Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FARMACOLOGIA APLICADA A FARMÁCIA Lucimar Filot da Silva Brum Antiarrítmicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as diferentes classes de fármacos antiarrítmicos. Explicar o mecanismo de ação de fármacos antiarrítmicos. Apontar os efeitos adversos dos fármacos antiarrítmicos. Introdução Arritmias são disfunções da geração ou da condução de impulsos no miocárdio que podem causar alterações no ritmo cardíaco e manifestar-se na forma de bradiarritmia ou taquiarritmia. A maioria das arritmias resulta de alterações na geraç ã o do impulso (automaticidade anormal) ou de um defeito na condução do impulso. Em casos de arritmias decorrentes de automaticidade anormal, observa-se que o nó sinoatrial tem a maior velocidade de despolarizaç ã o de fase 4 e, por isso, exibe maior frequê ncia de descargas em comparação com a que ocorre em outras cé lulas que exibem automaticidade. Os fármacos antiarrí tmicos podem modificar a geraç ã o e a condução de impulsos, para prevenir que ocorram arritmias ou para reduzir os sintomas associa- dos às arritmias. A maioria dos antiarrí tmicos suprime a automaticidade bloqueando os canais de sódio (Na+) ou cálcio (Ca2+), reduzindo a quan- tidade desses íons em relaç ã o ao potássio (K+), diminuindo a inclinação da despolarizaç ã o da fase 4 (diastólica) e/ou diminuindo a frequê ncia de descargas (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Por outro lado, no caso de arritmias devidas a anormalidades na condução de impulso, verifica-se que os impulsos provenientes dos marca-passos mais altos normalmente sã o conduzidos por vias que se bifurcam para ativar toda a superfí cie ventricular. Assim, pode ocorrer um fenômeno denominado reentrada, se um bloqueio unidirecional cau- sado por lesã o miocá rdica ou por prolongamento do perí odo refratário resultar em uma via de condução anormal. A reentrada é a causa mais comum das arritmias e pode ocorrer em qualquer ní vel do sistema de conduç ã o cardí aca, resultando em reexcitaç ã o do mú sculo ventricular, causando contraç ã o prematura ou arritmia ventricular sustentada. Alguns fármacos antiarrí tmicos impedem a reentrada, reduzindo a velocidade de conduç ã o (fá rmacos da classe I) e/ou aumentando o perí odo refratário (fá rmacos da classe III) e, assim, convertem o bloqueio unidirecional em bloqueio bidirecional (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Para uma melhor compreensão da fisiologia cardíaca, sugere-se a leitura da obra Fisiologia Cardiovascular (MOHRMAN; HELLER, 2008). Vale ressaltar que, apesar dos antiarrí tmicos modificarem a geraç ã o e a conduç ã o de impulsos, para prevenir que ocorram arritmias ou para re- duzir os sintomas a elas associados, infelizmente, vá rios dos antiarrí tmicos apresentam aç õ es pró -arrí tmicas, ou seja, causam arritmias. Por exemplo, a inibiç ã o dos canais de K+, atividade geralmente observada com antiarrítmi- cos da classe III, promove o aumento do potencial de aç ã o e pode, assim, prolongar o intervalo QT. Em casos de prolongamento excessivo, esses fá rmacos aumentam o risco de desenvolver taquiarritmias ventriculares (torsades de pointes), que põem em risco a vida do paciente (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Neste capítulo, vamos abordar os aspectos gerais da farmacologia, incluindo a classificação, o mecanismo de ação e os efeitos adversos das diferentes classes de fármacos antiarrítmicos. Fármacos antiarrítmicos Os antiarrí tmicos podem ser classifi cados de acordo com seu efeito predo- minante sobre o potencial de aç ã o, onde temos os antiarrítmicos: Classe I (bloqueadores dos canais de só dio); Classe II (betabloqueadores); Classe III (bloqueadores dos canais de potá ssio) e Classe IV (bloqueadores dos canais de cá lcio) (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Antiarrítmicos2 Além dessas classes, também existem outros fármacos com ação antiarrítmica, como digoxina, adenosina e sulfato de magné sio. A digoxina inibe a bomba Na+/K+-adenosina trifosfatase (ATPase), diminuindo o perí odo refratá rio nas cé lulas miocá rdicas atriais e ventriculares, enquanto prolonga o perí odo refratá rio efetivo e diminui a velocidade de conduç ã o no nó dulo átrio ventricular (AV), e é usada para controlar a velocidade de resposta ventricular na fibrilaç ã o ou no flutter atrial. A adenosina é um nucleosí deo de ocorrê ncia natural que, em doses altas, diminui a velocidade de conduç ã o, prolonga o perí odo refratá rio e diminui a automaticidade no nó AV. A adenosina tem duraç ã o de aç ã o extremamente curta (cerca de 10-15 segundos), devido à rá pida captaç ã o pelos eritró citos e pelas cé lulas endoteliais. O magné sio diminui a velocidade de formaç ã o de impulsos no nó sinoatrial e prolonga o tempo de conduç ã o ao longo do tecido cardí aco. Importante: o magné sio é a substâ ncia de escolha para o tratamento de arritmia potencialmente fatal, torsade de pointes e arritmias induzidas por digoxina (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Antiarrí tmicos da classe I Os antiarrí tmicos da Classe I atuam bloqueando canais de Na+ voltagem- sensí veis. Tais fármacos ligam-se mais rapidamente aos canais de Na+ abertos ou inativados do que aos completamente repolarizados apó s a recuperaç ã o do ciclo de despolarizaç ã o pré vio. Consequentemente, esses fá rmacos mos- tram maior grau de bloqueio em tecidos que frequentemente encontram-se despolarizados, propriedade essa denominada de dependê ncia de uso (ou dependê ncia de estado) e que possibilita a esses fá rmacos bloquearem cé lulas que estã o disparando em uma frequê ncia anormalmente alta, sem interferir na frequê ncia normal baixa de batimentos cardí acos. O uso dos bloqueadores dos canais de Na+ diminuiu devido aos seus possí veis efeitos pró -arrítmicos, particularmente em pacientes com funç ã o ventricular esquerda reduzida e doenç a cardí aca isquê mica. 3Antiarrítmicos Os fá rmacos da classe I sã o subdivididos em trê s grupos, de acordo com seus efeitos na duraç ã o do potencial de aç ã o ventricular: a) Antiarrí tmicos da classe IA: quinidina, procainamida e disopiramida; b) Antiarrí tmicos da classe IB: lidocaína e mexiletina e c) Antiarrí tmicos da classe IC: flecainida e propafenona (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Antiarrí tmicos da classe IA Quinidina, procainamida e disopiramida são os fármacos antiarrítmicos da classe IA, mas, como apresentam efeitos característicos dos antiarrítmicos da classe III, eles podem precipitar arritmias que evoluem para fi brilação ventricular. O sulfato ou gliconato de quinidina é rá pido e quase completamente absor- vido apó s administraç ã o oral; sofre extensa biotransformaç ã o pela isoenzima hepá tica CYP3A4, formando metabó litos ativos. A procainamida tem duraç ã o de aç ã o relativamente curta, de 2 a 3 horas; é eliminada pelos rins e as dosagens precisam ser ajustadas em pacientes com insuficiê ncia renal. A disopiramida é bem absorvida apó s administraç ã o oral, biotransformada no fí gado em um metabó lito menos ativo e vá rios inativos. Mecanismo de aç ã o: A quinidina se liga aos canais de Na+ abertos e inativados, impedindo o infl uxo de Na+ e reduzindo, dessa forma, a velocidade de entrada rá pida durante a fase 0. Além disso, diminui a inclinaç ã o da despolarizaç ã o espontâ nea de fase 4, inibe canais de K+ e bloqueia canais de Ca++. A quinidina també m tem aç ão bloqueadora em receptores α-adrené rgicos e atividade anticoliné rgica. Procainamida e disopiramida tê m aç õ es semelhantes à s da quinidina, no entanto observa-se menor atividade anticoliné rgica associada com procainamida e maior atividade com o uso da disopiramida. A disopi-ramida produz efeito inotró pico negativo maior do que o efeito exercido por quinidina e procainamida. Por outro lado, a disopiramida causa vasoconstriç ã o perifé rica e pode produzir diminuiç ã o clinicamente importante na contratili- dade miocá rdica em pacientes com insufi ciê ncia cardí aca sistó lica. Usos terapê uticos: A quinidina é usada no tratamento de uma grande varie- dade de arritmias, incluindo taquiarritmias atrial, juncional atrioventricular e ventricular. A procainamida só está disponível em formulaç ã o intravenosa e pode ser usada para tratar arritmias atriais e ventriculares agudas. A diso- piramida é usada no tratamento das arritmias ventriculares como alternativa Antiarrítmicos4 à procainamida e à quinidina, e pode ser usada també m para manutenç ã o do ritmo sinusal na fi brilaç ã o atrial ou fl utter. Efeitos adversos: Doses elevadas de quinidina podem induzir sintomas de cinchonismo, uma situação clínica caracterizada por visã o turva, zumbido, cefaleia, desorientaç ã o e psicose. São comuns interaç õ es medicamentosas envolvendo o uso da quinidina, pois ela inibe a CYP2D6 e a glicoproteí na P. A administraç ã o intravenosa (IV) de procainamida pode causar hipotensã o. Com o uso contínuo, a procainamida está associada ao desenvolvimento de síndrome do tipo lúpus eritematoso reversível, depressão, alucinação e psicose. Já os principais efeitos adversos da disopiramida são os efeitos anticoliné rgicos (boca seca, retenç ã o uriná ria, visã o turva e constipaç ã o). Antiarrí tmicos da classe IB Os fá rmacos antiarrítmicos da classe IB (lidocaína e mexiletina) associam-se e dissociam-se rapidamente dos canais de Na+. Nesse contexto, as aç õ es dos fá rmacos da classe IB manifestam-se quando a cé lula cardí aca está despolari- zada ou disparando rapidamente. Os fá rmacos da classe IB também sã o ú teis para tratar arritmias ventriculares. A lidocaí na deve ser administrada por via IV devido à extensa biotransformaç ã o de primeira passagem no fí gado, que impede a administraç ã o oral. A mexiletina é bem absorvida apó s administraç ã o oral, biotransformada no fí gado, pela CYP2D6, em metabó litos inativos e excretada principalmente por via biliar. Mecanismo de aç ã o: Alé m de bloquear o canal de Na+, lidocaí na e mexile- tina reduzem o tempo da repolarizaç ã o de fase 3 e diminuem a duraç ã o do potencial de aç ã o. Usos terapê uticos: Ainda que a amiodarona tenha suplantado a lidocaí na para uso na fi brilaç ã o ventricular ou na taquicardia ventricular (TV) sem pulso, a lidocaí na pode ser ú til como alternativa. A mexiletina é usada para o tratamento crô nico das arritmias ventriculares, com frequê ncia em associaç ã o com amiodarona. Efeitos adversos: A lidocaí na tem um í ndice terapê utico bastante amplo, pouco interfere na funç ã o ventricular esquerda e nã o tem efeito inotró pico negativo. Os efeitos no sistema nervoso central (SNC) incluem nistagmo, sedaç ã o, fala enrolada, parestesia, agitaç ã o, confusã o e convulsõ es, que frequentemente 5Antiarrítmicos limitam a duraç ã o da infusã o contí nua. Ao contrário, a mexiletina tem í ndice terapê utico estreito, e deve-se ter cautela com fá rmacos inibidores da CYP2D6. Os efeitos adversos mais comuns sã o ná usea, êmese e dispepsia. Antiarrí tmicos da classe IC Os fármacos fl ecainida e propafenona dissociam-se lentamente dos canais de só dio em repouso e tê m efeitos proeminentes, mesmo em frequências cardí acas normais, o que suscita dúvida sobre a seguranç a de tais os fá rmacos, em es- pecial em pacientes com doenç a cardí aca estrutural. A fl ecainida é absorvida por via oral e biotransformada pela CYP2D6 em mú ltiplos metabó litos. O fá rmaco original e os metabó litos sã o eliminados principalmente pelos rins; assim, pode ser necessá rio ajustar a dosagem na doenç a renal. A propafenona é biotransformada em metabó litos ativos que sã o excretados na urina e nas fezes. Mecanismo de aç ã o: A fl ecainida suprime a ascensã o da fase 0 nas fi bras de Purkinje e miocá rdicas, o que causa reduç ã o acentuada da velocidade de conduç ã o em todo tecido cardí aco, com pouco efeito na duraç ã o do potencial de aç ã o e no perí odo refratá rio. A automaticidade é reduzida pelo aumento do potencial limiar, em vez da diminuiç ã o na inclinação da despolarizaç ã o na fase 4. A fl ecainida també m bloqueia os canais de K+, aumentando assim a duraç ã o do potencial de aç ã o, ainda mais do que a propafenona. A propafe- nona, como a fl ecainida, retarda a conduç ã o em todo o tecido cardí aco, mas nã o bloqueia os canais de K+. Usos terapê uticos: A fl ecainida é ú til na manutenç ã o do ritmo sinusal no fl utter atrial ou na fi brilaç ã o em pacientes sem doenç a cardí aca estrutural (como por exemplo, hipertrofi a ventricular esquerda, insufi ciê ncia cardí aca, doenç a cardí aca ateroscleró tica) e no tratamento de arritmias ventricula- res refratá rias. A fl ecainida tem efeito inotró pico negativo e pode agravar a insufi ciê ncia cardí aca crô nica. O uso de propafenona é restrito aos casos de arritmias atriais (controle do ritmo da fi brilaç ã o ou fl utter atrial) e profi laxia da taquicardia supraventricular paroxí stica em pacientes com taquicardias AV reentrantes. A última indicaç ã o benefi cia-se das propriedades β-bloqueadoras da propafenona. Antiarrítmicos6 Antiarrí tmicos da classe II Os fá rmacos da classe II sã o betabloqueadores que reduzem a despolarizaç ã o de fase 4 e, assim, deprimem a automaticidade, prolongam a conduç ã o AV e diminuem a frequê ncia e a contratilidade cardí acas. Os fá rmacos da classe II sã o ú teis no tratamento de taquiarritmias causadas por aumento da atividade simpá tica. Eles també m sã o usados clinicamente no tratamento do fl utter e da fi brilaç ã o atrial, e contra a taquicardia de reentrada no nó AV. Alé m disso, os β-bloqueadores previnem as arritmias ventriculares, ameaç adoras à vida, que podem causar infarto do miocá rdio. O metoprolol é o β-bloqueador mais utilizado no tratamento de arritmias cardí acas, pois ele reduz o risco de broncoespasmo quando comparado aos β-bloqueadores nã o seletivos (propranolol). O esmolol é um β-bloqueador de aç ã o muito curta, tem rá pido iní cio de aç ã o e meia-vida curta e é usado por via IV no tratamento de arritmias agudas que ocorrem durante cirurgias ou em situaç õ es emergenciais (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Antiarrí tmicos da classe III Os fá rmacos da classe III bloqueiam os canais de K+ e, assim, diminuem o efl uxo de K+ durante a repolarizaç ã o das cé lulas cardí acas. Esses fá rmacos prolongam a duraç ã o do potencial de aç ã o sem alterar a fase 0 de despolarizaç ã o ou o potencial de repouso da membrana. Ao contrá rio, eles prolongam o perí odo refratá rio efetivo, aumentando a refratariedade. Por outro lado, tais fármacos merecem atenção ao serem usados pois todos os fá rmacos da classe III tê m potencial de induzir arritmias (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). Amiodarona Mecanismo de aç ã o: A amiodarona conté m iodo e é estruturalmente rela- cionada com a tiroxina. Ela apresenta efeitos complexos, mostrando aç õ es de fá rmacos das classes I, II, III e IV, bem como atividade alfa-bloqueadora. Seu efeito dominante é o prolongamento da duraç ã o do potencial de aç ã o e do perí odo refratá rio, bloqueando os canais de K+. Usos terapê uticos: A amiodarona é efi caz no tratamento de taquiarritmias ventriculares e supraventriculares refratá rias graves e tem sido a base do 7Antiarrítmicos tratamento do ritmo da fi brilaç ã o e fl utter atrial. Apesar do seu perfi l de efeitos adversos, a amiodarona é o antiarrí tmico mais comumente empregado e consideradoo menos pró -arrí tmico dos antiarrí tmicos das classes I e III. Efeitos adversos: A amiodarona apresenta inúmeros efeitos adversos, in- cluindo fi brose pulmonar, neuropatia, hepatotoxicidade, depó sitos na có rnea, neurite ó ptica, coloraç ã o azul-acinzentada da pele e hipo ou hipertiroidismo. No entanto, o uso de dosagens baixas e monitoraç ã o cuidadosa reduzem a toxicidade e mantê m a efi cá cia clí nica. Dronedarona A dronedarona é um derivado benzofurano da amiodarona, é menos lipofí lica e portanto, tem menor capacidade de acú mulo tecidual e menor meia-vida sé rica que a amiodarona. Sua estrutura nã o contém molé culas de iodo, que sã o responsá veis pelas disfunç õ es tireó ideas associadas com a amiodarona. Da mesma forma que a amiodarona, ela tem aç õ es das classes I, II, III e IV. A dronedarona tem perfi l de efeitos adversos mais favorável do que a amiodarona, mas mesmo assim pode causar insufi ciê ncia hepá tica e, portanto, é contrain- dicada para pacientes portadores de insufi ciê ncia hepá tica ou fi brilaç ã o atrial permanente, devido ao aumento do risco de morte. Atualmente, a dronedarona é usada para manter o ritmo sinusal na fi brilaç ã o ou fl utter atrial, mas é menos efi caz que a amiodarona. Sotalol O sotalol, embora seja um antiarrí tmico da classe III, també m apresenta ati- vidade betabloqueadora nã o seletiva e potente. O sotalol bloqueia a corrente de saí da rá pida de K+, conhecida como retifi caç ã o retardada, o que prolonga a despolarizaç ã o e a duraç ã o do potencial de aç ã o, prolongando, assim, o perí odo refratá rio efetivo. O sotalol é usado na manutenç ã o do ritmo sinusal normal em pacientes com fi brilaç ã o atrial, fl utter atrial ou taquicardia supra- ventricular paroxí stica refratá ria e no tratamento de arritmias ventriculares. Como o sotalol tem propriedades betabloqueadoras, ele é usado comumente para essas indicaç õ es em pacientes com hipertrofi a ventricular esquerda ou doenç a cardí aca ateroscleró tica. Esse fá rmaco pode causar os efeitos adversos tí picos dos β-bloqueadores, mas tem menos efeitos adversos quando comparado com outros antiarrí tmicos. Antiarrítmicos8 Dofetilida A dofetilida é um bloqueador do canal de K+ que pode ser usado como fá rmaco antiarrí tmico de primeira linha em pacientes com fi brilaç ã o atrial persistente e insufi ciê ncia cardí aca ou em pacientes com doenç a arterial coronariana. Devido ao risco de pró -arritmias, a dofetilida é iniciada no paciente hospitalizado. A meia-vida desse fá rmaco administrado por via oral é de 5 horas. O fá rmaco é excretado principalmente pela urina, inalterado. Ibutilida A ibutilida é um bloqueador dos canais de K+ que també m ativa a corrente de entrada de Na+ (aç õ es mistas de classes III e IA). É o fá rmaco de escolha para a conversã o quí mica do fl utter atrial, mas a cardioversã o elé trica suplantou seu uso. A ibutilida sofre extensa biotransformaç ã o de primeira passagem e nã o é usada por via oral. Devido ao risco de prolongamento do intervalo QT e pró -arritmia, o iní cio da ibutilida é restrito ao paciente hospitalizado. Antiarrí tmicos da classe IV Os fá rmacos antiarrítmicos da classe IV incluem os bloqueadores dos canais de Ca++ nã o di-hidropiridinas (verapamil e diltiazem), que atuam através do bloqueio dos canais de cá lcio Ca++ presentes no mú sculo liso vascular e no coraç ã o. O verapamil tem maior aç ã o no coraç ã o do que no mú sculo liso vascular, e o diltiazem tem uma aç ã o intermediá ria. No coração, verapamil e diltiazem somente ligam-se a canais voltagem-sensí veis, despolarizados aber- tos, diminuindo, assim, a corrente de entrada levada pelo Ca++. Eles previnem a repolarizaç ã o até que se dissociem do canal, resultando em diminuiç ã o da velocidade da despolarizaç ã o espontânea da fase 4. Eles també m diminuem a velocidade de conduç ã o em tecidos que depen- dem de correntes de Ca++, como os nó s AV e SA. Sã o mais eficazes contra as arritmias atriais do que contra as ventriculares. Sã o ú teis no tratamento de taquicardia supraventricular de reentrada e na reduç ã o da frequê ncia ventricular no flutter e na fibrilaç ã o atriais. Os dois fá rmacos sã o biotransformados no fí gado pela CYP3A4. Ajustes de dosagem podem ser necessá rios em pacientes com disfunç ã o hepá tica. Ambos també m sã o inibidores da CYP3A4, bem como substratos e inibidores da glicoproteí na P, e, portanto, estã o sujeitos a vá rias interaç õ es com fá rmacos. 9Antiarrítmicos O principal efeito adverso do uso intravenoso do verapamil ou do diltiazem é a hipotensã o, particularmente na administraç ã o em IV em bolo. A hipotensã o també m é frequente em pacientes que recebem outros vasodilatadores, in- cluindo quinidina, e em pacientes com disfunç ã o ventricular esquerda sub- jacente, que esses fá rmacos podem exacerbar. Ocorrem també m bradicardia sinusal grave ou bloqueio AV, especialmente em pacientes suscetí veis, como os que també m recebem β-bloqueadores. Com o tratamento oral, esses efeitos adversos tendem a ser menos graves. Pode ocorrer constipaç ã o com o uso oral de verapamil (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; KATZUNG; TREVOR, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). O Quadro 1 apresenta o resumo do mecanismo de ação das diferentes classes de fármacos antiarrítmicos e a Figura 1 as indicações terapêuticas dos fármacos antiarrítmicos para os tipos mais comuns de arritmias cardíacas. Fonte: Adaptado de Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 270). Classificação do fármaco Mecanismo de ação Comentário IA Bloqueador de canais de Na+ Torna lenta a despolarização de Fase 0 nas fibras musculares dos ventrículos. IB Bloqueador de canais de Na+ Encurta a repolarização de Fase 3 nas fibras musculares dos ventrículos. IC Bloqueador de canais de Na+ Torna muito lenta a despolarização de Fase 0 nas fibras musculares dos ventrículos. II Bloqueador de β-adrenorreceptor Inibe a despolarização de Fase4 nos nós SA e AV. III Bloqueador de canais de K+ Prolonga a repolarização de Fase 3 nas fibras musculares dos ventrículos. IV Bloqueador de canais de Ca2+ Inibe o potencial de ação nos nós SA e AV Quadro 1. Mecanismo de ação das diferentes classes de fármacos antiarrítmicos Antiarrítmicos10 Figura 1. Indicaç õ es terapê uticas para algumas arritmias comumente encontradas. AV, atrioventricular; AVE, acidente vascular encefá lico. Fonte: Whalen, Finkel e Panavelli (2016, p. 270). Classe II Dofetilida Legenda: Propafenona Classe I Classe III Classe IV Outros FÁRMACOS ANTIARRÍTMICOS ARRITMIAS ATRIAIS PALPITAÇÃO (FLUTTER) ATRIAL TAQUICARDIAS SUPRAVENTRICULARES REENTRADA NO NÓ AV TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR AGUDA TAQUICARDIAS VENTRICULARES Essa arritmia é a causa comum de morte em pacientes que tiveram infarto do miocárdio. O débito cardíaco está comprometido, e a taquicardia pode evoluir para �brilação ventricular. Portanto, a taquicardia ventricular exige cuidado imediato A condução é retardada por meio do nó AV com metoprolol, verapamil ou digoxina Fármaco comumente usado Fármaco alternativo Nome do fármaco Nome do fármaco Metoprolol Verapamil Diltiazem Digoxina Digoxina Tratamento anticoagulante Amiodarona Metoprolol Metoprolol Verapamil Digoxina AdenosinaDiltiazem Lidocaína Amiodarona EpinefrinaAmiodaronaLidocaína TAQUICARDIA VENTRICULAR AGUDA FIBRILAÇÃO VENTRICULAR (que não responde à des�brilação elétrica) Essa arritmia comum envolve focos ectópicos múltiplos de células atriais, criando um movimento caótico de impulsos através do átrio. A resposta ventricular é rápida (100 a 150 batimentos por minuto) e irregular. O débito cardíaco está diminuídoe a intolerância ao exercício é comum Os bloqueadores b são usados na �brilação atrial ou �utter porque diminuem a frequência cardíaca e promovem a conversão ao ritmo sinusal. O tratamento de longa duração com anticoagulante oral reduz o risco de AVE associado a �brilação atrial ou �utter TIPO DE ARRITMIA FIBRILAÇÃO ATRIAL 11Antiarrítmicos 1. Um paciente de 47 anos apresenta fibrilação atrial e o médico lhe prescreve digoxina. A digoxina apresenta um intenso efeito nas concentrações intracelulares de sódio, potássio e cálcio nas células miocárdicas. Por qual mecanismo de ação a digoxina exerce tais efeitos farmacológicos? a) inibe a Ca2+ATPase do reticulo sarcoplasmático. b) inibe a Na+/K+ATPase nas células miocárdicas. c) inibe a fosfodiesterase cardíaca. d) inibe o receptor Beta1 cardíaco. e) inibe a liberação justaglomerular de renina. 2. Uma mulher de 56 anos está em tratamento para a supressão crônica de uma arritmia ventricular. Após dois meses de tratamento, ela se queixa de cansaço constante. Exame revela uma frequência cardíaca de repouso de 10 batimentos por minuto abaixo de sua frequência cardíaca prévia. Sua pele está fria e úmida. Os resultados dos testes laboratoriais indicam níveis de tiroxina baixo e de hormônio estimulante da tireoide elevado. Qual dos fármacos antiarrítmicos abaixo é a causa provável desse sinais e sintomas? a) Procainamida. b) Amiodarona. c) Propranolol. d) Quinidina. e) Verapamil. 3. A fisiopatologia da arritmia de reentrada é causada por lesão do músculo miocárdico. Portanto, a supressão de arritmias resultantes de um foco de reentrada é mais provável de ocorrer se o fármaco: a) apresenta efeitos vagomiméticos no nó AV. b) promove aumento da velocidade de condução no nódulo AV. c) converte um bloqueio unidirecional em um bloqueio bidirecional. d) reduz a velocidade de condução através do átrio. e) apresenta efeitos tipo atropina no nó AV. 4. José, de 62 anos de idade, está sendo tratado de uma arritmia atrial e tem se queixado de visã o turva, zumbido e cefaleia. Qual dos seguintes fármacos antiarrítmicos é o mais provável de causar tais sintomas adversos? a) Amiodarona. b) Procainamida. c) Propranolol. d) Quinidina. e) Verapamil. 5. Um homem de 57 anos está sendo tratado de uma arritmia atrial. Ele se queixa de boca seca, visã o turva e dificuldade uriná ria. Qual antiarrí tmico ele mais provavelmente está usando? a) Metoprolol. b) Disopiramida. c) Dronedarona. d) Sotalol. e) Amiodarona. Antiarrítmicos12 BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. KATZUNG, B. G.; TREVOR, A. J. Farmacologia básica e clínica. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017. (Lange). MOHRMAN, D. E.; HELLER, L. J. Fisiologia cardiovascular. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2008. (Lange). WHALEN, K.; FINKEL, R.; PANAVELLI, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Leituras recomendadas FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. PANUS, P. C. et al. Farmacologia para fisioterapeutas. Porto Alegre: AMGH, 2011. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto Alegre: Artmed, 2010. 13Antiarrítmicos Conteúdo:
Compartilhar