e dependênca. (5) Devemos ressaltar que o uso e abuso de drogas configura atualmente um problema de saúde pública. Em pesquisas feitas com usuários, foram encontrados dados que indicam que o contato com as drogas começa muito cedo, algo em torno dos 11 aos 13 anos. (4) Estes dados sobre a precocidade no início do consumo causa preocupação. Muitos estudos já confirmaram que várias regiões cerebrais estão em pleno desenvolvimento durante esse período e o uso de cannabis irá interferir de maneira significativa e muitas vezes permanente nestas áreas, prejudicando a cognição, o relacionamento interpessoal e afetivo e diversas outras funções cerebrais que atingem seu desenvolvimento completo por volta dos 22 anos de idade. 1. Efeitos do uso da Cannabis Sativa O uso da maconha, provoca efeitos negativos e que contribuem para o surgimento de problemas a médio e longo prazo em vários sistemas do organismo, dentre eles: nervoso, respiratório, cardiovascular, reprodutor, além de estar relacionado com problemas oncológicos e de má-formação fetal. Em relação ao sistema nervoso, um dos primeiros a ser afetado pelo uso da maconha, muitos estudos apontam alterações psico-motoras, mesmo em usuários esporádicos, que se agravam em usuários moderados e pesados. Também foram descritos maior incidência de transtornos de humor, depressão, esquizofrenia, baixo rendimento acadêmico, surtos psicóticos, reflexos prejudicados, distúrbios emocionais e afetivos, capacidade prejudicada de atenção, memorização e tomada de decisões que envolvam riscos. A área mais frequentemente afetada pelos usuários de maconha é a região do hipocampo. Estes achados e alterações neurológicas em usuários de Cannabis Sativas foram confirmados por diversos estudos, dentre eles, o estudo de Dörr, Anneliese, Ps. et alt.(2009) que além de confirmarem as alterações apontadas, mostra a diferença cerebral por meio da tomografia computadorizada entre usuários e não usuários de maconha. Os usuários apresentaram uma área infinitamente maior de região cerebral afetada, confirmando os danos cerebrais do uso da maconha. Diante dessas alterações não podemos deixar de lado a combinação maconha e direção que possui efeitos tão graves quanto o consumo de álcool. Estudos apontam que o uso de maconha aumenta em 50% a periculosidade na direção em relação aos motoristas que ingerem álcool antes de dirigir. E esse risco passa a ser maior conforme a concentração de THC no sangue do motorista, sendo consideradas doses preocupantes acima de 1ng/Ml. 2. Efeitos da Cannabis no sistema respiratório Um cigarro tipico de maconha pode conter até 0,35g de cannabis sativa, que contem cerca de 0,3 a 10% de THC. Ao ser fumado, cerca de 10 a 25% do principio ativo chega à corrente sanguínea, alcançando o pico máximo entre 03-10 minutos. Porém, os efeitos psicotrópicos são sentidos segundos depois de fumar e alcançar o seu pico máximo entre 15-30 minutos e ter uma duração de até 3 horas (6) . A fumaça proveniente da queima da maconha possui substâncias cancerígenas semelhantes às encontradas no cigarro. Além disso, o THC possui propriedades broncodilatadoras que facilitam a absorção pelos pulmões destas substâncias, aumentando seus efeitos tóxicos no sistema respiratório. O uso de cannabis conduz a longo prazo a uma obstrução do fluxo aéreo nas vias superiores de grande calibre e à bronquite crônica, e está relacionado à grandes deficiências na função pulmonar (7) . Foram documentados em jovens fumadores de maconha uma maior incidência de doença bolhosa pulmonar com distribuição parasseptal e predominância nos lóbulos superiores (7) . Quando comparamos os danos pulmonares do tabaco e da maconha devemos levar em consideração que o tempo e a profundidade da inspiração quando se fuma a maconha é três vezes maior em relação ao cigarro, fato que aumenta a ocorrencia de barotraumas. Por outro lado, a falta de filtro nos cigarros de maconha permite uma entrada de alcatrão 4 vezes maior no organismo do usuário e ocorre um aumento de até 5 vezes no número de carboxihemoglobina em relação ao cigarro, o que intensifica seus danos ao organismo (7) . 3. Efeitos da Cannabis no sistema digestório Os sintomas mais evidentes de intoxicação aguda por cannabis sativa são de ordem neurológica e psico-motora, mas, também ocorre o surgimento de sintomas como boca seca, diminuição da motilidade intestinal, retardo no esvaziamento gástrico. Posteriormente, sede e aumento exacerbado da sensação de fome. A cannabis foi associada anteriormente a uma ação anti-hemética em seu consumo agudo, indicada por alguns médicos inclusive para evitar episódios de vômitos e náuseas após quimioterapia, porém, vem sendo registrado em pacientes usuários de maconha episódios crônicos de vômitos relacionados ao seu consumo. Observou-se que quanto maior a quantidade e a frequência do uso, maiores e mais frequentes foram os episódios de hiperêmese induzidas pela cannabis. Os vômitos vieram acompanhados denáusea, sudorese, dor abdominal e polidipsia. Ocorrem principalmente durante a manhã e são habitualmente resistentes à medicação, e com a interrupção das crises somente após cessar o uso de cannabis. 4. Efeitos tetarogênicos da Cannabis Sativa O uso de maconha durante a gestação é um problema crescente e de difícil identificação durante o acompanhamento pré-natal devido ao fato de se tratar de uma droga ilícita. Foi comprovado o aumento do risco de diversas mal formações em mulheres que fizeram uso de maconha durante o pré-natal (8) . A maconha também está relacionada com o nascimento de fetos anencéfalos e a uma maior incidência de gastrosquise (Exteriorização das vísceras) (8) . Em relação aos efeitos tardios para a criança, foram encontrados maior presença de transtornos cognitivos e emocionais, dificuldade de memorização e impulsividade. Em relação a abstinência, com um mês de vida, notou-se mudança repentina de humor nos recém-nascidos (8) . 5. Outros efeitos gerais do uso de Cannabis Além dos efeitos citados acima, a cannabis ainda causa efeitos oftalmológicos como vermelhidão nas conjuntivas, dificuldade de acomodação, diminuição do reflexo pupilar e diminuição da pressão intraocular, entre outros. Taquicardia, hipertensão e vasodilatação são exemplos das alterações cardiovasculares. A cannabis também afeta a produção de hormônios sexuais como a testosterona, altera a imunidade, provoca mudanças da personalidade, aumenta os comportamentos de riscos e agressivos e alimenta os crimes de violência e fortalece o mercado paralelo dominado pelos traficantes. Medidas de prevenção, proteção e divulgação de informações que visem proteger os jovens dos perigos da dependência devem ser pensadas e tratadas de maneira multifocal. Profissionais da saúde e da educação devem ser capacitados para o reconhecimento e tratamento dos jovens em situação de risco e as autoridades devem fazer a sua parte na repressão e combate ao tráfico. Referências 1. Monteiro et al. Adolescentes e o Uso De Drogas Ilícitas: Um Estudo Transversal. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2012 jul/set; 20(3):344-8. 2. Maldonado R. Cannabis Beneficio y Riesgo. Med Clin (Barc). 2009;132(16):625– 626. 3. Schier et al. Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico. Rev Bras Psiquiatr. 2012;34(Supl1):S104-S117. 4. Cavalcante AM. Drogas: esse barato sai caro: os caminhos da prevenção. 5ªed. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos; 2003. 5. Gúrpide AM, Mangado EO. Manejo del consumo de cannabis en población joven en Atención Primaria. Aten Primaria. 2011;43(6):319—324. 6. Fiestas F, Torres G. Efectos de la Mrihuana en la Cognición:Una revisión desde la perspectiva neurobiológica. Rev Peru Med Exp Salud Publica. 2012;29(1):127-34. 7. Sik et al. Enfermedad primaria bullosa del pulmón en varón joven fumador de Cannabis. Cartas al Director / Arch Bronconeumol. 2012;48(11):425–429. 8. Barbosa et al. Manifestações do uso de maconha e opiáceos durante a gravidez. FEMINA | Agosto 2011 | vol 39 | nº 8. 9. Dörr, Anneliese, Ps. et alt. Efectos del consumo de marihuana en funciones cognitivas en jóvenes adolescentes. Alasbimn Journal 11 (43): January 2009. Referências Complementares www.saude.gov.br Solowij N, Pesa N. Anormalidades cognitivas no uso da cannabis. Rev Bras Psiquiatr. 2010;32(Suppl 1):531-40.
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